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Letícia Teixeira Santos APG – 4º Período Medicina – FAHESP/ IESVAP OBJETIVOS 1. Revisar a anatomia e a fisiologia dos rins 2. Conhecer a etiologia e os fatores de risco da nefrolitíase. 3. Compreender a fisiopatologia, as manifestações clínicas e as complicações da nefrolitíase. 4. Entender como se dá o diagnóstico, o tratamento e a profilaxia da nefrolitíase. ANATOMIA E FISIOLOGIA DOS RINS Os rins, têm formato oval, retiram o excesso de água, sais e resíduos do metabolismo proteico do sangue, enquanto devolvem nutrientes e substâncias químicas ao sangue. Estão situados no retroperitônio sobre a parede posterior do abdome, um de cada lado da coluna vertebral, no nível das vértebras T XII a L III. Na margem medial côncava do rim há uma fenda vertical, o hilo renal. O hilo renal é a entrada de um espaço no rim, o seio renal. As estruturas que servem aos rins (vasos, nervos e estruturas que drenam urina do rim) entram e saem do seio renal através do hilo renal. O hilo renal esquerdo situa-se perto do plano transpilórico, a cerca de 5 cm do plano mediano. O plano transpilórico atravessa o polo superior do rim direito, que está por volta de 2,5 cm mais baixo do que o polo esquerdo, provavelmente por causa do fígado. Posteriormente, as partes superiores dos rins situam-se profundamente às costelas XI e XII. Os níveis dos rins modificam-se durante a respiração e com mudanças posturais. Durante a vida, os rins têm coloração marrom- avermelhada e medem cerca de 10 cm de comprimento, 5 cm de largura e 2,5 cm de espessura. No rim, o seio renal é ocupado pela pelve renal, cálices, vasos e nervos e uma quantidade variável de gordura. Cada rim tem faces anterior e posterior, margens medial e lateral e polos superior e inferior O ápice da pelve renal é contínuo com o ureter. A pelve renal recebe dois ou três cálices maiores, e cada um deles se divide em dois ou três cálices menores. Cada cálice menor é entalhado por uma papila renal, o ápice da pirâmide renal, de onde a urina é excretada. Nas pessoas vivas, a pelve renal e seus cálices geralmente estão colapsados (vazios). As pirâmides e o córtex associado formam os lobos renais. Os lobos são visíveis na face externa dos rins nos fetos, e os sinais dos lobos podem persistir por algum tempo após o nascimento. FATORES DE RISCO Fatores de risco modificáveis: •Fatores urinários – Certas anormalidades bioquímicas da composição da urina foram associadas a um risco aumentado de formação de cálculos renais, incluindo maior cálcio na urina, maior oxalato na urina, menor citrato na urina, maior ácido úrico na urina e menor volume de urina. O pH da urina contribui para a probabilidade de formação de certos tipos de cálculos; uma urina ácida favorece a precipitação de ácido úrico, enquanto uma urina alcalina promove a formação de cálculos de fosfato de cálcio. Os cálculos de oxalato de cálcio não são dependentes do pH na faixa fisiológica. •Fatores dietéticos – Os fatores dietéticos podem desempenhar um papel importante na promoção da formação de cálculos, principalmente por afetar a composição da urina. Menor ingestão de líquidos, cálcio, potássio e fitato e maior ingestão de oxalato, sódio, sacarose, frutose, vitamina C e possivelmente proteína animal estão associados a um risco aumentado de formação de cálculos de cálcio. Maior consumo de proteína animal e menor ingestão de frutas e vegetais aumentam o risco de cálculos de ácido úrico, reduzindo o pH da urina e aumentando a geração de ácido úrico. Dietas especializadas, como Dietary Approaches to Stop Hypertension (DASH) e dietas mediterrâneas, são Letícia Teixeira Santos APG – 4º Período Medicina – FAHESP/ IESVAP opções razoáveis na tentativa de reduzir o risco de recorrência de cálculos. •Medicamentos – Vários medicamentos têm sido associados a um risco aumentado de formação de cálculos renais. Alguns medicamentos podem promover a formação de cálculos renais induzindo anormalidades metabólicas que alteram a composição da urina, enquanto outros podem cristalizar na urina e se tornar o principal constituinte do cálculo renal. Fatores de risco não modificáveis – Os fatores de risco não modificáveis para a formação de cálculos incluem histórico familiar de cálculos, suscetibilidade genética e uma variedade de condições médicas. ETIOLOGIA Entre os múltiplos fatores envolvidos na etiopatogenia, destacam-se a supersaturação urinária, decorrente de baixa ingesta hídrica, hipercalciúria, hiperuricosúria e hipocitratúria. A predisposição familiar e hereditária para a formação dos cálculos é conhecida. Entretanto, sua distribuição é incerta em termos de incidência, distribuição territorial e raça. A nefrolitíase está relacionada a várias doenças, múltiplos medicamentos e anormalidades anatômicas, a saber: hiperparatireoidismo, acidose tubular renal, Doença de Crohn, bypass intestinal, ressecções intestinais, síndrome de má absorção, sarcoidose, hipertireoidismo, cistinúria, hiperoxalúria primária, suplementos de cálcio, suplementos de vitamina D, ácido ascórbico em altas doses (mais de 4 g/dia), laxativos, acetazolamida, sulfonamida, indinavir, furosemida, estenose de junção uretero-piélica, divertículo calicial , estenose de ureter, refluxo vésico- ureteral, rim em ferradura, ureterocele. A relação entre a nefrolitíase e infecção bacteriana é patógeno-específico, por exemplo, alguns tipos de bactéria (Proteus, Pseudomonas, Klebsiella, Staphylococcus sp.) são produtoras de urease. Essa enzima é responsável pela degradação da uréia em amônia, o que leva a um aumento do pH urinário. O pH se tornando alcalino favorece a precipitação de cristais de fósforo, amônia e magnésio e a formação do cálculo chamado estruvita ou fosfato amoníaco magnesiano. FISIOPATOLOGIA 80% dos pacientes com nefrolitíase formam cálculos de cálcio, a maioria dos quais é composta principalmente de oxalato de cálcio ou, menos frequentemente, de fosfato de cálcio. Os outros tipos principais incluem ácido úrico, estruvita (fosfato de magnésio e amônia) e cálculos de cistina. O mesmo paciente pode ter um cálculo que contém mais de um tipo de cristal (por exemplo, oxalato de cálcio e ácido úrico). Existem diferentes teorias sobre a formação de cálculos de cálcio, e os diferentes tipos de cálculos podem ter diferentes eventos de iniciação. A formação de cálculos ocorre quando o material normalmente solúvel (por exemplo, cálcio, oxalato) supersatura a urina e inicia o processo de formação de cristais (por exemplo, cristal de oxalato de cálcio). Para alguns cálculos de cálcio, particularmente oxalato de cálcio, parece que um importante evento inicial ocorre no interstício medular do rim. Cristais de fosfato de cálcio podem se formar no interstício e eventualmente erodir através do epitélio papilar renal, formando a clássica placa de Randall. Cristais de oxalato de cálcio ou fosfato de cálcio podem então se depositar no topo desse nidus, permanecendo presos à papila. Os cálculos de fosfato de cálcio também podem se formar inicialmente nos ductos dilatados de Bellini e depois crescer no espaço urinário. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Cálculos assintomáticos: Os pacientes podem ocasionalmente ser diagnosticados com nefrolitíase assintomática quando um exame de imagem do abdome é realizado para outros fins ou quando a imagem de vigilância é realizada naqueles com história prévia de cálculos A fase assintomática tem maior probabilidade de persistir naqueles que nunca tiveram um episódio clínico de cólica renal Pedras sintomáticas: Dor: Os sintomas podem se desenvolver quando os cálculospassam inicialmente da pelve renal para o ureter. A dor é o sintoma mais comum e varia de uma dor leve e quase imperceptível a um desconforto tão intenso que requer analgésicos parenterais. A dor geralmente aumenta e diminui em gravidade e se desenvolve em ondas ou paroxismos. Paroxismos de dor intensa geralmente duram de 20 a 60 minutos. Acredita-se que a dor ocorra principalmente por obstrução urinária com distensão da cápsula renal. Consequentemente, a dor devido a uma pedra nos rins Letícia Teixeira Santos APG – 4º Período Medicina – FAHESP/ IESVAP geralmente se resolve rapidamente após a passagem da pedra. O local da obstrução determina a localização da dor. A obstrução ureteral superior ou pélvica renal causa dor ou sensibilidade no flanco, enquanto a obstrução ureteral inferior causa dor que pode irradiar para o testículo ou lábio ipsilateral. A localização da dor pode mudar à medida que a pedra migra. Muitos pacientes familiarizados com os sintomas são capazes de prever se o cálculo passou pelo ureter. No entanto, os cálculos impactados ou que não migram não podem ser localizados com certeza com base apenas nos sintomas. Além disso, uma localização variável da dor pode ser enganosa e, ocasionalmente, imita um abdome agudo ou um aneurisma dissecante. Em alguns pacientes com dor lombar crônica, o diagnóstico de cólica aguda pode ser difícil sem um exame de imagem. Ocasionalmente, os pacientes apresentam-se após terem passado por cascalho ou pedra. Os pacientes que formam cálculos de ácido úrico frequentemente descrevem a passagem de cascalho, mas os cálculos de ácido úrico também podem produzir obstrução aguda. Hematúria: A hematúria macroscópica ou microscópica ocorre na maioria dos pacientes que apresentam nefrolitíase sintomática (mas também está frequentemente presente em pacientes assintomáticos). Além da passagem de uma pedra ou cascalho, este é um dos preditores mais discriminativos de uma pedra nos rins em pacientes que apresentam dor no flanco unilateral. Um estudo, por exemplo, descobriu que dois terços dos pacientes com cálculo ureteral apresentavam hematúria Por outro lado, a ausência de hematúria no quadro de dor aguda no flanco não exclui a presença de nefrolitíase. A hematúria não é detectada em aproximadamente 10 a 30% dos pacientes com nefrolitíase documentada. Um fator que pode comprometer a sensibilidade da hematúria é o intervalo entre o início da dor aguda até o momento do exame de urina. Outros sintomas: Outros sintomas que são comumente vistos incluem náuseas, vômitos, disúria e urgência urinária. As duas últimas queixas geralmente ocorrem quando o cálculo está localizado no ureter distal. COMPLICAÇÕES A nefrolitíase pode levar à obstrução renal persistente, que pode causar danos permanentes nos rins se não for tratada. Se a urina estiver infectada próximo ao cálculo obstrutivo, esta é uma emergência urológica que requer descompressão rápida por um stent ureteral ou um tubo de nefrostomia. Esta é uma situação em que um paciente pode se tornar séptico muito rapidamente se não for tratado. Os cálculos de chifre de veado normalmente não produzem sintomas, a menos que a pedra resulte em obstrução do trato urinário ou uma infecção seja a causa do cálculo de chifre de veado. No entanto, eles podem levar à insuficiência renal ao longo dos anos se estiverem presentes bilateralmente. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de nefrolitíase deve ser suspeitado em qualquer paciente que apresente cólica renal ou dor no flanco, com ou sem hematúria, particularmente se o paciente tiver história prévia de litíase. Esses pacientes devem ser submetidos a exames laboratoriais e de imagem dos rins, ureteres e bexiga para confirmar a presença de um cálculo e avaliar sinais de obstrução urinária. Exames laboratoriais: obtém-se um painel metabólico básico para avaliar a função renal e um exame de urina para avaliar hematúria e sinais de infecção do trato urinário. Embora a piúria possa estar presente mesmo na ausência de bacteriúria, a combinação de piúria e teste positivo para nitritos no exame de urina deve levantar a suspeita de infecção concomitante do trato urinário. Diagnóstico por imagem: Pacientes com suspeita de nefrolitíase devem ser submetidos a um estudo de imagem para determinar se há uma pedra nos rins e para avaliar sinais de obstrução urinária (por exemplo, hidronefrose). Se um cálculo for detectado, o tamanho e a localização do cálculo são usados para prever a probabilidade de passagem espontânea e orientar o manejo. Além disso, a densidade e a aparência de um cálculo na tomografia computadorizada (TC) às vezes podem ser usadas para prever sua composição mineral, o que é importante para informar o tratamento. A passagem recente de um cálculo ureteral também pode ser sugerida por achados de imagem de dilatação pieloureteral, às vezes acompanhada de encalhe perinéfrico. Letícia Teixeira Santos APG – 4º Período Medicina – FAHESP/ IESVAP - TC de abdome e pelve sem contraste realizada com protocolos de baixa dose de radiação é o exame preferido para a maioria dos adultos com suspeita de nefrolitíase. Se a tecnologia de TC não estiver disponível, a ultrassonografia dos rins e da bexiga, às vezes em combinação com a radiografia abdominopélvica, é a opção de segunda linha para a imagem inicial. Essa escolha é determinada por considerações de precisão diagnóstica, dose cumulativa de radiação ao longo do tempo e a necessidade de informações sobre o planejamento do tratamento caso o exame seja positivo. Outras modalidades disponíveis, mas menos utilizadas, para avaliar pacientes com suspeita de nefrolitíase incluem a pielografia intravenosa (PIV) e a ressonância magnética (RM) do abdome e da pelve.; tais modalidades só devem ser usadas se a TC e a ultrassonografia não estiverem disponíveis. Pacientes que podem estar grávidas devem ser submetidas a triagem para gravidez (ou seja, teste de gravidez de urina ou soro) antes de TC ou radiografia abdominal. - A TC de abdome e pelve sem contraste realizada com tecnologia de varredura de baixa dose de radiação detecta de forma confiável a hidronefrose e demonstra a mais alta precisão diagnóstica para nefrolitíase. Se positivo, a TC também descreve com precisão o tamanho e a localização do cálculo para o planejamento do tratamento. Ele também fornece informações precisas sobre o tamanho e o número de outras pedras nos rins. - Determinação da composição do cálculo: A aparência, densidade e localização de um cálculo na TC podem sugerir sua composição. Em geral, cálculos de ácido úrico, cistina e estruvita podem ser diferenciados dos cálculos de oxalato de cálcio. A densidade é medida em unidades Hounsfield desenhando regiões de interesse em imagens de TC. Embora os cálculos de fosfato de amônio de magnésio e cistina sejam frequentemente radiopacos na TC, eles não são tão densos quanto os cálculos compostos de oxalato de cálcio ou fosfato de cálcio. Os cálculos de ácido úrico tendem a apresentar densidade mais baixa do que os cálculos de cálcio. Cálculos grandes na pelve renal favorecem cálculos de estruvita. As pedras de estruvita geralmente têm um componente de carbonato de apatita misturado, que é responsável por sua radiodensidade usual. A nefrocalcinose é mais comumente associada a cálculos de fosfato de cálcio. O rim esponjoso medular com calcificações bilaterais na junção corticomedular está associado a cálculos de oxalato de cálcio ou fosfato de cálcio. Os cálculos que são radiotransparentes, que podem passar despercebidos mesmo na TC, são compostos de inibidoresde protease (por exemplo, indinavir , atazanavir ), xantina ou dihidroxiadenina. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Várias condições podem imitar a dor no flanco causada por nefrolitíase: - O sangramento dentro do rim pode produzir coágulos que se alojam temporariamente no ureter. Assim, o carcinoma de células renais pode apresentar cólica renal. Em comparação, o sangramento glomerular não leva à formação de coágulos ou sintomas de cólica renal. - A pielonefrite frequentemente se apresenta com dor no flanco, febre e piúria. A febre é incomum em pacientes com litíase não complicada. - A dor devido a uma gravidez ectópica pode ocasionalmente ser confundida com cólica renal. A causa subjacente da dor geralmente pode ser esclarecida através da obtenção de uma ultrassonografia renal e pélvica - A ruptura ou torção de um cisto ovariano pode apresentar dor no flanco. Esses pacientes geralmente podem ser identificados com ultra-som. - A dismenorreia, que raramente se apresenta com dor no flanco, começa imediatamente antes ou concomitante ao início da menstruação. No cenário clínico correto, a dismenorreia é diagnosticada após a exclusão de outros distúrbios. - Obstrução intestinal aguda, diverticulite ou apendicite podem se apresentar com cólica, mas geralmente não em associação com hematúria. Além disso, náuseas e vômitos são característicos de obstrução intestinal e cólica renal, enquanto a sensibilidade abdominal é característica de diverticulite e apendicite, mas não de nefrolitíase. - A cólica biliar e a colecistite podem estar associadas à dor no flanco, mas geralmente não estão associadas à hematúria. - A isquemia mesentérica aguda raramente produz dor abdominal que pode ser confundida com cólica renal; além disso, a isquemia mesentérica está Letícia Teixeira Santos APG – 4º Período Medicina – FAHESP/ IESVAP frequentemente associada à acidose metabólica, mas não à hematúria. - O herpes zoster pode produzir dor no flanco, mas geralmente é acompanhado de erupção cutânea e não de hematúria. - Indivíduos que procuram atenção ou narcóticos podem fingir ter cólica renal e podem ter hematúria auto-infligida. Além disso, pode haver indivíduos em busca de drogas que realmente têm pedras nos rins, mas estão no rim e não estão obstruindo. A nefrolitíase geralmente pode ser distinguida dos distúrbios listados acima após a realização de um teste radiológico confirmatório (geralmente uma tomografia computadorizada sem contraste [TC]). TRATAMENTO O tratamento da fase aguda inclui a analgesia na cólica renal, hidratação e as intervenções cirúrgicas ou não- cirúrgicas para eliminação dos cálculos. Na cólica renal pode-se fazer analgesia, administrar anti-inflamatórios não esteroidais, bloqueadores alfa-l- adrenérgicos para relaxar a musculatura lisa ureteral. Pacientes apresentando rim obstruído e com infecção é uma emergência urológica, sendo indicado descompressão imediata do sistema coletor através de drenagem percutânea ou cateterização uretral. Para os pacientes com cálculos ureterais que aguardam a eliminação espontânea, comprimidos ou supositórios de AINEs (por exemplo, diclofenaco sódio 100-150mg, durante 3-10 dias) podem auxiliar a reduzir a inflamação e o risco de dor recidivante. Os agentes alfa- bloqueadores, administrados diariamente também reduzem o número de cólicas recidivantes. Tansulosina foi o agente alfabloqueador mais comumente utilizado nos estudos, com melhores resultados. A tansulosina é indicada para cálculos >5 and ≤10 mm, na dose de 0,4 mg , via oral, uma vez ao dia, até a passagem do cálculo ou durante 4 semanas. Já na intervenção urológica com cálculos menores do que 10 mm que possuem chances de serem eliminados espontaneamente, não há necessidade de terapia intervencionista. Os cálculos de ácido úrico podem ser dissolvidos com terapia clínica. A litotripsia com ondas de choque extracorpórea (LOCE) é mais indicada quando existe cálculo de ácido úrico ou estruvita na junção ureteropélvica. Um cateter é introduzido até o ureter, deslocando o cálculo e então as ondas são aplicadas. Essa intervenção é contraindicada em caso de gravidez, aneurisma aórtico ou de artéria renal, hipertensão grave, uso de marca-passo e cálculos coraliformes. A cistoureteroscopia com ureteroscopia rígida é usado para retirar cálculos no ureter distal, com semi-rigida é indicada para retirar cálculos no ureter médio e flexível para retirar cálculos no ureter proximal e na pelve renal. A nefrolitotomia percutânea está indicada para os cálculos maiores do que 2 cm, coraliformes, localizados no polo renal inferior e refratários à LOCE. É guiada por ultrassom e um nefroscópio é introduzido com fórceps e instrumentação para litotripsia intracorpórea. A nefrolitotomia aberta é realizada em pacientes refratários aos métodos não invasivos ou em casos de cálculos de difícil acesso ou muito extensos. No tratamento da nefrolitíase complicada, ou seja, aquela associada com infecção renal (pielonefrite) ou que causa obstrução ureteral total bilateral ou unilateral em caso de rim único, a primeira intervenção deve ser a da retirada dos cálculos, evitando perda irreversível do parênquima renal e, após isso, trata-se a complicação do quadro. Como medidas gerais para evitar novas crises o aumento da ingestão hídrica com pelo menos 30 mL/kg peso corpóreo é imprescindível. O estímulo à atividade física e orientação dietética com adequação da dieta de acordo com o distúrbio metabólico e ingestões de cálcio e oxalato balanceadas evitando restrição importante de cálcio, também são muito importantes. No tratamento medicamentoso visando a prevenção da recorrência dos cálculos depende do distúrbio Letícia Teixeira Santos APG – 4º Período Medicina – FAHESP/ IESVAP metabólico evidenciado. Os mais utilizados e as principais indicações são: • Tiazídicos: em casos de Hipercalciúria • Inibidor da XantinaOxidase (Allo-purinol): Hiperuricosúria • Citrato de Potássio: em casos de Hipocitratúria, Hiperuricosúria, Acidose Tubular Renal, podendo também ser utilizado em casos de Hipercalciúria. Está contraindicado em caso de infecção urinária associada. Com a observação que todas as medicações devem ser utilizadas as menores dose possíveis necessárias para o controle das alterações metabólicas, com o mínimo de efeitos colaterais. PROFILAXIA Certas medidas preventivas são aplicáveis a todos os pacientes com cálculos renais, independentemente do tipo de cálculo ou risco individual. Ingestão de líquidos: Para todos os pacientes com cálculos renais, sugerimos ingestão de líquidos suficiente para produzir consistentemente pelo menos 2 litros de urina por dia. O risco de formação de cálculos pode ser afetado pelo tipo de bebida consumida, sendo certos tipos de bebidas mais ou menos benéficos para a prevenção de cálculos renais. A água é uma escolha ideal, mas outras bebidas não calóricas também são eficazes. Aconselha-se os pacientes a evitar bebidas que contenham calorias, como refrigerantes adoçados, para evitar ganho de peso com o aumento geral da ingestão de líquidos. Medidas de dieta e estilo de vida: Limitar a ingestão de sódio: Para todos os pacientes com cálculos renais, sugerimos limitar a ingestão de sódio na dieta abaixo de 100 mEq (2300 mg) por dia. O cálcio é reabsorvido passivamente no túbulo proximal ao longo do gradiente de concentração favorável criado pela reabsorção de sódio e água. Assim, uma dieta pobre em sódio (80 a 100 mEq/dia) pode aumentar a reabsorção proximal de sódio e cálcio, levando a uma redução na excreção de cálcio. Aumente a ingestãode frutas e vegetais: Alimentos ricos em potássio, principalmente frutas e vegetais, podem ser benéficos. O aumento da ingestão de frutas e vegetais, independentemente dos valores de urina de 24 horas, pode reduzir o risco de formação de cálculos de oxalato de cálcio, particularmente em pacientes que optam por uma dieta pobre em frutas e vegetais. Este benefício é principalmente o resultado do aumento da excreção de citrato. Perda de peso: O controle de peso pode ser útil na prevenção da recorrência de cálculos, uma vez que obesidade e ganho de peso são fatores de risco para cálculos renais, principalmente em mulheres. No entanto, não há ensaios clínicos que tenham demonstrado que a perda de peso reduz o risco de cálculos recorrentes. REFERENCIAS CURHAN, Gary C. Kidney stones in adults: Diagnosis and acute management of suspected nephrolithiasis. Uptodate. 2022. CURHAN, Gary C. Kidney stones in adults: Epidemiology and risk factors. Uptodate. 2021. CURHAN. Gary C. Kidney stones in adults: Prevention of recurrent kidney stones. Uptodate. 2021. GOMES, Pedro Neto et al. Profilaxia da litíase renal. Acta Urol, v. 22, n. 3, p. 47-56, 2005. Moore, Keith L.; DALLEY, Arthur F.. Anatomia orientada para a clínica. 6 ed. Rio De Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.A., 2011. PACHALY, Maria Aparecida; BAENA, Cristina Pellegrino; CARVALHO, Mauricio de. Tratamento da nefrolitíase: onde está a evidência dos ensaios clínicos?. Brazilian Journal of Nephrology, v. 38, p. 99-106, 2016. RODRIGUES FILHO, Sérgio Antônio Saldanha; MENEZES FILHO, Jonas Rodrigues de; NASCIMENTO, Gabrielle Alessandra Socorro do. Perfil epidemiológico e métodos diagnósticos de pacientes com nefrolitíase, atendidos no Serviço de Urologia da Fundação Hospital Adriano Jorge nos anos de 2010 a 2012, na cidade de Manaus-Amazonas. 2019.
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