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Patologia 2 Sistema digestório - aula 2 (pré estômagos, estômago e obstrução intestinal) Timpanismo (pré estômagos) É uma distensão dos pré estômagos e estômago (rúmen e retículo), uma distensão oriunda de gases que se acumulam nesses órgãos. Os gases são oriundos da fermentação do conteúdo alimentar, e sabe-se que há uma predisposição genética. Existem dois tipos de timpanismo: primário (espumoso), e secundário (gás livre). Os achados clínicos do animal com timpanismo são: • Distensão abdominal e da fossa para-lombar; • Aumento da frequência cardíaca e respiratória, por causa do aumento do rúmen e do retículo, que começam a comprimir o diafragma; • Diminuição dos movimentos ruminais, pois a medida que vai havendo o acúmulo de gás, ocorre uma atonia ruminal (depressão do estímulo nervoso para que haja o peristaltismo). Na patologia: • A distensão abdominal leva ao aumento da pressão intra- abdominal e torácica, o que leva a uma compressão do diafragma, e consequentemente leva a uma diminuição do retorno venoso; • Linha de timpanismo: observamos principalmente no esôfago. O esôfago cranial ficará congesto, e o esôfago caudal ficará pálido. Na foto: linha de timpanismo. Timpanismo primário O primário se dá normalmente 3 dias após uma alteração no manejo alimentar dos animais. Normalmente são dietas ricas em concentrados ou leguminosas. A patogenia se dá pela presença de proteínas solúveis em grande quantidade, que são degradadas por microrganismos presentes no rúmen, e sofrem uma desnaturação, se tornando insolúveis. As proteínas insolúveis predispõem a formação de bolhas, que já são formadas normalmente, e com a mudança de alimentação tendem a ser formadas em maior quantidade. Essas proteínas fazem com que as bolhas fiquem estáveis, assim havendo uma dificuldade das bolhas se fundirem umas as outras. Com isso, não há mais a migração das bolhas para o saco dorsal do rúmen. Em outra situação, quando elas são capazes de migrarem para o saco dorsal do rúmen, a grande quantidade de gás estimula a eruptação, que é a eliminação do gás, por meio de um movimento anti peristáltico do rúmen. No caso do timpanismo, as bolhas de ar ficam presas junto ao conteúdo alimentar do rúmen, e este começa a distender. Tem uma relação entre quantidade e qualidade da saliva produzida no animal com timpanismo primário. A composição da saliva varia de animal para animal, e com relação ao tipo de alimentação do animal. Quanto menos saliva, maior a viscosidade do conteúdo líquido ruminal, o que torna mais difícil para as bolhas se fundirem. Ex.: se o animal se alimenta com uma maior quantidade de concentrado, ele produzirá menos saliva. Além disso, há o aumento da produção de bactérias que vão aumentar a produção de polissacarídeos, que aumentam a viscosidade do líquido ruminal, predispondo ao timpanismo primário. Na necropsia, encontramos um rúmen extremamente distendido, e ao manipular o conteúdo ruminal, encontramos uma grande quantidade de concentrado com bolhas de ar. Timpanismo secundário É conhecido também como timpanismo de gás livre, as bolhas de ar não tem problema para se fundir, ao contrário do primário. Se fundindo, elas migram para o saco dorsal do rúmen. O mecanismo de acúmulo desse gás no rúmen se dá por obstrução física ou funcional da eructação. É um defeito na eructação. Ex.: indigestão vagal, obstrução do esôfago, interferência na contração dos pré-estômagos. O timpanismo secundário pode ser agudo (pode vir à óbito de forma rápida) ou crônico (consegue eliminar o gás parcialmente, mas depois o timpanismo volta), dependendo do grau de obstrução. Corpos estranhos • Tricobezoários: são encontrados em bezerros em aleitamento artificial, e é menos comum em taurinos. É mais encontrado em raças de bovinos de pelo mais longo. Isso se dá pois nos animais em aleitamento, eles continuam com o estilo de sucção da amamentação, assim eles começam a se lamber muito. Consequentemente, são formadas bolas de pelo no digestório. • Fitobezoários: são encontrados em animais que são alimentados com forragem com excesso de fibra. É menos comum que o tricobezoário. Ruminite É também conhecida como acidose lática. Ocorre por um excesso de concentrado, que leva a uma acidose lática, e consequentemente leva a um processo inflamatório da parede ruminal. Ocorre também por uma dieta rica em componentes facilmente fermentáveis. O concentrado estimula a proliferação de determinadas bactérias, que podem levar a uma diminuição do pH ruminal. Sendo que o pH abaixo de 5 leva a uma atonia ruminal (uma parada do peristaltismo ruminal). Também ocorre um aumento da osmolaridade do rúmen, com uma saída de líquido dos vasos para o rúmen, visando equilibrar a osmolaridade. Esse animal entra em uma desidratação, um colapso respiratório e uma acidose metabólica, que leva o animal a morte. Patologia: Na necropsia, encontramos -> • Conteúdo liquefeito e acídico; • Abundância de grãos no rúmen; • Papilas ruminais aumentadas e amarronzadas (hiperqueratose paraqueratótica); • Degeneração hidrópica do epitélio + neutrófilos (característico de ruminite); • Sequelas: abcessos hepáticos, ruminite micótica, e polioencefalomalácia (necrose dos neurônios do córtex cerebral). Parasitas • Paramphistomum liorhis É um trematódeo considerado um achado acidental de necropsia. Em casos de infestações maciças, pode levar a um caso de hipoproteinemia, anemia e até morte. Mas esses casos são raros. Seu hospedeiro intermediário é o caramujo, que vive em vegetação aquática. Dilatação gástrica (estômago) • Primária: é de origem nutricional. É mais comum em suínos e equinos. Seu mecanismo é semelhante ao da acidose lática. Ocorre em animais com alimentação excessiva de concentrado, ou por outros motivos. • Secundária: pode acontecer por um impedimento físico (corpos estranhos, neoplasias, obstrução intestinal), ou por um impedimento funcional (aerofagia, alimento grosseiro, nervosa). As consequências de uma dilatação gástrica são: • Atonia; • Ruptura, choque e peritonite (equinos); • Torção (cão e suíno); • Deslocamento (vacas de leite). Torção x Vólvulo • Torção: se dá ao redor do próprio eixo. O estômago gira no próprio eixo. • Vólvulo: ocorre ao redor do eixo mesentérico (no caso do intestino). Dilatação gástrica e torção • Cães: mais comum em raças de grande porte. • Fatores predisponentes: aumento da flacidez do ligamento hepato gástrico; rações com componentes finamente granulados; rações secas com altos níveis de gordura; animais alimentados com potes de ração elevados; aerofagia (comportamento de deglutir ar); obstrução do cárdio e piloro; fonte de gás (pouco compreendida, acham que tem uma relação com ração contaminada com esporos, outros acreditam que tem relação com CO2 oriundo da digestão, e outros com aerofagia). Torção gástrica são casos que merecem atenção com certa urgência, pois o animal corre risco de óbito. A morte se dá por: desbalanço ácido base e eletrolítico, pressão sobre diafragma, aumento da pressão intragástrica e diminuição do retorno venoso. Ocorre degeneração da mucosa e sangramento. Achados de necropsia: alteração na posição e formato em V do baço; esplenomegalia congestiva (aumento do baço); torção de esôfago e duodeno; rotação do estômago em direção horária; dilatação, congestão, edema, hemorragia e infarto venoso no estômago; sangue no lúmen do estômago; ruptura gástrica. Na foto: dilatação gástrica. Estômago distendido, cheio de gás. Na foto: torção. Estômago com comprometimento vascular (coloração enegrecida) e baço aumentado. Dilatação e ruptura gástrica • Equinos: normalmente a dilatação está associada com obstrução do intestino delgado e com cólica. O animalpode sofrer uma ruptura, não chega a haver uma torção. A dilatação pode ocorrer por um excesso de carboidratos ou pode ser de origem idiopática. Como consequência, o animal pode sofrer um choque ou peritonite. Importante diferenciar da ruptura ante morte e da pós mortem. Na ante mortem ocorre comprometimento vascular, e na pós mortem não. Deslocamento de abomaso A dilatação gástrica nos bovinos se dá pelo deslocamento de abomaso. Isso geralmente ocorre em vacas leiteiras de alta produção leiteira no final da gestação. Geralmente são animais confinados que estão recebendo alto valor de concentrado, e pode ocorrer à pasto, porém é mais incomum. O deslocamento para esquerda é mais comum, e normalmente está associado a outras alterações concomitantes, tais como: metrite, cetose, hipocalcemia, retenção de placenta. O diagnóstico clínico é raramente visualizado após a morte. Gastrite/abomasite (alterações inflamatórias do estômago e abomaso) Podem ser agudas ou crônicas. Nas agudas vemos congestão, edema e erosão. Nas crônicas, no estômago, vemos um processo proliferativo, como metaplasia e hiperplasia de mucosa. É encontrado em animais com doenças virais sistêmicas ou doenças micóticas, ou doenças parasitárias. É clinicamente associado a: vômito; desidratação e acidose metabólica; septicemias em suínos; micoses em cães; h.pulori em primatas não humanos. Abomasite necro-hemorrágica É causada pelo clostridium septicum (descrito nos EUA e Europa) e pelo clostridium perfringens tipo A (foi reconhecido no Brasil em bezerros com aleitamento artificial). Gastrites/abomasites parasitárias Nos pequenos animais: as gastrites parasitárias são de pouca importância. Existem dois parasitas: physaloptera spp. (causa ulceração e inflamação cística com pús e parasitas), e gnathostoma spp (nódulos na parede). Eles são encontrados especialmente em felinos. Nos equinos... existem várias espécies: • Draschia megastoma: nódulos na submucosa na região do cárdia/margo plicatus. • Habronema muscae e H.majus: mucosa, associados com ulcerações; gastrite proliferativa multifocal. • Trichostrongylus axei: pode causar gastrite crônica; gastrite proliferativa difusa. • Gasterophilus spp: aderidos a erosões/úlceras na mucosa esofágica e glandular do estômago. Nos ruminantes: • Haemonchus confortus: anemia e hipoproteinemia. • Ostertagia ostertagi e trichostrongylus axei: abomasite crônica com metaplasia mucóide acloridria. • Crypstosporidium sp: abomasite subclínica. Outras alterações • Gastropatia urêmica: associação de alterações (congestão, hemorragia, trombose, edema, necrose, mineralização). É importante em cães. Sua origem é a uremia que ocorre por uma insuficiência renal crônica, onde o animal retém ureia e creatinina e a ureia é tóxica, causa lesão nos vasos do sistema digestório. Úlcera gástrica Pode ser uma úlcera, ou úlcera perfurada. A úlcera é uma perda da mucosa até a membrana basal, e a perfurada é uma perda transmural até a cavidade peritoneal. O mecanismo se dá pelo desbalanço entre os efeitos necrotizantes do ácido clorídrico e pepsina, e com relação a habilidade dessa mucosa de se manter íntegra. Em cães pode estar associada com mastocitoma, com gastrinoma (neoplasias que aumentam a produção de gastrina e consequentemente levam ao aumento de ácido clorídrico), glicocorticóides e AINES. No abomaso, em bovinos, essas úlceras gástricas são menos frequentes se comparadas com cães. São mais comuns em bezerros confinados e em vacas leiteiras. Em suínos, as úlceras ocorrem na porção esofágica, na porção queratinizada. Primeiro desenvolve-se um quadro de hiperqueratose com paraqueratose. Está associada com dietas finamente granuladas, dietas altas em cobre, dietas altas em amido e pobres em proteínas, dietas com altos índices de ácidos graxos polinsaturados e em animais com deficiência de vitamina E e Selene. Em equinos pode ocorrer na porção esofágica e na porção glandular, e frequentemente é um achado acidental de necrópsia. Tem pouca importância clínica. Consequências das úlceras gástricas: • Melena e hematêmese (sangue nas fezes ou vômito com sangue) • Anemia • Dor abdominal • Perfuração gástrica -> peritonite -> choque Neoplasias gástricas • Adenocarcinoma: cães e gatos. É uma neoplasia maligna e primária da mucosa gástrica. • Linfossarcoma: cães, gatos (pode estar associado com o vírus da leucose felina) e bovinos (na maioria dos casos está associado com o vírus da leucose exótica bovina). • Carcinoma de células escamosas: equinos. Neoplasia maligna. • Leiomioma (benigno) e leiomiossarcoma (maligno): não é tão frequente. Neoplasia da parede da musculatura lisa. Intestino: obstruções intestinais Pode ser aguda ou crônica, dependendo da porção afetada. • Aguda: porção cranial (duodeno e jejuno). • Crônica: porção caudal (íleo e IG). Animal desenvolve uma acidose metabólica (desidratação + catabolismo de gordura e proteína muscular). Alterações macroscópicas da obstrução intestinal: distensão proximal; colapso distal; congestão, necrose, gangrena; perfuração, peritonite. Na foto: exemplo de obstrução nervosa. Na foto: obstruções vasculares. Obstrução estrangulada É a pior obstrução, pois além do bloqueio físico do lúmen intestinal, ela também leva ao comprometimento vascular. Leva a uma alteração da mucosa com perda de absorção e efusão de líquidos e sangue.
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