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 PUCCIN
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Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-65-5821-040-5
9 7 8 6 5 5 8 2 1 0 4 0 5
Código Logístico
 I000028
 Direito Comercial e do 
consumidor
Oksandro Gonçalves 
Anelize Pantaleão Puccini Caminha
IESDE BRASIL
2021
© 2021 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do 
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A.
Imagem da capa: TarikVision/ Golden Sikorka/ AIWD/ Macrovector/ Irina Strelnikova/ DarkPlatypus/Shutterstock
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
G627d
Gonçalves, Oksandro
Direito comercial e do consumidor / Oksandro Gonçalves, Anelize 
Pantaleão Puccini Caminha. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2021. 
134 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5821-040-5
1. Direito comercial - Brasil. 2. Defesa do consumidor - Legislação - 
Brasil. I. Caminha, Anelize Pantaleão Puccini. II. Título.
21-71432 CDU: 347.7+34:366.542(81)
Oksandro Gonçalves 
Anelize Pantaleão 
Puccini Caminha
Pós-doutor em Direito pela Faculdade de Direito da 
Universidade de Lisboa (FDUL). Doutor em Direito pela 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). 
Mestre e graduado em Direito pela Pontifícia Universidade 
Católica do Paraná (PUCPR). Ministra as disciplinas 
de Direito Empresarial, Direito Econômico e Análise 
Econômica do Direito na graduação. É professor no 
mestrado e no doutorado do Programa de Pós-graduação 
em Direito. Atua também como advogado.
Doutoranda em Direito pela PUCPR. Mestre em Direito 
e especialista em Processo Civil pela Universidade 
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Bacharel 
em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do 
Rio Grande do Sul (PUCRS). Atua como professora 
de Direito há quatro anos e é autora de artigos 
científicos e livros nessa área. Atualmente, é também 
professora em um centro universitário e em diversas 
especializações e cursos preparatórios e é sócia-
proprietária em um escritório de advocacia.
SUMÁRIO
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
meio de QR codes (códigos de barras) presentes 
no início de cada seção de capítulo.
Acesse os vídeos automaticamente, direcionando 
a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet 
para o QR code.
Em alguns dispositivos é necessário ter instalado 
um leitor de QR code, que pode ser adquirido 
gratuitamente em lojas de aplicativos.
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SUMÁRIO
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1 Uma introdução ao Direito Comercial 9
1.1 O histórico do Direito Comercial 9
1.2 Conceito e autonomia do Direito Comercial 18
1.3 Teoria da empresa e atividade comercial 25
1.4 Regime jurídico da livre iniciativa 28
2 A atividade empresarial e sua organização 36
2.1 Registro público de empresas mercantis 36
2.2 Finalidade do registro 40
2.3 Departamento de Registro Empresarial e Integração (DREI) 42
2.4 Juntas comerciais 44
2.5 Livros comerciais e a escrituração 50
2.6 Estabelecimento comercial 54
3 Nome empresarial e propriedade industrial 59
3.1 Nome comercial e sua proteção 59
3.2 Propriedade industrial 68
3.3 Registro de marca 69
3.4 Registro de desenho industrial 81
3.5 Concessão de patente de modelo de utilidade 84
3.6 Concessão de patente de invenção 88
4 Código de Defesa do Consumidor 94
4.1 Sistema Nacional de Defesa do Consumidor 95
4.2 Direitos básicos do consumidor 99
4.3 Responsabilidade por vício do produto e do serviço 103
4.4 O direito do consumidor no comércio eletrônico 108
5 A proteção do consumidor 113
5.1 O respeito à dignidade do consumidor 113
5.2 A proteção contratual 116
5.3 Defesa do consumidor em juízo 123
5.4 Prescrição e decadência 127
6 Gabarito 132
Esta obra busca discutir como se desenvolve o Direito 
Comercial e o direito do consumidor no ordenamento jurídico 
brasileiro. Dessa forma, o primeiro capítulo promove uma 
introdução ao Direito Comercial, tendo por objetivo apresentar o 
conceito e a autonomia da disciplina e como se deu a passagem 
do sistema de atos de comércio para a teoria da empresa ao 
longo da história. 
No segundo capítulo, o estudo avança para apresentar 
a atividade empresarial e a forma que ela se organiza, 
especialmente como é o regime legal do registro do empresário 
e suas obrigações.
O terceiro capítulo versa sobre o nome empresarial e a 
propriedade industrial, elementos de suma importância para o 
empresário, necessários para o desenvolvimento e o crescimento 
das atividades empresariais e que gozam de proteção jurídica. 
É apresentado o sistema de proteção dos dois institutos, 
especialmente a questão do registro do nome e da propriedade 
industrial e a extensão da proteção conferida.
No quarto capítulo é desenvolvido o estudo sobre o Sistema 
Nacional de Defesa do Consumidor. Trata-se dos direitos 
básicos estabelecidos no Código de Defesa do Consumidor em 
consonância com os princípios e os objetivos determinados 
como valores e preceitos fundamentais do consumidor. Para 
garantir efetivamente a proteção do consumidor, é necessário 
observar a responsabilidade por vícios de produtos e serviços, 
assunto que também é abordado no capítulo.
Por fim, o quinto e último capítulo discorre sobre o 
respeito à dignidade do consumidor. Como forma de defesa 
da vulnerabilidade do consumidor, dá-se a análise da proteção 
contratual estabelecida na legislação brasileira e a defesa do 
consumidor em juízo. 
Bons estudos!
APRESENTAÇÃO
Vídeo
Uma introdução ao Direito Comercial 9
1
Uma introdução ao 
Direito Comercial
Oksandro Gonçalves
O objetivo deste capítulo é apresentar e desenvolver alguns con-
ceitos essenciais à compreensão do Direito Comercial. Principia-se 
pelo conceito de Direito Comercial e pelos motivos que levaram à 
sua autonomia em relação a outras disciplinas do Direito Privado. 
Em seguida, trata-se das obrigações do empresário, notadamente 
aquelas relacionadas ao seu registro perante as Juntas Comerciais, 
a contabilidade e os livros do empresário.
Também desenvolve-se a passagem do Direito Comercial da 
teoria dos atos de comércio para a fase da teoria da empresa, 
inaugurada oficialmente no ordenamento jurídico com o Código 
Civil de 2002.
Finalmente, apresenta-se a justificativa constitucional da exis-
tência de um Direito Comercial, a qual está centrada na livre inicia-
tiva, um dos pilares do Estado Democrático de Direito.
1.1 O histórico do Direito Comercial 
Vídeo Uma das formas de entender o conceito de Direito Comercial é rea-
lizar um resgate histórico para melhor compreender a evolução pela 
qual essa área passou até chegar ao que se conhece atualmente. Por ser 
muito dinâmico, o Direito Comercial não comporta um conceito estático, 
mas sim mutável a cada período histórico, motivo pelo qual se costuma 
dizer que essa disciplina é historiográfica. Assim, passa-se a desenvolver 
essa noção histórica para, então, culminar no conceito.
10 Direito Comercial e do consumidor
1.1.1 O Direito Comercial na Antiguidade
O Direito Comercial não surgiu concomitantemente à noção de 
comércio. Por isso, a primeira fase é também conhecida como fase 
pré-histórica do Direito Comercial, justamente porque não havia uma 
sistematização normativa, mas sim usos e costumes que variavam con-
forme os envolvidosna relação comercial.
Existem alguns registros de supostas normas comerciais na 
Mesopotâmia, no Egito, na Fenícia, na Palestina e na Grécia, mas, de 
modo geral, aceita-se como primeira manifestação verdadeiramen-
te legislativa de Direito Comercial o Código de Hamurabi (CORDEIRO, 
2001; FERREIRA, 1956).
Facilmente se constata que o Direito Comercial na Antiguidade era 
praticamente inexistente, o que não torna a fase menos importan-
te. Sua compreensão é necessária para demonstrar como a matéria 
evoluiu, pois, apesar de não existir um sistema organizado de normas 
comerciais, foi justamente o avanço do comércio pelo mundo que co-
meçou a demandar certa organização ou sistematização de regras para 
facilitar as trocas comerciais.
1.1.2 O Direito Comercial em Roma
A maior contribuição dos romanos para o Direito Comercial não se deu 
especificamente com relação à matéria, mas ao Direito em si. Em razão 
de os romanos terem desenvolvido e organizado vários ramos do Direito, 
acabaram por fazer o mesmo pelo Direito Comercial. Isso tem uma expli-
cação no fato de o Império Romano ter se expandido muito e contribuí-
do para o estabelecimento de uma espécie de rede de comerciantes, que 
passou a exigir certo nível de regras estabelecidas ou adaptadas pelos ro-
manos para conferir alguma ordem no seu vasto império (FRANCO, 2004).
Conclui-se que o Direito romano, apesar da sua exuberância, não 
conheceu devidamente o Direito Comercial, limitando-se a fornecer os 
mecanismos necessários à sua constituição futura.
1.1.3 O Direito Comercial no início da Idade Média
A queda do Império Romano levou a um processo de fragmenta-
ção do poder e, consequentemente, a uma multiplicação de normas 
Uma introdução ao Direito Comercial 11
que regulavam o comércio. Em razão disso, estruturou-se um sistema 
feudal, em que a economia era restrita a aspectos de subsistência for-
temente vinculados ao proprietário das terras, que facultava o seu uso 
mediante a entrega de uma parcela da produção. 
A insatisfação com esse sistema fez aos poucos surgir uma classe 
denominada burguesia, que, ao contrário da classe feudal, não estava 
vinculada a aspectos relacionados ao direito de propriedade imobiliá-
ria, mas à prestação de serviços e aos atos de comércio, ainda que ru-
dimentares (GONÇALVES NETO, 2000).
Com o passar do tempo, essa atividade floresce e cresce a ponto de 
fazer frente aos senhores feudais. Além disso, faz surgir a necessida-
de e a vontade de criar para si um conjunto de regras diferente, mais 
adaptadas à sua própria realidade. Desse modo, cria-se uma ordem ju-
rídica com leis e tribunais próprios que favoreçam essa classe, surgindo 
a noção de lex mercatoria e o futuro Estatuto do Comerciante.
Para uma melhor compreensão, basta verificar que até os dias 
atuais há feiras livres. Elas surgiram na Idade Média porque a nova 
classe burguesa precisava desaguar o excedente dos produtos de 
que dispunha para, assim, aumentar o seu lucro. A isso se soma o 
vínculo que aos poucos se formava entre a cidade e as feiras que 
nela se realizavam, razão pela qual surgem diversos mecanismos 
para garantir aos mercadores o trânsito seguro, a criação de guar-
das especiais e a criação dos títulos de crédito em substituição ao 
ouro e a outros metais.
Como o sistema jurídico disponível era insuficiente para atender a 
essa nova demanda, começa-se a traçar os primeiros elementos de or-
ganização de um Direito Comercial, tal como é conhecido atualmente. 
Nesse período, é importante destacar o papel das corporações de ofí-
cios, as quais passam a produzir e aplicar leis e a organizar-se, como é 
o caso das famosas cidades italianas de Veneza, Amalfi, Pisa e Gênova 
(COELHO, 2002; REQUIÃO, 1993). 
O próximo passo foi a criação das chamadas jurisdições consulares, 
cujos julgados estão assentados basicamente na boa-fé, nos costumes 
e na equidade (FERREIRA, 1956). Esse novo direito é respeitado de ma-
neira consensual universalmente, como se todos o tivessem discutido 
e aceito. Seu desenvolvimento e sua aplicação se deram no âmbito dos 
mercadores, encontrando sua gênese em interesses meramente eco-
12 Direito Comercial e do consumidor
nômicos. Com a evolução natural da mercancia, os estatutos, os usos 
e costumes e as decisões são agrupados e a jurisdição é estendida, 
aplicando-se a todos os membros (COELHO, 2002).
Nesse ponto, algo muito importante acontece: começa a surgir um 
conceito de comerciante, o que se convencionou chamar de conceito 
subjetivo ou fase subjetiva do Direito Comercial. “Resultante da auto-
nomia corporativa, o direito comercial de então se caracteriza pelo 
acento subjetivo e apenas se aplica aos comerciantes associados à 
corporação” (COELHO, 2002, p. 13). 
Sobre isso, Requião (1993, p. 10-11) também afirma que: 
temos, nessa fase, o período estritamente subjetivista do direito 
comercial a serviço do comerciante, isto é, um direito corporativo, 
profissional, especial, autônomo, em relação ao direito territorial 
e civil, e consuetudinário. Como o comércio não tem fronteiras, 
e as operações mercantis se repetem em massa, transpira nítido 
o seu sentido cosmopolita.
Portanto, o conceito é subjetivo porque o Direito Comercial era um 
direito profissional ou classista, em função de uma única classe de 
pessoas: os comerciantes.
1.1.4. O Direito Comercial no final da Idade Média
A grande mudança entre o início e o final da Idade Média, com 
impacto no Direito Comercial, reside no surgimento da figura dos 
Estados modernos, os quais dão soberania aos monarcas que centra-
lizam o poder antes disperso. Com o surgimento desse novo conceito, 
o centro irradiador das normas passa a ser o Estado sob o ponto de 
vista formal. O direito que era antes consuetudinário e internacionalis-
ta passa a ser legislado e nacional, estranho às corporações. Ainda que 
esse direito tenha sido institucionalizado pelo Estado, em geral, foram 
mantidas as ideias a respeito das normas consuetudinárias estabeleci-
das pelas corporações de ofício.
O próximo fato histórico importante para o desenvolvimen-
to do Direito Comercial ocorreu a partir do século XV, com a Era dos 
Descobrimentos, que levou à colonização, e da segunda metade do sé-
culo XVI, com a evolução dessa fase colonizadora para uma fase mercan-
tilista, a qual acabou por impactar momentaneamente o cosmopolitismo 
do Direito Comercial. Ferreira (1956, p. 31) resume essa fase:
consuetudinário: algo 
que se pratica repetida e 
constantemente; usual, habitual, 
costumeiro (justamente o que é 
o Direito Comercial, ou seja, um 
direito de usos e costumes). 
Glossário
Daí, como medida de defesa, a política intervencionista do 
Estado. E com a formação e o robustecimento dos Estados 
monárquicos, sua autoridade legislativa centralizada passou 
a restringir a formação das normas costumeiras de direi-
to comercial, dando lugar a uma legislação mais atenta aos 
interesses do Estado que aos dos comerciantes. O mercanti-
lismo então dominante, multiplicando regulamentos e restri-
ções de toda ordem, impunha leis peculiares a cada Estado, 
determinando assim a crescente nacionalização do direito co-
mercial que daí por diante iria perder a sua qualidade de um 
direito da comunidade internacional dos comerciantes.
No século XVII, as mudanças sociais acabam gerando um movimen-
to que faz surgir o fenômeno chamado de codificação, que tinha como 
objetivo conferir segurança jurídica às relações sociais.
1.1.5 A Revolução Francesa e a codificação
O fato histórico marcante dessa fase foi a Revolução Francesa, 
em 1789, sob o lema liberdade, fraternidade e igualdade. Na Fran-
ça, a Lei Chapelier, de 1791, extinguiu as corporações de ofícios e 
proclamou a liberdade de trabalho e comércio (GONÇALVES NETO, 
2000). Assim, o sistema que havia se desenvolvido para o Direito 
Comercial até esse momento, calcado na ideia de um direito especial 
e fruto das corporações de ofícios, sofre um grande rompimento. 
Isso é ainda mais contundente porque a ideia desenvolvidapelos 
revolucionários franceses não ficou restrita à França, influenciando 
praticamente o mundo todo.
A ideia de um Direito Comercial focado na figura do comerciante 
como seu agente sofre uma mudança para se centrar na definição de 
critérios objetivos para a subsunção de um fato à norma. 
Nesse momento, a fase subjetiva, baseada na figura do comercian-
te, ou seja, no sujeito, é superada e inicia-se a fase objetiva, baseada na 
descrição de um conjunto de atos que, se praticados, definiriam o conceito 
de comerciante. Surge, então, a figura da teoria dos atos de comércio. 
14 Direito Comercial e do consumidor
A teoria dos atos de comércio foi uma das fases mais importantes para o Di-
reito Comercial, tendo vigorado por um longo período, pois foi construída na 
época da Revolução Francesa, e perdurado no Brasil até a edição do Código 
Civil de 2002. Nesse sentido, recomendamos a leitura do artigo Code civil 
francês: gênese e difusão de um modelo, de Eugênio Facchini Neto, publicado 
na Revista de Informação Legislativa, para ampliar seus conhecimentos.
Acesso em: 17 mar. 2021.
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/496956/000983388.pdf?sequence=1
Artigo
Assim sendo, há a passagem do conceito subjetivo, calcado na 
figura do comerciante, para um estágio evolucionista, centrado no 
ato de comércio. A principal diferença é que na fase subjetiva era 
preciso obter a condição de comerciante, muitas vezes tendo que 
pertencer a determinada corporação de ofício ou por delegação do 
Estado, de um monarca ou do senhor feudal. Já na fase do conceito 
objetivo qualquer indivíduo passa a poder exercer a atividade co-
mercial (COELHO, 2002).
A teoria dos atos de comércio, resumidamente, está assentada em 
uma relação de atos definidos pelo Código Comercial como atos que, 
se praticados, poderiam ser chamados de próprios do comércio.
Na compra para revenda, dinheiro é cambiado com bens ou 
títulos; nas operações bancárias, permuta-se dinheiro presen-
te por dinheiro futuro; nas empresas, resultados do trabalho 
são trocados por dinheiro e outros benefícios econômicos; e 
nos seguros, o risco individual se troca pela cota-parte do risco 
coletivo. (COELHO, 2002, p. 15)
O modelo com base em atos de comércio, embora tenha vigorado 
por um grande período, foi largamente criticado diante da insuficiência 
que naturalmente abateu a relação inicial de atos de comércio, pois a 
atividade comercial é muito dinâmica e rapidamente superou a relação 
de atos disposta no Código. Dessa forma, os atos foram se ampliando 
com base nos usos e costumes sem que houvesse ou pudesse haver 
qualquer tipo de controle efetivo, tampouco qualquer sanção a res-
peito. Segundo o que ressalta Requião (1993, p. 13), para sintetizar a 
posição de toda doutrina, “não é preciso esforço de imaginação para 
se concluir a precariedade científica de um sistema jurídico que não se 
encontra capacitado, sequer, para definir seu conceito fundamental”.
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/496956/000983388.pdf?sequence=1
Uma introdução ao Direito Comercial 15
Essa indefinição dos atos de comércio não impediu, contudo, o de-
senvolvimento da disciplina de Direito Comercial.
1.1.6 A importância do Código Civil italiano de 1942
O Código Civil italiano de 1942 produziu uma importante influên-
cia sobre o Direito Comercial, pois rompeu com o sistema da teoria 
dos atos de comércio e lançou para a doutrina um novo sistema com 
base na teoria da empresa. 
Quando foi editado, o Código italiano acabou por unificar o Direi-
to Privado e, consequentemente, inseriu no mesmo Código o Direito 
Civil e o Direito Comercial. Ambos mantiveram sua autonomia, mas 
agora constavam em um único instrumento, ao contrário do sistema 
que havia sido proposto pelos franceses, o qual tinha um Código 
Civil e um Código Comercial – o sistema francês, aliás, era o sistema 
adotado pelo Brasil.
A grande discussão em torno desse novo sistema reside na impreci-
são do termo empresa, como bem ressalta Cordeiro (2001, p. 207): 
Tentando ordenar este caudaloso uso, podemos adiantar que, 
quer perante numerosas leis, quer em face da linguagem cor-
rente, a expressão “empresa” traduz, conforme o contexto: – 
um sujeito que atue e que, nessa qualidade, é suscetível de 
direitos e de obrigações; pense-se, por exemplo, nos “direi-
tos ou deveres das empresas”, na “política das empresas” ou 
nas “preferências das empresas; – um complexo de bens e 
direitos capaz de suportar a atuação de interessados; assim, 
a “compra de uma empresa”; – uma atividade: “levar a cabo 
uma empresa”; esta última acepção, tradicional, tende a cair 
em manifesto desuso.
É importante salientar que esse conceito de empresa, embora 
impreciso, acompanhou o desenvolvimento da economia em geral e 
está conectado à fase histórica de 1942 até os dias atuais, em que a 
figura da empresa adquire uma grande importância mundial.
Mesmo que o novo sistema não tenha contribuído efetivamente para 
superar o tratamento diferenciado conferido aos que praticam ativida-
des econômicas, ao menos é mais abrangente, a ponto de inserir ativi-
dades que estavam excluídas do conceito de atos de comércio, como a 
prestação de serviços. É possível exemplificar a importância da teoria 
da empresa ao se resgatar o texto do artigo 966 do Código Civil, que 
16 Direito Comercial e do consumidor
expressamente inclui os serviços na categoria dos atos capazes de se 
identificar a figura do empresário e que expressamente exclui outros:
Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissional-
mente atividade econômica organizada para a produção ou a 
circulação de bens ou de serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce 
profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artís-
tica, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, 
salvo se o exercício da profissão constituir elemento de em-
presa. (BRASIL, 2002)
O Código Civil brasileiro de 2002 reproduziu o conceito de empre-
sário do Código italiano. Basta verificar a redação do artigo 2.082 des-
te e compará-lo ao artigo 966 daquele: é “empresário quem exerce 
profissionalmente atividade econômica organizada para a produção 
ou a circulação de bens e de serviços” (BRASIL, 2002). 
Como é costumeiro, não se pode deixar de mencionar a teoria 
dos perfis da empresa, de Asquini (1996). Os perfis são:
Subjetivo, como sujeito de direito identificado pela figura do empresário.
Corporativo, como organismo que envolve as relações jurídicas internas do 
empresário com seus prepostos.
Objetivo, como objeto de direito que corresponde à noção de 
estabelecimento empresarial.
Funcional, como atividade desenvolvida de maneira organizada.
Em seu texto, o Código Civil brasileiro, fortemente influenciado pelo 
Código Civil italiano de 1942 e pela teoria dos perfis da empresa, de 
Asquini, revela, no artigo 966, todos esses perfis, em maior ou menor 
profundidade, conforme o quadro a seguir.
Uma introdução ao Direito Comercial 17
Quadro 1
Influências da teoria dos perfis da empresa no Código Civil brasileiro
Subjetivo Presente no artigo 966 do Código Civil, que conceitua a figura do empresário ao registrar “considera-se empresário quem”.
Corporativo
Presente no artigo 981 do Código Civil, que conceitua a figura 
da sociedade, a qual organiza as relações empresariais, e nos 
artigos 1.169 a 1.171 (prepostos), 1.172 a 1.176 (gerente) e 
1.177 e 1.178 (contabilista e auxiliares).
Objetivo Presente nos artigos 1.142 a 1.149 do Código Civil, que regu-lam o estabelecimento.
Funcional Presente no artigo 966 do Código Civil, quando coloca “exerce profissionalmente atividade econômica organizada”.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Sendo assim, resta demonstrar a evolução constante do Direito Comer-
cial até chegar à conformação atual, baseada na teoria das empresas. 
1.1.7 O Direito Comercial no Brasil
No Brasil, há três fases históricas: Brasil Colônia, Brasil Independente 
e Brasil República. Na época do BrasilColônia, a legislação aplicável 
aos comerciantes era a portuguesa, sendo considerado fato importan-
te para o desenvolvimento da disciplina a famosa abertura dos portos 
por meio da Carta Régia de 28 de janeiro de 1808, até hoje vista como 
a primeira norma comercial brasileira. Depois vieram outros eventos, 
como a criação do Banco do Brasil em 1808, uma vez que a atividade de 
crédito é notoriamente comercial (REQUIÃO, 1993).
Com a Independência, em 1822, inicia-se a fase do Brasil 
Independente. Não havia normas comerciais para regular o comércio 
existente, razão pela qual o novo governo determinou que as leis por-
tuguesas continuassem em vigor. Isso acabou perdurando até 1850, 
quando finalmente foi editado o Código Comercial brasileiro, permea-
do pelas seguintes ideias:
Um Código de comércio deve ser redigido sob os princípios adotados por todas 
as nações comerciantes, em harmonia com os usos ou os estilos mercantis dos 
diversos povos do mundo.
Um Código de comércio deve ser acomodado às circunstâncias especiais do 
povo para o qual é feito.
18 Direito Comercial e do consumidor
Em 1889 inicia a fase do Brasil República, que perdura até os dias 
atuais. Cumpre lembrar que o Código Comercial brasileiro foi editado 
em 1850 e vigorou até 2002, com a edição do Código Civil. De fato, a Lei 
n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – em vigor desde janeiro de 2003 –, 
no artigo 2.045, revoga expressamente toda a primeira parte do Código 
Comercial de 1850.
Atualmente é possível afirmar que o Código Comercial é pratica-
mente inexistente, posto que, além da revogação expressa da sua pri-
meira parte, toda a segunda parte é objeto de leis esparsas. 
Para saber mais detalhes desse desenvolvimento histórico, leia o artigo Do 
Direito Comercial ao Direito Empresarial: formação histórica e tendências do 
Direito brasileiro, de Bruno Nubens Barbosa Miragem, publicado na Revista 
da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Acesso em: 17 mar. 2021.
http://seer.ufrgs.br/revfacdir/article/download/73484/41374
Artigo
1.2 Conceito e autonomia do Direito Comercial 
Vídeo Categoriza-se o Direito classicamente em Direito Público e Direito 
Privado. Este último, por sua vez, divide-se em Direito Civil, Direito Co-
mercial e direito do consumidor. Para compreender a extensão e a im-
portância do Direito Comercial dentro do Direito Privado, é importante 
estudar seu conceito e sua autonomia segundo essa divisão.
1.2.1 O conceito de Direito Comercial 
Estabelecer um conceito sobre determinada disciplina não é uma 
tarefa simples, pois existem muitas propostas, cada qual salientando 
aspectos importantes, mas sem que seja possível chegar a um consen-
so propriamente dito. Por isso, opta-se por apresentar os conceitos a 
seguir, adotando um critério cronológico para demonstrar a evolução 
da definição do que é Direito Comercial:
http://seer.ufrgs.br/revfacdir/article/download/73484/41374
Uma introdução ao Direito Comercial 19
Complexo de normas jurídicas que regulam as relações derivadas 
das indústrias e atividades que a lei considera mercantis, assim 
como os direitos e obrigações das pessoas que profissionalmente 
as exercem (BORGES, 1959, p. 14).
Conjunto de normas jurídicas que regulam os atos necessários às 
atividades dos comerciantes no exercício de sua profissão, bem 
como os atos pela lei considerados comerciais, mesmo praticados 
por não comerciantes (MARTINS, 2002, p. 16).
Direito Comercial tem sido o nome que identifica – nos currículos 
de graduação e pós-graduação em Direito, nos livros e cursos, no 
Brasil e em muitos outros países – o ramo jurídico voltado às ques-
tões próprias dos empresários ou das empresas; à maneira como 
se estrutura a produção e negociação dos bens e serviços de que 
todos precisamos para viver (COELHO, 2016, p. 11).
Apesar dos inúmeros conceitos disponíveis, é importante salien-
tar que o Direito Comercial, por estar atrelado à atividade comercial, é 
extremamente dinâmico e mutável. Os conceitos apresentados demons-
tram justamente essa característica, começando com uma definição cen-
trada na figura do comerciante e passando, ao longo dos anos, para a 
figura do empresário. A dinamicidade própria das atividades empresa-
riais acaba por tornar impossível uma sistematização da disciplina, que 
se divide em várias partes (Figura 1), por exemplo, Direito Cambiário, Di-
reito Societário, Direito da Insolvência (falência e recuperação), Direito 
Bancário, Direito da Propriedade Industrial etc.
20 Direito Comercial e do consumidor
Figura 1
Divisões do Direito Privado
Direito Privado
Direito Civil Direito 
Comercial
Direito do 
Consumidor
Direito 
Cambiário
Direito 
Societário
Direito da 
Insolvência
Direito 
Bancário
Direito da 
Propriedade 
Industrial
Fonte: Elaborada pelo autor.
O Direito Comercial não surgiu com o comércio, pois este é anterior à normatização 
estudada neste livro. Até a construção do que viria a ser o Direito Comercial, vigora-
vam regras costumeiras que orientavam as relações comerciais, as quais somente 
vieram a ser organizadas muito tempo depois, surgindo a disciplina estudada neste 
capítulo. Assim, o Direito Comercial certamente é um ramo que nasceu com os co-
merciantes para atender às suas necessidades, especialmente a de promover certa 
segurança jurídica às relações emergentes e que se mostravam altamente rentáveis 
para todos os envolvidos, mas que logo se desprendeu dos seus criadores para abran-
ger um número cada vez maior de relações.
Mais do que apenas um conceito, o importante é identificar os ele-
mentos do Direito Comercial aptos a formar um conceito geral da ma-
téria. Dessa forma, prevalecem os seguintes aspectos comuns a todos 
os conceitos, independentemente da cronologia:
 • ter profissionalidade ou habitualidade da atividade;
 • ser a atividade mercantil ou empresária;
 • ser executada por um sujeito de direitos e obrigações denomina-
do empresário ou comerciante.
Com base nessas características, é possível fornecer um conceito do 
que representa o Direito Comercial.
Uma introdução ao Direito Comercial 21
Nesse ponto, é preciso estabelecer um marco legal distintivo que 
impacta o conceito, por mudar o enfoque, com base na mutação do 
sujeito da relação jurídica:
Até 2003 vigorava no ordenamento jurídico o Código Comercial de 1850, com forte influência do Direito francês. O 
conceito girava em torno da figura do comerciante do ato de comércio, por isso era chamado de teoria dos atos de 
comércio. Porém, um conjunto de mudanças econômicas, culturais e sociais transformou o comerciante nas figuras 
que hoje se conhece como empresário e empresa.
Código Comercial de 1850
(deixou de vigorar, em parte, em 11 de janeiro de 2003)
 
Embora socialmente já tivesse ocorrido a mudança de enfoque do comerciante e dos atos de comércio para o em-
presário e a empresa há muito tempo, foi somente após o Código Civil de 2002 que houve a positivação desse novo 
sistema. O Direito Comercial passou a se orientar por meio das noções de empresário e empresa, justificando o uso 
da expressão Direito Empresarial, ainda que Direito Comercial continue sendo largamente utilizada.
Código Civil de 2002
(entrou em vigor em 11 de janeiro de 2003)
A grande mudança não reside na nomenclatura, a qual passou a 
chamar o comerciante de empresário, mas no conceito mais amplo de 
atividade empresarial, que engloba não somente a compra e a venda, 
mas também a produção de bens (indústria) e principalmente a presta-
ção de serviços, que, até então, não era considerada empresarial.
A mutação realizada pelo Código Civil também gerou o fenômeno e 
a discussão da unificação do Direito Privado. Houve muito debate em 
torno da unificação entre o Direito Civil e o Direito Comercial, especial-
mente porque o Código Comercial de 1850 foi revogado por ocasião da 
edição do Código Civil de 2002.
A argumentação dos defensores da unificação derivava da fase co-
nhecida como fase da codificação do Direito Privado(composto do Di-
reito Civil e do Direito Comercial e, para alguns, também do direito do 
consumidor). Durante ela, dava-se enorme valor aos códigos. Assim, 
o Direito deveria ser codificado, consolidando em um único diploma 
legal – o Código – toda a legislação da matéria que se pretendia tratar. 
É por isso que no Brasil há o Código Civil, o Código Tribunal Nacional, o 
Código Penal, o Código de Processo Penal, o Código de Processo Civil, o 
Código de Defesa do Consumidor etc.
Ocorre, entretanto, que o Direito Comercial é muito dinâmico e dificil-
mente consegue ficar encerrado em um código, que tem por característica 
o “engessamento” da disciplina. Eis que, em geral, toda mudança depende 
de alterações legislativas quase sempre morosas, ao passo que a ativi-
dade comercial é extremamente dinâmica, não podendo, por isso, ficar 
presa a esse aspecto sob pena de o seu objetivo não se realizar.
A ideia de unificação começou no âmbito do Direito italiano, que 
influenciaria fortemente a unificação no Direito brasileiro. Em 1942 foi 
editado o Código Civil italiano, que agrupou o direito obrigacional do 
país, deixando de existir, portanto, a diferença entre obrigações civis e 
comerciais. Como antes havia dois códigos, um comercial e outro civil, 
cada um regulava o campo das obrigações de uma forma.
O Código Civil brasileiro de 2002 adotou a orientação italiana e uni-
ficou o direito das obrigações, deixando de existir no ordenamento 
nacional a distinção entre obrigações civis e comerciais. Além disso, 
instituiu um capítulo para tratar do Direito de Empresa, que substituiu 
o Código Comercial de 1850.
No Código Civil o Direito de Empresa tratou de temas como em-
presa e empresário (artigos 966 a 980), Direito Societário (artigos 
981 a 1.141), estabelecimento empresarial e institutos complemen-
tares (artigos 1.142 a 1.195), títulos de créditos (artigos 887 a 926) e 
obrigações em geral (artigos 481 a 853). Uma parcela da legislação 
sobre o Direito Comercial, contudo, permanece ausente do Código 
Civil, como é o caso da falência e da recuperação judicial e extrajudi-
cial, reguladas pela Lei n. 11.101/2005, do registro empresarial, re-
gulado pela Lei n. 8.934/1994, e da propriedade industrial, regulada 
pela Lei n. 9.279/1996.
Com a unificação do direito das obrigações e a inserção 
de parcela significativa do Direito Comercial no 
Código Civil, muitos defenderam o fim da 
disciplina. Todavia, não é apenas a autono-
mia legislativa que define a autonomia de 
dada disciplina em relação a outra, mas as 
particularidades inerentes à aplicação da 
legislação.
moroso: lento, demorado.
Glossário
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2222 Direito Comercial e do consumidorDireito Comercial e do consumidor
Uma introdução ao Direito Comercial 23
Assim, a segunda parte desta seção trata da autonomia do Di-
reito Comercial.
1.2.2 A autonomia do Direito Comercial 
A discussão a respeito da autonomia do Direito Comercial está liga-
da à subseção anterior. Existem as seguintes espécies de autonomia: 
formal, ou legislativa; substancial, ou jurídica, científica; e didática.
Permite determinar de maneira científica a matéria a ser estudada por determinado ramo do Direito por meio 
do conteúdo e dos princípios específicos.
Autonomia substancial
É aquela decorrente da existência de cadeiras específicas nas faculdades de Direito.
Autonomia didática
Contempla a existência de um código autônomo, ou seja, cada disciplina tem seu próprio código. Por exem-
plo, o Direito Comercial teria o Código Comercial, o Direito Civil teria o Código Civil, e assim por diante.
Autonomia formal
Essas diversas espécies não explicam completamente o proble-
ma da autonomia, mas ajudam a determinar a existência de auto-
nomia no Direito Comercial, ainda que seja muito difícil realizar a 
sua sistematização, afinal, ele é fruto do dinamismo e não conse-
gue ficar encerrado em um código.
Para ilustrar essa afirmação, tem-se o exemplo da matéria con-
tratual. O Código Comercial de 1850 regulava as obrigações mer-
cantis, prevendo a existência dos seguintes contratos: mandato 
mercantil, comissão mercantil, compra e venda mercantil, escam-
bo ou troca mercantil, locação mercantil, mútuo e juros mercantis, 
fianças e cartas de crédito e abono, hipoteca e penhor mercantil, e 
depósito mercantil.
O Código Civil de 2002 revogou, conforme artigo 2.045, toda a pri-
meira parte do Código Comercial de 1850, justamente no qual esta-
24 Direito Comercial e do consumidor
vam situados os contratos mencionados (BRASIL, 2002). Ele passou a 
tratar do mandato sem diferenciar se é civil ou comercial. Entretanto, 
quando o jurista se depara com um mandato, consegue, com base 
nas suas cláusulas e condições, estabelecer a distinção entre um man-
dato civil e um comercial, ainda que eles não possuam essa adjetiva-
ção e sejam denominados apenas de mandato.
A autonomia do Direito Comercial, portanto, é de natureza ontológica, e não 
propriamente científica.
Cabe ressaltar o fato de que a unificação do direito das obri-
gações e a ausência de um código não afetam a autonomia como 
um todo do Direito Comercial. Mantém-se viva a ideia do Direito 
Comercial como um direito especial, dedicado agora às figuras do 
empresário e da empresa, e um direito comum, o Direito Civil, que 
oferece respostas aos problemas derivados das demais relações 
jurídicas. A rigor, um ramo do Direito somente será especial se 
houver outro comum, o que não ocorre em casos com total sime-
tria. Por exemplo, o Direito Societário não possui equivalência de 
nenhuma ordem no Direito Civil, embora este trate da figura da 
pessoa jurídica, que é essencial para o Direito Societário.
Assim, apesar da unificação do direito obrigacional, que agora 
abrange também as relações jurídicas derivadas do Direito Comer-
cial, não houve a total absorção das matérias comercialistas pelo 
Direito Civil, mantendo-se intacta a autonomia de ambos.
A própria existência de leis autônomas regulando temas de Direito 
Comercial realça o seu caráter fragmentário, uma das características 
da disciplina, em razão da necessidade de se adaptar às dinâmicas 
econômica, social e histórica da atividade comercial ao longo dos sé-
culos. Esse atributo dificulta a vigência de um código, estimulando a 
edição de leis esparsas mais dinâmicas, caso precisem ser modifica-
das para se adaptarem a qualquer nova realidade comercial.
Como foi mencionado o caráter fragmentário do Direito Comer-
cial, é preciso tratar das suas principais características, sistematiza-
das a seguir, para melhor compreensão:
ontologia: reflexão com base 
em um sentido abrangente e que 
possui múltiplas existências. Por 
exemplo, o mandato possui um 
sentido abrangente que comporta 
múltiplas existências, sendo uma 
delas na forma de mandato civil e 
outra na de mandato comercial.
Glossário
Uma introdução ao Direito Comercial 25
O Direito Comercial volta-se à integração das práticas 
mercantis entre os povos, sendo comum a busca da uni-
formização, quando possível, dessas práticas.
Cosmopolitismo ou internacionalidade
A atividade empresarial é caracterizada pelos 
seus aspectos econômico e especulativo, que 
visam ao lucro como forma de remuneração do 
capital empregado ao seu desenvolvimento.
Onerosidade
O Direito Comercial é o direito do 
dinamismo e, por isso, demanda a 
criação de mecanismos jurídicos que 
agilizem as transações.
Informalismo
Dois fatores contribuem para essa característica. O pri-
meiro deles é a dinamicidade dos fatos econômicos que 
atingem o Direito Comercial, e o segundo é a alta especi-
ficidade das disciplinas que o compõem, como o Direito 
Societário e o Direito Falimentar.
Fragmentarismo
Com essas características, a definição do que é Direito Comercial 
se torna difícil, por isso se opta por definições teleológicas. Ou seja, 
a finalidade define a extensão da lei para a caracterizar ou não como 
lei comercial.
Para os fins desta obra, define-se o Direito Comercial como sendo 
todas aquelasresoluções decorrentes de uma atividade empresarial 
ou do estado de empresário.
O artigo A autonomia do Direito Comercial e o Direito de Empresa, de Marcos 
Paulo de Almeida Salles, é uma boa leitura para aprofundar seus conheci-
mentos a respeito da discussão em torno da existência ou não da autonomia 
do Direito Comercial.
Acesso em: 11 fev. 2021. 
https://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/download/67933/70541/89365
Artigo
teleológico: trajeto em direção 
a uma finalidade. Nesse caso, 
é com base na finalidade da lei 
que se determina se ela está ou 
não sujeita ao Direito Comercial.
Glossário
1.3 Teoria da empresa e atividade comercial 
Vídeo O Código Comercial de 1850 estava estruturado na chamada teoria 
dos atos de comércio, que vigorou no ordenamento jurídico até a edição 
do Código Civil de 2002, ocasião em que passou à teoria da empresa.
Enquanto a teoria dos atos de comércio estava assentada em um rol de atividades 
que, se praticadas, caracterizavam a figura do comerciante, além de estar sujeita às re-
gras do Direito Comercial, a teoria da empresa abandona essa relação de atividades e 
fica centrada na figura do sujeito, ou seja, do empresário, que é o exercente da atividade 
(Continua)
https://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/download/67933/70541/89365
26 Direito Comercial e do consumidor
econômica organizada (empresa). Mesmo sendo denominada teoria da empresa, o Có-
digo Civil parte do conceito de que o empresário é o sujeito da relação jurídica, enquanto 
a empresa é o objeto dessa relação.
Para compreender a teoria da empresa é preciso começar pelo 
conceito de empresário, que é explicado no artigo 966 do Código Ci-
vil: “Considera-se empresário quem exerce profissionalmente ativida-
de econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou 
de serviços” (BRASIL, 2002). Os elementos do conceito de empresário 
são os seguintes:
 • Atividade econômica organizada.
 • Profissionalidade ou habitualidade.
 • Ter a finalidade de produzir, circular bens ou prestar serviços.
Cumpre salientar que a atividade econômica pode ser empresa-
rial ou não. Essa distinção fica clara quando se analisa o parágrafo 
único do artigo 966 do Código Civil, o qual estabelece o que não é um 
empresário: aquele que pode até exercer ou praticar uma atividade 
econômica organizada, mas ela está assentada em atividades de na-
tureza intelectual, artística ou literária (BRASIL, 2002). Assim, quando 
houver atividade econômica organizada por um empresário, haverá a 
figura da empresa.
A empresa também está conceituada no artigo 966 do Código Civil, 
quando este estabelece que ela “exerce atividade econômica organiza-
da”, podendo ser interpretado como “exerce a empresa”. Assim, o su-
jeito é o empresário e o objeto é a empresa. Os conceitos de empresa 
e empresário estão, portanto, entrelaçados, sendo aquela o meio que 
este tem para explorar, em caráter profissional e habitual, determinada 
atividade econômica que o distingue das demais profissões.
A definição dos conceitos de empresa e empresário é baseada 
em comparações e tem por objetivo demonstrar a evolução do con-
ceito de comerciante para o de empresário, dadas as variáveis eco-
nômicas, sociais e culturais do Direito nacional. Antes do Código Civil 
de 2002, o qual entrou em vigor em 2003, existia a figura do comer-
ciante, isto é, aquele que pratica atos de comércio enumerados no 
Código Comercial de 1850. Após o Código Civil, a figura do comer-
ciante passou a se chamar empresário.
Uma introdução ao Direito Comercial 27
A passagem da teoria dos atos de comércio para a teoria da empresa 
se dá na questão da atividade econômica organizada, pois, para que 
haja produção de bens ou serviços, faz-se necessária a criação de ati-
vidade organizada e profissional por meio de organismos econômicos 
oriundos da organização de fatores de produção e que se propõem 
à satisfação de vontades alheias. A isso se convencionou chamar de 
empresa, ou seja, abandona-se a figura do comerciante, centrada nos 
atos de comércio, e passa-se à figura do empresário, centrada no de-
senvolvimento de uma atividade econômica organizada.
A empresa assumiu uma importância capital nos últimos tempos, 
pois se tornou um importante elemento da comunidade em geral, 
saindo da esfera econômica para também abranger a esfera jurídica, 
consolidada na redação do artigo 966 do Código Civil. Por essa ra-
zão, é possível tratar de dois conceitos de empresa. O primeiro é 
o econômico, no sentido de ser um organismo econômico que tem 
por objetivo reduzir os custos de transação e otimizar o capital para 
obter resultados lucrativos. O segundo é o jurídico, cuja procura de 
um significado satisfatório tem sido difícil, mas que pode ser resumida 
atualmente na noção de atividade econômica organizada do artigo 966 
do Código Civil.
Os estudos em torno da teoria da empresa permitem verificar que 
apenas alguns dos aspectos econômicos interessam efetivamente ao 
Direito, ao qual cumpre estudar:
a. a empresa como expressão da atividade do empresário, pois este 
não está sujeito a normas específicas, que subordinam o exercí-
cio da empresa a determinadas condições ou pressupostos ou o 
titulam com particulares garantias (normas referentes à empresa 
comercial, como registro);
b. a empresa como ideia criadora, a que a lei concede tutela (nor-
mas de repressão à concorrência desleal, proteção à proprieda-
de industrial);
c. como um complexo de bens, que forma o estabelecimento co-
mercial, regulando sua proteção e forma de transferência;
d. as relações com os dependentes, vinculando-se ao direito do tra-
balho. (REQUIÃO, 2000, p. 48-49)
Parte da passagem da teoria dos atos de comércio para a teoria da 
empresa se deve ao Direito italiano, que, com o advento do seu Código 
Civil de 1942, colocou a empresa no centro do sistema. O Direito brasi-
No vídeo Conceitos Básicos 
de Direito Empresarial, 
do canal Curso Priscilla 
Menezes, é possível veri-
ficar uma explicação clara 
e ilustrada dos principais 
conceitos de Direito Em-
presarial, isto é, empresa, 
empresário, estabeleci-
mento e ponto comercial. 
Vale a pena assistir ao 
vídeo para firmar alguns 
conceitos.
Disponível em: https://youtu.
be/8MzgJIBfO_s. Acesso em: 22 
mar. 2021.
Vídeo
https://youtu.be/8MzgJIBfO_s
https://youtu.be/8MzgJIBfO_s
leiro recepcionou a empresa ao estabelecer, no Livro II do Código Civil 
de 2002, o Direito de Empresa.
Contudo, a recepção desse Direito se deu considerando a sua im-
portância no campo econômico, fazendo surgir o problema de quando 
se procura o erigir à condição de categoria básica do Direito Comercial. 
A empresa não é propriamente uma categoria básica porque é um ente 
abstrato, concebida como exercício de uma atividade econômica orga-
nizada em caráter profissional. Ela é uma ação intencional do empresá-
rio, praticada quando ele decide exercitar sua atividade econômica – e 
isso se dá por meio da empresa, ou seja, por meio de uma organização 
de meios para atingir certas finalidades.
Em outros termos, o empresário organiza a sua atividade e coordena 
os bens (capital) com o trabalho de terceiros, e a empresa se torna um 
objeto de Direito, sem ser elevada à condição de sujeito de Direito, a 
qual é destinada exclusivamente ao empresário.
Embora seja comum o uso da expressão empresa como sinônimo 
de sociedade, é necessário destacar que elas não se confundem. A 
empresa é a atividade econômica desenvolvida pelo empresário que 
pode se constituir de maneira coletiva, como em uma sociedade em-
presária. Já a sociedade é a forma coletiva de exploração de uma em-
presa, visto que é composta de sócios e que existem várias formas no 
ordenamento jurídico, sendo a mais comum a sociedade limitada.
1.4 Regime jurídico da livre iniciativa 
Vídeo Para compreender o sistema em que se encontra posicionado o Di-
reito Comercial, é preciso ter em mente que o Direito brasileiro é um 
sistema complexo de normas, o qual começa com o Direito Constitucio-
nal. A ConstituiçãoFederal (CF) de 1988 adotou um sistema que permi-
te a fixação das estruturas da ordem econômica, a qual está calcada em 
alguns princípios: a livre iniciativa (artigo 1º, IV), a defesa dos direitos do 
consumidor (artigo 5o, XXXII), a liberdade de trabalho, ofício e profissão 
(artigo 5o, XIII), a livre concorrência, a propriedade privada (artigo 5º, 
XXII) e a defesa do meio ambiente (artigo 225).
Assim, somente existe a figura do empresário e uma teoria da em-
presa no Brasil porque o artigo 170 da CF estabelece a todos o livre 
Mais recentemente foi criada 
a figura da sociedade limitada 
unipessoal, que, embora seja 
chamada de sociedade, é 
composta de uma única pessoa 
(artigo 1.052, parágrafo 2º, do 
Código Civil).
Saiba mais
Uma introdução ao Direito Comercial 29
exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de au-
torização, salvo nos casos expressamente previstos em lei. Portanto, a 
livre iniciativa está inserida como: fundamento do Estado Democrático 
de Direito (artigo 1º, VI, da CF/1988); direito fundamental, ao garantir 
o direito de propriedade privada (artigo 5º, XXII, da CF/1988); e funda-
mento da Ordem Econômica (artigo 170, da CF/1988).
Por livre iniciativa se entende o regime jurídico que permite ao indivíduo exercer livre-
mente qualquer tipo de atividade econômica, sem interferência do Estado como regra, 
existindo, contudo, exceções em alguns casos. A regra é da livre iniciativa, da liberdade 
de empreender qualquer ramo econômico em busca do lucro. Trata-se de um reflexo do 
direito à propriedade privada.
A Constituição revela a preocupação do legislador de tutelar o exer-
cício da atividade econômica sem, no entanto, descuidar de princípios 
limitadores ou orientadores dela. Ela trata especialmente da defesa 
dos direitos do consumidor, da liberdade de trabalho e da defesa do 
meio ambiente.
O Direito Comercial passa a tratar de todos que, segundo a CF, 
exerçam algum tipo de atividade econômica. Por essa razão, toda lei 
ordinária que lecione a respeito da atividade econômica não pode, 
sob pena de inconstitucionalidade, ferir os limites estabelecidos 
pela Constituição.
O Direito Constitucional como um todo promove uma modificação 
estrutural na comunidade e faz com que novas necessidades sejam 
demandadas, especialmente aquelas relacionadas à dignidade do 
trabalho humano e aos direitos fundamentais e sociais. Isso obriga 
antigas instituições a se adaptarem, como o comerciante, que preci-
sou se ajustar e se organizar para, mediante uma estrutura chamada 
empresa, poder atender a essa nova realidade econômica, cultural e 
social pós-CF de 1988.
Assim sendo, a matriz do Direito Comercial está na livre iniciativa, 
princípio que encontra diversas manifestações em âmbito constitucio-
nal, conforme o quadro a seguir.
(Continua)
30 Direito Comercial e do consumidor
Quadro 2
Manifestações do princípio da livre iniciativa
Artigo Texto
1º
A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do 
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I – a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos 
ou diretamente, nos termos desta Constituição.
170
A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por 
fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os 
seguintes princípios:
I – soberania nacional;
II – propriedade privada;
III – função social da propriedade;
IV – livre concorrência;
V – defesa do consumidor;
VI – defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto 
ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação;
VII – redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII – busca do pleno emprego;
IX – tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasilei-
ras e que tenham sua sede e administração no País.
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independen-
temente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.
173
Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo 
Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevan-
te interesse coletivo, conforme definidos em lei.
§ 1º. A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista 
e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de 
bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre:
[...]
§ 2º. As empresas públicas e as sociedades de economia mista não poderão gozar de privilégios fiscais 
não extensivos às do setor privado.
§ 3º. A lei regulamentará as relações da empresa pública com o Estado e a sociedade.
§ 4º. A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação 
da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros.
§ 5º. A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, esta-
belecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis com sua natureza, nos 
atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular.
Fonte: Adaptado de Brasil, 1988, grifos nossos. 
Uma introdução ao Direito Comercial 31
A primeira referência transforma a livre iniciativa em um dos pilares 
do Estado Democrático de Direito, permitindo a liberdade de exercício 
das atividades econômicas em geral, sejam elas de natureza empresa-
rial ou não. Por exemplo, um advogado em seu escritório desenvolve 
uma atividade econômica, mas não de natureza empresarial; já uma 
pizzaria também desenvolve uma atividade econômica, mas o faz sob 
a forma empresarial.
Ao Estado compete a regulação do exercício dessa atividade econô-
mica, na figura conhecida como Estado Regulador, conforme previsto no 
artigo 174 da Constituição Federal (BRASIL, 1988):
Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade eco-
nômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscali-
zação, incentivo e planejamento, sendo este determinante para 
o setor público e indicativo para o setor privado.
§ 1º. A lei estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento do 
desenvolvimento nacional equilibrado, o qual incorporará e com-
patibilizará os planos nacionais e regionais de desenvolvimento.
§ 2º. A lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formas 
de associativismo.
§ 3º. O Estado favorecerá a organização da atividade garimpeira 
em cooperativas, levando em conta a proteção do meio ambien-
te e a promoção econômico-social dos garimpeiros.
§ 4º. As cooperativas a que se refere o parágrafo anterior terão 
prioridade na autorização ou concessão para pesquisa e lavra 
dos recursos e jazidas de minerais garimpáveis, nas áreas onde 
estejam atuando, e naquelas fixadas de acordo com o art. 21, 
XXV, na forma da lei. 
Portanto, o Estado deve exercer o seu poder normativo e 
regulador das atividades econômicas, instituindo regras a respeito 
da criação, do funcionamento e de outras obrigações. A Constitui-
ção Federal atua como norma programática que fixa determinado 
objetivo a ser alcançado. Ela incumbe ao Estado editar leis para con-
cretizar os objetivos estabelecidos constitucionalmente, como a li-
berdade de iniciativa.
É importante destacar que o Estado, caso queira promover a 
exploração direta de atividade econômica, estará sujeito ao “regime ju-
rídico próprio das empresas privadas”, conforme estabelecido no artigo 
173, parágrafo primeiro, inciso II, da Constituição Federal (BRASIL, 1988). 
Esse artigo também confere ao Estado um papel subsidiário no exercício 
32 Direito Comercial e do consumidor
da atividade econômica, salvo apenascaso de situações especiais, como 
a segurança nacional e o interesse coletivo.
Dessa forma, o Estado e o particular, no exercício de uma atividade econômica, são co-
locados em igualdade, pois os princípios são aplicáveis a ambos, observada a função 
social. Ainda que o Estado decida exercer uma atividade econômica, deverá respeitar o 
regime jurídico próprio das empresas privadas, ou seja, sem qualquer vantagem.
Todas as empresas têm sua função social, e não somente aquelas 
em que se faz necessária uma autorização do Poder Público em face da 
segurança nacional ou do interesse coletivo. Isso porque todas elas, em 
graus diversos, exercem atividades socialmente relevantes. Por isso, as 
empresas atualmente envolvem interesses individuais e privados, mas 
também interesses coletivos e públicos, que podem e devem ser prote-
gidos, destacando o papel da função social da empresa.
Para fortalecer ainda mais a ideia constitucional, foi editada a Lei 
da Liberdade Econômica, Lei n. 13.874/2019, que reafirmou, em vários 
dispositivos, a livre iniciativa como elemento fundamental da ordem 
econômica. Ela instituiu a declaração de direitos de liberdade econômi-
ca, que estabelece normas de proteção à livre iniciativa e ao livre exer-
cício de atividade econômica e disposições sobre a atuação do Estado 
como agente normativo e regulador. A lei também reafirma a liberdade 
como garantia no exercício de atividades econômicas (artigo 2º, I) e o 
papel subsidiário do Estado no processo de intervenção sobre o exercí-
cio dessas atividades (artigo 2º, III) (BRASIL, 2019).
A declaração de direitos da liberdade econômica enumera um con-
junto de direitos para aqueles que pretendem exercer atividades eco-
nômicas, destacando-se:
 • desenvolver atividade econômica de baixo risco;
 • desenvolver atividade econômica em qualquer horário;
 • receber tratamento isonômico dos órgãos públicos quanto ao 
exercício de atos de liberação do exercício de atividade econômica.
Para realçar a importância da livre iniciativa, o artigo 4º da Lei 
n. 13.874/2019 estabelece as garantias da livre iniciativa, vedando as se-
guintes condutas para o Estado:
Uma introdução ao Direito Comercial 33
Criar reserva de mercado ao favorecer, na regulação, grupo econômico ou profissional 
em prejuízo dos demais concorrentes.
I
Redigir enunciados que impeçam a entrada de novos competidores nacionais ou estrangeiros no mercado.II
Exigir especificação técnica que não seja necessária para atingir o fim desejado.III
Redigir enunciados que impeçam ou retardem a inovação e a adoção de novas tecnologias, processos 
ou modelos de negócios, ressalvadas as situações consideradas em regulamento como de alto risco.
IV
Aumentar os custos de transação sem demonstração de benefícios.V
Criar demanda artificial ou compulsória de produto, serviço ou atividade profissional, 
inclusive de uso de cartórios, registros ou cadastros.
VI
Introduzir limites à livre formação de sociedades empresariais ou de atividades econômicas.VII
Restringir o uso e o exercício da publicidade e da propaganda sobre um setor econômico, 
ressalvadas as hipóteses expressamente vedadas em lei federal.
VIII
Exigir, sob o pretexto de inscrição tributária, requerimentos de outra natureza, de 
maneira a mitigar os efeitos do inciso I do caput do artigo 3º dessa Lei.
IX
O objetivo central da Lei da Liberdade Econômica é reafirmar o 
compromisso do legislador constitucional com a livre iniciativa, o que con-
sequentemente fortalece ainda mais o papel do Direito Comercial no sis-
tema jurídico brasileiro.
O artigo Livre iniciativa: considerações sobre seu sentido e alcance no Direito brasileiro, 
de Ricardo Lupion Garcia e Cláudio Kaminski Tavares, apresenta um conceito 
elementar para compreender o Direito Comercial brasileiro: a livre iniciativa. Vale a 
pena a leitura para aprofundar seus conhecimentos a respeito desse assunto.
Acesso em: 11 fev. 2021. 
https://periodicos.ufpe.br/revistas/ACADEMICA/article/download/2084/2930
Artigo
https://periodicos.ufpe.br/revistas/ACADEMICA/article/download/2084/2930
34 Direito Comercial e do consumidor
Por fim, a Constituição Federal também protege a livre 
concorrência, princípio coirmão da livre iniciativa, pois sem liber-
dade de iniciativa não é possível concorrer livremente, e o inverso 
também é verdadeiro. Dessa forma, a livre concorrência é um estí-
mulo ao exercício eficiente da liberdade de iniciativa. Embora sejam 
coirmãos, são princípios distintos. Enquanto a livre iniciativa trata da 
liberdade de exercício da atividade econômica, a livre concorrência 
estabelece que o exercício dessa liberdade está protegido da con-
corrência desleal e desonesta.
Assim sendo, percebe-se a importância de compreender que o Di-
reito Comercial está inserido no contexto da norma constitucional, a 
qual prevê a existência da liberdade de iniciativa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O Direito Comercial passou da teoria dos atos do comércio e do 
regime legal do Código Comercial de 1850 para um novo modelo com 
base na teoria da empresa, cujo marco legal é o Código Civil de 2002. 
Embora seu regramento esteja no Código Civil, continua a existir o Di-
reito Comercial, dadas as suas autonomias didática e substancial, ainda 
que tenha perdido, em parte, sua autonomia legislativa.
A passagem para a teoria da empresa está bem delimitada no or-
denamento jurídico nacional, e existe, além do Código Civil, uma série 
de outras leis regulando algum aspecto do Direito Comercial, como a 
lei que aborda a falência e a recuperação do empresário, o qual é um 
sujeito de direitos e obrigações das relações jurídicas envolvendo essa 
área do Direito.
O exercício da atividade econômica empresarial exige o 
preenchimento de várias obrigações previstas em lei, destacando-se 
a obrigação do registro perante as Juntas Comerciais dos estados, 
bem como a manutenção de uma escrituração contábil, de livros obri-
gatórios e facultativos, além de várias outras obrigações para manter 
sua regularidade.
Toda essa legislação, contudo, está encimada pela Constituição Fe-
deral (isto é, a Constituição está acima de todas as normas), a qual 
garante a liberdade de iniciativa de qualquer indivíduo, que pode de-
senvolver atividade econômica sem prévia autorização, salvo em situa-
ções excepcionais.
Uma introdução ao Direito Comercial 35
ATIVIDADES
1. Conceitue Direito Comercial.
2. Qual é a diferença entre a teoria dos atos de comércio e a teoria da 
empresa?
3. O Direito Comercial possui autonomia científica? Justifique sua resposta.
REFERÊNCIAS 
ASQUINI, A. Perfis da empresa (Profili dell’impresa, in Rivista del Diritto Commerciale, 
1943, v. 41, I). Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, ano XXXV (nova 
série), n. 104, p. 109-126, out./dez. 1996.
BORGES, J. E. Curso de Direito Comercial Terrestre. São Paulo: Forense, 1959.
BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 
out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. 
Acesso em: 11 fev. 2021.
BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, 
Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/
l10406compilada.htm. Acesso em: 11 fev. 2021.
BRASIL. Lei n. 13.874, de 20 de setembro de 2019. Diário Oficial da União, Poder Executivo, 
Brasília, DF, 20 set. 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2019/lei/L13874.htm. Acesso em: 11 fev. 2021.
COELHO, F. U. Curso de Direito Comercial. São Paulo, Saraiva, 2002.
COELHO, F. U. Manual de Direito Comercial: Direito da Empresa. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2016.
CORDEIRO. A. M. Manual de Direito Comercial. Coimbra: Almedina, 2001.
FERREIRA. W. M. Instituições de Direito Comercial. São Paulo: Max Limonad, 1956.
FRANCO, V. H. de. M. Manual de Direito Comercial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. 
GONÇALVES NETO, A. deA. Manual de Direito Comercial. Curitiba: Juruá, 2000.
MARTINS, F. Curso de Direito Comercial. 28. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
REQUIÃO, R. Curso de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 1993. v. 1.
REQUIÃO, R. Curso de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2003.
Vídeo
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13874.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13874.htm
36 Direito Comercial e do consumidor
2
A atividade empresarial 
e sua organização
Oksandro Gonçalves
O objetivo deste capítulo é apresentar e desenvolver algumas 
obrigações do empresário, especialmente o registro público de em-
presas mercantis perante as Juntas Comerciais, a contabilidade e os 
livros do empresário. Trata-se de um tema de suma importância, uma 
vez que o empresário somente estará regular com suas obrigações 
se estiver devidamente registrado; caso contrário, pode ser conside-
rado um empresário irregular, com graves consequências. Ao final, 
na seção 2.6, é apresentado o conceito de estabelecimento comercial, 
essencial para o desenvolvimento das atividades do empresário.
2.1 Registro público de empresas mercantis 
Vídeo O registro público de empresas mercantis, também conhecido por 
registro do comércio ou, como atualmente é chamado, registro públi-
co de empresas, é de essencial importância para o empresário, porque 
visa organizar, a nível nacional, o exercício da atividade empresarial, 
conferindo-lhe a adequada publicidade dos atos e a segurança jurídica 
que esse modelo traz para toda sociedade.
São três as normas essenciais para a compreensão do sistema de 
registro:
Registro público de 
empresas mercantis e 
atividades afins
Código Civil,
artigos 1.150 a 1.154
Lei n. 8.934/1994 Decreto n. 1.800/1996
A atividade empresarial e sua organização 37
É preciso iniciar pelo artigo 1.150 do Código Civil, que estabelece 
uma obrigação geral ao dizer que “o empresário e a sociedade empre-
sária vinculam-se ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo 
das Juntas Comerciais” (BRASIL, 2002). Assim, todos os empresários e 
as sociedades empresárias estão obrigados ao registro.
Essa regra é repetida, com outras palavras, nos artigos 967, 984 e 
985 do Código Civil, demonstrando a importância do registro como 
obrigação do empresário.
Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Públi-
co de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de 
sua atividade. 
[...]
Art. 984. A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade 
própria de empresário rural e seja constituída, ou transformada, de 
acordo com um dos tipos de sociedade empresária, pode, com as 
formalidades do art. 968, requerer inscrição no Registro Público de 
Empresas Mercantis da sua sede, caso em que, depois de inscrita, 
ficará equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária. 
[...]
Art. 985. A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscri-
ção, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constituti-
vos (arts. 45 e 1.150). (BRASIL, 2002, grifos nossos) 
A obrigatoriedade do registro é reforçada, ainda, pelo artigo 45 do 
Código Civil, que trata da existência das pessoas jurídicas, das quais as 
sociedades empresárias são uma das espécies: “começa a existência legal 
das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo 
no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou 
aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as altera-
ções por que passar o ato constitutivo” (BRASIL, 2002).
A expressão usada pelo legislador no artigo 45 do Código Civil (“co-
meça a existência legal”) é forte, ao atribuir que essa condição somente 
é atingida pela inscrição do ato constitutivo no registro, que, no caso 
dos empresários e das sociedades empresárias, é realizado perante as 
Juntas Comerciais.
38 Direito Comercial e do consumidor
É importante salientar a figura da sociedade empresária (mencionada nos artigos ci-
tados), que é o modelo coletivo de exercício da atividade empresarial e que sofre a re-
gulação das normas pertinentes ao Direito Comercial. A atividade empresarial pode ser 
exercida individualmente pelo empresário, e coletivamente pela sociedade empresária. 
Cabe, contudo, uma ressalva: o Código Civil, no artigo 1.052, parágrafo 1º, passou a 
admitir o exercício de sociedade por um único indivíduo.
A diferenciação é estabelecida em razão do previsto no artigo 966 
do Código Civil, que no seu caput regula a figura do empresário indivi-
dual, e no seu parágrafo único prevê o critério que distingue essa figu-
ra (o empresário) das demais figuras que também exercem atividades 
econômicas, mas não de natureza empresarial (BRASIL, 2002).
Exemplifica-se para melhor ilustrar: um escritório de arquitetura 
desenvolve uma atividade econômica, mas não de origem empresa-
rial, portanto não está sujeito às regras de Direito Comercial, e sim de 
Direito Civil. Uma indústria, por outro lado, também desenvolve ativida-
de econômica, mas, como está produzindo bens de consumo, enqua-
dra-se como empresarial e passa a ser regida pelas regras de Direito 
Comercial, ainda que se sujeite a disposições gerais do Direito Civil, em 
razão principalmente da unificação do Direito Privado.
Assim, a regra é o registro. Todavia, podem existir situações de em-
presários e sociedades empresárias sem registro. Caso optem por não 
efetuar o registro, ocorrerá uma situação de irregularidade, o que não 
significa que se atribua ao empresário irregular obrigações similares 
àquelas de um empresário regular. Além disso, ele não terá acesso aos 
direitos que o registro concede.
Um exemplo: o empresário regular pode pedir a recuperação judi-
cial ou a falência, previstas na Lei n. 11.101 (BRASIL, 2005); já o empre-
sário irregular, que não promoveu o registro adequadamente, somente 
pode ter a falência declarada, ou seja, não pode usufruir do benefício 
legal da recuperação judicial que visa recuperar o empresário em difi-
culdades momentâneas no desenvolvimento de suas atividades.
O Código Civil (BRASIL, 2002) ainda estabelece um conjunto de re-
gras gerais, das quais destacam-se:
A atividade empresarial e sua organização 39
O registro será requerido pela pessoa obrigada por lei, ou seja, pelos administra-
dores da sociedade empresária ou pelo empresário; caso eles não providenciem o 
registro, qualquer interessado poderá fazê-lo, como o sócio da sociedade.
O prazo para apresentação dos documentos a registro é de 30 dias, contados do 
momento que o ato é praticado.
Se o prazo de 30 dias não for respeitado, o ato ainda assim pode ser levado a regis-
tro, mas nesse caso somente produzirá efeitos a contar da data do efetivo registro.
O Código prevê a responsabilização daquele que, obrigado a efetuar o registro, não 
o faz, podendo responder por perdas e danos.
 
O Código Civil (BRASIL, 2002) também estabelece obrigações gerais 
ao órgão responsável pelo registro, no caso, às Juntas Comerciais. A 
elas compete verificar a regularidade das publicações determinadas 
em lei. Estas são realizadas em órgão oficial da União e do estado onde 
estiver a sede e em jornal de grande circulação. Para as sociedades 
estrangeiras, a publicação deve ocorrer nos órgãos oficiais da União e 
do estado onde estiverem instaladas. Além disso, o anúncio de convo-
cação de assembleia de sócia será publicada ao menos três vezes em 
dias diferentes.
De modo geral, as Juntas Comerciais somente podem avaliar a au-
tenticidade e a legitimidade daquele que assina o requerimento de 
registro (artigo 1.153), além de fiscalizar o cumprimento das normas 
legais aplicáveis ao ato levado a registro. Assim, podem apenas averi-
guar a forma do ato, mas não a vontade do empresário ou dos sócios 
da sociedade empresáriaenvolvidos no ato.
Ainda segundo o artigo 1.154 do Código Civil (BRASIL, 2002), somen-
te depois de registrado é que o ato se torna público e, por isso, oponível 
a terceiro – ou seja, uma vez registrado o ato na Junta Comercial, nin-
guém poderá alegar desconhecimento do seu conteúdo, pois o registro 
é público e qualquer pessoa pode requerer uma cópia do ato mediante 
o pagamento das despesas correspondentes.
Encerrada a parte regulada pelo Código Civil, é preciso avançar para 
o que estabelece a Lei n. 8.934/1994 e o seu decreto regulamentador, 
40 Direito Comercial e do consumidor
o Decreto n. 1.800/1996. O Código Civil tem um caráter apenas geral, 
estabelecendo premissas essenciais para compreensão do modelo de 
registro adotado no Brasil, todavia são esses dois dispositivos legais 
que efetivamente regulam o sistema de registro do empresário, forne-
cendo elementos detalhados. A seguir, serão abordados os principais 
pontos regulados pelas duas normas mencionadas.
2.2 Finalidade do registro 
Vídeo O artigo 1º da Lei n. 8.934 estabelece as finalidades do registro 
(BRASIL, 1994):
Se o ato está registrado numa Junta Comercial, aquele que a consulta tem garantia de 
que o ato cumpriu os requisitos legais e está produzindo efeitos.
Garantia
Trata-se de um registro público, ou seja, qualquer pessoa pode solicitar informações nas 
Juntas Comerciais sobre qualquer empresário ou sociedade empresária que lá esteja 
registrado. O procedimento é muito simples, basta ter alguns dados, como nome, razão 
social ou CNPJ, e formular o pedido de cópia dos atos (por exemplo, de um contrato 
social). Efetuado o pagamento dos custos exigidos pela Junta Comercial, em alguns dias 
o solicitante terá acesso aos documentos. Todo empresário ou sociedade empresária 
ao registrar-se sabe que seus atos se tornam públicos e de livre acesso.
Publicidade
Se o ato está registrado na Junta Comercial, ele se presume autêntico até prova em 
sentido contrário. O objetivo da lei é dar validade ao documento, conferindo-lhe au-
tenticidade. Assim, qualquer pessoa pode pedir à Junta Comercial que autentique os 
documentos que lá estão e lhe forneça uma cópia. Por exemplo, é possível solicitar a 
cópia autenticada do contrato social de qualquer sociedade.
Autenticidade
Trata-se de um ponto chave do processo de registro, pois, uma vez registrado perante a 
Junta Comercial, aquele que consulta os atos tem a segurança de que eles são verdadei-
ros, autênticos e que são capazes de produzir efeitos perante terceiros.
Segurança
A atividade empresarial e sua organização 41
Uma vez que o ato foi registrado na Junta Comercial, ele produz eficácia perante tercei-
ros, isto é, a ninguém é dado dizer que desconhecia se tratar de um empresário ou de 
uma sociedade empresária, se eles foram devidamente registrados. Trata-se de uma 
proteção para todas as partes envolvidas: para o empresário, porque ele poderá opor o 
ato registrado contra qualquer um; e para o terceiro que consulta, o qual, por exemplo, 
pretende celebrar um contrato com o empresário, porque assim ele saberá as condi-
ções do registro (se está regular ou não, se quem assina tem os poderes necessários ou 
não, dentre outros detalhes que o registro concede).
Conferir eficácia ao ato
Cumpre salientar novamente que se trata de registro público de 
empresas mercantis, portanto a maior finalidade é tornar os atos do 
empresário e da sociedade empresária acessíveis a qualquer um que 
pretende consultá-los, o que gera direitos e obrigações para todos. 
Para o empresário ou a sociedade empresária, gera segurança e es-
tabilidade, porque a ninguém será dado o direito de invocar o desco-
nhecimento do ato se ele está devidamente registrado. Aos terceiros 
em geral, confere segurança quanto à celebração de qualquer outro 
ato com o empresário ou a sociedade empresária, pois será possível 
verificar todas as informações que lhe forem passadas, como quem 
é o administrador ou se ele tem poderes para assinar sozinho ou em 
conjunto determinado contrato.
2.2.1 A organização do registro empresarial
O sistema de registro empresarial está organizado da seguinte 
forma:
Sinrem – Sistema Nacional de Registro de Empresa Mercantis
DREI – Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração
Juntas Comerciais dos estados e Distrito Federal
Por ser um sistema de acesso público, a lei estruturou o sistema de 
uma forma muito simples. Existe um órgão central (o DREI), a que com-
42 Direito Comercial e do consumidor
pete de modo amplo supervisionar e coordenar tecnicamente todas as 
Juntas Comerciais do Brasil. Ele não procede o registro, mas coordena 
a forma como ocorre.
Em seguida, há as Juntas Comerciais, a que compete efetivamente 
promover os atos de registro, arquivamento e autenticação. São elas 
que estão no dia a dia de todos que precisam registrar ou buscar atos 
registrados. Cada estado brasileiro dispõe de uma Junta Comercial, que 
está situada na capital, mas que pode ser descentralizada para cidades, 
conforme decisão de cada estado.
A seguir, serão tratadas de maneira mais detalhada cada uma 
dessas estruturas.
2.3 Departamento de Registro 
Empresarial e Integração (DREI) Vídeo
O DREI, como órgão estatal, está inserido na Secretaria de Governo 
Digital da Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e 
Governo Digital do Ministério da Economia.
Sua função principal é estabelecer as diretrizes gerais para o registro público de empre-
sas mercantis; por isso, uma de suas finalidades é supervisionar e coordenar as Juntas 
Comerciais no plano técnico. Outra função é a de estabelecer e consolidar as normas e as 
diretrizes das Juntas Comerciais, o que faz em caráter exclusivo.
Recentemente, o DREI consolidou uma série de normas, revogando 
outras, para então expedir a Instrução Normativa DREI n. 81, de 10 de 
junho de 2020, que “dispõe sobre as normas e diretrizes gerais do Re-
gistro Público de Empresas, bem como regulamenta o Decreto n. 1.800, 
de 30 de janeiro de 1996” (BRASIL, 2020).
Se uma Junta Comercial apresenta dúvida quanto à interpretação 
de leis, regulamentos e demais normas relacionados ao registro, com-
pete ao DREI solucioná-la e emitir, com base na solução dada, uma di-
retriz geral e válida para todas as demais Juntas Comerciais, visando à 
uniformização dos procedimentos. Além da solução de dúvidas, o DREI 
presta orientações às Juntas Comerciais, também com o objetivo de 
uniformizar os procedimentos. Como uma das finalidades do sistema 
Recomenda-se uma 
consulta à Instrução Nor-
mativa DREI n. 81/2020, 
que é a mais importante 
atualmente em vigor. Ela 
trata de um conjunto de 
normas administrativas 
úteis para o interessado 
em promover o registro 
poder orientar-se.
Disponível em: https://www.gov.
br/economia/pt-br/assuntos/drei/
legislacao/arquivos/legislacoes-
federais/01JUL2020_IN_81_com_
ndice.pdf. Acesso em: 6 abr. 2021.
Leitura
https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/drei/legislacao/arquivos/legislacoes-federais/01JUL2020_IN_81_com_ndice.pdf
https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/drei/legislacao/arquivos/legislacoes-federais/01JUL2020_IN_81_com_ndice.pdf
https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/drei/legislacao/arquivos/legislacoes-federais/01JUL2020_IN_81_com_ndice.pdf
https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/drei/legislacao/arquivos/legislacoes-federais/01JUL2020_IN_81_com_ndice.pdf
https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/drei/legislacao/arquivos/legislacoes-federais/01JUL2020_IN_81_com_ndice.pdf
A atividade empresarial e sua organização 43
é conferir segurança ao empresário e a sociedades empresárias, logo, é 
preciso que o sistema esteja todo uniformizado para não sujeitar os 
empresários e as sociedades a regras e interpretações distintas para 
cada estado da federação brasileira.
O DREI (BRASIL, 2020) também é órgão de fiscalização das Juntas 
Comerciais, podendo representar contra qualquer autoridade adminis-
trativa que tenha cometido abuso ou infrações às normas de registro, 
para

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