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2 SUMÁRIO 1 DESENVOLVIMENTO HUMANO ............................................................... 4 1.1 Fatores que influenciam o desenvolvimento humano .......................... 4 1.2 Fatores que influenciam o desenvolvimento humano .......................... 5 2 PRINCÍPIOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO ................................... 6 2.1 Aspectos do desenvolvimento humano ................................................ 7 3 AS ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO .................................... 8 4 O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E SOCIAL .................................... 10 4.1 O Desenvolvimento da inteligência .................................................... 10 5 PRINCIPAIS TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO .................................. 11 5.1 Teorias Behavioristas: Watson e Skinner ........................................... 12 5.2 Teorias cognitivistas: Vygotsky e Piaget ............................................ 13 5.3 Teorias psicanalíticas: Freud e Erikson .............................................. 15 6 APRENDIZAGEM HUMANA ..................................................................... 16 6.1 Teorias da aprendizagem ................................................................... 16 6.2 Tipos de aprendizagem ...................................................................... 19 6.3 Fatores que interferem na aprendizagem........................................... 20 7 INTELIGÊNCIA: processos de aprendizagens ......................................... 22 8 NEUROCIÊNCIA, EDUCAÇÃO E APRENDIZAGEM ............................... 25 8.1 Principais disciplinas da neurociência ................................................ 27 9 A INSERÇÃO DA NEUROBIOLOGIA NA EDUCAÇÃO ............................ 29 10 IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES EM NEUROEDUCAÇÃO ........................................................................................... 31 11 RELAÇÃO ENTRE COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM ........................... 33 12 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 36 3 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 1 DESENVOLVIMENTO HUMANO 1.1 Fatores que influenciam o desenvolvimento humano www.google.com.br Na perspectiva do desenvolvimento humano uma das teorias mais importantes e, quiçá, das mais completas para a época, foi a criada pelo suíço Jean Piaget famoso por seus estudos sobre o pensamento lógico nas crianças. Desenvolveu o método clínico de investigação das ideias infantis, amplamente utilizado por outros pesquisadores. Ao falar sobre desenvolvimento humano, o primeiro desafio encontrado pela Psicologia é conceituar o progresso humano, tendo em vista as diferentes teorias que postulam sobre esse conceito. Por desenvolvimento têm-se basicamente duas vertentes: as que contemplam a maturação, que são “padrões sequenciais de mudanças governados por instruções contidas no código genético e compartilhadas por todos os membros de uma espécie” (BEE; BOYD, 2011, p. 29 apud Cevolone et al., 2017); e as que versam sobre o desenvolvimento intelectual/cognitivo “que se referem à explicação de condutas, entidades, processos, disposições, organizações ou uma arquitetura mental”. (CASTORINA; CARRETERO, 2012, p. 12 apud Cevolone et al., 2017) 5 1.2 Fatores que influenciam o desenvolvimento humano www.google.com.br De acordo com os aspectos acima citados, Jean Piaget (Apud Bock, p. 98-99, 1999, apud Silva, Duarte e Ferreira, 2019) afirma que vários são os fatores que influenciam o desenvolvimento humano. • Hereditariedade - Cada criança ao nascer herda de seus sais uma carga genética que estabelece o seu potencial de desenvolvimento. Estas potencialidades poderão ou não se desenvolver de acordo com os estímulos advindos do meio ambiente. • Crescimento orgânico - Com o aumento da altura e estabilização do esqueleto, é permitido ao indivíduo comportamentos e um domínio de mundo que antes não eram possíveis. • Maturação Neurofisiológica - É o que torna possível determinados padrões de comportamento. Por exemplo, o aluno para ser, adequadamente, alfabetizado deve ter condições de segurar o lápis e manejá-lo com habilidade, para tanto, é necessário um desenvolvimento neurológico que uma criança de 2 anos ainda não possui. 6 • Meio Ambiente - Conjunto de influências e estimulações ambientais que alteram os padrões de comportamento do indivíduo. Uma criança muito estimulada para a fala pode ter um vocabulário excelente aos 3 anos e não subir escadas bem porque não vivenciou isso. 2 PRINCÍPIOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO www.bolsademulher.com O ser humano, no seu processo de desenvolvimento, se estabelece através da interação do indivíduo com o ambiente físico e social. Se caracteriza pelo desenvolvimento mental e pelo crescimento orgânico. Apesar das diferenças individuais, segue algumas tendências que são encontradas em todas as pessoas. Seis delas serão destacadas. (SANTOS, 2002) 1. O desenvolvimento humano é um processo ordenado e contínuo, dividido em quatro fases principais: infância, adolescência, idade adulta e senescência. (Santos, 2002) 2. O desenvolvimento humano se realiza da cabeça para as extremidades; sequência céfalo-caudal: a criança sustenta primeiro a cabeça, para só então levantar o tronco, sentar e andar; progride do centro para a periferia do corpo; sequência próximo distal: a criança movimenta primeiro os braços, para depois movimentar as mãos e os dedos (Santos, 2002) 7 para respostas específicas. A fala se torna mais abrangente em relação aos objetos a serem designados etc. O desenvolvimento se dá do geral para o específico. (Santos, 2002) 4. Os órgãos não crescem de maneira uniforme. Enquanto o cérebro, por exemplo, desenvolve-se rapidamente na infância, as outras partes do corpo seguem ritmos diferenciados, as vezes de forma lenta em outras aceleradamente. (Santos, 2002) 5. Cada indivíduo se desenvolve de acordo com um ritmo próprio que tende a permanecer constante segundo seus padrões de hereditariedade, se não for perturbado por influências externas, como má alimentação; ou internas, como doenças. (Santos, 2002) 6. Todos os aspectos do desenvolvimento humano são inter-relacionados, não podendo ser avaliados sem levar em conta essas mútuas interferências. (SANTOS, 2002) 2.1 Aspectos do desenvolvimento humano Para Santos (2002), o desenvolvimento deve ser entendido como uma globalidade; mas, em razão de sua riqueza e diversidade, é abordado, para efeito de estudo, a partir de quatro aspectos básicos: • Aspecto físico-motor - Refere-se ao crescimento orgânico, à maturação neurofisiológica, à capacidade de manipulação de objetos e de exercício do próprio corpo.• Aspecto intelectual - Inclui os aspectos de desenvolvimento ligados as capacidades cognitivas do indivíduo em todas as suas fases. Como quando, por exemplo, a criança de 2 anos puxa um brinquedo de baixo dos móveis ou adolescente planeja seus gastos a partir da mesada. • Aspecto afetivo emocional - É a capacidade do indivíduo de integrar suas experiências. São os sentimentos cotidianos que formam nossa estrutura emocional. Envolvem os aspectos relacionados ao convívio em sociedade. • Aspecto Social – É a forma como o indivíduo se relaciona com outras pessoas. A maneira que reage diante de algumas situações que envolvem os aspectos relacionados ao convívio em sociedade. Exemplo, observar a criança na escola, como se relaciona com os coleguinhas. 8 Todos esses aspectos estão presentes de forma concomitante no desenvolvimento do indivíduo: uma criança com dificuldades auditivas poderá apresentar problemas na aprendizagem, repetir o ano letivo, se isolar e por esta causa se tornar agressiva. Após tratada pode voltar a ter um desenvolvimento normal. Todas as teorias do desenvolvimento humano partem deste pressuposto de indissociabilidade desses quatro aspectos, mas, podem estudar o desenvolvimento global a partir da ênfase em um dos aspectos. (SANTOS, 2002) 3 AS ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO O estudo das etapas do desenvolvimento humano está presente praticamente desde o início da psicologia como ciência. Alguns dos autores mais famosos desse campo, como Jean Piaget ou Erik Erikson, criaram suas próprias teorias sobre as fases pelas quais temos que passar ao longo de nossa existência. (SANTOS,2002) A criação de uma vida nova é um momento mágico, que jamais se repete. Cumprindo a fantástica missão da espécie humana, o espermatozoide e o óvulo são os primeiros personagens da história humana. Eles se interpenetram e se fundem dando origem à vida e nesse momento único escrevem o primeiro capítulo do nosso destino. Os estágios do desenvolvimento humano são uma série de fases pelas quais as pessoas passam em nossa evolução desde o momento do nascimento até a velhice e a morte. Aprender a navegar corretamente por cada uma dessas etapas é essencial para levar uma vida boa e superar os desafios que nos são apresentados. (TORRES; TORRES, 2019) Andrade (2020), evidencia que há divergências na vivência das fases do desenvolvimento para cada sujeito a partir da realidade em que se está inserido socialmente e culturalmente, sendo as etapas vividas de forma subjetiva. Percebe-se também que tais etapas são imprescindíveis para o desenvolvimento adequado do sujeito. Assim como, compreende-se que se faz importante olhar para a infância e seu processo de desenvolvimento, sendo necessária maior atenção para os aspectos de cada etapa, vivenciada pelo sujeito a fim de auxiliar no seu desenvolvimento adequado. Segundo Pikunas (1999 apud Santos 2002), as fases do Desenvolvimento Humano podem ser divididas em: 9 image.slidesharecdn.com Portanto, entende-se de acordo com Torres; Torres (2020) que todo o processo de desenvolvimento humano é um conjunto de ações, fases e etapas que devem ser tomadas concomitantemente por todos os envolvidos no processo, visando ao desenvolvimento de uma consciência humana, social, cultural e ambiental, baseada na ética, na ciência e na inovação, que possa ser transmitida por meio de gerações, fazendo com que todos reflitam sobre a própria existência e suas relações com a sociedade e o planeta. 10 4 O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E SOCIAL 4.1 O Desenvolvimento da inteligência www.medplan.com.br Se os muitos psicólogos que pesquisam o funcionamento mental fossem solicitados a definir inteligência, haveria uma grande quantidade de diferenças de opinião. Alguns psicólogos comportamentais propõem que a inteligência é essencialmente uma capacidade geral única. Outros argumentam que a inteligência depende de muitas capacidades separadas. (SANTOS, 2017) Spearman (1863-1945 apud Santos, 2017) era um conhecido proponente do ponto de vista da capacidade ser única. Concluiu que todas as tarefas mentais solicitavam duas qualidades: inteligência e perícias específicas para o item individual. Resolver problemas de álgebra, por exemplo, exige inteligência geral mais um entendimento de conceitos numéricos. Spearman supôs que as pessoas espertas tivessem uma grande dose do fator geral. L.L. Thurstone (1887-1955 apud Santos, 2017), um engenheiro eletricista americano que se tornou um eminente fazedor de testes, esposava o ponto de vista das “capacidades separadas”. Alegava que o fator de abrangência geral de Spearman na realidade se constituía em sete habilidades algo distintas: 1) somar, subtrair, multiplicar e dividir; 2) escrever e falar com facilidade; 11 3) compreender ideias em forma de palavras; 4) reter impressões; 5) resolver problemas complexos e tirar proveito da experiência passada; 6) perceber corretamente relacionamentos de tamanho e espaciais; 7) identificar objetos rápida e exatamente. Embora Thurstone considerasse que estas capacidades eram relacionadas até certo ponto, ele enfatizava suas diferenças. Os primitivos psicólogos estavam muito mais interessados em inventar testes que pudessem diferenciar entre estudantes embotados e rápidos, para que pudessem ser designados para um currículo escolar apropriado. Por esta razão, as questões teóricas foram facilmente postas de lado. A inteligência passou a ser definida operacionalmente em termos dos testes destinados a medi-la. Em outras palavras, o que quer que os testes medissem era chamado de inteligência. Conceitos práticos como estes dominaram a pesquisa psicológica sobre a inteligência até bem recentemente, quando os cientistas comportamentais começaram a reexaminar seus pressupostos. Assim, distingue-se inteligência medida e inteligência. Por inteligência medida queremos dizer desempenho em uma situação específica de teste, sempre baseada em realizações: hábitos e habilidades adquiridos. Em contraste, definimos inteligência como uma capacidade para atividade mental que não pode ser medida diretamente. Assume-se o ponto de vista de que a inteligência consiste em muitas capacidades cognitivas separadas, inclusive as envolvidas em percepção, memória, pensamento e linguagem. Embora até certo ponto todos os seres humanos possuam estas capacidades, parece haver muita variabilidade na eficiência de cada processo. Supõe-se que a inteligência se aplica no ajustamento de cada processo e em todas as esferas da vida. Já que as investigações de inteligência se amparam fortemente em testes, é crucial compreender como os psicólogos têm medido as capacidades mentais. (SANTOS, 2017) 5 PRINCIPAIS TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO Do ponto de vista de Cortinaz (2009), o desenvolvimento humano pode ser estudado e pesquisado a partir de diferentes perspectivas teóricas, desde as ciências biológicas até as ciências humanas e sociais. Três grandes teorias do desenvolvimento humano se destacam com distintas características: as teorias behavioristas, as teorias cognitivistas e as teorias psicanalíticas. 12 5.1 Teorias Behavioristas: Watson e Skinner O behaviorismo é o estudo do desenvolvimento humano por meio da observação e da análise de aspectos do comportamento (behavior, em inglês). O comportamento, de modo geral, é entendido como a interação dos indivíduos com o meio e com outros indivíduos. Inicialmente, o behaviorismo estabelece duas unidades de análise para melhor compreender o desenvolvimento humano: estímulo e resposta. Os estímulos são as variáveis do meio com as quais o indivíduo interage; as respostas são as reações dos indivíduos aos estímulos provenientes do meio. J. B. Watson (1878-1958) é considerado o fundador do behaviorismoe também da psicologia científica. Antes de Watson e da postulação do behaviorismo, a psicologia se dedicava, tradicionalmente, ao estudo da consciência humana com base no método da introspecção. Apesar de não negar a existência da consciência, Watson defendeu que ela não deveria ser o objeto de estudo da psicologia; em contrapartida, propôs que o objeto de estudo da psicologia deveria ser o comportamento humano, a partir de métodos experimentais e observações objetivas. (CORTINAZ, 2018) O behaviorismo, então, é uma ciência do comportamento. Para Watson, o comportamento é constituído de estímulos observáveis provenientes do meio em que determinado organismo se insere e das respostas observáveis do organismo a esses estímulos. Os estímulos são um conjunto de excitações que agem sobre o organismo e podem ser quaisquer elementos do meio externo (luzes, sons e etc.) ou também modificações internas dos organismos (contrações do estômago causadas pela fome, por exemplo). Ao identificar as respostas resultantes dos estímulos, o psicólogo distingue, então, o comportamento. Ao distinguir o comportamento, o psicólogo deve ser capaz de prever a resposta e de reconhecer o estímulo. Watson defendeu que o desenvolvimento humano é estimulado pelo meio e modelado pelas experiências. (CORTINAZ, 2018) O norte-americano J. B. Skinner (1904-1990) foi o responsável pela ampliação da concepção do behaviorismo ao propor o behaviorismo radical. Skinner entendia que os comportamentos não são resultantes somente de estímulos aos indivíduos, mas decorrentes também de seus esquemas próprios, emitidos em determinado ambiente mesmo na ausência de estímulos. Para o pesquisador, ao responder a um estímulo, o indivíduo estaria apresentando um comportamento reflexo. Porém, em sua 13 interação com o meio (físico e social), o indivíduo é também ativo e faz apresentações intencionais, o que Skinner chamou de comportamento operante. A teoria de Skinner considera que os indivíduos agem de acordo com as consequências positivas ou negativas de seu comportamento. Portanto, não se pode pensar o indivíduo submetido ao meio de forma passiva. Skinner afirma a existência de reforços positivos e negativos no meio que possibilitam modificações no comportamento dos indivíduos. O reforço positivo fortalece o comportamento que o precede, e a punição fortalece a remoção do comportamento que o precede. (CORTINAZ, 2018) 5.2 Teorias cognitivistas: Vygotsky e Piaget Nenhuma teoria do desenvolvimento cognitivo foi mais influente do que a do psicólogo suíço Jean Piaget. Ele sugeriu que as crianças de todo o mundo passam por uma série de quatro estágios em ordem determinada e afirmava que esses estágios diferem não apenas na quantidade de informações adquirida em cada um, mas também na qualidade do conhecimento assim como da compreensão. Assumindo um ponto de vista interacionista, Piaget, sugeriu que a transição de passagem de um estágio para o outro ocorre quando uma criança atinge um nível apropriado de maturidade e é exposta a tipos relevantes de experiências e que, sem tais experiências, as crianças não poderiam alcançar os níveis mais altos de crescimento cognitivo. Piaget (1970 apud Renner et al. 2012) A teoria de Piaget postula algumas categorias para a compreensão do desenvolvimento humano. A equilibração é uma categoria fundamental: todo organismo necessita viver em equilíbrio com o meio. O meio suscita situações novas, desafiadoras e conflitantes nos organismos, causando desequilíbrios que são necessários para o seu desenvolvimento. Diante do conflito e do desequilíbrio causado pelo mesmo, o organismo recorre a recursos próprios em busca do equilíbrio. Um desses recursos e categorias de Piaget é a assimilação, que ocorre quando um organismo, sem alterar as suas estruturas mentais, procura significado, a partir de experiências anteriores, para compreender um novo conflito e desequilíbrio. Um segundo recurso e categoria na teoria de Piaget é a acomodação, com a qual o organismo tenta restabelecer o equilíbrio com o meio a partir da transformação de suas próprias estruturas mentais. A assimilação e a acomodação, embora diferentes, 14 ocorrem simultaneamente na resolução dos conflitos causados pela interação do organismo com o meio e no restabelecimento do equilíbrio (equilibração). A assimilação e a acomodação coexistem e se alternam ao longo do desenvolvimento humano, possibilitando o enfrentamento e a resolução de conflitos oriundos do meio para que o indivíduo possa se (re)equilibrar e continuar se desenvolvendo (PIAGET, 1976 apud CORTINAZ, 2018) De acordo com Lev Vygotsky, psicólogo do desenvolvimento russo, a cultura em que somos criados afeta nosso desenvolvimento cognitivo de maneira significativa; não podemos entender o desenvolvimento cognitivo sem levar em conta os aspectos sociais da aprendizagem. Vygotsky argumenta que o desenvolvimento cognitivo ocorre como uma consequência das interações sociais (nível de desenvolvimento proximal) em que as crianças trabalham conjuntamente com outros para solucionar problemas. Por meio dessas interações, as habilidades cognitivas das crianças aumentam, e elas ganham a habilidade de funcionar intelectualmente por conta própria (nível de desenvolvimento real). Mais especificamente, ele sugere que as habilidades cognitivas das crianças aumentam quando elas encontram informações que estão prontas para aprender. Ele chamou essa prontidão para a aprendizagem de zona de desenvolvimento proximal (ZDP), nível em que uma criança já pode quase – mas não completamente – compreender ou desempenhar uma tarefa sozinha. Quando as crianças recebem informações que se enquadram na ZDP, elas podem aumentar sua compreensão ou dominar uma nova tarefa. Por outro lado, se a informação estiver fora da ZDP da criança, ela não conseguirá dominá-la (Maynard e Martini, 2005; Rieber e Robinson, 2006; Vygotsky, 1926/1997 apud Renner et al. 2012). Em suma, Renner et al. (2012, p. 08) o desenvolvimento cognitivo ocorre quando pais, professores ou pares mais qualificados ajudam uma criança ao apresentar informações que são novas e estão dentro da ZDP. Esse tipo de auxílio, chamado de scaffolding, dá suporte à aprendizagem e à resolução de problemas que encoraja a independência e o crescimento. Salienta-se que a abordagem de Vygotsky complementa a teoria de Piaget e as perspectivas de processamento de informações. Essas teorias contribuem de modos diferentes para a nossa compreensão do processo complexo e intrigante do desenvolvimento cognitivo e seus suportes biológicos e ambientais. 15 5.3 Teorias psicanalíticas: Freud e Erikson As teorias psicanalíticas se originam de concepções e práticas psicanalíticas diferentes. Cada teoria emerge de especificidades do seu autor e dos impasses enfrentados em determinados momentos da história. A psicanálise surgiu com Sigmund Freud e não teve o intuito de influenciar a psicologia acadêmica. No princípio, centrou-se tão somente no atendimento clínico de pacientes. (CORTINAZ, 2018) A Psicanálise freudiana muito contribuiu para a compreensão do funcionamento psíquico e para a apreensão do comportamento humano e o tratamento do sofrimento, ou seja, a partir do Inconsciente, o comportamento humano não pode ser apenas explicado por aspectos psicológicos racionais. Instaura-se, a partir daí, toda uma corrente que valoriza o afeto. O conflito psíquico é resultante do embate de forças instintivas (inconscientes) e repressoras (oriundas do Ego e do Superego), sendo os sintomas as representações simbólicas desse conflito. Freud desvelou a instância do Inconsciente, revelando a ideia de dissociação do Eu em sujeito consciente e inconsciente, e as pulsões que movem o desejo do ser humano em pulsões de vida e de morte, as quais funcionam sob lógicas diferentes. Defendeu que, alémda livre associação, havia outro meio de acesso aos conteúdos inconscientes expressos por lembranças: as reminiscências dos sonhos (FREUD, 1996 apud Barbosa, 2020). Se para Freud o desenvolvimento humano tem uma base psicossexual, para Erikson o desenvolvimento humano tem uma base psicossocial. Segundo Erikson (1968 apud Cortinaz, 2018), em cada fase da vida há uma crise (crises bipolares) que pode ser resolvida positivamente ou negativamente, o que é determinante para o desenvolvimento. A primeira crise vai do nascimento até, aproximadamente, o segundo ano de vida. Trata-se de uma crise de confiança básica x desconfiança. A resolução dessa crise depende da capacidade da família de atender às necessidades básicas da criança, como alimentação, atenção, conforto, segurança e etc. Entre os dois e os três anos de idade, aproximadamente, há a crise de autonomia x vergonha. Nesse período, a criança pode experimentar novas capacidades (controle do esfíncter, por exemplo) e maior autonomia. Em um ambiente em que recebe suporte e é encorajada, a criança desenvolve autonomia; em um ambiente em que não é estimulada, a criança duvida de suas capacidades e se sente envergonhada. A terceira crise ocorre entre os quatro e seis anos de idade e se caracteriza pela iniciativa x culpabilidade. O maior domínio das coordenações motoras e da linguagem 16 permite à criança explorar mais o meio, e a resolução bem-sucedida dos conflitos anteriores permite que ela tenha maior iniciativa para isso. Por outro lado, os insucessos anteriores podem levar a criança a culpabilizar-se e acreditar que não é capaz de realizar seus projetos. A quarta crise é denominada realização x inferioridade e vai dos seis aos doze anos de idade aproximadamente. Nessa fase, a criança amplia suas relações sociais e adquire aprendizados e competências valorizadas socialmente. Especialmente a interação com os pares é determinante para as sensações de sucesso ou fracasso. Dependendo do balanço mais ou menos positivo, a criança poderá sentir-se realizada por suas competências ou inferiorizada para enfrentar os desafios que a ampliação das relações sociais acarreta. Dos treze aos dezoito anos de idade (adolescência), ocorre a quinta crise, identidade x confusão. Nesse período, o modo como o adolescente se vê, o modo como acha que os outros o veem, o que ele acha que esperam dele e a adequação às normas sociais influenciam a consolidação ou a confusão em relação à sua identidade. 6 APRENDIZAGEM HUMANA 6.1 Teorias da aprendizagem amenteemaravilhosa.com.br Desde as últimas décadas do século XIX, foram propostas muitas teorias e visões da aprendizagem, com diferentes ângulos. Algumas foram superadas, 17 atualizadas e transformadas em novas perspectivas, entretanto, observa-se que atualmente muitas coexistem, dando uma característica multiparadigmática ao conceito. Ou seja, há diferentes abordagens para tratar desse mesmo fenômeno, sob diferentes aspectos (ILLERIS, 2013 apud Dalmolin, 2020). Destaca-se que a aprendizagem é objeto de estudo de diferentes ciências, tais como a psicologia, a pedagogia e a neurologia. Isso ocorre devido à sua importância para a cultura, visto que todos os seres humanos precisam aprender formal ou informalmente. É considerada um fenômeno presente da infância até a velhice. Ou seja, entende-se que uma pessoa aprende durante todo o ciclo vital. (Rotta, Bridi Filho e Bridi 2016). Para FELDMAN (2015 apud Dalmolin, 2020), desde o nascimento o ser humano já está preparado para aprender. Entretanto, os bebês apresentam um processo de aprendizagem mais simples chamado de habituação. Consiste na adaptação a um estímulo, como o que ocorre quando um bebê vê um brinquedo colorido pela primeira vez. Naquele momento o estímulo (brinquedo) chama muito a sua atenção, porém, com o passar do tempo, aquele estímulo já não surte o mesmo efeito, ou seja, o bebê se adapta ou se habitua àquela informação. Os adultos continuam apresentando o processo de habituação, contudo, a aprendizagem também passa a ocorrer de maneiras mais complexas. Com isso, diversas teorias de aprendizagem foram propostas, como a teoria Comportamentalista ou Behaviorista, a Teoria Sociointeracionista de Vygotsky e a Teoria Cognitivista de Jean Piaget. (COSTA E LIMA, 2018) Jean Piaget foi um importante teórico do processo do conhecimento humano (epistemologia). A Epistemologia Genética defende que o indivíduo passa por várias etapas de desenvolvimento ao longo da vida. Sua teoria tem como objetivo central a necessidade de estudar a gênese dos processos mentais, ou seja, como esses processos são construídos ao longo da vida do indivíduo. O conhecimento resultaria de interações que produzem entre o sujeito e o objeto. A troca inicial entre sujeito e objeto se daria a partir da ação do sujeito. (OLIVEIRA et al.,2019) Segundo Piaget, o conhecimento não pode ser concebido como algo predeterminado desde o nascimento (inatismo), nem como resultado do simples registro de percepções e informações (empirismo): o conhecimento resulta das ações e interações do sujeito no ambiente em que vive. Todo conhecimento é uma construção que vai sendo elaborada desde a infância, por meio de interações do sujeito com os objetos que procura conhecer, sejam eles do mundo físico ou do mundo cultural. O conhecimento resulta de 18 uma inter-relação do sujeito que conhece com objeto a ser conhecido. (MOREIRA, 1999, p.75 apud OLIVEIRA; SILVA; SANTOS, 2019) No dizer de OLIVEIRA; SILVA; SANTOS (2019), a contribuição de maior extensão da teoria da aprendizagem piagetiana é a compreensão dos estágios do desenvolvimento cognitivo. Piaget demonstra as estruturas de conjunto que caracterizam cada estágio. Cada estágio corresponderá um tipo de estrutura cognitiva, que possibilitará diferentes formas de interação com o meio. Assim, o homem aprende o mundo de maneira diversa a cada momento de seu desenvolvimento. A teoria de aprendizagem de Lev Vygotsky, psicólogo bielorrusso, tem uma ênfase importante no papel das relações sociais no desenvolvimento intelectual. Para ele, o homem é um ser que se forma em contato com a sociedade. Dessa maneira, a interação que cada pessoa estabelece com um ambiente, a experiência pessoalmente significativa, é muito importante para ela. Por isso, a teoria de aprendizagem de Vygotsky ganhou o nome de socioconstrutivismo e tem como temas centrais o desenvolvimento humano e a aprendizagem. Vygotsky (1991) apresenta o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal, em que relata a existência de dois níveis de desenvolvimento mental, sendo esses o desenvolvimento real e a zona de desenvolvimento proximal. O nível de desenvolvimento real está relacionado às tarefas que a criança consegue realizar sem o apoio de outra pessoa, já a zona de desenvolvimento proximal envolve as atividades que os alunos não conseguem realizar sozinhos, porém, caso seja fornecida a ajuda de um adulto ou uma pessoa que já tenha desenvolvimento mental superior a esse aluno (que inclusive pode ser um colega), amplia-se a gama de atividades que esse aluno pode realizar. (COSTA E LIMA, 2018). Já os behavioristas trabalham com o princípio de que a conduta dos indivíduos é observável, mensurável, dando origem à teoria do comportamento ou comportamentalismo. CHIAVENATO (1996, apud COELHO E DUTRA, 2018), assegura que no século XX, surge a corrente de pensamento behaviorista, como uma vertente metodológica objetiva e científica baseada na comprovação experimental, mas concentrando-se no ser humano, estudando e analisando seu comportamento (aprendizagem, estímulo e reações de respostas etc.), concentrando-se na 19 concretude dos fatos e não em conceitos subjetivos e teóricos como sensação, percepção, emoção, atenção. De forma geral, percebe-se que as teoriasde aprendizagem apresentam grande complexidade, pois lidam com amplo e denso processo da cognição e aprendizagem. Entretanto, visualiza-se, que a partir do entendimento de como os alunos aprendem e de elementos essenciais para esse aprendizado preconizados nessas teorias, possíveis indicadores que podem nortear a elaboração de tecnologias educacionais. 6.2 Tipos de aprendizagem Desde o nascimento o ser humano já está preparado para aprender. Entretanto, os bebês apresentam um processo de aprendizagem mais simples chamado de habituação. Consiste na adaptação a um estímulo, como o que ocorre quando um bebê vê um brinquedo colorido pela primeira vez. Naquele momento o estímulo (brinquedo) chama muito a sua atenção, porém, com o passar do tempo, aquele estímulo já não surte o mesmo efeito, ou seja, o bebê se adapta ou se habitua àquela informação. Os adultos continuam apresentando o processo de habituação, contudo, a aprendizagem também passa a ocorrer de maneiras mais complexas (FELDMAN, 2015). Gazzaniga, Heatherton e Halpern (2018 apud Heumann, 2018) destacam três tipos principais de aprendizagem: • Não associativa: quando alguém aprende sobre um estímulo, como uma imagem ou um som, e emite uma resposta em decorrência daquele estímulo. Um exemplo é o que ocorre quando você ouve um som e vai em busca de onde ele está vindo. Fazem parte desse tipo a já mencionada habituação e também a sensibilização, quando a resposta a um estímulo aumenta com o passar do tempo. • Associativa: quando a pessoa aprende a relacionar/associar um evento com outro. Nesse tipo de aprendizagem a pessoa aprende que os estímulos do ambiente, as respostas comportamentais que ela emite e as consequências dessas respostas estão relacionadas. Um exemplo é o que ocorre quando você relaciona ter dor dente ao comportamento de 20 ir ao dentista, essa relação é considerada uma aprendizagem do tipo associativa. • Por observação: quando alguém adquire ou muda um comportamento a partir da observação de como outras pessoas se comportam. Por Aprendizagem exemplo, quando você assiste a um tutorial de como preparar um prato e passa a implementar esse novo repertório de comportamento na sua vida. Dando continuidade a essa compreensão, Illeris (2013 apud Heuman, 2018) ainda destaca dois processos essenciais na aprendizagem: • Processo externo: remete à interação do indivíduo com o meio no qual está inserido. • Processo psicológico/interno: remete à aquisição e à elaboração das informações disponíveis no meio. Compreende-se que esses processos ocorrem em toda forma de aprendizagem, contudo, algumas teorias se dedicam mais à compreensão e explicação de um ou de outro processo. (Illeris 2013 apud Heumann, 2018) 6.3 Fatores que interferem na aprendizagem A educação nem sempre é cercada somente por sucessos e aprovações. Muitas vezes, no decorrer do ensino, nos deparamos com problemas que deixam os alunos paralisados diante do processo de aprendizagem, assim são rotulados pela própria família, professores e colegas. Entre esses problemas, encontram-se as dificuldades na aprendizagem e na socialização. É importante que todos os envolvidos no processo educativo estejam atentos a essas dificuldades, observando se são momentâneas ou se persistem por algum tempo. Na maioria dos casos, é o professor o primeiro a identificar que a criança está com alguma dificuldade. Podem apresentar desde cedo um atraso no desenvolvimento da fala e dos movimentos, geralmente apresentam desmotivação e incômodo com as tarefas escolares gerados por um sentimento de incapacidade, que leva à frustração. A desordem no aprendizado afeta a capacidade do cérebro em receber e processar informações, o que pode comprometer o ato de aprender. Importante ressaltar que não se deve confundir dificuldade de aprendizagem com falta de vontade de realizar as tarefas, algo bem 21 comum nesta fase. Sabe-se que muitos alunos apresentam dificuldades na aprendizagem e estas podem estar relacionadas a uma série de fatores como transtornos e aspectos sociais, afetivos, e de ordem orgânica, mas persiste a dúvida sobre a influência da vulnerabilidade social neste cenário; visto que, considera-se atualmente este, um dos fatores de maior interferência no processo de ensino e aprendizagem. Pois, vulnerabilidade caracteriza-se também pela impossibilidade de modificar a condição atual em que se encontram no que se refere à alimentação, higiene, educação e saúde. A desigualdade social, principalmente a fragilização dos vínculos afetivos, relacionados ou vinculados à violência prejudicam no desenvolvimento cognitivo e contribuem para aumentar a dificuldade de aprendizagem, tão crescente em nosso país. (TABILE; JACOMETO, 2017) PRATI; COUTO; KOLLER, 2009 apud SIMÕES, 2019 p. 02, destaca que, O termo vulnerabilidade social vem crescendo e sendo bastante utilizado entre os meios sociais, educacionais e psicológicos. Ainda assim, percebeu- se que há algumas divergências em relação ao significado dado ao termo, ou mesmo que são usados outros termos como famílias em situação de risco, famílias pobres, famílias de baixa renda, famílias de camadas populares entre outros para denotar o mesmo sentido. O referido autor, explana que uma das características dessa camada é a baixa escolaridade. A escola é posta de lado já que a necessidade de renda é vista como maior e mais urgente. Todavia, entende-se que a educação pode contribuir direta e amplamente para a conquista de uma melhor condição social. (SIMÕES,2019) Compreende-se que essas dificuldades, refletem no processo de aprendizagem, a qual se caracteriza como resultado de construção e experiências passadas que influenciam as aprendizagens futuras. (TABILE; JACOMETO, 2017) Para tanto, a escola deve trabalhar na perspectiva dos contextos trazidos pelos alunos, diante dessas dificuldades que fazem parte da sua realidade, pois, segundo SAVIANI, 2004 apud COSTA, 2019 o objetivo da educação escolar é a formação humana, então as necessidades humanas é que determinam os objetivos da educação, de maneira que o currículo escolar, a rotina e o planejamento devem estar pautados nessas necessidades. E, mesmo não sendo suficiente, a educação básica é condição necessária para o desenvolvimento crítico do aluno, possibilitando o desenvolvimento não apenas cognitivo, mas considerando os diversos aspectos do desenvolvimento humano. 22 Dessa forma, a aprendizagem é como uma construção pessoal resultante de um processo experimental, inerente à pessoa e que se manifesta por uma modificação de comportamento. Sabe-se que a aprendizagem é um fenômeno extremamente complexo, envolvendo aspectos cognitivos, emocionais, orgânicos, psicossociais e culturais. (TABILE; JACOMETO, 2017) 7 INTELIGÊNCIA: PROCESSOS DE APRENDIZAGENS graduacao.avm.edu.br Existem diferentes conceitos sobre o que é inteligência e, possivelmente, diferentes maneiras de ser inteligente. A palavra inteligência vem do latim: Inter que significa “entre” e legere que significa “escolher”. De acordo com o dicionário Aurélio de Língua Portuguesa (2010, p. 432) inteligência é a “faculdade ou capacidade de aprender, apreender e compreender ou adaptar-se facilmente”. (ALBINO; BARRO, 2020) São diversas as teorias da inteligência e suas contribuições para educação. Para Piaget (1996, apud BOCK, 2008 apud ALBINO; BARRO, 2020) a inteligência é a solução de um problema novo para o indivíduo, é a coordenação dos meios para atingir um certo fim, que não é acessível de maneira imediata, enquanto o pensamento é a inteligência interiorizada e se apoiando não mais sobre a ação direta, mas sobre 23 um simbolismo, sobre a evocação simbólica pela linguagem, pelas imagens mentais. Para o mesmo autor, a inteligência é uma propriedade universal, que sedesenvolve em vários estágios diferentes, através dos quais todas as crianças progridem de acordo com os seguintes estágios: Sensório-motor (0 a 2 anos) quando a capacidade mental se resume em exercício dos aparelhos reflexivos como a sucção; Pré- operatório (2 a 7 anos) período em que surge a linguagem e gera modificações no aspecto social, intelectual e afetivo da criança; Operacional concreto (7 a 11 ou 12 anos) início da construção lógica, estabelecimento de relações com coordenação de pontos de vista diferentes e Operacional formal (11 ou 12 anos em diante) fase esta em que ocorre a passagem do pensamento concreto para o pensamento formal. A teoria das Inteligências Múltiplas (IM), de Howard Gardner, define inteligência como a capacidade em resolver problemas ou elaborar produtos que são importantes num determinado ambiente ou cultura. Para ele, os alunos devem aprender a lidar com o conhecimento de acordo com suas capacidades. Assim, considerar que existe uma variedade de inteligências humanas conduz a uma nova visão da educação, uma educação centrada no indivíduo, onde o professor deve conhecer seus estudantes para delinear suas ações didáticas. Esse planejamento deve envolver metodologias para apresentar e discutir os conteúdos, como também o emprego de diferentes formas de avaliação dos conhecimentos. Nesse contexto, considerar que existe uma variedade de inteligências humanas conduz a uma nova visão da educação, uma educação centrada no indivíduo, onde o professor deve conhecer seus estudantes para delinear suas ações didáticas. Esse planejamento deve envolver metodologias para apresentar e discutir os conteúdos, como também o emprego de diferentes formas de avaliação dos conhecimentos (GARDNER, 1995; LABURÚ et al., 2003 apud LEÃO; RANDI, 2017). No dizer de Bes (2020), o impulso dessas novas teorizações, assume-se o fato de que o ser humano não possui somente uma inteligência, mas várias, e que o funcionamento delas ocorre de forma complementar e interdependente, articulando aspectos racionais e emocionais. Sabe-se hoje, pelo avanço da neurociência e da própria psicologia, que existe um sério comprometimento psicofisiológico em nossas ações, onde, ao pensarmos e agirmos acabamos produzindo reações físicas, muitas vezes hormonais, em nosso corpo, que, em muitos casos, se associam com os aspectos emocionais. 24 Nessa direção, como uma inteligência de caráter social, relacionada ao conhecimento dos sujeitos sobre suas emoções e a capacidade de controlá-las, incluindo sua percepção em relação às emoções alheias, surge e define-se o conceito de inteligência emocional. (Salovey e Mayer 1990 apud Bes, 2020). Os mesmos autores definiriam posteriormente a inteligência emocional como: A habilidade para reconhecer o significado das emoções e suas inter- relações, assim como raciocinar e resolver problemas baseados nelas. A inteligência emocional está envolvida na capacidade de perceber emoções, assimilá-las com base nos sentimentos, avaliá-las e gerenciá-las (MAYER; CARUSO; SALOVEY, 2000, documento on-line apud Bes, 2020). Dessa forma, Bes (2020) complementa que “a inteligência emocional amplia a própria definição da inteligência, relacionando-a com as habilidades de convívio social necessárias para o equilíbrio da vida humana. Para Terra e Oliveira (2017), a inteligência emocional é uma importante ferramenta de ensino com foco na evolução emocional das crianças. Ela é pautada em estímulos para que cada um saiba lidar com os sentimentos próprios e alheios. Dessa forma, as crianças terão um maior controle sobre suas emoções e, por consequência, saberão solucionar problemas. |Assim, o papel da escola é fundamental no crescimento emocional das crianças, constitui-se de uma nova perspectiva para a construção do saber e para alcançar o objetivo almejado na educação. Para isso, é importante o docente analisar qual a melhor forma de enriquecer sua prática em sala de aula, compreendendo as atitudes, as preferências e as potencialidades expressas através da inteligência que se destaca em cada aluno. O autor ressalta ainda que quando os alunos estão fortes emocionalmente, estão mais seguros para aprender, para lidar com o outro e enfrentar situações de vulnerabilidade. Trabalham melhor juntos, estabelecem uma comunicação melhor e superam os obstáculos à descoberta com facilidade. 25 8 NEUROCIÊNCIA, EDUCAÇÃO E APRENDIZAGEM www.bing.com Aprendizagem, memória e atenção são temas cujo conhecimento tem se multiplicado em Neurobiologia e não há dúvidas que essas áreas possuem ampla interface com a Educação. No entanto, as recentes descobertas no campo das Neurociências parecem distantes da realidade escolar, havendo dúvidas sobre sua importância ou contribuição para a prática pedagógica (Carew & Magsamen, 2010 apud Júnior et al., 2014). Constando-se de uma disciplina recente, que se estabeleceu na metade do século XX, a Neurociência agrupa-se dos campos da neurologia, psicologia e biologia, a fim de esclarecer como funciona o sistema nervoso central (SNC) e suas ações no corpo humano, ampliando o conhecimento sobre como os seres humanos se desenvolvem e aprendem. São ciências naturais, que descobrem os princípios da estrutura e do funcionamento neurais, proporcionando compreensão dos fenômenos observados. A Educação tem outra natureza e sua finalidade é criar condições (estratégias pedagógicas, ambiente favorável, infraestrutura material e recursos humanos) que atendam a um objetivo específico, por exemplo, o desenvolvimento de competências pelo aprendiz, num contexto particular. A educação não é investigada e explicada da mesma forma que a neurotransmissão. Ela não é regulada apenas por leis físicas, mas também por aspectos humanos que incluem sala de aula, dinâmica do processo ensino-aprendizagem, escola, família, comunidade e políticas públicas. Assim, descobertas em neurociências não se aplicam direta e imediatamente na 26 escola. A aplicação desse conhecimento no contexto educacional tem limitações. As neurociências podem informar a educação, mas não a explicar ou fornecer prescrições, receitas que garantam resultados. Teorias psicológicas baseadas nos mecanismos cerebrais envolvidos na aprendizagem podem inspirar objetivos e estratégias educacionais. O trabalho do educador pode ser mais significativo e eficiente se ele conhece o funcionamento cerebral, o que lhe possibilita desenvolvimento de estratégias pedagógicas mais adequadas (Ansari, 2005; Ansari; Coch, 2006; Goswami, 2006; Coch; Ansari, 2009; Cubelli, 2009; Mason, 2009; Willingham, 2009 apud Guerra, 2011). Para Sousa e Alves (2017), compreende-se que, na educação, a Neurociência busca entender como o cérebro aprende e como o mesmo se comporta no processo de aprendizagem, são definidos métodos para identificar como os estímulos do aprendizado podem chegar neste órgão central. Sabe-se que os estados mentais são provenientes de padrões de atividade neural, então, a aprendizagem é alcançada por meio da estimulação das conexões neurais, que podem ser fortalecidas dependendo da qualidade da intervenção pedagógica. Nesse sentido, aprendizagem, por sua vez, requer várias funções mentais como atenção, memória, percepção, emoção, função executiva, entre outras. E, portanto, depende do cérebro (Guerra, 2011). O autor supracitado, enfatiza que a aquisição de novos comportamentos também resulta de processos que ocorrem no cérebro do aprendiz. E, portanto, o cérebro é o órgão da aprendizagem. As estratégias pedagógicas utilizadas por educadores durante o processo ensino-aprendizagem são estímulos que produzem a reorganização do Sistema Nervoso (SN) em desenvolvimento, resultando em mudanças comportamentais. (GUERRA, 2011 p. 02) Assim, no dizer de Pozo (2002 apud Carvalho, 2010), um conhecimentomais aproximado da forma de funcionamento do processo de aprendizagem permite uma compreensão mais adequada do aprender e do ensinar, superando-se dificuldades tanto do aprendiz quanto daquele que ensina - isto é, daquele que ajuda os outros a aprender. E esse conhecimento pode auxiliar os mestres a reestruturarem o ensino, proporcionando àquele que aprende um melhor desempenho na tarefa de aprender. De acordo com Willians (apud Moraes e Torre, 2004, p. 88 apud Carvalho, 2010), o reconhecimento de que a compreensão do cérebro é crucial para o ato pedagógico, faz surgir a necessidade de refletir sobre um novo saber disciplinar 27 baseado nos conhecimentos neurocientíficos, os quais poderiam ser vinculados às disciplinas direcionadas à aprendizagem humana. A articulação entre neurociências e educação pode ocorrer por meio da renovação de um componente já existente ou pelo acréscimo de um novo componente curricular nos cursos de formação de professores. Sua prioridade deve ser a de adicionar informações científicas e subsidiar futuras ações práticas, não se constituindo se constituindo apenas em mais um saber disciplinar, mas em um saber pertinente e útil para a prática profissional da docência. Como preconiza Willians: "A pesquisa sobre o cérebro manifesta o que muitos educadores sabem intuitivamente: que os alunos aprendem de diversas maneiras e quanto mais maneiras se apresentarem, tanto melhor aprendem a informação". Assim, a neurociência pode também ser considerada uma importante ferramenta que auxilia na renovação teórica dos docentes. O conhecimento do funcionamento do cérebro e do processo cognitivo mediado por conexões neurais facilita a compreensão do desenvolvimento do aluno. Sobretudo, a neurociência mostra caminhos mais claros para que o educador compreenda a complexidade do processo de ensino e de aprendizagem e crie novas ferramentas para o desenvolvimento cognitivo saudável de seus educandos. (SOUSA; ALVES, 2017 apud DALMOLIN, 2020). Nesse sentido, Carvalho (2010), enfatiza que há uma busca exaustiva no campo científico da neurociência em torno de como o cérebro age. São inúmeros os estudos que têm sido publicados, em revistas especializadas ou não, e vários os congressos realizados na área da neurociência. E, Simonetti (2008 apud Dalmolin, 2020), corrobora reforçando que os estudos que envolviam os processos neurais e o funcionamento do cérebro, tiveram grande incentivo na chamada década do cérebro entre os anos de 1990 e 2000. Nesse período, muitas equipes multidisciplinares de diferentes países reuniram seus conhecimentos e criaram novas ciências, tais como a neuroquímica, a neurofisiologia e a neurociência cognitiva. 8.1 Principais disciplinas da neurociência O sistema nervoso humano é constituído de diversos órgãos, tais como cérebro, cerebelo, bulbo, medula espinhal e ponte neural. Todas essas estruturas realizam funções específicas que, em conjunto, coordenam e regulam diversas atividades do corpo humano, como movimentos voluntários, sentimentos e ações 28 comportamentais (PIOVESAN, 2017 apud DALMOLIN, 2020). Essas estruturas são formadas, principalmente, por um tipo especial de células: os neurônios, que considerados unidades processadoras de informação. Dalmolin (2020), destaca que diante da natureza multifacetada do sistema nervoso e das funções neurais, a neurociência está organizada em cinco principais disciplinas, a saber: Neurociência celular - Estuda as células que formam o sistema nervoso, sua estrutura e função. Neurociência cognitiva - Investiga as capacidades mentais mais complexas do ser humano, como linguagem, memória e autoconsciência. Neurociência comportamental - Estuda as estruturas neurais responsáveis pelos comportamentos e a produção de outros fenômenos psicobiológicos, tais como os comportamentos emocionais, sexuais, o sono, dentre outros. Neurociência molecular - Investiga as moléculas responsáveis pelo funcionamento do sistema nervoso, bem como a interação entre os diversos tipos de moléculas. Neurociência sistêmica - Aborda tanto o estudo da localização das células e estruturas nervosas quanto a sua morfologia (forma) e fisiologia (funcionalidade). Apesar de abordarem diferentes aspectos do sistema nervoso ou de utilizarem metodologias distintas, essas disciplinas não são mutuamente exclusivas, e os conhecimentos produzidos em cada uma dessas áreas pode ser perfeitamente aplicado em outras áreas da neurociência. Implica em compreender sobre o funcionamento do cérebro, assim como suas aplicações nos processos de ensino- aprendizagem. (DALMOLIN, 2020). Nesta direção argumentativa, Grossi; Lopes; Couto, 2014, a neurociência, enquanto um ramo do conhecimento que envolve várias áreas como, por exemplo, a neurologia, a psicologia e a biologia, que possuem como tema comum de pesquisa o sistema nervoso (SN) – oferece a possibilidade de entender como ocorre o processo de aprendizagem. Embora, para que a aprendizagem aconteça, seja necessário o diálogo entre a neurociência e a pedagogia, pois esta última é a responsável pelos métodos pedagógicos de ensino. (Grossi; Lopes; Couto, 2014, p. 02) Complementando, Guerra (2010, p. 4 apud Grossi; Lopes; Couto, 2014,) comenta: Os avanços das neurociências esclareceram muitos aspectos do funcionamento do SN, especialmente do cérebro, e permitiram a abordagem mais científica do processo ensino e aprendizagem. Funções relacionadas à cognição e às emoções, presentes no cotidiano e nas relações sociais, como dormir, comer, gostar, reconhecer, falar, compreender, ter atenção, esquecer, experimentar, ajudar, lembrar, calcular, planejar, julgar, rir, movimentar-se, trabalhar, emocionar-se, são 29 comportamentos que dependem do funcionamento do cérebro. Educar é aprender também. 9 A INSERÇÃO DA NEUROBIOLOGIA NA EDUCAÇÃO O conhecimento sobre Neurobiologia cresce exponencialmente no meio científico, abordando temas como atenção, memória e aprendizagem que possuem interface com a Educação. A Educação, como ciência aplicada, naturalmente difere dos objetivos da Neurobiologia, a qual procura descrever estruturas e processos funcionais biológicos. Assim, para a Neurobiologia é difícil abordar temas como o desenvolvimento do caráter e o senso estético na criança. Os níveis de análise utilizados em Educação e Neurobiologia também são distintos (Christodoulou & Gaab, 2009 apud Willingham, 2009). A Neurobiologia ocupa-se da análise estrutural celular, de biomoléculas, do mapeamento de áreas e de estudos das funções de sistemas corticais, dificilmente atingindo a totalidade das funções cerebrais em sua análise. Já a Educação tem seus estudos partindo do indivíduo, de uma criança, ampliando para a sala de aula, a escola, a sociedade e as políticas educacionais, considerando a pluralidade de abordagens e concepções que estão distantes das técnicas utilizadas em Neurobiologia (Christodoulou & Gaab, 2009 apud Willingham, 2009). Atualmente, no Brasil, a Educação ainda não faz uso do conhecimento disponível sobre o funcionamento do sistema nervoso para orientação de sua prática. O conhecimento sobre o desenvolvimento do sistema nervoso da criança e das diversas etapas de aquisição das habilidades cognitivas e sociais na infância permitirão intervenções que potencialmente podem diminuir a incidência das dificuldades escolares. Conhecendo o funcionamento do sistema nervoso, os profissionais da educação podem desenvolver melhor seu trabalho, fundamentar e melhorar sua prática diária, com reflexos no desempenho e evolução dos alunos, interferindo de maneira efetiva nos processos que permitem a “mágica” do ensinar e aprender (Damasceno e Guerreiro, 1991; Jensen, 1998; Ramey & Ramey, 1998; Rodrigues, 1993); Sousa, 2001; Wolfe, 2001 apud Guerra, Lopes e Pereira 2003). No dizer de Júnior et.al (2015), as descobertas em Neurobiologiasó encontrarão sua aplicabilidade na Escola se contribuírem para que o professor, aliado 30 as suas experiências, possa refletir sob suas práticas e métodos. A Neurobiologia como ciência básica não pode ser prescritiva para a prática educacional, porém pode proporcionar elementos importantes na reflexão do professor e da escola na escolha de seus métodos de ensino. Questões importantes como o mecanismo de atenção, os diferentes tipos de memória, dificuldades de aprendizagem, efeitos do sono e do estresse na aprendizagem escolar poderão ser abordados do ponto de vista neurobiológico e enriquecer a prática educacional. O crescente conhecimento biológico sobre o cérebro humano desperta interesse em toda a população, mas precisa ser difundido e popularizado adequadamente. Nessa direção, A neurobiologia como estudo da organização dos circuitos funcionais das células nervosas, que processam a informação e medeiam o comportamento irá contribuir com o processo de aprendizagem por estudar as estruturas e o funcionamento do Sistema Nervoso Central. (Correio e Correio 2020, p. 09) Diante do exposto, evidencia-se que conhecer o funcionamento, potencialidades e limitações do sistema nervoso possibilitam atender as demandas do educador frente às dificuldades de aprendizagem, levando a uma contribuição positiva na prática pedagógica. Por isso a importância de perceber os fundamentos sobre neurobiologia cognitiva, necessários no processo ensino e aprendizagem. Portanto, a compreensão destas funções se faz necessária na sala de aula, como explicam Guerra, Pereira e Lopes (2004, p. 01 apud Grossi, Lopes e Couto 2014, p. 05): As estratégias pedagógicas utilizadas pelo educador no processo ensino e aprendizagem são estímulos que reorganizam o sistema nervoso em desenvolvimento, produzindo aquisição de comportamentos, objetivo da educação. Por isso é fundamental que os professores estimulem individualmente a inteligência dos seus alunos, reconhecendo as diferentes potencialidades, limitações e habilidades que cada indivíduo possui, utilizando diferentes metodologias que possibilitem a cada um aprender da maneira mais efetiva. Esses estímulos podem aumentar sua motivação para a aprendizagem, já que cada indivíduo possui especificidades no processo de aprender. (STERNBERG; GRIGORENKO, 2003 apud Grossi, Lopes e Couto 2014) 31 Nesta perspectiva, como existem várias formas de pensar e de aprender, também há várias formas de ensinar. Assim, é importante salientar que durante o processo de aprendizagem, não se utiliza apenas e de uma só vez uma linguagem de aprendizagem, mas a combinação de várias. Sendo que, para estimular uma linguagem da mente, várias estratégias pedagógicas são requeridas. Desta maneira, as práticas pedagógicas poderão ser pautadas pela multiplicidade no aprendizado, em que informações são expostas de maneiras diversas, usando múltiplos métodos. Reforça-se que a Neurobiologia irá contribuir para a ação pedagógica por compreender as estruturas e o funcionamento do Sistema Nervoso Central, enquanto a didática é a arte de ensinar conteúdos acadêmicos sistematizados. Portanto, pode- se considerar que uma ciência complementa a outra. (Grossi, Lopes e Couto 2014) 10 IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES EM NEUROEDUCAÇÃO www.bing.com A tarefa de educar dentro da modernidade tem exigido de seus educadores cada vez mais esforços para atender a demanda que lhe é proposta, desde uma boa preparação teórica, ou seja, sua formação, até a incessante busca de atualização profissional e dedicação ao seu respectivo trabalho. (SANTOS E SOUSA, 2016) Compreende-se que o processo de aprendizagem é imprescindível em qualquer etapa na vida do ser humano, bem como, vem se desenvolvendo desde os primórdios 32 de sua vida. A neurociência tem demonstrado o quão promissora pode ser uma parceria com a educação, trazendo todo o seu conjunto de saberes sobre o Sistema Nervoso Central, local onde tudo acontece, desde os comportamentos, pensamentos, emoções e movimentos, e é a partir dos conhecimentos desta área que a educação pode ter um salto quando se fala em efetividade e eficácia, levando em consideração que a partir do surgimento e avanço da neurociência foi possível fornecer melhorias na qualidade de vida da sociedade atual, disponibilizando tratamentos efetivos para variados distúrbios neurológicos, ou seja, contribuiu e tem contribuído significativamente para o desenvolvimento de soluções de diversos transtornos e doenças, incluindo os problemas educacionais.(SANTOS E SOUSA, 2016) Nos dias atuais, a educação tradicional, na qual o professor é o único detentor do conhecimento, tem dado lugar a uma educação mais reflexiva, onde o aluno também ganha papel ativo no processo de ensino-aprendizagem (Cardoso & Queiroz, 2019 apud LIMA et al., 2020). Com isso, como membro importante para a construção do conhecimento, o professor deve estar capacitado para melhor compreender as necessidades dos seus alunos, o que exige destes profissionais o constante aperfeiçoamento de suas práticas pedagógicas (Escribano, 2007; Cardoso & Queiroz, 2019 apud LIMA et al., 2020). A partir disso, considerando que a neurociência é caracterizada como o conjunto de disciplinas que visa estudar o sistema nervoso Nesse contexto, surge a neuroeducação. Trata-se de uma subárea ainda recente, que busca aplicar os conhecimentos da neurociência para auxiliar na compreensão dos processos neurobiológicos da aprendizagem, para que assim, possam ser elaboradas novas estratégias pedagógicas de ensino. (LIMA et al., 2020) Destaca-se que os professores possuem a tarefa de planejar estratégias metodológicas que melhor se adaptem ao contexto educativo abordado (RICOY & COUTO, 2011 apud LIMA et al., 2020). E, ainda, possuem um papel imprescindível na construção do senso crítico e reflexivo de seus alunos (Bulgraen, 2010 apud LIMA et al., 2020). Mais que isso, pode-se resumir que “o professor tem o dever de preparar os estudantes para pensar” (FONSECA, 1998 apud LIMA et al., 2020). A partir disto, considerando que a neurociência abrange um conjunto de temas que estudam o sistema nervoso (Relvas, 2012 apud LIMA et al., 2020), dentre eles os mecanismos da atenção, a aprendizagem e memória, a emoção, a linguagem e a comunicação (Ventura, 2010 apud LIMA et al., 2020), estudar esta temática auxilia na compreensão 33 dos processos cognitivos e de aprendizagem e, consequentemente, na atuação pedagógica do professor. Para Santos e Sousa (2016), mediante a emergência da neuroeducação na atualidade, constata-se que a mesma pode direcionar de forma eficaz a aprendizagem, tendo também em vista a necessidade de refletir sobre a urgência de disseminar suas potencialidades e contribuições nos processos de ensino- aprendizagem, não como uma forma mágica de acabar com todos os problemas relacionados a educação, mas como uma ferramenta útil que possa melhorar o aprendizado, assim como, estimular de forma adequada e diferenciada as potencialidades da criança que cada dia se transforma dentro da realidade a qual está inserida. E assim, a Neuroeducação começa a ganhar corpo, se caracterizando como um campo multi e interdisciplinar, que oferece novas possibilidades tanto à docência, como a pesquisa educacional com a finalidade de abordar o conhecimento e a inteligência, integrando três áreas: a Psicologia, a Educação e as Neurociências, incluindo as áreas que se formaram com a junção dos campos, como a: Neuropsicopedagogia, Neuropsicologia e Psicopedagogia. (SANTOS E SOUSA, 2016) Afirma-se que o conhecimento da neurociência possibilita ao professor a atribuição da ciência básica sobre o cérebro e seu funcionamento, relacionando a teoria neurocientífica com a sua prática em sala de aula e os conhecimentoseducacionais, o que facilita o entendimento do processo ensino-aprendizagem e contribui para um desenvolvimento pedagógico qualificado (Silva & Morino, 2012; Cardoso & Queiroz, 2019 apud LIMA et al., 2020). Adicionalmente, tal conhecimento desenvolvido em espaços acadêmicos soma vários aspectos positivos, uma vez que possibilita ao docente compreender as variadas formas de aprender e ensinar, proporcionando uma nova visão metodológica para a formação discente (CARDOSO & QUEIROZ, 2019 apud LIMA et al., 2020). 11 RELAÇÃO ENTRE COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM A cognição é uma função psicológica atuante na aquisição do conhecimento, é a maneira como o cérebro percebe, aprende, pensa e recorda determinado 34 conhecimento transmitido que é captado pelos sentidos. O desenvolvimento cognitivo se dá a partir da interação da criança com o meio, o contato com objetos e com as pessoas, a criança amplia o aprender por meio de novas descobertas e interagindo com o mundo (ARANHA, 2016 apud Cavalcante et al., 2020). De acordo com Piaget (1971) cada criança tem seu próprio tempo de percepção da aprendizagem, possuem uma forma única de conhecer a realidade e assim desenvolvem o raciocínio lógico ao decorrer da sua maturação. A aprendizagem ocorre a partir da maturação cognitiva da criança em ritmos diversos, sendo assim é possível incentivar o aprendizado, respeitando as singularidades de cada criança e não propor um desenvolvimento intelectual forçado. Piaget (1971 apud Cavalcante et al., 2020) Para Azevedo (2016), cognição é um processo que resulta num comportamento ou resposta aprendida. Como resultado dessa relação, o aprendizado ocorre através de muitas formas de comportamento cognitivo. Enquanto aprendizagem e cognição podem parecer semelhantes, elas são definidas de forma diferente. A aprendizagem é definida como uma atividade ou processo que resulta em conhecimento sendo adquirido. Cognição é definida como o ato ou processo de conhecer. (Azevedo, 2016 p. 01) Para o autor, além da relação acima mencionada, estes dois itens são baseados em performance. A aprendizagem é baseada na teoria de que um organismo nasce com a capacidade neurológica para adquirir conhecimento. Seja através de um ambiente estruturado, tais como a escola e trabalho ou tentativa e erro, e alguns processos cognitivos ocorrem para produzir conhecimento. Estes mesmos processos tornam-se traços do indivíduo e podem levar a aprendizagem adicional. Para ele, um fator importante da relação entre aprendizagem e cognição é a motivação. Quanto maiores os estímulos do ambiente de uma pessoa, maior a ênfase na aprendizagem de um novo comportamento. (AZEVEDO, 2016) Para Melo, Silva e Martins, 2020 p.02 A motivação é entendida como um dos fatores imprescindíveis e essenciais para o progresso do ser humano, de maneira especial das capacidades sociais e cognitivas e das habilidades, pois o processo de aprender não é inerte, pelo contrário, está em continua inovação e evolução, acima de tudo, deve ser motivado. Piletti (2013 apud Melo, Silva e Martins, 2020), afirmam que a motivação é agente indispensável da aprendizagem. É possível existir aprendizagem sem docente, 35 sem estabelecimento de ensino, sem computador, sem livro e sem muitos e diversos recursos. Mas, se não existir motivação, não existirá aprendizagem, ainda que haja todos esses recursos adequados. Assim, com ênfase no contexto educacional, a motivação é analisada como peça chave para melhoria no processo de ensino-aprendizagem, sendo de suma importância o interesse e engajamento dos alunos em sala de aula. Tendo em vista um melhor entendimento do processo de motivação dos alunos e professores, analisam-se os dois tipos de motivação, que estão presentes nos sujeitos e podem ser analisadas em sala de aula: a motivação intrínseca e extrínseca. (FROTA; XEREZ; PARENTE, 2020). Na motivação intrínseca, Vygotsky (2003 apud Frota, Xerez e Parente, 2020) menciona que o pensamento propriamente dito é produto da motivação, isto é, dos nossos desejos, necessidades e interesses. Desta forma, Paiva e Lourenço (2009 apud Frota, Xerez e Parente, 2020) citam que não seria válido estudar as dificuldades de aprendizagem sem considerar os aspectos afetivos, pois é inevitável fazer uma análise do contexto emocional, das relações afetivas e da forma como o sujeito se situa no mundo. Segundo Frota, Xerez e Parente (2020) a motivação extrínseca está ligada a fatores externos que atuam no processo de ensino dos alunos. O ministrar através da recompensa é um fator que está muito presente nas escolas atualmente, pois muitos professores incentivam os alunos a estudarem para se obter determinado resultado esperado. Bock (1999, p. 121 apud Frota, Xerez e Parente, 2020) diz que a preocupação do ensino tem sido a de criar condições tais, que o aluno queira e tenha vontade de aprender. Nesse contexto, Alcará e Guimarães (2007 apud Lourenço e Paiva, 2010) utiliza-se da argumentação em que no contexto educacional a motivação dos alunos é um importante desafio para os docentes, pois tem implicações diretas na qualidade do envolvimento do aluno com o processo de ensino e aprendizagem. O aluno motivado procura novos conhecimentos e oportunidades, evidenciando envolvimento com o processo de aprendizagem, participa nas tarefas com entusiasmo e revela disposição para novos desafios. A motivação do aluno é uma variável relevante do processo ensino/aprendizagem, na medida em que o rendimento escolar não pode ser explicado unicamente por conceitos como inteligência, contexto familiar e condição socioeconômica. 36 Embora Thurstone considerasse que estas capacidades eram relacionadas até certo ponto, ele enfatizava suas diferenças. Os primitivos psicólogos estavam muito mais interessados em inventar testes que pudessem diferenciar entre estudantes embotados e rápidos, para que pudessem ser designados para um currículo escolar apropriado. Por esta razão, as questões teóricas foram facilmente postas de lado. A inteligência passou a ser definida operacionalmente em termos dos testes destinados a medi-la. Em outras palavras, o que quer que os testes medissem era chamado de inteligência. Conceitos práticos como estes dominaram a pesquisa psicológica sobre a inteligência até bem recentemente, quando os cientistas comportamentais começaram a reexaminar seus pressupostos. Assim, distingue-se inteligência medida e inteligência. Por inteligência medida queremos dizer desempenho em uma situação específica de teste, sempre baseada em realizações: hábitos e habilidades adquiridos. Em contraste, definimos inteligência como uma capacidade para atividade mental que não pode ser medida diretamente. Assume-se o ponto de vista de que a inteligência consiste em muitas capacidades cognitivas separadas, inclusive as envolvidas em percepção, memória, pensamento e linguagem. Embora até certo ponto todos os seres humanos possuam estas capacidades, parece haver muita variabilidade na eficiência de cada processo. Supõe-se que a inteligência se aplica no ajustamento de cada processo e em todas as esferas da vida. Já que as investigações de inteligência se amparam fortemente em testes, é crucial compreender como os psicólogos têm medido as capacidades mentais. (SANTOS, 2017) 12 BIBLIOGRAFIA ALBINO, Letícia Moreira de Souza; BARROS, Sarah Gonçalves. ARTIGO. 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