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1 MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA II FERNANDA MARC ATO VÍRUS EXANTEMÁTICOS Doenças exantemas são doenças nas quais as erupções cutâneas (ou "rashes") são uma manifestação proeminente (viral ou bacteriana). Presença de exantema na pele e enantema nas mucosas. *ERITEMA: manchas avermelhadas devido a vasodilatação (infecciosa ou não). O diagnostico dessas doenças se dão pela análise do tipo de lesão, dos sinais e sintomas concomitantes e a epidemiologia permite inferir o diagnóstico etiológico. MECANISMOS DE AÇÃO 1. Invasão e multiplicação direta na própria pele; 2. Formação de imunocomplexos e deposição em capilares 3. Infecta o endotélio e a ação citotóxica causa dano vascular. Os vírus exantemáticos têm como porta de entrada o sistema respiratório onde se multiplicam, caem na corrente sanguínea (viremia), da corrente sanguínea é disseminado para o reticulo endotelial (linfonodos e afins), voltam para o sangue (viremia secundaria), a rubéola e o sarampo voltam para as mucosas para infectar outras pessoas pelo sistema respiratório. SARAMPO Doença viral, infecciosa aguda, potencialmente grave, transmissível, extremamente contagiosa e bastante comum na infância; A viremia provoca uma vasculite generalizada, responsável pelo aparecimento das diversas manifestações clínicas. É imunoprevenível, temos a tríplice viral que possui duas doses (12 e 15 meses) e protege contra o sarampo, rubéola e caxumba. CASO CLÍNICO Criança com 17 meses de idade, anteriormente hígida, porém sem imunização, apresenta febre, mal-estar e sintomas no trato respiratório superior, incluindo tosse, coriza e conjuntivite, evoluindo com piora ao longo de vários dias. A febre aumenta gradualmente para até 39 °C a 40 °C ao longo de vários dias, com piora da tosse. Há presença de fotofobia. É possível que sejam visualizadas lesões esbranquiçadas na mucosa bucal eritematosa nesse momento. Dois dias depois, surge um exantema maculopapular e eritematoso na cabeça e se espalha até os pés, persistindo durante os próximos 3 dias. A erupção cutânea se torna amarronzada e com aparência confluente durante os próximos dias. A febre desaparece no terceiro dia de erupção cutânea, a qual, 2 MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA II FERNANDA MARC ATO da mesma forma que a tosse, persiste durante cerca de uma semana. O sarampo causa conjuntivite e fotofobia, além dos sintomas respiratórios, febre alta e principalmente enantema (que é o exantema da mucosa oral, que são chamada de manchas de Koplic, é patognomônico) precedendo o exantema. Doença de notificação compulsória, com isolamento hospitalar Homem é o único hospedeiro, mas é muito transmissível, cada pessoa infectada transmite para 12-18 pessoas. Período de incubação: 10-14 dias; Longo período de transmissão: 6 dias antes do surgimento do exantema até 4 dias após seu aparecimento. Como fator de virulência possui capsídeo helicoidal RNA ss negativo, linear, não segmentado, envelopado Codifica: 6 proteínas estruturais (P, L, N, H, F e M) e 2 são não estruturais (V e C). Proteínas do envelope: H (hemaglutinina) e F (proteína de fusão). Receptores que reconhecem a hemaglutinina: CD46 - expressa em células nucleadas, superfície apical de células epiteliais. *pouco importante in vivo CD150 (SLAM) - expressa em linfócitos T e B ativados, timócitos imaturos, macrófagos. *entrada e disseminação, gera uma imunossupressão pois assim como o HIV infecta células do sistema imune, só que diferente do HIV não é crônico. Nectina-4 - proteína de adesão presente em células epiteliais, principalmente em células da placenta e em células da traqueia. As células dendríticas levam o antígeno para o linfonodo, mas lá ele infecta os linfócitos e provoca uma alta disseminação do sistema reticulo endotelial. 3 MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA II FERNANDA MARC ATO O sistema imune teria a resposta inata, mas o vírus tem as proteínas C e V que diminuem as citocinas, mas temos NK e linfócitos TCD8. Infecção das células endoteliais dos pequenos vasos provoca alterações inflamatórias neste local e em torno deles. Sinais e sintomas são consequência da interação dos linfócitos TCD8+ com células infectadas. Aparecimento simultâneo do exantema e anticorpos no soro sugere que a resposta citotóxica celular mediada por anticorpos poderia também ser causa do exantema. SARAMPO NA GRAVIDEZ E SARAMPO CONGÊNITO Sarampo na gravidez Aborto ou nascimento prematuro. A morbidade e a mortalidade mais acentuadas durante o 3o trimestre e o período puerperal, com aumento do risco de pneumonia. Sarampo congênito Exantema está presente no nascimento ou aparece durante os primeiros 10 dias de vida. Doença varia de branda a fatal. Mortalidade elevada em bebês prematuros e em crianças que não desenvolvem o exantema. Na ausência de anticorpos materno, taxa de mortalidade excede 3% (maioria por pneumonia). Na ausência de profilaxia com imunoglobulina a mortalidade pode chegar a 30%. COMPLICAÇÕES ASSOCIADAS Grave em crianças desnutridas; Infecções secundárias (pneumonia, otite média, estomatite); Ulcerações na boca dificultam a hidratação e alimentação; Ulcerações na córnea- cegueira; Encefalomielite aguda; Sarampo hemorrágico (CID- doença vascular disseminada). DIAGNÓSTICO Diagnóstico clínico: Sarampo clássico é de fácil diagnóstico clínico. Manchas de Koplic - aparecem antes do exantema. Definição clínica: exantema maculopapular generalizado por 3 dias ou mais; febre em torno de 38,3°C; tosse, coriza e conjuntivite. Nem todos os sinais e sintomas estão sempre presentes- muitos são comuns a outras doenças. O diagnóstico diferencial: escarlatina, rubéola, parvovirose, infecção pelos herpes vírus humanos espécies 6 e 7, infecção meningocócica, síndrome de choque tóxico, dengue, enteroviroses. Diagnóstico laboratorial: Isolamento do vírus em culturas de células a partir de secreções respiratórias, swabs de nasofaringe ou conjuntiva, células mononucleares do sangue periférico e urina, obtidos durante a fase febril. 4 MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA II FERNANDA MARC ATO Diagnóstico sorológico de IgM e detecção RNA viral por PCR, importante para imunodeprimidos. RUBÉOLA Um lactente do sexo feminino, de 2820 gramas, nascido de uma mãe primigesta de 22 anos de idade com aproximadamente 38 semanas de gestação depois de uma gravidez sem complicações. O bebê apresenta surdez, hepatoesplenomegalia leve, numerosos nódulos cutâneos de cor púrpura, firmes e não branqueáveis, petéquias dispersas e um sopro contínuo de grau 3 audível na região infraclavicular esquerda. A mãe do bebê não se recorda de ter sido imunizada na infância. 1. Qual o possível diagnóstico? Rubéola congênita. É uma doença exantemática aguda, de etiologia viral, que apresenta alta contagiosidade e acomete principalmente crianças; Sua importância epidemiológica está relacionada ao risco de abortos, natimortos e malformações congênitas, como cardiopatias, catarata e surdez; Quando a infecção ocorre durante a gestação, o recém- nascido poderá apresentar a síndrome da rubéola congênita (SRC). A rubéola aguda (pós-natal) não é tão grave, geralmente benigna, de forma subclínica com período de incubação de 14 dias. Caracterizado por erupção maculopapular, linfadenopatia, febre baixa, conjuntivite, faringite e artralgia (característico da formação de imunocomplexos).Simetria icosaédrica - composto de uma única proteína (C) RNA fita simples positivo (RNAss+) Envelope originado de membranas celulares- E1 e E2 Glicoproteína E1 - associada à capacidade hemaglutinante e de indução de anticorpos neutralizantes. E1 é a principal estrutura envolvida com a adsorção do vírus à célula e apresenta atividade fusogênica. Transmissão: gotículas de secreções de naso ou orofaringe, contato direto com sangue e urina (pouco comum). Transmissão indireta por contato com objetos contaminados (fômites) - pouco frequente Porta de entrada e sítio inicial de infecção dos vírus: mucosa do sistema respiratório superior e os tecidos linfoides da faringe. A replicação acontece nos linfonodos, cai no sangue gerando a viremia e pode atravessar a placenta e atingir o feto. Geralmente, após 6 meses, o nível de IgM (aparece do 10° ao 15° dia) começa a declinar, podendo ser detectada por mais de 1 ano. Após 3 semanas a produção de IgG ocorre para todos os determinantes antigênicos da partícula viral (E1, E2 e C). A resposta do tipo IgA na nasofaringe é a principal barreira contra reinfecções. O exantema é resultado da formação de complexo antígeno/anticorpo no endotélio capilar (hipersensibilidade do tipo III). 5 MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA II FERNANDA MARC ATO A replicação acontece principalmente nas células epiteliais da nasofaringe, tendo resposta citotóxica que causa a lise das células infectadas. Complicações: Dores nas articulações: artrite e poli artralgia transitórias, podem evoluir para um estado crônico. 50% das mulheres na faixa etária dos 20 aos 40 anos, 6% dos homens e raramente em crianças. Normalmente ocorre diminuição transitória do número de plaquetas, mas púrpura trombocitopenia ocorre em somente 1 em cada 1.500 casos. Raramente: anemia hemolítica, arritmias cardíacas em crianças e tireoidite ou hepatite em adultos. Encefalomielite ou encefalite pós- infecção (taxa de 1 a cada 6.000 a 10.000 casos). RUBÉOLA CONGÊNITA A infecção das células durante a embriogênese resulta na diminuição da mitose e atrofia dos órgãos. Está associada a acentuada despolimerização de filamentos de actina e rompimento de estruturas do citoesqueleto, afetando a mitose. Caracterizado por catarata, patologias cardíacas e surdez neurossensorial, dentre outras anomalias descritas. 80% das crianças apresentam: comprometimento neurológico, manifestado por alteração das fontanelas, letargia, irritabilidade, alterações no tônus muscular, retardo mental, alteração postural e surdez neurossensorial. 10% das crianças apresentam baixo peso, perda da audição, doenças cardíacas, alterações endócrinas, retardo psicomotor, catarata ou glaucoma, retinopatia, microftalmia, púrpura trombocitopênica, hepatoesplenomegalia e crescimento atrofiado. Primeiro trimestre: 67 a 85% dos recém- nascidos apresentando sequelas graves. Segundo trimestre: 25 a 35%, último trimestre: 10 a 0% A infecção das células durante a embriogênese resulta na diminuição da mitose e atrofia dos órgãos. DIAGNÓSTICO Feito para diferenciar de outras viroses exantemáticas (parvovirose e dengue). Importantes devido a longo período de transmissão (1 ano ou mais - SRC). Pode ser feito o isolamento viral a partir de lavado de orofaringe ou swab de nasofaringe e testes moleculares/sorológicos. Prevenção e tratamento: i. Vacinação: Tríplice viral (aos 12 meses) e tetravalente viral -Sarampo, Caxumba, Rubéola, Varicela- aos 15 meses. ii. Uso de gamaglobulina hiperimune reduz viremia materna e diminui os riscos para o feto. ERITEMA INFECCIOSO Uma criança de 6 anos comparece à clínica em fevereiro com máculas vermelhas e brilhantes nas bochechas (aparência de "bochecha esbofeteada") e erupção reticular, de aspecto rendilhado, nos membros e no tronco. A mãe relata que na semana anterior o filho teve sintomas leves de resfriado. A não ser pelo exantema, a criança parece saudável. 1. Qual o possível diagnóstico? Eritema infeccioso. Mulheres que desejam engravidar devem fazer o padrão imunológico realizado por pesquisa de anticorpos da classe IgG específicos para o vírus da rubéola. Mulheres não imunes devem ser vacinadas, aguardar de 60 a 90 dias para engravidar 6 MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA II FERNANDA MARC ATO Simetria icosaédrica, não envelopado DNAss palindrômica (causa um pareamento interno, gerando uma estrutura em forma de alça/ grampo). NS-1: controle transcrição e replicação viral e indução apoptose VP1 e VP2: hemaglutinantes Tropismos por precursores de eritrócitos Estável a 60ºC por algumas horas, pH 3-9 3,5- 8,3% desenvolvem infecção persistente devido a mutações nos Ag´s de superfície (duração: 10 meses até 5 anos). Resposta inata: NS1 e VP1 estimulam defensinas, receptores Toll-like, ativação de TNF alfa e IL-6. NS1: interage com Caspase 3 e leva a apoptose de eritrócitos e precursores. Prevalência de IgG de 90% em adultos com mais de 50 anos, de 80% em crianças com idade entre 11 e 15 anos e de 35% em crianças menores de 5 anos, ou seja, muito comum. Transmissão: direta por secreções do sistema respiratório, parenteral e vertical, com período de incubação de 6 a 11 dias. Pico da viremia entre 8º e 9º dia, coincidindo com desaparecimento de precursores de eritrócitos na m.o e reticulócitos periféricos (4 dias). Produção de IgM entre o 10º e 12º dia e produção de IgG para VP1 e em alguns casos VP2 (14º dia) MANIFESTAÇÃO CLÍNICA "Bochechas esbofeteadas" eritematosas típicas do eritema infeccioso, com erupção eritematosa reticular, de aspecto rendilhado. As manifestações cutâneas clássicas podem ser precedidas por um quadro geralmente leve de febre, coriza, cefaleia e náusea. O paciente permanece, então, assintomático por uma semana, havendo, a seguir, o aparecimento do exantema, cerca de 17 dias após a infecção. 7 MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA II FERNANDA MARC ATO Exantema maculopapular: deposição de imunocomplexos nos capilares. Inicia-se na face, depois tronco e membros. Tem aparência brilhante. Diagnóstico diferencial com sarampo e rubéola. DIAGNÓSTICO Ensaio imunoenzimático para detecção de IgM e IgG. i. A detecção de IgM indica infecção atual ou recente, podendo ser obtida em mais de 85% dos pacientes com manifestação clínica da doença. Esses anticorpos permanecerão detectáveis por cerca de 2 a 3 meses. Detecção do genoma viral por hibridização ou PCR. PREVENÇÃO E TRATAMENTO Não há vacina (dificuldade de crescimento em culturas celulares) e o tratamento é paliativo, i. Imunoglobulina para imunodeprimidos; ii. Eritropoietina para indivíduos com anemia hemolítica. vírus exantemáticos mecanismos de ação sarampo caso clínico SARAMPO NA GRAVIDEZ E SARAMPO CONGÊNITO COMPLICAÇÕES ASSOCIADAS DIAGNÓSTICO rubéola rubéola congênita diagnóstico eritema infeccioso manifestação clínica diagnóstico prevenção e tratamento