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Dor pélvica crônica e Endometriose 1 Dor pélvica crônica e Endometriose Dor pélvica crônica dor em andar inferior do abdome, acíclica, com duração igual ou superior a 6 meses, não causada pela gravidez e sem associação exclusiva com o coito características gerais dor localizada entre a pelve, parede anterior do abdome e a coluna lombossacra ou nádegas, na altura ou abaixo da cicatriz umbilical suficientemente intensa a ponto de impossibilitar atividades diárias e/ou de necessitar de tratamento médico não se trata de uma doença, mas de um quadro clínico que pode ser desencadeado por diferentes afecções 3 formas de apresentação: dismenorreia, dispareunia ou dor acíclica (não guarda relação com o fluxo menstrual e/ou coito) etiologia ginecológicas: destaca-se a endometriose, as varizes pélvicas, as aderências e os miomas uterinos não ginecológicas: destaca-se a síndrome do intestino irritável, constipação crônica, cistite intersticial crônica, causas osteomusculares e distúrbios emocionais Endometriose é uma doença ginecológica definida pela presença de tecido que se assemelha à glândula e/ou estroma endometrial fora da cavidade uterina, com predomínio, mas não exclusivo, na pelve feminina epidemiologia 25-50% das mulheres inférteis 75-80% das mulheres com dor pélvica crônica 5-10% da população feminina em idade reprodutiva características gerais doença benigna, estrogênio-dependente e de natureza multifatorial acomete principalmete mulheres em idade reprodutiva, porém também pode ter casos na pré-menarca e na pós-menopausa pode ser dividida em 3: Dor pélvica crônica e Endometriose 2 endometriose peritoneal: presença de implantes superficiais no peritônio endometriose ovariana: presença de implantes superficiais ou cistos (endometriomas) no ovário endometriose profunda: lesão que penetra no espaço retroperitoneal ou na parede dos órgãos pélvicos com profundidade de 5mm ou mais fatores de risco: história familiar de parentes de 1° grau com endometriose nuliparidade ou gravidez tardia menarca precoce menopausa tardia ciclos menstruais encurtados (<27 dias) com menstruação intensa e prolongada (>8 dias) defeitos nos ductos mullerianos exposição a dietilestilbestrol no útero fatores de proteção: multiparidade lactação prolongada menarca tardia uso a longo prazo de contraceptivos orais em baixa dose (contínuos ou cíclicos) exercício regular (especialmente iniciado antes dos 15 anos, se realizado por >4horas/semana, ou ambos) fisiopatologia teoria da menstruação retrógrada 90% das mulheres com tubas uterinas pérvias apresentam líquido livre na cavidade pélvica em época menstrual, ou seja, isso sugere que ocorre um certo refluxo menstrual para a tuba então, as células endometriais presentes no fluxo menstrual se implantariam no peritônio e nos demais órgãos pélvicos, iniciando a doença controverso: 10% das mulheres apresentam endometriose e, nesse caso, os implantes ocorreriam pela influência de um ambiente hormonal favorável e de uma falha do sistema imune teoria da metaplasia celômica sugere a transformação do epitélio celômico, principalmente ovariano e peritoneal, em endometrial consequentemente, as lesões de endometriose poderiam originar-se diretamente de todos os tecidos normais mediante um processo de metaplasia teoria da menstruação em neonatos após o nascimento, o útero apresenta uma resposta variável à progesterona materna, porém foi demonstrado que em 5% dos neonatos foram percebidas decidualização do endométrio e alterações menstruais além disso, sabe-se que o colo do útero no neonato é muito longo e com muito muco assim, o sangramento uterino neonatal iria ascender pela tuba (refluxo) por conta da “obstrução” do colo, levando consigo fragmentos de tecido endometrial composto por células progenitoras do epitélio endometrial essas células poderiam aderir ao peritônio e permanecer quiescentes até o aparecimento do estrogênio (na menarca) teoria das alterações genéticas e epigenéticas a predisposição genética ou alterações epigenéticas associadas a alterações no ambiente peritoneal (fatores inflamatórios, imunológicos, estresse oxidativo) poderiam iniciar a doença nas suas diversas formas e explicar a sua complexidade inúmeras outras teorias têm sido citadas na patogênese da endometriose, porém nenhuma dessas teorias isoladamente consegue justificar a doença mecanismos envolvidos na fisiopatologia da dor inflamação peritoneal local crônica: causada pela liberação de citocinas pró-inflamatórias, prostaglandinas, quimiocinas e outras substâncias pelos implantes ectópicos infiltração profunda com lesão tecidual formação de aderências Dor pélvica crônica e Endometriose 3 espessamento fibrótico acumúlo de sangue menstrual eliminado em implantes endometrióticos, resultando em tração dolorosa com movimentos fisiológicos dos tecidos alterações moleculares e celulares demonstradas no endométrio tópico de mulheres com endometriose podem incluir fatores de crescimento locais ou citocinas para fibras nervosas se presentes no tecido ectópico, poderiam induzir o crescimento de fibras nervosas nos focos de endometriose e fornecer um mecanismo de dor por ser uma doença inflamatória, são liberados muitos mediadores que podem sensibilizar/ativar terminações nervosas sensitivas no peritônio, iniciando o estímulo da dor histamina, serotonina, bradicinina, prostaglandinas, leucotrienos, interleucinas, acetilcolina fator de crescimento do endotélio vascular, fator de necrose tumoral alfa, endotelinas, fatores de crescimento epidermal, fator de crescimento plaquetário quadro clínico - sinais e sintomas dismenorreia: em 62% dos casos de endometriose dor pélvica crônica ou acíclica: pode ocorrer de forma imprevisível ou intermitente ao longo do ciclo menstrual desconforto, dor pulsante e aguda, e frequentemente piora no decorrer do tempo dispareunia: mais frequente de profundidade, relacionada a lesões profundas na vagina e nos ligamentos uterossacrais alterações urinárias: a queixa clínica é geralmente proporcional à gravidade da lesão com sintomas associados ao fluxo menstrual disúria hematúria polaciúria urgência miccional alterações intestinais: alterações do hábito intestinal, normalmente de forma cíclica em época menstrual distensão abdominal sangramento nas fezes constipação disquezia dor anal sintomas atípicos: devem ser valorizados principalmente se ocorrerem de forma cíclica em época menstrual dor irradiada para membros inferiores vulvodínia dor em região glútea dor torácica hemoptise dor epigástrica principais sítios de acometimento: fundo de saco ovário reto intestino peritônio bexiga pele exame físico exame especular: nódulos ou rugosidades enegrecidas em fundo de saco posterior toque vaginal: útero com pouca mobilidade sugere aderências pélvicas nódulos geralmente dolorosos também em fundo de saco posterior podem estar associados a lesões retrocervicais, ligamento uterossacros, parede vaginal ou intestinal. massas anexiais podem estar relacionadas a endometriomas o quadro clínico da paciente não é necessariamente proporcional à gravidade da doença e os sintomas podem varia de intensidade entre pacientes no mesmo estágio da doença diagnóstico o diagnóstico de endometriose ainda é muito demorado e dificultado antigamente, a videolaparoscopia era o único método diagnóstico os exames de imagem tem se mostrado a melhor opção de diagnóstico para detecção e estadiamento ultrassom transvaginal: menor custo, maior facilidade de acesso, possibilidade de diagnóstico de aderências pélvicas e acometimento por endometriose profunda, feita com preparo intestinal prévio Dor pélvica crônica e Endometriose 4 ressonância magnética: alto custo, melhores taxas de sensibilidade e especificidade na avaliação da paciente com endometrioma e endometriose profunda diagnóstico laboratorial: marcador CA 125: pode estar elevado em casos mais avançados da doença, principalmenteno período menstrual a biópsia é necessária para a confirmação dodiagnóstico estadiamento da endometriose o estadiamento mais utilizado é o da Sociedade Ameriana de Medicina Reprodutiva estágio 1 - doença mínima poucos implantes superficiais isolados e sem aderências pontuação de 1 a 5 estágio 2 - doença leve mais implantes superficiais agrupados e com poucas aderências, mais profundos pontuação de 6 a 15 estágio 3 - doença moderada múltiplos implantes mais profundos e algumas aderências peritubárias e periovarianas, pequenos endometriomas pontuação de 16 a 40 estágio 4 - doença grave endometriomas ovarianos maiores, implantes profundos e aderências densas e firmes aderências podem conectar estruturas, impedindo o funcionamento adequado e restringindo o movimento interno endometriose e infertilidade alguns estudos mostram que 25-50% das mulheres inférteis têm endometriose e que 30-50% das mulheres com endometriose apresentam infertilidade por que isso ocorre? presença de aderências e distorções anatômicas geradas pela endometriose dificultaria a liberação de óvulos, captação deles pela tuba e transporte oocitário até o útero alterações no fluido peritoneal, com concentração elevada de prostaglandinas, proteases e citocinas inflamatórias e angiogênicas e também aumento de linfócitos, IgG e IgA no endométrio, o que poderia comprometer a fertilidade abordagem: devem ser considerados a idade, quadro clínico, sintomas, tempo de infertilidade e presença de outros fatores de infertilidade tratamento medicamentoso hormonal: não deve ser prescrito, pois não existe evidência de qualquer benefício análogos de GnRH: podem ter benefício quando utilizados por até 3 meses especificamente antes da FIV tratamento cirúrgico: estudos mostraram que pacientes que fixeram a retirada dos focos de endometriose tiveram uma taxa de gestação maior quando comparadas àquelas que fizeram apenas laparoscopia diagnóstica pacientes com endometriose mais avançada: não há estudos que definam um tratamento mais adequado > a paciente decide entre cirurgia ou FIV paciente que já fez cirurgia e teve recidiva: recomenda-se a FIV paciente com endometrioma ovariano: procedimento cirúrgico só deve ser indicado nos endometriomas grandes para comprovação histológica, para controle da dor ou para facilitar o acesso aos folículos no momento da captação oocitária Dor pélvica crônica e Endometriose 5 tratamento clínico o tratamento deve ser direcionado para as queixas da paciente, assim como para a localização e a extensão da doença o tratamento clínico é eficaz no controle da dor pélvica e deve ser o tratamento de escolha na ausência de indicações absolutas para cirurgia deve haver uma equipe multidisciplinar com terapia medicamentosa hormonal e analgésica, acupuntura e psicologia o tratamento é para alívio dos sintomas álgicos e para melhora da qualidade de vida da paciente, não diminui lesões e nem cura a doença progestágenos o uso contínuo resulta em bloqueio ovulatório e inibição do crescimento endometrial, com consequente atrofia das lesões a ação anti-inflamatória desse hormônio está relacionada com a inibição da produção de mastócitos, a supressão de metaloproteinases e a inibição da angiogênese administração: progestágeno oral mais utilizado: acetato de noretindrona (derivado da 19-nor-testosterona), na dose de 2,5 a 10mg por dia progestágeno injetável: acetato de medroxiprogesterona 150mg a cada 3 meses DIU e implante subdérmico efeitos colaterais: ganho de peso alteração de humor perda de massa óssea sangramentos de escape contraceptivo combinado o uso de pílulas combinadas de estrogênio + progesterona também faz parte do tratamento de primeira linha mecanismo de ação: similar aos progestágenos, agindo principalmente na decidualização e atrofia do tecido endometrial ectópico Dor pélvica crônica e Endometriose 6 ainda não há consenso se a administração deve ser contínua ou cíclica, mas estudos mostraram que o esquema contínuo foi mais eficaz na redução da dor administração: por via oral, intramuscular, adesivo de absorção subcutânea ou anel vaginal danazol medicamento derivado da 17a-etiniltestosterona mecanismo de ação: age inibindo a liberação de LH e a esteroidogênese e aumentando a testosterona livre, de forma que ocorra um bloqueio do eixo HHO e da ovulação, criando um ambiente hipoestrogênico administração: por via oral na dose de 100 a 200mg por dia efeitos colaterais: hirsutismo, ganho de peso e acne agonistas do GnRH mecanismo de ação: age no hipotálamo, ocupando os receptores de GnRH, o que provoca a inibição da liberação de FSH e LH pela hipófise consequentemente, ocorre um estado de anovulação e hipoestrogenismo, semelhante ao climatério administração: acetato de gossorelina 3,6 ou 10,8mg subcutâneo a cada 28 ou 90 dias acetato de leuprolida 3,75 ou 11,25mg intramuscular a cada 28 ou 90 dias pamoato de triptorrelina 3,75mg intramuscular a cada 28 dias efeitos colaterais - semelhante ao climatério fogachos secura vaginal diminuição da libido perda de massa óssea sugere-se evitar o uso prolongado, mas o uso adicional de hormônios em baixa dose pode reduzir esses efeitos inibidores de aromatase mecanismo de ação: age inibindo a aromatase, resultando na redução dos níveis de estradiol circulantes pode ser utilizada com outras medicações nos casos de dor serevera refratária e nas pacientes que persistem os sintomas após a menopausa efeitos colaterais: indução da formação de cistos ovarianos volumosos administração: letrozol 2,5mg ao dia e anastrozol 1mg ao dia tratamento complementares acupuntura: tem se mostrado eficaz para o controle da dor fisioterapia: em caso de compremetimento musculo-esquelético, para melhora postural e fortalecimento da musculatura pélvica psicologia/psiquiatria: pacientes com dor crônica estão mais propensos a apresentarem quadros depressivos e estresse psicológico tratamento cirúrgico salvo exceções, o tratamento clínico é a 1° linha de tratamento o tratamento cirúrgico deve ser oferecido a pacientes em que o tratamento clínico for ineficaz ou contraindicado por alguma razão objetivo da cirurgia: remoção completa de todos os focos de endometriose, restaurando a anatomia e preservando a função reprodutiva realizado por: laparoscopia ou laparostomia, mas prefere-se a laparoscopia melhor visualização das lesões endometrióticas melhor acesso a alguns pontos da pelve melhor recuperação da paciente Dor pélvica crônica e Endometriose 7 endometriose peritoneal: lesões tipicamente superficiais de modo geral, a eletrocirurgia é o método de escolha para retirada desses focos endometriose retrocervical e intestinal: localização: ligamentos uterossacros, torus uterino, cúpula vaginal e septo retovaginal, além da parede anterior do retossigmoide retirada completa dos focos com liberação do reto quando aderido na região retrocervical, utilizando os pontos de dissecação e espaços avasculares técnicas: todas podem ser realizadas por laparoscopia 1. shaving: menos agressiva, diferentes tipos, diâmetros, tamanhos e profundidades de nódulos 2. ressecação em disco: ressecação do nódulo até 3cm 3. ressecação segmentar: lesões maiores que 3cm ou na presença de duas ou mais lesões intestinais endometrioma ovariano a retirada da cápsula do cisto pode lesar o parênquima ovariano e diminuir a reserva ovariana, com prejuízo da função reprodutiva, deve ser bem analisado endometriose do trato urinário acontece em 1% das pacientes com endometriose lesão de ureter não infiltrativa: ureterólise em caso de infiltração: ressecação das lesões resumo do tratamento
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