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Pneumoni� Comunitári� (PAC) Introdução Uma das principais causas de internação no Brasil, perdendo apenas para parto e puerpério Acomete frequentemente os extremos de idade (abaixo dos 5 e acima dos 65) Pode ocorrer em indivíduos previamente hígidos, mas acomete com maior frequência indivíduos com alguma patologia de base. Definição Do ponto de vista histopatológico - preenchimento do espaço alveolar por infiltrado necroinflamatório Do ponto de vista clínico - Infecção aguda do pulmão A pneumonia é enquadrada em PAC quando ocorre em indivíduos que: ● Não estiveram internados por mais de 48h nos últimos 90 dias ● Sem história de uso de ATB, quimioterapia, ou tratamento para úlcera por pressão nos últimos 30 dias ● Paciente não oriundo de unidade especiais de internação (Ex: asilos e home care) ● Paciente que não se encontra em tratamento em clínicas de diálise Padrões Histopatológicos Broncopneumonia ● Focos múltiplos de consolidação alveolar distribuídos pela região peribrônquica ● É o padrão mais comum ● Pneumococo (ag. etiológico mais comum da pneumonia), Staphylococcus aureus e as bactérias gram negativas costumam acometer o pulmão dessa maneira Pneumonia lobar ● Quando a consolidação acomete um lobo inteiro ou quase inteiro ● Cerca de 90 a 95% dos casos de pneumonia global são causadas pelo pneumococo, apesar de esse não ser o padrão de manifestação mais típico da pneumonia por pneumococo. Padrões histopatológicos da pneumonia (pneumonia lobar e broncopneumonia) Agentes etiológicos Pneumococcus pneumoniae ● É o agente etiológico mais comum, exceto em neonatos. ● representa cerca de 30 a 40% dos casos em adultos Bactérias piogênicas aeróbias (quadro clínico típico) ● Streptococcus pneumoniae ● Moraxella catarrhalis ● Klebsiella pneumoniae ● Haemophilus Influenzae ● Staphylococcus aureus ● Streptococcus pyogenes ● Pseudomonas aeruginosa Bactérias anaeróbicas da cavidade bucal (pneumonias aspirativas) ● Peptostreptococcus spp. ● Prevotella ● Fusobacterium nucleatum ● Pseudomonas aeruginosa Germes atípicos ● Mycoplasma pneumoniae ● Legionella pneumophila ● Chlamydia pneumoniae Vírus respiratório ● Influenza ● Parainfluenza ● Adenovírus Outros ● Mycobacterium tuberculosis ● Histoplasma capsulatum ● Paracoccidioides brasiliensis ● Pneumocystis jiroveci (HIV positivo) ● Chlamydia psittaci (psitacose) ● Coxiella burtnetti (febre Q) Patogênese Na maioria dos casos, os germes causadores da pneumonia atingem o pulmão por meio da microaspiração de material proveniente das vias aéreas superiores. No entanto, existem exceções, alguns chegam ao pulmão por meio de aerossóis provenientes do ambiente (Legionella pneumophila), outros por via hematogênica (S. aureus) Antes de determinar o surgimento da pneumonia, o agente causador deve vencer as defesas inatas das vias aéreas humanas: ● Muco produzido pelas células epiteliais e o movimento ciliar ● Tosse ou outros reflexos epiglóticos ● Secreção de IgA Aquelas partículas que passam pelas vias aéreas e se depositam nos bronquíolos terminais e alvéolos, ainda, devem vencer outros tipos de defesas: ● Imunoglobulinas IgM e IgG ● Fibronectina ● Complemento ● Proteínas ligadoras de ferro ● Lisozimas ● Macrofagos alveolares Caso os macrofagos não consigam conter a proliferação bacteriana, eles passam a liberar mediadores da resposta inflamatória (TNF-alfa, IL-1, IL-6, leucotrienos e fatores quimiotáticos para neutrófilos) Com isso, os neutrófilos são recrutados, perpetuando a resposta inflamatória aguda Quadro Clínico Típico ● Quadro hiperagudo (2-3 dias) ● Febre (39-40 graus), calafrios, tremor ● Tosse produtiva (secreção esverdeada) ● Dor pleurítica ● Taquipneia e taquicardia ● Achados no exame físico - Estertores inspiratórios, sopro tubário, frêmito toracovocal aumentado, submacicez, broncofonia e pecteriloquia. ● Achados caso haja derrame pleural - Murmúrio vesicular e frêmito toracovocal abolido, submacicez e egofonia Exames Laboratoriais ● Leucocitose (15 a 35 mil/mm3) com neutrofilia e desvio à esquerda. Caso haja leucopenia, é sinal de mau prognóstico. ● Hematoscopia evidência neutrófilos com granulações grosseiras e corpúsculos de Dohle ● Hiponatremia leve a moderada ● Gasometria demonstra hipoxemia e alcalose respiratória (depende do grau de comprometimento pulmonar e da reserva cardiorrespiratória do paciente). Acidose metabólica ou respiratória e PaO2<60 são sinais de mau prognóstico. ● Elevação aguda das escórias renais sugere sepse ou nefrite intersticial pelos antibióticos OBS: em pacientes idosos ou com comorbidades, o quadro se afasta um pouco do que foi descrito. Por vezes, os únicos sinais de pneumonia nesses pacientes são a prostração, taquidispneia e desorientação. Febre, tosse e, até mesmo, a leucocitose podem estar ausentes, sendo muito importante solicitar a radiografia de tórax para esses pacientes. Radiografia de Tórax Se manifesta geralmente como um infiltrado pulmonar, sendo o tipo broncopneumônico mais comum. No entanto, em alguns casos podemos ter uma grande área de condensação alveolar, formando a pneumonia lobar ou sublobar. Alguns casos podem demonstrar uma radiografia limpa, geralmente decorrente de: ● Infiltrado retrocardíaco que não aparece no PA (importância do perfil) ● Infiltrado muito tênue para ser identificado na radiografia, podendo ser visto na TC ● Radiografia muito exposta A pneumonia não é a única condição clínica que cursa com infiltrado pulmonar, devendo ser diferenciado de outras doenças por meio da clínica e dos exames laboratoriais: ● TEP ● Edema pulmonar ● Insuficiência cardíaca descompensada ● Pneumonia aspirativa ● Pneumonia eosinofílica ● Colagenoses ● Vasculites Alguns aspectos da imagem se associam à agentes etiológicos específicos: ● Pneumonia Lobar (Streptococcus pneumoniae) ● Pneumonia do lobo pesado (Klebsiella pneumoniae) - Condensação do lobo superior com abaulamento da cisura. ● Pneumatoceles (Staphylococcus aureus) - Cistos com paredes finas decorrentes da passagem de ar para o espaço subpleural através de roturas bronquiolares. ● Pseudotumor ou pneumonia redonda (Streptococcus pneumoniae) - Condensação com formato arredondado, semelhante a um tumor. ● Cavitações (Klebsiella pneumoniae, Staphylococcus aureus e Streptococcus pneumoniae sorotipo 3) Pneumonia do lobo pesado e pneumatoceles Cavitação e pneumonia redonda Quadro Clínico atípico Quadro subagudo (mais ou menos 10 dias) ● Inicia com um quadro gripal - Dor de garganta, mal estar, tosse seca, mialgia, cefaleia, febre (38 a 39 graus) ● Após a primeira semana a tosse evolui tornando-se o principal sintoma, em alguns casos, passa a ser produtiva (secreção branca ou purulenta) ● Leucocitose com neutrofilia aparece em apenas 20% dos casos Os principais agentes associados a esse quadro são o Mycoplasma pneumoniae (entre 5 e 40 anos) e Chlamydia pneumoniae (acima dos 65 anos) Diagnóstico Etiológico Tratamento ambulatorial - Exames são desnecessários, podendo se instituir o tratamento empírico Tratamento em enfermaria: ● Gram e cultura de escarro - Escarro purulento sem antibiótico prévio ou com falha deste ● Duas hemoculturas - Casos mais graves ou sem resposta ao tratamento ● Sorologias - Se houver alguma suspeita específica ● Antígeno urinário (pneumococo e Legionella) - Casos mais graves ou sem resposta ao tratamento ● Toracocentese - Diagnóstico ou alívio Tratamento em UTI - Todos os exames citados acima e broncoscopia ou aspirado traqueal com cultura quantitativa para pacientes em ventilação mecânica Internação ou tratamento ambulatorial Para indicar o tratamento ambulatorial de forma segura, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia sugere que: ● CURB-65 seja 0 ou 1 (ponto por idade >65 anos) ● Sem comorbidades descompensadas ● SO2>90% ● Radiografia de tórax sem acometimento multilobar ● Sem limitações socioeconômicas e psicossociais ● Via oral disponível O escore CURB-65 é composto de: ● C - Confusão mental ● U - Ureia > 50 mg/dl ● R - Respiração > 30 irpm ● B - Baixa pressãoarterial (PA< 90x60 mmHg) ● 65 - Idade > 65 anos Indicação de terapia intensiva (Segundo ATS/IDSA) A presença de 1 critério maior ou 3 critérios menores classifica-se como PAC grave, indicando internação em unidade de terapia intensiva Critérios maiores ● Choque séptico, necessitando de vasopresores ● Ventilação mecânica invasiva Critérios menores ● FR=30 irpm ● PaO2/FiO2 < 250 ● Infiltrado multilobar ● Confusão mental ● Ureia > 43 mg/dL ● Leucopenia < 4000/mm3 ● Trombocitopenia < 100.000/mm3 ● Hipotermia (temperatura central menor que 35 graus) ● Hipotensão necessitando de reposição volêmica agressiva Indicação de terapia intensiva (Segundo SBPT) escore Ewig a presença de 1 critério maior ou 2 critério menores indica internação em UTI Critérios maiores ● Choque séptico, necessitando de vasopresores ● Ventilação mecânica invasiva Critérios menores ● PaO2/FiO2 < 250 ● Infiltrado multilobar ● PA sistólica < 90 mmHg ● PA diastólica < 60 mmHG Tratamento de pacientes com PAC segundo o JBP(2018) Tratamento ambulatorial: ● Pacientes sem comorbidade, sem uso prévio recente de antibióticos, sem fator de risco para resistência ou alergia a essas drogas - Beta-lactâmico (amoxicilina ou amoxicilina + clavulanato por 7 dias) ou macrolídeo (azitromicina por 3-5 dias ou claritromicina por 7 dias) ● Com fatores de risco, uso recente de antibióticos ou doença mais grave - Beta-lactâmico + macrolídeo por 5-7 dias ● Pacientes com alergia a beta-lactâmicos e macrolídeos - Fluoroquinolona respiratória (moxifloxacin, gemifloxacin e levofloxacin) por 5-7 dias Tratamento enfermaria ● Beta-lactâmico (cefalosporina de terceira geração ou amoxicilina + clavulanato ou ampicilina + sulbactam) + macrolídeo (azitromicina ou claritromicina) por 7-10 dias ● Fluorquinolona (levofloxacino ou moxifloxacino ou gemifloxacino) por 5-7 dias Tratamento em UTI ● Beta-lactâmico (cefalosporina de terceira geração ou ampicilina + sulbactam) + macrolídeo (azitromicina ou claritromicina) por 7-14 dias ● Cefalosporina de terceira geração + quinolona respiratória (Ceftriaxona ou cefotaxima) por 7-14 dias Ainda existem pacientes em que se conhece o agente causador da pneumonia. Nesses casos pode-se lançar mão da terapia alvo específica. Falha no Tratamento ● Ausência de resposta ao tratamento ou piora clínico/radiológica em 48-72 h - Falha precoce ● Ausência de resposta ao tratamento ou piora clínico/radiológica em mais de 72h - Falha tardia As principais causas de fracasso são: ● Antibioticoterapia errada ● Não era pneumonia (embolia pulmonar, vasculite, pneumonia eosinofílica, hipersensibilidade) ● Pneumonia por agentes pouco usuais (tuberculose, infecção fúngica, pneumocistose, nocardiose, hantavirose, leptospirose e psitacose ● Presença de complicações (abscesso, empiema, derrame pleural) Agentes Etiológicos e Suas Particularidades Streptococcus pneumoniae ● Diplococo gram positivo ● Responsável por 30 a 40% dos casos de pneumonia Haemophilus influenzae ● Cocobacilo gram negativo ● Mais comum nos extremos de idade (crianças de 3 meses a 5 anos e idosos com mais de 65 anos) ● É o agente mais comum em pacientes com DPOC Moraxella catarrhalis ● Diplococo gram negativo ● Agente muito importante em pacientes com DPOC, principalmente aqueles em uso de corticoide Klebsiella pneumoniae ● Bastonete gram negativo pertencente ao grupo das enterobactérias ● Pneumonia do lobo pesado ● Tem grande importância naqueles casos de pneumonia graves, como ocorre em pacientes diabéticos ou etilistas (é a segunda ou terceira causa, ainda perde para o pneumococo) Staphylococcus aureus ● Coco gram positivo com tendência a formar cachos ● Apresenta alta virulência, levando a pneumonia grave com alta letalidade ● Tem disseminação hematogênica ● Está intimamente relacionada a pacientes debilitados, usuários de drogas endovenosas e portadores de infecções de pele não tratadas adequadamente ● Importante causa de pneumonia nosocomial também ● Cerca de 70% dos casos ocorrem em crianças Streptococcus pyogenes ● Coco gram positivo com tendência formar cadeias ● Incidência maior em adolescentes e escolares ● Deve ser suspeitado quando apresentar uma evolução típica: Faringoamigdalite aguda evoluindo para pneumonia com alta incidência de derrame parapneumônico Pneumonia aspirativa por anaeróbios ● Incidência maior em indivíduos com rebaixamento do nível e portadores de disfagia motora (pós-AVC, etilistas e portadores de epilepsia) ● Ocorre com maior frequência no pulmão direito (pelo fato do brônquio fonte direito ser mais retificado com a traqueia), mais especificamente nos segmentos posterior do lobo superior e superior do lobo inferior (segmentos que sofrem maior ação da gravidade ao estarmos deitados, posição na qual ocorre o episódio de aspiração na maioria das vezes) ● Tem alta tendência a formar empiema e abscesso Legionella pneumophila ● Cocobacilo gram negativo, parasita intracelular obrigatório ● Causa uma das pneumonias mais severas, sendo a segunda ou terceira causa de pneumonia comunitária grave ● Mais comum em pacientes acima dos 50 anos, imunossuprimidos, fumantes e etilistas ● O que chama atenção na legionelose é o quadro gastrointestinal associado (diarreia, náuseas e vômitos), hiponatremia severa e elevação de enzimas hepáticas. ● Por ser parasita intracelular, não aparece no gram de escarro, devendo ser feito teste de antígeno urinário, anticorpo fluorescente no escarro ou cultura em meio específico Mycoplasma pneumoniae ● Bastonete desprovido de parede celular, ou seja, não pode ser identificado pelo gram e apresenta uma resistência inata aos beta-lactâmicos ● Tem uma manifestação mais atípica, com presença de sintomas extrapulmonares (crioaglutininas, icterícia, elevação de enzimas hepáticas e anemia hemolítica) Chlamydia pneumoniae ● Assim como a legionella, é um parasita intracelular obrigatório ● Apresentação atípica, acometendo preferencialmente pessoas idosas ● O diagnóstico é feito com a imunofluorescência indireta ou teste de fixação de complemento Psitacose (Chlamydia psittaci) ● Relacionado ao contato com aves, não necessitando um contato prolongado para uma contaminação efetiva ● Tem apresentação atípica e um dado que chama atenção é a hepatomegalia presente em 70% dos casos ● O diagnóstico é sorológico Influenza ● Causada pelos vírus influenza do tipo A ou B (sendo que o tipo A é mais mutagênico e é o causador das epidemias) ● O vírus possui 2 antígenos: a hemaglutinina (H), responsável pela ligação do vírus ao epitélio e viabiliza a infecção, e a neuraminidase (N), responsável pela saída do vírus da célula ● A infecção pelo influenza se manifesta de 2 formas: síndrome gripal ou síndrome respiratória aguda grave, sendo que imunossupressão, obesidade, extremos de idade, gravidez e presença de doenças crônicas são fatores que favorecem a evolução para SRAG ● O diagnóstico é feito pelo swab de nasofaringe (RT-PCR) ● O tratamento é feito com oseltamivir (Tamiflu® – 75 mg VO, de 12/12h, por 5 dias) e zanamivir (Relenza® – duas inalações de 5 mg, de 12/12h, por 5 dias) Referência Medcurso 2018 - Infectologia - Volume 1 Autor Matheus Furlan Chaves
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