Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE PATOLOGIA DISCIPLINA DE IMUNOLOGIA PROVA FINAL DE IMUNOLOGIA Prova realizada em conjunto pelos alunos Alice Morschbacher, Erick Zava, Evelin Soeiro Santana, Gustavo Conde Moura Pereira, João Pedro da Paixão, Lívya Soares de Jesus Pereira e Lucas Araújo Limongi Horta, da centésima oitava turma de medicina para composição parcial da nota da disciplina de Imunologia (PAT14362) ministrada pelo professor Daniel Claudio de Oliveira Gomes. Vitória,ES 2022 1) É possível a existência de respostas de hipersensibilidade imediata e retardada ao mesmo antígeno? Explique. Sim. Para que a hipersensibilidade imediata (tipo I) ocorra, o antígeno entra em contato pela primeira vez com células Th2 que reagem ao produzir IL-4. Essa citocina irá fomentar a diferenciação e liberação de IgE, as quais se ligarão a mastócitos. Caso o contato não seja cessado rapidamente com o antígeno, uma contínua exposição rapidamente causará a ligação dele ao complexo IgE-mastócito, fazendo com que haja a degranulação de substâncias pró-inflamatórias. O mecanismo da hipersensibilidade tardia (tipo IV) concerne na ação de células T e monócitos e/ou macrófagos. Nela os linfócitos T são sensibilizados nos tecidos linfóides secundários por células dendríticas, as quais carreiam antígenos ou sensibilizadores. Os linfócitos T CD4 ativados secretam citocinas que promovem inflamação e ativam leucócitos, principalmente os neutrófilos e macrófagos (que geram uma reação de fase tardia, como na hipersensibilidade tipo I). Já os linfócitos T CD8 ativados possuem ação citotóxica, que provoca lise celular direta ao alvo e lesões nos tecidos. As lesões da hipersensibilidade tardia contém principalmente monócitos e algumas células T. As linfocinas importantes envolvidas na reação de hipersensibilidade tardia incluem o fator quimiotático dos monócitos, interleucina-2, interferon-gama, TNF alpha/beta, entre outros. Assim, observa-se que os mecanismos imunológicos dos dois tipos de hipersensibilidade supracitados podem responder ao mesmo antígeno. Além disso, ambos tipos são desencadeados por antígenos que podem ser iguais ou da mesma classe bioquímica, não havendo interferência no papel efetivo dos dois. A asma, por exemplo, é um tipo de doença que ilustra uma resposta imune imediata e tardia a um mesmo estímulo. Nesse caso, o processo atópico dessa doença ocorrerá com a ativação de mastócitos ligados a IgE (componente da hipersensibilidade do tipo I), bem como por TH2 ativadas pelos alérgenos que, juntos, irão recrutar basófilos, eosinófilos e outras células TH2 para o processo. O processo crônico dessa doença, por sua vez, pode ocorrer sem a ativação dos mastócitos, havendo reações mediadas por linfócitos TCD4, caracterizando o segundo tipo de hipersensibilidade tardia. . REFERÊNCIAS: Boonpiyathad, T., Sözener, Z. C., Satitsuksanoa, P., & Akdis, C. A. (2019). Immunologic mechanisms in asthma. Seminars in Immunology, 101333. doi:10.1016/j.smim.2019.101333 Microbiology/Virology/Immunology/Bacteriology/Parasitology Text Book On-line. Disponível em: <https://microbiologybook.org/book/immunol-sta.htm>. Acesso em: 28 mar. 2022. 2) De que maneira a seleção de linfócitos T e a tolerância central estão associados? A tolerância central é o mecanismo pelo qual novas células T e células B não se tornam reativas em relação aos antígenos do próprio indivíduo, presentes nos órgãos linfóides geradores, a medula óssea e o timo. Sendo assim, previne a emergência dos linfócitos com receptores de alta afinidade para os antígenos próprios ubíquos que estão presentes nesses órgãos e provavelmente estão presentes ao longo do corpo. Logo, a seleção de linfócitos T é essencial para o funcionamento adequado da tolerância central. Ela ocorre por meio de dois mecanismos: a seleção negativa e a seleção positiva. Inicialmente no timo, os timócitos (precursores de células T) não expressam CD4 ou CD8, sendo chamados de timócitos duplo-negativos ou DN. Estas células, então, passam por um processo de sucessivas divisões celulares, de modo que aqueles que apresentam um rearranjo em seus genes que expressam TCR irão progredir para o próximo estágio e expressar CD4 e CD8 simultaneamente. Esses timócitos duplo-positivos (DP) CD4+CD8+ imaturos começam a reunir cadeias TCR α e expressam receptores de células T (TCR). Estes timócitos DP, então, passarão pelos processos de seleção positiva e negativa, das quais apenas 5% irá sobreviver. Na seleção negativa, principal mecanismo da tolerância central, se um linfócito T imaturo (timócito) interage fortemente com um antígeno próprio, apresentado como um peptídeo ligado a uma molécula do complexo maior de histocompatibilidade (MHC), este linfócito recebe sinais que estimulam a apoptose, e as células morrem antes de poderem completar o processo de maturação. Os antígenos que induzem a seleção negativa podem incluir proteínas que são abundantes em todo o corpo, como proteínas plasmáticas e proteínas celulares comuns. Desse modo, muitas proteínas próprias que eram vistas como sendo expressas principal ou exclusivamente nos tecidos periféricos são atualmente expressas em algumas das células epiteliais do timo. Uma proteína chamada AIRE (que tem a função de regulador autoimune) é responsável pela expressão tímica de muitos desses outros antígenos protéicos restritos aos tecidos periféricos. Algumas células T CD4+ imaturas que reconhecem antígenos próprios no timo não morrem, mas se desenvolvem em células T reguladoras e entram nos tecidos periféricos. Não se sabe ainda o que determina se a célula T do timo que reconhece o antígeno próprio morrerá ou se transformará em uma célula T reguladora. Na seleção positiva, eles interagem com células epiteliais de modo que entram em contato com peptídeos de proteínas endógenas ligadas às moléculas de MHC. Caso haja o reconhecimento das moléculas de MHC por um linfócito T DP, este receberá um sinal de sobrevivência. Experimentos têm demonstrado que linfócitos T são submetidos à seleção positiva pela interação com MHC próprios, preparando-os para a ativação subsequente por complexo peptídeo não próprio/MHC próprio, indicando o benefício biológico da seleção positiva. Esta interação também é importante para determinar se um linfócito se tornará T CD4 ou CD8. Portanto, podemos concluir que o processo de seleção de linfócitos T, sobretudo a seleção negativa, está intrinsecamente associado à tolerância central. REFERÊNCIAS: ROITT, Ivan Maurice; BROSTOFF, Jonathan; MALE, David K. Imunologia. 6. ed. São Paulo(SP): Manole, 2003. ABBAS, Abul K.; LICHTMAN, Andrew H; PILLAI, Shiv. . Imunologia celular & molecular. 6. ed. Rio de Janeiro (RJ): ELSEVIER, 2008 MURPHY, Kenneth et al. Imunobiologia de Janeway. 8. ed. Porto Alegre(RS): Artes Médicas, 2014. 3) Qual função dos anticorpos pode ser alterada com a mutação na sequência de aminoácidos a região hipervariável da cadeia pesada? As regiões hipervariáveis são três segmentos das regiões variáveis (V) da cadeia pesada e da cadeia leve que apresentam maior diversidade, o que permite as principais diferenças de sequência e de variabilidade entre os anticorpos. Cada uma das regiões hipervariáveis é formada por 10 resíduos de aminoácidos. As regiões hipervariáveis de um domínio VL (região variável da cadeia leve) e as regiões hipervariáveis de um domínio VH (região variável da cadeia pesada) ficam unidas para criar uma superfície de ligação ao antígeno. Nesse sentido, a região hipervariável compõe a porção Fab (fragmento de ligação ao antígeno) do anticorpo, que é a parte que se liga ao antígeno. Sendo assim, mutações na sequência de aminoácidos da região hipervariável da cadeia pesada causariam a perda de funções do anticorpo, como a opsonização, a neutralização e a ativação do complemento. Isso se deve ao fato de que não haverá ativação de respostas do anticorpo caso não haja a ligação do anticorpo ao antígeno devido às mutações. REFERÊNCIAS: ABBAS,Abul K.; et. al. Imunologia Celular e Molecular. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda. 2015. 4) A infecção de um indivíduo por Leishmania chagasi levou a formação de anticorpos específicos contra o parasito, mas que também foram capazes de reconhecer antígenos expressos em T. cruzi e P. vivax. Com base nas informações, marque V OU F. (0.4 cada) (F) A resposta imune humoral, diferentemente da celular, não apresenta especificidade para antígenos. (F) Os anticorpos produzidos tinham a função de proteção total e por isso eram específicos para todos os antígenos testados (V) Os patógenos testados em questão apresentavam epítopos semelhantes que possibilitaram o reconhecimento pelo Ac (F) O reconhecimento dos antígenos pelos anticorpos produzidos ocorreu de forma igual, com a mesma avidez e afinidade (V) O indivíduo ficará imune contra infecção por T. cruzi, P. vivax e L. chagasi REFERÊNCIAS: VIEIRA, Gustavo Fioravanti. Peptídeos virais imunogênicos como determinantes de reatividade cruzada no sistema imune. 2008. https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/14353/000657205.pdf?...1 LUCIANO, Raquel Martins et al. Avaliação da reatividade cruzada entre antígenos de Leishmania spp e Trypanosoma cruzi na resposta sorológica de cães pela técnica de imunofluorescência indireta (RIFI). Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, p. 181-187, 2009. https://repositorio.unesp.br/handle/11449/71445 ABBAS, Abul K.; PILLAI,Shiv; LICHTMAN, Andrew H.. Imunologia: Celular e Molecular. 9. ed. Rio De Janeiro: Editora Elsevier Ltda, 2019 https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/14353/000657205.pdf?...1 https://repositorio.unesp.br/handle/11449/71445 5) Toda célula nucleada do organismo tem capacidade de processar e apresentar antígenos produzidos em seu interior para células TCD8+. O motivo pelo qual não desenvolvemos resposta imune contra constituintes normais da célula é porque tais constituintes não são degradados nas células. Justifique. (2,0) Resposta: As moléculas do MHC rotineiramente ligam peptídeos das próprias proteínas, as quais estão, de forma contínua, sendo degradadas nas células, e os apresentam na superfície celular. Assim, apesar de constituintes normais da célula serem degradados nos proteassomos e apresentados via MHC1 às células TCD8, existem mecanismos de tolerância que impedem que o sistema imune reaja contra os próprios tecidos, o que previne que esses peptídeos próprios iniciem uma resposta imune. Justificativa: Toda célula nucleada do organismo tem capacidade de processar e apresentar antígenos produzidos em seu interior para células TCD8+: Todas as células nucleadas expressam o MHC de classe I e, portanto, são capazes de induzir a resposta de células T CD8+. Esse mecanismo objetiva a eliminação de antígenos/patógenos no meio intracelular, como nos casos de infecção viral, bacteriana ou em tumores com peptídeos alterados. As APCs incorporam antígenos protéicos por fagocitose para a ativação de linfócitos T CD8+ naive, ao passo que as demais células demandam a atividade citotóxica do linfócito para eliminar o antígeno do citoplasma. Como o antígeno protéico é processado? O processamento de antígenos via MHC classe I ocorre do mesmo modo entre células APCs e outros tipos. No citosol, é degradado por meio da digestão de proteassomos e seus fragmentos, de aproximadamente 8 resíduos de aminoácidos, são transportados para o interior do retículo endoplasmático. Na organela, o peptídeo é exposto ao MHC classe I associado à membrana. Em seguida, o complexo peptídeo-MHC classe I é transportado via transmembrana até o complexo de Golgi e, sucessivamente, expresso na superfície da célula. Qual é o motivo pelo qual não desenvolvemos resposta imune contra constituintes normais da célula? A maioria dos peptídeos que são exibidos normalmente pelas APCs derivam de proteínas próprias. A incapacidade das moléculas do MHC de discriminar entre peptídeos próprios e estranhos levanta o questionamento acima. A resposta é que os complexos de autopeptídeo-MHC não induzem autoimunidade porque as células T específicas para esses complexos são destruídas ou inativadas. De fato, as células T com receptores para autoantígenos devem reconhecer autopeptídeos exibidos por moléculas do MHC próprias, para então serem eliminadas ou tornadas irresponsivas. Esses mecanismos tornam as células T, de forma geral e desconsiderando condições patológicas, tolerantes aos autoantígenos. Tendo isso em vista, a fim de evitar respostas autoimunes de células T CD8+, proteínas de todos os tecidos são expressas no timo no processo de seleção negativa. As células epiteliais do estroma tímico expressam o fator de transcrição AIRE, o qual permite a transcrição e a tradução de proteínas de todo o genoma. Em seguida, a proteína é processada via MHC classe I e expressa na superfície da célula para que linfócitos T CD8+ autoimunes possam reconhecê-la e prosseguir com a seleção negativa. Nesse momento, a célula pode se tornar um linfócito T regulador, sofrer apoptose ou entrar em anergia. As células que não reconhecem os autoantígenos são liberadas do timo para os tecidos linfóides periféricos. No timo, as proteínas próprias não são degradadas nas células para demandar a atividade citotóxica, mas, sim, são expressas via MHC classe I para regular a atividade autoimune de linfócitos T CD8+. REFERÊNCIAS: MURPHY, K.; TRAVERS, P.; WALPORT, M.. Imunobiologia de Janeway. 8. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2014. ABBAS, Abul K.; PILLAI,Shiv; LICHTMAN, Andrew H.. Imunologia: Celular e Molecular. 9. ed. Rio De Janeiro: Editora Elsevier Ltda, 2019. ROITT, Ivan Maurice; BROSTOFF, Jonathan; MALE, David K. Imunologia. 6. ed. São Paulo: Manole, 2003.
Compartilhar