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1 Louyse Jerônimo de Morais Síndrome Demencial Referência: aula da prof. Manuella de Sousa Só existe demência no mundo com alteração de função. Sempre se deve comparar o indivíduo com ele mesmo. “Quem foi Aluísio? Quem é Aluísio agora? Ele ainda consegue ser bom na computação como era em sua juventude????” Avaliação diagnóstica O diagnóstico é eminentemente clínico, resgatando as versões anteriores do paciente. A demência mais comum é o Alzheimer. Em segundo lugar, temos demência vascular, geralmente por AVC. Existe a de macrovasos [cerebral média, posterior ou anterior] e a de pequenos vasos [parece muito clinicamente com Alzheimer]. Em terceiro lugar, temos a demência de Levi. Definição de cognição Refere-se às formas complexas de atividade mental humana, em que primeiramente as informações do mundo externo são recebidas, analisadas e armazenadas através de três funções básicas – atenção, linguagem e memória. Estas capacidades básicas serão então integradas e usadas na realização de metas e execução de planos, constituindo deste forma a habilidade intelectual humana. O começo da demência é a atividade instrumental alterada. • Sinonímia: alteração cognitiva maior. Caso clínico 1 Paciente de 75 anos e trazida ao consultório de geriatria pelas filhas, que informam que ela, durante a vida inteira, foi muito tranquila e religiosa e, atualmente, está agitada, não dorme, fala palavrões e está batendo nos netos sem motivo. Na epidemiologia mundial, existe um aumento progressivo do risco com a idade. A maior incidência de demência no mundo é no idoso. Se mais jovem, são doenças mais agressivas, apresentando um vínculo genético e emocional grave. O idoso que vem queixando é um alerta, geralmente é depressão e/ou ansiedade. Toda depressão é fator de risco para demência [raiz em comum?], devido à reserva neurológica mais baixa. No caso clínico anterior, é uma paciente que tem risco para demência ou já deve ter demência leve, pois pode ter iniciado na região frontal. A irritação pode, no entanto, ser sintoma de depressão. • Fator de risco para demência: envelhecimento, depressão, queixa de memória, falta de reserva neurológica. • Fatores protetores: boa alimentação, atividade física, religião, perdão [não guardar rancor]. O Alzheimer começa no hipocampo, então a memória recente não funciona. Isso dura em torno de 5 a 10 anos e começa a ficar repetitivo. Depois disso, a doença vai para a região temporal mesial, que é responsável pelo planejamento [perder-se nos arredores de casa]. Depois disso, migra para a região frontal, levando à alteração no comportamento. Não é normal esquecer, em idade nenhuma. Caso clínico 2 Paciente de 60 anos, trazida por familiares, que informam que ela sempre teve uma boa memória e atualmente se encontra esquecida. Depois dos 70 anos, é comum. Entre 60 e 70 anos, não é algo comum. Abaixo de 60, é pré-senil. Se a pessoa tem demência aos 60 anos, provavelmente, 20 anos atrás, ela já tinha alguns sinais. Todas as pessoas que referem queixas de memória são de risco. O sistema límbico é vizinho ao hipocampo. Então, se a emoção atrapalha a memória, dizemos que esse indivíduo tem fator de risco. Caso clínico 3 Paciente de 61 anos que refere estar com a memória ruim nos últimos anos e a família confirma este fato. Ela pode ter transtorno de ansiedade e/ou depressão, com demência associado. Antigamente, a depressão era chamada de pseudodemência. Caso clínico 4 Paciente de 65 anos informa que, nos últimos meses, encontra-se irritada, dorme muito, não tem vontade de ir para a hidroginástica como fazia antes e ainda informa que a memória está péssima. 2 Louyse Jerônimo de Morais Idoso é a população mundial que mais consegue suicídio com êxito. Normalmente, não ficam chorosos, apenas perdem interesse pelas coisas, ficam irritados e isolados. Portanto, deve-se investigar, também, a depressão. Síndrome demencial • Origem da palavra: de – ausência, mentia – memória. É um termo que fica por tradição, mas não é 100% correto, pois a ausência de memória é o final. Epidemiologia O envelhecimento é um fator de risco para demência. Existe um aumento de demência nos países subdesenvolvidos, em detrimento dos países desenvolvidos. Isso se relaciona com qualidade de vida e construção de reserva neurológica maior em países mais ricos. O investimento contínuo em neurodesenvolvimento faz com que a pessoa continue raciocinando mesmo com alterações anatomopatológicas da demência. • Primeira causa: Alzheimer • Segunda causa: vascular. Quando se fala de causa vascular, fala-se de socioeconômico, A qualidade de vida é pior e isso aumenta o risco de doença cardiovascular. A demência é mais comum nas mulheres, mas elas sobrevivem mais e procuram mais o serviço público. Então, isso é um viés. Diagnóstico Pelo DSM IV: é eminentemente clínico, baseado em avaliação objetivo do desempenho cognitivo e funcional. É importante diferenciar demência de Alzheimer. Existem mais de 150 causas de demência. Além disso, deve-se entender que existe a demência primária e a secundária. Por exemplo, demência secundária à pancada na cabeça [do boxeador], AVC, tumor cerebral, radioterapia, hipotireoidismo etc. A demência primária é que nasceu assim. Até hoje, temos pouca explicação. As causas são, em primeiro lugar, Alzheimer, e em segundo lugar, a demência de Levi. É obrigatório ter alteração de função e descartar outros fatores, como delirium, tumores, AVC, ITU, alteração do sódio, uso de medicação que altera cognição etc. Quando a demência é rápida, nunca pense em Alzheimer. Se rapidamente progressiva [evolução de 6 meses a 1 ano, tornando-se disfuncional], pensa em doença da vaca louca etc. • Alzheimer: progressiva, insidiosa, altera memória e/ou comprometimento da função. Toda demência traz disfunção. O diagnóstico da causa de demência depende de investigação complementar, constituída essencialmente por exames laboratoriais e de neuroimagem estrutural. A avaliação cognitiva inicial de indivíduos com suspeita diagnóstica de demência deve idealmente incluir testes de rastreio. MEEM É o mais empregado, de simples e rápida aplicação [5 a 7 minutos]. Apresenta alta confiabilidade entre examinadores. É um teste aplicado no mundo inteiro. Hoje em dia, ele tem uma crítica, porque ele deixa passar pessoas muito inteligentes, com alta escolaridade. 3 Louyse Jerônimo de Morais • Orientação temporal: dia, mês, ano, dia da semana, hora aproximada. • Orientação especial: local específico, local geral, bairro ou rua próxima, cidade, estado. • Memória imediata: pede para repetir três palavras não correlatas [casa, sapato, tijolo]. Não diz que vai perguntar de novo depois. Pontua as palavras repetidas na primeira tentativa, se houver erros, repete até três vezes para o aprendizado. • Cálculo: efeito confundidor. Ex.: 100 – 7 = 93; 93 – 7 = 86, e assim vai. Se houver erro, corrija e prossiga. Considere correto se o indivíduo se corrigir espontaneamente. • Evocação: pergunta quais foram as palavras pedidas anteriormente para serem repetidas. • Nomeação: mostra dois objetos [lápis e relógio] e pede para dizer o que é. Esse é o teste da agnosia. Quando alterado, serve de alerta para demência progressiva primária. • Repetição: nem aqui, nem ali, nem lá. • Comando: “pegue esse papel com a mão direita, dobre ao meio e ponha no chão”. Se pedir ajuda no meio da tarefa, não dê dicas. • Leitura: mostra o termo “feche os olhos”. Ele deve fazer o que está escrito. Geralmente, o paciente com demência não entende que é para fazer o que está escrito. • Escrita: pede para escrever uma frase. Se não compreender, ajude com “alguma frase que tenha começo, meio e fim”, “alguma coisaque aconteceu hoje”, “alguma coisa que queira dizer”. Aceitar erros gramaticais e ortográficos. • Cópia do desenho: desenhar pentágonos interseccionados. Aceite apenas dois pentágonos com intersecção formando uma figura de quatro lados. Se o paciente se irritar, envolve sistema límbico e acaba esquecendo as coisas. IQCODE É dado para o acompanhante, sendo feito da seguinte forma: Nós queremos que você se lembre como o seu familiar estava 10 anos atrás e compare com o estado em que ele está agora. As questões abaixo são situações nas quais esta pessoa usa sua memória, ou inteligência e nós queremos que você indique se estas situações melhoraram, pioraram ou permaneceram do mesmo jeito nos últimos dez anos. Por exemplo, se há 10 anos esta pessoa Obs.: se esquecia onde guardava suas coisas e ainda se esquece, isto seria considerado como “não muito alterado”. Muito melhor (1) Melhor (2) Não muito alterado (3) Pior (4) Muito pior (5) • Lembrar-se de coisas sobre os familiares. • Lembrar-se de coisas que aconteceram há pouco tempo. • Lembrar-se de conversas dos últimos dias. • Lembrar-se do seu endereço e telefone. • Lembrar-se em que dia e mês estamos. • Lembrar onde as coisas são guardadas usualmente (ex. roupa, talheres, etc.). • Lembrar onde achar coisas que foram guardadas em lugar diferente do de que de costume (ex. óculos, dinheiro, chaves). • Saber usar aparelhos domésticos que já conhece. 4 Louyse Jerônimo de Morais • Aprender a usar um aparelho doméstico novo. • Aprender novas coisas em geral. • Entender artigos de revista e de jornal. • Tomar decisões em questões do dia-a-dia. • Lidar com dinheiro para fazer compras. • Lidar com suas finanças, por exemplo, pensão, coisas de banco. • Lidar com outros problemas concretos do dia-a- dia, como por exemplo, saber quanta comida comprar, quanto tempo transcorreu entre as visitas de familiares ou amigos. • Compreender o que se passa a sua volta. Anota-se o escore, total geral e número de itens respondidos. Mini-exame do estado mental grave É realizado em alguém cujo mini-mental tenha dado abaixo de 7 pontos ou em pessoa com doença grave de base ou com baixa escolaridade. O síndrome de Down, por exemplo, tem maior risco de ter Alzheimer – quem favorece a formação da proteína beta-amiloide é o cromossoma 21. Teste do desenho do relógio Pede-se para que o indivíduo desenhe um relógio com todos os números e coloque os ponteiros marcando 2h45. Compara o desenho feito pela pessoa com outros desenhos anteriores feitos por ela mesma. Tem que ter círculo, todos os números e o ponteiro. Pontuação Os números estão corretos • 10 - Hora certa. • 9 - Leve distúrbio nos ponteiros (p. ex.: ponteiro das horas sobre o 2). 5 Louyse Jerônimo de Morais • 8 - Distúrbios mais intensos nos ponteiros (p. ex.: anotando 2:20). • 7 - Ponteiros completamente errados. • 6 - Uso inapropriado (p. ex.: uso de código digital ou de círculos envolvendo números). Os números estão incorretos • 5 - Números em ordem inversa ou concentrados em alguma parte do relógio. • 4 - Números faltando ou situados fora dos limites do relógio. • 3 - Números e relógio não mais conectados. Ausência de ponteiros. • 2 - Alguma evidência de ter entendido as instruções, mas com vaga semelhança com um relógio. • 1 - Não tentou ou não conseguiu representar um relógio. Fluência verbal semântica “Fale o nome de todos os animais que conseguir lembrar, vale qualquer tipo de bicho” • Tempo: 60 segundos marcados assim que terminar a instrução. Pontuação • Pontue apenas uma vez quando houver uma ou mais repetições. • São pontuadas denominações genéricas de subcategorias de animais (ex.: pássaro, peixe). Mas quando a denominação genérica é seguida por exemplos correspondentes (ex.: sabiá, sardinha), são considerados apenas os exemplos correspondentes e excluída a denominação genérica. Por exemplo, se o indivíduo menciona “pássaro” e cita “sabiá, pardal e beija-flor”, pontue apenas os últimos três itens. • Pontue apenas uma vez quando forem citadas derivações de uma mesma raiz (ex.: cabra e cabrito; galo e galinha). • Nomes de animais de uma mesma espécie são pontuados normalmente quando não forem derivados de uma mesma raiz (ex.: égua e cavalo; vaca e potro). O demenciado faz pausas longas, tem mais dificuldade. KATS - atividade básica de vida diária • 1-5: independente • 6-12: dependência parcial • 13-18: dependência total Lawtow: atividades instrumentais A. Capacidade para usar o telefone B. Compras C. Preparo de refeições D. Tarefas domesticas E. Lavagem de roupa F. Uso de meios de transporte G. Responsabilidade em relação a sua medicações H. Gestão de seus assuntos econômicos Avaliação funcional de pacientes com demência Ele(a) é capaz de... 1. Cuidar do seu próprio dinheiro? 2. Fazer as compras sozinho (por exemplo de comida e roupa)? 3. Esquentar água para café ou chá e apagar o fogo? 4. Preparar comida? 5. Manter-se a par dos acontecimentos e do que se passa na vizinhança? 6. Prestar atenção, entender e discutir um programa de rádio, televisão ou um artigo do jornal? 7. Lembrar de compromissos e acontecimentos familiares? 8. Cuidar de seus próprios medicamentos? 9. Andar pela vizinhança e encontrar o caminho de volta para casa? 10. Ficar sozinho(a) em casa sem problemas? Bateria cognitiva breve Entender que existem vários tipos de memória. Sub-testes • Percepção visual e Nomeação 3 • Memória incidental 3 • Memória Imediata 3 • Aprendizado (Evocação livre) 3 • Fluência verbal (animais) 3 • Desenho do relógio 3 • Memória de 5 minutos 4 • Reconhecimento 4 • Folha de respostas 5 • Prancha com itens-alvo (nomeação e evocação) 6 • Prancha com itens para reconhecimento 7 • Instruções para aplicação e pontuação Percepção visual e nomeação • Mostre a folha contendo as 10 figuras e pergunte: “que figuras são estas?”. o Percepção correta: __ o Nomeação correta: __ 6 Louyse Jerônimo de Morais Memória incidental • Esconda as figuras e pergunte: “que figuras eu acabei de lhe mostrar?” [tempo máximo de evocação – 60 segundos; escore no verso]. Memória imediata 1 • Mostre as figuras novamente durante 30 segundos dizendo: “Olhe bem e procure memorizar estas figuras” [se houver déficit visual importante, peça que memorize as palavras que você vai dizer, diga os nomes dos objetos lentamente, um nome/segundo, fale a série toda duas vezes]. • Esconda as figuras e pergunte: “que figuras eu acabei de lhe mostrar?”. Tempo máximo de evocação – 60 segundos. Aprendizado [memória imediata 2] • Mostre as figuras somente durante 30 segundos dizendo: “olhe bem e procure memorizar estas figuras” [se houver déficit difícil visual importante, peça que memorize as palavras que você vai dizer, diga os nomes dos objetos lentamente, um nome/segundo, fale a série toda duas vezes]. • Esconda as figuras e pergunte: “que figuras eu acabei de lhe mostrar?”. Tempo máximo de evocação: 60 segundos. Tempo de fluência verbal • “Você deve falar todos os nomes de animais [qualquer bicho] que se lembrar, no menor tempo possível”. Pode começar. • Anote o número de animais lembrados em 1 minuto. Reconhecimento Pede para o paciente reconhecer, dentre as figuras mostradas acima, aquelas que estavam no teste inicial. Para cada inclusão que o indivíduo fizer que não estava no teste inicial, retira-se um acerto. CAMGOG Consegue fazer, em 8 sessões de uma hora, uma análise profunda da cognição. Normalmente, faz em paciente com diagnóstico leve, mas suspeito, que os testes não estão pegando. FAST – Functional Assesment Staging É uma classificação do estágio da demência. • Tabela de Hachinski: identifica diagnóstico diferencial.Exames complementares • Exames de laboratório: de acordo com as suspeitas clínicas associado com os de rotina. 7 Louyse Jerônimo de Morais o Hemograma, VRDL, FTabs, ácido fólico e vitamina B12, TSH e T4 livre. o Hepatograma, renograma, HIV, bioquímica, gasometria. o Líquor • Exames de imagem o TC de crânio sem contraste o TC de crânio com contraste o RNM de encéfalo o Eletroencefalograma o Anatomia patológica PET e SPECT – Redução bilateral e freqüentemente assimétrica do fluxo sangüíneo e do metabolismo em regiões temporais ou têmporo-parietais. PET e SPECT podem diferenciar sujeitos idosos normais (ou com comprometimento cognitivo leve) de pacientes com DA incipiente. Pacientes com DA apresentam hipoperfusão amígdalo-hipocampal. O diagnóstico de DA provável, baseado apenas em critérios clínicos (NINCDS-ADRDA), confere uma probabilidade de 84% para o diagnóstico patológico.
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