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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE LUZ ANIL/ MINAS GERAIS
Feito xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
DOLORES NUNES BERTRAND, devidamente qualificado nos autos de AÇÃO PENAL que lhe promove a JUSTIÇA PÚBLICA , por seu advogado infra assinado, vem mui respeitosamente á presença de Vossa Excelência:
APRESENTAR RESPOSTA A ACUSAÇÃO , fazendo-o nos seguintes termos:
Os pedidos constantes da Denúncia são improcedentes, senão vejamos:
O acusado foi denunciado por pratica de furto de mercadorias de propriedade do Supermercado , fato ocorrido no dia 24 de dezembro de 2021, ás 20:50hs.
Porém, apesar da confirmação dos fatos pela ré a R. Denúncia há que ser julgada improcedente, pelos motivos a serem a seguir aduzidos.
1- DO CRIME IMPOSSIVEL:
Vale destacar que o acusado esteve monitorado durante todo o tempo em que esteve nas dependências do supermercado, especialmente, pelo preposto da empresa, conforme consta do BO e da declaração do mesmo na fase policial.
Destaca-se do Boletim de Ocorrência da alegação da preposta e gerente do Supermercado . Kevin Von:
O declarante é segurança do estabelecimento denominado Supermercado LTDA, instalado no local dos fatos, e neste ato o representa. Na data de hoje, por volta das 20:40min, o declarante percebeu que a autuada aqui presente entrou nas dependências do supermercado, e escondeu um pedaço de carne em suas vestes. A autuada estava acompanhada de outra pessoa, não identificada. Durante a estadia da autuada no supermercado, a declarante percebeu pelas câmeras de monitoramento que ela se apoderou de duas peças de carne, ambas já embaladas, e as colocou em suas vestes, mais precisamente dentro de sua calça. Também percebeu que a pessoa que o acompanhava nada subtraiu, contudo, dava a entender que este dava apoio ao autuado aqui presente. Diante do ocorrido, a declarante afirmou que foi orientada pelo gerente Dugler Sack a deixar a autuada passar pelos caixas sem abordagem alguma. Foi ao encontro da autuada que ainda estava dentro da área de compra do supermercado, abordando-o e dizendo que era pra ele devolver a peça de carne pois chamaria a polícia. A autuada retirou a peças de carne, do interior de suas vestes e fez a devolução a declarante, sem esboçar uma fuga, logo em seguida a Policia Militar chegou ao local e efetuou a prisão do autuado. A outra pessoa se evadiu do local sem nada subtrair. Por fim, informa que a peça subtraída pela autuada é do corte de picanha e é comercializada no dia de hoje a R$35,00 o quilo
Ora, a acusada foi monitorada durante todo o tempo em que esteve no supermercado, quando saiu do mesmo, não havendo a consumação do crime.
O artigo 155 "caput" do CP descreve o crime de furto como a subtração para si ou para outrem, de coisa alheia móvel, tipo penal este que visa proteger a propriedade, a posse legitima e a detenção, com o fim de assenhoreamento definitivo.
Logo, o tipo subjetivo se perfaz com a subtração da coisa alheia móvel, cujo objetivo da tutela penal se fundamenta na proteção da posse (detenção) e propriedade.
Nesse contexto, conforme a inteligência dispensada pelo art. 14, inciso II, do CP, a TENTATIVA se caracteriza com a realização incompleta da conduta típica que o sujeito ativo, a qual após ser iniciada, não se conclui por circunstâncias alheias à sua vontade.
Convém esclarecer que a tentativa pode ser classificada como imperfeita ou inacabada (que sujeito não esgota toda a sua capacidade ofensiva contra o bem jurídico tutelado, sendo a ação interrompida durante o processo executório e a perfeita, acabada ou crime falho (a fase de execução é realizada integralmente pelo agente, mas o resultado não se verifica por circunstâncias alheias à sua vontade), todavia, a legislação vigente não faz qualquer distinção entre tais espécies, as quais recebem o mesmo tratamento dispensado pelo art. 14, inciso II, do CP.
A teor desse mesmo entendimento, colaciono os seguintes julgados que tratam do crime de furto pela tentativa, em virtude do fato da "res furtiva" não ter a coisa saído da esfera de vigilância da vitima:
"Somente quando a custódia ou vigilância, direta ou indiretamente exercida pelo proprietário, tenha sido totalmente iludida, é que se pode falar em furto consumado. Assim, não chegando a existir objetiva burla à vigilância, possibilitando á vítima logo reaver a res furtiva que havia sido tirada de sua posse direta, deve ser o delito desclassificado para a forma tentada". (JTACRIM 76/264)
"Caracteriza-se o furto tentado simples quando o crime material não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente, não chegando a res furtiva a sair da esfera de vigilância do dono e conseqüentemente, não passando para a posse tranqüila daquele". (RT 604/424).
"É tentado o furto quando a res não sai da esfera de vigilância da vitima, ou não tem o agente sua posse tranqüila." (JTACRIM 64/256)
Contudo, nosso estatuto repressivo enumera casos em que a tentativa não é punida, como é o caso do artigo 17, do referido dispositivo legal, que trata da hipótese do CRIME IMPOSSÍVEL, o qual exige que o meio empregado pelo agente e o objeto sobre o qual recai a conduta sejam absolutamente inidôneos para produzir a finalidade e o resultado buscado (teoria objetiva temperada ou moderada adotada pelo direito pátrio). O mencionado dispositivo funciona como causa excludente da tipicidade, pois o bem jurídico não sofre risco algum, logo não há punição.
Damásio E. de Jesus dá a seguinte noção de crime impossível: "Em determinados casos, após a prática do fato, verifica-se que o agente nunca poderia consumar o crime, quer pela ineficácia absoluta do meio empregado, quer pela absoluta impropriedade do objeto material (pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta) ] ".
Nesse sentido, a seguinte ementa do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em que foi relator o Desembargador Jorge Adelar Finatto:
EMENTA: TENTATIVA DE FURTO QUALIFICADO PELO ABUSO DE CONFIANÇA. RES FURTIVA QUE NÃO SAI DA ESFERA DE VIGILÂNCIA DA
VÍTIMA. CRIM E IMPOSSÍVEL. A denunciada não obteve a posse tranqüila do dinheiro que teria retirado do caixa da farmácia com intenção de furto. Ação da ré integralmente monitorada por filmadora. Empregada vigiada o tempo todo. Ação imediatamente interrompida por segurança do estabelecimento, que solicita a devolução da importância, sendo de pronto atendido pela denunciada. Ação praticada que nenhuma lesão causa à vítima, ausência de qualquer prejuízo. Decisão absolutória que se impõe. Apelo provido. (TJRS. Apelação Crime Nº (00)00000-0000, 6a Câmara Criminal, Relator: Jorge Adelar Finatto, dj: 16/02/2006).
No presente caso, a conduta do acusado foi vigiada pelo preposto do supermercado, nesse caso, tanto a doutrina como a jurisprudência tem posicionamentos controversos, sendo que na busca de uma solução ponderável sobre o dilema envolto da citada questão, inicialmente um exame do caso prático acerca da absoluta ou relativa ineficácia do meio deve ser realizado, tendo em vista que no ambiente jurídico, notadamente, tudo se guia pelo teor do caso prático, do fato real a ser verificado.
Nesse sentido, peremptório o entendimento jurisprudencial:
RESTABELECIMENTO DA CONDENAÇAO. AUSÊNCIA DE OFENSA AO PRINCÍPIO TANTUM DEVOLUTUM QUANTUM APELATUM. CRIME IMPOSSÍVEL, FACE AO SISTEMA DE VIGILÂNCIA DO ESTABELECIMENTO
COMERCIAL. INOCORRÊNCIA. [...] O pleito de absolvição fundado em que o sistema de vigilância do estabelecimento comercial tornou impossível a subtração da coisa não pode vingar. A paciente e seu comparsa deixaram o local do crime, somente sendo presos após perseguição, restando, assim, caracterizada a tentativa de furto. Poderiam, em tese, lograr êxito no intento delituoso. Daí que o meio para a consecução do crime não era absolutamente ineficaz. Ordem indeferida".
O emérito doutrinador compartilha desse posicionamento na medida que afirma não se tratar o fato de crime impossível, já que a vigilância eletrônica apenas facilita a prisão em flagrante. Conforme reafirmado, a tentativa de furto apenas nãose consuma porque o agente não foi eficaz o suficiente para evadir-se do estabelecimento com a res furtiva.
Ainda, a Jurisprudência nesse sentido:.
"Penal. Recurso de apelação. Furto. Monitoramento de toda a ação por circuito interno de TV. Crime impossível. Absolvição mantida."Estando o agente sendo observado e seus passos, desde o início, monitorados pelo circuito interno de TV e pelos seguranças da loja, os quais, inclusive, aguardaram o momento apropriado para detê-lo e acionar a polícia, forçoso concluir que este jamais conseguiria chegar à consumação de subtração, tornando a tentativa em crime impossível, já que o meio empregado revelou-se absolutamente incapaz de produzir o resultado almejado"(TJMG - 3a C. - AP 1.0317.00000-00/001 (1) - Rel. Paulo Cezar Dias - j. 27.01.2009 - DOE 12.03.2009).
Em sendo assim, considerando-se as alegações acima expostas, cumpre-se considerar como impossível o crime de furto, absolvendo-se o acusado do crime previsto na Denúncia.
2-DO FURTO FAMÉLICO - PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Não acolhendo a tese de crime impossível cumpre-se considerar a impunibilidade do acusado diante do Furto Famélico, senão vejamos:.
Conforme consta do auto de apreensão e da denúncia, o acusado está sendo indiciado pela prática de furto de DUAS PEÇAS DE CARNE BOVINA, VEJAMOS O LAUDO DE APREENSAO:
OS PRODUTOS APREENDIDOS FORAM AVALIDADOS EM R$ 35,00.
A acusada confessou a prática do furto e mostra-se arrependido, deixando consignado que o fato se deu em momento de extrema necessidade, desespero, visando a atender a sua subsisitência.
O furto famélico ocorre quando alguém furta para saciar uma necessidade urgente e relevante, foi o que ocorreu.
O acusado tentou o furto para comer pois, se não furtasse, morreria de fome, destacando estar desempregado, em situação de rua, passando por extrema dificuldade.
Há que se destacar que o furto famélico não é crime porque a pessoa age em estado de necessidade: para proteger um bem jurídico mais valioso - sua vida ou a vida de alguém - a pessoa agride um bem jurídico menos valioso - a propriedade de uma outra pessoa. O acusado o fez para proteger a vida de sua família.
A possibilidade de subsistência alimentar é o requisito mínimo a uma existência humana com dignidade. Segundo Boff1 o problema da pobreza e da miséria chega a constituir-se em uma questão" ecológica, na sua dimensão social ".
Assim sendo, o direito de propriedade somente poderá prevalecer enquanto não atinja esses direitos básicos pressupostos à realização da justiça, dentre os quais a subsistência no aspecto da alimentação destaca-se sobremaneira.
O furto, enquanto crime de natureza patrimonial, encontra-se ligado a essa problemática. E a figura doutrinariamente denominada de" furto famélico "deve ser sob essa ótica analisada
O furto famélico configura-se quando o furto" é praticado por quem, em estado de extrema penúria, é impelido pela fome, pela inadiável necessidade de se alimentar ", efetivamente, foi o que ocorreu!!
O furto famélico não apresentaria dificuldades em adequar-se àqueles chamados por Frederico Marques de " requisitos da situação de necessidade "( perigo atual, ameaça a direito próprio ou alheio, situação não provocada voluntariamente pelo agente e inexistência do dever legal de enfrentar o perigo.
-DA CONDUTA DIVERSA DA SUPRALEGAL:
A inexigibilidade de conduta diversa é uma causa geral de exclusão de culpabilidade fundada na não censurabilidade de uma conduta, quando não se pode exigir do agente, em determinadas circunstâncias e com base nos padrões sociais vigentes, diferente ação ou omissão."
O reconhecimento do furto famélico como um caso de inexigibilidade de conduta diversa supralegal seria um tributo ao Princípio Fundamental Constitucional da "dignidade da pessoa humana, insculpido no art. 1º, III, da Constituição Federal.
-DA JURISPRUDÊNCIA:
Decisivo o entendimento do C. STJ na análise de caso análogo:
STJ RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS RHC 23376 MG 2008/00000-00 (STJ)
Data de publicação: 20/10/2008
Ementa: RECURSO ORDINÁRIO. FURTO SIMPLES. BISCOITOS, LEITE, PÃES E BOLOS. CRIME FAMÉLICO . ÍNFIMO VALOR DOS BENS. AUSÊNCIA DE LESIVIDADE AO PATRIMÔNIO
DAS VÍTIMAS. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA .
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. PROVIMENTO DO RECURSO. 1. O princípio da insignificância em matéria penal deve ser aplicado excepcionalmente, nos casos em que, não obstante a conduta, a vítima não tenha sofrido prejuízo relevante em seu patrimônio, de maneira a não configurar ofensa expressiva ao bem jurídico tutelado pela norma penal incriminadora. Assim, para afastar a tipicidade pela aplicação do referido princípio , o desvalor do resultado ou o desvalor da ação, ou seja, a lesão ao bem jurídico ou a conduta do agente, devem ser ínfimos. 2. In casu, conquanto o presente recurso não tenha sido instruído com o laudo de avaliação das mercadorias, tem-se que o valor total dos bens furtados pelo recorrente - pacotes de biscoito, leite, pães e bolos -, além de ser ínfimo, não afetou de forma expressiva o patrimônio das vítimas, razão pela qual incide na espécie o princípio da insignificância , reconhecendo-se a inexistência do crime de furto pela exclusão da ilicitude. Precedentes desta Corte. 3. Recurso provido, em conformidade com o parecer ministerial, para conceder a liberdade ao recorrente, se por outro motivo não estiver preso, e trancar a ação penal por falta de justa causa.
Portanto, a conduta praticada pelo acusado, em estado de extrema necessidade, vendo sua família passar por dificuldade, desempregado, com aluguel atrasado, tendo que alimentar a filha menor e a esposa, não pode ser considerada crime, e sim, conduta diversa da supralegal.
-DO VALOR ÍNFIMO DO BEM SUBTRAÍDO - PRINCIPIO DA INSIGNIFICÂNCIA:
Conforme se extrai do auto de avaliação do bem furtado, verifica-se que se trata de uma peças de carne bovina avaliada em R$ 35,00 ou veja, pouco mais de 3% do valor do salário mínimo nacional.
Conforme o STF afirma, o posicionamento que prevalece nos casos de furto famélico tem como escopo principal o princípio da insignificância, pois analisando a exclusão da tipicidade material não haverá o crime de furto famélico.
O furto famélico subsiste com o princípio da insignificância, posto não integrarem binômio inseparável. É possível que o reincidente cometa o delito famélico que induz ao tratamento penal benéfico, o que ocorreu no presente caso.
Deveras, a insignificância destacada do estado de necessidade impõe a análise de outros fatores para a sua incidência. É cediço que a) O princípio da insignificância incide quando presentes, cumulativamente, as seguintes condições objetivas: (a) mínima ofensividade da conduta do agente, (b) nenhuma periculosidade social da ação, (c) grau reduzido de reprovabilidade do comportamento, e (d) inexpressividade da lesão jurídica provocada; b) a aplicação do princípio da insignificância deve, contudo, ser precedida de criteriosa análise de cada caso, a fim de evitar que sua adoção indiscriminada constitua verdadeiro incentivo à prática de pequenos delitos patrimoniais.
Vale destacar que as circunstâncias pessoais, tais como reincidência e maus antecedentes, não pode ser restrita a aplicação do princípio da insignificância, pois este está diretamente ligado ao bem jurídico tutelado, devido ao seu pequeno valor econômico, está excluído do campo de incidência do direito penal.
O recorrente sustenta que a conduta da ré não se subsome ao tipo do art. 155 do Estatuto Repressor, em face do pequeno valor econômico das mercadorias que ela teria tentado subtrair, atraindo a incidência do princípio da insignificância, bem como, pelo fato do acusado tentar furtá-las para consumo próprio.
O princípio da insignificância se tratando de matéria penal deve ser aplicado nos casos em que, não afastando a conduta do agente, a vítima não tenha sofrido prejuízo maior em seu patrimônio, de maneira a não configurar ofensa enorme ao bem jurídico tutelado. Assim afasta-se a tipicidade pela aplicação do referidoprincípio, sendo analisado que o bem jurídico em sim seja de valor ínfimo.
-POSIÇÃO DO STF COM RELAÇÃO AO PRINCIPIO DA INSIGNIFICANCIA E A VIDA PREGRESSA DO ACUSADO:
Apesar do acusado já ter praticado crime dessa natureza, não há se afastar o principio da insignificância no presente caso.
Destacamos a Ementa extraída do site do STF nos autos do HC 123.108
HABEAS CORPUS 123.108 MINAS GERAIS RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO PACTE.(S) :JOSÉ ROBSON ALVES IMPTE.(S) :DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO PROC.(A/S)(ES) :DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL COATOR (A/S)(ES) :SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Ementa: PENAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. CRIME DE FURTO SIMPLES. REINCIDÊNCIA. 1. A aplicação do princípio da insignificância envolve um juízo amplo (" conglobante "), que vai além da simples aferição do resultado material da conduta, abrangendo também a reincidência ou contumácia do agente, elementos que, embora não determinantes, devem ser considerados. 2. Por maioria, foram também acolhidas as seguintes teses: (i) a reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto; e (ii) na hipótese de o juiz da causa considerar penal ou socialmente indesejável a aplicação do princípio da insignificância por furto, em situações em que tal enquadramento seja cogitável, eventual sanção privativa de liberdade deverá ser fixada, como regra geral, em regime inicial aberto, paralisando-se a incidência do art. 33, § 2º, c, do CP no caso concreto, com base no princípio da proporcionalidade. 3. No caso concreto, a maioria entendeu por não aplicar o princípio da insignificância, reconhecendo, porém, a necessidade de abrandar o regime inicial de cumprimento da pena. 4. Ordem concedida de ofício, para alterar de semiaberto para aberto o regime inicial de cumprimento da pena imposta ao paciente.
-DO JULGAMENTO DE CASO RECENTE PROFERIDO PELO C. STJ
O ministro Nome, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, concedeu na noite desta terça-feira (12) um habeas corpus para libertar a mulher acusada de furtar uma Coca-Cola de 600 ml, dois pacotes de macarrão instantâneo Miojo e um pacote de suco em pó Tang em um supermercado da capital paulista
Relator do habeas corpus impetrado pela Defensoria Pública de São Paulo, Paciornik acolheu os argumentos da Defensoria, que afirmava que a mulher tinha cometido um"furto famélico"e, portanto, mesmo reincidente no crime, tinha respaldo na lei para não ser mantida presa. Para o relator, a lesão ínfima ao bem jurídico e o estado de necessidade da mulher não justificam o prosseguimento do inquérito policial.
"Essa é a hipótese dos autos. Cuida-se de furto simples de dois refrigerantes, um refresco em pó e dois pacotes de macarrão instantâneo, bens avaliados em R$ 21,69, menos de 2% do salário mínimo, subtraídos, segundo a paciente, para saciar a fome, por estar desempregada e morando nas ruas há mais de dez anos", concluiu o ministro ao trancar a ação penal e determinar a soltura da mulher.
2- DA TENTATIVA DE FURTO:
Caso não seja acolhida as alegações acima da caracterização de crime impossível e furto famélico, cumpre-se destacar que o mesmo foi denunciado pela prática de Furto, como incurso no artigo 155"caput"do Código Penal.
Porém, o furto não foi consumado, a mercadoria foi devolvida a vítima, de forma integral, sem que houvesse qualquer prejuízo.
Reiterando, o artigo 155"caput"do CP descreve o crime de furto como a subtração para si ou para outrem, de coisa alheia móvel, tipo penal este que visa proteger a propriedade, a posse legitima e a detenção, com o fim de assenhoreamento definitivo.
Logo, o tipo subjetivo se perfaz com a subtração da coisa alheia móvel, cujo objetivo da tutela penal se fundamenta na proteção da posse (detenção) e propriedade.
Nesse contexto, conforme a inteligência dispensada pelo art. 14, inciso II, do CP, a TENTATIVA se caracteriza com a realização incompleta da conduta típica que o sujeito ativo, a qual após ser iniciada, não se conclui por circunstâncias alheias à sua vontade.
Convém esclarecer que a tentativa pode ser classificada como imperfeita ou inacabada (que sujeito não esgota toda a sua capacidade ofensiva contra o bem jurídico tutelado, sendo a ação interrompida durante o processo executório) e a perfeita, acabada ou crime falho (a fase de execução é realizada integralmente pelo agente, mas o resultado não se verifica por circunstâncias alheias à sua vontade), todavia, a legislação vigente não faz qualquer distinção entre tais espécies, as quais recebem o mesmo tratamento dispensado pelo art. 14, inciso II, do CP.
A teor desse mesmo entendimento, colaciono os seguintes julgados que tratam do crime de furto pela tentativa, em virtude do fato da"res furtiva"não ter a coisa saído da esfera de vigilância da vitima:
"Somente quando a custódia ou vigilância, direta ou indiretamente exercida pelo proprietário, tenha sido totalmente iludida, é que se pode falar em furto consumado. Assim, não chegando a existir objetiva burla à vigilância, possibilitando á vítima logo reaver a res furtiva que havia sido tirada de sua posse direta, deve ser o delito desclassificado para a forma tentada". (JTACRIM 76/264)
"Caracteriza-se o furto tentado simples quando o crime material não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente, não chegando a res furtiva a sair da esfera de vigilância do dono e conseqüentemente, não passando para a posse tranqüila daquele". (RT 604/424).
"É tentado o furto quando a res não sai da esfera de vigilância da vitima, ou não tem o agente sua posse tranqüila." (JTACRIM 64/256)
Portanto, a título de cautela, o crime não foi consumado, havendo sim a tentativa de furto e não furto consumado.
Ante o exposto, requer-se a Vossa Excelência:
-Seja a acusada absolvida da prática do crime descrito na Denúncia, tendo em vista os motivos acima narrados, considerando-se o crime impossível, ou, furto famélico, ou ainda, em caso de não acolhimento das alegações, ocorra a desclassificação do crime consumado para crime tentado. 
-Sejam deferidos todos os meios de prova em direito admitidos.
Termos em que pede deferimento.
Luz Anil, 12 de maio de 2022.
Rafael Alvarenga Fonseca Reis
OAB/MG 43255

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