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Choqu� Definição -Síndrome caracterizada pela incapacidade do sistema circulatório de levar sangue até os tecidos. -Potencial gerador de disfunção orgânica múltipla -Tipicamente baseia-se em 3 variáveis: Hipotensão + taquicardia, sinais de hipoperfusão (redução de débito urinário, cianose, confusão mental e sonolência) e hiperlactatemia. -Quanto aos mecanismos envolvidos, pode ser classificado em: Hipovolêmico, distributivo, cardiogênico e obstrutivo. Etiologia e Fisiopatologia Tanto a PA, quanto o metabolismo do oxigênio sofrem rígidos controles compensatórios. Pequenas alterações nesses parâmetros são identificadas por barorreceptores e quimiorreceptores presentes em: ● Arco aórtico ● Vasos carotídeos ● Átrio direito ● Vasos esplâncnicos ● Aparelho justaglomerular ● Sistema nervoso central As respostas compensatórias incluem: ● Liberação de catecolaminas na fenda sináptica - Efeito inotrópico e cronotrópico positivo, aumentando a contratilidade cardíaca e a frequência dos batimentos e diminuindo o tônus vagal. ● Liberação de catecolaminas no sangue - Efeito nos vasos, gerando vasoconstrição seletiva, priorizando o fluxo sanguíneo para o coração e SNC. ● Ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona - Aumento da reabsorção de água e sódio pelos rins. ● Liberação de vasopressina pela neuro-hipófise - Reabsorção de água. ● Aumento do glucagon e redução da insulina - Resposta catabólica para oferta de substratos (gliconeogênese, glicogenólise, lipólise e catabolismo proteico). ● Aumento do ACTH e cortisol Essas respostas tem por objetivo restaurar a perfusão e o metabolismo do oxigênio. No entanto, dependendo da gravidade do quadro, essas respostas podem não ser suficientes e, até mesmo, gerar quadros patológicos. A redução na oferta de substratos e oxigênio causa depleção do ATP, o metabolismo anaeróbio aumenta a produção de lactato, acidificando a célula. Dessa forma, desencadeia uma resposta inflamatória capaz de gerar: ● Lesão celular ● Estase microvascular ● Trombose ● Ativação de macrofagos, neutrófilos, linfócitos e plaquetas. Diante disso, temos um ciclo vicioso em que a resposta inflamatória piora ainda mais a hipoperfusão. Choque Hipovolêmico Débito cardíaco inadequado, resultante da perda de volume sanguíneo. É dividido em 2 grupos: ● Hemorrágico - Trauma tecidual, hemotórax, hemoperitônio, hemorragia digestiva ● Não hemorrágico - Diarreia e vômitos, uso de diurético, nefropatia, perda de volume para o terceiro espaço, queimadura, hipertermia. Além da perda de volume, alguns fatores podem agravar o choque hipovolêmico: ● Contusão cardíaca - Adiciona um componente cardiogênico ao choque. ● Obstrução ao fluxo sanguíneo - no caso de tamponamento cardíaco ou pneumotórax. ● Trauma tecidual - desencadeia resposta inflamatória, podendo gerar um componente distributivo ao choque. ● Trauma torácico - Compromete as trocas gasosas e piora ainda mais a oxigenação tecidual. Classificação do choque hipovolêmico Choque Obstrutivo Resultante de obstrução ao fluxo sanguíneo, gerando diminuição do débito cardíaco e má perfusão tecidual. Turgência jugular na ausência de edema pulmonar é um achado muito sugestivo de choque obstrutivo Ocorre nas seguintes situações: ● Tamponamento pericárdico - Trauma, uremia, neoplasia, doença auto-imune e tuberculose. ● Obstrução do débito de VD - TEP, hipertensão pulmonar. ● Aumento da pressão intratorácica - pneumotórax hipertensivo, ventilação mecânica com altos valores de PEEP. ● Obstrução extrínseca ou de estruturas adjacentes ao coração - síndrome da veia cava superior, tumor no mediastino. Choque Cardiogênico Caracteriza-se por falha na bomba cardíaca, resultante de grave disfunção miocárdica, afetando a perfusão tecidual. Pode ser decorrente de: ● Síndrome coronariana aguda ● insuficiência cardíaca em evolução ou descompensada ● arritmia ● Cardiomiopatia ● Valvulopatia ● miocardite A falha na perfusão pode comprometer a circulação coronariana, perpetuando a disfunção miocárdica e agravando o quadro. Choque distributivo Resulta de uma vasodilatação periférica generalizada, contribuindo para uma redução da pressão de enchimento capilar. Dessa forma, temos uma má perfusão tecidual com preservação do débito cardíaco e sem comprometimento miocárdico. Pode ocorrer nas seguintes situações: ● Choque séptico ● Choque anafilático ● Choque neurogênico ● Crise Addisoniana ● Intoxicações agudas Quadro Clínico -A clínica vai depender muito do tipo de choque e da doença de base que está causando esse estado. ● Aumento no tempo de enchimento capilar ● Oligúria ● Extremidades frias ● Palidez ● Mucosas secas ● Cianose periférica ● Sudorese ● Taquicardia e taquipneia ● Hipotensão ● Hipoxemia Pode haver variação a depender do tipo de choque e do estágio em que se encontra, por exemplo: ● Estágios iniciais de choque podem apresentar-se com PA normal ● No choque distributivo as extremidades ficam quentes e secas ● No choque neurogênico temos bradicardia ● Pode haver bradicardia em pacientes com doença cardíaca prévia ou que está em uso de betabloqueadores ou bloqueadores dos canais de cálcio. Exames complementares Exames gerais ● Hemograma, eletrólitos, glicemia, urina tipo 1. ● Radiografia de tórax e ECG Avaliação de função e lesão orgânica ● Ureia e creatinina ● TP, TTPA, fibrinogênio e D-dímero ● ALT, AST e bilirrubinas ● Gasometria arterial ● Lactato ● Proteína C e pró-calcitonina ● Troponina Avaliação hemodinâmica ● USG ● Saturação venosa central de oxigênio (SvcO2) Avaliação etiológica (guiado pela clínica) ● Hemocultura, urocultura e outros ● Punção liquórica ● Beta-HCG ● Ecocardiograma transesofágico ● TC: crânio, abdome, tórax, pelve e outros. Tratamento Restaurar e manter a perfusão e a oferta de oxigênio. ● Reposição volêmica ● Drogas vasoativas, se tiver indicação ● Suporte respiratório e correção da hipoxemia. Tratar o distúrbio de base, por exemplo: ● Estancar uma hemorragia ● Pericardiocentese no caso de um tamponamento pericárdico ● Punção torácica no caso de um pneumotórax ● Antibióticos no caso de choque séptico ● Restauração da vascularização no caso de uma síndrome coronariana aguda ● Trombólise de uma embolia Condutas para monitorização Monitoração invasiva da PA Coleta seriada de lactato e gasometria. Sonda vesical - Monitorar diurese Ressuscitação volêmica Contraindicada nos casos de franco edema pulmonar Acesso: passar 2 acessos venosos em veias antecubitais calibrosas e, assim que possível, passar um acesso central Solução usada: Recomenda-se o uso de cristaloides ● Soro fisiológico: Devido ao baixo pH da solução e à grande quantidade de cloro, apresenta risco de causar acidose hiperclorêmica. ● Ringer lactato: Por ser mais balanceada que o soro fisiológico, não causa acidose nem coagulopatia. No entanto, é contraindicado em pacientes com hipercalemia (solução apresenta cálcio) e com disfunção hepática (o lactato presente na solução é metabolizado no fígado) Quantidade de cristalóide: em geral de 20 a 40 mL por Kg na primeira hora Metas para monitorização do paciente ● PAS maior que 90mmHg ● FC menor que 100bpm ● Diurese maior que 0,5 mL por Kg por hora ● Melhora da perfusão periférica (TREC menor que 3 segundos) ● PVC de 8 a 12 mmHg ● Svco2 maior que 70% ● Normalização dos níveis de lactato ● BE menor que -5 mEq por litro ● PAM maior que 65 mmHg ● Avaliação ultrassonográfica na emergência (veia cava superior, função cardíaca, FAST e e-FAST) Drogas vasoativas Indicado nos pacientes que não responderam adequadamente a ressuscitação volêmica ou aqueles em que o estado de hipotensão é grave. ● Norepinefrina - Potente vasoconstrictor, com ação em receptores alfa e beta. Primeira escolha para elevação rápida da PAM, associa-se a menor risco de arritmia e mortalidade) ● Dopamina - É uma opção em pacientes com bradicardia absoluta ou relativa ● Dobutamina - Efeitos predominantes em receptores beta-adrenérgicos. Útil em paciente com choque cardiogênico ● Epinefrina - Primeira escolha no choque anafilático,por ter efeito broncodilatador. ● Vasopressina - Pode ser indicada no choque séptico em pacientes refratários ao uso de norepinefrina e hidrocortisona. ● Inibidor da fosfodiesterase 3 (milrinona): Efeito inotrópico positivo e vasodilatador. Pode ser útil em pacientes em choque cardiogênico ou quando há disfunção do VD. ● Levosimendan - Atua sensibilizando a troponina C à ação do cálcio, aumentando a contratilidade cardíaca. ● Nitroglicerina - Indicado para pacientes que tiveram ressuscitação volêmica adequada, mas mesmo assim apresentam-se dispneicos ou com parâmetros de perfusão inadequados. O uso desse vasodilatador facilita o trabalho do VE e beneficia a circulação coronariana (pode ser útil em pacientes com choque cardiogênico) HIpoxemia e insuficiência respiratória Cateter de oxigênio (4L por minuto) - casos leves Mascara de oxigenio - Casos em que o cateter não foi resolutivo Ventilação não invasiva - IC descompensada com congestão ou DPOC exacerbada. Intubação - Casos de hipoxemia grave ou quando tem contraindicação de ventilação não invasiva. (OBS: evitar midazolam e propofol para intubar, devido ao risco de piorar a hipotensão. Nesses casos deve-se dar preferência ao etomidato e à cetamina) Outros Tópicos Relevantes no Tratamento ● Hidrocortisona - Indicado em pacientes que permanecem hipotensos, mesmo em uso de drogas vasoativas. ● Controle glicêmico - Busca manter a glicemia abaixo de 180 mg por dL, insulina IV por bomba de infusão contínua. ● Profilaxia de TVP e TEP - Feito com Heparina de baixo peso molecular ou heparina comum, desde que não haja contraindicação (Ex: sangramento ativo, plaquetopenia, história de sangramento em SNC ou coagulopatia grave) ● Profilaxia de sangramento digestivo - Omeprazol ou ranitidina ● Transfusão de hemáceas - indicado quando a Hb está abaixo de 7 mg por dL, visando manter entre 7 e 9 mg por dL. Referências MARTINS, H. S.; BRANDÃO NETO, R. A.; SCALABRINI NETO, A.; VELASCO, I. T., Emergências Clínicas: abordagem prática; 10ª Ed. São Paulo: Manole, 2015. Autor Matheus Furlan Chaves
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