Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ana Laura Octávio - TXXII PROVAS PARA ANÁLISE DA FUNÇÃO RENAL IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO RENAL - A avaliação da função renal é de extrema importância na prática clínica, tanto para o diagnostico quanto para o prognóstico e monitoração das doenças renais. - Neste contexto, a participação do laboratório é de grande importância, uma vez que a maior parte das doenças renais só se manifesta clinicamente quando mais de 50% a 75% da função renal está comprometida. PRINCIPAIS PROVAS UTILIZADAS PARA A AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO RENAL - Creatinina sérica (teste mais utilizado). - Ritmo de filtração glomerular (melhor marcador de função renal). - Clearance de creatinina. - Cistatina C. - Ureia. CREATININA - A creatinina é um produto residual da creatina e da fosfocreatina oriunda do metabolismo muscular e da ingestão de carne. - Produzimos creatina no nosso organismo (produção limitada – autorregulação). - Aproximadamente 98% da creatina é mantida no músculo e 1,6% a 1,7% é convertida em creatinina por dia, que é rapidamente excretada pelo rim. - Desta forma, a produção e liberação de creatinina pelo músculo são praticamente constantes. - A geração é diretamente proporcional à massa muscular, que varia de acordo com a idade, sexo e etnia e é afetada por condições que causam perda muscular (quanto maior a taxa muscular, maior a creatinina). - O consumo de carne pode elevar o nível de creatinina porque a carne contém creatina, que pode ser convertida em creatinina pelo cozimento. - Além de filtrada é também secretada pelos túbulos renais: 75% da creatinina é filtrada e não reabsorvida (passa pelo glomérulo e vai embora) e 25% da creatinina é secretada. - Em repouso: creatina + energia + fosfato → fosfocreatina. - Diminuição de ATP no organismo: creatina quinase quebra fosfocreatina, liberando creatina e energia + fosfato (energia + fosfato se ligam na molécula de ADP → ATP). Creatina liberada perde água, transformando-se em creatinina. VANTAGENS E DESVANTAGENS DA DOSAGEM DE CREATININA VANTAGENS - Fornece informação sobre o RFG (constância na formação e excreção). - Realizada em todo e qualquer laboratório clínico. - Oferece boa precisão e custo adequados. DESVANTAGENS Ana Laura Octávio - TXXII - É passível de interferências e outros problemas: ▪ Método de Jaffé – Interferência positiva, in vitro, [cefalosporinas, corpos cetônicos e proteínas plasmáticas (- 0,25)] e negativa (bilirrubina). ▪ Métodos enzimáticos – in vitro (N-acetilcisteína e dipirona). - O exercício enérgico e refeições com elevado conteúdo de carne, são causas de excreção de creatinina significativamente aumentada. - Os valores de referência da creatinina variam com a massa muscular (crianças, mulheres e homens adultos). - Não é um bom marcador de doença renal crônica: os níveis séricos de creatinina não são marcadores sensíveis da função renal real em doença renal crônica (redução superior a 50% na ultrafiltração glomerular antes que ocorresse aumento na creatinina sérica - > 1,4 mg/dl) OUTRAS SITUAÇÕES DE HIPERCREATINEMIA - PRÉ-RENAIS: Necrose e atrofia dos músculos esqueléticos (traumatismos, distrofias musculares de progressão rápida, poliomielite, miopatias crônicas etc.). - PÓS-RENAIS: Obstruções urinárias (Afecções da próstata, bexiga ou ureter, nefrolitíase, estenose uretral etc.). Causas pós renais: após os rins (em outras estruturas do sistema urinário, exemplo: ureteres). RITMO/TAXA DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR - RFG A DETEMRINAÇÃO DO RITMO DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR - O RFG pode ser medido de forma precisa utilizando-se marcadores de filtração ou através do uso de equações estimativas. - Principais marcadores utilizados: ▪ Inulina. ▪ Iotalamato-I125. ▪ Ácido etilenodiaminotetra-acético-Cr51 (EDTA-Cr51). ▪ Ácido dietilenotriaminopenta-acético-Tc99m (DTPA-Tc99m). ▪ Ioexol (2). DESVANTAGENS DOS MARCADORES DO RFG - Alto custo. - Execução trabalhosa (envolve internação do paciente). - Uso de radiatividade (manuseio especial). - Disponibilidade limitada. O USO DE FÓRMULAS PARA ESTIMAR O RFG E A DEPURAÇÃO DA CREATININA - Tem sido defendido por muitos autores. Ana Laura Octávio - TXXII - Oferecem resultado tão bom quanto ou melhor do que a medida de depuração renal da creatinina. - Não são aplicáveis a pacientes que se encontrem em situação de instabilidade da função renal. CLEARANCE OU DEPURAÇÃO PLASMÁTICA - A taxa em que um soluto é excretado pode ser descrita em termos de depuração (clearance). - O clearance ou depuração é uma medida virtual do volume de plasma depurado pelos rins de um determinado soluto por unidade de tempo. U – Concentração da substância na urina. V – Volume urinário/min P – Concentração da substância no plasma - A depuração de inulina ou a depuração de creatinina podem ser utilizadas para estimar o RFG. - Devido ao fato de a inulina não ser excretada nem reabsorvida, sua taxa de excreção é igual a sua carga filtrada, o que, por definição é igual o RFG multiplicado pela concentração plasmática: Taxa de excreção (carga filtrada) = RFG x [ ] plasmática de inulina - O quanto de plasma está se tornando livre de uma dada substância em uma unidade de tempo. A depuração de creatinina é de 100 ml por minuto (100 ml de plasma, a cada minuto, estão “ficando livre” de creatinina). - Inulina: marcador interessante para avaliar função renal. Injeta inulina no paciente, hidrata o paciente com soro fisiológico e coleta a urina por 24 horas. Pega a urina e dosa a inulina. - Na inulina, a quantidade de carga filtrada é igual a administrada (a mesma quantidade que entra, sai). - Urina por minuto: pega o volume da urina 24 horas e faz regra de três para minuto. - Carga filtrada: quantidade de uma determinada substância que é filtrada por minuto. A UTILIZAÇÃO DE INULINA E DA CREATININA PARA DETERMINAR O RFG - A inulina é utilizada para determinar o RFG devido as suas propriedades, não ser toxica e não alterar o ritmo de filtração. Entretanto, requer internação pois é administrada por via venosa, seguida de infusão continua (inviável). - A creatinina é sintetizada pelo próprio organismo, é livremente filtrada, não é reabsorvida, porém uma pequena quantidade é secretada (25%). OBS.: Secreção é o oposto de absorção. - Como a quantidade de creatinina excretada excede um pouco a quantidade filtrada, a depuração é um pouco maior que o RFG. Mesmo assim, proporciona uma estimativa do RFG. Ana Laura Octávio - TXXII A PROVA LABORATORIAL DE CREATININA versus CLEARANCE DE CREATININA - A dosagem sérica de creatinina é o método mais usado para avaliar a função renal, embora apresente limitações, como interferências na dosagem e baixa sensibilidade na detecção de graus menos avançados de perda de função renal. - Somente após a perda de aproximadamente 50% da função renal é que a creatinina sérica começa a se elevar e não há proporcionalidade entre a perda da função e seus níveis séricos. - Dessa forma, para monitorar a progressão de doença renal através da verificação do RFG ou TFG, a avaliação da depuração endógena da creatinina, medida em urina de 24 horas, constitui uma alternativa mais fidedigna. - Amostras: urina 24 horas, soro ou plasma. - Nas 24 horas que precedem a dosagem o paciente deve se alimentar moderadamente, não usar diuréticos e deve tomar água. - O soro pode ser obtido em qualquer momento do período de coleta da urina. - Mede-se a creatinina na urina, a creatinina plasmática ou sérica, mede-se o volume urinário total e a superfície corporal. - A superfície corporal pode ser calculada pelo método de Dubois ou através de nomograma correlacionando peso e altura. CISTATINA C - A cistatina C pertence a uma superfamília de proteínas inibidoras de proteases cisteínicas (catabolismo intracelular de peptídeos e proteínas,processamento de pró-hormônios, metabolismo do colágeno). - É bastante estável em amostras de soro ou plasma. - É produzida em ritmo constante por células nucleadas, e seu nível plasmático parece não sofrer variações por causas extra-renais. - Síntese não parece ser alterado por coexistência de processos inflamatórios (razoavelmente constante). - É eliminada do plasma por filtração glomerular, sendo quase que totalmente reabsorvida e catabolizada nos túbulos contornados proximais. - Seu nível sérico não difere de forma expressiva entre crianças, mulheres e homens adultos (possível substituto para a creatinina como marcador do RFG). - A sua concentração não é dependente da idade. - Equações para estimar o RFG baseadas na concentração sérica de cistatina C também têm sido propostas e carecem de avaliação. - Ainda não existem dados suficientes sobre a utilidade da cistatina C sérica em algumas condições, especialmente no contexto da doença renal crônica. OBS.: Tem sido bastante estudada, mas na prática clínica não é tão utilizada pois é cara. UREIA - É usada tradicionalmente para verificação da função renal. Ana Laura Octávio - TXXII - Teste facilmente disponível. - Principal metabólito nitrogenado derivado da degradação de proteínas (90% excretado pelos rins e o restante eliminado pelo trato gastrintestinal e pela pele). - Filtrada livremente pelo glomérulo, não reabsorvida nem secretada ativamente. - Preditor fraco da filtração glomerular (40%-70% retornam para o plasma por um processo de difusão passiva tubular, que é dependente do fluxo urinário). - Estase urinária leva a um maior retorno de ureia ainda nos túbulos renais e a uma subestimação da filtração glomerular. - Outras causas de hiperuremia: dieta, a taxa de produção hepática, desidratação, trauma, insuficiência cardíaca congestiva, infecção, depleção de sódio e uso de corticosteroides, diuréticos ou tetraciclinas. - Níveis plasmáticos da ureia decorrentes de insuficiência renal surgem mais precocemente quando comparados à creatinina. - A principal utilidade clínica da ureia consiste na determinação da razão ureia: creatinina, particularmente útil em pacientes com quedas abruptas da taxa de filtração glomerular (TFG): ▪ Em condições normais: a relação ureia: creatinina ≅ 30 Valores > 40-50: contração do volume extracelular (desidratação, insuficiência cardíaca congestiva, estados febris prolongados e uso inadequado de terapia diurética por via intravenosa). - Classificação da hiperuremia: ▪ PRÉ- RENAIS – choque traumático, choque hemorrágico, infecção aguda, ICC, catabolismo proteico aumentado etc. ▪ RENAIS – Nefrites, Pielonefrites, Insuficiência renal Aguda ou Crônica, Glomerulonefrite (aguda e crônica), Nefropatias malignas, Necrose tubular aguda, Bloqueio dos túbulos etc. ▪ PÓS-RENAIS – Obstrução ureteral por cálculos ou compressão (tumores pélvicos), Tumores compressivos da bexiga, Defeitos congênitos da bexiga ou da uretra, Obstrução prostática (tumor de próstata), Estenose uretral etc. - Se o fluxo é lento (TFG), a ureia é mais facilmente reabsorvida.
Compartilhar