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METODOLOGIA DO VOLEIBOL Patrick da Silveira Gonçalves Fundamentos do voleibol Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir os fundamentos técnicos do voleibol. Identificar os fundamentos técnicos especializados do voleibol. Classificar os fundamentos técnicos em ofensivos e defensivos. Introdução O voleibol é um esporte coletivo cujo êxito durante um jogo depende da correta execução de movimentos por parte de cada um dos jogado- res. Embora as equipes de voleibol, como em muitos outros esportes, sejam compostas por jogadores que desempenham funções específicas dentro de um mesmo time, todos os atletas devem saber desempenhar os fundamentos técnicos. Neste capítulo, você vai estudar os principais fundamentos técnicos que são necessários para que uma partida de voleibol aconteça, seja ela desenvolvida em sua dimensão educacional, participativa ou competitiva. Além disso, você vai identificar os fundamentos técnicos que compõem o voleibol, classificando-os e atribuindo a sua função dentro de quadra como forma de uma equipe conquistar ou evitar sofrer pontos. Fundamentos técnicos do voleibol Os fundamentos técnicos podem ser defi nidos como os movimentos cujos resultados são obtidos a partir de ações mais econômicas e efetivas, conforme leciona Filin (1996). O voleibol, como qualquer esporte coletivo que exige a prática corporal, requer um conjunto de fundamentos técnicos que devem ser realizados de forma correta por cada jogador, para que o êxito da equipe em obter a vitória no jogo seja alcançado. Nesse sentido, é importante salientar que cada jogador em quadra possui uma função específi ca, e o seu desempenho técnico e tático afeta toda a equipe. Os fundamentos técnicos, então, ainda que sejam realizados de maneira individual, obtêm um resultado coletivo. Dada a sua importância, nesta seção, vamos apresentar os fundamentos básicos necessários para que um jogo de voleibol aconteça. Existem diversas formas de abordar e sequenciar o ensino dos fundamentos técnicos do voleibol, não havendo um modo totalmente correto ou errado de fazê-lo. O ensino das técnicas esportivas, portanto, depende da preferência do profissional pela forma de ensinar e fazer com que os alunos permaneçam engajados e motivados na prática esportiva. Para fins de abordagem, utiliza- remos a sequência pedagógica sugerida por Bojikian, J. e Bojikian, L. (2012), abordando a posição e a movimentação básicas que os jogadores devem adotar em quadra, bem como o toque por cima, a manchete, o saque e o ataque. Posição básica As posições e movimentações básicas são aquelas que introduzem os fun- damentos técnicos específi cos do voleibol; por exemplo, a posição que um jogador assume para fazer uma recepção ou a movimentação que realiza em direção à bola para efetuar um ataque. Essas posições devem ser cômodas para o atleta e, ao mesmo tempo, possibilitar o deslocamento rápido, assumindo, portanto, uma posição de expectativa da jogada que surgirá. Existem diversos tipos de posições de expectativa, mas podemos apontar uma que responde às necessidades tanto de jogadores iniciantes quanto de jogadores mais experientes, conforme Bizzocchi (2004). Em uma posição adequada para o posicionamento em quadra, quando não está realizando um fundamento técnico, o jogador deve manter os joelhos semifl exionados, as pernas em afastamento lateral, com uma distância entre os pés que corresponda a aproximadamente a largura dos ombros. Os cotovelos devem estar semi- fl exionados e os braços à frente da linha anterior ao tronco, assumindo uma posição intermediária entre a posição da manchete e do toque por cima. Na Figura 1, podemos visualizar uma jogadora assumindo a posição de expectativa. Fundamentos do voleibol2 Figura 1. Durante a posição de expectativa, o jogador deve manter seus músculos tão relaxados quanto possível. É também importante assumir uma posição que privilegie a movimentação rápida, com um pé à frente do outro e com os joelhos à frente do corpo, tirando os calcanhares do solo. Fonte: Bojikian, J. e Bojikian, L. (2012, p. 70). Toque por cima O toque de bola por cima (ou simplesmente toque) é um fundamento bastante característico no voleibol por sua aplicabilidade recorrente durante o jogo em suas diversas dimensões. Esse tipo de fundamento é muito utilizado na preparação ao ataque, por permitir um controle da direção e da velocidade da bola mais preciso do que a manchete. Apesar de ser um fundamento bastante utilizado pelos levantadores, todos os jogadores devem dominá-lo, uma vez que frequentemente as situações do jogo exigem dos atacantes e dos defensores a sua utilização, conforme apontam Bojikian, J. e Bojikian, L. (2012). Durante a execução do toque por cima, o jogador deve se posicionar abaixo da bola, com os joelhos semiflexionados, as pernas em afastamento lateral, com uma distância entre os pés que corresponda a aproximadamente a largura dos ombros e um pé levemente à frente do outro. Os cotovelos devem permanecer semiflexionados, à frente do corpo, com os braços a uma altura superior à 3Fundamentos do voleibol linha dos ombros. Para tocar a bola, as mãos devem estar com os dedos quase totalmente estendidos, fazendo com que se obtenha uma curvatura que acom- panhe a bola. Os dedos polegares e indicadores de ambas as mãos formam uma aproximação que se assemelha à forma geométrica de um triângulo. O contato com a bola deve ser feito com sutileza, na parte interna dos dedos, conforme aponta Machado (2006). Na Figura 2, podemos ver o toque. Figura 2. No toque por cima, ainda que a ação principal seja o contato com a bola, o corpo todo deve participar, assumindo uma posição de semiflexão de quadris, cotovelos e joelhos e partindo para uma extensão dessas articulações ao final do movimento. Fonte: Shondell e Reynaud (2005, p. 194). Manchete A manchete é um fundamento bastante utilizado na recepção dos saques e na defesa dos ataques adversários. O contato com a bola ocorre nos antebraços, de modo a absorver melhor o impacto provocado pelas cortadas e serviços adversários, conforme lecionam os autores Bojikian, J. e Bojikian, L. (2012), Machado (2006) e Shondell e Reynald (2005). Fundamentos do voleibol4 Um erro bastante comum na realização da manchete é a flexão de cotovelo quando o jogador toca a bola. Fazendo esse movimento, frequentemente a bola assume uma trajetória para trás do jogador. Portanto, na realização da manchete, os cotovelos devem permanecer estendidos. Para desenvolver a manchete, a posição é bastante semelhante ao toque por cima. No entanto, os braços devem assumir uma posição à frente do corpo, ficando unidos e com os cotovelos estendidos. Para melhor desenvolver a simetria entre os braços, os dedos unidos de uma mão devem estar sobrepostos à outra mão, com os polegares estendidos e se tocando paralelamente. Durante o toque na bola, as articulações de quadris e de joelhos devem se estender. O contato com a bola é realizado pelos antebraços, e a bola deve ser projetada para a frente, conforme aponta Machado (2006). Na Figura 3 é possível visualizar o movimento da manchete. Figura 3. Manchete. Fonte: Shondell e Reynaud (2005, p. 236). 5Fundamentos do voleibol Saque por baixo O saque por baixo é a principal forma de colocar a bola em jogo por jogadores iniciantes. Embora existam outras formas de se realizar o saque (saque viagem e saque em suspensão), o saque por baixo requer movimentos menos com- plexos e necessita de menos força para fazer com que a bola chegue à quadra adversária. Para realizar tal fundamento, o corpo deve se posicionar tal qual a manchete, com uma perna à frente da outra. A bola deve ser segurada com o braço correspondente à perna que está à frente. O outro braço deve permanecer estendido e realizar um movimento de pêndulo para acertar embaixo da bola, conforme lecionam Bojikian, J. e Bojikian, L. (2012). Ocontato com a bola deve ser realizado estendendo-se o corpo e realizando, ao mesmo tempo, o contato com a bola e a retirada da mão que apoia a bola, acertando-a no ar. A mão que acerta a bola deve permanecer com a palma da mão aberta, garantindo maior precisão na direção da bola, fazendo com que ela ultrapasse a rede e chegue à quadra adversária. O peso do corpo deve ser totalmente transferido para a perna da frente, fazendo com que o sacador acerte a bola com o corpo em deslocamento. Ataque O ataque ou cortada é o fundamento do voleibol que fi naliza a maioria das ações ofensivas mais utilizadas e consiste em fazer com que a bola se direcione à quadra adversária por meio de uma forte rebatida, realizada em suspensão. Esse fundamento, dentre os que mencionamos até agora, é o mais complexo de ser realizado, por demandar do jogador a coordenação de seus movimentos de acordo com a bola, que se encontra em trajetória aérea, conforme aponta Machado (2006). Para realizar o ataque, o jogador deve se deslocar ao encontro da bola por meio de uma, duas, três ou mais passadas. O treinamento para o ataque geralmente ocorre em três passadas, garantindo ao jogador maior coordenação de movimentos para saltar e acertar a bola no ar. Nesse caso, o ideal para os jogadores destros é que a primeira passada seja realizada com a perna esquerda, permitindo um enquadramento do corpo favorável no momento do salto. Após o deslocamento, ambos os pés tocam o solo e ficam praticamente paralelos, com o pé correspondente ao lado que executará o ataque um pouco atrás do outro pé, conforme descreve Bizzocchi (2004). O salto deve iniciar com o contato de todo o pé no solo, sendo as pontas dos pés a última parte a tocá-lo. Para realizar o salto, os braços são lançados para Fundamentos do voleibol6 cima, e a ação dos pés deve ser simultânea, para garantir a impulsão vertical e impedir que o jogador toque a rede. A mão que acertará a bola realiza um movimento passando sobre a linha do ombro, posicionando-se semiflexionado na máxima amplitude escapuloumeral. O outro braço encerrará sua trajetória um pouco acima da linha do ombro, estendido à frente do corpo, conforme lecionam Bojikian, J. e Bojikian, L. (2012). O golpe deve ser realizado um pouco acima e à frente da cabeça. O braço de ataque deve ir de encontro à bola, o mais alto possível. O contato com a bola deve ser realizado com a palma da mão, realizando, ao mesmo tempo, uma flexão de punho que garantirá a trajetória descendente da bola. No momento em que o braço de ataque é lançado em direção à bola, o outro deve ser tracionado na direção do centro do corpo, permitindo uma leve rotação de tronco aérea que imprime mais força ao fundamento, conforme leciona Machado (2006). Na Figura 4 é possível visualizar o desenvolvimento da cortada. Figura 4. O movimento do ataque deve finalizar de modo a permitir que a queda do salto seja amortecida pelas articulações do tornozelo, do joelho e dos quadris, evitando que o jogador caia sobre a rede e que sofra lesões pelo impacto do corpo. Fonte: Shondell e Reynaud (2005, p. 210). Com esses fundamentos básicos, é possível que jogadores iniciantes con- sigam desenvolver o jogo de voleibol. Evidentemente, em jogos com atletas de rendimento, apenas esses movimentos não são suficientes para o êxito esportivo. São necessários, portanto, fundamentos técnicos especializados que possibilitem à equipe e aos jogadores a máxima possibilidade de somar pontos e evitar que a equipe adversária faça o mesmo. Na próxima seção, vamos discutir alguns desses fundamentos técnicos especializados. 7Fundamentos do voleibol Fundamentos técnicos especializados do voleibol Além dos fundamentos básicos do voleibol, é possível que os jogadores e equipes desenvolvam algumas estratégias e habilidades que possibilitem facilitar a vitória em quadra e evitar que a equipe adversária obtenha êxito em suas ações ofensivas. Assim, nesta seção, vamos discutir alguns dos fun- damentos técnicos especializados que são possíveis de serem realizados em uma partida de voleibol. Saque por cima Com a apropriação dos fundamentos técnicos do voleibol por parte dos jogado- res, o saque por baixo pode deixar de ser utilizado, para que seja desenvolvido o saque por cima. Promovendo uma trajetória parabólica da bola, na qual a altura é reduzida e a velocidade de deslocamento é aumentada, esse saque possibilita que os adversários encontrem maiores difi culdades em se deslocar e realizar a recepção. O saque por cima pode ser realizado com o contato constante do jogador com o solo — saque tipo tênis —, ou com um salto para acertar a bola — saque viagem ou em suspensão. Em ambas as possibilidades, a posição do jogador é semelhante ao movimento de ataque, com a exceção de que a bola é lançada pelo próprio jogador, conforme aponta Machado (2006). No saque tipo tênis, o jogador deve manter as pernas semiflexionadas e o pé esquerdo à frente, lançando a bola baixa com a mão esquerda e golpeando-a com a direita, usando a parte de cima da palma da mão. No saque viagem, o jogador deve lançar a bola ao alto, em uma altura que seja possível realizar três passadas. Ao final da terceira passada, o jogador deve realizar o salto e rebater a bola em sua máxima altura, tal qual o movimento da cortada. Em todos os tipos de saque, é importante frisar que o jogador não pode tocar o solo da quadra para a execução do movimento. Assim, em situações em que o saque necessita de uma ou mais passadas, o jogador deve se afastar suficientemente da linha de fundo para não cometer uma infração, conforme Bojikian, J. e Bojikian, L. (2012). Na Figura 5 é possível visualizar a posição do corpo no saque viagem. Fundamentos do voleibol8 Figura 5. Saque viagem. Fonte: dotshock/Shutterstock.com. Bloqueio O bloqueio é o fundamento que busca interceptar a bola próximo à rede du- rante uma ação de ataque dos adversários. A ação de bloqueio dos jogadores é bastante importante durante um jogo, pois possibilita a neutralização das investidas da equipe oposta, impedindo que a bola ultrapasse para a sua quadra, induzindo o adversário ao erro de seu ataque e lançando a bola para fora da quadra, ou realizando diretamente um ponto ao colocar a bola no solo adversário. O bloqueio pode ser realizado com a participação de apenas um jogador ou com a participação concomitante de até três jogadores, geralmente os que se encontram nas posições 2, 3 e 4 (atacantes), conforme aponta Bi- zzocchi (2004). Para realizar o movimento do bloqueio, os jogadores devem se posicionar em posição de expectativa, com os joelhos semiflexionados, as pernas em afastamento lateral, com uma distância entre os pés que corresponda a apro- ximadamente a largura dos ombros. Os pés devem permanecer paralelos um ao outro. Os cotovelos devem estar semiflexionados, com as mãos ao lado dos 9Fundamentos do voleibol ombros e as palmas das mãos voltadas para a frente. No momento adequado, o jogador que realizará o bloqueio deve saltar, estendendo as pernas e os braços, levando as mãos à máxima altura possível. Para realizar o contato com a bola, o jogador que faz o bloqueio deve aguardar a ação do atacante adversário, não realizando uma invasão aérea à quadra adversária. Após o contato com a bola, a queda deve ser suave, com a ação dos joelhos, do tornozelo e do quadril, permitindo que o jogador retorne ao solo com equilíbrio e não sofra o risco de alguma lesão, conforme lecionam Bojikian, J. e Bojikian, L. (2012). A Figura 6 auxilia a compreender como o bloqueio deve ser realizado. Figura 6. Bloqueio. Fonte: Shondell e Reynaud (2005, p. 243). Defesa em pé A defesa em pé consiste em um jogador impedir que a bola toque o solo de sua equipe por meio de um movimento como o da manchete. Ainda que já tenhamos apresentado a manchete como fundamento de recepção do saque adversário, este fundamento se diferencia consideravelmente devido ao curto Fundamentos do voleibol10deslocamento da bola e à maior força que esta emprega nos braços do joga- dor. Para realizar o movimento de defesa em pé, o jogador deve permanecer em constante movimento em quadra, procurando o posicionamento em que provavelmente a bola que será atacada pelo adversário deverá cair, conforme apontam Shondell e Reynald (2005). Na maioria das vezes, a posição adequada é determinada pela posição da bola em relação ao bloqueio de sua própria equipe. Isto é, o defensor não deverá permanecer à sombra do bloqueio de seus colegas de equipe. O posicionamento ideal também corresponde à forma como a bola foi lançada pelo levantador da equipe adversária. Levantamentos distantes da rede geralmente resultam em ataques ao fundo da quadra. Da mesma forma, bloqueios altos tendem a orientar o atacante a realizar ataques mais longos. Muitas vezes, o jogador que realiza a defesa não consegue se posicionar de modo a efetuar a manchete ao centro de seu corpo. Nesses casos, a manchete lateral é utilizada para realizar a recuperação das bolas que se distanciam lateralmente, bem como a defesa por cima, quando a bola parte em uma direção superior ao tronco do defensor, conforme aponta Machado (2006). Na Figura 7, podemos evidenciar algumas das formas de se realizar uma defesa em pé. Figura 7. As situações de defesa devem sempre ser realizadas com uma mão segurando a outra. O toque em ambas as mãos, quando estão apenas paralelas e juntas, constitui uma infração no voleibol. Fonte: Shondell e Reynaud (2005, p. 188). Mergulho e rolamento Por mais experientes que sejam, nem sempre os jogadores conseguem se posicionar adequadamente para realizar a defesa em pé. Nas situações em que 11Fundamentos do voleibol a bola se distancia de seu centro de gravidade, os defensores devem deslocar seus corpos para evitar que a bola toque o solo de sua equipe, sendo a queda inevitável. Nesses casos, é fundamental que possuam a habilidade de realizar rolamentos e mergulhos em direção à bola, conforme aponta Bizzocchi (2004). O mergulho consiste na recuperação de bolas que se encontram longe do jogador defensor, geralmente à frente deste. Após o deslocamento, o joga- dor deve apoiar seu corpo sobre uma perna semiflexionada e mergulhar em direção à bola. Nesses lances, a bola geralmente é recuperada com o dorso da mão fechada, com o contato progressivo do peito e do peso do corpo no solo. Após isso, o jogador realiza uma puxada das mãos para trás, permitindo que o corpo deslize sobre o solo. Nessas ocasiões, é recomendável treinar os jogadores para uma hiperextensão do pescoço, evitando que o queixo atinja o solo, conforme sugerem Bojikian, J. e Bojikian, L. (2012). Para mulheres, a técnica do mergulho se chama “peixinho”. De maneira parecida ao mergulho, o peixinho se realiza com um ângulo de queda menos acentuado, evitando o peso do corpo sobre os seios. O rolamento é outro fundamento utilizado para a recuperação da bola que se encontra fora do alcance da manchete, assumindo uma direção lateral à posição do jogador. Nesses casos, o jogador que realiza a defesa deve projetar o seu corpo para o lado em que a bola se direciona, com o braço correspondente estendido para tocar a bola com a palma da mão. Como a queda é inevitável, o jogador deve tocar a parte lateral do tronco e dos quadris, rolar sobre o tronco e voltar à posição inicial. Como vimos até aqui, os fundamentos técnicos possuem características que permitem a um jogador realizar pontos para sua equipe e/ou evitar que a equipe adversária obtenha o êxito em suas jogadas. No entanto, o limite de classificação de um fundamento quanto ao seu caráter ofensivo ou defensivo é bastante tênue, sendo necessária uma abordagem mais específica. Na seção seguinte, vamos buscar relacionar os fundamentos técnicos quanto à sua classificação e função durante o jogo de voleibol. Fundamentos do voleibol12 Fundamentos ofensivos e defensivos Como vimos até aqui, são inúmeros os fundamentos técnicos e suas variações que são utilizadas dentro de uma partida de voleibol. Grosso modo, o uso de todos os fundamentos pelos jogadores possui o mesmo objetivo: fazer com que a equipe obtenha a vitória ao término da partida. No entanto, podemos evidenciar que os fundamentos técnicos auxiliam na obtenção de pontos e/ou evitam que a equipe adversária some os seus. Desse modo, vamos classifi car os fundamen- tos a partir de suas funções ofensivas e defensivas. De modo geral, podemos adiantar que alguns fundamentos possuem dupla função, isto é, são utilizados tanto como recursos defensivos quanto como recursos ofensivos. O Quadro 1 apresenta uma síntese das classifi cações que serão explicadas na sequência. Fonte: Adaptado de Bojikian, J. e Bojikian, L. (2012). Fundamento Ofensivo Defensivo Toque Sim Sim Manchete Não Sim Saque Sim Sim Ataque Sim Não Bloqueio Sim Sim Defesa em pé, mergulho e rolamento Não Sim Quadro 1. Classificação dos fundamentos técnicos do voleibol Toque Como vimos na primeira seção deste capítulo, o toque é um fundamento predo- minantemente utilizado na transição entre a recepção e o ataque. Dessa forma, podemos evidenciar que se trata de um fundamento ofensivo. No entanto, em outras situações, ele também pode ser realizado ganhando intencionalidades diferentes daquelas que o levantador realiza para colocar a bola nas condições ideais para o atacante. Por muitos anos, o toque na bola necessitava ser bastante nítido, e a bola, após o toque nas mãos dos jogadores, não poderia realizar muitas rotações 13Fundamentos do voleibol em torno de seu próprio eixo, pois caracterizaria dois toques na bola, a serem marcados pelo árbitro como um ato infracional. No entanto, com o passar dos anos, a primeira bola defendida após o ataque adversário passou a ganhar certa tolerância quanto ao toque dos jogadores defensores. Com isso, cada vez mais o toque tem sido utilizado como um recurso defensivo, principalmente quando a bola a ser defendida se encontra acima da cabeça. Como consequência do toque como ferramenta defensiva, os jogadores têm se posicionado mais próximos à rede, facilitando as jogadas de defesa e de ataque, tornando o jogo mais longo e bonito, conforme salientam Bojikian, J. e Bojikian, L. (2012). Por outro lado, não são raras as jogadas em que a utilização do toque é realizada para efetuar pontos, fazendo com que a bola toque o solo adversário e ganhando um caráter ofensivo. Nesses casos, um jogador, seja ele defensivo ou ofensivo, ao visualizar que a equipe adversária se encontra mal posicionada em quadra, deixando espaços vazios, realiza diretamente um toque, fazendo com que a bola atinja o solo da quadra adversária e convertendo um ponto para sua equipe. O toque, nesses casos, é utilizado por sua realização ser rápida e precisa, conforme aponta Machado (2006). Manchete A manchete é predominantemente utilizada como forma de interceptar bolas que atravessam sobre a rede após um saque. Não raro, é comum observarmos saques tão fortes que, ao se realizar a manchete, a bola acaba retornando à quadra onde se encontra a equipe do jogador que efetuou o saque. Nessas ocasiões, o ponto para a equipe do defensor que realizou a manchete é bastante improvável, ainda que seja possível. Além disso, a intencionalidade do defensor ao realizar uma manchete para receber a bola adversária difi cilmente é a de realizar pontos, mas de efetuar um passe para o levantador para que este, por meio de um toque por cima, coloque a bola nas condições ideais para o atacante realizar a cortada. A manchete, ainda que faça parte do complexo ofensivo do jogo de voleibol, quando analisada de forma isolada é considerada um fundamento defensivo, conforme aponta Bizzocchi (2004). Saque Incialmente, o saque era utilizado no voleibol apenas como um fundamento para colocar a bola em jogo. É bastante comum que os jogadores que realizam o serviço tentem colocar a bola, por meio de um saque, em um local da quadrade difícil recepção pela equipe adversária, ou procurando o jogador mais fraco Fundamentos do voleibol14 nesse fundamento. Nessas situações, o saque é considerado um fundamento defensivo, pois possibilita difi cultar o ataque adversário. No entanto, com a evolução técnica e física dos jogadores, os atletas têm aperfeiçoado a sua capacidade de efetuar saques, realizando vários pontos em uma partida por meio deles. O saque em suspensão, realizado com força e precisão, torna quase impossível a tarefa de receber a bola. Com isso, o saque também pode ser considerado um fundamento ofensivo, conforme leciona Machado (2006). Ataque O ataque (ou cortada) é a principal forma de obtenção de pontos dentro de uma partida de voleibol. As ações de ataque têm variado bastante ultima- mente, possibilitando que as equipes realizem ataques cada vez mais rápidos e fazendo com que os jogadores que estão defendendo não disponham de tempo para posicionar seus corpos adequadamente em quadra e organizar a sua defesa. Os ataques rápidos requerem uma combinação de movimentos sincronizados entre diversos jogadores para que seja efetivo. Já os ataques mais longos possibilitam uma ação ofensiva com menores chances de erros, mas permitindo uma organização defensiva adversária, conforme lecionam Moutinho, Marques e Maia (2003). Não importa quais sejam as formas de realizar os ataques, eles sempre ganham uma característica ofensiva, uma vez que não visam a interceptar as ações adversárias. Para entender melhor as diferentes possibilidades de ataque, imagine as seguintes situações: Quando a equipe adversária possui um bloqueio no meio da quadra bastante alto, o levantador realiza um levantamento mais alto, nas extremidades da quadra, chamado de ataque de bola na extremidade. Quando as opções de ataque próximo à quadra não são viáveis pela rápida posição e grande altura do bloqueio adversário, o levantador realiza um levantamento para uma posição mais distante da rede, para que um jogador na posição de defesa efetue o ataque. Nesse caso, o ataque é chamado de bola de fundo de quadra. Quando o bloqueio adversário não é rápido em sua formação, os ataques velozes são uma boa opção. Nessas situações, chamadas de ataque de bola de meio de rede, o levantador realiza um toque para um atacante que está próximo, fazendo com que a bola tenha que percorrer uma distância menor, em uma trajetória retilínea e, consequentemente, mais rápida. 15Fundamentos do voleibol Bloqueio O bloqueio é um fundamento que consiste em interceptar a bola que é rebatida em um ataque adversário. Apesar de ser bastante utilizado como uma função defensiva, por interferir e provocar o fracasso dos ataques adversários, ele tem sido cada vez mais utilizado como uma forma de obter pontos dentro de uma partida de voleibol. Nesse tocante, podemos evidenciar que existem dois tipos de bloqueios que podem ser realizados por uma equipe, o bloqueio defensivo e o bloqueio ofensivo, conforme apontam Bojikian, J. e Bojikian, L. (2012). O bloqueio defensivo busca amortecer a bola proveniente de um ataque adversário, possibilitando aos defensores uma ação facilitada pela diminuição da força e da velocidade da bola. Por sua vez, o bloqueio ofensivo busca, além de interceptar o ataque adversário, fazer com que a bola toque o solo da equipe do atacante imediatamente, realizando um ponto. Em ambos os fundamentos, a execução é bastante semelhante, diferenciando-se apenas na flexão/extensão da articulação do punho no momento do toque na bola. Na Figura 8, podemos visualizar a posição que a articulação dos punhos pode assumir ao realizar um bloqueio. Figura 8. Posição das mãos e dos punhos durante um bloqueio ofensivo (esquerda) e durante um bloqueio defensivo (direita). Ao tocar a bola durante um bloqueio e realizar a extensão dos punhos, o jogador possibilita que a bola amorteça em suas mãos, diminuindo sua força e sua velocidade e facilitando a ação de recepção dos defensores de sua equipe. Já ao realizar a flexão dos punhos, o jogador direciona a bola diretamente ao solo adversário, buscando realizar um ponto para sua equipe. Fonte: Shondell e Reynaud (2005, p. 248 e 255). Fundamentos do voleibol16 Defesa em pé, rolamentos e mergulhos As defesas, sejam elas realizadas em pé ou por meio de rolamentos e mer- gulhos, são ações fundamentadas na intencionalidade de não permitir que a equipe adversária realize um ponto. Evidentemente, assim como a manchete, que também é executada na defesa em pé, não há impedimento que uma bola, ao ser defendida, porventura atravesse sobre a rede e venha a tocar o solo da quadra adversária. Novamente essa situação é muito improvável, e a intenção do defensor ao realizar esses fundamentos provavelmente não será a de realizar um ponto, mas sim de evitar que a sua equipe sofra a pontuação por meio do ataque adversário. Com isso, de maneira bastante evidente e como o próprio nome do fundamento sugere, as defesas são fundamentos defensivos, conforme salientam Bojikian, J. e Bojikian, L. (2012). Como vimos ao longo deste capítulo, o voleibol é composto por diversos fundamentos técnicos que devem ser aprendidos e realizados pelo jogador, seja qual for a posição que ele ocupe em quadra. Em nível de iniciação desportiva ou como forma de lazer por meio do voleibol, os fundamentos de posição básica, toque, manchete, saque por baixo e ataque são suficientemente adequados para realizar uma partida. Em jogadores que buscam um aprofundamento maior no esporte, como forma de participar de competições e de fazer do voleibol uma profissão, fundamentos mais elaborados, como os saques por cima, os bloqueios, as defesas em pé e por meio de rolamentos e mergulhos devem ser aprendidas, para que o êxito da equipe dentro de quadra seja possível. Nesse sentido, o profissional de Educação Física deve compreender a correta execução dos diversos tipos de fundamentos e suas funções em um jogo de voleibol. 1. No voleibol, os fundamentos técnicos geralmente são realizados por dois ou mais jogadores. No entanto, alguns podem ser caracterizados como fundamentos individuais. Analise as situações abaixo que ocorrem dentro de uma partida de voleibol e assinale aquela que apresenta um fundamento técnico individual. a) Um atacante realizando uma cortada em direção à quadra adversária. b) Um defensor realizando um mergulho para recuperar uma bola. c) O levantador efetuando um toque por cima. d) O jogador, na posição 1, efetuando um saque. 17Fundamentos do voleibol e) Um defensor realizando a recepção por meio de uma manchete. 2. Por muitos anos, o toque foi um fundamento predominantemente utilizado pelo levantador, de modo a colocar o atacante na situação ideal de realizar a cortada. No entanto, com a flexibilização da tolerância desse fundamento, é possível ver sua utilização em outras situações. Analise as alternativas a seguir e assinale aquela que se apresenta como correta. a) Ultimamente, o toque deixou de ser utilizado pelo levantador, com esse jogador realizando a manchete, por esta ser mais eficiente ao colocar a bola em condições ideais para os atacantes. b) O toque tem sido utilizado cada vez mais como fundamento de ataque, possibilitando aos jogadores a maior eficiência em fazer com que a bola toque o solo adversário. c) Atualmente, o toque está praticamente abolido das partidas de voleibol, uma vez que sua ação é bastante lenta e necessita de uma organização interna mais complexa dos jogadores para utilizá-lo. d) O toque tem sido utilizado cada vez mais como fundamento defensivo, possibilitando aos defensores jogarem mais próximos à rede. e) O toque tem sido substituído pela ação de rebater a bola com os punhos fechados, imprimindo mais força e controle à direção da bola. 3. Em situações em que a bola se encontra longe do defensor, este muitas vezes deve projetar o corpo para a frente, deslizando com otronco sobre a quadra para evitar que ela toque o solo. Embora esse fundamento seja realizado nas modalidades masculina e feminina, na segunda opção ele recebe uma nomenclatura diferente. Analise as alternativas a seguir e assinale a correta em relação à defesa feminina por meio do deslizamento do corpo na quadra. a) A ação em que atletas mulheres deslizam o corpo para a frente pela quadra é chamada de nado, em razão da modalidade de nado sincronizado, modalidade tradicionalmente de mulheres. b) A ação em que atletas mulheres deslizam o corpo para a frente pela quadra é chamada de peixinho, por sua ação ser mais sutil do que o mergulho realizado pelos homens, para proteger os seios. c) A ação em que atletas mulheres deslizam o corpo para a frente pela quadra é chamada de rolamento, devido ao fato de tocar a parte lateral do tronco e dos quadris no solo, rolar sobre o tronco e voltar à posição inicial. d) A ação em que atletas mulheres deslizam o corpo para a frente pela quadra é chamada de mergulho, tal qual na modalidade masculina. e) A ação em que atletas mulheres deslizam o corpo para a frente pela quadra é chamada defesa em pé, pois Fundamentos do voleibol18 esse fundamento geralmente é realizado com uma manchete. 4. Os fundamentos técnicos podem ser classificados em defensivos e ofensivos. Em alguns casos, como no bloqueio, eles podem se desenvolver tanto para fins de realizar pontos como para evitar que a equipe adversária obtenha êxito em seus ataques. Analise as questões a seguir e assinale aquela que apresenta a diferenciação entre o bloqueio defensivo e o bloqueio ofensivo. a) Nos bloqueios ofensivos, a posição dos jogadores que efetuam o fundamento permite que a bola se direcione ao meio de sua quadra, onde se encontram os demais defensores. Nos bloqueios defensivos, a posição dos jogadores que efetuam o fundamento permite que a bola se direcione à lateral da quadra, induzindo os adversários a jogarem a bola para fora da quadra. b) Nos bloqueios ofensivos, apenas os jogadores atacantes devem participar da ação. Nos bloqueios defensivos, apenas os jogadores de defesa participam da ação. c) Nos bloqueios ofensivos, os saltos dos jogadores ocorrem próximos à rede, na zona de ataque. Nos bloqueios defensivos, os saltos dos jogadores ocorrem distantes da rede, na zona de defesa. d) No bloqueio ofensivo, é imprescindível a presença de três jogadores executando esse fundamento, induzindo o erro adversário. No bloqueio defensivo, ocorre a presença de apenas um jogador, facilitando a ação de outros jogadores de defesa. e) No bloqueio ofensivo, o jogador projeta suas mãos à frente com uma flexão de punhos, induzindo que a bola assuma a direção descendente e toque o solo adversário. No bloqueio defensivo, o jogador efetua uma extensão de punhos, para amortecer a força e a velocidade da bola. 5. Muitos fundamentos do voleibol permitem sua ação para fins ofensivos e defensivos. No entanto, alguns apresentam apenas uma dessas duas aplicações. Analise os fundamentos a seguir e assinale aquele que é estritamente ofensivo. a) Saque. b) Manchete. c) Toque. d) Mergulho. e) Cortada. 19Fundamentos do voleibol BIZZOCCHI, C. O voleibol de alto nível: da iniciação à competição. Barueri: Manole, 2004. BOJIKIAN, J. C. M.; BOJIKIAN, L. P. Ensinando voleibol. 5. ed. São Paulo: Phorte, 2012. FILIN, V. P. Desporto juvenil: teoria e metodologia. Londrina: CID, 1996. MACHADO, A. A. Voleibol: do aprender ao especializar. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. MOUTINHO, C.; MARQUES, A.; MAIA J. Estudo da estrutura interna das ações da distribui- ção em equipes de voleibol de alto nível de rendimento. In: MESQUITA, I.; MOUTINHO, C.; FARIA, R. (Ed.). Investigação em voleibol: estudos ibéricos. Porto: FADEUP, 2003. p. 107–129. SHONDELL, D.; REYNAUD, C. (Org.). A bíblia do treinador de voleibol. Porto Alegre: Art- med, 2005. Leituras recomendadas DE ROSE JUNIOR, D. Esporte e atividade física na infância e adolescência: uma abordagem multidisciplinar. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. SCHMIDT, R.; LEE, T. Aprendizagem e performance motora. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. WEINBERG, R.; GOULD, D. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. 6. ed. 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