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APOSTILA PROCESSOS GERENCIAIS Prof. Antonio Reis 1 CONCEITOS DE PROCESSOS De acordo com Rebouças (2007, p.58), processo: é o conjunto estruturado e intuitivo das funções de planejamento, organização, direção e avaliação das atividades sequenciais, que apresentam relação lógica entre si, com a finalidade de atender e, preferencialmente, suplantar, com minimização dos conflitos interpessoais as necessidades e expectativas dos clientes externos e internos da empresa. Para se compreender melhor a gestão de processos é importante entender que se refere a uma sequência de atividades que segue um cronograma pré- estabelecido, em que os recursos que estão envolvidos e a questão almejada se apresentam de forma simples e clara. Segundo Araújo (2009, p. 26), Outra forma de apresentar o conceito de processo é: quanto à existência, é a introdução de insumos (entradas ou inputs) num ambiente, formado por procedimentos, normas e regras que, ao processarem os insumos, transformaram-nos em resultados que serão enviados (saídas ou outputs) aos clientes do processo. Rebouças (2007) aponta que o principal problema que a administração de processos apresenta é sua consolidação como um instrumento administrativo com alta qualidade, mas por muitas vezes faltam metodologias estruturadas em sua operacionalização nas organizações e indica uma metodologia dividida em cinco fases para o desenvolvimento e implementação dos processos administrativos nas organizações. Fase 1: O comprometimento – a finalidade dessa fase é a apresentação, o debate, a estruturação geral e o atendimento. Fase 2: Estruturação – identificar todos os aspectos a serem adequados para o desenvolvimento e implementação dos processos administrativos. Estruturar as fases, etapas e atividades a serem realizadas. Fase 3: Análise – nesta fase alguns pontos devem ser observados: - qual o sistema que agrega o processo principal? - quais os principais processos, atividades e passos que são partes integrantes dos sistemas que se relacionam? - como as atividades, tarefas e procedimentos são realizados? - quais ações e estratégias melhorariam os negócios? - quais os processos que trariam resultados para os negócios? - quais são os pontos fortes e fracos de cada processo da organização? - como as empresas do mesmo setor atuam? - quais os objetivos, desafios, metas de aperfeiçoamento para os processos atuais? - qual a proposta de futuro da organização – visão? 2 Fase 4: Desenvolvimento – consolidação da gestão de processos na organização. Questões a serem observadas nesta fase: - quais o recursos necessários para otimizar os processos? - quem são as pessoas que estarão envolvidas, direta e indiretamente? Como serão treinadas? - quais são as oportunidades que foram identificadas e como serão usufruídas? - quais são as prioridades e competências a serem desenvolvidas? - quais serão as medidas de desempenho utilizadas? - como será a distribuição de autoridade e responsabilidade? - como serão tratadas as resistências a mudanças? - como a empresa será idealizada e planejada para esta mudança? 3 GERÊNCIA DE PROCESSOS O atual dinamismo das organizações, aliado ao peso cada vez maior que a tecnologia exerce nos negócios, vem fazendo com que o tema gestão de processos (Business Process Management, ou BPM) seja discutido e estudado com crescente interesse pelas empresas. Falar em processos é quase sinônimo de falar em eficiência, redução de custos e qualidade, por isso é recorrente na agenda de qualquer executivo. Os principais fatores que tem contribuído para essa tendência são: • Aumento da demanda de mercado vem exigindo desenvolvimento e lançamento de novos produtos e serviços de forma mais ágil e rápida. • Com a implantação de Sistemas Integrados de Gestão, os chamados ERPs, existem a necessidade prévia de mapeamento dos processos. Entretanto é muito comum a falta de alinhamento entre processos, mesmo depois da implantação sistema. • As regras e procedimentos organizacionais se mostram cada vez mais desatualizados devido ao ambiente de constante mudança. Em tal situação erros são cometidos ou decisões são postergadas por falta de uma orientação clara. • Maior freqüência de entrada e saída de profissionais (turnover) tem dificultado a gestão de conhecimento e a documentação das regras de negócio, gerando como resultado maior dificuldade como na integração e treinamento de novos colaboradores. Os efeitos destas e outras situações têm levado um número crescente de empresas a buscar uma nova forma de gerenciar seus processos. Muitas começam pelo desenvolvimento e revisão das normas da organização ou ainda pelo mapeamento de processos. Entretanto, fazer isso de imediato é colocar o “carro na frente dos bois”. Em vez disso, o ponto de partida inicial é identificar os processos relevantes e como devem ser operacionalizados com eficiência. Questões que podem ajudar nesta análise são: • Qual o dimensionamento de equipe ideal para a execução e o controle dos processos? • Qual o suporte adequado de ferramentas tecnológicas? • Quais os métodos de monitoramento e controle do desempenho a serem utilizados? • Qual é o nível de integração e interdependência entre processos? 4 A resposta a essas questões representa a adoção de uma visão abrangente por parte da organização sobre os seus processos e de como estão relacionados. Essa “visão” é o que chama de uma abordagem de BPM. Sua implantação deve considerar no mínimo cinco 5 diferentes passos fundamentais: 1. Tradução do negócio em processos: É importante definir quais são os processos mais relevantes para a organização e aqueles que os suportam. Isso é possível a partir do entendimento da Visão Estratégica, como se pretende atuar e quais os diferenciais atuais e desejados para o futuro. Com isso, é possível construir o Mapa Geral de Processos da Organização. 2. Mapeamento e detalhando os processos: A partir da definição do Mapa Geral de Processos inicia-se a priorização dos processos que serão detalhados. O mapeamento estruturado com a definição de padrões de documentação permite uma análise de todo o potencial de integração e automação possível. De forma complementar são identificados os atributos dos processos, o que permite, por exemplo, realizar estudos de custeio das atividades que compõe o processo, ou ainda dimensionar o tamanho da equipe que deverá realizá-lo. 3. Definição de indicadores de desempenho: O objetivo do BPM é permitir a gestão dos processos, o que significa medir, atuar e melhorar! Assim, tão importante quanto mapear os processos é definir os indicadores de desempenho, além dos modelos de controle a serem utilizados. 4. Gerando oportunidades de melhoria: A intenção é garantir um modelo de operação que não leve a retrabalho, perda de esforço e de eficiência, ou que gere altos custos ou ofereça riscos ao negócio. Para tal é necessário identificar as oportunidades de melhoria, que por sua vez seguem quatro alternativas básicas: incrementar, simplificar, automatizar ou eliminar. Enquanto que na primeira busca-se o ganho de escala, na última busca-se a simples exclusão da atividade ou transferência da mesma para terceiros. 5. Implantando um novo modelo de gestão: O BPM não deve ser entendido como uma revisão de processos. A preocupação maior é assegurar melhores resultados e nesse caminho trata-se de uma mudança cultural. É necessária maior percepção das relações entre processos. Nesse sentido, não basta controlar os resultados dos processos, é preciso treinar e integrar as pessoas visando gerar fluxo de atividades mais equilibrado e de controles mais robustos. É por causa desse último passo que a implantação de BPM deve ser tratada de forma planejada e orientada em resultados de curto, médio e longo prazo. Comojá dissemos, o BPM representa uma visão bem mais abrangente, onde a busca por ganhos está vinculada a um novo modelo de gestão. Colocar tal modelo em prática requer uma nova forma de analisar e decidir como será o dia-a-dia da organização de hoje, amanhã, na semana que vem, no próximo ano e assim por diante... 5 HIERARQUIA DOS PROCESSOS: ESTRATÉGICO, TÁTICO E OPERACIONAL Desenvolver o planejamento em uma empresa envolve diversas etapas. Apesar do planejamento estratégico ser o mais famoso na administração, os outros dois têm a mesma importância em um planejamento integrado dentro da companhia. Planejamento Estratégico (longo alcance) O planejamento estratégico é aquele que define as estratégias de longo prazo da empresa. Este planejamento leva em conta todos os fatores internos e externos a companhia – por exemplo, a situação econômica global é um fator a ser levado em conta no planejamento estratégico. Quando elaboramos este planejamento procuramos ter uma visão integrada dos processos e da companhia, por que a empresa como um todo entra nesta etapa. O planejamento estratégico é feito em geral entre 5 e 10 anos no futuro. É essencial que o planejamento estratégico, apesar de ter um alcance de até 10 anos, seja atualizado constantemente. Se isto não ocorrer, o planejamento sofre um sério risco de ficar obsoleto e não ser utilizado dentro da empresa, como deve ser. Planejamento Tático (médio) O planejamento tático é diferente para cada área da companhia. A area financeira terá seu próprio planejamento tático financeiro, assim como a RH, marketing e assim por diante. Esta etapa é mais focada que o planejamento estratégico, que é desdobrado em diversos planos táticos. O planejamento tático é feito de ano a ano e busca otimizar uma determinada área da empresa na busca de um resultado. Planejamento Operacional (Curto alcance) O plano operacional coloca em prática cada um dos planos táticos dentro da empresa. Ele é projetado no curto prazo e envolve cada uma das tarefas e metas da empresa. Um planejamento operacional deve planejar os prazos, metas e recursos para a implantação de um projeto ou tarefa dentro da empresa. Por ser a última etapa de planejamento, o operacional deve ser um plano mais detalhado que os outros dois, tentando explicar cada tarefa isoladamente. 6 VISÃO SISTÊMICA O que é visão sistêmica? Por que é importante ter visão sistêmica? A visão sistêmica pode ser desenvolvida? Se pode, quais os requisitos a serem atendidos para tanto e quando ter certeza de que você já possui visão sistêmica? Podemos definir visão sistêmica como sendo a capacidade que um profissional tem de “ver” a empresa como um todo e entender como funcionam e se integram seus processos de obtenção, transformação e entrega (delivery) de seus serviços, produtos e informações, ao mercado e, particularmente, aos seus clientes. Entender como se integram os processos internos e como eles se relacionam com o ambiente externo, como circulam as informações veiculadas através destes processos internos, desde seus pontos de origem, nos quais são geradas, até seus destinos, nos quais são utilizadas é uma característica de quem possui a competência visão sistêmica. Possuir visão sistêmica é importante para todos os profissionais de uma organização; pois, assim eles podem se posicionar na estrutura organizacional e compreenderem seu papel como membros de uma equipe na execução de suas tarefas inerentes aos seus cargos dentro das áreas organizacionais em que atuam. A visão sistêmica é em grande parte responsável pelo sucesso do modelo “cliente x fornecedor interno”, um dos pilares da filosofia da Qualidade Total, haja vista que os relacionamentos interpessoais dentro das organizações são pautados pela interface dos processos nos quais as pessoas atuam. Então, entender bem qual é seu real papel na estrutura e no processo em que atua é fundamental para que as pessoas também percebam quais são os papéis dos seus colegas de trabalho e com este entendimento bem claro e bem acentuado, contribuam voluntária e sistematicamente para o sucesso de todos na organização. Particularmente aos gestores, possuir visão sistêmica, no nosso entender, é vital. É requisito obrigatório para o exercício das funções dos cargos que ocupam, seja nas relações internas com seus superiores, pares ou subordinados, seja nas relações externas, quando representam a organização em seus diversos relacionamentos profissionais; pois, escolhas de alternativas, definições de ações e tomadas de decisão exigem de quem se utiliza destes instrumentos de administração, capacidade de analisar, ponderar e avaliar os reflexos de suas ordens em todo o contexto organizacional, enxergando a organização como um todo e como esta irá reagir frente às suas decisões. Um gestor que possui a competência Visão Sistêmica e a coloca permanentemente a serviço da organização exerce um papel preponderante na gestão dos processos que envolvem sua área de responsabilidade; pois, em suas decisões estará privilegiando não só a eficiência do processo, que significa “fazer certo a coisa”, mas, acima de tudo, privilegiará a eficácia, que em última instância significa “fazer a coisa certa” objetivando agregar valor aos resultados da organização. 7 Respeitosamente parafraseando o presidente americano John F. Kennedy (1917- 1963), e guardando as devidas proporções podemos afirmar que um gestor que possui a competência visão sistêmica não pergunta o que a sua organização pode fazer por ele. Pergunta o que ele pode fazer por sua organização. Entendemos, ainda, que esta competência pode e deve ser desenvolvida gradativamente pelas pessoas, em diferentes momentos e níveis organizacionais, mormente por aquelas que aspiram cargos de gestores. Planejar as ações para o desenvolvimento desta competência, organizar e coordenar o processo de ensino e aprendizagem e incentivar as pessoas para que pratiquem a nova competência adquirida é um desafio que deve fazer parte do arsenal de projetos estratégicos que a área de gestão de pessoas se propõe a executar na organização. Recomendamos, neste sentido, que a área de gestão de pessoas elabore um programa de desenvolvimento e capacitação de gestores na competência visão sistêmica que contemple em linhas gerais a abordagem de temas relacionados ao negócio da organização e seu posicionamento no mercado; à sua visão, missão, valores e princípios que norteiam suas ações; aos objetivos e metas estratégicas da organização e quais as estratégias adotadas para atingi-los; a estrutura organizacional e as atribuições de cada área nela representada (o papel de cada um); os seus processos internos, suas interdependências, necessidades de informações e resultados esperados de cada processo e; por fim, o modelo de Indicadores que a Organização adota para medir e avaliar seu desempenho. 8 ISO 9001 A NBR ISO 9001 é uma norma que especifica requisitos para um Sistema de Gestão da Qualidade quando a organização deseja demonstrar, através da implantação da NBR ISO 9001, sua capacidade em fornecer de forma coerente produtos ou serviços que atendam as exigências (requisitos) do seu cliente. A NBR ISO 9001 também deve ser implantada quando a organização deseja aumentar o grau de satisfação do seu cliente por meio do efetivo atendimento aos requisitos do Sistema de Gestão da Qualidade ISO 9001, incluindo processos para a melhoria contínua interna e garantia da conformidade com os requisitos do cliente e/ou regulamentares aplicáveis. A norma brasileira ISO 9001 especifica que todos os requisitos da ISO 9001 são genéricos e aplicáveis a todas as organizações, sem que se considere seu segmento, tamanho ou produto/serviço fornecido. A NBR ISO 9001 é uma poderosa ferramenta de gestão empresarial, pois reúne em si as melhores práticas em gestãoempresarial mundiais. Uma empresa certificada pela NBR ISO 9001 possui competência para gerir seus processos com base no ciclo PDCA (Plan/ Do/Check/Action), isso garante que a organização possui processos que garantem o Planejamento Estratégico, a Realização das atividades de forma padronizada conforme a ISO 9001, o Monitoramento das atividades através de indicadores de processo e a tomada de Ações através de ações corretivas e preventivas. Além de todos os benefícios tangíveis da NBR ISO 9001, a ISO 9001 também potencializa novos negócios, pois empresas certificadas na norma ISO 9001 tendem a comprar produtos e serviços de fornecedores certificados ISO 9001. A ISO 9001 é a maneira mais eficiente dos clientes “externarem” a qualidade do seu Sistema de Gestão da Qualidade para o mercado, pois a certificação ISO 9001 pode ser entendida como um atestado de capacidade gerencial fornecida por um organismo idôneo e independente, as Certificadoras. 9 ANÁLISE DE INPUT / OUTPUT (Entrada e Saída) A ferramenta Análise de Input/Output permite uma rápida visão da organização que está sendo considerada no processo de transformação. Essa ferramenta, proposta por Sink e Tuttle (1989), possibilita o consenso sobre o domínio da aplicação, o escopo e a unidade de análise. O modelo proposto estabelece que o desempenho de um sistema organizacional é composto por um complexo inter-relacionamento de vários parâmetros ou critérios de desempenho, assim denominados: eficácia , eficiência, produtividade, qualidade, inovação e lucratividade. O grau de eficácia de um sistema deve traduzir a forma pela qual ele realiza aquilo a que se propôs, bem como refletir os objetivos corretos por ele alcançado. Obviamente, o conceito de objetivo correto estará sempre sujeito a interpretação, critério, julgamento e percepção de pessoas ou grupo de pessoas. Assim, a eficácia pode ser entendida como sendo a realização efetiva das coisas certas, pontualmente e dentro dos requisitos de qualidade especificados. O modelo de Sink e Tuttle estabelece uma medida operacional para a eficácia pela relação entre resultados obtidos e previstos. O conceito de ser mais ou menos eficaz depende do resultado da relação proposta. É uma medida comparativa que deve ser observada ao longo de períodos subsequentes. A eficiência deve estar associada ao consumo de recursos e pode ser visualizada no lado referente aos inputs. Uma definição operacional para a eficiência pode ser estabelecida pela relação entre consumo previsto de recursos e consumo efetivo de recursos. Se maior que um, então o sistema foi mais eficiente do que se esperava, uma vez que consumiu menos recursos do que o previsto; se menor que um, o sistema foi menos eficiente. Espera-se, também, que a eficiência tenha uma correlação positiva com o tempo. Nesse ponto, é possível refletir o relacionamento que existe entre os critérios eficácia e eficiência. O resultado esperado do sistema é conseqüência da quantidade prevista de recursos para a sua realização. Por outro lado, o resultado obtido é também função da quantidade efetiva de recursos consumida pelo próprio sistema, ou seja, a produtividade. Na visão do modelo, a produtividade é uma relação entre os resultados gerados pelo sistema e os recursos que propiciaram a geração desses resultados. O conceito da produtividade como um importante parâmetro de desempenho pode ser ampliado, uma vez que incorpora os conceitos de eficácia, eficiência e qualidade. A figura abaixo apresenta um esquema básico de construção da Análise de Input/Output. 10 Esquema de Análise de Input/Output Uma aplicação típica leva de duas a três horas para completar o painel, apresentando os principais processos que agregam valor à organização, uma visão dos inputs e outputs destes processos e uma visão de quem fornece estes inputs e quem recebe os outputs do processo. Essa ferramenta pode ser aplicada para obter uma visão não aprofundada da operação da organização. Mas ela pode ser suficiente, em muitos casos, para entender essas operações dos processos. Ela é basicamente uma ferramenta de comunicação, que deve ser também divulgada no painel de comunicação do processo de transformação, garantindo visibilidade do escopo e fronteiras desse processo. 11 A DESVERTICALIZAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES 1. Introdução Mudar é uma exigência do mundo moderno. Nas organizações, a mudança não deve ser vista como uma novidade ou um problema, mas como uma oportunidade para o aperfeiçoamento contínuo e para atender aos interesses do cliente e aos objetivos do negócio. Além da preocupação com resultados financeiros, atendimento a regulamentações, com os fatores políticos e econômicos, as empresas são pressionadas pela concorrência, introdução de novas tecnologias e padrões de qualidade, globalização, expectativas dos clientes, e ainda pelo impacto ambiental e responsabilidade social que têm sido considerados importantes diferenciais competitivos. Todos esses fatores impulsionam as organizações em busca de níveis crescentes de qualidade para agregar valor aos seus produtos e serviços. Nesse cenário, a desverticalização da gestão das empresas aparece como uma alternativa para dinamizar a atividade organizacional. A revisão dos processos é uma conseqüência natural, assim como as necessidades de alteração no perfil profissional, a relocação de pessoas e a redistribuição de tarefas. A redução de custos com a força de trabalho aparece como uma intenção inicial, porém a gestão horizontalizada vai além das propostas de redução de custos, impacta todo o processo de gestão. As práticas de gestão fazem parte dos componentes dinâmicos das organizações. Para acompanhar a evolução natural de todas as coisas é necessário ter habilidade e, no âmbito da gestão, a habilidade para mudar é uma condição essencial. Segundo ARAÚJO (2006), Frank Ostroff foi um dos pioneiros estudiosos no assunto, segundo o qual a gestão horizontal é uma das diversas maneiras de transformar a organização. 2. Os processos na evolução das teorias da administração As teorias da administração evoluem à medida que novas necessidades são identificadas e novas descobertas são feitas para aprimorar a gestão dos negócios. Em todas elas a visão do processo aparece de acordo com a sua importância no contexto em que estão inseridas. Os processos são sempre tratados em cada teoria, por se constituírem um dos elementos básicos de uma organização. Porém, a importância e a forma como são tratados variam de acordo com o uso da tecnologia, as necessidades de cada empresa para acompanhar as modernas práticas de gestão, e seus objetivos organizacionais. As exigências do mercado definem, ao longo do tempo, as necessidades de mudança na gestão das organizações. Por ser um componente valoroso para o alcance dos objetivos do negócio, o entendimento do processo tem sua importância aumentada nos estudos da administração. 12 Tabela 1. O enfoque do processo nas teorias da administração 13 3. O que são processos? Para entender melhor o conceito de “processo”, algumas definições são bastante úteis: ADAIR & MURRAY (1996), definem processos como “uma série de tarefas ou etapas que recebem insumos (materiais, informações, pessoas, máquinas, métodos), e geram produtos (produto físico, informação, serviço), com valor agregado, usados para fins específicos por seu receptor”. HAMMER & CHAMPY (1994), considerados precursores da Reengenharia, que apresenta uma abordagem sistemática da idéia de processos nos estudos organizacionais, definem processo empresarial como “um conjunto de atividades com uma ou mais espécies de entrada e que cria uma saída de valor para o cliente”. A Norma NBR ISO 9000:2000 define processo como “um conjunto de atividades inter- relacionadas ou interativas que transforma insumos (entradas)em produtos (saídas)”. Então, processo é um conjunto ou uma seqüência de ações com um objetivo definido, que deve agregar valor ao produto ou serviço a que ele se destina. As organizações precisam conhecer bem os seus processos, suas interações e seus resultados, para gerenciá-los de forma adequada, a fim de manter o seu sistema (conjunto de processos) controlado e seus objetivos atendidos. De acordo com CURY (2000), “a organização contemporânea deve ser enfocada numa perspectiva horizontal, como correm os processos, e não numa abordagem vertical, como uma hierarquia de funções, como sempre vimos fazendo, desde os primórdios da revolução industrial”. A gestão horizontal considera que os produtos ou serviços destinam-se aos clientes do processo. O desafio é mudar o foco dos interesses e objetivos individuais das pessoas que estão na direção, para os objetivos organizacionais, onde as necessidades do cliente devem ser transformadas em requisitos do processo. 4. Organização por processos - um modelo de gestão A gestão é um conjunto de regras, estruturas e ações que modelam a execução das funções de uma organização. Um modelo de gestão é uma forma simplificada de demonstrar as práticas gerenciais utilizadas pela organização para atingir seus objetivos. O modelo tradicional ainda bastante utilizado, baseado em estruturas verticalizadas, vem sendo substituído por uma forma mais horizontal, que adota uma visão sistêmica. Nessa visão são evidenciados o cliente, o produto e o fluxo de trabalho. Segundo MAXIMIANO (2004), uma importante tendência do Terceiro Milênio é administrar as organizações como conjuntos de processos interligados e não como conjuntos 14 de departamentos independentes. A Administração por processo (ou organização por processos) consiste em administrar as funções permanentes como elos de uma corrente e não como departamentos isolados uns dos outros. O resultado é uma cadeia horizontal de processos, em lugar da estrutura vertical. A adoção da organização por processo é também chamada horizontalização da empresa. Na gestão horizontal, os departamentos não acabam e o trabalho é organizado ao longo dos vários grupos interdisciplinares e autogeridos, que trabalham em interação permanente. Isso permite uma melhoria na coordenação e comunicação entre subordinados e seus gerentes. A tecnologia da informação facilitou muito a comunicação, que passou a ocorrer no sentido horizontal e vertical, permitindo acesso a consultas via Internet/intranet, reduzindo a necessidade de contato pessoal com a gerência imediata e com diversos outros níveis da organização. Para MAXIMIANO (2004), “a principal característica da organização por processos é a orientação para a eficiência e eficácia dos processos chaves (core processes)”. Um dos motivos de maior resistência à gestão por processos está diretamente relacionado ao fato de que o principal indicador de desempenho é a satisfação do cliente, e não a parte interna da empresa, e isso significa que a alta gerência precisa deixar de lado a preferência pelo status quo. 4.1. Evolução da organização por processos A organização militar teve grande influência na Teoria da Administração. A estrutura hierárquica, com diferentes graus de autoridade e responsabilidade é fruto deste modelo de gestão. Porém, em virtude da necessidade de respostas rápidas ao mercado em constantes mudanças, essa estrutura engessou as empresas, tornando-as menos competitivas. Tornar as organizações flexíveis e orgânicas é um desafio para as empresas, e o modelo de gestão horizontal busca promover maior agilidade ao trabalho. Esse modelo advém da tradição da engenharia industrial, porém o conceito de processo não se limita à área industrial. Para GONÇALVES (2000): Parte do sucesso que as empresas japonesas tiveram com relação às suas concorrentes americanas nas décadas de 80 e 90 decorreu do fato de terem as empresas japonesas descoberto (ou pelo menos implementado) o gerenciamento por processos (Davenport, 1994) muito antes das empresas ocidentais entenderem a que o assunto se referia. O papel de destaque dado ao gerenciamento de processo na cultura corporativa japonesa garantiu que, em diversas ocasiões, muitas empresas daquele país tenham desenvolvido processos rápidos e eficientes em áreas-chave como desenvolvimento de produtos, logística, vendas e comercialização. ARAÚJO (2006) cita Frank Ostroff como um dos estudiosos da gestão horizontal, que considera diversas maneiras de transformar a organização e, para implementar uma 15 gestão horizontalizada, sugere: • promover mudanças no desenho – estudar apenas os processos que atravessam a organização. Processos ou tarefas isoladas não devem fazer parte das preocupações do gestor; • designar proprietários (owners) para gerir o processo. Esse proprietário não precisa ser o chefe, mas ter competência para agregar valor ao processo, propor alterações e contribuir de forma positiva com a organização; • trabalhar com equipes; • reduzir a hierarquia e eliminação de tarefas que não agregam valor ou que não conceda autoridade aos membros da equipe para tomar decisões nas atividades que estão conduzindo; • promover o empowerment dando poder, instrumentos, capacitação e responsabilidades a cada membro da equipe; • usar a tecnologia da informação para ajudar as pessoas e oferecer contribuição de valor ao cliente; • dar ênfase na competência múltipla – desenvolvimento de pessoas, descoberta de talentos, profissionais em busca de excelência; • pensar, ousar, enfrentar desafios – o novo modelo exige respostas rápidas e resultados positivos; • treinar pessoal em funções específicas para promover a interação permanente entre equipes em diversos processos; • medir resultados – dos consumidores, do corpo funcional, grau de contribuição para os resultados financeiros; • aperfeiçoar ou promover a construção de uma cultura organizacional de colaboração, cooperação, bom relacionamento entre as pessoas. A busca por novos modelos de gestão exige atualização constante dos profissionais. Novas tecnologias exigem talento e competência. A ênfase é dada ao desempenho máximo, onde prevalece a autoridade do conhecimento e cada um monitora o seu comportamento. O redesenho da estrutura organizacional e, por conseguinte dos cargos, que passam a ser mutáveis e redefinidos, estão promovendo grandes mudanças no contexto do trabalho: estrutura é achatada e enxuta, o especialista dá lugar ao generalista, escritório aberto (open office), horário alternativo/flexível e, como conseqüência, o fim das relações duráveis entre empresa e empregados. 4.2. A QUESTÃO DA HIERARQUIA A desverticalização não pretende acabar com a hierarquia, mas promover maior agilidade ao trabalho. Essa mudança exige alta capacitação da gerência, pois impõe mudança de comportamento e tratamento adequado às resistências. A maior participação das 16 pessoas está relacionada à livre circulação da informação, que é um requisito da organização horizontal, pois a disponibilização da informação é condição essencial ao funcionamento desse modelo de gestão. Segundo ARAÚJO (2006), uma das intenções na adoção desse modelo de gestão horizontal é a redução da força de trabalho, que ocorre principalmente em função da redução dos níveis hierárquicos. Nas organizações verticalizadas há concentração de poder e, presume-se, do conhecimento nos níveis superiores, em função da informação também estar concentrada nesses níveis. A desverticalização cria uma nova configuração, reduzindo os níveis hierárquicos, fazendo com que os empregados fiquem mais próximos do cliente. Essa aproximação favorece a elevação do nível de comprometimento e responsabilidade das pessoas na organização. Essa nova configuração do modelo de gestão inclui as pessoas no processodecisório, o que eleva o nível de confiança entre as pessoas, permitindo maior envolvimento nos objetivos da organização. 5. A contribuição da gestão de projetos e da qualidade total A gestão de projetos reforçou a necessidade de olhar a empresa de forma horizontal. Quando uma empresa deixa de ser definida por departamentos funcionais e se torna um portfólio de projetos e processos é muito mais fácil avaliar os seus resultados, pois estes passam a ser o objetivo principal de sua existência. Com a valorização do gerenciamento da qualidade total, as empresas começam a utilizar os princípios da gestão de projetos para implantar a TQM (Total Quality Management). As empresas são pressionadas para atingir a maturidade o mais rápido possível. Os modelos de maturidade de gestão de projetos e dos sistemas de gestão da qualidade auxiliam as empresas a alcançarem essa meta. A definição de padrões mundiais para a gestão de projetos e de qualidade é o reconhecimento de seus benefícios para as organizações. Também com relação à gestão de projetos, a resistência inicial estava relacionada com o fato de que sua necessidade levava em conta principalmente o cliente, ou seja, considera a abordagem de processos, onde o resultado é sempre o atendimento a uma necessidade do cliente. O estabelecimento de padrões de excelência, além de atender às demandas do cliente, também tem se tornado uma necessidade para a sobrevivência das organizações. As técnicas aperfeiçoadas de administração de risco, as técnicas de monitoramento de custos e de mensuração de valor, as melhores técnicas de estimativas, contribuem para que a gestão de projetos seja responsável pela melhoria na produtividade das empresas. O modelo de gestão baseado em processos utiliza o método PDCA, desenvolvido na 17 década de 30 pelo americano Shewhart, que teve em Deming seu maior divulgador, onde planejar (Plan), executar (Do), controlar (Check) e agir (Action), formam um ciclo de controle estatístico de processos que sugere melhoria contínua. Esse método é mundialmente conhecido e foi aplicado na implantação dos conceitos da qualidade no Japão. A necessidade de corresponder às expectativas dos clientes e aos objetivos organizacionais tornou o aprendizado o diferencial competitivo. Aprender e aperfeiçoar os conceitos de melhoria contínua, as técnicas e práticas de gerenciamento de projetos, e ainda construir um sistema de gestão voltado para o constante aprendizado elevou a consciência para a importância dos ativos intangíveis nas organizações. 6. O capital mais importante Para SENGE (2005), autor das disciplinas de aprendizagem organizacional, “a longo prazo, a única vantagem competitiva sustentável é a capacidade de aprender mais rápido que seus concorrentes”. Portanto, o interesse das organizações no conhecimento advém da necessidade de superar desafios, diferenciando-se pelo que sabem e pela forma como conseguem usar esse conhecimento. Com esta visão, o conhecimento torna-se o ativo mais importante das organizações. Um sistema de aprendizado, segundo SENGE (2005), é formado por cinco fatores: Visão sistêmica, Domínio pessoal, Modelos mentais, Objetivo comum e Aprendizado em grupo. O pensamento sistêmico, a quinta disciplina, considerado essencial devido à complexidade dos problemas, é o que integra as demais e permite enxergar o todo e não apenas as partes isoladamente. Envolve uma mudança de mentalidade. Essas disciplinam fundamentaram o conceito da “organização que aprende”. O conceito de aprendizado organizacional tem sido muito discutido. Diversos autores têm apresentado sua percepção sobre o assunto. Fleury e Fleury (1995), citado em ARAÚJO (2006) definem aprendizagem como “processo de mudança, o qual resulta da prática ou experiência anterior, sendo um fenômeno interno, não observável e inferido por intermédio do desempenho das pessoas”. Roth (2000), também citado em ARAÚJO (2006), compara o aprendizado organizacional a uma narrativa, onde “a repetição sistemática dos feitos e esforços empreendidos em busca da aquisição continuada de conhecimento, promovendo a participação e o envolvimento de todos, é a essência do fenômeno. Para TEIXEIRA FILHO (2000), ” a gestão do conhecimento pode ser vista como uma coleção de processos que governa a criação, disseminação e utilização do conhecimento para atingir plenamente os objetivos da organização ““. Em todos os conceitos observa-se como conseqüência do aprendizado um processo de transformação do indivíduo ou da organização. Saber usar o conhecimento é uma forma de se diferenciar. Partindo do princípio de que o conhecimento leva à ação, as empresas têm se preocupado em gerir de forma mais eficiente e eficaz o seu capital 18 intelectual. Gerir o conhecimento é buscar oportunidades nos processos de negócio, onde o conhecimento possa ser usado como vantagem competitiva. Aprender passou a fazer parte da atividade produtiva. A necessidade de identificar e aperfeiçoar habilidades para enfrentar o novo cenário altamente competitivo, é o desafio das organizações. A tecnologia da informação é uma importante ferramenta nesse processo, pois permite a conexão com o mundo e facilita o acesso à informação e ao conhecimento de outras pessoas, aproximando todo o corpo funcional das empresas, ainda que não fisicamente. Porém, sem transformações organizacionais, a tecnologia pode agravar problemas de burocracia e rigidez, em vez de solucioná-los. A gestão do conhecimento não se resume às ações da TI, ela deve integrar os processos de negócio, para que estes sejam bem modelados e adequados ao fluxo de informações e às necessidades da organização. Para responder rápido às mudanças de mercado é preciso haver mais que treinamento, exige aprendizado contínuo em todos os níveis da organização. O modelo de gestão horizontal privilegia o conhecimento, a autonomia e a participação de todos no desenvolvimento da organização em busca da competitividade. 7. Empowerment Neste contexto, onde o capital intelectual e criativo dos membros da organização é considerado uma vantagem competitiva, o empowerment constitui um novo modelo de administração de pessoas, onde o poder decisório está “pulverizado” entre todos os membros da organização, e não apenas emana da direção. A citação de CASTRO (1994), referenciada em ARAÚJO (2001), “afirma que o termo empowerment sintetiza um processo de transformação no qual a energização torna- se o principal foco da empresa. Power, afirma o autor, significa poder, força, e quando a ferramenta é aplicada, minimiza-se a hierarquia ou a distância entre as frações organizacionais, valorizando-se quem está em contato direto com a clientela. Assim, em certo sentido, o empowerment promove a inversão da pirâmide organizacional”. Segundo CHIAVENATO (2004), “duas megatendências estreitamente relacionadas entre si deverão impulsionar o empowerment com maior rapidez nos países desenvolvidos: a horizontalização das hierarquias e a difusão das novas tecnologias de comunicação”. O foco do empowerment é promover maior participação das pessoas na obtenção dos objetivos organizacionais, aproveitando de forma mais efetiva a capacidade e as habilidades de todos os envolvidos nos processos. Isso exige capacitação para garantir eficácia, pois o empowerment não se restringe à atribuição ou delegação de “poderes”, mas principalmente à redefinição de competências, responsabilidades e compromisso com resultados. Para que haja contribuição real do corpo funcional, a comunicação e a livre circulação da informação de qualidade é imprescindível. Considerando que as estruturas tradicionais não favorecem a implantação dessa ferramenta de gestão, a desverticalização aparece como requisito essencial para a execução dessa transferência 19 de poder nas organizações. 8. Conclusão Toda mudançavem acompanhada de reações, muitas vezes negativas e até radicais. Lidar com o processo de mudança exige de todos a capacidade e a preparação adequadas para entender a nova dinâmica. A gestão horizontal, se não elimina, reduz drasticamente alguns “símbolos” de autoridade, como ter sob sua responsabilidade e controle um maior número de subordinados, salas e móveis diferenciadas e outros itens que são considerados importantes a quem quer manter o status quo. Por ser um modelo de gestão que enfatiza resultados, é uma conseqüência da busca pela excelência, a fim de manter e, preferencialmente, fidelizar clientes. Para atingir esse objetivo um caminho é estar atualizado em relação as melhores práticas de mercado. Mudanças radicais de estrutura, embora sejam comuns, para ter sucesso é necessário contar com a disposição da alta direção. É importante também criar um ambiente propício à implementação de melhorias, pois as pessoas são o principal componente desse processo. Projetos de reestruturação revelam conflitos e angústias, que geram comportamentos de defesa. Dentre os fatores críticos de sucesso, a comunicação é fundamental em todo processo de mudança. O poder de negociação da liderança contribui fortemente para auxiliar as pessoas a saírem da chamada zona de conforto. Um outro fator importante nesse processo de mudança é o tempo, para adaptação até o alcance do equilíbrio. Para MARANHÃO (2004), o crescimento das organizações deve ocorrer em um ciclo de melhorias onde o estímulo à mudança é seguido de uma fase turbulenta, passa por um período de acomodação e depois se estabelece em rotina, para reiniciar o ciclo a partir de um novo estímulo de melhoria. Os investimentos em melhoria de qualidade e produtividade, em última instância, visam sempre um lucro sustentado. O essencial é que, a longo prazo, os processos de mudança revelem uma tendência de crescimento do nível de desempenho geral da organização e da satisfação dos clientes. Para isso é preciso saber medir os resultados para verificar se realmente houve progresso. Mudar é um processo contínuo, pois é sempre possível melhorar, e o concorrente está constantemente buscando melhorias também, o que aumenta a necessidade de se tornar cada vez mais competitivo. Exercitar a criatividade, ser proativo, não esperar as crises para melhorar, agir corretivamente mas também preventivamente, são características das organizações 20 geridas por processos. Essas organizações exigem mais da liderança, pois a necessidade de negociação e entendimento da complexidade humana são também fatores críticos de sucesso. É preciso aprender a aprender, para criar um ambiente favorável a mudanças, à criatividade e à melhora continua. A gestão por processos ou horizontal é uma alternativa que se adapta às exigências do mercado e aos objetivos das organizações. Referências • ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas – CB-25. NBR ISO 9000:2000. • ADAIR & MURRAY. Revolução total dos Processos. São Paulo: Nobel, 1996. • ANDRADE, Fábio Felippe de. O método de melhorias PDCA. Disponível em: <http:// www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3146/tde_04092003-150859/> Acesso em: 05/06/06. • ARAÚJO, Luiz César G de. Organização, Sistemas e Métodos e as tecnologias de gestão organizacional. 2ª ed. – São Paulo: Atlas, 2006 (volume 2). • CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração: uma visão abrangente da moderna administração das organizações. 7 ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. • _____________. Recursos Humanos: O Capital Humano das Organizações. 8.ed. São Paulo: Atlas, 2004. • COHEN, David. A empresa do novo milênio. Disponível em: <http://www.vidadura. org/elciolaiter/tga1/empresa_novo_milenio.doc> Acesso em: 06/06/06. • CURY, Antonio. Organização e Métodos: uma visão holística. São Paulo: Atlas, 2000. • GONÇALVES, José Ernesto Lima. As empresas são grandes coleções de processos. Disponível em: <http://www.abeprojovem.ufjf.br/dnloads/empresas.pdf> Acesso em: 07/06/06. • HAMMER, Michael; CHAMPY, James. Reengenharia: Revolucionando a Empresa. Rio de Janeiro: Campus, 1994. • KERZNER, Harold. Gestão de Projetos: as melhores práticas. Tradução Lene Belon Ribeiro. – 2ª ed. – Porto Alegre: Bookman, 2006. • MARANHÃO, Mauriti. O Processo nosso de cada dia: modelagem de processos de trabalho. Rio de Janeiro: Qualitymark Ed., 2004. • MAXIMIANO, Antonio César Amaru. Introdução à Administração. – 6 ed. rev. e atual. – São Paulo: Atlas, 2004. • SENGE, Peter M. A Quinta Disciplina: arte e prática da organização que aprende. Tradução OP Traduções; Consultoria Zumble Aprendizagem Organizacional – 19ª ed. – Rio de Janeiro: Best Seller, 2005. • TEIXEIRA FILHO, Jaime. Gerenciando Conhecimento. Rio de Janeiro: Editora SENAC, 2000. 21 MÉTODO KAIZEN Um processo de melhoria contínua nas empresas Kaizen surgiu no início da década de 50, no Japão, por necessidade e não por opção. As empresas japonesas necessitavam crescer, porém não tinham dinheiro e tão pouco o governo japonês podia emprestar. Não podemos esquecer que o Japão tinha perdido a II Guerra mundial, seu país estava arruinado, as empresas japonesas tinham que ter produtos com boa qualidade e com preço competitivo e, o pior, não tinham máquinas sofisticadas ou automáticas, como tinham os Americanos. Os japoneses, para poderem ser competitivos, tinham que ser mais criativos do que os demais países na área da produção. A teoria clássica de administração de Taylor ajudou os japoneses a criarem o Kaizen. Em julho de 1950, o governo japonês, em conjunto com a organização União Japonesa de Cientistas e Engenheiros, JUSE Japanese Union of Scientists and Engineers, convidou o Americano W. E. Deming para fazer várias palestras, em 8 dias, sobre Controle Estatístico da Qualidade. Para Willian Edwards Deming, (1900 a 1993), o objetivo do administrador é otimizar o sistema como um todo. Deming sempre empregou a harmonia, importância da constante pesquisa em projeto, produção e vendas, para que a empresa possa atender as necessidades do mercado e do cliente com produtos de melhor qualidade. “Quando o dinheiro é um fator crítico, a inovação é cara. Kaizen, por outro lado, enfatiza os esforços humanos, moral, comunicação, treinamento, trabalho em equipe, envolvimento e autodisciplina – uma abordagem de baixo custo à melhoria”. Masaaki Imai (2007). O método Kaizen é muito mais do que um processo de melhoria contínua, é uma crença na qual a criatividade das pessoas persegue as condições ideais de um processo, mesmo que este objetivo nunca seja alcançado. Temos 5 elementos fundamentais: a) trabalhar em equipe; b) disciplina pessoal; c) constantes sugestões de melhorias; d) eliminação de desperdícios; e) Kaizen deve tornar o trabalho mais fácil para as pessoas. Após muita disciplina e dedicação, as empresas japonesas, no início da década de 70, começam a mostrar sua evolução na produtividade, qualidade, eficiência, e vários estudiosos, empresários e jornalistas começam a acompanhar esta evolução. Conforme Masaaki Imai (2005): “Eles dedicaram muita atenção a algumas das práticas exclusivas de administração do Japão, entre elas o sistema de emprego vitalício, os salários baseados no tempo de serviço e os sindicatos nas empresas”. Kaizen significa melhoria contínua, ou seja, cada vez que se repete uma tarefa, esta tarefa deverá ser feita com melhora de qualidade e com menor tempo do que a vez anterior, pois estamos apreendendo com a repetibilidade do processo. No Japão, a palavra Kaizen significa: Kai = mudar e zen = o melhor, e ela é empregada para várias situações, não somente na empresa, mas também na escola, na sociedade e na vida familiar. 22 A principal pessoa que divulgou a filosofia Kaizen no ocidente foi o Professor Masaaki Imai,fundador do Instituto Kaizen. Masaaki Imai nasceu no Japão, em Tókio, em 1930, e em 1955 se formou na Universidade de Tókio. Além de ter escrito vários livros sobre o assunto, entre eles, Kaizen, the key to Japan’s Competitive Sucess (podemos traduzir ao português como: Kaizen, a chave do sucesso das companhias Japonesas), no início dos anos 50, Masaaki Imai trabalhou nos Estados Unidos, no Japan Productivity Center, na cidade de Washington, onde acompanhava delegações de japoneses que visitavam as principais empresas americanas para aprender o segredo da produtividade americana. Em 1986, fundou o Instituto Kaizen e, nesse mesmo ano, publicou o livro Kaizen, the key to Japan’s Competitive Success. O sucesso dessa publicação foi tão grande que o livro foi traduzido para 14 idiomas. Kaizen tem como objetivo a melhoria contínua do processo; melhorando constantemente o processo, a empresa terá menor custo e, como conseqüência, maior lucro. O desperdício, mudá em japonês, em todas as formas, é muito combatido pela filosofia Kaizen. Kaizen não é uma reengenharia, Kaizen significa melhorias contínuas, envolvendo todas as pessoas da empresa, desde o presidente até o operário. A filosofia Kaizen afirma que devemos fazer constantes melhorias, seja em nossa vida, no trabalho, na sociedade e em nosso próprio lar. Ele é um processo de origem japonesa, com sistema incremental, ou seja, contínua e gradual. Tem como princípio que a vida merece uma constante melhoria – portanto, na vida em geral (pessoal, familiar, social e no trabalho). Podemos simplificar o pensamento Kaizen como: “Hoje melhor do que ontem, amanhã melhor do que hoje” (de autor desconhecido). Para Kaizen, é sempre possível fazer melhor. Como conceito dentro de uma empresa, deveríamos ter, no mínimo, uma melhoria implantada por dia. Os elementos-chaves para o sistema Kaizen eficientes são: a) qualidade em tudo que se faz; b) esforço e dedicação; c) envolvimento de todos os funcionários da empresa, desde o presidente até o operador de máquinas; d) vontade de mudar e de vencer; e) comprometimento. Sucesso do sistema Kaizen É parte da estratégia do Kaizen que nenhum dia deve passar sem algum tipo de melhoria ter sido implantada dentro da empresa. O melhor sistema do mundo só trará resultado se as pessoas que estão envolvidas tiverem interesse em que o mesmo tenha êxito. O envolvimento total, desde a diretoria até o operador de máquina, é fundamental para o êxito do Kaizen. Além do envolvimento total de todos os níveis da empresa, é necessário o comprometimento de todos para com o processo, com as metas e com os 23 resultados. Toda empresa busca aumento da lucratividade e aumento da participação em seu mercado, Marketing Share, e para isso ela deve ter missão, visão e objetivos, bem como prover aos funcionários um trabalho e uma convivência de forma equilibrada e prazerosa. Isso porque trabalhando e vivendo de forma equilibrada e satisfatória, é possível aumentar a produtividade e melhorar a qualidade. Clima agradável de trabalhar é necessário que todos os funcionários tenham bom relacionamento e harmonia entre eles; não é admissível a diferença entre funcionários. De acordo com o artigo publicado em 15 de Agosto de 2006, pelo Dr. Koiti Egushi, denominado, “Os 5S da administração Japonesa”, comenta-se com grande propriedade sobre a filosofia japonesa da harmonia: “Desde a remota era dos primeiros samurais em torno dos anos 700, conforme relata Ferri de Barros, os japoneses, pela forte influência da cultura Chinesa e principalmente, Lao Tse e Confúcio, promovem o espírito, WA, a harmonia. Harmonia em tudo. Harmonia entre os desiguais, harmonia entre os contrários. Harmonia entre o bem e o mal. Harmonia entre o a alegria e a tristeza. Harmonia entre o bem-aventurado e o desgraçado. Sobretudo entre pessoas”. Partindo do objetivo de que dentro da empresa devemos ter no mínimo uma melhoria implantada por dia, podemos afirmar que esta metodologia traz resultados qualitativamente e quantitativamente, com custo baixo e em prazo de tempo curto, tendo como conseqüência a melhoria da qualidade do serviço ou produto e o aumento da lucratividade da empresa. Fonte: KAIZEN – Um processo de melhoria nas empresas Qualidade Brasil 24 FLUXOGRAMAS Os fluxogramas são usados para descrever diversas situações, processos ou fluxos de material ou pessoas. Para garantir esta flexibilidade de objetivos são usados inúmeros modelos diferentes e símbolos que terão sua aplicabilidade determinada pelo que se quer representar e por qual motivo. Até mesmo o significado dos símbolos pode mudar dependendo da terminologia a que se recorre, por isso, sempre que possível, é bom usar legendas. Quando se quer representar junto ao fluxograma, de quem e a responsabilidade pela execução da tarefa pode-se usar dois recursos: - A inserção do nome/cargo/setor responsável pela ação acima ou junto do texto; - Ou podem ser utilizadas colunas; Podemos ainda, ter fluxogramas com diversos formatos e que usam simbologias diferentes. Assim, o fluxograma pode ser classificado de acordo com sua forma de apresentação em: 1 – fluxograma (ou diagrama) de bloco, que pode ser horizontal ou vertical; 2 – fluxograma padrão (conforme o que vimos acima); 3 – fluxograma funcional; 4 – fluxograma cronograma; e 5 – fluxograma geográfico (superposto ao layout físico da organização/região). Supervisor ouExecuta a ação Fabricação Início Faz o produto Testa o produto Laboratório Supervisor: Executa a ação 25 Setores envolvidos Tipos de atividades Gerente Setor Financeiro Horizontal Vertical Funcional Áreas A B 1 2 3 4 5 6 7 8 Tempo (horas, dias, etc.) Processo Cronograma 26 Geográfico Outros símbolos estão disponíveis nos programas editores de texto para a criação de fluxogramas. Quais devem ou não ser usados vai depender da aplicação e do objetivo do fluxograma. Veja a seguir alguns exemplos (dentro deles está escrito para quê servem ou o quê representam): 27 MATRIZ DE RESPONSABILIDADES Projetos com alguma dimensão envolvem normalmente diversos participantes, com responsabilidade pela criação e aprovação dos entregáveis. Há entregáveis cuja atribuição de responsabilidade pelo desenvolvimento se revela relativamente simples; por exemplo, quando se define que alguém é responsável pela elaboração de um documento e outro indivíduo é quem o aprova. Contudo, se a produção do documento envolver esforços de várias pessoas, surge a necessidade de se definirem múltiplos níveis de aprovação. A ferramenta que o ajuda neste tipo de situações denomina-se matriz de responsabilidades. O objetivo da matriz de responsabilidades é proporcionar clareza e chegar a acordo sobre quem faz o quê Em cenários complexos que envolvem muitas pessoas, é conveniente definir uma matriz de responsabilidades em relação aos entregáveis. Isso ajuda a estabelecer as expetativas e a assegurar que as pessoas sabem e entendem o que se espera delas. A matriz de responsabilidades permite descrever o papel e responsabilidades de cada um dos participantes. Na matriz, as diferentes pessoas (ou funções), aparecem como colunas, com os entregáveis listados nas linhas. Os pontos de interseção descrevem as responsabilidades de cada indivíduo em cada um dos entregáveis. Nas linhas, poderá em alternativa, utilizar fases, elementos da WBS, atividades ou qualquer outro aspeto do projeto. Exemplo Abaixo, apresenta-se uma matriz simples, com a descrição das responsabilidades sugeridas. Patrocinador do Projeto A A A I Charter do Projeto Plano de Comuni- cação Requisitos do Projeto Relatórios de Progresso Diretor do ProjetoA C I I Gestor do Projeto R R R R Equipe do Projeto R R R C Steering Committe A C I I 28 Notas: • “R” significa que a pessoa (ou função) é responsável pelo entregável. Geralmente, há uma única pessoa que é responsável pela criação do entregável, embora muitas pessoas possam ser consultadas e fornecer informações. • “A” significa que a pessoa (ou função) aprova o entregável. • “C” significa que a pessoa (ou função) é consultada sobre o entregável. • “I” significa que a pessoa (ou função) é informada sobre o entregável (por exemplo, notificada quando for concluído). Na tabela anterior, o Charter do Projeto é criado pelo gestor de projeto e é aprovado pelo patrocinador de projeto, diretor do projeto e pelo Steering Committe. A equipe do projeto é consultada durante a criação do Charter. Os Requisitos do Projeto são criados pela equipa do projeto, revistos pelo gestor de projeto e diretor do projeto e aprovados pelo patrocinador do projeto e Steering Commitee. O objetivo da matriz de responsabilidades é proporcionar clareza e chegar a acordo sobre quem faz o quê, de modo que as colunas possam ser definidas tão detalhadamente quanto o necessário. Por exemplo, no caso anterior, a equipa do projeto poderia ter sido dividida em cada um dos seus membros, com os nomes específicos em colunas separadas. A pessoa responsável pela criação dos requisitos do projeto poderia então ser indicada na respetiva coluna. Após a matriz estar concluída, deve ser distribuída para aprovação para confirmar que todos compreendem e concordam com os seus papéis e responsabilidades no projeto. Se isso for feito na etapa de definição do projeto, esta pode ser incluída no Charter do Projeto. A capacidade da matriz comunicar claramente é determinante para a sua eficácia. Ela deve refletir quais são as expetativas e responsabilidades dos indivíduos, organizações ou entidades envolvidas no projeto, e evitar, se possível, qualquer ambiguidade. 29 ADMINISTRAÇÃO MODERNA Fusões, aquisições e privatizações surgem com festa na história das grandes empresas. Mas são um desafio que, mal administrado, pode trazer enormes prejuízos. Um dos maiores problemas que surgem no dia seguinte às comemorações é como transformar duas culturas organizacionais em uma, coesa, unida e produtiva. Mesmo para as empresas que não passam por esses processos, o dinamismo dos mercados, as constantes transformações da economia e mesmo da conjuntura internacional tornam essencial reinventar e implementar uma cultura que norteie processos e atitudes em todas as instâncias da organização. O problema, segundo o presidente da Prichett Consultoria, Ricardo Fortes, é que qualquer mudança, de qualquer grau, causa um enorme estresse. Uma transformação cultural pode ser vital para a empresa, mas implica mudar atitudes, modos de pensar e interagir, o que inevitavelmente traz conflitos. “O gestor desses processos deve sempre estar atento às resistências dentro da organização e utilizar a comunicação com eficiência para conseguir implementar seus objetivos.” A cultura é, entre outras coisas, uma maneira de resolver problemas e aprender. Portanto, a persuasão é um elemento central. Fortes afirma que vários estudos mostram as pessoas, nestes processos de mudança cultural e organizacional, divididas em três grupos: 30% são totalmente contra mudanças; 50% ficam em cima do muro; e 20% aceitam bem as novas idéias e as promovem. “Se o gestor não souber lidar com as diferentes posições, pode ter grandes problemas, pois os que são contra podem acabar convencendo os indecisos.” Segundo ele, atualmente as corporações estão muito fragmentadas e existem padrões de liderança. Um grande líder certamente possui forte influência, mas não chega a determinar essas diretrizes. Tudo deve ser conversado, compartilhando informações e reforçando a adesão de cada colaborador. “O importante é saber que esses são processos longos, que envolvem pessoas e equipes, e o compartilhamento de informações pelos colaboradores é essencial”, dizem Fortes, ressaltando que este é o novo critério na gestão de conhecimento que se torna peça indispensável. Por isso, o departamento de RH possui um papel muito importante nestes processos de mudança cultural. É ele que vai traçar o comportamento dos indivíduos para saber como obter melhor resultado. Nesse sentido, uma estratégia de sucesso depende de identificar o perfil da empresa, que pode ter uma cultura de base histórica, ser mais ágil ou mais fechada, por exemplo. A partir daí, e conhecendo-se os objetivos a serem alcançados, são elaborados os planos de implementação.
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