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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DISCIPLINA: PSICOLOGIA PARA NUTRIÇÃO PROFESSORES: CÁSSIO EDUARDO SOARES MIRANDA E ELIVELTON CARDOSO VIEIRA ANOREXIA TERESINA - PI MAIO/ 2022 1 INTRODUÇÃO A anorexia nervosa (AN) é um transtorno alimentar que se caracteriza por perda de peso voluntária e distúrbios de imagem corporal, acompanhados de medo intenso de ganhar peso. A AN foi o primeiro transtorno alimentar a ser descrito ainda no século XIX e o primeiro a ser classificado e a ter critérios diagnósticos oficializados já na década de 1970 (ALVARENGA et al., 2020). Segundo Giordani (2006), o termo anorexia nervosa seria inadequado para designar a doença, pois do grego an significa ausência e orexis apetite, no entanto, não se trata absolutamente de uma ausência de apetite, mas sim da recusa consciente e obstinada da pessoa em alimentar-se com o intuito de perder peso. De acordo com Barbosa et al. (2009), são descrito dois tipos de apresentação para anorexia: o primeiro, os pacientes têm apenas comportamentos restritivos associados à dieta (tipo restritivo), caracterizada por restrição da ingestão calórica, aumento do gasto energético, jejum e outros comportamentos compensatórios não purgativos; e o outro grupo (tipo purgativo), no qual ocorrem episódios de compulsão alimentar e/ou comportamentos mais perigosos, como os vômitos autoinduzidos, o abuso de laxativos e de diuréticos. A prevalência de AN é estimada entre 0,5 e 1% da população. Cerca de 90% dos pacientes são do sexo feminino e a faixa etária mais atingida é dos 15 aos 25 anos. Algumas profissões apresentam maior probabilidade para o desenvolvimento do quadro, em especial aquelas ligadas à estética e ao corpo, como bailarinas, atletas, profissionais da moda, atrizes e atores, estudantes de Nutrição, Medicina e Psicologia (ALVARENGA et al., 2020). Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi analisar os mecanismos da anorexia, assim como também, compreender a formação da imagem corporal nesses pacientes e identificar as estratégias nutricionais aplicadas no tratamento desse tipo de transtorno alimentar. 2 METODOLOGIA Esse trabalho consiste em um levantamento de dados através das bases Google acadêmico e Scielo, utilizando os termos “anorexia” e “anorexia e Psicologia”. Os artigos selecionados foram aqueles que trouxeram uma visão da Psicologia acerca dessa temática e os que traziam uma abordagem voltada para a Nutrição e para o papel do nutricionista no tratamento desse transtorno alimentar. Além disso, foi realizada uma entrevista com uma nutricionista, através de um questionário elaborado pelo “Google Forms” com quatro perguntas. De acordo com as respostas da profissional foi feita uma análise comparativa com os dados encontrados na literatura. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO O surgimento da anorexia nervosa está associado a fatores de riscos como aceitar as atitudes da sociedade em relação à magreza; ser perfeccionista; sexo feminino; sofrer de ansiedade na infância; sentir-se cada vez mais preocupada como o peso ou dar excessiva atenção ao peso e à forma; ter problemas de alimentação e gastrointestinais na infância; ter um histórico familiar de transtornos alimentares; ter pais que se preocupam como peso e com perder peso; ter uma autoimagem negativa; e influência midiática (BARBOSA; MIRANDA, 2019). Segundo Schmidt e Mata (2008), é importante destacar que a confluência de alguns fatores como adolescência, conduta alimentar restrita, emagrecimento e amenorreia estão diretamente associados a suspeitas de anorexia nervosa. Em relação aos sintomas apresentados pelos anoréxicos podem ser citados as manifestações gastrintestinais (constipação, diminuição da motilidade intestinal, diarreia); ausência de apetite; redução considerável do peso; bradicardia; hipotensão arterial; falhas na termorregulação; debilidade física; desidratação; imunidade baixa; ressecamento da pele; cabelos e unhas quebradiços; descalcificações e dores ósseas. Diante disso, cabe destacar que a anorexia nervosa se apresenta em graus variados de comportamento e de gravidade, tendo quatro abordagens para seu tratamento: a recuperação nutricional, que pode necessitar da abordagem psicofarmacológica, com o intuito de uma suspensão mais rápida da recusa ao alimento; a terapia individual e a terapia familiar (BARBOSA; MIRANDA, 2019; SCHMIDT; MATA, 2008; MANACHIO et al., 2020). Segundo Schmidt e Mata (2008), a porcentagem de pacientes que se recuperam completamente é pequena, sendo que um terço deles continua a ter problemas com a imagem corporal e 40% adquirem sintomas de bulimia ou dificuldades psiquiátricas diversas. Quando a ligação do quadro de anorexia tem uma estreita relação com a crise da adolescência, o prognóstico tende a ser melhor, entretanto, casos de surgimento tardio do quadro, retardo no diagnóstico e na intervenção, assim como conflitos familiares estão associados a um pior prognóstico da anorexia nervosa. No que se refere à percepção da imagem corporal em indivíduos anoréxicos, de acordo com Giordani (2006) na anorexia nervosa, a representação mental que o sujeito opera sobre o seu corpo é incoerente à sua realidade carnal; a anoréxica representa o seu corpo sempre gordo. Essa autoimagem deslocada da realidade da carne, em excesso e extravagância, é a máxima instigante dessa patologia, insatisfação propulsora e contínua que irá apagar, através da abstinência resoluta e sem fim, os limites plásticos do seu corpo. Dessa forma, a imagem do excesso que se projeta no corpo anoréxico traduzida pelo sujeito como gordura, metaforiza significações elaboradas a partir das interações cotidianas. A gordura pode ser uma metáfora das marcas afetivas, emocionais e socioculturais permanentemente inscritas no corpo. Ademais, para melhorar o entendimento a cerca dessa temática, serão apresentadas as respostas obtidas no questionário aplicado a Nutricionista e as posteriores considerações. Figura 1. Questionário – Psicologia para Nutrição. Fonte: Dados da pesquisa (2022). Em relação à primeira pergunta, comparando com o trabalho de Ludewig et al., (2017), compreende-se que os adolescentes estão sendo influenciados pelos meios de comunicação, que promovem a busca pelo corpo ideal. Esse perfil socialmente aceito pode introduzir no púbere uma alimentação inadequada e, futuramente, propiciar o desenvolvimento de TA’s, fato este que confirma a resposta da nutricionista entrevistada. No que se refere à segunda pergunta, Latterza et al., (2004) corroboram com a resposta ao afirmarem que o nutricionista participa de todo processo de planejamento das refeições, ajudando o paciente a consumir uma dieta adequada e monitorando o balanço energético, assim como o ganho de peso. Deve-se ajudar o paciente a normalizar o seu padrão alimentar e aprender que a mudança de comportamento deve sempre envolver planejamento e o contato com os alimentos. Ademais, Garber et al., (2015) pontuam que para pacientes com AN estando em terapia nutricional, as recomendações de realimentação de uso atual devem sempre começar com baixas calorias e avançando lentamente a fim de evitar uma síndrome de realimentação que se caracteriza por anormalidades dos fluídos e eletrólitos, assim, também estão em concordância com a resposta da terceira pergunta. No mais, achados de Sicchieri et al., (2006) confirmam a resposta do último questionamento pois citam que há muito que se progredir nas abordagens de doenças psiquiátricas como essas que envolvem complicações nutricionais de ampla complexidade, porém o trabalho interdisciplinar desenvolvido por equipeé a melhor alternativa para se tratar esses doentes e suas famílias, que demandam tantos cuidados da equipe. Observando as estratégias nutricionais para o tratamento da anorexia nervosa, nota-se que a atuação do nutricionista é essencial. É ele que auxilia no planejamento das refeições, promovendo o consumo de uma dieta adequada e equilibrada, com o propósito de alcançar o ganho de peso e normalizando o seu padrão alimentar. Uma vez que as estratégias nutricionais com foco em uma ingestão alimentar adequada, de forma que atenda o paciente quanto as suas necessidades e recuperação do seu estado nutricional, fornece uma modificação positiva na capacidade total desses pacientes (INÁCIO et al., 2018). Como estratégias nutricionais há a restauração do peso, suplementação de zinco, cálcio e vitamina D. A suplementação de Zinco proporciona uma redução da ansiedade e depressão; já o cálcio e vitamina D ajudam a reduzir significativamente a osteopenia. Vale ressaltar a importância da avaliação dos níveis plasmáticos de mercúrio, já que alguns estudos apontaram que pacientes com déficits neuropsicológicos apresentaram níveis elevados de mercúrio além do recomendado. Como também, a prática das técnicas de terapia cognitivo-comportamental auxilia na diminuição da restrição alimentar, nas escolhas alimentares e no aumento de peso, além da redução de pensamentos disfuncionais em relação ao peso e da alimentação (INÁCIO et al., 2018). 4 CONCLUSÃO Mediante o exposto, destaca-se a importância do diagnóstico precoce para esse transtorno alimentar, assim como uma terapêutica adequada, composta por uma equipe multiprofissional, com o objetivo de criar um vínculo com o paciente, atuando de forma empática, colaborativa e flexível, a fim de obter resultados positivos no processo de tratamento da anorexia. Ademais, os aspectos culturais, sociais e políticos precisam ser levados em conta na formulação de políticas públicas e no planejamento de ações de intervenção. Por fim, observa-se, a necessidade de novas estratégias de cuidado e aprimoramento das habilidades de escuta por parte da equipe, a qual deve estar atenta às significações atribuídas ao alimento e ao corpo, sendo preciso conhecer os recursos que podem ser utilizados como ferramentas terapêuticas, proporcionando estratégias que contribuam para a otimização do acolhimento e do cuidado com esses pacientes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVARENGA, M. dos S.; DUNKER, K. L. L.; PHILIPPI, S. T. (org.). Transtornos alimentares e nutrição: prevenção ao tratamento. 1. ed. Barueri: Manole, 2020. BARBOSA, A. L. P.; MIRANDA, H. S. L. de. Psicologia e transtornos alimentares: produção científica sobre anorexia e bulimia nervosa, 2019. GARBER, A. K. et al. Prospective Examination of Weight Gain in Hospitalized Adolescents With Anorexia Nervosa on a Recommended Refeeding Protocol. J AdolescHealth, p. 24-29, 2015. GIORDANI, R. C. F. A auto-imagem corporal na anorexia nervosa: uma abordagem sociológica. 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Anorexia nervosa: uma revisão. Fractal: Revista de Psicologia, v. 20, n. 2, p. 387-400, 2008.