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CIENCIAS DA RELIGIÃO-AULAS 10

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(
Aula
 
10:
 
Linguagens
 
da
 
religião:
 
estética,
 
política,
 
literatura
Disciplina:
 
Ciências
 
da
 
Religião
)
Apresentação
As reflexões acadêmicas sobre as linguagens da religião são desafiadas por uma pauta de fenômenos que não cessa de ampliar-se, exigindo novas competências dos pesquisadores dos fenômenos religiosos, inclusive os teólogos: abertura de mente, disposição para aprender novas linguagens, sensibilidade ampla, inclusive artísticas, controle consciente dos preconceitos religiosos, políticos e artísticos.
A pauta das linguagens da religião, no mundo pós-moderno, hermenêutico- metodológica do pesquisador em Teologia, Ciências da Religião, inclui: corporeidade; mulher; masculinidade; feminismo; transexualidade; negritude; identidades universais e regionais; movimentos sociais; consumismo e mídia; saúde e terapia; conservadorismo, sincretismo e hibridismo cultural e religioso; violência múltipla e transversal; racismo disseminado; etnias reinventadas; novas classes/segmentos socioeconômicos; ativismo antigo e cibernético; juventude velha e nova; antigo e novo fundamentalismo; esquerda e direita; rede eletrônica; novos circuitos de consumo, bens e serviços (mercado/produto orgânico, mercado solidário); biotecnologia e Engenharia genética; apropriação tecnológica (software livre, cultura digital); conflito global e local; monopólio; novas ecologias; populismo de direita e de esquerda; velho e novo culto à personalidade de líderes etc.
Objetivos
Compreender a religião como linguagem das Ciências da Religião.
Identificar a linguagem estética e política da religião. Apontar fatos e contextos básicos das linguagens da religião.
Introdução
Você é convidado a refletir sobre a religião e suas múltiplas linguagens e sobre a religião como linguagem múltipla. A religião e suas linguagem atravessam os tempos e sociedades, e veja que a reflexão deve ser ampla, sem preconceito contra qualquer expressão religiosa, uma atitude fundamental do pesquisador que deseja entender religião e religiões.
Conjunto de símbolos de religiões do mundo. (Fonte: martin951 / Shutterstock)
Quanto à religião, considerando o ontem e o hoje, temos:
História da humanidade
Na longa história humana, a religião revestiu-se de uma poderosa linguagem espacial, artística e literária, com muitos tipos e diversidade.
Modernidade
Na modernidade, a religião revestiu-se de uma linguagem política, mercadológica, consumerista (para diferenciar de consumista, de conotação negativa), política e cibernética (ligada às novas tecnologias de comunicação).
 (
Um bom teólogo abre-se à compreensão dessas muitas linguagens, de
 
ontem e de hoje.
Comentário
)
A religião e a linguagem
Você viu o quanto a religião está ligada ao espaço, o quanto o sagrado se fez no espaço e é no espaço que a religião desenvolveu formas específicas de experiência, individual e coletiva, do religioso.
As hierofanias podem ser celestes, relativas ao céu e aos simbolismos, por exemplo, o Sol é frequentemente retratado em muitas cosmologias de povos étnicos ou em muitas religiões, inclusive o Cristianismo.
 (
Fundo
 
celestial
 
pacífico.
 
(Fonte:
 
IgorZh/
 
Shutterstock)
)
A figura do Céu é fundamental, está em orações, pinturas, ritos e mitos. É comum, nas religiões populares, no Brasil, por exemplo, o Cristianismo católico e evangélico popular, ou as expressões afro-religiosas (Umbanda e Candomblé) usar expressões como “O castigo veio dos céus”, “Deus está nos céus”, “Ogum triscou o céu com a espada” etc.
Na fala de Eliade (1992, p. 59):
Para o homem religioso, a Natureza nunca é exclusivamente ‘natural’: está sempre carregada de um valor religioso. Isto é facilmente compreensível, pois o Cosmos é uma criação divina: saindo das mãos dos deuses, o Mundo fica impregnado de sacralidade. Não se trata somente de uma sacralidade comunicada pelos deuses [...] O Céu revela diretamente, “naturalmente”, a distância infinita, a transcendência do deus. A Terra também é ‘transparente’: mostra-se como mãe e nutridora universal. Os ritmos cósmicos manifestam a ordem, a harmonia, a permanência, a fecundidade. No conjunto, o Cosmos é ao mesmo tempo um organismo real, vivo e sagrado: revela as modalidades do Ser e da sacralidade.
ELIADE, 1992, p. 59. (Grifos do professor).
Veja o caso das procissões, peregrinações e romarias. Em geral, são constituídas de deslocamentos no espaço para a ida a lugares sagrados, santificados, vistos como hierofanias, para usar o termo de Mircea Eliade (1907-1986). Mas não é apenas na religião cristã-católica que se manifestam esses grandes deslocamentos de pessoas, afetos, corpos.
Os lugares onde ocorreram fortes manifestações do sagrado recebem milhões de visitantes, entre turistas, peregrinos, romeiros e outros. Exemplos:
 (
Um dos maiores centros de peregrinação do Catolicismo está em Roma
 
(Itália). É simples entender o porquê: a capital do mundo antigo foi o
 
lugar onde o Cristianismo perseguido (mártires, o Coliseu, em que Pedro
 
foi
 
crucificado
 
etc.),
 
lugar
 
onde
 
nasceu
 
a
 
primeira
 
igreja
 
ocidental
 
(Igreja
 
Católica).
)
 (
No Islamismo, o lugar de maior visitação é Meca, cidade-chave na
 
história religiosa de todas as correntes islâmicas, xiitas e sunitas. São
 
dezenas
 
de
 
milhões
 
de
 
mulheres
 
e
 
homens
 
que
 
vão
 
a
 
esta
 
cidade
 
render
 
homenagens ao fundador, Mohammed, conhecido como Maomé (uma
 
corruptela do nome original).
)
 (
No
 
Hinduísmo,
 
um
 
grande
 
complexo
 
de
 
sistemas
 
de
 
valores,
 
crenças
 
e
 
divindades, uma das religiões mais antigas da humanidade, Benares
 
(Varanasi), é a cidade sagrada mais importante, com uma arquitetura
 
religiosa rica e um enorme afluxo de homens e mulheres, inclusive
 
ocidentais, adeptos de variadas correntes hinduístas ou que
 
simplesmente
 
admiram a espiritualidade hinduísta.
)
 (
No Budismo, religião que possui distintas correntes, o lugar mais
 
importante é Lumbini, no Nepal, palco de centenas de romarias e
 
peregrinações.
)
 (
No
 
caso
 
do
 
Lamaísmo
 
(variante
 
do
 
budismo
 
tibetano
 
concentrada
 
nas
 
figuras religiosas dos lamas, monges líderes), a cidade de Lhasa, no
 
Tibet,
 
ocupado
 
pela China,
 
é centro
 
de uma
 
grande peregrinação.
)
 (
No
 
Xintoísmo,
 
religião
 
nativa
 
do
 
Japão,
 
Kyoto
 
é
 
a
 
cidade
 
sagrada.
)
 (
No
 
Brasil,
 
à
 
cidade
 
de
 
Aparecida
 
(SP),
 
acorrem
 
6
 
milhões
 
de
 
pessoas
 
por
 
ano aos dois santuários, um do século XVII e outro dos anos 1960,
 
recém-acabado,
 
um dos maiores do
 
mundo.
)
Todos esses não são apenas centros em que se manifesta a linguagem religiosa. No decorrer do tempo, os lugares e as festas religiosas adquiriram novos significados nas sociedades ocidentais modernas de mercado e democracia. Nasceu uma nova linguagem pela qual a religião se expressa: o turismo religioso.
No turismo religioso, de variados modos e tipos, a religião se relaciona com estruturas de sustentação mercadológicas. Ainda em relação aos espaços sagrados, as visitações a Terra Santa/Jerusalém fizeram parte do imaginário cristão, mas foi na modernidade que elas adquiriram o elemento turístico- comercial dos tempos capitalistas.
 (
Atividade
A religião possui muitas linguagens e é, ela mesma, uma poderosa
 
linguagem. Em relação à linguagem espacial da religião, assinale a
 
alternativa
 
correta:
Na
 
linguagem espacial
 
da religião,
 
as hierofanias
 
são fundamentais.
Na
 
linguagem
 
espacial
 
da
 
religião,
 
as
 
hierofanias
 
não
 
são
 
fundamentais.
Na
 
linguagem
 
espacial
 
da
 
religião,
 
o
 
turismo
 
religioso
 
é
 
fundamental.
Na
 
linguagem
 
espacial
 
da
 
religião,
 
apenas
 
as
 
romarias
 
são
 
fundamentais.
Na
 
linguagem
 
espacial
 
da
 
religião,
 
somente
 
as
 
hierofanias
 
celestes
 
são fundamentais.
)
Outro aspecto fundamental da linguagem religiosa é a literatura, que pode ser oral ou escrita. A religião se expressa e é a expressão de mitos, encarnados em canções, poemas,contos, romances e no texto sagrado propriamente dito.
Aqui, há uma vastidão de dados e informações, uma riqueza de detalhes impressiona e não será possível abordar tudo em uma aula, mas se espera que você abra sua sensibilidade e mente, para as riquezas de todas as religiões.
As tradições orais são mais antigas, passadas de geração em geração, preservadas sob a formas de cânticos, poemas recitados etc. As religiões de Norte a Sul do Planeta Terra, desde tempos muito antigos — acredita-se que uns 20 mil a 40 mil anos — desenvolveram muitas expressões ligadas à linguagem falada e cantada.
Observe que muito tempo depois essas tradições foram registradas, por exemplo, nas grandes civilizações mundiais (egípcia, babilônica, assíria, as hindus, inca, maia, astecas, etrusca, grega, romana etc.).
Cada uma dessas civilizações é um mundo, com muita riqueza, com milhares de anos. É preciso falar das centenas de pequenas sociedades existentes e que existiram em todos os lugares do mundo, com seus ritos, cultos, suas divindades etc.
 (
Muito
 
desse
 
rico
 
material
 
foi
 
perdido,
 
mas
 
uma
 
parte
 
foi
 
registrada
 
por
 
etnólogos, antropólogos, missionários, viajantes de grandes centros e
 
cidades
 
mundo
 
afora.
 
As
 
transformações,
 
ao
 
longo
 
da
 
história,
 
foram
Saiba mais
)
 (
muitas, mas é possível agrupar em torno de alguns momentos
 
(nomadismo, invenção da agricultura, invenção do alfabeto, era do
 
bronze
 
e
 
do
 
ferro,
 
era
 
das
 
grandes
 
civilizações).
 
No
 
Mesolítico
 
e
 
Neolítico,
 
mais ou menos entre 10 e 8.000 a.C., ocorreu o fim da glaciação (longos
 
invernos)
 
e a invenção
 
da agricultura.
)
Durante milhares de anos essas sociedades caçadoras/coletoras desenvolveram uma mitologia do sagrado e das expressões artísticas e literárias, bem diversa das sociedades agrícolas, por exemplo. Muitas dessas sociedades deixaram a arte rupestre 1 em muitos lugares. Entre as mais famosas, estão Altamira e Lascaux (Espanha e França). Uma das mais antigas pinturas rupestres está na Caverna de Chauvet, centenas de desenhos de leões, cavalos, bisões etc. no Sul da França e há 30 mil anos de antiguidade. Abaixo, réplica de parte dos desenhos (cavalos selvagens):
Cavalos selvagens em pintura rupestre (Fonte: Commons Wikimedia)
Algumas dessas sociedades caçadoras e coletoras davam destaque à figura feminina e a transformaram em arte. Um exemplo de arte sagrada, veja que interessante, é a famosa estatueta Vênus de Willendorf, com cerca de 11 centímetros, descoberta em 1908, dentro de um sítio paleolítico em um vilarejo da atual Áustria.
 (
Muito desse rico material foi perdido, mas uma parte foi registrada por
 
etnólogos, antropólogos, missionários, viajantes de grandes centros e
 
cidades mundo afora. As transformações, ao longo da história, foram
 
muitas, mas é possível agrupar em torno de alguns momentos
 
(nomadismo, invenção da agricultura, invenção do alfabeto, era do
 
bronze
 
e
 
do
 
ferro,
 
era
 
das
 
grandes
 
civilizações).
 
No
 
Mesolítico
 
e
 
Neolítico,
 
mais ou menos entre 10 e 8.000 a.C., ocorreu o fim da glaciação (longos
 
invernos)
 
e a invenção
 
da agricultura.
Saiba mais
)
Observe a estatueta Vênus de Willendorf:
 (
1
)Estatueta Vênus de Willendorf. (Fonte: Lefteris Tsouris / Shutterstock)
A idealização da figura feminina, apresentando a vulva, os seios e a barriga volumosos, características atribuídas à fertilidade.
 (
2
)
Os braços frágeis, a cabeça coberta por um tipo de penteado que poderia representar, além da relação com a fertilidade, um sentido estético feminino para a sociedade primitiva ou um elevado status social em uma sociedade caçadora-coletora.
 (
A partir da revolução da agricultura, fortaleceu-se o culto
 
aos antepassados, que já vinha antes e a ideia do
 
ancestral mítico em muitas sociedades espalhadas pelo
 
mundo.
)
A domesticação dos animais avança e com ela, as expressões do sagrado. Uma das regiões em que a agricultura foi inventada é o Oriente Médio, em uma vasta faixa que cobre os atuais Irã, Iraque, Síria, Israel, Líbano, Palestina, Jordânia e na região do Rio Nilo. Nesses lugares, surgiram grandes Estados e civilizações.
Mapa 3d do Oriente Médio com bandeiras do Estado. (Fonte: cheda / Shutterstock)
Em muitas sociedades agrícolas, há um importante papel da domesticação e ambientação das plantas exercido pelas mulheres. A fertilidade da terra foi relacionada à feminina. As técnicas mudaram profundamente o quadro das expressões sagradas, por exemplo, a invenção do arado, remetido ao ato sexual, com os valores religiosos resultantes (nascimento, morte e renascimento do ritmo da vegetação).
O calendário religioso segue o da natureza e do cultivo. O mundo e a existência humana são valorizados em termos da vida vegetal. Os monumentos mais vigorosos, construídos há milhares de anos, e que os especialistas remetem a uma cosmologia sagrada, a hierofanias, são as construções em rocha, divididas em três categorias:
Menir
Pedra enorme enterrada verticalmente no solo.
Comlech
Conjunto de menires dispostos em círculo ou semicírculo.
Dólmen
Imensa laje sustentada por diversas pedras levantadas.
Um dos mais famosos monumentos desse tipo é Stonehenge, na Inglaterra, o monumento pré-histórico constituído por um grande círculo concêntrico de pedras, com mais ou menos 4,5 mil anos e um longo período de construção e uso para finalidades religiosas ou não. (ELIADE, 2010)
 (
Paisagem
 
de
 
stonehenge,
 
Inglaterra.
 
(Fonte:
 
aroundworld
 
/
 
Shutterstock)
)
Um exemplo de relação entre religião, sociedade e arte, pode ser vista no nascimento da mitologia de Cnum/Khnum o deus com cabeça de carneiro, um dos mais antigos do Egito, há mais ou menos 4 mil anos. Representava a criatividade e o vigor do Rio Nilo que, em suas cheias anuais, depositava argila e lodo nas margens, criando as condições de fertilidade para a agricultura.
Por isso, acreditava-se que Cnum criava os corpos das crianças nas margens dos rios, como o oleiro amassa e elabora o barro, colocando-as no ventre das suas mães sendo que a alma (ka) seria soprada por Heqet, a deusa da fertilidade com cabeça de sapo, no momento do nascimento.
O fenômeno de divindades meio humanas, meio animais é chamado de antropomorfismo. Cnum tinha a atribuição de “Oleiro divino”, que se estenderia aos outros deuses que teria moldado. (ELIADE, 2010)
Khnum, deus da criação – Egito. (Fonte: Vladimir Zadvinskii / Shutterstock)
Quando, enfim, os povos e a sociedade inventaram a escrita como forma de comunicação, o sagrado passou a ser expresso sob outras formas, emergiram novas linguagens, sensações, experiências, valores. Surgiram os textos sagrados, marcantes em muitas religiões: Islamismo, Budismo, Cristianismo, Judaísmo, entre as mais importantes.
 (
Parede
 
com
 
escrita
 
antiga.
 
(Fonte:
 
cagi
 
/
 
Shutterstock)
)
Algumas sociedades nasceram de longos processos de correntes migratórias, por necessidades socioeconômicas ou por guerras de conquista — inclusive na região em que nasceu o povo hebreu e sua religião monoteísta, com claras influências dos povos da região. Se você aprofundar as pesquisas sobre a religião como linguagem literária, será necessária uma vasta biblioteca.
Pense, abaixo, com os exemplos de literatura oral sagrada:
 (
1.
 
Glorifica
 
o
 
nome
 
do
 
teu
 
Senhor,
 
o
 
Altíssimo;
 
2.
 
Que
 
criou
 
e
 
aperfeiçoou
 
tudo;
 
3.
 
Que
 
tudo
 
predestinou
 
e
 
encaminhou;
 
4.
 
E
 
que
 
faz
 
brotar
 
o
 
pasto; 5. Que se converte em feno; 6. Ensinar-te-emos a recitar (a
 
Mensagem), para que não esqueças; 7. Senão o que Deus permitir,
 
porque Ele bem conhece o que está manifesto e o que é secreto; 8. E te
 
encaminharemos pela (senda) mais simples; 9. Admoesta, pois, porque a
 
admoestação é proveitosa (para o atento)! 10. Ela guiará aquele que é
 
temente;
 
11.
 
Porém,
 
o
 
desventurado
 
a
 
evitará;
 
12.
 
Entrará
 
no
 
fogomaior (o infernal); 13. Onde não morrerá, nem viverá; 14. Bem-
 
aventurado aquele que se purificar; 15. E mencionar o nome do seu
 
Senhor
 
e orar!
A
)
 
Alcorão
 
(
livro
 
sa
g
rado
 
do
 
Islamismo
)
 
-
 
Surata
 
19
,
 
1-
 
15
 
–
 
O
 
Altíssimo
)
 (
(Fonte:
 
htt
p
://www.islambrasil.com/kuran_txt/87.htm
<htt
p
://www.islambrasil.com/kuran_txt/87.htm>
 
)
*
 
Surata
 
2
)
 (
1. O SENHOR reina; está vestido de majestade. O SENHOR se revestiu e
 
cingiu de poder; o mundo também está firmado, e não poderá vacilar; 2.
 
O teu trono está firme desde então; tu és desde a eternidade; 3. Os rios
 
levantam, ó Senhor, os rios levantam o seu ruído, os rios levantam as
 
suas ondas; 4. Mas o Senhor nas alturas é mais poderoso do que o ruído
 
das grandes águas e do que as grandes ondas do mar; 5 Mui fiéis são os
 
teus
 
testemunhos;
 
a
 
santidade
 
convém
 
à
 
tua
 
casa,
 
Senhor,
 
para
 
sempre.
(Fonte:
 
htt
p
s://www.bibliaonline.com.br/acf/sl/93
<htt
p
s://www.bibliaonline.com.br/acf/sl/93>
 
)
B
)
 
Salmo
 
93
 
–
 
Bíblia
 
–
 
Tradu
ç
ão
 
Almeida
) (
1. O Senhor é rei e se revestiu de majestade, ele se cingiu com um cinto
 
de poder. A terra, que com firmeza ele estabeleceu, não será abalada; 2.
 
Desde toda a eternidade vosso trono é firme e vós, vós desde sempre
 
existis; 3. Elevam os rios, Senhor, elevam os rios a sua voz, e fazem
 
eclodir o fragor de suas ondas; 4. Porém, mais poderoso que a voz das
 
grandes
 
águas,
 
mais
 
poderoso
 
que
 
os
 
vagalhões
 
do
 
mar,
 
mais
 
poderoso
 
é
 
o Senhor nas alturas do céu; 5. Vossas promessas são sempre dignas de
 
fé,
 
e
 
a
 
vossa
 
casa,
 
Senhor,
 
é
 
santa
 
na
 
duração
 
dos
 
séculos.
(Fonte:
 
htt
p
s://www.bibliaonline.com.br/vc/sl/93
<htt
p
s://www.bibliaonline.com.br/vc/sl/93>
C
)
 
Salmo
 
93
 
–
 
Bíblia
 
–
 
Versão
 
Católica
)
 (
Leia alguns techos de
 
Mitos de cria
ç
ão
<
g
aleria/aula10/anexo/mitos_da_criacao.
p
df>
 
coletados
 
por
 
Eliade no livro 
O conhecimento sa
g
rado de todas as eras
 
3
 
(de 1963)
 
e
 
aprecie
 
um
 
pouco
 
a
 
beleza
 
da
 
literatura
 
sagrada
 
dos
 
mitos
 
de
 
criação.
Há
 
traduções
 
acessíveis
 
para
 
o
 
português.
Saiba mais
)
Além dos livros sagrados monoteístas, há coletâneas imensas, em geral sob a forma de versos poéticos, como a mais famosa do Oriente Médio, os livros sagrados do Hinduísmo:
Upanishads
Rig-veda
Sama-veda
Yajur-veda
Atharva-veda
Em geral, esses livros levaram muito tempo entre seu surgimento e a formação do cânone oficial, definido pela hierarquia de cada civilização, grupo, movimento ou Igreja.
 (
Reflita
 
um
 
pouco
 
sobre
 
a 
E
p
o
p
eia
 
de
 
Gil
g
amesh
<htt
p
s://
g
oo.
g
l/c6tKV>
 
(da região
 mesopotâmica), poema de 2.700
 
anos atrás que alguns especialistas acreditam ter influenciado o pano de
 
fundo
 
dos
 
primeiros
 
livros
 
da
 
Bíblia. Acesso
 
em
 
27
 
fev.
 
2018.
Sobre a religião dos orixás, que vieram da África e aqui foram
 
reinventados
 
e
 
ressignificados
 
na
 
Umbanda
 
e
 
no
 
Candomblé,
 
veja
 
o
 
livro:
PRANDI,
 
Reginaldo.
 
Mitologia
 
dos
 
orixás
.
 
São
 
Paulo,
 
Companhia
 
das
 
Letras,
 
2001.
Leitura
)
 (
Dica
)
 (
Assista a este raro documentário raro, 
Lendas dos Orixás - Minissérie
 
Mãe de Santo <htt
p
s://www.
y
outube.com/watch?
 
v=aJ2o5shbfYM>
 
,
 
da
 
extinta
 
TV
 
Manchete,
 
com
 
narração
 
da
 
atriz
 
Z
ezé
 
Motta.
 
Acesso em 27
 
fev. 2018.
)
As outras linguagens artísticas, como a dança, a pintura, a escultura, o cinema, a fotografia, também podem expressar o religioso, o sagrado, o terrível, o poderoso, como escreve Rudolf Otto.
O sagrado se expressa por meio de diversas linguagens, como a arte, o cinema e a dança, mas, no Mundo Ocidental, essas linguagens adquiriram sentidos próprios, lógicas específicas, a liberdade artística que, muitas vezes, entrou e entra em conflito com as ortodoxias religiosas 4.
 (
Portanto, um filme, um romance ou uma pintura sobre
 
qualquer tema religioso ligada a qualquer religião é uma
 
perspectiva (um ponto de vista) e uma interpretação
 
sobre esse tema. Evidentemente que esse ponto de vista
 
não é o próprio sagrado, fonte inesgotável de inspiração
 
para homens e mulheres religiosos.
)
Qualquer artista (pintor, romancista, cineasta, escultor etc.) expressará sua visão do sagrado, muitas vezes, dentro das regras do mundo da arte [que é vasto e diversificado], o que motivará diferenças com as visões das próprias religiões. Em geral, a linguagem artística é figurada, metafórica, crítica, irreverente, inversora e livre, o que contrasta com a religião que possui uma linguagem mais ontológica e moral.
Pense também que quando se fala religião, é preciso levar em conta muitas diferenças, estruturas e grupos internos. Na história do Mundo Ocidental houve muitos conflitos entre religião e arte, muitas vezes devido a
incompreensões de homens e mulheres que desconhecem as linguagens da religião e da arte. Mas, por outro lado, houve muito enriquecimento mútuo entre religião e arte.
Jesus Cristo com seis pares de braço preso à
cruz.
Observe que talvez sejam a Renascença e o Barroco, em especial na Itália, Alemanha e França, os períodos que mais trouxeram riqueza artística religiosa, por exemplo, pinturas, esculturas, arquiteturas e músicas/composições, tanto na tradição católica, quanto na tradição reformada/protestante.
Michelangelo Buonarroti (1475-1564)
Foi um pintor, escultor e arquiteto italiano, considerado um dos maiores representantes do Renascimento cultural, tem muitas obras com temática religiosa que se tornaram o emblema da cultura ocidental, entre elas:
afrescos do teto da Capela Sistina (Criação de Adão, Julgamento Final, Martírio de São Pedro, Conversão de São Paulo);
a Cúpula da Basílica de São Pedro e
as esculturas de Davi, Leda, Moisés e Pietá, que estão entre as mais admiradas do mundo.
Você não poderia deixar de, pelo menos, ver outros nomes como: Giotto di Bondone (1276-1337);
Leonardo da Vinci (1452-1519); Rafael Sanzio (1483-1520);
Michelangelo Merisi de Caravaggio (1571-1610); Rembrandt Harmensz van Rijn (1606-1669);
Gian Lorenzo Bernini (1598-1680), autor da famosa escultura O êxtase de Santa Tereza;
tantos outros artistas, pintores, músicos etc.
Não podemos nos esquecer das composições musicais de Johann Sebastian Bach (1685-1750). Muitas dessas riquezas nasceram da competição entre católicos e protestantes, apoiados por hierarcas, príncipes e, mais tarde, burgueses. E veja que interessante, houve, não apenas no Renascimento e no Barroco, mas em outros períodos históricos diversos artistas, compositores, pintores, escritores etc. muitos anônimos, que fizeram os mais imponentes templos católicos de todos os tempos (por exemplo, a Notre-Dame, em Paris).
Além da religião cristã, a arquitetura muçulmana é uma das mais belas e deixou influências inapagáveis na Europa, por exemplo, nas cidades espanholas de Sevilha e Granada (palácios e templos). Mas, observe, não é apenas isso, temos ainda a tapeçaria, a literatura, os objetos etc. Você precisa considerar também fatores como dinastias, períodos históricos, correntes religiosas internas, interação com outras culturas etc. Da mesma forma você pode apreciar as belezas artísticas dos templos, das esculturas e pinturas do Budismo e do Hinduísmo (e suas variantes), do Xintoísmo, das religiões africanas, das religiões afro-brasileiras, das religiões autóctones ou aborígenes, religiões étnicas etc.
Observe que, no espaço de uma aula apenas, não é possível abordar tanta riqueza e, por isso, sugerimos a você alguns artigos para aprofundamento:
BOAS, Alex Villas. Religião, arte e literatura: interfaces do Sagrado. Disponível em: https://goo.gl/n6rQa5 <https://goo.gl/n6rQa5> . Acesso em 27 fev. 2018. Um dossiê com diversos artigos, da Revista TeoLiterária, organizado pelo teólogo;
SANTOS, Alexandre. Tensionamentos entre religião, erotismo e arte: o martírio de São Sebastião. Disponível em: https://goo.gl/Wf64oY
<https://goo.gl/Wf64oY> . Acessoem 27 fev. 2018
 (
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Francisco
 
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(
1730/38?
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)
)
No Brasil, colonizado a partir do século XVI, a arte religiosa nasceu no período barroco e dele herdou muitas características em termos artísticos. As igrejas, entre os séculos XVI e XVIII, estão entre as mais belas e trabalhadas. Pense, por exemplo, na grandiosidade da obra de Aleijadinho, em Minas Gerais, particularmente na cidade de Congonhas, com os Doze profetas e as cenas da Paixão de Cristo.
No caso da linguagem imagética há uma divergência, com raízes no Judaísmo, que tendeu a ver com maus olhos a reprodução de divindades. A proibição da imagem, dizem alguns especialistas, serviu para a construção da identidade do povo hebreu que vivia espremido entre grandes potências e civilizações sob o risco constante de ser dissolvido.
A relação mais negativa com a imagem foi herdada por algumas correntes cristãs ao longo da história, mas essa iconoclastia ficou mais evidente com a Reforma Protestante em graus variados. Todos os movimentos posteriores, inclusive os pentecostais e neopentecostais, herdaram esse ceticismo com a imagem. O Islamismo também desenvolveu certas restrições.
Cecil B. de Mille (1881-1959)
O cinema e o sagrado são um assunto muito rico. Há centenas de filmes e cineastas, mas, veja pelo menos dois exemplos para ilustrar. De fato, a “sétima arte” traz para você muitos exemplos da presença do sagrado, muitos deles ligados ao Cristianismo, como o filme Os dez mandamentos (mais de 3 horas de duração), de de Mille, lançado nos EUA, em 1956, e um grande sucesso, considerado um dos maiores filmes bíblicos já realizados.
Pelo título, você já deve imaginar que se trata da saga do povo hebreu que viveu cativo no Egito esperando pelo libertador Moisés, que os conduziria até Canaã, a Terra Prometida por Deus. O diretor procurou recriar as culturas egípcia e hebreia (parte do filme foi rodada no Monte Sinai e no Egito), os dilemas enfrentados por Moisés etc.
 (
O livro de Êxodos, na tradição judaico-cristã e o filme 
Os dez
 
mandamentos 
contam que ele teria sido adotado pela irmã do Faraó,
 
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criar
 
uma
 
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contra os hebreus (colocar o recém-nascido em uma cesta próximo ao
 
lugar onde a família real se banhava), e se tornado um príncipe,
 
aprendendo,
 
portanto, a cultura
 
egípcia.
Observe que provavelmente esse, e outros elementos, levaram Freud,
 
filho de judeus, a propor, no livro O homem Moisés e o Monoteísmo, a
 
ideia
 
de
 
que
 
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Vermelho
 
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egípcio.
)
Glauber Rocha (1939-1981)
De diretores e cineastas brasileiras, procure assistir e refletir um pouco sobre o filme Barravento, uma das primeiras obras do Cinema Novo, um forte movimento artístico liderado pelo baiano Glauber Rocha, que renovou o modo de fazer cinema, com uma linguagem mais ágil, o enredo e as cenas com enfoques específicos.
Lançado em 1962, conta a história de uma aldeia de pescadores da praia da Ponta do Xaréu (Itacaré-BA), cujos antepassados vieram da África como escravos, que permanece ligada aos antigos cultos místicos dos orixás, seus rituais de iniciação etc.
Nessa vila de pescadores, quase todos negros, há uma forte exploração injusta pelo dono da rede que usa em seu ofício, empobrecendo-os. Um antigo membro da aldeia, que tinha ido morar na cidade, retorna, começa a questionar a exploração e conclama para a luta.
Nascem, assim, tensões nessa comunidade entre os distintos grupos e o antigo morador que retornou. A religião dos orixás tem papel importante.
Atividade
2. A religião se expressa por meio das linguagens artísticas, como a literatura e a pintura. São muitos os aspectos dessa expressão, inclusive históricos e sociais. Assinale, em relação à religião e sua linguagem como arte, a alternativa correta.
a) As sociedades caçadoras e coletoras, em geral, construíram grandes monumentos em rocha.
b) As sociedades agrícolas não destacaram o papel do feminino associado a ideia de fecundidade.
c) As sociedades mais complexas só entaleceram a literatura sagrada de fonte oral.
d) Nas sociedades complexas, a religião se expressa por meio de múltiplas linguagens artísticas.
e) Nas sociedades complexas, a religião só expressa por meio de um tipo de linguagem artística.
3. EA relação entre religião e cada linguagem artística é, pelo menos no Mundo Ocidental, muito rica, ampla e complexa, com aspectos conflitivos. Sobre a relação entre arte e religião, assinale a alternativa correta.
a) As linguagens artísticas, como a dança, a pintura, a escultura, o cinema, a fotografia, não conseguem expressar o religioso, o sagrado, o terrível, o poderoso.
b) Alguns conflitos entre religião e arte podem ocorrer devido ao desconhecimento das linguagens religiosas e artísticas.
c) Qualquer artista expressará, em geral, sua visão do sagrado dentro das regras do mundo da arte.
d) A linguagem artística tende a ser ontológica e moral, enquanto a linguagem religiosa tende a ser figurada, metafórica, crítica, irreverente, inversora e livre.
e) As belezas artísticas de templos, esculturas, e pinturas, músicas e literatura relativas ao sagrado só existem no Cristianismo.
A religião e as linguagens mercadológica, da mídia, do consumo e da política
A Reflita um pouco sobre como o mercado, o consumo e as mídias imperam no mundo moderno. É preciso assinalar a diversidade e a polissemia presentes no ciberespaço: redes sociais eletrônicas, chats, portais, hipertextos, blogs e vlogs, todos eles portadores de especificidades técnicas e comunicacionais, todos eles são campo de atuação das ortodoxias ou das heterodoxias 5.
As religiões, umas mais outras menos, interagem de forma complexa com essas novas linguagens midiáticas, misturam-se a elas a ponto de, atualmente, muitos templos, Igrejas, grupos e associações religiosas
expressarem-se permanentemente. Bispos, padres, pastores, monges budistas, cantores gospel etc., mantêm perfis/contas no Facebook, Instagram, Twitter ou usam o YouTube como plataforma para discursos religiosos, que muitas vezes derivam para o campo político, da saúde, estética etc.
Por exemplo, os religiosos conservadores/reacionários usam essas plataformas midiáticas para militar contra o que consideram erros (descriminalização do aborto ou uma política de drogas mais repressiva).
O ciberespaço torna nítido o processo de reinvenção de convenções religiosas e o faz por diversos motivos, por exemplo, é um campo de expressão (no sentido de existir diante do olhar do outro), de convencimento e de luta político-religiosa.
Ilustração de um indivíduo falando em um megafone com as logos das principais redes sociais
atuais.
As páginas eletrônicas das grandes e pequenas tradições religiosas contam-se aos milhares, algumas ligadas a grupos atuantes de clérigos, leigos, movimentos e associações que investem dinheiro e tempo na organização e manutenção dessa complexa engenharia da memória. O que emerge é uma imagem dinâmica, múltipla e polissêmica, afinal, qualquer tradição religiosa submetida a um “microscópio”, fará saltar aos olhos muitas diversidades internas, algumas vezes sutis.
Nas redes sociais, a memória da tradição religiosa é apropriada de forma polissêmica e fragmentada e é a partir desse acesso seletivo que a mesma é apresentada, publicizada e defendida como verdade legítima. Assim, a religião tornou-se uma linguagem política de reação conservadora ou de busca pela igualdade e justiça social. Tornou-se elemento de identidade em muitos sentidos, resumidos em duas direções:
 (
1
)
Com luta reacionária
Isto é, para restaurar antigos padrões de moral, costume, social e/ou economia e valores que sofreram mudanças com o tempo e com as sociedades.
 (
2
)
Com luta de reforma/mudança
Para avançar pautas de modernização e mudança de costumes, moral, social, política e/ou economia.
Atividade
4. No mundo moderno e pós-moderno, a religião se expressa tambémpor meio de linguagens como o consumo e a mídia. A respeito da relação entre as linguagens cibernéticas e religião, assinale a alternativa correta:
a) Os religiosos reacionários não usam as plataformas midiáticas para militar contra aspectos que consideram moralmente errados.
b) Os religiosos progressistas não usam as plataformas midiáticas para militar a favor de aspectos que consideram passíveis de mudança.
c) As religiões, umas mais, outras menos, interagem de forma complexa com as novas linguagens midiáticas e cibernéticas.
d) Muitos religiosos (leigos, padres, bispos, sacerdotes, pastores) não usam as redes sociais eletrônicas como plataforma para discursos religiosos.
e) Muitos religiosos (leigos, padres, bispos, sacerdotes, pastores) usam as redes sociais eletrônicas como plataforma apenas para discursos políticos.
Espiritualidade e pós-modernidade
Uma das questões mais polêmicas nas pesquisas das Ciências da Religião tem sido a relação entre pós-modernidade e espiritualidade.
 (
Leia o 
artigo Mais es
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Acesso
 
em
 
27
 
fev.
2018.
Leitura
)
A teóloga Bingemer distingue religião e espiritualidade: a primeira no sentido institucional e a segunda no sentido de uma vivência humana fundamental, podendo se exprimir de várias maneiras, uma experiência de Deus. Medite um pouco sobre o que escreve a teóloga Bingemer (2016):
 (
Na espiritualidade predominam a disposição de serviço,
 
a tolerância para com a crença (ou a descrença) alheia,
 
a sabedoria de não transformar o diferente em
 
divergente.
BINGEMER,
 
2016
)
A religião seria uma institucionalização com engessamento, burocratização e hierarquização da espiritualidade.
A religião seria uma institucionalização com engessamento, burocratização e hierarquização da espiritualidade.
A pós-modernidade pode ser entendida, segundo alguns teóricos, como o ocaso da ideia de razão absoluta e única, a celebração da pluralidade de valores, modos de vida e existência. A secularização e a laicidade contribuíram para isso.
Ainda em Bingemer (2016), medite um pouco sobre o que essa teóloga fala:
O fato é que o processo de secularização apresenta uma face positiva e não apenas negativa
Bingemer, 2016
Saiba mais
Caberia também citar uma perspectiva mais antropológica, que você pode ver em Estilos de espiritualidade como critério para tipologias e interpretações do campo religioso na contemporaneidade <https://goo.gl/RpY6VM> . Acesso em 27 fev. 2018.
Atividade
5. A religião e a espiritualidade serão vistas de forma diferente, até mesmo oposta. Sobre a religião, como linguagem política e sobre a relação entre espiritualidade e pós-modernidade, assinale a alternativa correta:
a) A religião, como linguagem política, não pode significar reação conservadora, protesto social ou violência.
b) As religiões retraíram-se do espaço público e não advogam luta para restaurar antigos padrões de moral, costume.
c) As religiões retraíram-se do espaço público e não advogam luta para avançar pautas de modernização e mudança de costumes, moral.
d) Na espiritualidade, não predominam a disposição de serviço, a tolerância para com a crença (ou a descrença) alheia, a sabedoria de não transformar o diferente em divergente.
e) A religião, como expressão de uma linguagem política, pode significar reação conservadora, protesto e busca pela igualdade e justiça social ou violência.
 (
6. A atividade consiste em visitar os 
links 
recomendados desta aula e
 
responder: Como se relacionam a religião e as linguagens?
)
Notas
Arte rupestre1
Refere-se às eras pré-históricas (anteriores à escrita), encontradas em paredes e tetos de cavernas, rochas etc. Temos a pintura rupestre, feita com pigmentos, e a gravura rupestre, imagens gravadas em incisões em rocha, madeira ou ossos. Há variados estilos, técnicas e materiais. Geralmente, representam animais, natureza e pessoas.
Surata2
Nome dado a cada capitulo do Alcorão, o livro sagrado do Islamismo. O Alcorão é divido em 114 suratas subdividas em versículos (ayat).
O conhecimento de todas as eras3
Observe que esse livro foi criado como apoio aos cursos de História da Religião que o filósofo, historiador e cientista da religião romeno lecionava na Universidade de Chicago, EUA.
Ortodoxias religiosas4
Tudo que é relativo a dogmas e versões oficiais de discursos, ideias e valores de Igrejas, religiões, templos etc.
Heterodoxias5
tudo que é relativo a dogmas e versões não oficiais ou divergentes (não hegemônicos) de discursos, ideias e valores de Igrejas, religiões, templos etc. Ortodoxia religiosa: tudo que é relativo a dogmas e versões oficiais de discursos, ideias e valores de Igrejas, religiões, templos etc.
Referências
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. São Paulo: Martins Fontes. 1992, p. 59.
 	. O conhecimento sagrado de todas as eras. São Paulo: Mercuryo, 1995, p. 68 a 70.
 	. História das crenças e das ideias religiosas. Volume I: Da Idade da Pedra aos mistérios de Eleusis. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.
FIROLAMO, Giovanni; PRANDI, Carlo (orgs.). As Ciências das Religiões. 8. ed. São Paulo: Paulinas, 2016.
PASSOS, João D.; USARSKI, Frank (Orgs.). Compêndio de Ciência da Religião.
São Paulo: Paulinas: Paulus, 2013.
TEIXEIRA, Faustino (org.). A(s) Ciência(s) da Religião no Brasil. Afirmação de uma área acadêmica. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 2008.
Explore mais
Veja os seguintes textos acadêmicos e livres!
A sensibilidade secular da política brasileira <https://goo.gl/QeQCqQ> . Acesso em 26 fev. 2018.
Cristianismo e pós-modernidade segundo Vattimo
<https://goo.gl/KLfuFi> .Acesso em 26 fev. 2018.
Scorsese à beira do último homem – o filme “Silêncio”
<https://goo.gl/V3gn6h> . Acesso em 26 fev. 2018.
Nossa boa religiosidade atual: entre William James e Peter Sloterdijk
<https://goo.gl/DovUAW> . Acesso em 26 fev. 2018.

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