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Anemias (falciforme e carenciais), metabolismo do ferro, anemia falciforme e hemograma

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Guilherme Rios – Módulo II – p6 
 
1. ENTENDER O METABOLISMO DO FERRO: 
METABOLISMO DO FERRO: 
→ O ferro faz parte do grupo heme, que integra numerosas proteínas do organismo, como citocromos, 
citocromo oxigenase, peroxidases, catalase, mioglobina e hemoglobina. 
→ Por ser um metal pesado, o FERRO LIVRE é quase insolúvel e bastante tóxico. 
 ○ Nesse sentido, necessita sempre estar ligado a proteínas de transporte ou funcionais durante 
todo o seu ciclo metabólico. 
 
→ HEMOGLOBINA: 
 ○ Principal forma funcional de ferro no organismo. 
○ Mais de 2/3 (±80%) do conteúdo de ferro do organismo encontra-se incorporado à molécula de 
hemoglobina. 
○ Principal depósito de ferro do organismo. 
○ 1ml de concentrado de hemácia apresenta cerca de 1 mg de ferro. 
 
 → MIOGLOBINA: 
 ○ Apresenta estrutura semelhante à hemoglobina, sendo, entretanto, um monômero e não um 
tetrâmero. 
 ○ Essa estrutura funciona como uma proteína de depósito de oxigênio nos músculos, de onde o 
O2 é liberado durante o exercício. 
 ○ É encontrada em todas as células dos músculos estriados esqueléticos e cardíaco. 
 ○ O organismo humano contém um total de ≅300 mg de ferro na mioglobina (±20% do total). 
 
OBS: As demais formas de ferro funcional nos tecidos (citocromo e enzimas) representam 0,5% do total 
de ferro do organismo. 
OBJETIVOS: 
1. Entender o metabolismo do ferro. 
2. Compreender o hemograma normal. 
3. Caracterizar as anemias carenciais. 
4. Elucidar a anemia falciforme (epidemiologia, fator de risco, etiopatogenia, quadro clínico, 
diagnóstico e tratamento). 
5. Diagnosticar todos os envolvidos no caso clínico. 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
→ FERRITINA: 
 ○ Proteína presente no citoplasma da maioria das células. 
 ○ Tem a importante função de armazenamento do ferro (estoca até 4.500 átomos de ferro). 
 ○ É composta por 24 subunidades, com dois subtipos denominados H (Heavy ou Heart) e L (Light 
ou Liver), codificados por genes localizados nos cromossomos 11q e 19q, respectivamente. 
 ○ Uma pequena quantidade de ferritina é secretada e liberada no soro, a FERRITINA SÉRICA. 
 • Essa quantidade está correlacionada com o estoque total de ferro no organismo. 
 • Por esse motivo, a dosagem de ferritina plasmática é importante para avaliar os depósitos 
de ferro no organismo. 
 
→ HEMOSSIDERINA: 
 ○ Apresenta função de armazenamento de ferro no organismo. 
OBS: É mais rica em ferro que a ferritina. 
 ○ Corresponde a um agregado heterogêneo de ferro, componentes do lisossomo e outros produtos 
da digestão intracelular. 
 ○ Ela restringe-se aos macrófagos da medula óssea, do fígado e baço. 
○ Essa forma pigmentada de armazenamento corresponde a uma pequena fração do ferro de 
estoque, a qual pode se encontrar dramaticamente aumentada quando há sobrecarga de ferro. 
 
OBS: O ferro, apesar de em menor quantidade, também pode ser depositado em células da medula óssea, 
como os ERITROBLASTOS, nos quais pode ser possível observar a presença de um a três grânulos no seu 
citoplasma (denominados “sideroblastos”), os quais estão ausentes na deficiência de ferro. 
 
 
 
 
 
 
 
→ REUTILIZAÇÃO DO FERRO: 
 ○ A destruição de hemácias senescentes ocorre nos macrófagos, principalmente do Baço 
(hemocaterese) e medula óssea. 
 ○ O macrófago irá reconhecer certas modificações bioquímicas presentes na membrana 
(resultado do envelhecimento eritrocitário). 
 ○ Tanto o ferro dos depósitos quanto aquele liberado pela destruição das hemácias são 
reutilizados para a síntese de hemoglobina. 
 ○ Dessa maneira, o ferro é transferido para os eritroblastos em desenvolvimento. 
 ○ Essa mobilização do ferro dos depósitos torna possível a reutilização de 25 a 30mg de 
ferro/dia, o que corresponde à necessidade diária de ferro para a eritropoese. 
 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
→ QUANTIDADE DE FERRO: 
 
DIETA E ABSORÇÃO DE FERRO: 
→ A absorção de ferro ocorre no intestino e é regulada finamente em resposta às alterações da 
necessidade de ferro pelo corpo, logo, quanto maior a demanda, maior a absorção (condições normais). 
→ Em geral, é ABSORVIDO 0,5-2,0 mg/dia, quantidade que compensa as perdas, principalmente 
resultantes da descamação de células, crescimento e, no caso das mulheres, das perdas sanguíneas 
menstruais. 
→ A absorção do ferro depende de fatores como: 
 ○ Depósito corporal de ferro. 
 ○ Hipóxia. 
 ○ Ritmo de eritropoese. 
 
OBS: Uma dieta bem equilibrada contém 10-20 mg de ferro/dia, dos quais cerca de 10% é absorvido. 
 
→ QUANTIDADE DE FERRO DA DIETA: 
 ○ É variável e depende da composição. 
 ○ Alimentos mais ricos em ferro são: 
 • Fígado, carne e vegetais, como feijão e espinafre. 
 ○ Alguns componentes formam complexos com o ferro que retardam/dificultam a sua absorção, 
como: 
• Fitatos (p.ex., lentilha, farelo de trigo, amêndoa, soja, trigo), oxalatos (p. ex., beterraba, 
batata doce, tomate) e fosfatos (p. ex., semente de girassol e de abóbora, sardinha, frutas secas). 
 
 ○ Algumas substâncias redutoras, por sua vez, facilitam a absorção do ferro, como: 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
• Hidroquinona, ácido ascórbico (vit. C), sorbitol (adoçante artificial, presente também em 
alimentos como o pêssego, maçã, cereja, chocolate e pera), lactato, piruvato e frutose. 
 
→ A FORMA como o ferro está presente no alimento determina uma maior ou menor facilidade de 
absorção no tubo intestinal. 
 ○ FERRO HEME: 
 • Está presente na carne e no fígado e corresponde a 1/3 do ferro da dieta. 
 • É mais facilmente absorvido. 
 • A proteína HCP1 (Heme Carrier Protein 1) é a responsável pela sua absorção. 
 
 ○ FERRO NÃO HEME (ferro inorgânico): 
 • Forma presente nos vegetais e que apresenta absorção menos eficaz. 
 • A absorção do ferro não heme depende de fatores como a presença de outras substâncias 
(fosfatos, oxalatos, aminoácidos livres) e a produção de ácido clorídrico (HCl) pelo estômago. 
OBS: Para ser absorvido o ferro precisa ser captado pela célula luminal, esse processo é facilitado pelo 
conteúdo ácido do estômago que mantém o ferro em solução. 
 
OBS: A deficiência de ferro, entre outras coisas, é capaz de estimular a absorção de qualquer forma de 
ferro, embora seja menos eficiente no estímulo de absorção do ferro heme. 
 
→ PROCESSO DE ABSORÇÃO DO FERRO: 
 ○ O ferro é absorvido pelas células epiteliais do DUODENO e JEJUNO PROXIMAL a partir das 
vilosidades presentes na sua borda em escova. 
 ○ O ferro necessita atravessar tanto a membrana apical (voltada para o lúmen intestinal), quanto a 
membrana basolateral afim de atingir o plasma sanguíneo. 
 
 ○ TRANSPORTES PELAS MEMBRANAS: 
 • APICAL: 
♦ DMT1 (proteína integral) → Transporta apenas 
matais divalentes (p. ex., Fe2+, Cu2+, Co2+, Zn2+). 
 ♦ Como o FERRO INORGÂNICO está primariamente 
presente na dieta na forma oxidada (Fe3+, ferro férrico), para 
ele ser absorvido pelo DMT1, é necessário que seja reduzido 
pela enzima DcytB (Duodenal cytochrome B) redutase em 
Fe2+ (ferro ferroso). 
OBS: A expressão das proteínas DcytB e DMT1 é influenciada pela 
deficiência de ferro. 
♦ A internalização do FERRO HEME da dieta é feita 
pela proteína carreadora do heme-1 (HCP1), posicionada na 
membrana apical das células do duodeno. Nesse sentido, o 
Fe+2 liga-se à membrana da borda em escova dos enterócitos 
duodenais e a HCP1 o importa para o citoplasma do enterócito. 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
OBS: A HCP1 também é expressa em outros locais como o fígado e rins e sua regulação é feita de acordo 
com o nível de ferro intracelular, ou seja, havendo deficiência de ferro, a HCP1 se redistribui do citoplasma 
para a membrana plasmática das células duodenais, enquanto em condições de excesso de ferro a 
redistribuição se dá a partir da borda em escova da célula para o seu citoplasma. Esse mecanismo regulador 
pós-tradução da proteína é interessante porque, de um lado, aproveita o hemeda dieta antes que ele seja 
eliminado pelo peristaltismo do intestino e, no outro extremo, evita a captação desnecessária de ferro e o 
seu provável acúmulo. A hipóxia também induz a síntese da HCP1, facilitando a captação de heme quando 
há maior necessidade do organismo. 
 
• BASOLATERAL (depende da ação coordenada entre duas proteínas): 
♦ FERROPORTINA (MTP1): É o único exportador celular de ferro, tem papel central 
na homeostase sistêmica desse metal e está presente na mucosa duodenal, nos 
macrófagos, hepatócitos e trofoblastos sinciciais da placenta. 
♦ HEFAESTINA: Possui função de oxidar o ferro (Fe+2 → Fe+3), permitindo o seu 
transporte pela transferrina. (também modula a ferroportina). 
 
OBSERVAÇÕES: 
○ Ao ser captado pelo enterócito, o ferro pode ser transportado ao plasma, ou permanecer armazenado 
no próprio enterócito como ferritina. 
 • A proporção de ferro que segue uma dessas duas vias é determinada quando a célula é formada 
nas criptas do epitélio intestinal. 
○ Se o ferro permanecer na forma de ferritina no enterócito, ele será perdido quando houver a 
descamação e, dessa forma, não será “efetivamente” absorvido. 
 
→ FATORES REGULADORES DA ABSORÇÃO DO FERRO: 
○ BLOQUEIO MUCOSO: 
• Nas células da cripta intestinal, a proteína HFE e o receptor transferrina (TfR) formam um 
complexo HFE-TfR que modula a capacidade absortiva do enterócito que futuramente irá migrar 
para os vilos e se tornará uma célula de absorção. 
• Um dos moduladores da absorção de ferro é a DIETA, dessa forma, quando a dieta é rica 
em ferro, e consequentemente a quantidade de ferritina no interior do enterócito está elevada, 
o complexo HFE-TfR INIBE A CAPACIDADE ABSORTIVA DE FERRO DO ENTERÓCITO (bloqueio 
mucoso). 
• Entretanto, grandes doses de ferro (p. ex., medicação ou intoxicações exógenas) são 
capazes de superar o bloqueio mucoso, e a quantidade absorvida é proporcional à ingerida. 
 
 ○ HEPCIDINA: 
 • É um peptídeo secretado pelo fígado. 
• Sua função na regulação do ferro consiste no controle da expressão da FERROPORTINA. 
• A ligação da hepcidina à ferroportina resulta na internalização e degradação 
lisossomal desta última, com consequente perda de sua função (ocorre tanto no enterócito quanto 
em macrófagos e fígado). 
• Dessa maneira, em situações de sobrecarga de ferro ou inflação há um ↑ de hepcidina e 
consequente ↓ da liberação de ferro a partir dos enterócitos, macrófagos e fígado. 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
• Por outro lado, quando há carência do ferro, anemia ou hipóxia, a expressão de hepcidina 
está reduzida, logo, ocorre maior absorção desse metal. 
 
 ○ REGULAÇÃO HEMATOPOÉTICA: 
 • A absorção do ferro vai depender das necessidades da eritropoese. 
• Eritropoese acelerada → Aumento da absorção de ferro (independentemente do depósito 
corporal). 
 ♦ Esse aumento ocorre devido à supressão da expressão da hepcidina, pela 
ERITROPOETINA (Epo) e pelo GDF15 (Growth Differentiation Factor 15). 
 
TRANSPORTE DE FERRO: 
→ Ao chegar ao plasma, o ferro se liga à TRANSFERRINA (transportadora plasmática de ferro). 
 
OBS: Quando não está ligada ao ferro, a transferrina se chama apotransferrina. 
 
OBS: A transferrina é sintetizada por hepatócitos, monócitos e macrófagos. 
→ A transferrina pode: 
 ○ Receber ferro dos enterócitos e dos depósitos. 
 ○ Liberar ferro para os depósitos, eritroblastos, músculo (síntese de mioglobina) ou para diferentes 
tecidos para a síntese de enzimas e citocromos. 
→ A captação do ferro ligado à transferrina é intermediada pelo receptor da transferrina, o qual pode ser: 
 ○ TfR1: 
 • Amplamente expresso na maioria das células. 
 ○ TfR2: 
 • Expresso apenas nos hepatócitos, células da cripta duodenal e células eritroides. 
 • Sugere papel mais especializado no metabolismo do ferro. 
→ O ferro ligado à transferrina é renovado, no mínimo, dez vezes por dia. 
→ Como o compartimento plasmático tem importante papel no intercâmbio de ferro entre diferentes 
locais, as medidas laboratoriais realizadas no plasma ou soro dão importantes informações sobre o 
metabolismo do ferro (p. ex., concentração de ferro sérico, de transferrina, de ferritina e saturação de 
transferrina [1/3 normalmente e 15-50%]). 
 
ENTREGA DE FERRO AOS TECIDOS: 
→ Quando a transferrina carregada de ferro se liga ao seu receptor (TfR1) ocorre uma invaginação da 
membrana celular, mediada pela capa de CLATRINA, e formação de endossomos contendo o complexo 
transferrina-TfR1. 
→ Já no interior da célula, ocorrem alterações nas proteínas e consequente liberação (em virtude de uma 
bomba de prótons que reduz o pH do endossomo, resultando no desligando do ferro com o complexo) e 
redução do ferro (Fe+3 → Fe+2). 
→ O Fe+2 atravessa a membrana endossomal pela DMT1 e, no citoplasma, é: 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
○ Incorporado à protoporfirina para realizar a síntese do heme (nos eritroblastos) ou 
 ○ Estocado na forma de ferritina/hemossiderina (células não eritroides). 
OBS: A associação do ferro à apoferritina forma a ferritina. 
→ Quando o ferro deixa a membrana endossomal, esta devolve as proteínas (apotransferrina e TfR1) à 
superfície para serem reutilizadas. 
 
HOMEOSTASE INTRACELULAR DO FERRO: 
→ O sistema regulatório IRP/IRE (Iron Regulatory Protein / Iron Responsive Element) permite às células: 
○ Ajustar rapidamente a concentração do ferro citoplasmático. 
○ Adequar o funcionamento dos componentes celulares dependentes de ferro. 
→ As IRP1 e IRP2 são capazes de registrar a concentração de ferro citoplasmático e regular a expressão 
pós-transcricional de genes relacionados ao metabolismo deste metal, otimizando a utilização do ferro 
celular. 
→ Essas proteínas interagem com IRE, que são estruturas localizadas nas regiões não traduzidas do 
RNA mensageiro (mRNA) da ferritina, do TfR e de outras proteínas, aumentando ou diminuindo a 
captação de ferro. 
 
→ Situação de FALTA DE FERRO: 
○ A IRP liga-se ao IRE presente na região 5’ não traduzida do gene da FERRITINA, bloqueando 
sua síntese. 
○ Ao mesmo tempo, a IRP liga-se à IRE da região 3’ não traduzida do gene do RECEPTOR DA 
TRANSFERRINA (TfR), prevenindo sua degradação e aumentando sua expressão. 
 
→ Situação de EXCESSO DE FERRO: 
○ A IRP se separa do IRE da FERRITINA, permitindo sua síntese. 
○ A IRP se separa do IRE do TfR, permitindo sua degradação. 
 
EXCREÇÃO E PERDAS DE FERRO: 
→ O ferro é conservado pelo organismo com grande eficiência, NÃO existindo nenhum mecanismo 
fisiológico para a sua excreção. 
 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
→ PERDAS DIÁRIAS: 
 ○ Descamação do epitélio (liberação por via fecal): Aproximadamente 1 mg/dia (menos de 1 
milésimo do total do organismo). 
 ○ Descamação da pele, epitélio urinário e transpiração. 
 ○ Menstruação normal (em mulheres): Perda de 30-60 ml de sangue por mês, o que corresponde 
a 15-30 mg de ferro por mês (0,5-1,0 mg/dia). 
 
→ AUMENTO FISIOLÓGICO DO CONSUMO: 
 ○ Crescimento, gravidez e lactação. 
 
MEDIDAS LABORATORIAIS DO METABOLISMO DO FERRO: 
→ DOSAGEM DE FERRO SÉRICO (normal: 65-165 µg/dL). 
○ AUMENTO: Sobrecarga de ferro, eritropoese ineficaz. 
○ DIMINUIÇÃO: Deficiência de ferro. 
 
→ FERRITINA SÉRICA (normal: 40-160 µg/L). 
○ AUMENTO: Hemocromatose, sobrecarga transfusional (talassemia maior, anemia falciforme, 
síndrome mielodisplásica). 
○ DIMINUIÇÃO: Deficiência de ferro. 
 
→ COLORAÇÃO HISTOQUÍMICA DE FERRO NA MEDULA ÓSSEA (azul da Prússia) (normal: moderada 
quantidade em depósitos intersticiais, além de 30-40% de eritroblastos com 2-3 grânulos 
citoplásticos). 
○ REDUÇÃO ou AUSÊNCIA: Deficiência de ferro. 
○ AUMENTO: Sobrecarga transfusional, anemia aplástica, síndrome mielodisplásica, anemia 
sideroblástica, hemocromatose, inflamação crônica. 
 
2. COMPREENDER O HEMOGRAMA NORMAL: 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
DEFINIÇÃO: 
→ O hemograma estuda os compostos celulares do sangue.→ É basicamente dividido em: 
 ○ Série vermelha (hemácias). 
 ○ Série branca (leucócitos). 
 ○ Série plaquetária (plaquetas). 
 
SÉRIE VERMELHA: 
 
HEMÁCIAS ou ERITRÓCITOS: 
→ Consiste no número absoluto de eritrócitos na corrente sanguínea. 
→ Essas células são produzidas na medula óssea e só penetram na corrente sanguínea quando 
amadurecem. 
→ As hemácias são desprovidas de núcleo e mitocôndrias, sendo compostas, em sua maioria, por 
hemoglobina e apresentando um formato bicôncavo (meia vida de 90-120 dias). 
→ Avalia o sangue periférico. 
→ Valores de normalidade (quantitativos): 
 ○ HOMENS: 4,5-6,1 x 1012/L (mais elevado que no sexo feminino). 
 ○ MULHERES: 4,1-5,4 x 1012/L. 
→ Alta concentração de hemácias (POLICITEMIA): 
○ Possíveis suspeitas: Policitemia, insuficiência respiratória, desidratação, choque. 
 
→ Baixa concentração de hemácias (OLIGOCITEMIA): 
○ Possíveis suspeitas: Hemorragia, anemias por deficiência nutricional, quadros de hemólise. 
 
OBS: MODIFICAÇÕES QUALITATIVAS DOS ERITRÓCITOS → São importantes para caracterizar o tipo 
de alteração presente nessa linhagem nas várias anemias. 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
HEMOGLOBINA: 
→ Grande carreadora de oxigênio e principal conteúdo da hemácia madura. 
→ Considerada a parte mais importante a ser analisada na série vermelha. 
→ VALORES DE NORMALIDADE: 
○ HOMENS: 12,5-16,5 g/dL ou 14-18 g/dL. 
○ MULHERES: 11,5-15,5 g/dL ou 12-16 g/dL. 
 
RETICULÓCITO: 
→ É uma hemácia jovem, com meia vida de 7 dias, que permanecem no sangue em pequena proporção (1 
a 1,5%). 
→ Contém mitocôndrias e núcleo que são perdidos no amadurecimento. 
→ Revela a atividade medular de produção de eritrócitos. 
→ AUMENTADOS (reticulocitose): 
 ○ Evidencia um estado hiperproliferativos 
○ Reflete uma resposta hematopoiética aumentada. 
○ Possíveis suspeitas: Hemólise contínua ou hemorragia crônica. 
 
→ DIMINUÍDOS: 
 ○ Quando os reticulócitos equivalem < 1% das hemácias. 
○ Evidencia um estado hipoproliferativo. 
 ○ Reflete uma resposta hematopoiética inadequada. 
 ○ Possíveis suspeitas: Anemia aplásica; Invasão medular; Infecção; Quimioterapia e outras causas 
de supressão medular. 
 
ÍNDICES HEMATIMÉTRICOS: 
 
→ HEMATÓCRITO: 
○ Relação do volume ocupado pelos eritrócitos em um certo volume de sangue total. 
○ É expresso em uma fração dos glóbulos por litro de sangue ou em porcentagem (%). 
○ Valores de normalidade: 
• HOMENS: 40-54% ou 41-51%. 
• MULHERES: 36-48% ou 37-47%. 
○ ALTO: 
 • Possíveis suspeitas: Insuficiência cardíaca ou respiratória, policitemia vera, desidratação. 
 
○ BAIXO: 
• Possíveis suspeitas: Diferentes tipos de anemia, hemorragia, hemólise elevada, deficiência 
nutricional, sepse. 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
→ VOLUME CORPUSCULAR MÉDIO (VCM): 
○ Consiste no volume (“tamanho”) médio das hemácias. 
○ Considera-se normal de 80-100 fL (fentolitro → unidade de volume equivalente a 10-15). 
○ MICROCITOSE (<80 fL): 
• Suspeitas: Anemia ferropriva; talassemias; anemia sideroblásticas; anemia de doença 
crônica (tardia); deficiência de cobre. 
 
○ NORMOCITOSE (80-100 fL): 
• Pode ocorrer na: Anemia ferropriva (precoce); Anemia de doença crônica; Perda aguda de 
sangue; Doença renal crônica; Anemia aplásica e supressão medular; Hipotireoidismo; 
Hipopituitarismo. 
 
○ MACROCITOSE (>100 fL): 
• Suspeitas: Abuso de álcool; Deficiência de ácido fólico; Deficiência de vitamina B12; 
Reticulocitose (recuperação de anemias hemolíticas, carenciais e sangramentos); Síndromes 
mielodisplásicas; Leucemia mieloide aguda; Hepatopatia crônica; Medicamentos (p. ex., zidovudina, 
hidroxiureia); Hipotireoidismo. 
 
OBS: MACROCITOSE > 115 fL é quase que exclusivamente causada por deficiência de B12 e/ou ácido 
fólico. 
 
→ HEMOGLOBINA CORPUSCULAR MÉDIA (HCM): 
○ Consiste na concentração de hemoglobina contida na hemácia. 
○ Considera-se normal de 28-34 g/dL de hemácias. 
○HIPOCROMIA (<28): 
 • Suspeitas: Anemia ferropriva; Talassemias. 
 
○ HIPERCROMIA (>34): 
 • Costuma acompanhar macrocitoses. 
 
→ CONCENTRAÇÃO DE HEMOGLOBINA CORPUSCULAR MÉDIA (CHCM): 
 ○ Consiste na concentração de hemoglobina no plasma sanguíneo (Hb/Ht). 
○ Considera-se normal de 31-36 g/dL de hemácias. 
○ < 31: Suspeitar de anemia ferropriva e talassemias. 
○ >36: Suspeitar de esferocitose (hereditária ou adquirida); Doença falciforme e hemoglobinopatia C. 
 
→ AMPLITUDE DE DISTRIBUIÇÃO DAS HEMÁCIAS (RDW): 
 ○ Consiste na variação entre o tamanho das hemácias, ou seja, a presença de ANISOCITOSE. 
 ○ Valor de normalidade: 11-15% 
 
 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
DIAGNÓSTICO DE ANEMIA: 
→ HOMENS: 
 ○ Hemoglobina < 12,5 ou 13 g/dL e/ou hematócrito < 41%. 
 
→ MULHERES: 
 ○ Hemoglobina < 11,5 ou 12,0 g/dL e/ou hematócrito < 37%. 
 ○ Gestantes: < 11 g/dL (no 1º e 3º trimestre) e <10,5 g/dL (no 2º trimestre). 
→ CRIANÇAS: 
 ○ 6 meses-4,9 anos: <11 g/dL. 
 ○ 5-11,9 anos: < 11,5 g/dL. 
 ○ 12-14,9 anos: < 12 g/dL. 
 
SÉRIE BRANCA (LEUCOGRAMA): 
LEUCÓCITOS: 
→ São constituídos por células da linhagem linfoide e mieloide. 
→ Valor de referência: 4.000-10.000 leucócitos/mm3. 
→ Redução (leucopenia): Pode sugerir anemia aplásica. 
→ Aumento (leucocitose): Pode refletir a presença de infecção, inflamação sistêmica ou neoplasia 
hematológica. 
OBS: Situações fisiológicas também podem causar leucocitose (p. ex., gestação). 
 
→ EVOLUÇÃO LINHAGEM MIELOIDE (hematopoese): 
○ Mieloblasto → Promielócito → Mielócito → Metamielócito → Bastonete/Bastões → Segmentados 
(polimorfonucleados). 
→ NEUTRÓFILOS: 
 ○ Representam a maior parte dos leucócitos dos adultos. 
 ○ Aumento (neutrofilia): Pode indicar infecções ou doenças inflamatórias agudas. 
 ○ Diminuição (neutropenia): Pode ser consequente ao tratamento quimioterápico. 
OBS: DESVIO À ESQUERDA 
○ Consiste em um fenômeno em que há o desvio dos neutrófilos às custas de formas mais 
jovens. 
 ○ Bastões > 10% ou >500 células jovens/mm3. 
 ○ Esse desvio à esquerda pode ser: 
• ESCALONADO: Quando se observa uma maior quantidade de células mais maduras e 
menor, de células menos maduras (p. ex., mais neutrófilos, seguido de bastões e assim por 
diante). 
• NÃO ESCALONADO: O desvio não obedece a maturação esperada da célula 
neutrofílica (p. ex., um desvio à esquerda às custas de blastos, como na leucemia aguda). 
 
 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
→ MONÓCITOS (VR: 100-1000 µL) 
 ○ Aumento (monocitose): Pode refletir a presença de síndrome mielodisplásica. 
 ○ Diminuição (monocitopenia). 
 
→ EOSINÓFILOS (VR: 50-500 µL): 
 ○ Aumento (eosinofilia ou eosinocitose): Pode indicar uma infestação parasitária ou alergias. 
 ○ Diminuição (eosinopenia). 
 
→ LINFÓCITOS (VR: 900-4000 µL) 
 ○ Aumento (linfocitose): Infecções crônicas e virais (agudas). 
○ Redução (linfopenia ou linfocitopenia): Pode ser consequente a infecção por HIV ou outros vírus. 
 
→ BASÓFILOS (VR: 0-200/mm3) 
 ○ Aumento (basofilia ou basocitose). 
 
→ PLASMÓCITOS. 
 ○ São linfócitos B diferenciados produtores de anticorpos. 
○ Aumento (plasmocitose). 
 
OBS: A diminuição dos basófilos e dos plasmócitos, isoladamente, não tem significado clínico. 
 
OBS: A avaliação do LEUCOGRAMA deve ser realizada detalhadamente, uma vez que determinadas 
patologias tem um padrão de aumento ou redução de determinada célula, devendo ser observado às custas 
de que o paciente teve uma leucopenia ou leucocitose. 
 
SÉRIE PLAQUETÁRIA: 
PLAQUETAS: 
→ Consistem em fragmentos dos megacariócitos da medula óssea. 
→ Valor de normalidade: 
 ○ 150-400mil plaquetas/mm3. (universal) 
→ PLAQUETOPENIA/TROMBOCITOPENIA: 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
 ○ < 150mil plaquetas/mm3. 
○ Pode sugerir: Anemia aplásica; Supressão medular; Sepse; Deficiência de vit. B12 e ácido fólico; 
CIVD; hiperesplenismo. 
OBS: Abaixo de 70 mil, é preciso utilizar um concentrado de plaquetas para realizar qualquer 
procedimento,uma vez que a chance de sangramentos, nesses pacientes, é extremamente elevada. 
 
→ TROMBOCITOSE/PLAQUETOSE: 
 ○ > 400mil plaquetas/ mm3. 
○ Pode refletir resposta medular. 
 ○ Pode sugerir: Deficiência de ferro; Anemia de doença crônica; Sepse; Neoplasia e doenças 
mieloproliferativas; mielodisplásicas e esplenectomia. 
 
OBS: Pelo hemograma, não se avalia qualitativamente as plaquetas, sendo apenas a avaliação quantitativa. 
 
3. CARACTERIZAR AS ANEMIAS CARENCIAIS: 
 
ANEMIA MEGALOBLÁSTICA: 
→ CONCEITO: 
 ○ Consistem em anemias resultante de carências de VITAMINA B12 (cobalamina) e FOLATOS. 
 ○ Apesar de sua incidência estar diminuindo, ainda são encontradas, especialmente em: 
 • Grávidas de classes mais pobres, idosos e alcoólatras. 
 ○ Embora a anemia seja a manifestação mais proeminente, essas doenças têm em comum uma 
redução seletiva na síntese de DNA e, consequentemente, as alterações se estendem a outras linhagens 
hematopoéticas como leucócitos e plaquetas, e a outros locais com grande proliferação celular (p. ex., 
intestino delgado, língua e útero). 
 
→ FISIOPATOLOGIA: 
 ○ Tanto os folatos como a vitamina B12 são indispensáveis para a síntese da TIMIDINA, um dos 
nucleotídeos que compõem o DNA, e a carência de um deles tem como consequência menor síntese de 
DNA. 
○ A síntese inadequada de DNA tem como consequência modificações do ciclo celular, retardo 
da duplicação e defeitos no reparo do DNA. 
 
OBS: A síntese de RNA não está alterada, pois a timidina não é necessária para sua síntese. Dessa 
maneira, não há redução da formação de proteínas citoplasmáticas, nem do crescimento celular. 
 
○ O aspecto morfológico do sangue periférico e da medula óssea é idêntico nas deficiências de 
folatos ou de vitamina B12: 
• Dissociação de maturação núcleo-citoplasmática, produzindo células de tamanho 
aumentado e com alterações morfológicas características. 
○ No entanto, uma parcela considerável dessas células MORRE na própria medula óssea, antes 
de completar o desenvolvimento. 
○ A intensa desordem da maturação nuclear das TRÊS LINHAGENS, mais evidente na SÉRIE 
ERITROIDE, produz um aumento de morte celular intramedular: 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
• Apenas 10 a 20% dos eritrócitos sobrevivem e tornam-se viáveis para o sangue periférico 
(Hematopoese ineficaz). 
○ Como resultado, além da anemia macrocítica, com megaloblastos na medula óssea e número 
de reticulócitos normal ou baixo, pode também ocorrer neutropenia, com neutrófilos 
polissegmentados e moderada plaquetopenia. 
 
→ QUADRO CLÍNICO: 
 ○ As manifestações clínicas das deficiências de vitamina B12 e folato são praticamente idênticas. 
○ PRINCIPAL: Anemia (fraqueza, palidez, dispneia, claudicação intermitente). 
 
OBS: Ocorrem graus variados de palidez, com pele cor de limão (combinação de palidez com leve icterícia) 
são comuns. 
 
○ Neutropenia e plaquetopenia (embora infecções secundárias são pouco comuns). 
 ○ A deficiência da síntese de DNA afeta a divisão celular em outros tecidos em que há rápida 
multiplicação, em especial os epitélios do tubo digestivo, originando queixas de DIARREIA, GLOSSITE 
(ardência, dor e aparência vermelha da língua, “língua careca”), QUEILITE e PERDA DO APETITE. 
 ○ Moderada esplenomegalia (alguns casos). 
 ○ A “degeneração combinada subaguda da medula espinhal”, resultante da degeneração do cordão 
posterior da medula espinal também pode ocorrer, devido à carência de S-adenosil-metionina resultante 
de menor suprimento de metionina, pelo bloqueio da mesma reação homocisteína-metionina. 
• O paciente refere sensações parestésicas nos pés (p. ex., formigamento ou picada de 
agulhas), pernas e tronco, seguidas de distúrbios motores (p.ex., dificuldade de marcha, redução da 
sensibilidade vibratória, comprometimento da sensibilidade postural, sinal de Romberg, marcha 
atáxica e comprometimentos das sensibilidades termoalgésicas e dolorosas “em bota” ou “em luva”). 
 ○ Manifestações mentais como depressão, déficits de memória, disfunção cognitiva e demência. 
 ○ Distúrbios psiquiátricos graves, como: alucinações, paranoia e esquizofrenia (menos comuns). 
 
OBS: Atentar-se à tríade → Fraqueza, dor na língua e parestesias (carência de B12). 
 
OBS: A deficiência de folatos NÃO causa envolvimento do sistema nervoso, exceto durante a gravidez, 
em que essa ausência favorece a incidência de defeitos de tubo neural em RN. 
 
→ CAUSAS DE CARÊNCIA DE VITAMINA B12 E FOLATOS: 
 ○ Principal causa de anemia megaloblástica: 
 • Por deficiência de vitamina B12 → Anemia perniciosa. 
 • Por deficiência de folato → Dieta inadequada (pobreza, ausência de vegetais frescos), 
associada a crescimento, gravidez ou alcoolismo. 
 
 
 
 
 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
 
→ DIAGNÓSTICO DE ANEMIA MEGALOBLÁSTICA: 
○ O quadro clínico muitas vezes é sugestivo, mas nem sempre suficiente para firmar o diagnóstico. 
○ Mais comumente, o diagnóstico é feito com base nas alterações características do sangue 
periférico e da medula óssea. 
○ Para o diagnóstico correto, em geral, três são as abordagens nesses pacientes: 
1º Reconhecer se a anemia megaloblástica está presente. 
2º Distinguir entre as deficiências de vitamina B12 e folato. 
3º Determinação da causa. 
 
→ HEMOGRAMA: 
 ○ Anemia macrocítica. 
 ○ Leucopenia. 
 ○ Anisocitose (variação do tamanho dos eritrócitos), macrocitoses com macro-ovalócitos, 
poiquilocitose (variação do formato dos eritrócitos) e granulócitos polissegmentados. 
 ○ Reticulócitos normais ou baixos. 
 ○ Neutropenia (neutrófilos polissegmentados). 
 ○ Moderada plaquetopenia (30.000 a 100.000 plaquetas/µL). 
 
OBS: Ocorre uma pancitopenia associada à macrocitoses (VCM ↑). 
 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
OBS: Em alguns casos, a macrocitose pode estar mascarada pela coexistência de carência de ferro, 
talassemia ou anemia de doença crônica, que são doenças que produzem microcitose e hipocromia, e 
nesses casos, pode-se observar anemia dimórfca, com duas populações de células. 
 
→ TRATAMENTO: 
 ○ Consiste em identificar a causa e removê-la. 
 ○ Em poucos casos, realiza transfusão, uma vez que a reposição do componente já normaliza o 
quadro. 
 ○ A anemia ferropriva, caso presente, deve ser tratada concomitantemente (caso contrário, não 
normaliza a hemoglobina). 
 ○ TRATAMENTO DA CARÊNCIA DE VITAMINA B12: 
• Anemia perniciosa: Vitamina B12 parenteral por toda a vida, uma vez que o defeito de 
absorção é irreversível. 
 • Reposição de vitamina B12 VO ou IM a depender do caso. 
• Introduzir alimentos ricos em B12 (p. ex., carne, ovo). 
 
 ○ TRATAMENTO DA CARÊNCIA DE FOLATO: 
 • Correção da dieta, aumentando a ingestão de verduras (folhas verdes escuras). 
 • 5mg de ácido fólico VO até que a causa da carência tenha sido removida. 
 • O uso contínuo de ácido fólico pode ser necessário em pacientes com doenças que cursam 
com aumento do consumo de folato, como anemias hemolíticas crônicas e pacientes que realizam 
diálise. 
 
ANEMIA FERROPRIVA: 
→ CONCEITOS E EPIDEMIOLOGIA: 
 ○ A anemia ferropriva é decorrente de um desequilíbrio entre ingesta, absorção e situações de 
demanda aumentada ou perda crônica de ferro, sendo multifatorial. 
○ Segundo a OMS, a anemia é um problema de saúde mundial que afeta o estado de saúde, a 
capacidade laborativa e a qualidade de vida dos acometidos. 
 ○ Presente em cerca de 1/3 da população mundial. 
 ○ A deficiência de ferro (DF) é responsável por 75% dos casos de anemia. 
 ○ A DF está presente em cerca de 45% das crianças < 5 anos e 50% das mulheres na menacme. 
 ○ A anemia ferropriva acomete cerca de 500 milhões de mulheres e até 60% das gestantes, com 
resultados negativos na qualidade de vida do feto e no lactente. 
 ○ O principal fator de risco é a DESIGUALDADE SOCIAL. Por essa razão, a anemia por deficiência 
de ferro é mais observada em populações mais pobres e com menor escolaridade.○ Anemia ferropriva é bastante frequente em recém-nascidos, crianças, adolescentes e mulheres em 
idade fértil, gestantes e lactantes tanto por um aumento da necessidade, quanto por uma ingestão média 
diária de ferro abaixo da recomendada (segundo pesquisas). 
 
→ FISIOPATOLOGIA E ETIOLOGIA: 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
 ○ O corpo de um adulto bem nutrido e saudável contém de 3 a 4 g de ferro. 
 ○ O ÉRITRON (conjunto total de células eritroides – eritroblastos, reticulócitos e eritrócitos) é o maior 
compartimento funcional de ferro do organismo humano, contendo de 60 a 70% do ferro total. 
 • A necessidade de ferro do éritron tem influência dominante na sua deficiência. 
 ○ O restante do ferro corporal está nos hepatócitos e nos macrófagos do Sistema Retículo 
Endotelial (SRE), que atuam como órgão de depósito. 
 
OBS: O SRE é responsável por fagocitar células senescentes, catabolizar a hemoglobina para restaurar o 
ferro e devolvê-lo à transferrina para nova utilização. 
 ○ Apesar do DUODENO ter uma baixa capacidade absortiva, o balanço de ferro no organismo é 
regulado a partir da absorção intestinal. 
• Uma vez que NÃO há uma via fisiológica de excreção do ferro, a regulação pela absorção 
intestinal é crítica. 
 
 ○ TIPOS DE FERRO DA DIETA: 
• FERRO HEME: Presentes em alimentos de origem animal e apresenta excelente 
biodisponibilidade para a absorção intestinal. 
 
• FERRO NÃO HEME: Presente em alimentos de origem vegetal e apresenta baixa 
biodisponibilidade para a absorção intestinal. 
OBS: Dessa maneira, indivíduos vegetarianos apresentam maior possibilidade de desenvolverem anemia 
ferropriva. 
 
 ○ Anemia ferropriva é o distúrbio do ferro mais frequente em adultos e está associada à: 
• Perda crônica de sangue, tanto por hipermenorreia ou menorragia (sítio mais frequente 
em mulheres em idade fértil). 
• TGI (sítio mais frequente em homens e mulheres pós-menopausa). 
 
OBS: Cada 1mL de sangue perdido resulta em redução de cerca de 0,5 mg de ferro. 
→ CAUSAS MAIS COMUNS DE ANEMIA FERROPRIVA: 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
 
→ QUADRO CLÍNICO: 
 ○ A falta de ferro pode gerar redução da capacidade funcional de vários sistemas orgânicos. 
○ A deficiência de ferro está associada a alterações do desenvolvimento motor e cognitivo em 
crianças e redução da produtividade no trabalho e problemas comportamentais, cognitivos e de 
aprendizado em adultos. 
○ Aumenta o risco de prematuridade gestacional, baixo peso é responsável por 18% das 
complicações no parto e comorbidade materna. 
○ Como a anemia se instala de forma insidiosa, as queixas costumam ser leves. 
○ Alguns pacientes podem cursar completamente assintomáticos. 
○ Em alguns casos, pode-se observar: 
• Palidez cutaneomucosa, fadiga, baixa tolerância ao exercício, redução do desempenho 
muscular. 
• Perversão alimentar ou PICA (transtorno alimentar caracterizado pelo desejo e consumo de 
substâncias não nutritivas como gelo, terra, sabão, argila). 
• Baqueteamento digital e coiloníquia (unha em formato de colher). 
• Atrofia das papilas linguais, estomatite/quielite angular e disfagia (formação de membranas 
esofágicas ou síndrome de Plummer-Vinson). 
 
→ DIAGNÓSTICO: 
○ HEMOGRAMA: 
 • Exame laboratorial rápido, barato e disponível no rastreio da anemia ferropriva. 
 • Apresenta como desvantagem a incapacidade de identificar deficiência de ferro sem 
anemia. 
 • Ao exame microscópico frequentemente se observa: 
♦ HIPOCROMIA, MICROCITOSE, AUMENTO DO ÍNDICE DE ANISOCITOSE 
ERITROCITÁRIA (RDW) – fase inicial e PLAQUETOSE. 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
♦ ANISOCITOSE, POIQUILOCITOSE, HEMÁCIAS EM CHARUTO, ELIPÓCITOS 
(hemácias em formato elíptico) e RETICULOCITOPENIA. 
 
 ○ CORANTE DE PERLS: 
 • A avaliação dos estoques de ferro na medula óssea a partir da coloração do tecido 
medular pelo corante de Perls é considerada padrão-ouro no diagnóstico de DF (não é comum a 
realização desse teste). 
 
 ○ MIELOGRAMA: 
 • Observa-se hiperplasia eritroblástica com displasias morfológicas na DF moderada até 
hipoplasia das três linhagens na DF grave prolongada. 
 
 ○ FERRITINA SÉRICA: 
 • Muito reduzida. 
• A DF é a única condição que gera uma hipoferritinemia acentuada, logo é bem sugestivo 
de anemia ferropriva. 
 
 ○ FERRO SÉRICO: 
 • Fração livre ligada à transferrina. 
 • Encontra-se reduzido. 
OBS: Valores normais ou elevados de ferritina, entretanto, não descartam a presença de DF, pois por 
ser uma proteína de fase aguda, sua concentração sérica aumenta na presença de inflamação, infecção, 
doença hepática e malignidade, mesmo na presença de DF grave. 
 
 ○ TRANSFERRINA: (Ideal → 200-400 mg/dL). 
 • É regulada pela quantidade de ferro disponível. 
 • Encontra-se aumentada na deficiência de ferro. 
 
 ○ ZINCOPROTOPORFIRINA: 
• O último passo na síntese de Hb é a inserção de um átomo de ferro na protoporfirina para 
formação do heme. 
• Na DF, o zinco é incorporado no lugar do ferro, formando a zincoprotoporfirina 
(ZPP). 
• A taxa de elevação de ZPP é proporcional ao déficit de ferro na medula em relação à 
eritropoese, e a elevação de ZPP é o primeiro marcador de eritropoese deficiente em ferro, 
embora não seja específico. 
 
→ TRATAMENTO: 
 ○ O tratamento da deficiência de ferro consiste na reposição oral ou venosa. 
 ○ É essencial, também, a investigação e correção da causa, para que a reposição seja eficaz a 
longo prazo e não apenas paliativa. 
 ○ ORAL: 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
• A dose ideal para tratamento é de 180 a 200 mg de ferro elementar/dia para adultos e 
1,5 a 2 mg de ferro elementar/dia para crianças. 
• A administração deve ser dividida em 3 a 4 tomadas, preferencialmente com o estômago 
vazio, ou 30 minutos antes das principais refeições. 
• A forma ferrosa (Fe+2) é mais bem absorvida que a férrica (Fe+3). 
• Para pacientes em uso de antiácidos e inibidores da bomba de prótons recomenda-se 
a reposição com doses maiores e por mais tempo. 
• Efeitos colaterais: Gastrointestinais – 30% (melhoram com o tempo). 
OBS: A administração com alimentos e/ou a redução das doses diminui a eficácia, embora melhore os 
efeitos colaterais. 
 
 ○ PARENTERAL: 
• É efetiva, cara, trabalhosa e apresenta efeitos colaterais, sendo indicada apenas em 
situações especiais. 
 
→ PROFILAXIA: 
 ○ Em alguns países já existe a suplementação universal de ferro na farinha de trigo. 
 ○ Recomenda-se a reposição profilática com ferroterapia oral durante a gestação (100mg/dia), nas 
lactantes (100mg/dia) e nas crianças até 5 anos de idade (30-60mg 2-3x/semana em período de 2-3 
semanas, várias vezes ao ano). 
 
4. ELUCIDAR A ANEMIA FALCIFORME: 
ASPECTOS GERAIS NORMAIS: 
→ A hemoglobina é uma proteína que se localiza dentro da hemácia e que tem como função realizar o 
transporte de oxigênio. Ela também é a responsável pela coloração avermelhada do sangue. 
→ Existem três tipos de hemoglobina que são consideradas normais nos seres humanos. 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
○ A hemoglobina A1 (cerca de 97% da hemoglobina do adulto), hemoglobina A2 (2% da 
hemoglobina do adulto) e hemoglobina F (hemoglobina fetal – presente nos primeiros meses de vida). 
→ O fenótipo AA da hemoglobina é considerado o normal para um adulto. 
→ As HEMOGLOBINOPATIAS são alterações na estrutura da hemoglobina, geralmente de 
característica hereditária. 
 
DEFINIÇÃO: 
→ A doença falciforme (DF) é uma condição genética autossômica recessiva resultante de DEFEITOS 
NA ESTRUTURA DA HEMOGLOBINA (Hb) associados ou não a defeitos em sua síntese. 
→ Dessa forma, corresponde a uma alteração mínima na estrutura da hemoglobina capaz de provocar, sob 
determinadas circunstâncias, uma singular interação molecular e drástica redução de sua solubilidade. 
→ Indivíduos com DF obrigatoriamente herdam uma mutação materna e outra paterna. As mutações 
herdadas podem encontrar-se em estado homozigótico(SS), único genótipo que pode ser denominado 
“anemia” falciforme, ou heterozigótico composto, ou seja, a doença é causada pela herança de 
hemoglobina S (HbS) em combinação com outro defeito (estrutural ou de síntese) na Hb [SC, SD, SE, S 
beta-talassemia (SBetaTAL), S alfatalassemia ou S mut rara]. 
→ A anemia falciforme é a hemoglobinopatia caracterizada pela substituição do aminoácido ácido 
glutâmico pela valina na sexta posição da cadeia beta do DNA do gene hemoglobina (GAG → GTG). 
 
→ A heterogeneidade mutacional e outras características genéticas do indivíduo relacionadas a fatores 
ambientais e sociais (epigenética) são responsáveis por um amplo espectro de manifestações e 
complicações clínicas da DF, fato relevante que deve ser levado em consideração durante o 
aconselhamento genético, bem como durante o tratamento e o acompanhamento clínico dos pacientes e de 
suas famílias. 
 
EPIDEMIOLOGIA: 
OBS: SÍNDROME, DOENÇA E ANEMIA FALCIFORME 
○ O termo "síndrome falciforme” identifica as condições em que o eritrócito sofre falcização 
após redução na tensão de oxigênio, enquanto que a designação “doenças falciformes” é reservada 
às situações em que a falcização das hemácias conduz a manifestações clínicas evidentes. 
○ Assim, as doenças falciformes incluem a anemia falciforme, que representa o estado 
homozigoto para a hemoglobina S (SS), e as interações hemoglobina S-βtalassemia (S/β tal), 
hemoglobinopatia SC (SC), hemoglobinopatia SD (SD) e hemoglobina S-persistência hereditária de 
hemoglobina fetal (S/PHHF). 
○ É importante observar que, nessa definição, o estado heterozigoto para hemoglobina S (“traço 
falcifome”) é classificado como síndrome falciforme, mas não como doença falciforme. 
○ Na anemia falciforme, especificamente, a homozigose para o gene βS, em geral resultante 
da herança de um gene anormal do pai e um da mãe, corresponde à forma mais grave das síndromes 
falciformes. 
○ Há ausência de HbA1, predominando a produção de HbS acompanhada de quantidades 
normais de HbA2 (em geral, ao redor de 2,5%) e aumento variável de HbF (em geral inferior a 8%, mas 
atingindo até 25% em algumas formas especiais). 
 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
 → É uma doença que tem origem no continente africano e foi trazida às Américas em decorrência da 
imigração forçada de escravos. 
→ No Brasil, o gene que determina a DF pode ser encontrado em todo território nacional sendo mais 
frequente na região Nordeste, onde é maior a proporção de antepassados negros da população. 
→ É uma doença predominante entre negros e pardos. 
○ Acomete brancos também devido a miscigenação da população brasileira. 
→ A anemia falciforme é a doença hereditária monogênica mais comum no Brasil e no mundo. 
→ Estima-se que 4% da população brasileira tenha o traço falciforme (heterozigose simples) e que 25.000 
a 50.000 pessoas tenham a doença em estado homozigótico (SS – anemia falciforme) ou na condição de 
heterozigotos compostos ou duplos (SC, SE, SD, SBetaTAL – doença falciforme). 
○ Atualmente, estima-se que varie de 60.000 a 100.000 casos. 
 
OBS: Pacientes com hemoglobina de fenótipo S apresentam menor susceptibilidade à malária por 
mecanismos ainda não elucidados. Alguns estudos indicam que o protozoário tem dificuldade de invadir a 
hemácia. 
 
 FISIOPATOLOGIA: 
→ A alteração molecular primária na anemia falciforme é representada pela substituição de uma única 
base no códon 6 do gene da globina β, uma ADENINA (A) é substituída por uma TIMINA (T) (GAG → 
GTC). 
→ Esta mutação resulta na substituição do resíduo glutamil na posição β 6 por um resíduo valil (β6Glu → 
Val) e tem como consequência final a polimerização das moléculas dessa hemoglobina anormal (HbS) 
quando desoxigenadas. 
 
→ CONFORMAÇÃO GLOBAL: 
○ A substituição do ácido glutâmico por valina na posição β6 ocorre na superfície da molécula, sem 
provocar alterações significativas na sua conformação global. 
○ A hemoglobina S na conformação oxi é isomorfa à hemoglobina normal, sugerindo que as 
estruturas das duas moléculas (exceto pela substituição do aminoácido) são similares. 
→ SOLUBILIDADE: 
○ As solubilidades das hemoglobinas oxigenadas A e S são semelhantes, embora pequenas 
diferenças tenham sido detectadas em tampão fosfato concentrado. 
→ PROPRIEDADES FÍSICAS: 
○ Em soluções diluídas, as propriedades físicas das hemoglobinas desoxigenadas A e S são também 
parecidas. No entanto, soluções concentradas de desoxi-hemoglobina S e desoxi-hemoglobina A diferem 
grandemente, e este fato fornece as bases físico-químicas da gelificação e falcização. 
○ A hemoglobina S quando desoxigenada in vitro, torna-se relativamente insolúvel e agrega-se 
em longos polímeros. Esses polímeros resultam do alinhamento de moléculas de hemoglobina S unidas 
por ligações não covalentes e, na descrição desse fenômeno, os termos polimerização, agregação e 
gelificação são usados como sinônimos. 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
○ A polimerização da desoxi-hemoglobina S depende de numerosas variáveis, como concentração 
de oxigênio, pH, concentração de hemoglobina S, temperatura, pressão, força iônica e presença de 
hemoglobinas normais. 
○ Somente a forma desoxigenada de hemoglobina S sofre polimerização; o fenômeno não ocorre, 
normalmente, com nenhuma das formas cuja conformação se assemelha à oxi-Hb S, como meta-Hb S, 
carboxi-Hb S ou cianometa-Hb S. 
OBS: A polimerização da hemoglobina S é o evento fundamental na patogenia da anemia falciforme, 
resultando na alteração da forma do eritrócito e na acentuada redução de sua deformabilidade. 
 
OBS: A Hemoglobina Fetal (HbF) inibe a polimerização, fenômeno responsável pela redução de 
sintomatologia clínica nos pacientes com elevados níveis de Hb fetal. Da mesma forma, a HbA participa 
pouco do polímero e esta é a razão para a quase ausência de anormalidades clínicas nos heterozigotos 
para o gene da hemoglobina S. 
 
CINÉTICA DA FALCIZAÇÃO (forma normal da hemácia → forma de foice): 
→ Todas as hemácias contendo predominantemente hemoglobina S podem adquirir a forma falciforme 
clássica após a desoxigenação, em decorrência da polimerização intracelular da desoxi-Hb S, processo 
normalmente reversível após a reoxigenação. 
○ No entanto, a repetição frequente desse fenômeno provoca lesão de membrana em algumas 
células, fazendo com que a rigidez e a configuração em forma de foice persistam mesmo após a 
reoxigenação. 
 → Assim, esses eritrócitos, denominados genericamente “células irreversivelmente falcizadas" ou 
células densas, retêm permanentemente a forma anormal, mesmo na ausência de polimerização 
intracelular da hemoglobina. 
→ Em decorrência da sua acentuada rigidez, às células irreversivelmente falcizadas têm vida-média 
reduzida e contribuem significativamente para a anemia hemolítica dos pacientes. 
→ No entanto, o quadro clínico da anemia falciforme, contrastando com as demais formas de anemia 
hemolítica, não dependem substancialmente dos sintomas causados pela anemia propriamente, mas, sim, 
da ocorrência de lesões orgânicas causadas pela INFLAMAÇÃO e OBSTRUÇÃO VASCULAR e das 
chamadas “crises de falcização”. 
→ Nos períodos entre as crises, a “fase estável”, os pacientes evoluem praticamente assintomáticos, a 
despeito da anemia persistente, com níveis de hemoglobina variáveis, mas, em geral, ao redor de 8 g/dL. 
 
PROCESSO VASO-OCLUSIVO: 
→ O fenômeno de vaso-oclusão ocorre geralmente na microcirculação. No entanto, grandes artérias, 
principalmente nos pulmões e cérebro, também podem ser afetadas. 
→ Atualmente, acredita-se que o fenômeno vaso-oclusivo compreende um processo com várias etapas 
que envolve interações de hemácias, leucócitos ativados, células endoteliais, plaquetas e proteínas 
do plasma. 
→ A liberação intravascular de hemoglobina pelas hemácias fragilizadas, além da vaso-oclusão 
recorrente e dos processos de isquemia e reperfusão, leva a danoe ativação das células endoteliais e da 
parede do vaso. Como consequência, há indução de uma resposta inflamatória vascular e adesão de 
células brancas e vermelhas à parede dos vasos sanguíneos. Tal fato, associado a uma redução na 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
biodisponibilidade de Óxido Nítrico (NO) no interior do vaso e ao estresse oxidativo, pode ocasionar, em 
alguns casos, uma redução no fluxo sanguíneo e vaso-oclusão. 
→ ENDOTÉLIO: 
○ A falcização repetida de hemácias SS pode levar a dano da membrana dos eritrócitos com a 
exposição de proteínas na superfície celular e produção de espécies reativas de oxigênio (ROS). 
○ As células falcizadas, e a própria hemoglobina liberada no vaso pelo processo de hemólise, podem 
ocasionar danos às células endoteliais que revestem a parede vascular. 
○ A subsequente ativação das células endoteliais tem consequências significativas que incluem: 
• Expressão de moléculas de adesão, como VCAM-1 (molécula de adesão vascular-1), ICAM-
1 (molécula de adesão intercelular-1) e E-selectina na superfície celular. 
• Produção de citocinas e quimiocinas como Interleucina (IL)-8, IL-6 e GM-CSF (fator 
estimulador de colônias de granulócitos-macrófagos). 
○ O endotélio ativado ainda libera fatores procoagulantes e fatores vasoconstritores potentes, como 
as Endotelinas 1 e 2 (ET-1, ET-2). 
 
→ INFLAMAÇÃO: 
○ A anemia falciforme está, geralmente, associada a um estado inflamatório crônico que exerce 
um papel fundamental na ativação das células endoteliais e células sanguíneas, especialmente, dos 
leucócitos. 
○ Diversas proteínas inflamatórias se apresentam em níveis elevados na anemia falciforme, 
incluindo TNF-α (Fator de Necrose Tumoral-α), IL-1β, proteína C reativa (todos potentes ativadores do 
endotélio) além do M-CSF (fator estimulador de colônia de macrófagos), IL-3, GM-CSF, IL-8 e IL-6. 
○ Além disso, algumas proteínas anti-inflamatórias também estão aumentadas na anemia 
falciforme, possivelmente tentando limitar a produção de moléculas inflamatórias e ativação endotelial da 
doença. 
 
→ ADESÃO CELULAR: 
○ A vaso-oclusão é o resultado de um mecanismo complexo que, aparentemente, culmina na adesão 
de células vermelhas, leucócitos e plaquetas ao endotélio e à parede vascular que pode causar diminuição 
do fluxo sanguíneo e, portanto, a vaso-oclusão. 
○ A expressão de moléculas como VCAM-1, ICAM-1, selectinas e CD36 na superfície das células 
endoteliais ativadas tem como consequência a captura das células brancas e vermelhas que, por sua 
vez, também apresentam propriedades adesivas aumentadas. 
• As células vermelhas e, em especial, os reticulócitos de indivíduos com doenças 
falciformes apresentam maior capacidade adesiva devido ao grande número de moléculas de 
adesão como a integrina VLA-4 (integrina α4β1), CD36, ICAM-4 e BCAM/Lu, que estão altamente 
expressas nessas células e interagem com as moléculas subendoteliais da parede vascular 
(laminina, trombospondina, fibronectina) ou com as moléculas das células endoteliais (CD36, 
VCAM-1, BCAM/Lu, P-selectina). 
• Os leucócitos, geralmente encontrados em estado ativado na circulação de indivíduos com 
AF, também aderem com mais facilidade ao endotélio vascular, particularmente na presença de um 
estímulo inflamatório. 
○ Acredita-se, atualmente, que o processo vaso-oclusivo é desencadeado pela adesão de leucócitos, 
em especial neutrófilos já que são células grandes (12-15 µm) e relativamente rígidas, à parede da 
microvasculatura. 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
• A interação dos leucócitos com o endotélio é intermediada, na maior parte, pelas integrinas 
Mac-1 e LFA-1, além de algumas moléculas como a L-selectina, e ligantes da E-selectina na 
superfície dos leucócitos que, por sua vez, interagem com as moléculas ICAM-1, P-selectina e E-
selectina presentes na superfície das células endoteliais. 
○ Adicionalmente, os leucócitos aderidos podem intermediar a adesão secundária de hemácias à 
parede vascular e a combinação desses episódios inicia o processo vaso-oclusivo, uma vez que ocorre a 
obstrução física dos pequenos vasos da microcirculação. 
○ As plaquetas, também encontradas em estado ativado na AF, podem aderir ao endotélio vascular, 
exacerbando a inflamação local pela liberação de mediadores inflamatórios potentes. 
 
→ ÓXIDO NÍTRICO: 
○ É um gás sinalizador produzido constitutivamente pelas células endoteliais e é responsável pela 
regulação do tônus vasomotor. 
○ A biodisponibilidade do NO está reduzida na AF, principalmente devido ao seu consumo pela 
hemoglobina livre, liberada na circulação após a hemólise das hemácias. 
○ O resultado principal da redução da disponibilidade do NO é a inibição da vasodilatação 
dependente de NO na vasculatura, contribuindo assim com a vasoconstrição e, portanto, favorecendo 
potencialmente a vaso-oclusão e participando da fisiopatologia de algumas manifestações da AF como 
hipertensão pulmonar e priapismo. 
 
→ PLAQUETAS E COAGULAÇÃO: 
○ Ocorre um estado de hipercoagulabilidade relacionado à fisiopatologia da AF. 
○ Indivíduos com AF apresentam níveis elevados de marcadores de ativação de trombina, 
plaquetas e células endoteliais, tais como o dímero-D, Trombina-Antitrombina (TAT), ligante de CD40 
solúvel (CD40L), Fator Tecidual (FT), Fator Ativador de Plaquetas (FAP), Fator de von Willebrand (FvW), 
entre outras moléculas. 
○ É provável que a vaso-oclusão recorrente contribua com a hipercoagulabilidade por aumentar a 
ativação do endotélio e das plaquetas. 
 
→ ESTRESSE OXIDATIVO: 
○ Na anemia falciforme, múltiplos mecanismos são responsáveis por aumentar a produção de ROS 
na vasculatura. 
○ A presença de ROS no vaso sanguíneo e a baixa concentração de oxigênio apresentam um papel 
importante na ativação das células endoteliais, em que a produção de ROS é amplificada pela presença 
da enzima xantina oxidase ativada e o desacoplamento (ou inativação) da enzima sintase de óxido nítrico, 
a qual pode produzir ânions superóxidos 
○ Por outro lado, importantes mecanismos de defesa antioxidantes, como os níveis das vitaminas A, 
C e E e a atividade das enzimas glutationa peroxidase e superóxido dismutase, estão diminuídos na 
anemia falciforme. 
○ O estresse oxidativo provavelmente apresenta um papel importante em vários mecanismos 
fisiopatológicos da anemia falciforme. Além da ativação do endotélio, facilitando a hemólise, 
aumentando as propriedades adesivas das células brancas e vermelhas, e elevando a oxidação dos 
lipídios presentes na membrana celular, o estresse oxidativo também participa do consumo intravascular 
de NO. 
 
 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
QUADRO CLÍNICO: 
→ As manifestações clínicas nas doenças falciformes são extremamente variáveis, mas são derivadas 
primariamente da oclusão vascular e, em menor grau, da anemia. 
OBS: Os recém-nascidos portadores de doenças falciformes possuem níveis elevados de HbF e, por essa 
razão, não apresentam manifestações clínicas significativas. De fato, apenas quando os níveis de HbF 
declinam significativamente aparecem os sintomas da doença, em geral após os seis meses de idade. 
→ Os pacientes com doença falciforme apresentam períodos sem manifestações clínicas correspondentes 
à FASE ESTÁVEL da doença, que pode ser interrompida por manifestações agudas, denominadas CRISES 
DE FALCIZAÇÃO, classificadas em: Crises vaso-oclusivas ou episódios dolorosos, crises aplásticas, 
hemolíticas e de sequestro. 
 
→ CRISE VASO-OCLUSIVA: 
○ Os episódios dolorosos agudos representam as manifestações clínicas mais comuns e 
características das doenças falciformes. 
○ A frequência e a gravidade das crises variam consideravelmente de paciente para paciente, e em 
um mesmo paciente, modificando-se bastante em diferentes períodos da vida. 
○ Os fatores desencadeantes são variados e incluem infecção, desidratação, frio e tensão 
emocional de qualquer natureza. 
○ As crises dolorosassão mais frequentes na terceira e na quarta década de vida. 
○ A taxa de mortalidade é mais alta em adultos que apresentam as crises com maior frequência. 
○ A OCLUSÃO MICROVASCULAR, sobretudo na medula óssea, é o fator inicial do episódio 
doloroso. Essa oclusão, secundária à falcização das hemácias, causa isquemia dos tecidos o que, por sua 
vez, provoca uma resposta inflamatória aguda. 
○ As crises dolorosas típicas atingem principalmente ossos longos, articulações e região lombar. 
○ Outras regiões podem também ser afetadas, como couro cabeludo, face, tórax e pelve. 
○ Episódios agudos de dor e inchaço de mãos e pés (síndrome das mãos e pés ou dactilite) são 
frequentes em crianças entre seis meses e dois anos de idade, e extremamente raras após os sete 
anos de idade. 
○ Essas crises vaso-oclusivas são AUTOLIMITADAS e, em geral, desaparecem após uma semana, 
embora possam ocorrer ataques recorrentes. O tratamento é sintomático e, se os sinais persistirem, é 
importante afastar o diagnóstico de osteomielite. 
○ Uma crise dolorosa grave é definida como aquela que exige tratamento hospitalar com 
analgésico parenteral por mais de quatro horas. 
OBS: A ocorrência de mais de três episódios graves em um mesmo ano caracteriza doença falciforme 
com evolução clínica grave. 
 
→ CRISES APLÁSTICAS: 
○ São caracterizadas por importante redução dos níveis de hemoglobina, acompanhada de 
níveis de reticulócitos reduzidos, caracterizando INSUFICIÊNCIA TRANSITÓRIA DA ERITROPOIESE. 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
○ Em geral, esse tipo de crise é desencadeado pela infecção por parvovírus B19 (eritema infeccioso) 
e ocorre, em 68% dos casos, em crianças. 
○ No entanto, em adultos, a presença de imunização natural por exposição prévia ao vírus torna mais 
frequentes infecções por Streptococcus pneumoniae, salmonelas e pelo vírus Epstein-Barr, além de 
necrose medular óssea extensa, com febre, dor óssea, reticulocitopenia e reação leucoeritroblástica. 
○ Outra causa de queda na contagem de reticulócitos é o uso iatrogênico de tensões 
supramáximas de oxigênio inalatório, que podem suprimir a produção endógena de eritropoetina após 
dois dias de uso. 
○ Essa complicação é autolimitada, e no período de cinco a dez dias a eritropoese volta ao normal. 
No entanto, no período agudo de anemia, pode ser necessária a terapêutica com transfusões de 
concentrados de hemácias. 
○ A insuficiência medular também pode resultar na deficiência de ácido fólico, especialmente 
durante a gravidez (também conhecida como crise megaloblástica). 
 
→ CRISES HEMOLÍTICAS: 
○ Também denominadas de crises hiper-hemolíticas, derivam de um incremento brusco na taxa 
de hemólise. 
○ Esse tipo de crise é raro e aparentemente está relacionado a infecções por Mycoplasma, 
deficiência de G6PD ou esferocitose hereditária associadas. 
○ As manifestações clínicas podem incluir agravamento da anemia e acentuação da icterícia. No 
entanto, antes de fazer o diagnóstico de crise hemolítica, devem ser afastadas outras causas mais 
frequentes de elevação dos níveis de bilirrubinas, como obstrução por cálculo de vesícula, hepatite ou 
falcização com colestase intra-hepática. 
 
→ CRISE DE SEQUESTRO ESPLÊNICO: 
○ Esse tipo de crise representa um episódio agudo caracterizado pelo acúmulo rápido de sangue 
no baço. 
○ Essa condição é definida pela queda nos níveis basais de hemoglobina de pelo menos 2 g/dL, 
hiperplasia compensatória de medula óssea e aumento rápido do baço. 
○ Essa complicação ocorre, em geral, após o sexto mês de vida e torna-se menos frequente após 
os dois anos de idade. 
○ No entanto, pode ocorrer mesmo em adultos portadores de esplenomegalia, especialmente 
portadores de S/β-talassemia ou hemoglobinopatia SC. 
○ As crises de sequestro esplênico são responsáveis por elevado percentual de mortes nos 
primeiros dez anos de vida (10-15% em alguns estudos). 
 
COMPLICAÇÕES: 
→ INFECÇÕES: São a principal causa da morbimortalidade na anemia falciforme. 
○ A infecção bacteriana é a maior causa de morte na anemia falciforme, particularmente na infância, 
além de constituir a principal causa de hospitalização. 
○ O risco de infecções graves é maior em pacientes com menos de quatro anos de idade, e entre 
estas se destaca a meningite bacteriana, causada em 78% dos casos por pneumococo (vacina obrigatória). 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
○ As razões da maior suscetibilidade à infecção apresentada pelos pacientes com doenças 
falciformes ainda não são totalmente conhecidas. 
• Aparentemente, as múltiplas lesões orgânicas e a asplenia (orgânica ou funcional) têm 
papel preponderante. 
• Além disso, são descritas deficiências de opsoninas séricas, defeito na via alternativa do 
complemento, falta de tuftsina, alteração na atividade da via hexose-monofosfato dos leucócitos e 
defeitos imunes. 
→ ALTERAÇÕES DO BAÇO: 
○ As alterações histopatológicas no baço de pacientes com anemia falciforme são conhecidas. 
○ Inicialmente, há uma esplenomegalia consequente à congestão da polpa esplênica em virtude da 
obstrução por grandes quantidades de células falcizadas, acompanhada de hemorragias ao redor dos 
corpúsculos de Malpighi. 
○ A oclusão vascular provoca repetidos microinfartos, tornando o órgão fibrótico e atrófico. 
• Esses fenômenos são coincidentes com os clínicos observados à palpação do baço nos 
pacientes com anemia falciforme. 
○ Comumente, há esplenomegalia nos primeiros anos de vida, seguida de ausência do órgão após 
os seis anos de idade, resultante da autoesplenectomia acompanhada de fibrose. 
○ As repercussões da hipofunção esplênica nas doenças falciformes concentram-se principalmente 
na maior susceptibilidade a infecções (órgão linfoide). 
 
→ COMPLICAÇÕES CARDÍACAS: 
○ São relacionadas à circulação hiperdinâmica secundária aos mecanismos compensatórios da 
anemia. 
○ Podem apresentar: 
• Cardiomegalia global. 
• Artérias pulmonares proeminentes e aumento no padrão vascular pulmonar. 
• Isquemia miocárdica. 
• Insuficiência cardíaca (depois da segunda década de vida). 
• A pressão arterial é, em geral, inferior à observada em populações controles. 
→ COMPLICAÇÕES PULMONARES: 
○ Síndrome torácica aguda: Dor torácica, febre, dispneia, opacidade nova na radiografia e queda 
no nível de hemoglobina, podendo evoluir com hipóxia grave. (internação, analgesia, ABT e transf. hemác.). 
• Pode ser causada por infarto de costela ou esterno, pneumonia, embolia pulmonar após 
necrose de medula óssea ou infarto pulmonar devido a falcização 
○ Função pulmonar anormal. 
○ Hipertensão pulmonar. 
 
→ COMPLICAÇÕES NEUROLÓGICAS: 
○ Acidente vascular encefálico. 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
○ Hemorragia cerebral. 
○ Ataques isquêmicos transitórios. 
• Infartos cerebrais são mais comuns em crianças, pico de incidência até os seis anos de 
idade, e em adultos após os trinta anos de idade, ao passo que hemorragia intracerebral é mais 
frequente em adultos entre as segunda e terceira décadas de vida. 
 
→ COMPLICAÇÕES HEPATOBILIARES: (síndrome do quadrante superior direito) 
○ Cálculos biliares. 
○ Alterações na função hepática. 
○ Níveis de enzimas hepáticas anormais. 
○ Níveis de bilirrubina podendo chegar até 100 mg/dL. 
 
→ COMPLICAÇÕES GENITURINÁRIAS: 
○ Infarto na medula renal: Hematúria e inabilidade de concentrar a urina. 
○ Excreção de potássio reduzida → Episódios de hipercalemia. 
○ Níveis elevados de ácido úrico. 
○ Redução a depuração de urato pelos túbulos renais. 
○ Proteinúria. 
○ Priapismo. 
 
→ COMPLICAÇÕES OFTALMOLÓGICAS: 
○ Anormalidades na conjuntiva. 
○ Infartos orbitários. 
○ Hemorragia retiniana. 
○ Retinopatia proliferativa: microaneurismas e proliferação neovascular colateral. 
 
→ COMPLICAÇÕES OSTEOARTICULARES: 
○ Necrose asséptica da cabeça do fêmur, corpos vertebrais e cabeça do úmero. 
○ Osteoporose. 
 
→ COMPLICAÇÕES OU MANIFESTAÇÕESCUTÂNEAS: 
○ Icterícia. 
○ Palidez. 
○ Presença de úlcera no terço inferior das pernas (região maleolar). 
 
DIAGNÓSTICO: 
→ O diagnóstico das síndromes falciformes depende fundamentalmente da comprovação da hemoglobina 
S pela ELETROFORESE DE HEMOGLOBINAS, utilizando conjuntos complementares de suportes e 
tampões que permitam a distinção das diferentes hemoglobinas anormais. 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
→ As técnicas mais utilizadas incluem a eletroforese de hemoglobina em acetato de celulose com pH 
8.4, em gel de ágar com pH 6.2, e teste de solubilidade da hemoglobina em tampão fosfato 
concentrado. 
 
→ A detecção da HbS pode também ser feita com base em Cromatografia Líquida de Alta Performance 
(HPLC) ou Eletroforese com Focalização Isoelétrica (FIE). 
→ A alteração molecular pode ser facilmente identificada pela Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), 
seguida de sequenciamento do DNA ou digestão com uma enzima de restrição apropriada. 
○ Este último é o método utilizado no diagnóstico pré-natal das doenças falciformes, ou em alguns 
casos de difícil diagnóstico pela eletroforese de hemoglobinas. 
→ É importante ressaltar que é quase sempre indispensável para o diagnóstico correto das síndromes 
falciformes o estudo de todos os familiares disponíveis. 
→ Aspirado de medula óssea (padrão ouro, embora pouco utilizado). 
OBS: Pacientes transfusionados têm que esperar 3 meses para fazer a eletroforese. 
OBS: Teste de ponta de dedo → Gota de sangue observada no esfregaço. 
 
→ ALTERAÇÕES OBSERVADAS: 
○ NÍVEIS DE HEMOGLOBINA: 
• Em pacientes na fase estável da anemia falciforme variam entre 6 a 10 g/dL. 
• Em geral, a anemia é normocrômica e normocítica, embora os níveis de reticulócitos 
sejam elevados (entre 5 a 20%). 
• Ocasionalmente, pode ocorrer deficiência de ferro em pacientes com doenças falciformes, 
que também podem levar a hipocromia e a microcitose. 
 
○ FORMATO DA HEMÁCIA: 
• Hemácia em forma de foice e/ou outras formas aberrantes que também possam ser 
visualizadas. 
• Em RN poucas células falcizadas podem ser observadas, devido a elevada porcentagem de 
HbF. 
• Após o primeiro ano, as células falcizadas tornam-se mais evidentes. 
 
○ HIPOFUNÇÃO ESPLÊNICA: 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
• Avaliada pela contagem de inclusões intracelulares observadas à microscopia e pela 
presença de corpos de Howell-Jolly. 
 
○ DADOS LABORATORIAIS DE HEMÓLISE: 
• Elevação da bilirrubina indireta. 
• Redução de haptoglobina sérica (liga-se à hemoglobina no plasma). 
• Elevação do urobilinogênio urinário. 
• Hiperplasia eritroide da medula óssea. 
 
○ LEUCOCITOSE: 
• Às vezes com desvio à esquerda. 
♦ Alteração que nem sempre está relacionada com processo infeccioso. 
♦ Pode ser observada mesmo na fase estável da doença. 
 
○ CONTAGEM DE PLAQUETAS: 
• Elevada podendo atingir até 1.000.000/uL. 
OBS: Provavelmente, tanto a leucocitose quanto a trombocitose estão associadas à hiperplasia da medula 
óssea em paciente com hipofunção esplênica, além do estado inflamatório crônico. 
 
○ VELOCIDADE DE HEMOSSEDIMENTAÇÃO: 
• Este exame mede a velocidade da separação entre os glóbulos vermelhos e o plasma, pela 
ação da gravidade. 
• Quando há um processo inflamatório na corrente sanguínea, são formadas proteínas 
que diminuem a viscosidade do sangue e aceleram a velocidade de hemossedimentação, 
provocando como resultado um VHS alto, que costuma ser acima de 15 mm no homem e 20 mm 
na mulher. 
• Geralmente, está baixa, não sendo parâmetro útil nas doenças falciformes. 
♦ Pois as hemácias falcizadas dificilmente formam os grupamentos que facilitam a 
sedimentação. 
 
○ NÍVEIS DE FERRITINA: 
• Nos pacientes não submetidos a transfusões crônicas, os níveis são inicialmente normais, 
podendo apresentar discreta elevação após a terceira década de vida. 
• Nos pacientes submetidos a transfusões repetidas, esses níveis são elevados, podendo 
ocorrer hemocromatose secundária. 
 
TRIAGEM NEONATAL (48h depois do nascimento): 
→ Todos os recém-nascidos de grupos populacionais onde a frequência da mutação para HbS é elevada 
devem ser submetidos à triagem neonatal para detecção de doença falciforme. 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
→ Atualmente, são bem conhecidos os benefícios do diagnóstico precoce, introdução de antibioticoterapia 
profilática e programa adequado de vacinação. 
→ Os procedimentos laboratoriais para o diagnóstico em amostras de recém-nascidos devem separar com 
segurança a HbF das outras hemoglobinas. 
→ O teste pode ser realizado em sangue de cordão umbilical ou amostras de sangue venosos coletado em 
papel filtro, podendo ser utilizada a mesma estratégia de coleta de amostras para outros testes neonatais, 
como de fenilcetonúria e de hipotireoidismo congênito (teste do pezinho). 
→ As técnicas comumente utilizadas são a focalização isoelétrica ou cromatografia líquida de alta 
performance. 
 
TRATAMENTO: 
→ Pacientes com doenças falciformes devem, sempre que possível, ser acompanhados regularmente em 
serviços especializados (Centros de Atenção a Doenças Falciformes) com a presença de equipes 
multidisciplinares (médicos, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais e fisioterapeutas). 
→ Desse modo, os objetivos básicos da terapêutica consistem no TRATAMENTO DAS COMPLICAÇÕES 
ESPECÍFICAS e em CUIDADOS GERAIS DE SAÚDE. 
→ Além dos cuidados gerais para acompanhamento do crescimento, desenvolvimento somático e 
psicológico, e tratamento específico de lesões orgânicas (p. ex., colecistopatia, úlceras de pernas, 
osteomielite), o tratamento a longo prazo apoia-se em: 
○ SUPLEMENTAÇÃO COM ÁCIDO FÓLICO (5 MG/DIA). 
• Deve ser sempre realizada devido à hiperplasia eritropoética. 
○ USO DE MEDICAMENTOS QUE PROMOVEM O AUMENTO DA HEMOGLOBINA FETAL 
• Vários agentes farmacológicos são capazes de aumentar a produção de hemoglobina fetal 
ou atuar na seleção de precursores eritrocitários que mantêm a habilidade de produzir HbF. 
• Entre essas drogas, podem ser incluídas a 5-azacitidina, hidroxiureia (HU) e os derivados 
do butirato. 
• HIDROXIUREIA (HU): 
♦ É uma droga utilizada como quimioterápico no tratamento de neoplasias 
hematológicas, agindo por meio do bloqueio da síntese de ácidos nucleicos pela inibição 
da ribonucleotídeo redutase. 
♦ O mecanismo exato pelo qual HU que aumenta a produção de HbF ainda não é 
completamente esclarecido. 
♦ Os efeitos benéficos, tanto clínicos como hematológicos, da hidroxiureia na anemia 
falciforme foram demonstrados de forma inequívoca em um estudo multicêntrico 
envolvendo 299 adultos. 
♦ Os pacientes tratados com a droga mostraram redução de 50% na frequência de 
hospitalização e incidência de crises dolorosas, na frequência de síndrome torácica 
aguda e na necessidade transfusional. 
 
○ PROFILAXIA DE INFECÇÕES. 
 
○ TRATAMENTO DAS CRISES DOLOROSAS VASO-OCLUSIVAS: 
• As crises agudas dolorosas são de difícil tratamento e a conduta adequada depende da 
gravidade da dor e da presença ou não de outras complicações concomitantes. 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
• As regras básicas no tratamento dessas complicações são: 
♦ Procurar e tratar agressivamente o fator desencadeante, principalmente infecções. 
♦ Hidratação adequada por via oral ou endovenosa: 
→ Os objetivos básicos da hidratação incluem correção da deficiência hídrica 
e de eletrólitos, manutenção da concentração sérica de eletrólitos e administração de 
um volume de fluidos (parenteral e oral) igual a uma vez e meia a necessidade diária. 
→ Nos casos menos graves, em tratamento ambulatorial, a hidratação deve 
ser via oral. 
→ Em pacientes internados, a hidratação deve ser instituída rapidamente e o 
balanço hídrico deve ser medido, sendo a hidratação, nesses casos, realizada por via 
endovenosa. 
♦ Utilização adequada de analgésico para aliviar a dor 
→ O tipo de analgésico utilizado depende da gravidade do episódio doloroso:○ Crises leves, podem ser utilizados paracetamol, ácido acetilsalicílico, 
dipirona e ibuprofeno. 
○ Crises moderadas, sem resposta à medicação inicial, pode então ser 
associada a codeína ou tramadol. 
○ Crises dolorosas graves, deve ser administrada morfina. 
→ Nos casos de dor leve ou moderada, o tratamento pode ser ambulatorial, 
mas muitos casos necessitam de internação devido à gravidade do episódio doloroso. 
 
○ TRATAMENTO DAS DEMAIS CRISES AGUDAS (APLÁSTICAS, SEQUESTRO ESPLÊNICO, 
NEUROLÓGICAS, SÍNDROME TORÁCICA AGUDA): 
• O tratamento da síndrome torácica aguda inclui antibioticoterapia agressiva com drogas 
de atividade ampla contra germes gram-negativos e gram-positivos (associação de penicilinas e 
macrolídeos, ou fluoroquinolonas), oxigênio inalatório, se saturação abaixo de 92%, transfusões 
simples nos casos moderados ou transfusão de substituição nos casos grave. 
 
○ TRATAMENTO DAS INFECÇÕES. 
• A conduta global relacionada às infecções em pacientes com doenças falciformes inclui: 
♦ Imunização para prevenir infecção. 
♦ Penicilina profilática. 
♦ Tratamento adequado do paciente com febre. 
OBS: Crianças com doenças falciformes apresentam produção normal de anticorpos após a vacinação e 
devem receber todas as imunizações recomendadas para uma criança normal. 
♦ Além disso, devem ser imunizadas contra pneumococo, pela asplenia funcional. 
• Todas as crianças com doenças falciformes devem receber penicilina profilática com início 
aos dois ou três meses de idade, mantida continuamente até pelo menos os cinco anos de idade. 
• A profilaxia pode ser feita com penicilina oral ou com penicilina benzatina a cada 21 dias. 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
• Os benefícios desse tratamento são tão significativos, que em todas as populações em que 
a frequência do gene βs for elevada, devem ser realizados programas de rastreamento neonatal para 
identificação precoce de afetados e início do tratamento profilático o mais cedo possível. 
• Febre em pacientes com doenças falciformes deve sempre ser considerada um problema 
grave e potencialmente fatal. 
♦ Nunca deve ser presumido que o paciente tem uma infecção viral. 
♦ A avaliação de episódios febris inclui anamnese e exame físico cuidadosos, exame 
hematológico com contagens diferenciais, estudos bacteriológicos incluindo culturas de 
sangue, de urina e de secreção de orofaringe, punção liquórica se houver suspeita de 
meningite e radiografia de tórax. 
♦ A antibioticoterapia sistêmica deve ser instituída rapidamente com fármacos 
que sejam efetivos contra S. pneumoniae e H. influenzae. 
♦ A escolha do antibiótico apropriado para prosseguir o tratamento deve ser feita após 
a identificação do organismo envolvido na infecção. 
→ Se os exames laboratoriais não revelaram infecção bacteriana, e o exame 
clínico também não conduzir à detecção de infecção, a antibioticoterapia pode ser 
suspensa após três dias. 
→ No entanto, o paciente deve ser cuidadosamente observado por pelo menos 
mais 24 a 48 horas. 
 
OBS: São indicações controversas de transfusão → Úlceras na perna, gravidez, episódios dolorosos que 
não respondem ao tratamento, adultos com história prévia de AVE e antes de injeção de meio de contraste 
hipertônico. 
○ TRANSPLANTE DE CÉLULAS-TRONCO HEMATOPOIÉTICAS E TERAPÊUTICAS 
EXPERIMENTAIS: 
• A única opção curativa para doenças falciformes até o momento é o transplante de células-
tronco hematopoéticas aparentado, indicado a crianças com casos graves (como a ocorrência de 
acidente vascular encefálico na infância) e que tenham doador compatível na família. 
 
5. DIAGNOSTICAR TODOS OS ENVOLVIDOS NO CASO CLÍNICO: 
→ MARIA: 
○ Anemia ferropriva associada à traço falcêmico. 
Guilherme Rios – Módulo II – p6 
 ○ Hb baixo. 
 ○ Ferritina baixa. 
→ JOÃO: 
○ Anemia Ferropriva associada à traço falcêmico. 
○ Sem ferritina. 
 
→ TIAGO: 
○ Anemia falciforme. 
 
OBS: TERMO DESCONHECIDO → REAÇÃO LEUCEMOIDE 
○ É uma contagem de neutrófilos entre 30.000 a 50.000/mcL (> 50 × 109/L) não causada por 
transformação maligna de uma célula-tronco hematopoiética. 
○ Pode resultar de uma variedade de causas, especialmente outros tipos de câncer ou infecção 
sistêmica. 
○ Linfopenia, pois a medida que os neutrófilos sobe, os linfócitos tendem a diminuir.

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