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Juliana Silva | Pediatria | 1 Anemia ferropriva Definição de Anemia (OMS) Anemia é a condição na qual a concentração sanguínea de hemoglobina se encontra abaixo dos valores esperados, tornando-se insuficiente para atender as necessidades exigidas de acordo com a idade, sexo, gestação e altitude. Portanto, uma simples dosagem de hemoglobina já diz se a criança possui anemia ou não. Redução da Hb em processos infecciosos não indica anemia -> se a criança atendida no PS com infecção e a hemoglobina vier baixa, tem que esperar a criança melhorar para ver se a hemoglobina baixa era apenas um processo infeccioso ou se também há uma anemia. * infecções podem cursar com Hb baixa O processo infeccioso também pode causar queda da hemoglobina. Deve-se esperar a criança melhorar e depois repetir o hemograma. Classificação Baseada no VCM (volume corpuscular médio): ▹ Microcítica: < 75 μ3 ▹ Normocítica: 75 μ3 e < 100 μ3 . ▹ Macrocítica: > 100 μ3 Baseada no RDW ▹ Normal: 11,5 a 16% ▹ Alta: > 16% A anemia ferropriva é hipocrômica e microcítica! RDW É o índice que indica anisocitose, representado pela porcentagem de variação dos volumes das hemácias. Situações clínicas Ferropenia é diferente de anemia -> a anemia é posterior, primeiramente tem-se apenas a deficiência de ferro. Hb < 11,0 g/dL -> 6 meses a 60 meses Hb < 11,5 g/dL -> crianças de 5 a 11 anos Hb < 12,0 g/dL -> adolescentes do sexo feminino e mulheres Hb < 13 g/dL -> adolescentes do sexo masculino e adultos Observação! Não existe RDW baixo. Juliana Silva | Pediatria | 2 Eritropoetina É um hormônio produzido pelo rim o qual apresenta como função estimular a produção de células vermelhas. O estimulo para essa produção é dado pela concentração de O2 tecidual (diretamente proporcional a hipóxia). É produzido após o nascimento nas células peritubulares dos rins. No feto é produzida pelos monócitos e macrófagos do fígado. A eritropoetina também é responsável por estimular a diferenciação, a proliferação e a maturação das células progenitoras dos eritrócitos. Anemia fisiológica do lactente jovem É a queda transitória, ou seja, passageira (aparece e depois desaparece sozinha) e fisiológica (sem repercussões maiores) dos índices hematimétricos (Hb, Ht, VCM, Reticulócitos) do lactente que ocorre após o nascimento. Causas para essa anemia fisiológica ▹ A Hb fetal tem meia-vida mais curta -> a criança, quando nasce, tem concentração de Hb F muito alta, e depois vai sendo substituída pelo HbA, e a Hb F é destruída mais rapidamente. ▹ Crescimento pós natal -> depois que a criança nasce tem um aumento da massa corpórea muito grande, e a eritropoetina tem que acompanhar esse crescimento ▹ Após o nascimento o aumento da saturação de ox igên io determ ina a d im inu ição da eritroipoetina circulante e consequente diminuição da eritropoese -> quando a criança nasce, ela começa a respirar por si só, o que estimula a produção de eritropoietina, porque aumenta a concentração de oxigênio tecidual. Se aumentou a concentração de oxigênio tecidual, diminui a produção de eritropoietina. RN de termo: os menores índices hematimétricos (Hb, Ht, VCM, Reticulócitos) ocorrem entre a 7º e a 12º semana. A Hb pode atingir 9,0 g/dL RN p r ema t u r o : o s men o r e s í n d i c e s hematimétricos ocorrem entre a 3º e a 6º semana. Hb pode atingir valores de 7,0 g/dL a 9,0 g/dL. Isso ocorre porque o prematuro apresenta menor massa eritrocitária (menor volume sanguíneo) e maior latência de resposta da eritropoetina frente a hipoxemia tecidual (diminuição da produção de hemácias). Juliana Silva | Pediatria | 3 No RN prematuro é mais precoce e mais intensa! Eritrócito ▹ Na medula: nucleado ▹ Na circulação: - Anucleado - Produtor de hemoglobina - Composto de 90% de Hb - Transporte de O2 Meia vida da hemácia: 120 dias Hemoglobina É formada por duas porções, uma porção proteica e outra não proteica. A porção proteica é chamada de globina. 4 polipeptídeos + 4 heme = hemoglobina Globina: 4 cadeias proteicas dispostas em pares (porção proteica) - 4 moléculas de polipeptódeos. Heme: porção não proteica. Tetrapirrol - Protoporfirina Eritrocitária Livre Antigamente as tintas das crianças eram formadas por chumbo e o chumbo competia com o ferro e não deixava formar a hemoglobina. Por isso que hoje não tem mais chumbo nas tintas. Eletroforese de hemoglobina Na eletroforese de hemoglobina mostra que 6 meses a criança apresenta predominantemente HbF, enquanto aos 2 anos só tem HbA (ao longo do tempo isso vai se invertendo). Degradação da hemoglobina A hemoglobina, quando é degradada, libera o ferro. Esse ferro liberado não é perdido (não existe excreção fisiológica de ferro), todo ele é reaproveitado para a produção de novas hemoglobinas. Podemos ter apenas pequenas perdas por sangramentos, e esse ferro é reposto por meio da dieta. A criança, além disso, tem aumento da massa corpórea, por isso que precisa ter maior massa eritrocitária, por isso que a criança deve ter maior consumo de ferro. ▹ Globina: pool de aminoácidos ▹ Heme: metabolizado (SER) ▹ Ferro: a formação e degradação de GV são responsáveis pela maior parte do ciclo do ferro no organismo Juliana Silva | Pediatria | 4 Ferro corporal - distribuição É o metal mais presente no corpo humano e participa de todas as fases da síntese proteica dos sistemas respiratórios, oxidativos e anti- infecciosos do organismo. Ferro corporal total: ▹ RN = 0,5 g ▹ Adulto = 4 a 5 g O adulto tem mais ferro do que a criança, porque ao longo da vida vamos incorporando ferro (10x mais ferro do que a criança) -> por isso a alimentação da criança é importante. 70% exerce funções metabólicas e oxidativas: ▹ 80% contido nos eritrócitos ▹ 20% na mioglobina e enzimas respiratórias (citocromos) 30% transporte (transferrina) e principalmente estoque (ferritina). Fe para síntese de Hb: ▹ Adulto -> reciclagem: 95% ▹ Dieta: 5% (compensação de perdas) ▹ Criança -> reciclagem: 70% ▹ Dieta: 30% A absorção de ferro na criança é bem mais intensa do que no adulto! Distribuição corporal de ferro Um adulto estável tem certa porcentagem absorvida na dieta, que é a mesma quantidade perdida diária. Se esse adulto, por algum motivo, tem uma maior perda de ferro diário, deve aumentar a absorção na dieta para compensar a perda, mas as vezes esse mecanismo de compensação não é o suficiente. A partir desse momento começa a consumir o estoque (ferritina). No momento em que não tem mais estoque começa a anemia. A criança não tem tanto estoque, por isso que a absorção deve ser maior -> importância de compensar na alimentação mais uma vez. Estoque de ferro: ▹ Fígado ▹ SRE da medula óssea ▹ Baço ▹ Musculatura esquelética Metabolismo do ferro Não existe excreção fisiológica de ferro, e a quantidade de ferro perdida diariamente é compensada pela absorção pela dieta. Absorção gastrointestinal é o principal processo exógeno responsável pela homeostase do ferro em mamíferos. O ferro corpóreo é transportado no organismo via transferrina e estocado como ferritina e hemossiderina (é um composto mais estável, para Juliana Silva | Pediatria | 5 ser utilizado tem que ser transformado em ferritina). Perdas via esfoliação: ▹ Pele ▹ Mucosas: gastrointestinal - renal Perdas sanguíneas: ▹ Gravidez ▹ Menstruação ▹ Outros sangramentos Outras perdas: ▹ Urina ▹ Suor ▹ Fezes Absorção do ferro Ocorre no intestino delgado, prioritariamente no duodeno. Absorção de Fe da dieta: em indivíduos com deficiência > em indivíduos sadios. Há dois tipos de ferro, o heme e o não heme. Ferro heme ▹ Deriva da hemoglobina e mioglobina (carnes e vísceras) ▹ Elevada biodisponibi l idade (velocidade e quantidade - é facilmente absorvido) ▹ Não é influenciado por fatores inibidores da absorção -> há alguns fatores que inibem a absorção de ferro,e esses fatores não afetam a absorção de ferro heme, apenas do ferro não heme. Ferro não heme ▹ Está presente em alimentos de origem vegetal, com ampla variação de concentração ▹ Apresenta baixa biodisponibilidade (1 a 8% de absorção) ▹ Influenciado por fatores inibidores da absorção 70% a 90% do ferro absorvido é captado pela medula óssea para ser utilizado na produção de hemoglobina Férrica (Fe3+): ingerido ligado a moléculas orgânicas e inorgânicas da dieta. Transforma-se em Ferrosa (Fe2+) sob ação da acidez gástrica - para ser absorvido, a forma férrica tem que ser reduzida a forma ferrosa. Ferrosa (Fe2+) -> prontamente absorvido. Facilitadores: vitamina C (Fe2+ ,Fe3+), HCL, Carotenóides, frutose, c itratos, a lguns aminoácidos presentes nas carnes (cisteína, lisina e histidina) Inibidores: taninos (chá preto, chá mate), cafeína, fibra, fitatos (cereais - aveia, farelo de trigo, arroz), zinco, cálcio (leite e derivados), fosfatos (ovo - fosfoproteína), oxalato (compostos Juliana Silva | Pediatria | 6 fenólicos - cebola, edulcorantes, achocolatados e refrigerantes). Por que fibras em excesso é um inibidor da absorção do ferro: A fibra não é absorvida, e aumenta a osmolaridade intestinal, aumenta a velocidade do trânsito intestinal. Assim, o tempo de contato entre o alimento e a mucosa intestinal é menor, ou seja, a absorção será menor também.. ◦ Quantidade de ferro na dieta: quanto maior a quantidade de ferro na dieta, maior a absorção, até certo ponto ◦ Teor de Fe nas células da mucosa intestinal -> o teor de ferro funciona como fator regulador, ou seja, se a concentração de ferro for normal, a absorção diminui. Se a concentração de ferro for baixa, a absorção aumenta. ◦ Armazenamento: estoque baixo favorece a absorção ◦ pH: pH ácido favorece a absorção ◦ Crescimento ◦ Motilidade intestinal: quanto maior a motilidade, menor a absorção ◦ Forma química do Fe: Ferrosa (Fe2+) ou férrica (Fe3+) -> ferrosa é mais absorvida. Leite materno No recém nascido a termo em aleitamento materno exclusivo, há oferta adequada de Ferro por: ▹ Altas concentrações de hemoglobina fetal (meia vida mais curta, libera ferro) ▹ Estoque neonatal: inicia-se no 3º trimestre de gestação -> a criança, quando nasce, já nasce com estoque de ferro, que inicia no 3º trimestre de gestação (se a mãe teve anemia na gestação pode interferir). ▹ Absorção: Fe leite materno = 49% ; leite de vaca = 10% * Leite de Vaca: sais de cálcio e fósforo (fatores inibidores), o que leva a uma baixa biodisponibilidade * A partir do terceiro mês de vida: as necessidades de ferro aumentam e não são totalmente atendidas pelo leite materno -> dai que vem a suplementação * A partir do sexto mês de vida: aumento da massa corpórea e aumento da massa eritrocitária Deficiência de ferro no mundo ▹ Carência nutricional mais comum no mundo ▹ Principal causa de anemia (60%) -> dentre as causas de anemia, a ferropriva é a mais incidente ▹ A deficiência de ferro atinge 27% a 50% da população Juliana Silva | Pediatria | 7 ▹ Maiores taxas em países em desenvolvimento e populações socialmente menos favorecidas e de menor renda ▹ No brasil há maior incidência em menores de 3 anos e gestantes ▹ Ao longo do tempo a incidência veio diminuindo, mas ainda assim a incidência é alta Anemia ferropriva: origem multifatorial ▹ Deficiência alimentar de ferro ▹ Perdas sanguíneas -> ex: parasitose intestinal (há parasitoses que se tem esfoliação de sangue) ▹ Processos infecciosos e patológicos ▹ Medicamentos que impeçam ou prejudiquem a absorção de ferro Incidência no Brasil ▹ Não há dados conclusivos sobre a prevalência (40 a 50%) ▹ Maior em crianças menores de 3 anos e gestantes Revisão sistemática publicada em 2009 encontrou prevalência de 53% de anemia ferropriva em crianças de 6 meses a 5 anos de idade. Em 2021, estudo de metanálise, que inclui 134 publicações de 2007 a 2020, observou prevalência estimada de anemia de 33% em crianças brasileiras, saudáveis e menores de 7 anos. Apesar da melhora na situação nos últimos anos, os índices ainda seguem muito altos. Houve discreta melhora na situação nos últimos anos, especialmente por: • Aumento da prevalência do aleitamento materno • Uso de fórmulas enriquecidas • Programas de fortificação e enriquecimento de alimentos • Campanhas educativas governamentais e privadas para estimular o aleitamento materno Consequências da deficiência de ferro A deficiência de ferro afeta: ▹ Desenvolvimento cognitivo, comportamental, linguagem e o DNPM ▹ Crescimento físico ▹ Sistema imune: maior susceptibilidade a infecções e da mortalidade perinatal O possível impacto negativo permanece por décadas, mesmo após o tratamento precoce, especialmente em crianças pouco estimuladas ou de baixo nível social e econômico -> a deficiência de ferro leva a repercussões, e a criança pode levar esses problemas para o resto da vida, mesmo que se corrija a deficiência. Por isso que a sociedade de pediatria trata a anemia ferropriva como uma urgência médica, precisa ser diagnosticada e tratada o mais rapidamente possível, porque as consequências dificilmente são corrigidas. Consequências funcionais Desempenho cognitivo O ferro tem um papel de destaque na função cerebral. Pode afetar o desempenho cognitivo em todas as faixas etárias. Juliana Silva | Pediatria | 8 Na fase escolar: • Diminuição da capacidade de aprendizagem • Baixo desempenho As consequências dificilmente podem ser corrigidas com a suplementação posterior. Nos adultos está relacionada a menor produtividade, contribuindo para a pobreza e sérias implicações para o desenvolvimento do país. Outras consequências A carência de ferro na infância também predispõe a: ▹ Cáries dentárias ▹ Alterações do desenvolvimento audiovisual. ▹ Menor discriminação e identificação de odores e paladar, podendo se associar a quadros de Pica e alterações do apetite Pica ou alotriofagia: ingestão compulsiva de “alimentos” não nutritivos: terra (geofagia), cabelo (tricotilofagia), moedas, carvão, giz, tecido, etc. Ageusia: falta do paladar independente da causa Anosmia: diminuição ou perda absoluta do olfato Anemia ferropriva na gestação Estoque neonatal: inicia-se no 3º trimestre de gestação -> pode ser suficiente até os 6 meses de idade. Se a mãe apresentou anemia na gestação, essa reserva será mais baixa. • Os filhos de mães anêmicas apresentam 1/3 das reservas normais de ferro • Prematuridade • Baixo peso ao nascer • Aumento da mortalidade perinatal e neonatal • Na presença de fatores de risco pode ter um aumento das taxas de deficiência Fatores de risco para Ferropenia ▹ Prematuridade: Menor massa eritrocitária > velocidade de crescimento ▹ Latência de resposta a eritropoetina: Menor estoque -> prematuro nasce com menor estoque por nascer antes da hora ▹ Gemelaridade Divide o estoque de ferro ▹ Clampeamento precoce do cordão umbilical (Antes de 1 minuto) ▹ Baixo peso ao nascer ▹ Sangramentos ou anemia materna na gestação ▹ Desmame precoce sem reposição de ferro ▹ Atraso na introdução de refeição de sal ▹ Substituição de refeição de sal por leite A criança que não come e a mãe quer dar leite ▹ Composição inadequada das refeições de sal: - Ausência de ferro heme (vegetarianismo: mãe - filho) - Ausência de facilitadores da absorção de ferro não heme - Excesso de fatores inibidores da absorção de ferro não heme. ▹ A n c i l o s t o m í a s e , t r i c o c e f a l í a s e , esquistossomose, estrongiliodíase (parasitoses) Juliana Silva | Pediatria | 9 Diagnóstico A probabilidade de um lactante ou pré escolar apresentar anemia é de 50%. • Antecedentes: gestacional e parto • Anamnese alimentar (o que a criança come, o quanto come e com que frequência ao longo do dia) • Exame físico • Exames laboratoriais • Exames preferenciaisde rotina: Hemograma comp leto , contagem de reticulócitos e ferritina, PCR, PPF -> O hemograma vai fornecer o valor da hemoglobina, para ver se tem anemia ou não, também o VCM e RDW. -> O reticulócito estará baixo e a ferritina baixo -> PCR para suspeita de infecção e exame de fezes para suspeite de parasitoses Recomendação diagnóstica Investigação laboratorial da deficiência de ferro com ou sem anemia aos 12 meses de vida. Quadro clínico Compromet imento do desenvo l v imento neuropsicomotor, cognitivo e da função imune ▹ Apatia (indolência, indiferença) ▹ Adinamia (falta de forças, fraqueza) ▹ Anorexia ▹ Distúrbios do sono ▹ Alterações do humor (irritabilidade) ▹ Taquicardia ▹ Atraso na aquisição da linguagem, equilíbrio corporal e do desenvolvimento motor ▹ Redução da capacidade de atenção ▹ Escores menores em testes mentais ▹ Baixo rendimento escolar ▹ Comprometimento na resposta do sistema imune ▹ As vezes perversão alimentar. Ex: geofagia Exame físico ▹ Palidez palmar ou de mucosas -> as mucosas sofrem influencia dos fenômenos vasomotores (frio, calor) - e a palma da mão sofre menos com essas influências ▹ Unhas côncavas (coiloníquia), quebradiças e com estrias longitudinais ▹ Queilite angular (lesões descamativas nas comissuras labiais) ▹ Glossite atrófica (língua careca) ▹ Avaliar adequadamente: Hepatoesplenomegalia: geralmente discretas ou ausentes nas anemias carenciais (se tiver hepatoesplenomegalia se deve pensar em outras causas). Juliana Silva | Pediatria | 10 Se tiver em um local afastado, em que não se tem condições de fazer exames laboratoriais (sem recursos), pode-se tratar quando há alteração da coloração da palma das mãos. Investigação laboratorial inicial das Anemias Para a criança com suspeita de anemia deve-se solicitar: ▹ Hemograma completo (Hb baixa, RDW alto, VCM baixo) ▹ Contagem de reticulócitos (↓) ▹ Ferritina (↓) ▹ PCR (alto quando se tem infecção) ▹ Parasitológico de fezes Hemograma • Hb: o valor define a presença de anemia • Hematócrito: < 33% confirma hipótese de anemia • VCM: -> microcitose: VCM < 75 µ3 -> macrocitose: VCM > 100 µ3 • RDW: -> valores normais: 11,5% a 16% -> na anemia ferropriva o RDW é alto -> na talassemia o RDW é normal • Contagem de reticulócitos: < 0,5% (nl = 0,5% a 2% ou 25.000-85.000/mm3) -> valores maiores que 7% no recém nascido ou maior que 2% nas outras faixas etárias reflete aumento da eritropoese (anemias hemolíticas ou sangramento agudo) • Ferritina: -> normal > 30 ug/dL Valores < 15 ug/dL = deficiência • Alterações do esfregaço do sangue periférico na anemia ferropriva: -> Alterações das formas das hemácias nos esfregaços pode sugerir o diagnóstico, mas não é patognomônico. Microcitose - Hipocromia - Poiquilocitose - Alongamento de Hemácias - Hemácias em Alvo - Pontuações basófilas • Contagem de reticulócitos: É um indicador precoce da anemia ferropriva. Se relaciona a eritropoese, pois o volume de hemoglob ina presente nos ret icu lóc itos representa o volume de ferro disponível para eritropoese e é um indicador precoce da anemia ferropriva. Ferritina Estoque solúvel de ferro Hemossiderina Estoque insolúvel de ferro Protoporfirina Eritrocitária Livre Precursora do grupo Heme - estará alta Apotransferina Precursora da transferrina Transferrina Transporta o ferro para a medula óssea (síntese de Hb). Eritropoetina Diferenciação e maturação dos precursores eritróides Juliana Silva | Pediatria | 11 Estágios da deficiência de ferro O primeiro estágio é a depleção de estoque (o único exame alterado é a ferritina). O segundo estágio tem depleção de ferro O terceiro estágio tem a anemia (tudo alterado) Tratamento Reorientação dietética ▹ “Refeição de sal” 2 vezes ao dia ▹ Carne diariamente mesmo que em pequena quantidade ▹ Consumo de alimentos facilitadores da absorção de ferro ▹ Redução da ingestão, durante a refeição, de inibidores da absorção do Ferro: refrigerantes, chás ou leite. Reposição terapêutica de ferro Dose de Ferro Elementar: 3 a 5 mg/Kg/dia (máximo 200 mg), 1 a 2x ao dia, 1 hora antes das principais refeições. Em jejum (antes das refeições): porque o pH é mais ácido no estômago, o que favorece a absorção. • Administrar com suco de laranja (vitamina C e pH ácido são dois fatores que favorecem a absorção) • Utilizar por 6 meses (mínimo 3) e manter por mais 2 meses após normalização da hemoglobina, ou a normalização da ferritina sérica • A eficácia deve ser feita de 30 - 45 dias após o início do tratamento com reticulocitos (se tiver aumentado é um bom sinal) • Não utilizar em conjunto com suplementos polivitamínicos, minerais (Zn, Ca, P) e antiácidos Sulfato, fumarão, gluconato ▹ Apresentação via oral de sulfato ferroso (20% de Fe elementar) ▹ Efeitos co latera is : náuseas, vômitos, obstipação, diarreia, desconforto abdominal, escurecimento dos dentes, pirose, gosto metálico.. ▹ Nos casos de efeitos colaterais podem ser utilizados: - Fe Aminoácido Quelado - Fe Polimaltosado - Fe Carbonila Absorção via oral: • 14% na 1º semana • 7% na 2º semana • 2% após 4 meses de tratamento ▹ Eficácia: reticulócitos -> aumento ao final da 1º semana de tratamento Hb e hematócrito: começam a subir em 2 semanas chegando ao normal com 2 meses de tratamento. VCM: normaliza em torno de 2meses de tratamento Juliana Silva | Pediatria | 12 ▹ Via parenteral: só situações excepcionais. IM profunda ou EV lenta 1 ml/min O tratamento de escolha é sempre VO (porque a absorção VO tem boa resposta e rápida) ▹ Transfusão de papa de glóbulos: - Hb < 5 g/dL - Repercussão hemod i nâm i ca e/ou respiratória ▹ Absorção via oral: aumenta 14% na 1º semana de tratamento ▹ Eficácia - Reticulócitos: aumento ao final da 1º semana de tratamento - Hb e hematócrito: começa a subir em 2 semanas chegando ao normal com 2 meses de tratamento - VCM: normaliza em torno de 2 meses - Ferritina: normaliza em torno de 6 meses (por isso que o tratamento dura em média 6 meses) Suplementação medicamentosa A profilaxia e identificação da anemia ferropriva se trata de uma verdadeira urgência pediátrica. É feito de rotina para todas as crianças (profilaxia). Foriticicação de alimentos A partir de 2004 é obrigatório no Brasil. Para cada 100g de farinha de trigo e de milho fabricadas, a adição de 150 ug de ácido fólico e ferro (sulfato ferroso ou fumarato ferroso) 4 a 9 mg para cada 100g de farinha. Não atinge a faixa etária de maior risco -> o lactante Abordagem da criança com anemia microcítica 1. No lactante e pré-escolar com anemia microcítica, aumento de RDW e ausência de reticulocitose ▹ Iniciar tratamento com reposição de ferro e correção da dieta. Após 30 - 45 dias do início do tratamento deve checar a efetividade do tratamento com hemograma e reticulócitos. Se o exame mostrar que não está sendo eficaz o tratamento, primeiro deve conferir com a mãe se o tratamento está Juliana Silva | Pediatria | 13 feito corretamente ou se teve alguma intercorrência. Se a mãe confirmar que está tudo sendo feito corretamente, amplia-se a investigação (etapa 2). 2. Ampliar a investigação se persistir a anemia em crianças tratadas adequadamente A) Ferritina: é o exame mais sensível -> Crianças < 5 anos valor < 1,2 ug/L indica depleção -> Crianças de 5 a 12 anos valor < 15 ug/L indica depleção B) Ferro sérico: as alterações aparecem no estágio mais avançado -> Dosagem < 30 ug/dL indica deficiência C) Saturação da transferrina: <16% D) Capacidade total de ligação na Transferrina (TIBC): avalia a avidez da transferrina pelo ferro. Valor > 250-390 ug/dL indica ferropenia C) Protoporfirina Entrocitária Livre (PEL): Precursora do grupo heme -> PEL > 3 ug/mL indica ferropenia -> Se confirmar que é uma anemia ferropriva, deve rever o tratamento. 3. Se a deficiênciade Ferro for afastada investigar outras causas de anemia microcítica ▹ Talassemia: eletroforese de Hb ▹ Processo inflamatório crônico (PCR) ▹ Intoxicação por chumbo (PEL elevado e Ferro normal) - o chumbo compete com o ferro na formação do Heme. Anemia por deficiência de ferro é uma urgência médica. Juliana Silva | Pediatria | 14 1. Observe as figuras a seguir e responda: qual é o diagnóstico mais provável para o caso? Resposta: anemia ferropriva. Comentário: unhas quebradiças (finas e frágeis) e coiloníquia (unha em colher) são achados característicos do estado ferropênico avançado. 2. De modo geral, 50% das anemias são atribuíveis à deficiência de ferro. O diagnóstico dessa deficiência baseia-se tipicamente em resultados laboratoriais, anamnese e exame físico. Com relação à anemia ferropriva, assinale a alternativa correta: a) Queilose e coiloníquia constituem sinais de deficiência de ferro de início recente. b) Ferro sérico representa a quantidade de ferro livre circulante no sangue. c) A microcitose com hipocromia é uma manifestação exclusiva da deficiência de ferro. d) O nível sérico de ferritina é o teste laboratorial mais convenientes para estimular as reservas de ferro. GABARITO: D Comentários: A- Quelite angular (lesão nos cantos da boca) pode ser observada nas anemias carenciais. A coiloniquia (unhas em colher) é característica de estado ferropênico avançado e não de início recente. B- Praticamente todo o ferro sérico circulante está ligado à transferrina. O ferro sérico dosado mede o ferro ligado a transferrina. C- Microcitose e hipocromia podem ser observados na anemia ferropriva, talassemia, anemia de doença crônica e anemia sideroblastica. D- A dosagem de ferritina no soro é o teste indicado para estimar as reservas e a deficiência de ferro. COILONÍQUIA: A principal causa é a anemia ferropriva Pode estar associada a outras patologias, como psoríase e hipertireoidismo Pode ocorrer em RN, sendo que nestes costuma desaparecer nos primeiros 5 anos As unhas costumam voltar ao seu estado normal após o tratamento do fator desencadeante. QUESTÕES Juliana Silva | Pediatria | 15 3. Na anemia ferropriva, espera-se encontrar: Ferritina baixa, capacidade de saturação da transferrina alta e RDW baixo. Verdadeiro ou Falso? Resposta: F Comentário: Na anemia ferropriva ocorre: - esgotamento das reservas corporais de ferro, ou seja, uma redução da ferritina sérica. - a capacidade de saturação da transferrina, isto é, a capacidade total de ligação da transferrina ao ferro fica (TIBC) ALTA em função da redução do ferro sérico. RDW ALTO pela diferença do tamanho das hemácias. 4. Um lactente com diagnóstico de anemia carencial ferropriva nunca fez suplementação com ferro. Assinale a opção correta sobre os achados laboratoriais para esse paciente: Ferritina diminuída, ferro sérico diminuído, protoporfirina eritrocitária livre diminuída, capacidade de ligação de ferro aumentada, volume corpuscular médio (VCM) diminuído e reticulócitos aumentados. Verdadeiro ou falso? Resposta: F Causas para essa anemia fisiológica Hemograma Contagem de reticulócitos: Ferritina Hemossiderina Protoporfirina Eritrocitária Livre Apotransferina Transferrina Eritropoetina Reorientação dietética Reposição terapêutica de ferro Sulfato, fumarão, gluconato 1. No lactante e pré-escolar com anemia microcítica, aumento de RDW e ausência de reticulocitose 2. Ampliar a investigação se persistir a anemia em crianças tratadas adequadamente 3. Se a deficiência de Ferro for afastada investigar outras causas de anemia microcítica QUESTÕES
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