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Anemia hemolítica APG 23 Anemia hemolítica ELINE DOS REIS - MEDICINA R: PORTH - Fisiopatologia. 10 ed. 2019. ♥ A anemia hemolítica é caracterizada por: 1) Destruição prematura das hemácias; 2) Retenção orgânica de ferro e outros produtos da degradação da hemoglobina; 3) Aumento na eritropoese. ♥ Quase todos os tipos de anemia hemolítica se distinguem pela existência de hemácias normocíticas e normocrômicas. ♥ Devido à redução da vida útil da hemácia, a medula óssea geralmente se torna hiperativa, resultando no aumento do número de reticulócitos na circulação sanguínea. ♥ Tal como acontece com outros tipos de anemia, a pessoa sente: Cansaço; Dispneia; Outros sinais e sintomas de comprometimento do transporte de oxigênio. ♥ Na anemia hemolítica, a degradação das hemácias pode ocorrer de 2 formas: 1. Intravascular; 2. Extravascular. ♥ HEMÓLISE INTRAVASCULAR: é menos comum e ocorre como resultado da fixação do complemento em reações transfusionais, dano mecânico ou fatores tóxicos. ♥ É caracterizada por: Hemoglobinemia; Hemoglobinúria (presença de hemácias na urina); Icterícia; Hemossiderinúria (urina com alta concentração de hemoglobina). ♥ Inclusive, a hemoglobinúria e a hemossiderinúria são características que ajudam a diferenciar hemólise intra e extravascular, pois as mesmas ocorrem somente na hemólise intravascular. ♥ HEMÓLISE EXTRAVASCULAR: é mais comum e ocorre quando as hemácias perdem parte da capacidade de deformação, o que dificulta sua passagem através dos sinusoides do baço. As hemácias anormais são sequestradas e fagocitadas por macrófagos. ♥ O formato bicôncavo é o que permite a passagem das hemácias, então quando há uma alteração na estrutura da hemácia e esta muda seu formato, ela perde a capacidade de passagem pelos capilares fenestrados do baço. ♥ As manifestações de hemólise extravascular incluem: Anemia; Icterícia. ♥ Outra classificação de anemia hemolítica se baseia na causa: 1. Intrínseca; 2. Extrínseca. ♥ CAUSAS INTRÍNSECAS/HEREDITÁRIAS: incluem defeitos da membrana das hemácias, diversas hemoglobinopatias e deficiência enzimática hereditária. ♥ Dois tipos principais de hemoglobinopatias podem causar a lise das hemácias: 1. A substituição anormal de um aminoácido na molécula de hemoglobina (como na anemia falciforme); 2. Falhas na síntese de uma das cadeias polipeptídicas que formam a porção globina da molécula de hemoglobina (como na talassemia). ♥ CAUSAS EXTRÍNSECAS/ADQUIRADAS: são causadas por agentes externos às hemácias, como medicamentos, toxinas bacterianas e outras, anticorpos e traumatismo físico. ♥ Embora todos esses fatores possam causar a destruição prematura e acelerada de hemácias, não devem ser tratados da mesma maneira. Alguns respondem à esplenectomia, outros ao tratamento com hormônios corticosteroides e outros ainda não apresentam resolução até que seja corrigido o transtorno primário. R: Anemia Falciforme: Aspectos Clínicos e Epidemiológicos. Angélica Machado. 2018. R: Anemia Falciforme. Guilherme H. Miranda Sousa. Revista Ibero - Americana de Humanidades, Ciências e Educação. 2021. ♥ Incluem: Anemia falciforme; Talassemia; Esferocitose hereditária. ♥ As pessoas que herdam um desses tipos de anemia podem ter diferentes manifestações clínicas, a depender do genótipo que apresentam. ♥ É possível que uma pessoa seja gravemente enferma ou apresente pouca/nenhuma manifestação clínica. ♥ É transmitida principalmente de forma autossômica dominante e é a doença hereditária mais comum da membrana das hemácias. ♥ A doença é causada por anormalidades nas proteínas de membrana espectrina, anquirina, proteína 4.2 ou banda 3, que conduzem a uma perda gradual da superfície da membrana. ♥ A perda relativa de membrana em relação ao citoplasma faz a célula perder sua bicamada lipídica do citoesqueleto. As hemácias assumem uma forma esférica e não conseguem atravessar facilmente o baço. ♥ Gradualmente, a maioria dessas hemácias perde uma quantidade cada vez maior de membrana superficial e morre. ♥ Os sinais clínicos variam, mas geralmente incluem: Anemia hemolítica leve; Icterícia; Esplenomegalia; Cálculos biliares de bilirrubina. ♥ Pode advir uma crise aplásica potencialmente fatal quando a interrupção súbita da produção de hemácias (frequentemente por parvovírus B19) provoca uma rápida queda nos índices de hematócrito e níveis de hemoglobina. ♥ A doença é tratada, em geral, com esplenectomia para reduzir a destruição das hemácias. Podem ser necessárias transfusões de sangue durante uma crise. ELINE DOS REIS - MEDICINA ELINE DOS REIS - MEDICINA ♥ É uma doença hereditária em que ocorre a produção de uma hemoglobina anormal (hemoglobina S [HbS]), que conduz a um estado crônico de anemia hemolítica, dor e falência de órgãos. ♥ O gene HbS é transmitido por herança recessiva e pode se manifestar como traço de células falciformes (i. e., heterozigoto com um gene HbS) ou anemia falciforme (i. e., com dois genes homozigotos HbS). ♥ A anemia falciforme afeta aproximadamente 100 mil indivíduos nos EUA. ♥ PREVALÊNCIA EM CERTAS POPULAÇÕES: Através de mecanismos que não estão totalmente elucidados, se sabe que heterozigotos (HbAS) tem uma vantagem considerável em zonas onde a Malária é endêmica. ♥ Estudos realizados na África, Ásia e Oceania com mais de 29.000 pessoas, sendo 12.000 com grave quadro de Malária e 17.000 controle, mostraram uma redução de 86% em indivíduos HbAS (WILLIAMS, 2018). ♥ O continente africano é de onde a doença se originou e foi difundida graças a grande quantidade de imigrantes escravos (MANFREDINI, 2007). ♥ O Brasil, devido a sua grande população afrodescendente, possui de 0,1 a 0,3% da população vivendo com AF, sendo prevalente nas regiões sudeste e nordeste do país (FELIX, 2010). ♥ Segundo o ministério da saúde, esse número pode chegar de 25 a 30 mil, e ainda outras estimativas mostram que esse número pode aumentar até 3.500 novos casos por ano (HOKAZONO, 2011). ♥ Anemia falciforme é uma doença hereditária monogênica e a mesma se dá pelo fato de uma mutação causadora da doença ser mais prevalente dentre as pessoas afrodescendentes no Brasil. ♥ Sendo representado com uma maior frequência no Norte e Nordeste do que em outras regiões país (JULIÃO, 2019), onde as informações avaliadas mostram que 4% da população brasileira e em média acerca de 10% dos negros ou afrodescendentes são portadores do traço falciformes (Hb AS) (QUIARATI, 2015). ♥ ETIOLOGIA E PATOGÊNESE: A estrutura anormal de HbS resulta de uma mutação pontual na cadeia β da molécula de hemoglobina, com a substituição anormal de um único aminoácido, a valina, pelo ácido glutâmico. ♥ Existem variações nas proporções, e a concentração de HbS está relacionada com o risco de afoiçamento das hemácias. ♥ No indivíduo homozigoto com anemia falciforme, a HbS causa o afoiçamento quando desoxigenada ou em baixa tensão de oxigênio. ♥ A hemoglobina desoxigenada forma agregados que sofrem polimerização no citoplasma e formam um gel semissólido, que altera a forma e a capacidade de deformação da célula. ♥ A célula que sofreu afoiçamento pode retornar à sua forma normal pela oxigenação dos pulmões. No entanto, depois de repetidos episódios de desoxigenação, as células tornam-se permanentemente falciformes. ♥ A pessoa com traço falciforme, que tem menos HbS, apresenta pouca tendência de desenvolver células falciformes e é praticamente assintomática. ♥ HbF (hemoglobina fetal) inibe a polimerização de HbS. Portanto, a maioria das crianças com anemia falciforme não começa a sentir os efeitos do afoiçamento ELINE DOS REIS - MEDICINA ELINE DOS REIS - MEDICINA até depois de 8 a 10 semanas de vida, quando a HbF foi substituída por HbS. ♥ Há duas grandes consequências relacionadas com o afoiçamento das hemácias: Anemia hemolítica crônica; Oclusão dos vasos sanguíneos. ♥ A destruição prematura das células devido à membrana rígida e indeformável ocorre no baço, causando hemólise e anemia pela diminuição do número de hemácias. ♥ A oclusãovascular é um processo complexo que envolve uma interação entre células falciformes, células endoteliais, leucócitos, plaquetas e outras proteínas do plasma. ♥ Os fatores associados ao processo de afoiçamento e oclusão vascular incluem: Frio; Estresse; Esforço físico; Infecção; Condições que provoquem hipoxia, desidratação ou acidose. ♥ A taxa de polimerização de HbS é afetada pela concentração de hemoglobina na célula. ♥ A desidratação aumenta a concentração de hemoglobina e contribui para a polimerização, resultando no afoiçamento. ♥ A acidose reduz a afinidade da hemoglobina pelo oxigênio, resultando em maior quantidade de hemoglobina desoxigenada e no aumento do afoiçamento. ♥ MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: indivíduos homozigotos para o gene HbS sofrem de: Anemia hemolítica grave; Hiperbilirrubinemia crônica; Crises vasoclusivas. ♥ A hiperbilirrubinemia proveniente da degradação dos produtos da hemoglobina muitas vezes leva a icterícia e à produção de cálculos de pigmentos na vesícula biliar. ♥ A oclusão dos vasos sanguíneos é responsável pela maioria das complicações graves. ♥ Um episódio de dor aguda resulta de uma oclusão vascular e da hipoxia e pode ocorrer subitamente em quase qualquer parte do organismo. ♥ Comumente, a obstrução por células falciformes acontece no abdome, tórax, ossos e articulações. Muitas áreas podem ser simultaneamente afetadas. ♥ Infartos causados pela lentidão do fluxo sanguíneo têm como consequência lesões crônicas do fígado, baço, coração, rins, retina e outros órgãos. ♥ A síndrome torácica aguda ocorre quando há oclusão vascular nos pulmões e é uma causa importante de morte em pessoas com doença falciforme. ♥ A síndrome torácica aguda é caracterizada por dor torácica súbita. ♥ A tosse se desenvolve em decorrência de infiltrados pulmonares. ♥ A insuficiência respiratória resulta em dispneia. ♥ Crises ósseas dolorosas podem ser causadas por infartos na medula óssea. ELINE DOS REIS - MEDICINA ♥ As crianças têm suscetibilidade aumentada à osteomielite e podem apresentar retardo do crescimento. ♥ Ataque isquêmico transitório (AIT) ou hemorragia cerebral pode preceder um acidente vascular ou encefálico (AVE) e aproximadamente 25% das pessoas com doença falciforme desenvolvem complicações neurológicas. ♥ O baço é especialmente suscetível a danos por HbS. Devido à lentidão do fluxo sanguíneo e à baixa tensão de oxigênio no baço, a hemoglobina nas hemácias que atravessam o baço sofre desoxigenação, que provoca isquemia. ♥ A lesão esplênica se inicia na infância, caracterizada por congestão intensa, e geralmente é assintomática. ♥ A congestão causa asplenia funcional e predispõe ao desenvolvimento de infecções potencialmente fatais por microrganismos encapsulados, incluindo Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae tipo b e Klebsiella spp. ♥ Recém-nascidos e crianças pequenas ainda não tiveram tempo de produzir anticorpos contra esses microrganismos e dependem da função do baço para a remoção. ♥ Não havendo um anticorpo específico para os antígenos capsulares de polissacarídios desses microrganismos, a atividade do baço é essencial para a remoção deles quando invadem a corrente sanguínea. ♥ DIAGNÓSTICO E TRIAGEM: O diagnóstico neonatal da anemia falciforme é feito com base nos achados clínicos e nos resultados de solubilidade da hemoglobina, que são confirmados por eletroforese. ♥ Nos EUA, os programas de triagem têm sido implementados para detectar os recém-nascidos com anemia falciforme e outras hemoglobinopatias. ♥ São coletadas amostras de sangue do cordão umbilical ou do calcanhar, que são submetidas à eletroforese para separar a HbF da pequena quantidade de HbA e HbS. Podem ser detectados e quantificados outros tipos de hemoglobina, para análise laboratorial posterior. ♥ Em muitos estados americanos, é obrigatória a triagem de todos os recém- nascidos, independentemente da origem étnica. ♥ TRATAMENTO: Atualmente não existe cura conhecida para a anemia falciforme. Portanto, as estratégias de tratamento devem se concentrar na prevenção de episódios de afoiçamento, manejo de sintomas e tratamento das complicações. ♥ A pessoa é aconselhada a evitar situações que precipitam episódios de afoiçamento das hemácias, como infecções, exposição ao frio, esforço físico intenso, acidose e desidratação. ♥ As infecções devem ser tratadas de maneira agressiva e podem ser necessárias transfusões de sangue em um episódio de crise ou cronicamente realizadas em casos graves da doença. ♥ A maioria das crianças com anemia falciforme corre maior risco para o desenvolvimento de septicemia por microrganismos encapsulados durante os três primeiros anos de vida. ♥ Recomenda-se manter em dia o calendário de vacinação, incluindo vacina contra H. influenzae e contra hepatite B. ♥ A hidroxiureia é um fármaco citotóxico utilizado para evitar complicações da anemia falciforme e é recomendado como tratamento padrão para todos os portadores dessa condição. Essa substância viabiliza a síntese de uma quantidade maior de HbF e menor de HbS, reduzindo, desse modo, o processo de afoiçamento. No entanto, são desconhecidos os efeitos a longo prazo do uso da substância em relação a danos em órgãos, crescimento, desenvolvimento e risco de doenças malignas. ♥ O transplante de medula óssea ou de células-tronco tem o potencial de cura em crianças sintomáticas, mas traz consigo vários riscos de complicações. ELINE DOS REIS - MEDICINA ♥ São um grupo de distúrbios hereditários que envolvem a síntese de hemoglobina e conduzem a uma redução na síntese das cadeias α ou β-globina da HbA. ♥ As β-talassemias são causadas por deficiência na síntese da cadeia β e as α- talassemias por síntese deficiente da cadeia α. ♥ O defeito é herdado como um traço mendeliano e a pessoa pode ser heterozigota para o traço e apresentar uma forma leve da doença, ou ser homozigota e apresentar a forma mais grave. ♥ Como nos casos de anemia falciforme, as talassemias ocorrem com muita frequência em determinadas populações. ♥ As β-talassemias, algumas vezes conhecidas por anemia de Cooley ou anemia do Mediterrâneo, são mais comuns nas populações do Mediterrâneo no sul da Itália e na Grécia, e as α-talassemias são mais comuns entre os asiáticos. ♥ Tanto as a quanto as β-talassemias são comuns em africanos e afro-americanos. ♥ Há dois fatores que contribuem para a anemia que se desenvolve nos casos de talassemia: baixa hemoglobina intracelular (hipocromia) devido à diminuição na síntese da cadeia afetada, juntamente com a produção; acumulação contínua da cadeia de globina não afetada. ♥ A redução na síntese de hemoglobina resulta em uma anemia hipocrômica e microcítica, enquanto a acumulação da cadeia afetada interfere na maturação de hemácias normais e contribui com as alterações de membrana que conduzem a hemólise e anemia. 1. BETA-TALASSEMIAS ♥ São o resultado de várias mutações pontuais no gene da β-globina, causando um defeito na síntese da cadeia b. ♥ Nas β-talassemias, o excesso de cadeias α sofre desnaturação, formando precipitados (i. e., corpúsculos de Heinz) nos precursores de hemácias na medula óssea. ♥ Os corpúsculos de Heinz prejudicam a síntese de DNA e provocam danos à membrana das hemácias. ♥ Quando os precursores de hemácias são gravemente afetados, eles são destruídos na medula óssea. ♥ Aqueles que escapam da morte intramedular estão em maior risco de destruição no baço. ♥ Além da anemia, pessoas com formas moderadas a graves da doença sofrem de coagulopatias. ♥ As manifestações clínicas das β- talassemias são baseadas na gravidade da anemia. ♥ Gene normal em indivíduos heterozigotos (talassemia menor) geralmente resulta na síntese de hemoglobina suficientemente normal para impedir o desenvolvimento de um quadro grave de anemia. ♥ Indivíduos homozigotos para o traço (talassemia maior) têm anemia grave, dependente de transfusão de sangue, que se torna evidente entre 6 e 9 meses de idade, quando a hemoglobina troca de HbF para HbA. S ♥ e a terapia transfusionalnão é iniciada no começo da vida, isso ocasiona grave retardo de crescimento em crianças com o distúrbio. ♥ Em casos graves de β-talassemia, o quadro anêmico acentuado produzido por hematopoese ineficaz e hemólise conduz a um aumento na secreção de eritropoetina e hiperplasia da medula óssea e de sítios extramedulares de hematopoese. ♥ A massa crescente de medula eritropoética invade o córtex ósseo, prejudica o crescimento dos ossos e produz outras anormalidades ósseas. ♥ Ocorre o adelgaçamento do córtex ósseo, com formação de osso novo evidente no ELINE DOS REIS - MEDICINA maxilar e nos ossos frontais da face (i. e., fáceis de esquilo). ♥ Os ossos longos, costelas e vértebras podem se tornar vulneráveis a fraturas devido a osteoporose ou osteopenia, o que contribui para o aumento da morbidade em pessoas mais velhas. ♥ O aumento do baço (esplenomegalia) e do fígado (hepatomegalia) provém de hematopoese extramedular e aumento da destruição de hemácias. ♥ A sobrecarga de ferro é uma das principais complicações da β-talassemia. ♥ O excesso das reservas de ferro, que se acumulam pelo aumento da absorção dietética e por transfusões repetidas, se deposita no miocárdio, fígado e órgãos endócrinos e induz a lesões nesses órgãos. ♥ Doenças cardíacas, hepáticas e endócrinas são causas comuns de morbidade e mortalidade por sobrecarga de ferro. ♥ Transfusões de sangue regulares, para manter os níveis de hemoglobina entre 9 e 10 g/dℓ, melhoram o crescimento e o desenvolvimento, além de evitar a maioria das complicações; a terapia quelante de ferro pode reduzir a sobrecarga de ferro e aumentar a expectativa de vida. ♥ O transplante de células-tronco potencialmente representa a cura para indivíduos de baixo risco, em particular em pessoas mais jovens e sem complicações resultantes da doença ou do tratamento, e tem mostrado excelentes resultados. ♥ No futuro, a reposição gênica de células- tronco pode proporcionar a cura para muitas pessoas com a doença. 2. ALFA-TALASSEMIAS ♥ São causadas por uma deleção do gene que resulta em defeitos na síntese da cadeia α. ♥ A síntese das cadeias de α-globina da hemoglobina é controlada por dois pares ou quatro genes. Portanto, a α-talassemia mostra grande variação na gravidade dos casos, que está relacionada com o número de deleções de genes. ♥ Portadores silenciosos que têm deleção de um único gene de α-globina são assintomáticos e aqueles com supressão de dois genes têm o traço para α-talassemia e apresentam quadros leves de anemia hemolítica. ♥ A deleção de três dos quatro genes da cadeia α leva à formação de agregados instáveis de cadeia a, chamados hemoglobina H (HbH). Essa condição é a forma clínica mais importante e é comum entre a população asiática. ♥ As cadeias β são mais solúveis do que as cadeias α e sua acumulação é menos tóxica para as hemácias, de modo que são mais afetadas as células senescentes do que as células precursoras de hemácias. ♥ A maioria das pessoas com HbH apresenta anemia hemolítica crônica moderada e pode necessitar de uma transfusão de sangue quando se encontram febris, enfermas ou fazem uso de determinados medicamentos. ♥ A forma mais grave de α-talassemia se desenvolve em crianças nas quais os quatro genes de α-globina são suprimidos; a condição é conhecida como síndrome de hidropisia fetal. ♥ Esse tipo de defeito resulta na síntese de uma molécula de hemoglobina (Hb Bart) que é formada exclusivamente a partir de cadeias de HbF. ♥ As moléculas Hb Bart, que têm afinidade extremamente elevada com o oxigênio, não são capazes de liberar o gás nos tecidos. ♥ A síndrome de hidropisia fetal geralmente resulta em morte no útero ou logo após o nascimento. ♥ O defeito enzimático de herança mais comum que dá origem à anemia hemolítica é uma deficiência de G6 PD. ♥ O gene que determina essa enzima se localiza no cromossomo X, de modo que o defeito se ELINE DOS REIS - MEDICINA expressa apenas em indivíduos do sexo masculino e em mulheres com genótipo homozigótico. ♥ Há muitas variantes genéticas dessa doença encontrada em todas as populações, mas particularmente entre grupos do continente africano e da área do Mediterrâneo. ♥ O distúrbio torna as hemácias mais vulneráveis aos oxidantes e provoca a oxidação direta da hemoglobina em meta- hemoglobina, que não é capaz de transportar oxigênio, e a desnaturação da molécula de hemoglobina para formar os corpúsculos de Heinz, que formam precipitados nas hemácias. ♥ A hemólise geralmente ocorre à medida que hemácias danificadas se movem através dos vasos estreitos do baço, causando hemoglobinemia, hemoglobinúria e icterícia. ♥ A hemólise é de curta duração, ocorrendo 2 a 3 dias após o evento desencadeante. ♥ Entre a população negra o defeito se expressa levemente e não está associado a anemia hemolítica crônica, a menos que seja desencadeado por substâncias oxidantes, acidose ou infecção. ♥ O medicamento antimalárico primaquina, sulfonamidas, nitrofurantoína, ácido acetilsalicílico, fenacetina, alguns quimioterápicos e outras substâncias causam hemólise. ♥ Os radicais livres gerados por fagócitos durante processos infecciosos também são possíveis gatilhos. ♥ O distúrbio pode ser diagnosticado por um ensaio com G6 PD ou teste de triagem. R: Clínica Médica na Prática Diária. Celmo Porto. 2016. ♥ Vários fatores adquiridos, exógenos às hemácias, produzem hemólise diretamente por destruição da membrana ou por lise celular mediada por anticorpos. ♥ Diversos medicamentos, produtos químicos, toxinas, venenos e infecções como a malária destroem a membrana das hemácias. ♥ A hemólise também pode ser causada por fatores mecânicos, como próteses valvares cardíacas, vasculite e queimaduras graves. ♥ Obstruções na microcirculação, como em casos de coagulação intravascular disseminada, púrpura trombótica trombocitopênica e doença renal podem traumatizar as hemácias pela produção de turbulência e gradientes pressóricos instáveis. ♥ Muitos tipos de anemia hemolítica são mediados pelo sistema imunológico, causadas por anticorpos que destroem as hemácias. ♥ Podem ser produzidos autoanticorpos em resposta ao uso de determinadas substâncias ou a um processo patológico. ♥ Os aloanticorpos são provenientes de uma fonte exógena e são responsáveis por reações transfusionais e pela doença hemolítica do recém-nascido. ♥ Os autoanticorpos que provocam a destruição das hemácias são de dois tipos: anticorpos da imunoglobulina tipo G (IgG) que reagem ao calor e têm atividade máxima a 37°C; anticorpos da imunoglobulina tipo M que reagem ao frio e têm atividade máxima próximo a 4°C. ANTICORPOS QUE REAGEM AO CALOR: não provocam alterações morfológicas ou metabólicas nas hemácias. Em vez disso, reagem com antígenos sobre a membrana das hemácias, causando alterações destrutivas que conduzem à esferocitose, com destruição subsequente por fagocitose no baço ou no sistema reticuloendotelial (SRE). ♥ Eles não apresentam especificidade para os antígenos do sistema ABO, mas podem reagir com os antígenos do fator Rh. ♥ As reações têm rápida manifestação e podem ser graves e potencialmente fatais. ♥ A fadiga é uma queixa comum, com icterícia e esplenomegalia moderada. Também pode se manifestar com angina ou insuficiência cardíaca congestiva. ELINE DOS REIS - MEDICINA ♥ As causas desse tipo de anemia são variadas. Aproximadamente 50% são idiopáticas e os outros 50% são induzidos pelo uso de substâncias (p. ex., penicilina) ou estão relacionados com algum outro distúrbio. ♥ A hemólise induzida pelo uso de substâncias geralmente é benigna. ANTICORPOS QUE REAGEM AO FRIO: ativam o sistema complemento. ♥ A anemia hemolítica crônica causada por anticorpos que reagem ao frio ocorre com doenças linfoproliferativas e como um transtorno idiopático de origem desconhecida. ♥ O processo hemolítico se dá nas partes distais do corpo, onde a temperatura pode cair abaixo de 30°C. ♥ A obstrução vascular por hemácias resulta em palidez, cianose das partes do corpo expostas a temperaturas frias e o fenômeno de Raynaud. ♥A anemia hemolítica causada por anticorpos que reagem ao frio se desenvolve apenas em alguns indivíduos e raramente é grave. ♥ O teste direto de antiglobulina, também conhecido como teste de Coombs, é usado para diagnosticar anemias hemolíticas imunes. Detecta anticorpos ou proteínas do sistema complemento na superfície das hemácias. ♥ Nesse teste, hemácias lavadas e livres de soro são misturadas com um reagente de globulina anti-humana. Elas se aglutinam quando se ligam ao reagente e unem os anticorpos ou complemento nas hemácias adjacentes. ♥ O resultado TDA é positivo em casos de anemia hemolítica autoimune, eritroblastose fetal (doença do Rh do recém-nascido), reações transfusionais e hemólise induzida por substâncias. ♥ O teste indireto da antiglobulina detecta anticorpos no soro, e o resultado é positivo para anticorpos específicos. É usado para a detecção de anticorpos e reações cruzadas antes de uma transfusão. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS (ANEMIA HEMOLÍTICA AUTOIMUNE) Icterícia; •Palidez cutânea; •Mucosas descoradas; •Fraqueza; •Febre; Taquicardia;• Esplenomegalia leve; Hepatomegalia (rara); Acrocianose (autoanticorpos a frio); Livedo reticular (autoanticorpos a frio). EXAMES COMPLEMENTARES (ANEMIA HEMOLÍTICA AUTOIMUNE) ♥ Hemograma: anemia macrocítica (VCM maior que 96 fℓ), policromasia, poiquilocitose à custa de esferócitos e hemácias fragmentadas, eritroblastos circulantes, plaquetopenia eventualmente (síndrome de Evans) ♥ •Teste de Coombs direto: adiciona-se um preparado de imunoglobulinas anti- imunoglobulina humana em uma suspensão de hemácias do paciente, observando-se a presença de aglutinação – reação positiva em 90% dos casos ♥ •Reticulocitose: > 2,0% ♥ Hiperbilirrubinemia à custa de bilirrubina indireta (> 0,6 mg/dℓ). ♥ Desidrogenase láctica (DHL) elevada (> 480 U/ℓ). ♥ •Haptoglobulina reduzida (< 26,0 mg/dℓ). TRATAMENTO (ANEMIA HEMOLÍTICA AUTOIMUNE) ♥ Anemia hemolítica por autoanticorpos “frios”: evitar exposição ao frio (mudança de clima pode ser necessária). ♥ Anemia hemolítica por autoanticorpos “quentes”: prednisona, 1 a 2 mg/kg, VO, em dias alternados, durante 30 dias. Ao atingir níveis normais de hemoglobina, reduzir gradativamente o corticoide até 5 a 10 mg/dia. Pulsos de corticoide podem ser utilizados na fase aguda (casos graves): metilprednisolona, ELINE DOS REIS - MEDICINA IV, 1 g/dia, durante 3 a 5 dias, seguida de prednisona, VO, a partir do 4o dia. Esplenectomia nos casos que não mantiverem níveis adequados de hemoglobina com doses baixas de prednisona (5 a 10 mg/dia). Imuossupressão: azatioprina ou associação de imunossupressores em casos refratários – ciclofosfamida, rituximabe (anti-CD 20). Transfusões de sangue apenas em casos extremos (administração lenta, sob rigorosa supervisão). ELINE DOS REIS - MEDICINA
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