Prévia do material em texto
Neoplasia Maligna de Esôfago e Estômago Câncer de Esôfago: incidência e etiologia: O câncer de esôfago é uma doença de incidência crescente e extremamente maligna. Quase todas as neoplasias de esôfago são carcinomas epidermoides ou adenocarcinomas; os dois subtipos histológicos são semelhantes na apresentação clínica, mas possuem fatores causais diferentes. O carcinoma epidermoide é o tipo mais comum, com uma incidência associada à localização geográfica. É uma doença frequente na região que vai do litoral sul do mar Cáspio a oeste até o norte da China a leste, englobando partes do Irã, da Ásia Central, do Afeganistão, da Sibéria e da Mongólia. O risco familiar aumentado foi observado em regiões com alta incidência, embora genes associados ainda não tenham sido identificados. É mais frequente após os 50 anos e parece estar associada a um nível socioeconômico inferior. Em geral, o câncer surge nas porções cervical e torácica do esôfago. Vários fatores causais são associados ao desenvolvimento do câncer de células escamosas do esôfago. Nos EUA, sua etiologia está principalmente relacionada ao consumo excessivo de álcool e/ou de cigarro. O risco relativo aumenta de acordo com a quantidade de cigarro ou álcool consumido, fatores que atuam de forma sinérgica. O consumo de uísque está associado a uma maior incidência do que o de vinho ou cerveja. O carcinoma epidermoide do esôfago também esteve associado à ingestão de nitritos, ao fumo de opiáceos e às toxinas fúngicas presentes em vegetais em conserva. Há também os danos à mucosa causados por fatores como exposição crônica a chá extremamente quente, ingestão de soda cáustica, estenoses induzidas pela radiação e acalasia crônica. Presença de membranas esofágicas associada à glossite e deficiência de ferro (i.e., síndrome de Plummer- Vinson ou Paterson-Kelly) e hiperceratose congênita e espessamento palmar e plantar (i.e., tilose palmar e plantar) foram, cada um deles, associados ao carcinoma epidermoide do esôfago, assim como deficiências dietéticas de molibdênio, zinco, selênio e vitamina A. Pacientes com câncer de cabeça e pescoço apresentam um risco aumentado de carcinoma epidermoide de esôfago. Várias associações histológicas fortes foram observadas como responsáveis pelo desenvolvimento de adenocarcinoma do esôfago. Esses tumores surgem no terço distal do esôfago associados ao refluxo gástrico crônico, com frequência na presença de esôfago de Barret (substituição do epitélio escamoso normal do esôfago distal por epitélio colunar), que ocorre mais frequentemente em indivíduos obesos. Os adenocarcinomas surgem no epitélio colunar displásico no esôfago distal. Mesmo antes do surgimento de neoplasia franca, podem ser encontradas aneuploidias e mutações de p53 no epitélio displásico. Esses adenocarcinomas comportam-se clinicamente como adenocarcinomas gástricos, embora não estejam associados a infecções por Helicobacter pylori. Cerca de 15% dos adenocarcinomas do esôfago superexpressam o gene HER2/neu. características clínicas: Os sintomas iniciais são, na maioria dos casos, disfagia progressiva e perda ponderal recente. A disfagia, inicialmente é para alimentos sólidos e evolui aos poucos para semissólidos e líquidos. Quando surgem esses sintomas, a doença já está avançada, porque a dificuldade de deglutição não ocorre até que > 60% da circunferência do esôfago esteja infiltrada com o câncer. A disfagia pode estar associada à dor na deglutição (odinofagia), à dor que irradia para o tórax ou o dorso, à regurgitação ou a vômitos e pneumonia por aspiração. Os locais de disseminação mais comuns são linfonodos adjacentes e supraclaviculares, fígado, pulmões, pleura e ossos. Podem se desenvolver fístulas traqueoesofágicas, principalmente em pacientes com tumores do terço superior e médio do esôfago. Como no caso de outros carcinomas epidermoides, pode ocorrer hipercalcemia na ausência de metástases ósseas, cuja causa provável é a secreção pelas células tumorais de peptídeos semelhantes ao paratormônio diagnóstico: Tentativas de rastreamento endoscópico e citológico para carcinoma em pacientes com esôfago de Barret, embora eficazes na detecção de displasias de alto grau, ainda não apresentaram redução da probabilidade de morte por adenocarcinoma esofágico. A esofagoscopia deve ser realizada em todos os pacientes suspeitos de apresentar anormalidades esofágicas, tanto para visualizar e identificar um tumor quanto para obter uma confirmação histológica do diagnóstico. As populações de risco para carcinoma epidermoide do esôfago, como fumantes e alcoólicos, também apresentam alta incidência de neoplasias de pulmão e cabeça e pescoço. Portanto, deve-se fazer a inspeção endoscópica da laringe, da traqueia e dos brônquios. O exame cuidadoso do fundo gástrico (com retroflexão do endoscópio) é essencial. A extensão do tumor para o mediastino e os linfonodos para-aórticos deve ser avaliada por tomografia computadorizada (TC) do tórax e abdome e por ultrassonografia endoscópica. A tomografia por emissão de pósitrons fornece uma boa avaliação da presença de doença metastática distante, com informações precisas a respeito da disseminação para linfonodos mediastinais, que pode ser útil na definição dos campos de radioterapia. Essas imagens, quando realizadas sequencialmente, podem proporcionar um meio de fazer uma avaliação inicial da capacidade de resposta à quimioterapia pré-operatória. Esôfago de Barret: O esôfago de Barrett é uma complicação da DRGE crônica, caracterizada por metaplasia intestinal dentro da mucosa escamosa esofágica. A incidência do esôfago de Barrett está aumentando, e estima-se que ocorra em cerca de 10% dos indivíduos com DRGE sintomática. O esôfago de Barrett é mais comum em homens brancos e se apresenta tipicamente entre 40 e 60 anos de idade. A maior preocupação no esôfago de Barrett é que ele confere um grande risco de adenocarcinoma esofágico. O sequenciamento genômico das biópsias envolvidas pelo esôfago de Barrett tem revelado a presença de mutações compartilhadas com o adenocarcinoma esofágico, mantendo a ideia de que o esôfago de Barrett é uma lesão precursora do câncer. Mutações potencialmente oncogênicas são mais numerosas quando biópsias demonstram displasia, que é detectada em 0,2% a 2% das pessoas que possuem esôfago de Barrett, todos os anos. A presença de displasia, uma alteração pré-invasiva, está associada a sintomas prolongados, comprimento alongado do segmento, idade avançada do paciente e pessoas caucasianas. Embora a vasta maioria dos adenocarcinomas esofágicos esteja associada ao esôfago de Barrett, é importante lembrar que a maioria dos indivíduos com esôfago de Barrett não desenvolve tumores esofágicos. O esôfago de Barrett só pode ser identificado por meio de endoscopia e biópsia, as quais são geralmente realizadas pelos sintomas da DRGE. Uma vez diagnosticado, o melhor caminho de tratamento é um assunto em debate. Muitos apoiam a endoscopia periódica com biópsia, para o monitoramento da displasia. No entanto, estudos randomizados falharam em demonstrar que o monitoramento melhora a taxa de sobrevida do paciente. Além disso, incertezas em relação ao potencial da displasia, especialmente a de baixo grau, para regredir espontaneamente e informações limitadas sobre o risco de progressão complicam as decisões clínicas. Para carcinoma intramucoso ou invasivo, é necessário realizar uma intervenção terapêutica. As opções de tratamento incluem ressecção cirúrgica, ou esofagectomia, assim como novas modalidades, tais como terapia fotodinâmica, ablação por laser e mucosectomia endoscópica. A displasia multifocal de alto grau, que carrega um risco significativo de progressão de carcinoma intramucoso para invasivo, é tratada como carcinoma intramucoso. Muitos médicos acompanham displasiasde baixo grau ou um simples foco de displasia de alto grau com endoscopia e biópsia a intervalos frequentes. No entanto, o tratamento da displasia esofágica está evoluindo, e espera-se que um melhor entendimento molecular da progressão neoplásica possa permitir o desenvolvimento de abordagens quimiopreventivas que reduzam a incidência do adenocarcinoma esofágico. Adenocarcinoma Gástrico: incidência e etiologia: O risco de câncer gástrico é superior nas classes socioeconômicas mais baixas. Imigrantes de países com alta e baixa incidência mantêm sua suscetibilidade ao câncer gástrico, enquanto o risco de seus filhos se aproxima daquele de seu novo país. Esses achados sugerem que a exposição ambiental, provavelmente no início da vida, está associada ao desenvolvimento do câncer gástrico, e provavelmente os principais fatores sejam carcinógenos da dieta. A ingestão de altas concentrações de nitratos, presentes em alimentos desidratados, defumados ou salgados, por períodos prolongados parece estar associada a um risco maior. Acredita-se que bactérias convertam esses nitratos em nitritos carcinogênicos. A ingestão de alimentos parcialmente decompostos, muito comum entre as classes menos favorecidas em todo o mundo, pode ser responsável pela introdução exógena de bactérias. A H. pylori pode contribuir para esse efeito, levando à gastrite atrófica inflamatória crônica, à perda da acidez gástrica e ao crescimento bacteriano no estômago. Outras causas de perda de acidez em idosos são acloridria, gastrite atrófica e até anemia perniciosa. Vários outros fatores etiológicos estão associados ao câncer gástrico. As úlceras gástricas e os pólipos adenomatosos já foram implicados algumas vezes, mas os dados em favor de uma relação de causa e efeito são duvidosos. A dificuldade na diferenciação clínica entre úlceras gástricas benignas e pequenos carcinomas ulcerados pode explicar em parte essa suposta associação. A hipertrofia extrema das pregas gástricas (doença de Ménétrier), dando a impressão de lesões polipoides, está associada à elevada frequência de transformação maligna. No entanto, essa hipertrofia não representa a presença de pólipos adenomatosos verdadeiros. Os indivíduos do grupo sanguíneo tipo A apresentam maior incidência de câncer gástrico que os indivíduos do grupo sanguíneo O, observação que pode ter relação com as diferenças na atividade secretora da mucosa que afetam a proteção que ela oferece contra carcinógenos. A mutação germinativa do gene da E-caderina, que codifica uma proteína de adesão celular, apresenta uma transmissão autossômica dominante e está associada à elevada incidência de neoplasias gástricas ocultas do tipo difuso em portadores jovens assintomáticos. As úlceras duodenais não estão associadas ao câncer gástrico. patologia: Os adenocarcinomas gástricos podem ser divididos em duas categorias: um tipo difuso, em que não há coesão celular e as células individuais infiltram e espessam a parede gástrica, sem formar uma massa bem-definida, e o tipo intestinal, caracterizado por células neoplásicas coesas que formam estruturas tubulares semelhantes às glândulas. Os carcinomas difusos são mais comuns em pacientes mais jovens, ocorrem em todo o estômago (incluindo a cárdia), diminuem a elasticidade da parede gástrica (chamada de linite plástica ou aspecto em “bolsa de couro”) e apresentam pior prognóstico. Neoplasias difusas apresentam adesão intercelular deficiente, principalmente como consequência da perda de expressão da E-caderina. As lesões do tipo intestinal com frequência são ulcerativas, são mais comuns no antro e na curvatura menor do estômago, e muitas vezes são precedidas por um processo pré-canceroso prolongado, em geral iniciado pela infecção por Helicobacter pylori. A incidência de carcinomas difusos não varia muito na maioria das populações, mas a do tipo intestinal tende a se concentrar nas áreas geográficas de alto risco, sendo menos comum nas regiões em que a incidência de câncer gástrico vem diminuindo. Portanto, diferentes fatores etiológicos estão provavelmente envolvidos nesses dois subtipos. características clínicas: As neoplasias gástricas superficiais e curáveis cirurgicamente em geral são assintomáticas. À medida que o tumor se estende, os pacientes podem apresentar desconforto abdominal superior insidioso que varia de plenitude pós-prandial vaga a dor intensa e constante. A anorexia, muitas vezes acompanhada de náuseas leves, é muito comum, mas não costuma ser a queixa que leva o paciente ao médico. Eventualmente, pode ser observada perda de peso, e as náuseas e os vômitos são presentes em especial em pacientes cujos tumores comprometem o piloro; disfagia e sensação precoce de saciedade podem ser os principais sintomas causados por lesões difusas, que se originam no cárdia. Inicialmente, podem não haver sinais físicos. Uma massa abdominal palpável indica um longo período de evolução e sugere extensão regional. Os carcinomas gástricos disseminam-se por extensão direta através da parede gástrica para os tecidos perigástricos, às vezes aderindo a órgãos adjacentes, como pâncreas, cólon ou fígado. A doença também se difunde pelos vasos linfáticos ou se implanta nas superfícies peritoneais. Metástases para os linfonodos intra-abdominais ou supraclaviculares são frequentes, assim como os nódulos metastáticos no ovário (tumor de Krukenberg), na região periumbilical (“nódulo da irmã Maria José”) ou no fundo-de-saco peritoneal (prateleira de Blumer, palpável ao toque retal ou vaginal). Também pode ocorrer ascite maligna. O fígado é o local mais comum de disseminação tumoral hematogênica. A presença de anemia ferropriva em homens ou de sangue oculto nas fezes em ambos os sexos exige a pesquisa de lesão oculta do trato gastrintestinal. Uma avaliação cuidadosa é especialmente importante em pacientes com gastrite atrófica ou anemia perniciosa. Algumas manifestações clínicas incomuns que podem estar associadas aos adenocarcinomas gástricos são tromboflebite migratória, anemia hemolítica microangiopática, ceratose seborreica difusa (conhecida como sinal de Leser-Trélat) e acantose nigricans. tipos histológicos: Cânceres gástricos do tipo intestinal predominam em áreas de alto risco e se desenvolvem a partir de lesões precursoras, incluindo a displasia plana e adenomas. A idade média de apresentação é 55 anos, e a razão homem:mulher é de 2:1. Em contraste, a incidência do câncer gástrico difuso é relativamente uniforme entre os países, não existem lesões precursoras identificadas e a doença ocorre em frequências similares em homens e mulheres. Notavelmente, a queda marcante na incidência de câncer gástrico se aplica somente ao tipo intestinal, o qual está mais intimamente associado à gastrite atrófica e à metaplasia intestinal. Como resultado, a incidência do câncer gástrico do tipo difuso, a qual era baixa anteriormente, agora é semelhante à do câncer gástrico do tipo intestinal. A profundidade da invasão e a extensão das metástases nodais e a distância, no momento do diagnóstico, continuam sendo os indicadores mais poderosos do prognóstico do câncer gástrico. A invasão local no duodeno, pâncreas e retroperitônio é comum. Nesses casos, os esforços estão geralmente focalizados na quimioterapia, ou na radioterapia, e no cuidado paliativo. No entanto, quando possível, a amputação cirúrgica permanece como o tratamento preferido para o adenocarcinoma gástrico. Com a amputação cirúrgica, a taxa de sobrevida ao câncer gástrico inicial, em 5 anos, pode exceder 90%, mesmo se linfonodos metastatizados estiverem presentes. Em contrapartida, a taxa de sobrevida em 5 anos para o câncer gástrico avançado continua abaixo de 20%. Devido ao estágio avançado no qual a maioria dos cânceres gástricos é descoberto nos Estados Unidos, a taxa geralde sobrevida em 5 anos é menor do que 30%. diagnostico: A utilização de exames radiográficos com duplo contraste foi substituída pela esofagogastroscopia e pela TC para avaliação de pacientes com queixas epigástricas. As úlceras gástricas identificadas no momento do procedimento endoscópico podem parecer benignas, mas necessitam de biópsia para a exclusão de doença maligna. As úlceras gástricas malignas devem ser identificadas antes que penetrem nos tecidos adjacentes, pois a taxa de cura de lesões precoces limitadas à mucosa ou à submucosa é superior a 80%. Como os carcinomas gástricos são difíceis de serem diferenciados clínica ou radiologicamente dos linfomas gástricos, as biópsias endoscópicas devem ser o mais profundas possível devido à localização submucosa dos tumores linfoides. No Quadro 109.4, apresentamos o sistema de estadiamento para o carcinoma gástrico. Câncer Gástrico: O CA de estômago é considerado a quinta neoplasia mais comum no mundo. Devido sua alta morbidade e mortalidade nos estágios finais da doença, o CA gástrico apresenta prognóstico ruim e baixa taxa de sobrevida quando não diagnosticado precocemente, principalmente devido à impossibilidade de regimes quimioterápicos atingirem a cura completa da doença. O CA de estômago pode ser classificado quanto a seu aspecto macroscópico ou histológico. A classificação de Bormann divide as lesões conforme a macroscopianos tipos I, II, III e IV, os quais correspondem, respectivamente a: lesão elevada e polipóide, lesão ulcerada com margens definidas, lesão ulcerada e parcialmente infiltrativa e com bordos irregulares, e lesão difusamente infiltrativa. A classificação de Lauren é baseada na histologia, dividindo os adenocarcinomas gástricos em subtipo intestinal ou difuso. Os intestinais geralmente surgem a partir de uma condição pré- cancerígena identificável, são tipicamente bem diferenciados, prevalecem no sexo masculino e sua a incidência aumenta com a idade. As metástases normalmente são via hematogênica. O subtipo difuso consiste em pequenos grupos de células em anel de sinete. É pouco diferenciado e sem glândulas. Tende a se espalhar por contiguidade pela submucosa com metástases precoces via transmural e linfática. Acomete mais mulheres jovens e possuem um prognóstico menos favorável. diagnostico: A biópsia endoscópica fornece o diagnóstico definitivo. Tumores originados no estômago proximal, a menos de 5 cm da junção esôfago-gástrica, cruzando-a, são classificados como tumores esofágicos. Saber o tipo histológico, grau de invasão tumoral, invasão linfovascular, comprometimento da mucosa e margens cirúrgicas é fundamental. O relatório patológico deve incluir a localização tumoral relacionado à JEG, o número de linfonodos totais e ressecados. Para estadiamento cirúrgico completo é necessário ressecar um número mínimo de 15 linfonodos, a fim de classificar o N. anamnese: Os sintomas de CA de estômago geralmente são inespecíficos, o que contribui para um diagnóstico tardio. Os principais sintomas incluem dor epigástrica, saciedade precoce e perda de peso. Esses sintomas podem ser encontrados em outras doenças, de maior incidência e caráter benigno, como a doença do refluxo gastro-esofágico e a doença ulcerosa péptica, o que pode interferir no diagnóstico mais precoce. A dor no CA de estômago tende a ser constante e não alivia com a ingestão de alimento, informação que pode ser útil no diagnóstico diferencial com a doença ulcerosa. Sinais de sangramento são comuns, podendo gerar anemia em até 46% dos pacientes. Cerca de 15% dos pacientes podem se apresentar com hemorragia digestiva alta. exame físico: Ao exame físico pode-se encontrar um paciente emagrecido. No exame do abdome, a percepção de massas palpáveis, ascite e/ou hepatomegalia sugere doença avançada. Outros estigmas de doença avançada são: presença de nódulo supraclavicular esquerdo palpável (Nódulo de Virchow), nódulo periumbilical palpável (Sinal Sister Mary Joseph), implantes ovarianos (Tumor de Krukenberg) e prateleira de Blummer (metástases no espaço retrovesical ou retrouterino palpáveis ao toque retal). exames complementares : - Ultrassonografia endoscópica: o único exame que determina com razoável acurácia a profundidade de invasão do tumor na parede do estômago. Quando utilizado para este fim, deve ser combinado com outros exames para o estadiamento. - TC: o exame mais usado e mais disponível em nosso meio, mas usado isoladamente não possui grande acurácia (de 43% a 82%). Exame padrão para estadiamento. - PET-CT: menos sensível do que a TC para avaliar acometimento linfonodal. Apenas 50% dos tumores de estômago captam o radiofármaco, além de serum exame caro e muitas vezes indisponível. - Laparoscopia: pode ser usada na busca de metástases ocultas, não diagnosticadas nos exames de imagem. - Análise de líquido peritoneal: citologia de líquido peritoneal pode ajudar a identificar carcinomatose oculta. Quando positiva, é sinal de mau prognóstico. Metástases: A metástase é definida pela propagação de um tumor para áreas que são fisicamente descontínuas com o tumor primário e de forma inequívoca marca um tumor como maligno, pois, por definição, neoplasias benignas não formam metástases. A invasividade dos tumores malignos permite que eles penetrem nos vasos sanguíneos, linfáticos e cavidades corpóreas, provendo a oportunidade para a disseminação. Todos os tumores malignos podem formar metástase, mas alguns o fazem muito raramente. Em geral, a probabilidade de um tumor primário formar metástase está correlacionada à falta de diferenciação, invasão local agressiva, crescimento rápido e tamanho grande. Contudo, há inúmeras exceções. Lesões pequenas, bem diferenciadas, de crescimento lento algumas vezes metastatizam amplamente; ao contrário, algumas lesões grandes e de crescimento rápido permanecem localizadas durante anos. Muitos fatores relacionados tanto ao invasor quanto ao hospedeiro estão envolvidos. Aproximadamente 30% dos tumores sólidos recém- diagnosticados (excluindo cânceres de pele que não os melanomas) já possuem metástases à apresentação. A propagação metastática reduz fortemente a possibilidade de cura; portanto, dessa forma, na ausência da prevenção do câncer, nada apresentaria maior benefício para os pacientes do que um meio eficaz para bloquear as metástases, com a ressalva importante de que muitos tumores destinados a matar o paciente já se espalharam no momento do diagnóstico inicial. vias de disseminação: A disseminação dos cânceres pode ocorrer através de três vias: (1) Implante Direto nas Cavidades ou Superfícies Corpóreas: o implante de células tumorais em cavidades e superfícies corpóreas pode ocorrer sempre que uma neoplasia maligna penetra em um “campo aberto” natural sem barreiras físicas. A cavidade peritoneal é o local mais frequentemente envolvido, mas qualquer outra cavidade – pleural, pericárdica, subaracnoide e do espaço articular – pode ser afetada. Tal implantação é particularmente característica de carcinomas que se originam nos ovários, e que, com certa frequência, se espalham para superfícies peritoneais que se tornam recobertas por uma pesada camada vítrea do tumor maligno. Ressalta-se que as células tumorais podem permanecer confinadas à superfície da víscera abdominal sem penetrar em seu parênquima. Algumas vezes, carcinomas mucossecretores do apêndice ou carcinomas de mama preenchem a cavidade peritoneal com uma massa neoplásica gelatinosa referida como pseudomyxoma peritonei. (2) Disseminação Linfática: o transporte através dos vasos linfáticos é a via mais comum para a disseminação dos carcinomas. Os sarcomas podem também utilizar essa rota. Os tumores não contêm linfáticos funcionais, mas os vasos linfáticos localizados nas margens tumoraissão aparentemente suficientes para a disseminação das células tumorais. A ênfase na disseminação linfática para carcinomas e na disseminação hematogênica para sarcomas é enganosa, pois, em última instância, há numerosas conexões entre os sistemas vascular e linfático. O padrão de acometimento dos linfonodos segue as rotas naturais da drenagem linfática. Como os carcinomas da mama geralmente surgem nos quadrantes superiores externos, eles geralmente se disseminam primeiro para os linfonodos axilares. Os cânceres dos quadrantes internos drenam para os linfonodos ao longo das artérias mamárias internas. Portanto, os linfonodos infraclaviculares e supraclaviculares podem ser envolvidos. Os carcinomas do pulmão que surgem nas vias respiratórias principais formam metástases primeiramente para os linfonodos peri-hilares traqueobrônquicos e mediastinais. Os linfonodos locais, contudo, podem ser contornados – a denominada metástase saltada/saltitante – porque os vasos linfáticos podem ter sido obliterados em razão de anastomoses venolinfáticas, ou devido à inflamação, ou à radiação. Um linfonodo sentinela é definido como “o primeiro linfonodo em uma cadeia linfática regional que recebe o fluxo da linfa que vem do tumor primário.” O mapeamento do linfonodo sentinela pode ser feito através da injeção de sondas radiomarcadas e de corantes, e a análise de seções congeladas do linfonodo sentinela no momento da cirurgia pode guiar o cirurgião na direção da terapia mais adequada. O exame do linfonodo sentinela também já foi utilizado para detectar a disseminação de melanomas, de cânceres de cólon e de outros tumores. Em muitos casos os linfonodos regionais servem como barreiras efetivas contra a disseminação futura do tumor, pelo menos por um tempo. É concebível que as células, após pararem no linfonodo, possam ser destruídas por uma resposta imune tumor- específica. A drenagem de restos de células tumorais ou de antígenos tumorais, ou de ambos, também induz a alterações reativas dentro dos linfonodos. Assim, o aumento dos linfonodos pode ser causado por disseminação e crescimento das células cancerígenas ou por hiperplasia reativa. Portanto, o aumento dos linfonodos próximos a um câncer, ao mesmo tempo em que deve levantar suspeita, não corresponde necessariamente à disseminação da lesão primária. (3) Disseminação Hematológica: a disseminação hematogênica é típica dos sarcomas, mas também é vista nos carcinomas. As artérias, com suas paredes mais espessas, são menos prontamente invadidas do que as veias. Contudo, a disseminação arterial pode ocorrer quando as células tumorais passam através dos leitos capilares pulmonares, ou através dos shunts arteriovenosos pulmonares, ou quando as metástases pulmonares por si mesmas originam êmbolos tumorais. Nessa disseminação vascular, diversos fatores influenciam os padrões de distribuição das metástases. Com a invasão venosa, as células produzidas pelo sangue seguem o fluxo venoso de drenagem do local da neoplasia, enquanto as células tumorais frequentemente se detêm no primeiro leito capilar que encontram. É compreensível que o fígado e os pulmões estejam mais frequentemente envolvidos em tal disseminação hematogênica, porque toda a drenagem da área portal flui para o fígado e todo o sangue da veia cava flui para os pulmões. Os cânceres que surgem em íntima proximidade com a coluna vertebral com geralmente embolizam através do plexo paravertebral, e essa via está envolvida nas frequentes metástases vertebrais dos carcinomas da tireoide e da próstata. Alguns cânceres possuem a propensão de invadir as veias. Muitas observações sugerem que uma localização meramente anatômica da neoplasia e das vias naturais de drenagem venosa não explicam, por completo, as distribuições sistêmicas das metástases. sítios mais comuns: Os carcinomas gástricos disseminam-se por extensão direta através da parede gástrica para os tecidos perigástricos, às vezes aderindo a órgãos adjacentes, como pâncreas, cólon ou fígado. A doença também se difunde pelos vasos linfáticos ou se implanta nas superfícies peritoneais. Metástases para os linfonodos intra-abdominais ou supraclaviculares são frequentes, assim como os nódulos metastáticos no ovário (tumor de Krukenberg), na região periumbilical (“nódulo da irmã Maria José”) ou no fundo de saco peritoneal (prateleira de Blumer, palpável ao toque retal ou vaginal). Também pode ocorrer ascite maligna. O fígado é o local mais comum de disseminação tumoral hematogênica. Angiogênese: Mesmo que um tumor sólido possua todas as anomalias genéticas que são necessárias para a transformação maligna, ele não pode aumentar para além de 1 a 2 mm de diâmetro, a menos que ele tenha a capacidade para induzir a angiogênese. Como os tecidos normais, os tumores requerem a distribuição de oxigênio e nutrientes e a remoção de produtos de excreção (resíduos); provavelmente, a zona de 1 a 2 mm representa a distância máxima através da qual o oxigênio, os nutrientes e os resíduos podem se difundir a partir dos vasos sanguíneos. Cânceres em crescimento estimulam a neoangiogênese, durante a qual os vasos brotam a partir dos capilares previamente existentes. A neovascularização possui um efeito duplo no crescimento do tumor: a perfusão provê nutrientes e oxigênio e as células endoteliais recém-formadas estimulam o crescimento de células tumorais adjacentes através da secreção de fatores de crescimento, como fatores de crescimento semelhantes à insulina (IGFs) e PDGF. Embora a vasculatura do tumor resultante seja eficaz no fornecimento de nutrientes e remoção dos resíduos, ela não é inteiramente normal; os vasos são permeáveis e dilatados, e apresentam um padrão aleatório de conexão, características que podem ser apreciadas na angiografia. Ao permitir que as células tumorais tenham acesso a esses vasos anormais, a angiogênese também contribui para a metástase. Portanto, a angiogênese é um aspecto essencial de malignidade. O paradigma atual é que a angiogênese é controlada por um equilíbrio entre os promotores e inibidores da angiogênese; em tumores angiogênicos, esse equilíbrio se mostra inclinado em favor dos promotores. No início de seu desenvolvimento, muitos tumores humanos não induzem a angiogênese. Carentes de nutrientes, esses tumores permanecem pequenos ou in situ, possivelmente por anos, até que um botão liga/desliga angiogênico termine esta fase de quiescência vascular. A base molecular do botão liga/desliga angiogênico envolve o aumento da produção de fatores angiogênicos e/ou perda de inibidores angiogênicos. Esses fatores podem ser produzidos pelas próprias células tumorais ou pelas células inflamatórias (p. ex., macrófagos), ou por outras células estromáticas associadas aos tumores. As proteases, quer sejam elaboradas pelas células tumorais ou por células estromáticas em resposta ao tumor, também estão envolvidas na regulação do equilíbrio entre fatores angiogênicos e antiangiogênicos. Muitas proteases podem liberar fatores básicos de crescimento fibroblástico pró- angiogênicos (bFGF) que estão armazenados na MEC; por outro lado, os inibidores da angiogênese, a angiostatina e a vasculostatina, são produzidos pela clivagem proteolítica do plasminogênio e do colágeno, respectivamente. O equilíbrio local dos fatores angiogênicos e antiangiogênicos é influenciado por vários fatores: • A falta relativa de oxigênio devido à hipoxia estabiliza o HIF1α, um fator de transcrição sensível ao oxigênio mencionado anteriormente, que então ativa a transcrição das citocinas pró-angiogênicas VEGF e bFGF. Esses fatores criam um gradiente angiogênico que estimula a proliferação de células endoteliais e guia o crescimento de novos vasos em direção ao tumor. O VEGF também aumenta a expressão de ligantes que ativam a via de sinalizaçãoNotch, que regula a ramificação e da densidade dos novos vasos. • Mutações envolvendo supressores tumorais e oncogenes no câncer também pendem a balança a favor da angiogênese. Por exemplo, a p53 pode estimular a expressão de moléculas antiangiogênicas, tais como a trombospondina-1, e reprimir a expressão de moléculas pró angiogênicas, tais como o VEGF. Assim, a perda de p53 nas células tumorais não somente remove os pontos de checagem do ciclo celular e altera o metabolismo da célula tumoral, mas também gera um ambiente mais permissivo para a angiogênese. • A transcrição do VEGF é também influenciada por sinais da via RAS-MAP cinase, e mutações de ganho de função na RAS ou MYC regulam positivamente a produção de VEGF. O bFGF e o VEGF são comumente expressos em uma grande variedade de células tumorais, e níveis elevados podem ser detectados no soro e na urina de uma fração significativa de pacientes com câncer. A ideia de que a angiogênese é essencial para que os tumores sólidos cresçam até tamanhos clinicamente significativos forneceu um poderoso incentivo para o desenvolvimento de agentes terapêuticos que bloqueiam a angiogênese. Esses agentes são agora uma parte do arsenal que os oncologistas utilizam contra o câncer; um ótimo exemplo é o bevacizumab, um anticorpo monoclonal que neutraliza a atividade do VEGF e está aprovado para uso no tratamento de vários cânceres. No entanto, inibidores da angiogênese não foram tão eficazes como se esperava com base em estudos pré-clínicos realizados com cobaias de ratos com câncer; eles podem prolongar a vida, mas normalmente por apenas alguns meses e a um custo financeiro muito elevado. Os mecanismos que fundamentam a persistência e progressão final de cânceres em face da terapia com inibidores da angiogênese ainda não são claros. capacidade de metastizar: A invasão e a metástase são resultadas de interações complexas entre as células cancerígenas e o estroma normal e são as principais causas de morbidade e mortalidade relacionadas ao câncer. Apesar de milhões de células advindas do tumor primário serem liberadas na circulação a cada dia, somente poucas metástases são produzidas. De fato, as células tumorais podem ser frequentemente detectadas no sangue e na medula de pacientes com câncer de mama que não possuem, e não possuirão, o desenvolvimento de doença metastática evidente. Por que o processo metastático é tão ineficiente? Para que as células tumorais surjam a partir de uma massa primária, entrem nos vasos sanguíneos ou linfáticos, e produzam um segundo crescimento em um local distante, elas devem passar por uma série de passos (resumidos na Fig. 7-36), sendo que cada um deles é ineficaz e está sujeito a milhares de controles; assim, em qualquer ponto da sequência, as células desgarradas podem não sobreviver. A cascata metastática será dividida em duas fases: (1) invasão da matriz extracelular (MEC) e (2) disseminação vascular, instalação das células tumorais e colonização. disseminação vascular e instalação das células tumorais: Uma vez que atinjam a circulação, as células tumorais ficam vulneráveis à destruição por uma variedade de mecanismos, incluindo o estresse mecânico de cisalhamento, a apoptose estimulada pela perda de adesão (denominada anoikis) e a defesa imune inata e adaptativa. Dentro da circulação, as células tumorais tendem a agregar-se formando massas. As adesões homotípicas entre as células tumorais favorecem esse arranjo, assim como as adesões heterotípicas entre as células tumorais e as células do sangue, principalmente as plaquetas. A formação de agregados plaqueta-tumor pode aumentar a sobrevida da célula tumoral e sua capacidade de se implantar. As células tumorais também podem se ligar e ativar os fatores de coagulação, resultando na formação de êmbolos. A interrupção e o extravasamento dos êmbolos tumorais em sítios distantes envolvem a adesão ao endotélio, seguida pelo egresso através da membrana basal. As moléculas de adesão (integrinas, receptores de laminina) e as enzimas proteolíticas, discutidas anteriormente, estão envolvidas nesses processos. A molécula da adesão CD44 apresenta interesse em particular, pois está expressa em linfócitos T normais, sendo usada por essas células para migrar através de locais selecionados nos tecidos linfoides. Tal migração é atingida pela ligação da CD44 ao hialuronato em vênulas endoteliais altas. Tumores sólidos também expressam a CD44 com frequência, o que aparenta favorecer sua disseminação nos linfonodos e outros locais metastáticos. O local em que as células tumorais circulantes deixam os capilares para formar depósitos secundários está relacionado à localização anatômica e à drenagem vascular do tumor primário, além do tropismo de certos tumores para tecidos específicos. A maioria das metástases ocorre no primeiro leito capilar disponível para o tumor. Muitas observações, contudo, sugerem que uma via natural de drenagem não explica totalmente a distribuição das metástases. Por exemplo, o carcinoma prostático se dissemina preferencialmente para o osso, os carcinomas broncogênicos tendem a envolver as suprarrenais e o cérebro, os neuroblastomas se disseminam para o fígado e para os ossos. Esse tropismo por um órgão específico pode estar relacionado aos seguintes mecanismos: o Células tumorais podem ter moléculas de adesão cujos ligantes são expressos preferencialmente nas células endoteliais do órgão-alvo. o As quimiocinas possuem um importante papel na determinação das metástases para os tecidos-alvo. Por exemplo, algumas células cancerígenas da mama expressam os receptores de quimiocina CXCR4 e CCR7. o Em alguns casos, o tecido-alvo pode ser um ambiente não permissivo – “solo infértil”, como se diz, para o crescimento de mudas tumorais. Por exemplo, apesar de serem bem vascularizados, o músculo esquelético e o baço raramente são locais onde há metástases. Apesar de sua “esperteza” em escapar de seu local de origem, as células tumorais circulantes são bastante ineficientes em colonizar órgãos distantes. Dessa forma, mesmo quando as metástases estão estabelecidas, elas podem crescer apenas até tamanhos pequenos e clinicamente insignificantes. De fato, o conceito de dormência, referindo-se a sobrevivência prolongada de micrometástases sem sua progressão, é bem descrito no melanoma e nos cânceres de mama e de próstata. Apesar de os mecanismos moleculares de colonização estarem apenas começando a ser desvendados, um padrão constante parece ser aquele no qual as células tumorais secretam citocinas, fatores de crescimento e moléculas da MEC que agem nas células estromáticas residentes, as quais, por sua vez, tornam o local metastático habitável para a célula cancerígena. Por exemplo, as metástases do câncer de mama para o osso são osteolíticas em razão da ativação dos osteoclastos no local metastático. As células do câncer de mama secretam a proteína relacionada ao hormônio da paratireoide (PTHRP), que estimula os osteoblastos a produzir o ligante da RANK (RANKL). O RANKL então ativa os osteoclastos, que degradam a matriz óssea e liberam fatores de crescimento embebidos nela, como o IGF e o TGF-β. genética molecular do desenvolvimento de metástases: Diversas teorias concorrentes foram propostas para explicar como o fenótipo metastático surge. o O modelo de evolução clonal sugere que, à medida que as mutações se acumulam nas células cancerígenas eneticamente instáveis e o tumor se torna heterogêneo, um raro subconjunto de subclones de células tumorais adquire um padrão de expressão gênica, o qual é permissivo para todas as etapas envolvidas na metástase. o Um subconjunto de cânceres de mama possui uma assinatura da expressão gênica metastática similar à encontrada nas metástases, apesar de não haver evidênciaclínica de metástase aparente. Há uma hipótese de que nesses tumores com uma “assinatura metastática”, a maioria, se não todas as células, desenvolve uma predileção para a disseminação metastática durante os estágios precoces da carcinogênesse. o Uma terceira ideia, que combina as duas acima, supõe que a assinatura metastática é necessária, mas não suficiente para a metástase, e que mutações adicionais são necessárias para que a metástase ocorra. o Por fim, há evidências da capacidade da metástase de envolver não apenas propriedades intrínsecas às células cancerígenas, mas também as características de seu microambiente, tais como os componentes do estroma, a presença de células imune infiltrantes e a angiogênesse. evasão da resposta imune do hospedeiro : O fato de que cânceres ocorrem em indivíduos imunocompetentes indica que a vigilância imune não é perfeita; contudo, o fato de que alguns tumores escapam a tal policiamento não impede a possibilidade de que outros tenham sido abortados. Assumindo que o sistema imunológico é capaz de reconhecer e eliminar os cânceres nascentes, segue-se o fato de que os tumores que se desenvolvem devem ser compostos de células que são invisíveis para o sistema imunológico do hospedeiro ou que liberam fatores que suprimem ativamente a imunidade do hospedeiro. O termo imunoeditoração do câncer está sendo usado para descrever a capacidade que o sistema imunológico possui de formar e moldar as propriedades imunogênicas das células tumorais, de forma que acaba resultando na seleção Darwiniana dos subclones, os quais são os melhores em escapar da eliminação imunológica. A ideia tem sido apoiada pelo fato de que, nos últimos anos, tornou-se evidente que tumores produzem diversos fatores que promovem a tolerância à imunidade e a imunossupressão, e que agentes terapêuticos que neutralizam estes fatores podem resultar na regressão do tumor, mesmo em pacientes com cânceres avançados. Essas repostas clinicamente encorajadoras constituem uma forte evidência de que a evasão da imunidade do hospedeiro é, de fato, um marco para muitos cânceres em humanos, se não todos. Carcinogênese Química: A carcinogênese é um processo em múltiplas etapas. Isto pode ser prontamente demonstrado em modelos experimentais da carcinogênese química, na qual as etapas de iniciação e progressão durante o desenvolvimento do câncer foram primeiramente descritas. Os experimentos clássicos que permitiram a distinção entre a iniciação e promoção foram realizados na pele de camundongos (Fig. 7-43) e revelaram os seguintes conceitos relacionados à sequência iniciação-promoção: • A iniciação resulta da exposição das células a uma dose suficiente de agentes carcinogênicos; uma célula iniciada está alterada, tornando-a potencialmente capaz de dar origem a um tumor. Ainiciação isoladamente, contudo, não é suficiente para a formação do tumor (Fig. 7-43, grupo de tratamento 1). • A iniciação provoca dano permanente ao DNA (mutações); portanto, ela é rápida e irreversível e possui “memória”. Dessa forma, os tumores são produzidos mesmo se a aplicação do agente promotor sofrer um atraso de diversos meses após uma única aplicação do iniciador (Fig. 7-43, grupo de tratamento 3). • Os promotores podem induzir o surgimento de tumores nas células iniciadas, mas eles não são tumorigênicos por si mesmos. Além disso, não há formação de tumores quando o agente promotor é aplicado antes, ao invés de depois, do agente iniciador (Fig. 7-43, grupo de tratamento 4). Isso indica que, em contraste com os efeitos dos iniciadores, as alterações celulares que resultam da aplicação dos promotores não afetam o DNAdiretamente e são reversíveis. Como discutido posteriormente, os promotores aumentam a proliferação das células iniciadas, um efeito que pode contribuir para a aquisição de mutações adicionais. Apesar de os conceitos de iniciação e promoção terem sido derivados, em grande parte, dos experimentos envolvendo a indução do câncer de pele em camundongos, eles também são úteis ao considerar os papeis de certos fatores que contribuem para os cânceres em humanos. Com esta breve visão geral, a iniciação e promoção podem ser examinadas com mais detalhes (Fig. 7-44). Todos os carcinógenos químicos iniciadores são eletrófilos (possuem átomos deficientes em elétrons) altamente reativos que podem reagir com sítios nucleofílicos (ricos em elétrons) nas células. Os seus alvos são o DNA, o RNAe proteínas, e em alguns casos, as interações provocam a morte. Ainiciação, obviamente, gera danos não letais ao DNAque não podem ser reparados. As células mutadas passam as lesões do DNApara suas células-filhas. As substâncias químicas que podem causar a iniciação da carcinogênese podem ser classificadas em duas categorias: agentes de ação direta e indireta. carcinógenos de ação direta: Os carcinógenos de ação direta não requerem a conversão metabólica para se tornarem carcinogênicos. A maioria deles são carcinógenos fracos, mas alguns são importantes por serem drogas quimioterápicas para o câncer (p. ex., agentes alquilantes). Tragicamente, em alguns exemplos, estes agentes curaram, controlaram ou adiaram a recorrência com sucesso em certos tipos de câncer (p. ex., leucemia, linfomas e carcinoma de ovário), somente para evocar, mais adiante, uma segunda forma de câncer, geralmente a leucemia mieloide aguda. O risco do câncer induzido é baixo, mas sua existência demanda o uso judicioso de tais agentes. carcinógenos de ação indireta: A designação carcinógeno de ação indireta refere-se às substâncias químicas que requerem a conversão metabólica para tornar o carcinógeno ativo; o produto carcinogênico do metabolismo é o chamado carcinógeno final. Um dos mais potentes carcinógenos químicos indiretos – os hidrocarbonetos policíclicos – estão presentes em combustíveis fósseis. Outros, por exemplo, o benzopireno (o componente ativo da fuligem, a qual Potts mostrou ser carcinogênica), são formados durante a combustão em altas temperaturas em cigarros e estão implicadas na causa do câncer de pulmão. Os hidrocarbonetos policíclicos também podem ser produzidos a partir da gordura animal durante o processo de assar ou grelhar as carnes e estão presentes em carnes e peixes defumados. Os principais produtos ativos em muitos hidrocarbonetos são epóxidos, que formam adutos (produtos de adição) covalentes com moléculas na célula, principalmente o DNA, mas também com RNAe com proteínas. As aminas aromáticas e corantes azo são outra classe de carcinógenos de ação indireta que foram amplamente usados no passado no corante anilina e na indústria de borracha. A maioria dos carcinógenos requer ativação metabólica para a conversão em carcinógenos em sua forma final (Fig. 7-44). Certas vias metabólicas podem inativar (detoxificar) o pró-carcinógeno ou seus derivados. A maioria dos carcinógenos conhecidos é metabolizada por mono- oxigenases dependentes de citocromo P-450. Os genes que codificam essas enzimas são bem polimórficos e a atividade e a capacidade de indução dessas enzimas variam significativamente entre indivíduos. Como essas enzimas são essenciais para ativação de pró- carcinógenos, a susceptibilidade aos carcinógenos está relacionada, em partes, às variantes polimórficas particulares as quais um indivíduo herda. Assim, pode ser possível avaliar o risco de câncer em um dado indivíduo através de análise genética de tal polimorfismo enzimático. O metabolismo dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, tais como o benzo[a]pireno, pelo produto do gene P-450, CYP1A1, fornece um exemplo instrutivo. Aproximadamente 10% da população branca apresenta uma forma altamente induzível dessa enzima, associada a um risco aumentado de câncer de pulmão em fumantes. Pessoas que fumam pouco e que têm o genótiposusceptível CYP1A1 apresentam um risco sete vezes maior de desenvolver o câncer de pulmão, quando comparadas a fumantes sem o genótipo permissivo. Deve ser notado, no entanto, que nem todas as variações na ativação ou na destoxificação de carcinógenos são geneticamente determinadas. Idade, sexo e estado nutricional também influenciam na dose interna de toxinas produzidas e, dessa forma, o risco de desenvolvimento de câncer em um indivíduo em particular. promoção da carcinogênese química: Os promotores são agentes químicos não mutagênicos, mas os quais estimulam a proliferação celular. É suficientemente evidente que caso não haja proliferação, os tumores não podem se desenvolver. Nos tecidos que normalmente são quiescentes, como o fígado, o estímulo mitogênico pode ser provido pelo agente iniciador. Isto ocorre caso o iniciador carcinogênico seja tóxico e mate uma grande quantidade de células, o que estimula a regeneração das células sobreviventes. No entanto, em sistemas experimentais clássicos, o potencial carcinogênico dos iniciadores somente é revelado com a administração subsequente de promotores (p. ex., ésteres de forbol, hormônios, fenóis e drogas) os quais, por definição, não são tumorigênicos. Aaplicação de promotores leva à proliferação e à expansão clonal das células iniciadas (mutadas). Levadas à proliferação, subclones das células iniciadas sofrem várias mutações adicionais, e eventualmente um clone canceroso com todas as características típicas pode surgir. É provável que muitos fatores que contribuem para a oncogênese em humanos também ajam através do estímulo da proliferação e, portanto, pode se pensar que são conceituadamente promotores de tumor; exemplos incluem a estimulação estrogênica sem oposição do endométrio e mama e os processos inflamatórios crônicos associados ao reparo tecidual(p. ex., doença inflamatória intestinal, hepatite crônica e esôfago de Barrett). H. Pylori: Primeiramente incriminado como uma causa das úlceras pépticas, o H. pylori agora adquiriu a distinção duvidosa de ser a primeira bactéria classificada como carcinogênica. De fato, a infecção por H. pylori está envolvida na gênese tanto dos adenocarcinomas gástricos quanto dos linfomas gástricos. O cenário para o desenvolvimento do adenocarcinoma gástrico é similar ao do câncer de fígado induzido por HBV e HCV, já que envolve o aumento da proliferação de células epiteliais em um contexto de inflamação crônica. Como na hepatite viral, o ambiente inflamatório contém numerosos agentes genotóxicos, tais como espécies reativas de oxigênio. Há um desenvolvimento inicial da gastrite crônica, seguido por atrofia gástrica, metaplasia intestinal das células do revestimento, displasia e câncer. Essa sequência leva décadas para se completar e ocorre em somente 3% dos pacientes infectados. Como o HBV e o HCV, o genoma do H. pylori também contém genes diretamente implicados na oncogênese. Foi demonstrado que cepas associadas ao adenocarcinoma gástrico contêm uma “ilha de patogenicidade” que abriga o gene associado à citotoxina A(CagA). Apesar de o H. pylori não ser invasivo, o CagA penetra nas células epiteliais gástricas, onde apresenta uma variedade de efeitos, incluindo a iniciação de uma cascata de sinalização que mimetiza a estimulação desregulada de fatores de crescimento. Como mencionado anteriormente, o H. pylori também está associado a um risco aumentado para o desenvolvimento de linfomas gástricos. Os linfomas gástricos possuem origem nas células B, e como os tumores lembram algumas das características das placas de Peyer normais, frequentemente eles são chamados de linfomas do tecido linfoide associado a mucosas, ou MALTomas (também discutidos nos Caps. 13 e 17). Sua patogenia molecular ainda não é completamente compreendida, mas parece envolver fatores de cepas específicas do H. pylori, assim como fatores genéticos do hospedeiro, tais como polimorfismos nos promotores de citocinas inflamatórias, como a IL- 1 e o fator de necrose tumoral (TNF). Acredita-se que a infecção por H. pylori leve ao aparecimento de células T reativas ao H. pylori, que, por sua vez, estimulam a proliferação policlonal de células B. Nas infecções crônicas, mutações atualmente desconhecidas podem ser adquiridas, o que fornece às células individuais uma vantagem de crescimento. Essas células crescem para formar um “MALToma” monoclonal que, não obstante, permanece dependente do estímulo através das células T das vias de células B, que ativam o fator de transcrição NF-κB. Nesse estágio, a erradicação do H. pylori pela terapia antibiótica “cura” o linfoma através da remoção dos estímulos antigênicos para células T. Em estágios posteriores, contudo, mutações adicionais podem ser adquiridas, causando a ativação constitutiva do NF-κB. Nesse ponto, o MALToma não mais requer o estímulo antigênico da bactéria para seu crescimento e sobrevivência, desenvolvendo a capacidade de se disseminar para outros tecidos, além do estômago. harison: A colonização por Helicobacter pylori constitui o principal fator de risco para ulceração péptica bem como para o adenocarcinoma gástrico e o linfoma gástrico de tecido linfoide associado à mucosa (MALT). O tratamento do H. pylori revolucionou a conduta diante da úlcera péptica, resultando em cura definitiva na maioria dos casos. Esse tratamento também representa uma terapia de primeira linha para pacientes com linfoma MALT gástrico de baixo grau. O tratamento do H. pylori não tem nenhum benefício no tratamento do adenocarcinoma gástrico, porém a prevenção da colonização pelo H. pylori poderia evitar potencialmente o câncer gástrico e a úlcera péptica. Por outro lado, há evidências crescentes indicando que a colonização permanente pelo H. pylori pode oferecer alguma proteção contra complicações da doença do refluxo gastresofágico (DRGE), incluindo adenocarcinoma esofágico. As pesquisas recentes procuraram estabelecer se a colonização pelo H. pylori também constitui um fator de risco para algumas doenças extragástricas e se a sua presença protege contra alguns problemas clínicos recentemente emergentes, como a asma e a obesidade de início na infância. Efeito Warburg: Mesmo na presença de oxigênio suficiente, as células cancerígenas demonstram uma forma distinta de metabolismo celular caracterizada por altos níveis de absorção de glicose e aumento da conversão de glicose para a lactose (fermentação) através da via glicolítica. Esse fenômeno, chamado de efeito Warburg e também conhecido como glicólise aeróbica, foi reconhecido há muitos anos atrás (na verdade, Otto Warburg recebeu o Prêmio Nobel em 1931 pela descoberta do efeito que leva seu nome). Clinicamente, a “fome por glicose” dos tumores é usada para visualizar os tumores através da tomografia de emissão de pósitrons (PET), em que se injeta nos pacientes a 18F- fluorodeoxiglicose, um derivado não metabolizável da glicose que é preferencialmente captado pelas células tumorais (assim como por tecidos normais em divisão ativa, como a medula óssea). A maioria dos tumores é PET-positivo, e os de crescimento rápido são marcadamente positivos. A descoberta de Warburg foi amplamemte negligenciada por muitos anos, mas ao longo da última década, o metabolismo se tornou uma das áreas mais ativas de pesquisa do câncer. As vias metabólicas (assim como as vias de sinalização) em células normais e cancerígenas ainda estão sendo elucidadas e os detalhes são complexas, mas no coração do efeito Warburg reside uma simples pergunta: por que é vantajoso para uma célula cancerígena contar com a glicólise aparentemente ineficiente (que gera duas moléculas de ATP por molécula de glicose), ao invés da fosforilação oxidativa (que gera até 36 moléculas de ATP por molécula de glicose)? Enquanto você pensa a respeito dessa pergunta,é importante reconhecer que as células normais de rápido crescimento, assim como em tecidos embrionários, também contam com a fermentação aeróbica. Assim, o “metabolismo de Warburg” não é específico de câncer, mas sim é uma propriedade geral de células em crescimento que se torna “fixa” nas células cancerígenas. A resposta a esse enigma é simples: a glicólise aeróbica proporciona a células tumorais de divisão rápida intermediários metabólicos que são necessários para a síntese de componentes celulares, ao passo que a fosforilação oxidativa mitocondrial não. A razão pela qual as células em crescimento dependem da glicólise aeróbica se torna facilmente perceptível quando se considera que uma célula em crescimento apresenta uma rígida exigência biossintética; ela deve duplicar todos os seus componentes celulares (ou seja: DNA, RNA, proteínas, lipídios e organelas), antes que ela possa dividir e produzir duas células-filhas. Lembre-se que o efeito líquido da fosforilação oxidativa é pegar uma única molécula de glicose, a C6H12O6, e combiná-la com seis moléculas de O2 para produzir seis moléculas de H2O e seis moléculas de CO2, que são perdidas através da respiração. Desse modo, embora a fosforilação oxidativa “pura” produza ATP abundante, ela não produz nenhum grupamento de carbono que possa ser utilizado para construir os componentes celulares que são necessários para o crescimento (proteínas, lipídios e ácidos nucleicos). Mesmo as células que não estão crescendo ativamente devem desviar alguns intermediários metabólicos para longe da fosforilação oxidativa, a fim de sintetizar macromoléculas que são necessárias para a manutenção celular. Por outro lado, nas células em crescimento ativo apenas uma pequena fração da glicose celular é desviada através da via de fosforilação oxidativa, de tal modo que, em média, cada molécula de glicose que é metabolizada produz aproximadamente quatro moléculas de ATP (ao invés das duas moléculas que seriam produzidas pela glicólise “pura”). Presumivelmente, esse equilíbrio na utilização de glicose (fortemente orientado para a fermentação aeróbica, com um pouco de fosforilação oxidativa) atinge um “ponto ideal” de metabolismo que é excelente para o crescimento. Conclui-se que as células em crescimento precisam se basear no metabolismo mitocondrial. No entanto, a principal função da mitocôndria nas células em crescimento não é gerar ATP, mas sim realizar reações que geram intermediários metabólicos que podem ser desviados para fora e utilizados como precursores na síntese de blocos de construção celulares. Por exemplo, a biossíntese de lipídeos requer acetil-CoA, e a acetil-CoA é, em grande parte, sintetizada nas células em crescimento a partir de intermediários, tais como os citratos que são gerados nas mitocôndrias. Então, como essa profunda reprogramação do metabolismo, o efeito Warburg, é desencadeada nas células de crescimento normal e nas de crescimento maligno? Como era de se imaginar, a reprogramação metabólica é produzida por cascatas de sinalização à jusante dos receptores de fatores de crescimento, as mesmas vias que são desreguladas por mutações nos oncogenes e genes supressores de tumores em cânceres. Assim, enquanto que nas células normais de crescimento rápido a glicólise aeróbica cessa quando o tecido já não está crescendo mais, nas células cancerígenas essa reprogramação persiste devido à ação de oncogenes e à perda da função dos genes supressores de tumor. Alguns dos pontos importantes da conversa cruzada entre os fatores de sinalização do pró-crescimento e o metabolismo celular são exibidos na Figura 7-32 e incluem: • Sinalização de PI3K/AKT: a sinalização de PI3K/AKT regula positivamente a atividade de transportadores de glicose e diversas enzimas glicolíticas, aumentando assim a glicólise; promove o desvio de intermediários mitocondriais para as vias que conduzem à biossíntese de lipídios e estimula fatores que são necessários para a síntese proteica. • Atividade da tirosina cinase receptora: além de transmitir sinais de crescimento para o núcleo, a sinalização da tirosina cinase receptora também influencia o metabolismo. As células que se dividem rapidamente, tanto as normais como as malignas, expressam a isoforma M2 de piruvato cinase, que catalisa o último passo na via glicolítica, a conversão de fosfoenolpiruvato para piruvato. As tirosina cinases receptoras fosforilam a isoforma M2 de piruvato cinase, uma modificação que atenua a sua atividade enzimática. Isso cria um efeito de represamento que conduz à acumulação de intermediários glicolíticos a montante, que são desviados para a síntese de DNA, RNA e proteínas. É importante salientar que em contraste com as células cancerígenas e tecidos em crescimento, os tecidos pós-mitóticos com grande demanda de ATP, tais como o cérebro, expressam a isoforma M1 de piruvato cinase, que é insensível às vias de sinalização de fator de crescimento e afunila eficientemente o piruvato, o último intermediário na via glicolítica, para dentro da mitocôndria, onde ele é metabolizado pela fosforilação oxidativa para gerar ATP, CO2, e H2O. • MYC: como já mencionado, as vias de pró-crescimento regulam positivamente a expressão do fator de transcrição MYC, que leva a mudanças na expressão gênica que suportam o metabolismo anabólico e o crescimento celular. Entre os fatores metabólicos mais importantes que são regulados positivamente pela MYC estão várias enzimas glicolíticas e a glutaminase, que é necessária para a utilização mitocondrial de glutamina. O outro lado da moeda é que os supressores de tumor muitas vezes inibem as vias metabólicas que suportam o crescimento. Nós já discutimos o efeito de “frenagem” na sinalização PI3K/AKT do PTEN, que se opõe ao efeito Warburg, e como o supressor de tumor STK11 antagoniza as alterações metabólicas que produzem o metabolismo de Warburg. De fato, pode acontecer que muitos (e talvez todos os supressores de tumores) que induzem a interrupção do crescimento suprimam o efeito Warburg. Por exemplo, o p53, indiscutivelmente o supressor de tumor mais importante, regula positivamente genes-alvo que inibem coletivamente a absorção de glicose, glicólise, lipogênese e a geração de NADPH (um co-fator fundamental necessário para a biossíntese das macromoléculas). Deste modo, fica cada vez mais claro que as funções de muitas oncoproteínas e supressores de tumores estão intrinsecamente ligadas com o metabolismo celular. Em geral, considera-se que a perda ponderal tem importância clínica se exceder 5% do peso corporal ou 5 kg durante 6 meses. No entanto, essa definição tradicional não diferencia entre a perda de massa corporal magra e de gordura, o que pode levar a resultados diferentes. Além disso, a anasarca (p. ex., na insuficiência cardíaca ou na doença renal crônica) pode mascarar uma perda de massa corporal magra de importância clínica. A perda ponderal ocorre quando há maior gasto do que obtenção de calorias (por ingestão e absorção). As doenças que aumentam o gasto metabólico ou diminuem a absorção tendem a aumentar o apetite. Mais comumente, a ingestão calórica inadequada é o mecanismo da perda ponderal e esses pacientes tendem a ter diminuição do apetite. Algumas vezes há vários mecanismos envolvidos. Por exemplo, o câncer tende a diminuir o apetite, mas também aumenta o gasto calórico basal por meio de mecanismos mediados por citocinas. Perda ponderal involuntária geralmente desenvolve-se em semanas ou meses. Pode ser sinal de um doença física ou mental importante e está associada a maior risco de mortalidade. A doença subjacente pode ser evidente (p. ex., diarreia crônica decorrente de síndrome de má absorção) ou oculta (p. ex., câncer não diagnosticado). Esta discussão se concentra nos pacientes que apresentam queixa de perdaponderal, não naqueles que perdem peso como consequência mais ou menos esperada de alguma doença crônica conhecida. Referências Bibliográficas: • KASPER, D. L. Medicina interna de Harrison – 2 vols. 19ªed. Porto Alegre: Artmed, 2017 – VERSÃO PDF. Páginas 2554 a 2556. Páginas 2558 a 2562. • KUMAR, V. Robbins, patologia básica. 9ªed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. Capítulo 7 –Metástase e angiogênese - páginas 310 a 316. Capítulo 7 –Metástase e angiogênese - páginas 310 a 316. Capítulo 7 – páginas 275 a 278 (invasão e metástase – incluindo vias de disseminação). Capítulo 17 – páginas 781 a 783. Capítulo 17 – páginas 794 a 797. Capítulo 7 – Helicobacter Pylori - páginas 335 a 336. Capítulo 7 –305 a 306. • Alterações metabólicas. http://docs.bvsalud.org/biblioref/2018/05/883263/ca-gastrico- finalb_rev.pdf (artigo importante – atenção ao fluxograma de atendimento). • Resumos da Med: https://www.passeidireto.com/arquivo/96674620/polipo-colonicos- neoplasia-maligna-do-colo • Resumos da Med: https://www.passeidireto.com/arquivo/96522169/neoplasia-maligna- de-esofago-e-estomago http://docs.bvsalud.org/biblioref/2018/05/883263/ca-gastrico-finalb_rev.pdf http://docs.bvsalud.org/biblioref/2018/05/883263/ca-gastrico-finalb_rev.pdf https://www.passeidireto.com/arquivo/96674620/polipo-colonicos-neoplasia-maligna-do-colo https://www.passeidireto.com/arquivo/96674620/polipo-colonicos-neoplasia-maligna-do-colo https://www.passeidireto.com/arquivo/96522169/neoplasia-maligna-de-esofago-e-estomago https://www.passeidireto.com/arquivo/96522169/neoplasia-maligna-de-esofago-e-estomago