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AULA 1 GESTÃO POR PROCESSOS E A INTEGRAÇÃO ESTRATÉGICA Prof. Cristiano Ribeiro 2 CONVERSA INICIAL Olá! Seja muito bem-vindo a nossa primeira aula de Gestão por Processos e a Integração Estratégica. Neste momento, iremos juntos analisar os Sistemas de Gestão da Qualidade de maneira a entender quais são os princípios e objetivos, e ainda como se dá sua aplicação nas organizações, entendendo assim quais são os requisitos de um Sistema de Gestão da Qualidade e a sua relação na Gestão por Processos. Muitas empresas buscam alternativas para uma vantagem competitiva no seu mercado de atuação; desta forma, a implantação do Sistema de Qualidade por Processos destaca uma nova prática na gestão empresarial. O objetivo primordial desta aula será analisar os principais conceitos do Sistema de Gestão da Qualidade, seus objetivos, aplicações e resultados. Assim, no decorrer desta aula, a integração desses conceitos demonstrará a necessidade das empresas de inovar seus modelos de gestão. Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO O início histórico da utilização da qualidade em produtos e serviços data da Revolução Industrial, com a produção de bens em escala e padronização, porém, o que marcou o crescimento desse conceito como uma filosofia foram os acontecimentos no Japão, ao final da Segunda Guerra Mundial, com a destruição de duas cidades e com a reconstrução do país. Naquela época, a ideia principal da qualidade era a de que os produtos deveriam obrigatoriamente seguir um padrão de produção com um mínimo de defeitos possíveis. Mais de 60 anos após esses eventos, muitos conceitos de qualidade diferentes foram criados e muito tem se discutido a respeito do assunto. Preocupadas com a realidade altamente competitiva do mercado em que estão inseridas, as empresas buscam um aprimoramento nos seus processos internos e externos e na forma de atuar nas variáveis internas – suas forças e fraquezas –, e também na tomada de decisão frente às variáveis externas – as ameaças e oportunidades – para garantir que o cliente seja conquistado e que a manutenção da sobrevivência da organização se efetive. 3 TEMA 1 – PRINCÍPIOS DE GESTÃO DA QUALIDADE O modelo de gestão administrativa mais utilizado pelas empresas é aquele que busca a qualidade total em processos e produtos. Um dos conceitos mais utilizados sobre qualidade é a de atender, no tempo certo e na quantidade esperada, aos requisitos do consumidor. Isso mostra que a empresa deve entregar ao consumidor os produtos ou serviços com características que atendam a desejos, necessidades e vontades dos clientes. 1. 1 Gestão da qualidade A qualidade na execução das atividades não ocorre apenas com a utilização de tecnologias, mas sim com o envolvimento de pessoas cada vez mais qualificadas e com suas responsabilidades definidas trabalhando em equipe, ou seja, a qualidade se faz com envolvimento de todas as pessoas e recursos disponíveis. Assim, ela não é apenas uma ferramenta para o desenvolvimento e a melhoria técnica de um potencial produto, e sim o comprometimento de toda a organização em atender a seu cliente. Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2015a, p. 2), “a ABNT NBR ISO 9001 é uma norma que define os requisitos para colocar um sistema de gestão da qualidade em vigor. Ela ajuda empresas a aumentar sua eficiência e a satisfação do cliente”. A utilização de um sistema de Gestão da Qualidade nas organizações advém da preocupação em atender ao consumidor nas suas expectativas de consumo e de uma decisão interna da gestão da empresa. Para Paladini (2008, p. 19), “o consumidor se mantém fiel ao longo do tempo se suas novas expectativas forem sendo satisfeitas (ou melhor, superadas) pelos produtos oferecidos”. Independentemente do motivo, o Sistema de Gestão da Qualidade, em razão de sua atuação na economia de recursos e redução de desperdícios, deveria fazer parte da gestão da empresa como uma ferramenta para a melhoria contínua. As características de durabilidade, confiabilidade, exclusividade etc. são pessoais, subjetivas e, desta forma, deve-se ter bem definido o perfil do público consumidor. 4 Neste caso, a utilização de um Sistema de Gestão da Qualidade deve estar ligada diretamente a um processo de melhoria contínua, e esta, por sua vez, deve buscar mudanças contínuas para execução dos processos com eficiência e eficácia, e também agir sobre a estrutura das organizações, a fim de agregar valor ao seu portfólio de produtos. 1. 2 Princípios básicos A utilização de um sistema de gestão da qualidade é uma maneira estruturada para que as empresas possam identificar e mensurar o seu posicionamento no mercado de atuação. Além disso, com o uso do sistema da qualidade a empresa pode organizar suas funções operacionais e gerenciais, proporcionando conformidade às normas internacionais. A aplicação do sistema de gestão da qualidade alinhado diretamente à gestão geral da empresa traz efeitos positivos aos resultados operacionais, mercadológicos e financeiros. Para que o processo da Gestão da Qualidade obtenha resultados eficientes e eficazes, ele segue princípios básicos para sua execução: Figura 1 – Os sete princípios da qualidade A Figura 1 apresenta os princípios norteadores da gestão da qualidade, sem os quais não há possibilidade de sucesso. Bem no alto da figura está o foco no cliente, que é a premissa essencial da qualidade. Com base nela, todos os 5 demais princípios se desenvolvem para garantir a elaboração dos processos de qualidade. TEMA 2 – REQUISITOS PARA UM SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE Quando uma empresa entende a necessidade de um Sistema de Gestão da Qualidade como fator essencial para a manutenção de sua gestão, ela deve perceber que o principal objetivo é atender às necessidades dos seus clientes. A principal dúvida que surge na Gestão da Qualidade Total é a de como são os procedimentos para a sua implantação. Para que ocorra um processo adequado de implantação da Gestão da Qualidade, existem requisitos básicos necessários e, de certa forma, com esses requisitos alcançados, a empresa está apta a tentar uma certificação internacional. 2.1 Requisitos para implementação Atender aos requisitos necessários para a implementação do Sistema de Gestão da Qualidade significa reconhecer e coordenar todos os procedimentos que garantam o correto andamento dos processos. Há uma grande complexidade na implantação de sistemas de Gestão da Qualidade, por um lado devido ao mecanismo cultural da empresa, que a permite ou não ter flexibilidade, e, por outro, por causa da gestão de pessoas, fator essencial para o sucesso do programa. Essa tarefa está explicada nas palavras de Paladini (2009, p. 133): Os sistemas de gestão apresentam características gerais e especificidades que lhes conferem um modelo conceitual diversificado (sua base envolve múltiplas definições) e uma estrutura organizacional bastante complexa (porque envolve elementos complexos, como, por exemplo, os recursos humanos). (Paladini, 2009, p. 133) Em geral, as empresas empregam metodologias próprias para a implantação de sistemas de gestão. Esse processo de ideação da elaboração do programa de qualidade sempre demanda muito tempo e discussão. Há um modelo padronizado de ações para a implantação do planejamento da qualidade, composto de seis passos: elaborar a política da qualidade; fazer o diagnóstico empresarial; organização e administração do projeto; planejamento; implantação; e avaliação. 6 Figura 2 – Fases do processo de implantação do planejamento da qualidade Fonte: Elaborado com base em Paladini, 2008. Na Figura 2, as etapas estão dispostas de forma a apresentar uma sequência lógica de desenvolvimento das ações.Essa ordem garante o sucesso do planejamento para qualquer tipo de empresa. O Sistema de Gestão da Qualidade não é um processo que caminha sozinho nas organizações, mas sim depende da supervisão geral de todos os integrantes da empresa. O Sistema de Gestão da Qualidade encaminha, organiza e ajuda no controle de todos os recursos necessários para que a organização alcance suas metas com instrumentos da qualidade (Políticas da Qualidade). 2.2 Certificação da qualidade Não existe uma obrigatoriedade na certificação ISO 9001, pois dela advêm custos e obrigações extras. Se o objetivo da empresa é competir em mercados altamente competitivos, a certificação é uma obrigação, pois muitos países somente aceitam produtos com selo da ISO. Nos demais casos, a implantação de um sistema de gestão da qualidade já é suficiente para obter produtos e serviços com alta qualidade e com custos adequados. Desde a Segunda Grande Guerra foi necessária a criação de um organismo internacional que certificasse a qualidade dos produtos e serviços a nível internacional, uma organização certificadora que equilibrasse o mercado e redigisse as normas técnicas aceitas no mundo – a International Organization for Standardization ou ISO: A International Organization for Standardization (ISO), criada em 1947, é uma organização internacional, privada e sem fins lucrativos, da qual participam 162 países. Dividida em 210 Comitês Técnicos (TC’s) que cuidam da normalização específica de cada setor da economia, a ISO elabora normas internacionais sobre produtos e serviços. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), fórum nacional de normalização voluntária, é membro fundador da ISO e representa o Brasil naquela organização. (Fernandes, 2011, p. 45) 7 Segundo a ABNT (2015, p. 7), a norma ABNT NBR ISO 9001:2015 “é constituída por um número de diferentes seções, sendo cada uma delas voltada a um requisito envolvido”. Ao todo são 10 seções que compreendem os seguintes assuntos: Introdução e escopo da norma (seções 0-3); Contexto da organização; Liderança; Planejamento; Apoio; Operação; Avaliação de desempenho; e Melhoria. O trabalho da ISO na definição das normas de série 9000 possibilitou, conforme Fernandes (2011, p.46), “a certificação uniforme de sistemas da qualidade das empresas por organismos de certificação independentes”, facilitando assim a aceitação padronizada dos processos por todos os clientes. Um dos requisitos para que uma empresa seja certificada em seus processos e produtos é que ela seja vistoriada e analisada por um órgão certificador devidamente credenciado. Esse órgão deve seguir as normas definidas pelo comitê de avaliação da conformidade da ISO (CASCO). Saiba mais O que é credenciamento? O credenciamento consiste no reconhecimento formal realizado por terceiro (normalmente conhecido como “órgão certificador”) de que um órgão certificador opera de acordo com as Normas Internacionais – uma espécie de certificação do órgão certificador (ABNT, 2015). No Brasil foram criados diversos programas de avaliação da qualidade, como o ProQP – Programa da Qualidade e Produtividade (1986-1990), o PADCT – Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (1984-2001), o RHAE – Programa de Capacitação de Recursos Humanos para Atividades Estratégicas (desde 1984), o SBAC – Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade, e o PBQP – Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (1995-2001), que foi substituído pelo atual MBC – Movimento Brasil Competitivo. Existe uma diferença entre as certificações (sistemas e produtos): Enquanto a certificação de sistemas é o resultado da verificação da conformidade aos requisitos e procedimentos de gestão das normas, a certificação de produtos atesta o atendimento das características específicas de um produto. Para a certificação de produtos é necessária a realização de testes e ensaios nos produtos, o que exige laboratórios capacitados. (Fernandes, 2011, p. 46) As empresas têm buscado a certificação em diversos sistemas de gestão, como o de Gestão Ambiental ou o de Responsabilidade Social. Essas 8 certificações dão uma garantia de que os procedimentos adotados pela empresa são os mesmos adotados no mundo inteiro, trazendo segurança e credibilidade para a organização. TEMA 3 – RELAÇÃO DA GESTÃO POR PROCESSOS E A QUALIDADE Para obter destaque no mercado, as empresas precisam controlar o máximo possível os seus recursos, porém, de nada adianta ter os recursos humanos, financeiros, materiais e tecnológicos se não houver uma gestão por processos. Assim, por mais que as empresas tenham em seu benefício as melhores estruturas ou os melhores profissionais, sem os processos bem definidos as organizações perdem produtividade. 3.1 Gestão por Processos A Gestão por Processos possui diversos conceitos, e o mais utilizado é o do Ministério Público Federal, que diz: É uma orientação conceitual que visualiza as funções de uma organização com base nas sequências de suas atividades, ao contrário da abordagem funcional tradicional, em que as organizações estão separadas por área de atuação, altamente burocratizadas e sem visão sistêmica do trabalho que realizam. (Brasil, 2013, p. 13) Desde a Revolução Industrial o termo Gestão de Processos é usado na Administração para definir a mecanicidade de um processo derivado de atividades sequenciais. Mas Gestão de Processos e Gestão por Processos são termos parecidos com significados diferentes. Segundo De Sordi (2012, p. 24), “a gestão de processos se apresenta com uma abrangência muito reduzida em comparação com a gestão por processos”. De Sordi (2012) ainda explica que esta última é uma abordagem administrativa, diferentemente da Gestão de Processos, que é relativa ao gerenciamento das operações da organização. A Gestão por Processos é uma metodologia de gerenciamento orientada a processos e centrada no cliente. Segundo De Sordi (2012, p. 16), “a introdução de processos de negócio nas organizações trouxe um novo desafio à administração: como administrar organizações orientadas por processos de negócio?”. Sendo esta uma abordagem administrativa da gestão, ela interfere em diversos sistemas e o modelo de gestão é incorporado como um todo no processo de administração da empresa. 9 Figura 3 – Vantagens competitivas do uso da gestão por processos De acordo com a Figura 3, percebe-se que são inúmeras as vantagens do uso da Gestão por Processos na empresa. Ela possibilita uma melhor gestão do tempo, facilita o mapeamento dos processos e a localização de não conformidades, integra as áreas distantes e opostas (produção-estoque-vendas- financeiro) e permite uma melhoria eficaz e eficiente nos processos produtivos com uma rápida tomada de decisão. TEMA 4 – IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE QUALIDADE POR PROCESSOS A implantação do Sistema de Qualidade por Processos é uma fase de adequação da empresa para um novo formato de gestão. Compreende uma série de fatores e processos, análises das informações internas e compreensão dos dados externos, dos custos envolvidos e da expectativa dos benefícios já descritos no item anterior. A implantação desse modelo de gestão deve seguir um roteiro para que haja um melhor entendimento e a certeza de que o processo está sendo realizado de forma correta. A administração por processos é complexa e demanda uma estrutura de tecnologia da informação para que seja operacionalizada. O software utilizado para essa gestão é chamado BPM, sigla para Business Process Management. Há uma grande quantidade de publicações em torno desse assunto, o que favorece a adoção desta metodologia por parte das pequenas e médias empresas. Segundo De Sordi (2012, p. 145), “os processos de negócios compõem um sistema independente com vida própria, com um dinamismo cada vez maior: eles 10 crescem,encolhem, juntam-se ou dividem-se”, comportando-se de acordo com as alterações no ambiente mercadológico em que a empresa está situada. Para que seja possível implantar a Gestão por Processos, a empresa deve seguir um modelo apropriado, seguindo algumas etapas: o planejamento; a preparação (ou modelagem); a implantação dos processos; o controle; e a análise dos indicadores de melhoria. Figura 4 – Modelo conceitual de gestão por processos A Figura 4 ilustra as etapas de um modelo de Gestão por Processos. A etapa de planejamento de BPM “visa definir as atividades que contribuirão para o alcance das metas estratégicas” (Brasil, 2013, p. 60). A modelagem de processos está relacionada aos atos de preparação das atividades necessárias para a execução os processos e, após a implantação do planejado, resta analisar o comportamento dos processos e o atingimento das metas. Para que a gestão seja produtiva, existem ainda algumas tarefas importantes. Sem elas, não haveria sentido em implantar um sistema de gestão por processos. Estas tarefas são: a identificação de gargalos; a elaboração do caminho crítico dos processos em tempo real; a análise de alocação de recursos; a apuração dos custos ligados aos processos; a atribuição de metas; e a criação de um painel de controle de indicadores de desempenho, para que o administrador possa acompanhar e simular opções de processos críticos, bem como interagir com essas opções. 11 Figura 5 – Modelo de governança com o uso do BPM Fonte: Brasil, 2013, p. 51. A Figura 5 apresenta um modelo de governança por meio da modelagem de processos. No modelo, utilizado pelo Ministério Público Federal, foi instituída a ideia de um escritório de processos, que nas empresas é representado pela figura do administrador. Essa figura demonstra, com maior complexidade e profundidade, as diversas etapas de gestão integradas aos processos, numa relação estabelecida pela ferramenta PDCA. Essa sobreposição do BPM com a ferramenta PDCA remete à importância da interdependência entre os processos de Gestão da Qualidade e a Gestão por Processos. TEMA 5 – ESTUDO DE CASO 5.1 Empresa A SGQ é uma empresa especializada em mecatrônica e manutenção industrial. Seu trabalho divide-se em reformas e em novos projetos industriais. 12 Fundada em 2000, com o passar dos anos desenvolveu um relacionamento sólido com as maiores indústrias do país. Seus objetivos fundamentais perante o mercado de atuação são o desenvolvimento de novas tecnologia e a inovação, com uma política de valores baseadas na ética e no profissionalismo com transparência. Em 2009, a SGQ foi convidada a participar do programa de fortalecimento de fornecedores de uma grande siderúrgica nacional. Esse convite é um grande desafio para a gestão da empresa, pois por muito anos o modelo de gestão utilizado gerou resultados. Após várias reuniões para alinhar as ideias para assumir ou não esse desafio, uma questão foi decisória para esse projeto: qual a maneira de participar desse programa para atender à satisfação do nosso cliente, mas também assumindo esse novo modelo de gestão como referência em todos os processos e práticas? 5.2 Processo Após a definição da participação neste projeto, a empresa determinou a equipe de trabalho e suas principais responsabilidades. Com a equipe de trabalho definida, em seu primeiro debate coube a essa equipe decidir quais as premissas do projeto. A primeira premissa apresentada, após um estudo sobre quais os requisitos que o cliente buscava, definiu que o modelo de Gestão da Qualidade da empresa deveria ter como base a normatização ISO 9001. As principais atividades dessa equipe de trabalho eram buscar a padronização correta para as atividades da empresa, o treinamento e a implantação dos processos, e promover a melhoria contínua. Para dar seguimento à implantação da norma ISO foi necessária a contratação de uma empresa especializada em certificação internacional. Essa empresa, alinhada com a gestão geral da SGQ e também com a equipe de trabalho formada para dar início ao projeto, foi submetida a uma auditoria e, dessa forma, a empresa especializada teve uma visão geral da situação da empresa quanto ao modelo de Gestão da Qualidade utilizado. Assim, ambas as equipes podem definir um ponto de partida alinhado às necessidades do cliente também com o objetivo de ser referência entre todos os fornecedores envolvidos. A primeira ação foi a mensuração dos princípios da Gestão da Qualidade, ou seja, qual é a atitude comercial utilizada com os clientes, com a liderança, com as pessoas, com os processos e com a gestão, como são produzidas as informações, como é percebida a melhoria contínua e qual o impacto dos processos sobre os 13 fornecedores. Com o processo de avaliação desses princípios, a empresa obteve uma visão sistêmica, assim, para o próximo passo de Decisão, Planejamento e Preparação, Implantação e Execução, a empresa já está com todas as informações. O processo de Decisão, Planejamento e Preparação, Implantação e Execução é um momento crítico para a empresa, pois nesse momento ela precisa que todos os envolvidos estejam aptos a multiplicar a ideia da Gestão da Qualidade e de Processos. A SGQ desenvolveu treinamentos e endomarketing, e atribui as responsabilidades e competências para cada colaborador, além de enfatizar o quanto cada pessoa é importante para toda a mudança e os resultados esperados. Após todos os estudos e a criação de uma agenda de trabalho (auditorias e melhorias contínuas), a SGQ obteve um resultado excelente perante a necessidade de seu cliente. Seus objetivos principais foram os de atender à necessidade do cliente no Programa de Fortalecimento de Fornecedores, e também de ser reconhecida como referência em qualidade por todas as outras empresas participantes. 5.3 Resultados Obteve a certificação internacional ISO 9001; eleita modelo de referência no PFF (Programa de Fortalecimento) da siderúrgica; case de sucesso no modelo de implantação do Sistema de Gestão da Qualidade por Processos; devido ao case de sucesso recebe constantemente mídias espontâneas; recebeu, nos últimos anos, diversos prêmios de promotores especializadas; apresenta um gratificante e constante crescimento financeiro; mantém uma elevada taxa de satisfação dos clientes, principalmente da Siderúrgica Nacional. Este estudo prova que as empresas que buscam uma melhoria contínua em seus processos destacam-se em seu mercado de atuação. 14 FINALIZANDO Nesta aula foi possível compreender o que é qualidade, qual sua abrangência e seus processos, objetivos e implantação. Também foi possível entender a qualidade como um processo, como um sistema e como gestão. Além disso, esta aula permitiu ao aluno perceber que existe uma padronização de procedimentos a nível internacional, que é a certificação da Gestão da Qualidade por uma empresa credenciada à organização ISO. Também foi possível entender as normas ISO como parte de um esforço conjunto dos países na busca de produtos e serviços competitivos. Foi possível também entender que, muito mais que a certificação, as empresas buscam a satisfação de seus clientes por meio da qualidade de seus produtos e/ou serviços oferecidos. Desta forma, a utilização de um sistema de Gestão da Qualidade por Processos pelas empresas agrega valor a seus produtos e serviços, como também gera um diferencial estratégico no mercado de atuação. LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica LIMA, M. B. B. P. B. A gestão da qualidade e o redesenho de processos como modelo de desenvolvimento organizacional em hospitais públicos universitários: o caso do Hospital das Clínicas da UNICAMP. 193 f. Dissertação (Mestrado Profissional) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Mecânica. Campinas, 2006. Disponívelem: <http://taurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/264831/1/Lima_MariaBernadeteBa rrosPiazzonBarbosa_M.pdf>. Acesso em: 13 jun. 2018. Ler as páginas 6 a 9. Texto de abordagem prática LIMA, M. B. B. P. B. A gestão da qualidade e o redesenho de processos como modelo de desenvolvimento organizacional em hospitais públicos universitários: o caso do Hospital das Clínicas da UNICAMP. 193 f. Dissertação (Mestrado Profissional) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Mecânica. Campinas, 2006. Disponível em: 15 <http://taurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/264831/1/Lima_MariaBernadeteBa rrosPiazzonBarbosa_M.pdf>. Acesso em: 13 jun. 2018. Ler as páginas 35 a 51. Saiba mais A jornalista Tati Klebis conversa com o consultor Antonio Ciro Bovo sobre Gestão da Qualidade, uma ferramenta importante para as empresas e que vem ganhando destaque. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=cYTk2t4qixo>. Acesso em: 13 jun. 2018. 16 REFERÊNCIAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR ISO 9000 2015: como usar. Rio de Janeiro: ABNT, 2015a. ______. Norma Brasileira ABNT NBR ISO 9001: sistemas de gestão da qualidade – requisitos. Rio de Janeiro: ABNT, 2015b. BAZERMAN, M. H. Processo decisório. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. BRASIL. Manual de gestão por processos. Brasilia: MPF/PGR, 2013. CAMPOS, V. F. Gerenciamento da rotina do trabalho do dia a dia. 9. ed. Nova Lima: Falconi, 2013. DE SORDI, J. O. Gestão por processos: uma abordagem da moderna administração. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. FERNANDES, W. A. O movimento da qualidade no Brasil. São Paulo: Essential Idea Publishing, 2011. Disponivel em: <http://www.inmetro.gov.br/barreirastecnicas/pdf/Livro_Qualidade.pdf>. Acesso em: 13 jun. 2018. MARTINELLI, F. B. Gestão da qualidade total. Curitiba: IESDE, 2009. PALADINI, E. P. Gestão da qualidade: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009. ______. Gestão estratégica da qualidade: princípios, métodos e processos. São Paulo: Atlas, 2008. AULA 2 GESTÃO POR PROCESSOS E A INTEGRAÇÃO ESTRATÉGICA Prof. Cristiano Ribeiro 2 CONVERSA INICIAL Olá! Seja muito bem-vindo à nossa aula sobre Processos Organizacionais. Neste momento, iremos juntos analisar os processos organizacionais para entender o que é e como funciona uma organização, como foi sua evolução histórica, quais suas principais funções e a relação entre oganização e a gestão por processos. Dessa forma, poderemos entender o contexto geral de uma organização. Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO As empresas vivem em um ambiente que proporciona trocas de recursos, insumos e informações. Esse meio também exerce pressões sobre as operações internas das empresas, fazendo com que sempre estejam revendo o modo como produzem e interagem com o cliente e esse ambiente. Nesse contexto de sobrevivência, muitas empresas desenvolveram uma alta qualidade nos seus processos individuais, sem que seus diversos setores internos apresentem um produto final que satisfaça o cliente. Com base nessa constatação, as empresas começaram a rever seus conceitos de estruturação organizacional, redefinindo conexões internas e proporcionando a integração entre seus diversos setores. Nesta aula, teremos a oportunidade de analisar esses processos integradores e um pouco da história das organizações. Estudar essa história do pensamento administrativo permite entender o contexto de cada época e a resposta das empresas, possibilitando, assim, entender o atual contexto organizacional. TEMA 1 – ORGANIZAÇÃO A palavra organização tem muitos sentidos. Podemos mencionar que organização pode ser um sistema estabelecido em sociedade, composto de pessoas e recursos não humanos que buscam a geração de valor e que têm objetivos e interesses comuns. O principal objetivo das organizações é atender às necessidades dos seus clientes, produzindo soluções com uma combinação entre pessoas e tecnologias. 3 As organizações não têm apenas pessoas e sistemas, mas são um conjunto bem integrado de recursos humanos, financeiros, tecnológicos e materiais. É de grande importância fazer uma diferença entre organização e estrutura organizacional. A organização é um complexo movimento entre pessoas, pensamentos, valores, recursos para atingir o objetivo da empresa. A estrutura organizacional vai definir como a empresa vai interagir com seu mercado de atuação, e essa interação está diretamente ligada à forma como as empresas concebem seus processos internos. O fato é que: “O mundo em que vivemos é uma sociedade institucionalizada e composta por [sic] organizações. Todas as atividades relacionadas à produção de bens (produtos) ou prestação de serviços (atividades especializadas) são planejadas, coordenadas, dirigidas, executadas e controladas pelas organizações” (Chiavenato, 2011, p. 2). Dessa forma, podemos dizer que as organizações são formadas por um conjunto de fatores e que cabe à gestão da empresa gerenciar todas essas combinações. Todas as organizações têm pelo menos três recursos essenciais: pessoas, processos e gestão. A gestão é uma das partes fundamentais da sustentação da organização, sendo que esta tem etapas como planejamento, organização, direção e controle de todos os recursos e atividades da empresa. Não podemos nos esquecer de que as organizações estão inseridas em um ambiente que podemos definir como cadeia produtiva ou ainda mercado de atuação. Existem diversos tipos de organizações e essa diversidade está relacionada ao objetivo social de cada empresa e à sua composição social. As empresas são organizações que buscam o lucro, e existem também outros tipos, que, segundo Chiavenato (2011, p. 2), são as “organizações não lucrativas (como Exército, Igreja, serviços públicos, entidades filantrópicas, organizações não- governamentais [sic] – ONG – etc.)”. Independentemente de sua constituição, todas as organizações dependem de uma atividade essencial, a administração. Cabe ao administrador fazer com que todos os setores sejam produtivos e integrados no sentido de atingirem o objetivo do negócio, definindo, assim, estratégias, efetuando análises e propondo diagnósticos para problemas, resolvendo-os. Vejamos a seguir como as organizações evoluíram ao longo da história. 4 TEMA 2 – EVOLUÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES As organizações, como organismos vivos, nascem, evoluem e morrem. Talvez essa vida não seja comparável exatamente com a dos seres humanos, pois a longevidade de uma empresa depende de condições políticas, sociais, econômicas e gerenciais que podem levá-la a durar mais do que a geração de quem a criou. Entretanto, se quisermos comparar a empresa como um corpo vivo, biológico, resta-nos entender que cada pedaço dessa organização está interligado por canais que levam e trazem elementos produtivos, como uma rede de vasos sanguíneos de um corpo. Não basta que esse corpo tenha apenas cabeça, pois cada parte está integrada ao todo, para que este viva com saúde até o seu final. Então, nessa comparação, esse corpo se alimenta (recursos financeiros), tem órgãos dependentes (setores), que têm componentes (pessoas), e tudo isso deve ser conectado por um sistema que gerencie tudo. No princípio era o Verbo... sim, no início, as pequenas organizações eram informais, mas ao longo da história tudo mudou. 2.1 As origens da administração Alguns dos aspectos fundamentais para a formação das empresas está no seguinte fato: onde dois seres humanos estão em contato, buscando uma negociação, sempre haverá divergências e necessidades a serem supridas por cada lado. Devido à essa “diferença” no pensar de cada “ator” desse negócio, foi necessário estabelecer critérios de planejamento,organização e controle. Na história antiga, os egípcios foram os primeiros a se preocupar com esses aspectos, há mais de 4000 a.C., e essa prática evoluiu de modo que, em aproximadamente 2600 a.C., eles já pensaram na descentralização da organização e da gestão dos negócios. A partir desse povo, também foi desenvolvida a primeira ordem escrita e o uso de consultoria de sábios. Por volta de 1800 a.C., os babilônicos criaram o código de Hamurabi, no qual foram definidos aspectos de controle escrito e testemunhal, bem como a criação de um “salário” mínimo. Essa organização de ordens foi sendo construída e adaptada ao longo de séculos, até que, por volta de 1491 a.C., os Hebreus criaram uma “hierarquia”, conforme relata a Bíblia no caso dos conselhos de Jetro ao seu genro, que era juiz: 5 A Bíblia relata os conselhos de Jetro, sogro de Moisés e sacerdote de Midiã, que, notando as dificuldades do genro em atender ao povo e julgar suas lides, após aguardar o líder durante o dia inteiro em uma fila à espera de suas decisões para cada caso, disse a Moisés: “Não é bom o que fazes, pois tu desfalecerás, bem como este povo que está contigo: pois isto é pesado demais para ti; tu não o podes fazer tudo sozinho. Eu te aconselharei e Deus seja contigo. Representa o povo perante Deus. Leva a Deus as suas causas, ensina-lhes os estatutos e as leis, e faze- lhes saber o caminho em que devem andar e a obra que devem fazer. Procura dentre o povo homens capazes e tementes a Deus, homens de verdade, aos quais aborreça a avareza. Põe-nos sobre elas, por chefes de 1.000, chefes de 100, chefes de 50 e chefes de 10, para que julgem [sic] este povo em todo tempo. Toda causa grave, trá- la-ão a ti, mas toda causa pequena eles mesmos julgarão. Será, assim, mais fácil para ti e eles levarão a carga contigo. (Exôdo, cap. 18, v. 13-27)”. (Chiavenato, 2011, p. 28, grifo do original) Para que seja possível o entendimento dos diversos sistemas das empresas, faz-se necessário entender como a distribuição do trabalho aconteceu ao longo do tempo. Essa especialização é normalmente atribuída a Jules Henri Fayol, por volta dos anos 1860, mas, na verdade, em 175 a.C., em Roma, Cato já havia feito uma “descrição de funções”, e em 1476 a.C. foram definidas funções para a melhor administração do arsenal de Veneza, e foram criadas as especializações como contabilidade de custos, balanços contábeis e controle de inventários, setores importantes da atividade empresarial atual. Em 1800, o inglês Matthew Boulton, seguindo as teorias de Adam Smith (1776) sobre os princípios da especialização dos operários, estabeleceu a padronização das operações, métodos de trabalho e auditorias. Durante todo esse período histórico, as empresas foram mudando, devido tanto a processos que envolvem a logística quanto a questões dos modelos econômicos locais e globais. 2.2 As influências do meio no desenvolvimento das empresas Segundo Chiavenato (2011), as alterações no formato organizacional das empresas seguiram em forte evolução, principalmente pela influência de algumas poderosas organizações: os filósofos, a organização da igreja católica, a organização militar, as ciências, a Revolução Industrial, os economistas liberais e os pioneiros e empreendedores. Na linha de tempo dos filósofos, temos Platão em 429 a.C. (política), Aristóteles até 322 a.C. (ciências), Thomas Hobbes em 1679 (política), Jean- Jacques Rousseau em 1778 (contratos), Karl Marx e Friedrich Engels em 1895 6 (economia e relações sociais). A ação da filosofia sobre a formação e a evolução dos processos empresariais cessa a partir da filosofia moderna, que abandona a análise dos problemas empresariais. Tanto a igreja como as organizações militares trouxeram aspectos de organização hierárquica, distribuição de materiais e planejamento estratégico. A contribuição das ciências para as empresas se deu a partir dos pensamentos de Francis Bacon, que introduziu a lógica de tomada de decisões, e de René Descartes, em 1650, principalmente pela incorporação de análises matemáticas à gestão de empresas. As Revoluções Industriais causaram e até hoje causam impacto na estrutura das organizações. Estamos vivendo uma quarta Revolução Industrial, também chamada de Indústria 4.0, pois, segundo Chiavenato (2011, p. 407), “a chegada da Era da Informação trouxe um novo contexto administrativo e uma avalanche de problemas para as organizações”, em que sistemas autônomos baseados na internet das coisas desenvolvem nanotecnologias, neurotecnologias, robôs, inteligência artificial, biotecnologia, sistemas de armazenamento de energia, drones e impressoras 3D. As revoluções anteriores fizeram com que as empresas atingissem o seu máximo desenvolvimento, com mudança de forma e direção (pivotagem) e de gestão. A primeira revolução foi identificada pela exploração e transformação do carvão e do ferro (1780 a 1860), com o aparelhamento de máquinas a vapor; a segunda foi de 1860 a 1914, e os protagonistas foram o aço e a eletricidade; a terceira ocorreu em meados do século XX, com o advento da eletrônica, da tecnologia da informação e das telecomunicações. A influência dos economistas liberais aparece a partir do século XVII, com a explicação microeconômica dos fenômenos empresariais, e em meados do século XVIII o liberalismo altera a forma como as relações entre governo, empresas e empregados são estabelecidas, especialmente no modo como deve ser executado o trabalho e o chamado liberalismo econômico, que é o principal formador da ideia de competição. Os pioneiros e empreendedores foram os principais desenvolvedores das grandes corporações mundiais, bem como das ações que hoje são chamadas de marketing – com a criação de departamentos de produção separados do de vendas e do de engenharia. 7 2.3 As mudanças organizacionais O conceito de desenvolvimento organizacional é geralmente ligado a um outro conceito que trata de mudanças e de capacidade de adaptação. Para Chiavenato (2011), existem alguns conceitos-chave que devem ser levados em consideração: Conceito de organização; Conceito de cultura organizacional; Conceito de desenvolvimento. Assim como seres vivos, as organizações vivem em meios ecológicos, isto é, sobrevivem em um ambiente de trocas vitais. Assim como os animais têm um ambiente e é nele que caçam, alimentam-se e são parte de um ciclo vital, as empresas também contribuem com esse meio. Existem dois tipos de sistemas na organização e na constituição da gestão empresarial: os sistemas mecânicos, que têm uma abordagem tradicional, na qual seguem um rígido padrão hierárquico e de tomada de decisão centralizada e relacionamento interno do tipo autoridade e obediência, e os sistemas ditos orgânicos, que favorecem o compartilhamento de decisões, de controle e de responsabilidades, com tomada de decisão descentralizada e relacionamentos baseados na confiança e em crenças recíprocas. Segundo autores como Chiavenato (2011) e Campos (2013), o conceito de cultura organizacional está baseado no modo de fazer, no sistema de crenças, valores, tradições e hábitos das pessoas na organização, bem como deve ser uma forma aceita e estável de interações e relacionamentos sociais típicos e próprios de cada empresa. Portanto, a cultura organizacional não pode ser estática, pois é baseada no agir e ser de pessoas. Ainda assim, as empresas conseguem se desenvolver culturalmente, mantendo a sua personalidade singular. Para que as empresas mudem, é necessário mudar a sua cultura. As mudanças são movimentos que exigem forças internas (endógenas) e externas (exógenas) em movimentos que conduzem ao processo de transformação. Geralmente, as forças externas são forças que não podem ser controladas, que oferecem oportunidades e ameaças. Estão entre elas o governo e suas ações políticas, econômicase fiscais, a sociedade, fatores climáticos etc. Já as forças internas têm a ver com as habilidades e capacidades técnicas, 8 administrativas e operacionais que despontam como forças de diferenciação, altamente controláveis internamente e fator de ganho competitivo. Além desse aspecto positivo, as forças que podem movimentar a cultura de uma empresa podem ser negativas, vistas, então, como fraquezas, também podendo ser combatidas por processos internos da organização. Para que se possa alcançar o desenvolvimento desejado, devem ser planejadas ações de mudança estrategicamente estudadas para o objetivo esperado: podem ocorrer ações de mudança do tipo evolucionária, com alterações pequenas entre uma ação e outra, de forma lenta e suave, ou ações de mudança revolucionárias, em que são alteradas a forma de fazer dos processos da empresa de forma disruptiva, e pode ser considerada ainda a opção por um desenvolvimento sistemático, no qual as ações são acompanhadas pela crítica interna dos processos, sendo possível remodelar as ações planejadas durante o processo. TEMA 3 – A FUNÇÃO DA ORGANIZAÇÃO Segundo Campos (2013, p. 23), a “única razão pela qual você trabalha é porque alguém precisa do resultado do seu trabalho”. A pergunta sempre é esta: Qual é a função dessa organização? Essa é uma pergunta com diversas respostas possíveis. Existem diversos tipos de funções que podem ser atribuídas às organizações, e esses tipos atendem a determinados segmentos da sociedade, portanto, sempre atendem a seres humanos. Uma organização de seres humanos que tem como objetivo atender a necessidades de seres humanos. Esse atender a necessidades é um termo carregado de valor, que é um dos elementos principais de sobrevivência das empresas. Mas quais são as principais funções da empresa, afinal? 3.1 Funções econômica e social das empresas As organizações têm uma função primordial, a de produzir. Sua produção pode ser de bens ou de serviços. A economia de um país é baseada na relação entre o que é produzido e vendido e o que é comprado e consumido. Para Chiavenato (2011), as organizações são compostas de uma parte que poderia ser chamada de técnica, que são os prédios, as máquinas e os equipamentos, os 9 produtos ou serviços produzidos e os materiais em geral, e outra parte constituída de pessoas. Para que a empresa preste as funções para as quais foi concebida, ela deve produzir efeitos. Os efeitos econômicos dizem respeito ao produto da empresa (bens ou serviços), ao modo como esse produto se relaciona nos mercados consumidores e à quantidade de riqueza que essa produção gera, bem como ao quanto esse produto faz crescer o ambiente em seu entorno. Da mesma forma, a função social da empresa está ligada à representação social que ela entrega à comunidade onde está inserida, se produz empregos e renad para os moradores, se cuida da natureza e dos seus trabalhadores. Muitas empresas têm um “braço” social, no qual apoiam outras empresas como creches e asilos, investem em projetos sociais e de preservação da natureza. 3.2 Funções internas das empresas Para que sejam atingidos os objetivos econômicos e sociais das empresas, faz-se necessário que sua organização seja pensada e elaborada da melhor forma, para que seus funcionários sejam preservados e melhor aproveitados em suas especialidades. Existem diversas teorias que tratam da organização dos processos produtivos das empresas. Uma das principais é aquela que aborda os processos empresariais como um todo sistematizado e interdependente – a Teoria dos Sistemas. Para melhor compreender como funciona, a Figura 1 apresenta uma representação visual de um sistema em corte: Figura 1 – Esquema de um sistema 10 Cada subsistema ilustrado na Figura 1 representa uma função ou atividade interna da empresa, que se relaciona com outros subsistemas dentro de um sistema, e, por sua vez, o sistema se relaciona com o meio em que está inserido. Por exemplo, o sistema Departamento Pessoal tem os subsistemas Folha de Pagamento, Benefícios, Cadastro ou Registro, Obrigações Fiscais etc., que estão intimamente relacionados, mas são funções distintas dentro de um sistema maior, e esse sistema Departamento Pessoal está intimamente ligado a diversos outros sistemas, trocando informações e produtos, como, por exemplo, informações para o sistema Contábil, para o sistema Fiscal, para o sistema Gerencial etc. A empresa como um todo pode ser considerada um sistema ou cada departamento ou setor, ou ainda cada posto de trabalho. Isso depende do tamanho e do objetivo da empresa. Os sistemas podem ser abertos ou fechados. Segundo Campos (2013), o sistema pode ser considerado aberto por ter algum tipo de troca com o meio ambiente, sendo influenciado por esse ambiente e influenciando-o em busca de um equilíbrio. TEMA 4 – A ORGANIZAÇÃO E A GESTÃO POR PROCESSOS Para que a empresa viva, não basta que tenha aspectos materiais e equipamentos, muito menos que haja pessoas. É necessário existir alma, o espírito que fará tudo funcionar. A parte mais visível dessa alma são os processos. 4.1 Processos Para que seja possível entender como os sistemas funcionam, temos que verificar a sua ação interna e externa e suas possíveis conexões. A definição mais aceita entre os acadêmicos e profissionais da área é a de Campos (2013, p. 81): “processo é um conjunto de causas que produzem efeitos” como resultado. Esse é um conceito popular, empírico. O conceito científico seria: Processos são constituídos pelo conjunto das atividades inter- relacionadas ou interativas que transformam insumos (entradas) em produtos (saídas). Ou, em uma abordagem mais técnica, é [sic] um conjunto de atividades preestabelecidas que, executadas em uma sequência determinada, conduzirão a um resultado esperado, o qual assegure o atendimento das necessidades e expectativas dos clientes e de outras partes interessadas. (FNQ, 2015, p. 4) 11 Os processos são, então, etapas necessárias de procedimentos que fazem a transformação de um determinado insumo em um produto. Esse produto pode ser um produto final, pronto para ser consumido, um componente de um produto final, uma matéria-prima a ser transformada ou um serviço qualquer. Um exemplo: ao transformar aço em parafuso, a indústria metalúrgica passa por diversas etapas produtivas, cheias de processos que resultarão em diversos níveis de produção. Ao transformar o aço em arame ou vergalhão, o primeiro processo transforma a matéria-prima em um produto final. O processo seguinte recebe esse “produto final” do processo anterior e o corta no tamanho necessário para o tipo de parafuso. Esse “corte” transformou novamente uma matéria-prima em um produto final. O processo seguinte fará o recorte das ranhuras do parafuso e, por fim, este estará completo, como um produto a ser consumido. Cada etapa passou por diferentes processos ou causas para resultar no efeito desejado, e, ainda que o parafuso seja usado como componente, ele já é um produto finalizado nessa indústria metalúrgica. Aproveitando a Figura 1, podemos melhorar a visualização dos processos da seguinte forma (Figura 2): Figura 2 – Processos de transformação A Figura 2 introduz a visão de um sistema com subsistemas. Cada subsistema é um processo de transformação das entradas e cada processo depende do anterior para que na saída desse sistema o produto esteja pronto nas especificações adequadas para atender às necessidades do cliente. 12 4.2 Gestão por processos A gestão por processos também é conhecida como Business Process Management (BPM) e é a tônica dos processos de qualidade na gestão de uma empresa. Na competitividade globalizada dos mercados, uma das prioridades é minimizar a concorrência e, para isso, faz-se necessário ter processos com alta qualidade e excelência.A excelência é o resultado de processos com total eficiência e eficácia, o que acaba gerando produtos com alto valor agregado e menores custos. A Figura 3 ilustra os caminhos necessários para que, por meio de uma boa gestão por processos, haja a criação de valor agregado ao produto empresarial: Figura 3 – Processo de geração de valor no contexto empresarial Fonte: FNQ, 2015. A Figura 3 apresenta, de forma sintética, o processo de formação e geração de valor em uma empresa. O processo interno de transformação e os diversos requisitos são adicionados de fatores de agregação de valor, que não são só a 13 qualidade intrínseca do produto final, mas também um conjunto de valores intangíveis ligados a esse produto. Faz-se necessário pensar que a gestão por processos não é o mesmo que a gestão de processos. Segundo Campos (2013, p. 34), o gerenciamento eficaz depende de um bom gerenciamento da rotina de trabalho, mas não só disso, pois “quanto melhor for o gerenciamento da rotina, mais tempo disporá o gerente para participar do gerenciamento interfuncional”, e, para tal, a visão do gestor deve ser uma visão holística, integral, “diferentemente da tradicional Gestão DE Processos, que prevê os detalhes em cada sistema em operação, uma Gestão POR Processos pode ser descrita como um trabalho dinâmico e em rede” (FNQ, 2015, p. 8). Para que haja um perfeito gerenciamento, há de ser feito um bom mapeamento desses processos. Ao mapear cada etapa, pode ser desenhado ali como se dará o fornecimento de materiais e matérias-primas (supplier), como será a logística da cadeia de suprimentos (supply chain management), quais serão e como serão resolvidos os processos críticos e como os processos produtivos poderão alinhar-se ao planejamento estratégico da organização. TEMA 5 – ESTUDO DE CASO1 5.1 Empresa A Cacau Show nasceu quando o fundador, Alexandre Tadeu da Costa, um rapaz de família humilde, filho de pai tecelão e mãe vendedora de produtos de beleza em domicílio, começou a revender chocolates de uma indústria. Na primeira Páscoa, em 1988, ele vendeu, além de outros produtos, dois mil ovos de 50g. Porém, quando chegou à fábrica, ele descobriu que cometera um enorme engano, por não conhecer o suficiente a linha de produtos da empresa que, na verdade, não fabricava ovos de 50g e não teria condições de fabricá-los antes do domingo de Páscoa para honrar as vendas efetuadas. Frente a isso, preocupado em honrar a encomenda e em não perder o pedido, o estudante, então com 17 anos, comprou a matéria prima [sic] necessária e procurou alguém que estivesse acostumado a fabricar chocolates em casa. Em uma loja especializada no ramo, conheceu uma senhora que fazia chocolates caseiros e que veio a ser a primeira funcionária da CACAU SHOW. Comprou formas, embalagens e quantidades suficientes do produto em barras para derreter e em seguida transformá-lo em ovos de Páscoa. 1 Fonte do estudo: Os segredos... (2010). 14 5.2 Processo Durante três dias, com uma jornada diária de 18 horas de trabalho e com um prazo de entrega apertado, foi possível a entrega da encomenda. Essa operação gerou um lucro líquido de aproximadamente US$ 500. Depois da experiência, Alexandre percebeu que havia um mercado muito pouco explorado de chocolates artesanais e resolveu investir nisso. Com esse capital inicial, a empresa iniciou suas atividades em 1989 no bairro da Casa Verde, em São Paulo. O empreendimento se estabeleceu numa sala de 12 m² da empresa de seus pais, que inicialmente foi cedido sem custo por seis meses. Após esse período inicial, ele passou a pagar aluguel. Nessa época, o processo de produção era bem precário: ele e o amigo produziam e saíam vendendo as guloseimas em padarias, contando também com a ajuda de revendedores. Porém, foi preciso mudar a estrutura de distribuição, pois, para o tipo e o custo do produto vendido, ficava muito caro o sistema de comissões e de prazos de pagamento habituais ao canal de venda domiciliar. Foi nesta época que Alexandre optou por atender diretamente a pequenos pontos-de-venda [sic], como bares e lanchonetes, sem contar com a intermediação de atacadistas ou distribuidores. A experiência de sair vendendo pessoalmente, de loja em loja, foi considerada insubstituível pelo empresário, pois graças a ela, [sic] sabe exatamente como se vende, conhece profundamente o mercado e o perfil dos compradores, as dificuldades e oportunidades encontradas, podendo, portanto, preparar seus vendedores da melhor maneira para o dia-a-dia [sic] nas ruas. Além de vender o produto, buscou também informações técnicas: como fabricar, conservar, embalar, e assim por diante. Nesta busca de aperfeiçoamento da qualidade, fez cursos de vários tipos, desde aqueles oferecidos por grandes fornecedores e revendedores de chocolate em barra até cursos tipicamente voltados para donas de casa. Assim, ao gerenciar cada processo, percebeu que poderia, na época de altas temperaturas do ano (verão) [sic] produzir um produto que gerasse faturamento para sustentação. Foi aí que começou a produzir panetones para o natal. 5.3 Resultados A primeira loja só veio em 2001, construída num pequeno espaço de 40 metros quadrados, na cidade de Piracicaba. Pouco depois, ainda neste ano, a empresa implantou o sistema de franquia. Era o que faltava para dar consistência à empresa. Nos anos seguintes [sic] foram inauguradas centenas de lojas. Em 2005 [sic] a empresa ganhou o prêmio de “Melhor Franquia do Ano”, na categoria Cafeteria e Confeitaria. Em 2007, para dar conta da expansão, a empresa abandonou sua antiga fábrica de cinco mil metros quadrados, na capital paulista, e inaugurou uma nova unidade de 17 mil metros quadrados em Itapevi, interior de São Paulo. FINALIZANDO Os processos de gestão demandam autoconhecimento de seus processos produtivos, análise estratégica de suas forças e fraquezas internas, bem como aproveitar as oportunidades e garantir-se contra as ameaças externas. Nesse conjunto de medidas, o gestor deve estar atento à função que move a empresa, à 15 integração da empresa com a sociedade, a interdependência dos seus processos internos e as parcerias com fornecedores e distribuidores. A gestão deve ultrapassar os limites de um departamento e atingir a empresa como um todo. LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica ALBERTI, R. A. Diagnóstico organizacional com enfoque em gestão por processos para auxiliar a gestão organizacional. 152 f. Dissertação (Mestrado em Sistemas e Processos Industriais) – Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul, 2014. (Seção 2.2 – Gestão por Processos). Disponível em: <https://repositorio.unisc.br/jspui/bitstream/11624/258/1/RafaelAlberti.pdf>. Acesso em: 15 maio 2018. Texto de abordagem prática ALBERTI, R. A. Diagnóstico organizacional com enfoque em gestão por processos para auxiliar a gestão organizacional. 152 f. Dissertação (Mestrado em Sistemas e Processos Industriais) – Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul, 2014. (Seção 5 – Diagnóstico organizacional: o estudo de caso). Disponível em: <https://repositorio.unisc.br/jspui/bitstream/11624/258/1/RafaelAl berti.pdf>. Acesso em: 15 maio 2018. Saiba mais PROCESSOS Gerenciais – Entrevista Waldez Ludwig. Sérgio Castro, 29 ago. 2011. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=VU3bZF65g8s>. Acesso em: 15 maio 2018. 16 REFERÊNCIAS CAMPOS, V. F. Gerenciamento da rotina do trabalho do dia a dia. 9. ed. Nova Lima: Falconi, 2013. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. CURY, A. Organização e métodos: uma visão holística. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2000. DE SORDI, J. O. Gestão por processos: uma abordagem da moderna administração. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.FNQ – Fundação Nacional da Qualidade. Gestão por processos. São Paulo: FNQ, 2015. OS SEGREDOS da Cacau Show. Cases de sucesso, 2010. Disponível em: <https://casesdesucesso.files.wordpress.com/2010/05/cacau_show.pdf>. Acesso em: 15 maio 2018. AULA 3 GESTÃO POR PROCESSOS E A INTEGRAÇÃO ESTRATÉGICA Prof. Cristiano Ribeiro 2 CONVERSA INICIAL Olá! Seja muito bem-vindo à nossa aula de Estrutura de Processos. Nesta aula, serão abordados os conceitos de processos, sua classificação, sua estrutura e o modo como a gestão da qualidade atua na implantação e no controle desses processos, demonstrando seus impactos na organização. A partir desta aula, o aluno estará familiarizado com os diversos tipos de processos e de organizações, com um entendimento das estruturas organizacionais e de suas relações com o mercado. Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO Em uma época anterior, principalmente nas empresas do século passado, a formação das organizações era essencialmente baseada na estrutura por funções. Em 1996, Michael Hammer, considerado pai da reengenharia, já alertava para o surgimento de uma nova forma de estruturação empresarial orientada por processos. Ainda na segunda década do século XXI, as empresas estabelecem sua gestão baseada nos fluxos produtivos e nas estruturas produtivas, ficando muito mais leves e adaptáveis, com um pensamento mais integrador, e não com o clássico raciocínio definido por departamentos ou funções. Os processos atingiram um alto nível de importância e, por isso, podem submeter organizações inteiras à discussão e ao aprimoramento específico de seus métodos. TEMA 1 – DEFINIÇÃO DE PROCESSOS Conforme vimos na aula passada, existem várias definições para a palavra processos. A definição gerada a partir da visão dos sistemas da qualidade, já estudada anteriormente, é: Processos são constituídos pelo conjunto das atividades inter- relacionadas ou interativas que transformam insumos (entradas) em produtos (saídas). Ou, em uma abordagem mais técnica, é um conjunto de atividades preestabelecidas que, executadas em uma sequência determinada, conduzirão a um resultado esperado, o qual assegure o atendimento das necessidades e expectativas dos clientes e de outras partes interessadas. (FNQ, 2015, p. 4) 3 Os processos são, por consequência, um conjunto de ações, atividades ou tarefas gerenciadas ou autônomas que seguem rigorosas etapas sequenciais que garantirão que o resultado de cada ação ou tarefa tenha tempo e valor resultantes previamente esperados, e, ainda, um resultado necessário para a ação, atividade ou tarefa posterior conseguir produzir seus efeitos. Para Campos (2013, p. 81), “um processo é um conjunto de causas que provocam efeitos. Processo é sua área de autoridade e os produtos são sua responsabilidade”. Segundo a ABNT (2015), “entender e gerenciar processos inter- relacionados como um sistema contribui para a eficácia e a eficiência da organização em atingir seus resultados pretendidos”. Em um determinado processo, é possível exemplificar várias atividades (ou subsistemas), contendo diversas tarefas cada (ações, atividades), que seguem um caminho de execução e transformação que resultará em um produto final (bens, serviços ou informações). A Figura 1 demonstra parcialmente esse funcionamento: Figura 1 – Exemplo de processo Na Figura 1, estão dispostas conceitualmente várias atividades que contêm tarefas a serem realizadas, e, no sentido das setas, cada atividade depende da conclusão da anterior, formando uma sequência organizada. Esse conjunto de atividades em funcionamento é chamado de tarefa e cada tarefa resulta num produto (bem, serviço ou informação) necessário para a manutenção da empresa. 4 TEMA 2 – CLASSIFICAÇÃO DE PROCESSOS Os processos podem variar bastante, pois dependem do produto (bens ou serviços), do método (complexo ou elementar), do tempo, do ambiente, dos recursos e insumos envolvidos, da tecnologia aplicada e da expertise das pessoas envolvidas. Segundo o modo como tratam os estudiosos de gerenciamento de processos (BRASIL, 2013), os processos podem ser de três tipos distintos, conforme ilustrado na Figura 2: Figura 2 – Modelo de hierarquia de processos A Figura 2 apresenta a estrutura hierárquica e a interdependência entre os processos gerenciais, os processos de apoio e os processos primários e a conexão entre os processos da empresa e o meio ambiente, representada pelo cliente e por uma seta dupla indicando a sua inter-relação. Vejamos o que são esses processos: Processos primários: também chamados de core process, estão intimamente relacionados com os clientes. São exemplos de processos primários a criação e a produção de determinado produto, a divulgação, a venda e a pós-venda, portanto todos os processos ligados ao cliente. Processos de suporte e apoio: como o próprio nome sugere, esses processos são adjutores, ou seja, servem de apoio aos processos primários, não sendo inferiores a estes, uma vez que só não apresentam as mesmas características de contato direto com o cliente, mas sua atuação é extremamente crítica para a possibilidade de realização dos processos primários. 5 Processos de gestão ou gerenciais: esses processos são gerenciadores de outros processos, e sua atuação envolve muitas atividades, como a medição, o monitoramento e o controle, garantindo a acurácia dos processos da organização. TEMA 3 – ESTRUTURA ORGANIZACIONAL As empresas são organismos vivos com setores e departamentos (órgãos) que se interligam por meio de uma estrutura e têm interdependência, a qual mantém a sua sobrevivência. Para Chiavenato (2011, p. 299), “estrutura é um conjunto de elementos relativamente estáveis que se relacionam no tempo e no espaço para formar uma totalidade”. A teoria clássica da administração entende a organização como se ela fosse uma estrutura tradicional, rígida e hierarquizada, sendo observada de cima para baixo, isto é, da alta administração até a mais baixa área operacional, e do todo para as partes. “Em síntese, a organização formal é a determinação dos padrões de inter- relações entre órgãos ou cargos, definidos logicamente por meio das normas, diretrizes e regulamentos da organização, para o alcance dos seus objetivos.” (Chiavenato, 2011, p. 177). Seguindo a teoria neoclássica da administração, é possível perceber outros tipos de estruturas organizacionais distintas: a organização linear, a organização funcional e a organização linha-staff. Uma estrutura organizacional define o modo como se dividem, agrupam e se coordenam os processos das atividades. Existem seis elementos chave [sic] que os administradores necessitam atender quando desenham a estrutura de sua organização: a especialização do trabalho, a departamentalização, a hierarquia, o controle, a centralização e descentralização, e a formalização (Robbins; Judge, 2009, p. 519). A visão mais moderna da administração é a de Herbert Spencer, que trata as organizações como organismos vivos e sistemas abertos. Um sistema pode, então, ser aberto ou fechado. Quando aberto, faz trocas com o meio externo (recursos e informações), faz o processamento (interno) de acordo com seu modo de produção e retorna informações para o meio externo. Nesse sentido, as empresas são vistas como sistemas abertos (Figura 3). A preocupação com a permeabilidade dessas fronteiras faz com que aumente a complexidade das relações entre os agentes de trocas, e, para maior estabilidade 6 e simplicidade na gestão desses processos, faz-se necessário o acompanhamento informatizado com técnicas de Business Process Management (BPM). Figura 3 – Empresa como sistema aberto A Figura 3 mostra o modelo de sistema de uma empresa interligadoa outros sistemas de fornecedores, trocando bens, serviços e informações para a criação de uma cadeia de suprimentos, para benefício comum e entrega do produto desejado pelo cliente, nas condições esperadas por ele. A gestão por processos ou BPM é, segundo a ABPMP (2013, p. 360), “uma disciplina gerencial que integra processos e tecnologia para conectar estratégias de negócio ao foco do cliente”. A gestão por processos necessita de um amplo planejamento e da previsão de recursos de todos os tipos envolvidos nesses processos, para que haja segurança operacional. Também há necessidade de análise dos fatores de risco, que são fatores críticos para o sucesso do ciclo produtivo. Segundo a ABPMP (2013, p. 360), “a tecnologia irá desempenhar um papel significativo na determinação da evolução da organização e sua capacidade de criar um ambiente de mudança flexível”. Além disso, possibilita que as regras de negócio da organização sejam padronizadas e disponibilizadas virtualmente. 7 As empresas projetam suas estruturas organizacionais com base nos processos necessários para a manutenção de sua sobrevivência. Vejamos a Figura 4: Figura 4 – Modelagem de processo para sobrevivência A Figura 4 apresenta um fluxograma da estratégia de sobrevivência das empresas em um contexto de competição. Tudo se baseia na satisfação do cliente, e, a partir da identificação dessas necessidades, o processo segue internamente em projeto e processo de atendimento, retornando ao meio ambiente externo de volta ao cliente. As empresas estruturam seus processos a partir de sua missão e visão de negócio. Imagine como seria uma empresa que serve refeições se ela estivesse preocupada somente com a margem de lucro e a economia nos recursos. Pense no seu almoço servido em um restaurante, por exemplo. Para que a comida tenha uma ótima qualidade, esteja na temperatura ideal para ser consumida no momento em que você assim desejar, seja entregue no tempo que você precisa, com um atendimento agradável, rápido e cortês, com um preço justo, são vários processos envolvidos no atendimento de seu almoço. A cadeia de suprimentos e de produção começa nos fornecedores primários dos recursos que serão utilizados para a produção de seu almoço. Depende também de uma logística de alto desempenho, devido às condições de alguns desses produtos – por serem in natura e/ou refrigerados, ou porque são de difícil manutenção, armazenamento e aquisição. 8 Para que dê tempo de receber tudo, preparar cada alimento em seu cronograma próprio e te servir, deve ser feito um planejamento dos processos de forma rigorosa. Manter uma rede de parceiros e a lucratividade depende de uma estruturação em que todos os processos estejam bem alinhados, proporcionando lucratividade para toda a cadeia de suprimentos e de produção. Saiba mais Para saber mais sobre BPM, acesse o site da Associação disponível em <http://www.abpmp-br.org/>. TEMA 4 – QUALIDADE DOS PROCESSOS Muitos pensam que ter qualidade é não ter defeitos. Segundo estudiosos da qualidade como Juran, Shewhart, Deming, Miyauchi, Ishikawa e outros, ter qualidade não significa apenas ausência de defeitos. Para Paladini (2009, p. 21), por exemplo, “qualidade é um aspecto subjetivo das pessoas”. Para que a empresa obtenha essa preferência, em um mundo empresarial competitivo e globalizado, faz-se necessário que tenha um diferencial, algo que a diferencie dos demais concorrentes na preferência do consumidor. Nesse ponto, entram as análises e o controle de qualidade. O controle da qualidade pode proporcionar aumento da produtividade, que é o resultado entre tudo o que é produzido e o que os processos produtivos consomem: a fórmula apresentada na Figura 5 é uma expressão matemática com múltiplas condições. A produtividade pode ser observada do ponto de vista do lucro, do valor para o cliente e seu respectivo preço, pela qualidade produzida em função dos custos etc., e esse conceito serve para qualquer tipo de empresa (indústria, comércio, serviços etc.). Figura 5 – Conceito de produtividade Fonte: Adaptado de Campos, 2013. 9 A Figura 5 demonstra a equivalência entre valor, qualidade e faturamento em relação ao consumo e aos custos, considerando que o termo produtividade é representado em todas essas razões. O aumento da produtividade é resultado de uma boa gestão da qualidade. 4.1 Conceito de controle de processos Um processo produz um ou mais efeitos. Para que sejam possíveis o gerenciamento e o controle dos processos, é necessário o acompanhamento dos efeitos resultantes de cada etapa destes, conforme indicado na Figura 6: Figura 6 – Processo de manutenção da qualidade Fonte: Adaptado de Campos, 1999. A Figura 6 apresenta as etapas de ação do controle da qualidade sobre os processos da empresa. Esse ciclo demanda uma exaustiva manutenção do controle desses processos, fazendo tarefas de análise, padronização e criação de itens de controle (indicadores). Para um correto acompanhamento e controle dos processos, devem ser elencados itens que poderão ser observáveis durante o desenvolvimento das atividades, de modo que seus resultados sejam avaliados por índices numéricos. Esses itens são chamados de itens de controle. Por isso, é possível dizer que um processo pode ser avaliado estatisticamente e que a qualidade do seu resultado pode ser garantida a partir de ações corretivas sobre este processo. 10 Como todo processo resulta em efeitos (produtos, serviços, informações), segundo Kaoru Ishikawa, um dos pais da qualidade, e conforme confirmado por Campos (2013, p. 104), problema “é a diferença entre seu resultado atual e um valor desejado, chamado meta”. Assim, um processo pode ser definido por um conjunto de causas que produzem efeitos, e problema é um efeito indesejado originado por uma causa relativa ao processo. Pode-se afirmar também que a causa de um problema sempre pode ser encontrada dentro do processo. Kaoru Ishikawa, em 1952, criou um diagrama de análise que chamou de diagrama de causa e efeito e aplicou na empresa Kawasaki Iron Fukiai Works e Juran, em 1962, na sua obra intitulada QC Handbook (Livro de mão do Controle da Qualidade). Ele chamou o diagrama de causa e efeito de Diagrama de Ishikawa. O Diagrama de Ishikawa se mostrou ideal para o entendimento das causas que estavam produzindo efeitos indesejáveis e permitiu que fossem mais rápidas e objetivas as correções. Figura 7 – Diagrama de Ishikawa A Figura 7 demonstra o diagrama de causa e efeito em detalhe. O Diagrama de Ishikawa (causa e efeito) é uma ferramenta que apoia o processo de investigação dos efeitos, bem como atua em conjunto com outras ferramentas da qualidade. É formado por causas (macro) e subcausas distribuídas graficamente, demonstrando as espinhas com maior ocorrência de causas que levaram ao efeito (problema). 11 4.2 Fluxograma O fluxograma é a primeira ferramenta de padronização dos processos de uma empresa. Ao definir todas as atividades, sua sequência lógica, os tempos e as estações de trabalho, a empresa se coloca em direção a uma análise mais global de suas atividades. Além disso, o fluxograma mapeia as perdas de produtividade em questões de etapas duplicadas ou desnecessárias, sendo possível estabelecer fluxos contínuos mais rápidos de seus processos. Existem diversas formas de apresentação de fluxograma. Há o fluxograma no modelo American National Standards Institute (ANSI), o American Society of Mechanical Engineers (ASME), o fluxograma funcional, o fluxograma em blocos etc. O tipo mais comum e complexo de fluxograma profissional é o ANSI, que contém símbolos ligados por setas que definem os processos e as direções. Ele tem uma simbologia internacionalmente compreendida, ilustrada na Figura 8 Figura 8 – Simbologia ANSI Fonte: Adaptadode Campos, 2013, p. 199. A Figura 8 apresenta a simbologia utilizada na elaboração de fluxogramas do tipo ANSI. O domínio dessa linguagem possibilita uma rápida avaliação do processo, das etapas críticas e dos tempos decorrentes das tarefas, bem como dos desvios de rota. Observe a Figura 9: 12 Figura 9 – Fluxograma ANSI A Figura 9 apresenta um exemplo de uso de um fluxograma para representar uma atividade em qual existe a ocorrência de uma não conformidade. Cada figura da simbologia ANSI apresenta uma etapa a ser seguida ou analisada. O fluxograma por diagrama de blocos representa uma sequência de atividades contínua, sem que sejam declaradas as situações de decisão, e é bastante usado para o rascunho de atividades em um primeiro contato de auditoria de processos. O fluxograma funcional apresenta a sequência das atividades de um processo e sua relação com as demais áreas ou seções por onde ele flui na empresa (Figura 10). 13 Figura 10 – Fluxograma funcional Fonte: Campos, 2013, p. 54. A Figura 10 apresenta um exemplo de fluxograma funcional, no qual estão representadas as atividades e sua posição nos diversos setores de autoridade, para que seja possível visualizar as lacunas de tempo no mapeamento dos processos e a hierarquia das decisões em cada etapa. O fluxograma ASME (Figura 12) é comumente utilizado nos processos de análise do andamento de tarefas, pois apresenta dados como tempo de execução e tipos de tarefas para um mesmo processo. Também é chamado de folha de análise. A Figura 11 demonstra os cinco símbolos básicos: Figura 11 – Símbolos básicos do fluxograma padrão ASME Fonte: Campos, 2013, p. 199. 14 A Figura 11 ilustra a simbologia utilizada na linguagem para representar ações e operações no fluxograma ASME. Esses símbolos dão valor a cada tarefa, pois, além de representá-la graficamente, apresentam um modelo de rápido preenchimento. Figura 12 – Fluxograma do tipo ASME ou folha de verificação Fonte: Campos, 2013, p. 146. A Figura 12 apresenta um modelo de fluxograma ASME, com descrição das atividades, responsabilidade das ações, tempo estimado para a tarefa e tempo efetivo de realização dela, bem como o símbolo que a representa. Esse fluxograma é ideal para acompanhamento no local de execução da tarefa. 4.3 Método PDCA O método PLAN - DO - CHECK - ACT (PDCA) é um esboço de um plano de ação. Serve como uma base para que outras ferramentas sejam usadas durante o processo de controle da qualidade. Para Campos (2013, p. 107), “melhorar é atingir metas e atingir metas é resolver problemas”, e isso significa que estamos no controle do processo. A Figura 13 ilustra o esquema do método, passo a passo, desde o planejamento inicial até a padronização da resolução do problema para que não se repita: 15 Figura 13 – Ciclo PDCA A Figura 13 apresenta graficamente a ideia do método PDCA, com cada etapa relacionada à seguinte, formando um ciclo. O ciclo começa na letra P de plan, que significa planejar o processo, segue para a letra D de do, ou seja, executar, depois para a verificação do executado, na letra C de check, e por último vem a letra A de action, ou agir, para identificar se o processo deve ser padronizado. Para que seja possível identificar e tratar o problema, devem ser seguidos alguns passos: Faça um fluxograma dos processos envolvidos no problema. Reúna o staff e os colaboradores das áreas participantes do problema e faça um brainstorming. O brainstorming (tempestade de ideias) é um momento em que o grupo, reunido em torno do problema, sugere, a esmo (sem criticar), ideias de possíveis causas para o problema. Reúna as possíveis causas coletadas e aplique-as ao Diagrama de Ishikawa para estabelecer as causas mais elencadas. Comece analisando a espinha com o maior número de ocorrências: aplique a Matriz GUT para definir ações prioritárias (Figura 14). 16 Figura 14 – Matriz GUT A Matriz GUT apresentada na Figura 14 significa Gravidade, Urgência e Tendência. Para cada sugestão deve ser dado um peso de 1 a 5, considerando cada uma das variáveis GUT, sendo 1 o menos significante e 5 o mais importante – o resultado deve ser multiplicado e, no final, haverá uma escala de atendimento para cada questão. Elencada a causa, comece um plano de ação 5W2H1S (Figura 15), que é um quadro em que são identificadas as responsabilidades para ação sobre o problema em questão. Figura 15 – Modelo de acompanhamento 5W2H1S A Figura 15 apresenta um exemplo de 5W2H1S, que significa o que fazer (what), onde deve ser feito (where), porquê deve ser feito (why), como agir (how), quando deve ser executado (when), quanto custa (how much), quem é o responsável (who) e, finalmente, apresentar os resultados (show me). 17 Estabeleça um Diagrama de Gantt (Figura 16) para acompanhar a execução de cada etapa do planejamento. Figura 16 – Exemplo de um Diagrama de Gantt Fonte: Campos, 2013, p. 245. A Figura 16 apresenta um modelo de Diagrama de Gantt, utilizado para gerenciar as tarefas e acompanhar o prazo de execução individual e coletiva do plano de ação proposto pela ferramenta 5W2H1S. Esse diagrama é essencial para detectar atrasos no projeto. TEMA 5 – ESTUDO DE CASO 5.1 Empresa A empresa Alpha comercializa lanches de diversos tipos, incluindo sanduíches e sucos naturais. Ela faz parte de uma grande franquia que fornece os componentes para a fabricação dos sanduíches. Normalmente, são vendidos 200 sanduíches por dia e 300 sucos. Há algum tempo, muitos pedidos são feitos e não são produzidos, pois eventualmente um ou outro ingrediente está em falta. O proprietário tem percebido que, apesar de ter um negócio altamente procurado e estando localizado em um shopping, seu lucro tem caído mês a mês e sua carteira de contas a pagar tem demonstrado que, se a situação continuar assim, um provável efeito tesoura irá acontecer entre o saldo de tesouraria e as contas a pagar, evidenciando uma necessidade premente de fontes de capital de giro. 18 5.2 Processo Após chamar um consultor empresarial, esse profissional percebeu que o negócio tem realmente alta procura, mas que, por alguma razão a avaliar, o fornecimento de produtos pela franqueadora não tem sido suficiente para atender à demanda. No dia seguinte ao início das observações, o consultor chamou uma reunião com os funcionários, tanto os do atendimento quanto os que trabalhavam com o estoque e a reposição de pedidos, para que pudessem identificar as causas prováveis do problema. Então, solicitou aos funcionários que dissessem quais eram as razões, para eles, desse problema de falta de atendimento dos pedidos. Os funcionários fizeram uma longa lista de expressões, que começava por baixos salários e ia até descaso do patrão. Para facilitar a tarefa, o consultor pediu que os funcionários fizessem um passo a passo do atendimento de um pedido. Ali foram colocados os tempos e todas as etapas do processo. Considerando que o processo era executado sempre da mesma forma, o consultor decidiu utilizar as ferramentas da qualidade para encontrar uma saída. Pegou então o brainstorming feito pelos funcionários e colocou essas expressões num diagrama de causa e efeito. Claramente, a espinha material foi a que mais se destacou, com muitas reclamações referentes a falta e sobra de materiais em estoque. Nesse momento, o consultor pegou as subcausas elencadas no diagrama e as colocou em discussão no modelo GUT. A partir daí, foi estabelecida a primeira causa possível a ser trabalhada, com 125 pontos GUT, que foi a quantidade de materiais entregues pela franqueadora. Para melhor verificar o caso, o consultor foi até o fluxograma e percebeu que as entregas eram feitas duas vezes por semana, e que as quantidades eram sempre as mesmas,
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