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Introdução aos Cuidados Paliativos

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Cuidados Paliativos – Amanda Longo Louzada 
1 INTRODUÇÃO A CUIDADOS PALIATIVOS 
DEFINIÇÃO DE CUIDADOS PALIATIVOS: 
 OMS: “Cuidado Paliativo é uma abordagem que 
promove a qualidade de vida de pacientes e 
seus familiares, que enfrentam doenças que 
ameacem a continuidade da vida, através da 
prevenção e alívio do sofrimento. Requer a 
identificação precoce, avaliação e tratamento da 
dor e outros problemas de natureza física, 
psicossocial e espiritual” 
 A International Association for Hospice & 
Palliative Care (IAHPC): “Os Cuidados 
Paliativos são cuidados holísticos ativos, 
ofertados a pessoas de todas as idades que 
encontram-se em intenso sofrimento 
relacionados à sua saúde , proveniente de 
doença grave, especialmente aquelas que estão 
no final da vida. O objetivo dos Cuidados 
Paliativos é, portanto, melhorar a qualidade de 
vida dos pacientes, de suas famílias e de seus 
cuidadores 
INTRODUÇÃO: 
 Temos assistido nas últimas décadas a um 
envelhecimento progressivo da população, assim 
como o aumento da prevalência do câncer e de 
outras doenças crônicas. Em contrapartida, o 
avanço tecnológico alcançado principalmente a 
partir da segunda metade do século XX, 
associado ao desenvolvimento da terapêutica, 
fez com que muitas doenças mortais se 
transformassem em doenças crônicas, levando a 
longevidade dos portadores dessas doenças. No 
entanto, apesar dos esforços dos pesquisadores 
e do conhecimento acumulado, a morte continua 
sendo uma certeza, ameaçando o ideal de cura 
e preservação da vida, para o qual nós, 
profissionais da saúde, somos treinados. 
 Os pacientes “fora de possibilidade de cura” 
acumulam-se nos hospitais, recebendo 
invariavelmente assistência inadequada, quase 
sempre focada na tentativa de cura, utilizando 
métodos invasivos e de alta tecnologia. Essas 
abordagens, ora insuficientes, ora exageradas e 
desnecessárias, quase sempre ignoram o 
sofrimento e são incapazes, por falta de 
conhecimento adequado, de tratar os sintomas 
mais prevalentes, sendo o principal sintoma e o 
mais dramático, a dor. Não se trata de cultivar 
uma postura contrária à medicina tecnológica, 
mas questionar a “tecnolatria” e refletirmos sobre 
a nossa conduta, diante da mortalidade humana, 
tentando o equilíbrio necessário entre o 
conhecimento científico e o humanismo, para 
resgatar a dignidade da vida e a possibilidade de 
se morrer em paz. 
 Abordagem para um olhar de cuidados 
proporcionais e adequados 
 Dignidade e respeito a valores 
 Respeito aos princípios da bioética 
HISTÓRIA DOS CUIDADOS PALIATIVOS: 
NO MUNDO: 
 Paliativo vem da palavra latina palium que 
significa manto de proteção que os cavaleiros 
usavam para se proteger das intempéries 
 Camada extra de proteção, para atenuar, 
acalmar ou abrandar temporariamente um mal. 
 Então paliar significa aliviar o sofrimento 
 O Cuidado Paliativo se confunde historicamente 
com o termo Hospice. Esta palavra data dos 
primórdios da era cristã quando estas 
instituições fizeram parte da disseminação do 
cristianismo pela Europa. Hospices eram abrigos 
(hospedarias) destinados a receber e cuidar de 
peregrinos e viajantes, cujo relato mais antigo 
remonta ao século V, onde Fabíola, discípula de 
São Jerônimo, cuidava de viajantes vindos da 
Ásia, África e dos países do leste, no Hospício 
do Porto de Roma. Várias instituições de 
caridade surgiram na Europa no século XVII 
abrigando pobres, órfãos e doentes. Esta prática 
se propagou com organizações religiosas 
católicas e protestantes, e no século XIX 
passaram a ter características de hospitais. As 
Irmãs de Caridade Irlandesas fundaram o “Our 
Lady’s Hospice of Dying” em Dublin em 1879 e a 
Ordem de Irmã Mary Aikenheads abriu o “St 
Joseph’s Hospice” em Londres em 1905. 
 O Movimento Hospice Moderno foi introduzido 
por uma inglesa com formação humanista e que 
se tornou médica, Dame Cicely Saunders. Em 
1947 Cicely Saunders, formada recentemente 
como Assistente Social e em formação como 
enfermeira, conheceu um paciente judeu de 40 
anos chamado David Tasma, proveniente do 
Gueto de Varsóvia. David recebera uma 
colostomia paliativa devido a um carcinoma retal 
inoperável. Cicely o visitou até sua morte, tendo 
com ele longas conversas. David Tasma deixou-
lhe uma pequena quantia como herança, 
dizendo: “Eu serei uma janela na sua Casa”. 
Este foi, segundo Cicely Saunders, o ponto de 
partida para o compromisso com uma nova 
forma de cuidar. Dessa forma, em 1967 funda o 
“St. Christopher’s Hospice”, cuja estrutura não só 
permitiu a assistência aos doentes, mas o 
desenvolvimento de ensino e pesquisa, 
recebendo bolsistas de vários países. 
Cuidados Paliativos – Amanda Longo Louzada 
2 INTRODUÇÃO A CUIDADOS PALIATIVOS 
 Cicely Saunders relata que a origem do Cuidado 
Paliativo moderno inclui o primeiro estudo 
sistemático de 1.100 pacientes com câncer 
avançado cuidados no St. Joseph’s Hospice 
entre 1958 e 1965. Um estudo descritivo, 
qualitativo foi baseado em anotações clínicas e 
gravações de relatos de pacientes. Este estudo 
mostrou o efetivo alívio da dor quando os 
pacientes foram submetidos a esquema de 
administração regular de drogas analgésicas em 
contrapartida de quando recebiam analgésicos 
“se necessário”. Este trabalho publicado por 
Robert Twycross nos anos 1970 põe por terra 
mitos sobre os opiáceos. Foram mostradas 
evidências que os opiáceos não causavam 
adição nos pacientes com câncer avançado e 
que a oferta regular destes medicamentos não 
causavam maiores problemas de tolerância. O 
que se ouvia nos relatos dos pacientes era alívio 
real da dor 
 Na década de 1970, o encontro de Cicely 
Saunders com Elisabeth Klüber-Ross nos 
Estados Unidos fez com que o movimento 
Hospice também crescesse naquele país 
 O termo Cuidados Paliativos, já utilizado no 
Canadá, passou a ser adotado pela OMS devido 
à dificuldade de tradução adequada do termo 
Hospice em alguns idiomas. A OMS publicou sua 
primeira definição de Cuidados Paliativos em 
1990: “Cuidado ativo e total para pacientes cuja 
doença não é responsiva a tratamento de cura. 
O controle da dor, de outros sintomas e de 
problemas psicossociais e espirituais é 
primordial. O objetivo do Cuidado Paliativo é 
proporcionar a melhor qualidade de vida possível 
para pacientes e familiares”. Esta definição foi 
revisada em 2002 e substituída pela atual. 
NO BRASIL: 
 O Cuidado Paliativo no Brasil teve seu início na 
década de 1980 e conheceu um crescimento 
significativo a partir do ano 2000, com a 
consolidação dos serviços já existentes, 
pioneiros e a criação de outros não menos 
importantes. A cada dia vemos surgir novas 
iniciativas em todo o Brasil. 
PRINCÍPIOS: 
 1. Promover o alívio da dor e outros sintomas 
desagradáveis (DOR TOTAL) 
 2. Afirmar a vida e considerar a morte como um 
processo normal da vida 
 3. Não acelerar nem adiar a morte 
 4. Integrar os aspectos psicológicos e espirituais 
no cuidado ao paciente 
 5. Oferecer um sistema de suporte que 
possibilite o paciente viver tão ativamente quanto 
possível, até o momento da sua morte 
 6. Oferecer sistema de suporte para auxiliar os 
familiares durante a doença do paciente e a 
enfrentar o luto 
 7. Abordagem multiprofissional para focar as 
necessidades dos pacientes e seus familiares, 
incluindo acompanhamento no luto 
 8. Melhorar a qualidade de vida e influenciar 
positivamente o curso da doença 
 9. Deve ser iniciado o mais precocemente 
possível, juntamente com outras medidas de 
prolongamento da vida, como a quimioterapia e 
a radioterapia e incluir todas as investigações 
necessárias para melhor compreender e 
controlar situações clínicas estressantes 
 Pela própria definição de Cuidados Paliativos da 
OMS, esses devem ser iniciados desde o 
diagnóstico da doença potencialmente mortal. 
Desta forma iremos cuidardo paciente em 
diferentes momentos da evolução da sua 
doença, portanto não devemos privá-lo dos 
recursos diagnósticos e terapêuticos que o 
conhecimento médico pode oferecer. Devemos 
utilizá-los de forma hierarquizada, levando-se em 
consideração os benefícios que podem trazer e 
os malefícios que devem ser evitados. 
DOENÇAS QUE MERECEM AVALIAÇÃO: 
 Câncer: qualquer paciente com câncer 
metastático ou inoperável 
 Doenças cardiológicas: 
 Sintomas de insuficiência cardíaca congênita 
durante o repouso 
 FE < 20% 
 Uma nova disritmia 
 Ataque cardíaco, síncope ou AVC 
 Idas frequentes ao PS devido aos sintomas 
 Doenças neurologicas 
 Quadro demenciais: 
 Incapacidade de andar 
 Incontinência 
 Menos de seis palavras inteligíveis 
 Albumina < 2,5 ou menor ingestão via oral 
 Idas frequentes ao PS 
 Doenças renais: 
 Não candidato à diálise 
 Depuração da creatinina < 15 mL\min 
 Creatinina sérica > 6 
 Doenças respiratórias: 
 Dispneia durante o repouso 
 Sinais ou sintomas de insuficiência cardíaca 
direita 
 Saturação de O2 < 88% 
 PCO2 > 50 
Cuidados Paliativos – Amanda Longo Louzada 
3 INTRODUÇÃO A CUIDADOS PALIATIVOS 
 Perda de peso não intencional 
 Doenças Hepáticas: 
 TP > 5 segundos 
 Albumina < 2,5 
 Ascite refratária 
 Peritonite bacteriana espontânea 
 Icterícia 
 Desnutrição ou perda de massa muscular 
 Síndrome da Fragilidade: 
 Idas frequentes ao PS 
 Albumina < 2,5 
 Perda de peso não intencional 
 Úlceras de decpubito 
 Confinamento ao leito\ ao domícilio

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