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Mariana, parda, 58 anos, apresentou-se na emergência hospitalar com forte dor no peito e um certo mal-estar. Essa dor já estava presente há uma hora. Mariana tem uma história prévia de dois anos de angina, que se manifesta durante o esforço. O médico da emergência solicitou a mensuração de isoenzimas cardíacas, bem como de outros marcadores bioquímicos cardíacos. 1.1 O que são e quais são as isoenzimas creatinocinase cardíacas? Descreva cada uma das isoenzimas. 1.2 Sabendo que Mariana sente essa dor há uma hora, descreva o possível resultado desses marcadores (isoenzimas) mensurados no sangue da paciente. Justifique esse resultado. 1.3 Descreva outros três marcadores cardíacos que podem ter sido solicitados pelo médico a fim de uma avaliação adicional para possíveis lesões cardíacas em Mariana. Resposta .1 Isoenzimas são enzimas que catalisam a mesma reação em diferentes tipos celulares. A importância delas no diagnóstico clínico está em sua formação pela associação de diferentes cadeias polipeptídicas com diferenças estruturais entre elas. Essas diferenças estruturais facilitam o reconhecimento específico de cada uma delas, e a sua mensuração reflete a atividade nos tecidos ou nos órgãos onde cada isoenzima atua. A creatinocinase é uma enzima composta pela união de duas subunidades do tipo B e/ou M, em três combinações possíveis, que correspondem às isoenzimas • CK-BB; • CK-MB; e • CK-MM. Cada uma delas possui atividade preponderante em algum tecido ou órgão específico: • Isoenzima CK-BB: está presente de forma predominante no cérebro e na musculatura lisa; • Isoenzima CK-MB: 10% a 20% do total da atividade de CK no miocárdio é proveniente dessa isoenzima, enquanto no músculo esquelético essa porcentagem varia de 2% a 5%; • isoenzima CK-MM: 55% do total da atividade de CK no miocárdio é proveniente dessa isoenzima, enquanto no músculo esquelético essa porcentagem varia de 95% a 98%. 1.2 A angina (dor no peito) pode ser um alerta para a insuficiência circulatória aguda, a qual provoca alterações celulares que podem variar desde discretas perdas de algumas propriedades da membrana até a morte celular do tecido cardíaco. Desse modo, o médico solicitou a mensuração das isoenzimas a fim de diagnosticar uma possível miocardiopatia, em especial o infarto agudo do miocárdio, ou para um monitoramento terapêutico. Foram dosadas as isoenzimas creatinocinases, mas elas não apresentaram alterações, pois havia passado somente uma hora da ocorrência da angina em Mariana. Era preciso que ela permanecesse em observação para que outras mensurações fossem realizadas após um período de 3 a 4 horas, contadas do início da dor no peito. Essas isoenzimas se elevam após 3 a 4 horas e apresentam seus picos de 18 a 24 horas. O retorno a valores basais em carga ocorre de 24 a 48 horas após o processo lesivo (início do sintoma). A isoenzima MB é uma opção adequada de mensuração em relação às outras, pois ela possui elevada sensibilidade e especificidade para o diagnóstico de lesão do músculo cardíaco. Em geral, são realizadas três determinações seriadas em um período de 9 a 12 horas. Se as três dosagens estiverem dentro dos intervalos de referência, o diagnóstico de infarto pode ser excluído. Caso, nessas próximas medidas das isoenzimas, a concentração de CK total estiver alta em função do aumento da concentração de CKMB, em indivíduos normais não deve estar presente no sangue. Como a CKMB é característica do miocárdio, seu aumento no sangue indica lesão de células cardíacas. Com esse aumento de CKMB, sugere-se que Mariana sofreu lesão cardíaca. Preferencialmente, deve-se realizar a dosagem da massa de proteína correspondente à isoenzima (CK-MB massa), e não da atividade enzimática. Essa dosagem de CK-MB massa é realizada por ensaio imunométrico. A mensuração de padrões seriados de CK-MB massa é mais informativo do que uma única tomada. A concentração da CK-MB massa se eleva de 3 a 8 horas após o processo lesivo, atinge um pico em 24 horas e normaliza em 72 a 96 horas após um episódio único e limitado (sintomas). A intensidade da elevação se correlaciona com o volume de tecido lesado e com o prognóstico. 1.3 É importante salientar que os marcadores são a expressão bioquímica da lesão das fibras cardíacas, mas não indicam a etiologia do processo. Troponinas cardíacas I e T: três subunidades de troponinas formam um complexo que regula a interação de actina e miosina e, consequentemente, regulam a concentração cardíaca. Essas subunidades são: • Troponina C (o componente ligante de cálcio); • Troponina I (o componente inibidor); e • Troponina T (o componente ligante de tropomiosina). Como existem diferenças antigênicas entre as troponinas dos músculos esqueléticos e cardíacos, o uso de antissoros específicos permite a identificação e a quantificação de cada uma delas. As troponinas T (cTnT) e I (cTnI) são consideradas os marcadores bioquímicos mais específicos e sensíveis para o diagnóstico de lesão isquêmica do miocárdio. Mioglobina: é uma proteína ligante de oxigênio nos músculos cardíacos e esqueléticos. Quando ocorre lesão desses músculos, essa proteína aparece na circulação sanguínea. Não há diferença entre a proteína da mioglobina encontrada no coração e a encontrada no músculo esquelético. Portanto, a elevação de mioglobina circulante não é específica de lesão cardíaca, ocorrendo no trauma da musculatura esquelética e na insuficiência renal, por exemplo. Os métodos de dosagem mais amplamente utilizados incluem turbidimetria e nefelometria. A determinação no soro pode ser útil para descartar o diagnóstico de infarto agudo do miocárdio, já que possui elevado valor preditivo negativo. Por ser uma proteína presente no citoplasma e de baixo peso molecular, é liberada para a circulação precocemente após lesão isquêmica da fibra miocárdica. Concentrações elevadas são observadas 1 a 2 horas após o início da dor, atingindo o pico em 12 horas e, em geral, normalizando 24 horas após um episódio único. Enzima lactato desidrogenase (LDH): A isoenzima LDH apresenta cinco isoformas diferentes: • LDH1: característica do miocárdio e hemácias; • LDH2: característica do miocárdio e leucócitos; • LDH3: característica do cérebro, pulmão e rins; • LDH4: característica dos rins, placenta e pâncreas; e • LDH5: característica do fígado e musculatura esquelética. O aumento das isoformas de LDH 1 e 2 seriam indicativas de uma lesão cardíaca. No entanto, a diferenciação das cinco isoenzimas de LDH não é um método muito simples. Assim, a dosagem de LDH total no sangue, associada a outros métodos mais específicos para a detecção de distúrbios no miocárdio, auxilia no diagnóstico, já que um aumento de LDH total representa um aumento de uma ou mais isoformas de LDH.