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RELAÇÃO TERAPEUTA- PACIENTE Boa Vista/2022 Prof.ª Tuyany Vasconcelos Vínculo terapêutico ◦ A construção do vínculo terapêutico é fundamental para o tratamento em um processo terapêutico ocupacional, ele é o ponto de partida para que os objetivos traçados sejam trabalhados. ◦ O vínculo terapêutico está relacionado com o setting terapêutico, nome que se dá ao contexto de tratamento que inclui local designado para o mesmo. ◦ É construída uma atmosfera prazerosa, onde os estímulos são estabelecidos de acordo com as preferências. ◦ De acordo com Scarpato “o vínculo propicia um ambiente favorável para enfrentar as muitas adversidades, para suportar níveis altos de angústia e falta de sentido. ◦ O vínculo é um dos elementos básicos do processo terapêutico”. ◦ É importante que o paciente sinta-se à vontade para compartilhar de sua vida com o terapeuta, da mesma maneira que este esteja envolvido afetivamente – com ética e responsabilidade, a fim de que a interação ocorra de uma forma mais autêntica (SCARPATO,2001). Vínculo terapêutico ◦ O setting terapêutico precisa ser um espaço de escuta e acolhimento, de trocas (de experiência, de sentimentos), de empatia, de cumplicidade e de responsabilizações, de vínculos e aceitações para que se torne possível construir sentidos na vivência do ser e promover mudanças fundamentais na manutenção da saúde do indivíduo. ◦ O vínculo afetivo se estabelece à medida que ocorre a permissão da expressão de sentimentos. ◦ Os desejos, medos, angústias e esperanças, vontades são estimuladas pela relação com o terapeuta ocupacional ou utilizando as atividades como recurso para facilitar estas expressões. ◦ Este campo da relação terapêutica é extremamente rico de sentidos, afetos e de elementos visíveis e invisíveis. ◦ Segundo Keleman, a relação terapêutica é atravessada por afetos de diversas ordens, o que faz do espaço terapêutico, o espaço do sentir por natureza (KELEMAN,2001). Vínculo terapêutico ◦ Uma das principais características da relação terapêutica que a diferencia das relações estabelecidas fora do consultório foi descrita por Skinner (1953) como audiência não-punitiva. ◦ “O terapeuta, enquanto procura entender qualquer padrão de respostas apresentado pelo cliente sem qualquer julgamento ou atribuição de culpa, torna-se um agente reforçador. ◦ Para que isto ocorra, um dos pré-requisitos é que o terapeuta seja desprovido de preconceito com relação a qualquer tema. ◦ Por outro lado, outros requisitos serão necessários para que as consequências providas pelo terapeuta levem a mudança do comportamento do cliente na direção desejada. Vínculo terapêutico ◦ Na relação terapêutica, o “rapport” (sincronização entre duas ou mais pessoas, relacionar-se de forma agradável) consiste em uma combinação de componentes emocionais e intelectuais. ◦ Quando este tipo de relacionamento é estabelecido, o paciente percebe o terapeuta como alguém que está sintonizado com seus sentimentos e atitudes, que é simpático, empático e compreensivo, que o aceita com todos os seus “defeitos”, com quem ele pode comunicar-se sem ter que detalhar seus sentimentos e atitudes ou qualificar o que diz. ◦ Quando o “rapport” é ideal, o paciente e o terapeuta sentem-se seguros e razoavelmente confortáveis um com o outro (BECK,1997, apud LIMA, 2007) Vínculo terapêutico ◦ A ação terapêutica decorrente de vínculos de cuidado bem-estruturados sustenta-se em quatro pilares que permitem, de forma específica, a ação de diferentes técnicas psicoterápicas. ◦ Esses pilares são mecanismos presentes em qualquer relação terapêutica, podendo ser instrumentalizados por todos os profissionais de saúde. ◦ São eles: o Acolhimento, a Escuta, o Suporte e o Esclarecimento (HELMAN,2009). ◦ Para Campos (2007), o vínculo se constitui na troca entre a oferta do serviço de saúde dos trabalhadores e a demanda da resolução do sofrimento do usuário. ◦ É uma troca de afetos, na qual a equipe e o usuário precisam acreditar na resolubilidade do tratamento para que esse vínculo não se torne “paternalista”. ◦ Deve-se estimular o usuário a também participar da resolução de seus problemas, ou seja, deve haver corresponsabilização no projeto terapêutico. Relação terapêutica ◦ Meninos e meninas moradores de rua:”sobreviventes em fuga da violência” (Lanceti, 1996); ◦ Fugir: reação a uma ação que ameaça a sobrevivência* ◦ O processo de vinculação com adolescentes moradores de rua é extremamente difícil e lento: demanda do terapeuta uma postura onde a relação é construída diariamente, sendo um elemento facilitador para a reconstrução e ressignificação da vida dos adolescente; ◦ Além das dificuldades de vinculação com os técnicos, há uma diversidade de perfis convivendo num mesmo espaço e cada qual com sua singularidades de vida; Relação terapêutica ◦ Vínculo terapêutico sob a ótica de Pichon Riviére (1995)- Teoria do Vínculo: ◦ “estrutura dinâmica em contínuo movimento”, que carrega, também a presença de relações interpessoais, uma vez que o vínculo se estabelece sempre em função de outros vínculos condicionados historicamente ao sujeito; ◦ Vínculo é fundamental na intervenção dentro do contexto social, integrando uma perspectiva de ação individual e coletiva. Relação terapêutica ◦ Compreende-se que em alguns grupos desfavorecidos o vínculo é inexistente, o que dificulta o acesso aos desejos, necessidades e valores dos sujeitos, não produzindo autonomia nas vidas das pessoas e se institua relações de poder hierarquizada. ◦ O universo excludente da sociedade contemporânea já seria suficiente para explicar a dificuldade de vínculo entre os adolescentes e técnicos. Relação terapêutica ◦ A formação do vínculo se dá num universo particular, já que existem outras padrões de vida, de comportamento e de valores, tais como a liberdade, a falta de rotina, violência e a luta pela sobrevivência em ambiente de conflito e de agressividade; ◦ Contrapõem-se com os valores tradicionais da sociedade; ◦ Questionamento sobre “valores que se chocam” (ex: trair é certo ou errado?, quando a polícia bate no adolescente, é certo ou errado?)- ampliar a perspectiva/olhar sobre as experiências do outro. Relação terapêutica ◦ Papel da TO nesse processo: Polemizar, dialogar, esclarecer; Confrontar questões trazidas; Compartilhar valores sem julgamentos; Auxiliar no processo de vinculação; Reconstruir as relações afetivas; Ampliar as redes de suporte social; Ter uma postura firme e dar limites; ◦ Os adolescentes fazem “testes” nos técnicos- para poder avaliar se realmente podem confiar neles; ◦ Fazem ainda exploração/investigação permeado por movimentos de aproximação e distanciamento; Relação terapêutica ◦ Nesse contexto, o TO deve realizar uma aproximação do universo do adolescente, reorientar as posturas dos mesmos; ◦ Valorizar os conhecimentos e cultura daquela população; ◦ Criar espaços de diálogo e reflexões a partir dos questionamentos feitos; ◦ É preciso ofertar encontros, ser e estar presente: Pedagogia da Presença (Costa, 1997) Realizar atividades cotidianas que sejam significativas para aqueles adolescentes, pautada na convivência mútua (almoçar junto, jogar bola, assistir TV, desenhar, acabar com os piolhos, permitir o contato físico, o abraçar; O saber técnico não está acima das ações realizadas-trocar mútuas e aprendizados constantes Relação terapêutica ◦ Metodologias participativas que envolvam os sujeitos durante o processo terapêutico (ex: vamos planejar o que iremos fazer nos nossos encontros); ◦ Metodologias participativas visam cuidar e oferecer acolhimento para as populações em situação de vulnerabilidade social; ◦ O trabalho institucional em acolhimento institucional denota que “o amanhã é incerto, o hoje deve ser vivido intensamente e a rua representa um prazer e um risco em potencial”; REFERÊNCIAS ◦ SCARPATO, A.T. Transferência Somática: A dinâmica formativa do vínculo terapêutico. Revista Hermes do Instituto Sedes Sapientiae, São Paulo, número6, 2001, p 107-123. ◦ ◦ KELEMAN, S. Mito e Corpo. Summus, São Paulo, 2001. ◦ ◦ HELMAN, C. G. Cultura, Saúde & Doença. 5 ed. Porto Alegre: Artmed Editora, 2009. ◦ ◦ LIMA, E.R. O papel da relação terapêutica para o sucesso da terapia. Faculdade de ciências da saúde – facs, UniCEUB. Brasília, Junho de 2007. ◦