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Especialidades Clínicas e Cirúrgicas I Doenças da Vesícula Biliar · ANATOMIA DA VESÍCULA BILIAR: - Órgão oco, com formato de pera, situado na fossa da vesícula biliar na face visceral do fígado. - Armazena (e concentra) cerca de 50ml de suco biliar (bile), produzida pelos hepatócitos, que é liberada na luz duodenal na presença de gorduras do TGI. - Mede de 7-10 centímetros. - Principais estruturas: Fundo. Corpo. Colo. Infundíbulo (bolsa de Hartmann). Melhor local para alocação de pedras. · ANATOMIA DAS VIAS BILIARES: - Conjunto de ductos que conectam o fígado e a vesícula biliar ao intestino. - Iniciam com capilares bilíferos intercelulares, dúctulos interlobulares, dúctulos bilíferos e ductos biliferos. Dividem-se entre intra-hepáticas e extra-hepáticas. - Sua função é a de conduzir a bile produzida no fígado, para seu armazenamento na vesícula e posterior liberação no duodeno para promover o processo de digestão. - Principais estruturas: Ductos hepáticos direito e esquerdo. Ducto hepático comum. Ducto cístico (drena a vesícula biliar). Ducto colédoco (união dos ductos hepático comum e cístico). Dividido em: supra-duodenal, retro-duodenal, infra-duodenal e intra-duodenal. Ducto pancreático (união dos ductos cístico e pancreático) – origina a ampola hepatopancreática (Vater). Papila hepatopancreática (de Vater) e Esfíncter de Oddi. · VASCULARIZAÇÃO DA VESÍCULA BILIAR E DUCTO CÍSTICO: è ARTERIAL: - Vascularização pela artéria cística. Frequentemente ramo da artéria hepática direita. Se divide em ramos ao entrar na vesícula biliar. è VENOSA: - As veias que drenam os ductos bilíferos e o colo da vesícula entram no fígado diretamente ou drenam através da veia porta hepática. - As veias do fundo e do corpo passam para face visceral do fígado e drenam para os sinusóides hepáticos. è LINFÁTICA: - Passa para os linfonodos através dos linfonodos císticos. - Vasos linfáticos eferentes provenientes destes linfonodos passam para os linfonodos celíacos. · INERVAÇÃO DA VESÍCULA BILIAR E DUCTO CÍSTICO: - Os nervos passam ao longo da artéria cística provenientes do plexo celíaco (simpático), do nervo vago (parassimpático) e do nervo frênico acessório (sensitivo). · TRIÂNGULO HEPATOCÍSTICO (DE CALOT): - Espaço anatômico, delimitado pelas estruturas: Borda inferior do fígado, Ducto hepático comum, Ducto cístico. - Conteúdo: Artéria cística. Artéria Hepática Direita. Linfonodo Cístico. · FISIOLOGIA BILIAR: è FORMAÇÃO DA BILE: - Bile normal: mistura complexa de componentes orgânicos e inorgânicos, alguns solúveis e outros insolúveis – água, eletrólitos, solutos orgânicos (sais biliares, pigmentos biliares, colesterol e fosfolipídios, íons inorgânicos). - Produção diária: 500 - 1000ml. à ÁCIDOS BILIARES: - 50% da composição da bile. - Quimicamente: Ácido carboxílico. Faz com que a bile não precipite, fique fluida. Se a bile precipita forma “areia” e então pedras – bile litogênica. - Derivado da metabolização do colesterol. - Solubilizada nas micelas = agregações sais biliares. - Mais comuns: Ácido cólico, ácido quenodeoxicólico, ácidos deoxicólicos e ácido litocólico. à COLESTEROL: - Proveniente dos alimentos ou síntese hepática - O maior local de eliminação de colesterol do organismo é pela excreção na bile, como sal biliar ou colesterol livre. à FOSFOLIPÍDEOS: - Mais de 90% são Lecitina. - Porção hidrofílica e porção hidrofóbica. - Sintetizados no fígado e excretados na bile associados aos sais biliares. à PIGMENTOS BILIARES: - 2% dos sais biliares (bilirrubina). - Derivados da porfirinas. - Formas não conjugada (hidrofóbica) e conjugada (hidrofílica). à ÍONS INORGÂNICOS: - Na+, K+, Ca++. - Cl-, HCO3- (ausência de déficit iônicos). è SECREÇÃO DA BILE: Produzida no fígadoCirculação Enterohepática Estocada na vesícula biliar Propelida para intestino Absorvida pelo intestino è CIRCULAÇÃO ENTEROHEPÁTICA: - Secreção varia com a quantidade de bile que é reabsorvida. - Fase da digestão: A- Jejum → Maioria da bile acumula- se na vesícula biliar. B- Refeição → Secreção para o intestino - Sais biliares → primários X secundários: Primários= Sintetizados pelo hepatócito. Secundários= Ação de bactérias intestinais. - Transporte ativo e passivo: Ácidos biliares hidrofóbicos → passivo. Ácidos biliares hidrofílicos → ativo. è ESTOCAGEM E EXPULSÃO: - Balanço entre resistência da vesícula X esfíncter de Oddi. - Jejum X pós prandial. - Vesícula absorve água e Na+ e concentra as micelas. - Expulsão de bile da vesícula deve- se a: Contração duodenal (colinérgico). Estimulação da liberação da CCK (duodeno). Outros hormônios (gastrina, secretina). è BILE LITOGÊNICA: - A solubilidade de colesterol na bile depende da concentração relativa de colesterol, sais biliares e fosfolipídios (lecitina). - Colesterol, lecitina e bilirrubina não conjugada – formação de micelas (agregados polimoleculares) para solubilidade em água. - Aumento do colesterol ou de bilirrubinato de cálcio e solubilidade na bile (bile supersaturada ou litogênica). Triangulo de Admirand e Small. · CÁLCULOS BILIARES: è COLESTEROL: - 70-90% dos cálculos biliares nos EUA, Europa e America latina. - Variam em cor, forma e número. - Puro ou misto (maioria). è PIGMENTARES: - 10 a 30%. - Bilirrubinato de cálcio – componente principal. - Podem ser: Negros/pretos por hemólise, aumento de bilirrubina – cirrose, anemia hemolítica, NPT. Castanhos/marrons por estase e infecção biliar – moldam os ductos biliares, · COMPLICAÇÕES: 1. Colecistite crônica calculosa. 2. Colecistite aguda (alitiásica e calculosa). 3. Coledocolitíase. 4. Pancreatite biliar. 5. Síndrome de Mirizzi. A síndrome de Mirizzi consiste na obstrução seja do ducto hepático comum ou do colédoco, secundária à compressão extrínseca devido à impactação de cálculos no ducto cístico ou no infundíbulo da vesícula. Isso gera uma inflamação intensa com compressão e/ou destruição da via biliar principal. 6. Fistula bilio-digestiva. · LITÍASE BILIAR: è EPIDEMIOLOGIA: - 15 a 20% da população mundial. - Distribuição variável. - 40 a 60% são assintomáticos. - Caracterização do assintomático. - Acompanhamento dos casos. è FATORES DE RISCO: - Idade (raro em crianças e adolescentes). - Genética. - Dieta (dieta rica em colesterol, carboidratos). - Hormonais (estrogênio e progesterona). - Metabólicos (obesidade, anemia hemolítica, diabetes). - Funcionais (resseção de íleo terminal, cirrose, lama biliar). 6 F’s: fat, female, fertility, forthy, fair, family history. è HISTÓRIA NATURAL DA LITÍASE BILIAR: - 80% nunca terão sintomas. - Sintomas aparecem nos primeiros 5 anos: Dor tipo cólica em HCD e epigastro, intolerância a alimentos gordurosos, náuseas e/ou vômitos, dispepsia e flatulência. - Cólica biliar 2/3 sintomas. - Complicações agudas em 1/3 dos casos. Fibrose, aderências. - Nos sintomáticos – 50% das complicações agudas no 1º ano. è ETIOLOGIA: - Primária – estase biliar: Doenças primárias (fibrose cística). - Secundária – colelitíase: Migração dos cálculos. 5 a 20% dos pacientes apresentam CDL durante a colecistectomia. Coledocolitíase residual. 1. COLECISTITE CRÔNICA CALCULOSA: - Inflamação crônica da vesícula biliar. - Quase sempre associada à presença de cálculos. - Irritação mecânica da parede vesicular. - Surtos repetidos de colecistite aguda e subaguda. - Bactérias na bile (> 25% dos casos). · QUADRO CLÍNICO: è CARACTERÍSTICAS DA DOR: - Local: epigastro e HCD. - Irradiação: precórdio, ombro direito, escápula e abdome inferior. - Fator desencadeante: dieta. - Duração: início - súbito, platô em 1 hora dor tipo cólica. Até 3 a 4h (mais que 5/6h agudização). è EXAME FÍSICO: - Dor a palpação profunda no HCD sem dor fora das crises. - Ausência de sinais de irritação peritoneal. - Vesícula não palpável. · DIAGNÓSTICO: - Colecistograma oral (imagem a direita). - USG com prova de Boyden. A prova de Boyden é uma fase complementar que permite estudar o esvaziamento e a contração da vesícula biliar. - TC de abdome. Se não fizer cortes finos pode não enxergar a pedra. - Colangioressonância.Feita em suspeita de tumor. è USG ABDOME: - Exame de escolha. - Avalia dilatação biliar. - Sensibilidade/especificidade: 95/99%. - Critérios: massa hiperecogênica, sombra acústica distal à massa hiperecogênica, movimento da massa quando paciente muda o decúbito. · TRATAMENTO – COLECISTECTOMIA: - Tratamento definitivo e indicado para a maioria dos pacientes sintomáticos. - Indicação recomendada seletiva: crianças, mulheres em idade fértil, pacientes com cálculos grandes ou numerosos cálculos pequenos, pacientes com cancerofobia, diabéticos, pacientes com dificuldade de acessos aos serviços de saúde. 2. COLECISTITE AGUDA: · EPIDEMIOLOGIA: - Processo inflamatório agudo da vesícula biliar. - Associado à colelitíase em 95% dos casos. - Prevalência em 25% dos casos de colelitíase. - Mulheres jovens 3:1 homens. - Equilíbrio com a progressão da idade. · FISIOPATOLOGIA: - Obstrução sustentada do ducto cístico (infundíbulo ou luminal). - Aumento da pressão intraluminal da vesícula. - Obstrução venosa e linfática. - Isquemia e edema. - Ulceração de parede. - Infecção bacteriana secundária. - Perfuração, fístula e abcesso. à INFECÇÃO SECUNDÁRIA: - Paciente em 50 a 85% dos doentes com colecistite aguda. E. coli, Klebsiella, Streptococcus faecalis, proteus, clostridium. · COLECISTITE AGUDA ALITIÁSICA: - Doente crítico, terapia intensiva, ventilação mecânica, sedado. - Politrauma grave, grande queimado, PO de cirurgia de grande porte, jejum prolongado com NPT. - Estase biliar, lama biliar e isquemia da vesícula. - Diagnóstico tardio, peritonite, mortalidade alta. - Tratamento cirúrgico de emergência. · COLECISTITE AGUDA CALCULOSA: è FISIOPATOLOGIA: E. coli, Klebsiella, Streptococcus faecalis, proteus, clostridium. è COMPLICAÇÕES: · QUADRO CLÍNICO: - Dor em hipocôndrio direito e região epigástrica com irradiação interescapular. Escápula e ombro direito. - Crises pregressas de cólica biliar – persistência e piora com relato de ingesta rica em gorduras. - Náuseas e vômitos + perda do apetite + febre moderada. - Dor à palpação do hipocôndrio direito - percussão dolorosa da área costal direita e sinal de Murphy. - Vesícula palpável e dolorosa (20% dos casos) e distensão abdominal. - RHA diminuídos. - Icterícia (20% dos casos). · EXAMES LABORATORIAIS: - Hemograma – 10 a 15.000 leucócitos, desvio à esquerda e marcadores inflamatórios aumentados. - Bilirrubinas aumentadas. - TGO, TGP, GGT, FAL e amilase aumentadas. · DIAGNÓSTICO POR IMAGEM: à DISIDA (imagens): Vê a formação e o trajeto da bile e a anatomia da vesícula e seus ductos. à USG: - Método de escolha para o diagnóstico. - Sensibilidade: 80 a 100%. - Especificidade: 60 a 100%. - Achados ecográficos: Presença de colelitíase. Vesícula distendida (diâmetro transverso > 4cm). Espessamento da parede vesicular (>3mm). Aspecto lamelar da parede. Perda da definição da parede. Sinal de “Murphy ultrassonográfico”. O sinal de Murphy ultrassonográfico é um dos sinais mais específicos de colecistite aguda e consiste na compressão dolorosa sobre a vesícula biliar pela sonda do aparelho. - Achados/Valor preditivo positivo: Apenas colelitíase – 88%. Colelitíase + Murphy USG – 92%. Colelitíase + Murphy USG + espessamento parietal – 94%. · DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: - Hepatite. - Úlcera. - Pancreatite. - Apendicite. - IAM. · TRATAMENTO: 3. COLEDOCOLITÍASE: · QUADRO CLÍNICO: - Assintomáticos (maior parte). - Dor em QSD/epigástrio. - Mais persistente ( > 6h) ou súbita. - Náuseas e vômitos. - Icterícia. · DIAGNÓSTICO – USG DE ABDOME: - Sensibilidade e 20 a 90%. - Baixa sensibilidade pela interposição gasosa. - Dilatação da via biliar: colédoco > 6mm. - Cut off mais baixo. - Outras causas de dilatação: colecistectomia/envelhecimento. · DIAGNÓSTICO – CPRE (COLANGIOPANCREATOGRAFIA RETROGRADA ENDOSCÓPICA): A CPRE (Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica) é o procedimento endoscópico que tem o intuito de desobstruir a via biliar, de maneira muito menos invasiva. Para isso utiliza-se o duodenoscópio, um aparelho semelhante ao gastroscópio, mais calibroso, ele possui uma função extra que é a elevação e um arsenal de instrumentais diferentes. O procedimento geralmente realizado no centro cirúrgico, sob anestesia geral, mas alguns serviços o realizam em seu próprio setor, e mais raramente sem o apoio do anestesista. · COLANGIORRESSONÂNCIA: - Sensibilidade de 93%. - Especificidade de 94%. - Menos sensível para cálculos < 6mm. - Não invasivo/sem radiação. · TRATAMENTO: - Papilotomia endoscópica + remoção de cálculo. - CPRE. Usada para tratamento de colangite aguda grave/refratária a terapêutica médica. Coledocolitíase, estenose da VBP, pancreatite aguda litiásica e lesão de VBP. · COLANGITE: - É uma infecção da árvore biliar potencialmente fatal se não tratada imediatamente. Na maioria dos casos, ocorre devido à obstrução biliar por cálculos, mas outras causas de obstrução do ducto biliar também podem ocasionar a colangite, tais como: neoplasias, estreitamentos biliares, infestações parasitárias e anormalidades congênitas dos ductos biliares. è FATORES PREDISPONENTES: - Colecodolitíase. - Tumores de via biliar. - Instrumentação da Via biliar è TRÍADE DE CHARCOT: 1. Febre alta + calafrios. 2. Dor em QSD. 3. Icterícia. è PÊNTADE DE REYNOLDS: 1. Febre alta + calafrios. 2. Dor em QSD. 3. Icterícia. 4. Confusão mental. 4. Hipotensão. Sinais de Colangite Supurativa Aguda. 4. PANCREATITE AGUDA BILIAR: - Doença inflamatória da glândula pancreática clinicamente caracterizada por dor abdominal, náuseas e vômitos. - Acometimento variável das estruturas pancreáticas. - O processo inflamatório se iniciada pela lesão das células acinares (enzimas). - Ativação prematura das enzimas digestivas no interior da glândula. - Ponto crítico inicial do processo: conversão do tripsinogênio em tripsina, esse processo ativa outras proteases no interior do órgão. Com essas enzimas ativadas temos injuria/morte celular e autodigestão tecidual. - Marco da doença: necrose gordurosa – parênquima, tecido peripancreático, mesentério e omento. - 2ª patologia do TGI diagnosticada em hospitais dos EUA. - Após o surto agudo, como a resolução do quadro desencadeador, há recuperação completa da estrutura e da função do órgão. - Quando o dano celular é importante, pode não existir uma recuperação completa e, com recorrências das crises, pode haver inflamação crônica e fibrose, que são características da pancreatite crônica. · LITÍASE BILIAR: - Cálculos através da ampola de Vater. - Obstrução transitória do ducto pancreático. - Aumento da pressão intraductal – estimula a fusão de lisossomos e grânulos de zimogênio – tripsina. - Não se associa a pancreatite crônica. - Sexo feminino 2:1. - Obesos. - 50 a 70 anos. - Colecistectomia. è MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: - Dor abdominal. Começa em epigástrio e com frequência se irradia para região dorsal. Caráter contínuo, com intensidade máxima em 30 a 60 minutos após alimentação que persiste por dias. É difícil basear o diagnóstico em sintomas e sinais clínicos. - Náuseas. - Vômitos. è PROGNÓSTICO: - Baseado em diversos critérios: Critérios de Ranson. Critérios de APACHE II. Critérios tomográficos de Baltazhar. Score de Marshall. Score de SOFA. Classificação de Atlanta. Dosagem de PCR. · TRATAMENTO: è PANCREATITE AGUDA LEVE: - Jejum. - Hidratação. - Analgesia. - Suporte nutricional. - Bloqueador de bomba de prótons. è PANCREATITE AGUDA GRAVE: - Redução da área de necrose. - Prevenção e tratamento da infecção. - Controle da insuficiência orgânica e SIRS. - UTI. - Jejum – SNG. - Reposição volêmica. - Controle hidroeletrolítico. - Antibióticos. - Analgesia. - Suporte nutricional. - Bloqueador de bomba de prótons. - Profilaxia de TVP. · COMPLICAÇÕES: - Infecção: 30 a 60% dos doentes com necrose. Infecção de necrose pancreática – mortalidade de 20 a 40%. Mortalidade do desbridamento cirúrgico – 20 a 50%. - Causas de morte na pancreatite aguda: 1 a 2ª semana: SIRS. Após a 2ª semana: infecção.
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