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UNIVERSIDADE PAULISTA - CAMPUS TATUAPÉ INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS BIANCA SOUZA LIMA RESUMO DO LIVRO “COLETÂNEA DE TEXTOS DIDÁTICOS”, DE WALDIR BETTOI Atividade Práticas Supervisionadas - Psicologia: Ciência e Profissão SÃO PAULO, SP 2022 2 INTRODUÇÃO O livro “Psicologia: Ciência e Profissão” é uma coletânea de textos didáticos elaborada pelo Professor Doutor Waldir Bettoi. Logo de início é apresentado o objetivo da disciplina Psicologia: Ciência e Profissão, ou seja, obter informações sobre a diversidade da Psicologia, como uma área do conhecimento científico humano, e sobre a diversidade da atuação do profissional psicólogo. É objetivo dessa disciplina, também, propiciar aos alunos o contato com essas informações e a reflexão sobre os efeitos que a atuação do psicólogo produz sobre a sociedade, isto é, sua função social. A importância desses objetivos tem justificativa no fato de que tem se observado que uma parte significativa dos graduandos em psicologia não imagina a imensa variedade de formas diferentes de pensar, de ideias, de crenças e convicções que se denominam como Psicologia. Além disso, nem todos os alunos conhecem todos os campos de atuação possíveis dentro da profissão, para além das possibilidades mais tradicionais. Os textos a serem trabalhados na coletânea abordam quatro tópicos: 1. a diversidade da ciência psicológica; 2. a diversidade da atuação do psicólogo; 3. a atuação do psicólogo em contextos específicos e 4. a função social da atuação do psicólogo. O Texto 1 “A Diversidade da Ciência Psicológica” tratará de uma característica fundamental da Psicologia como Ciência, que é a diversidade de pensamentos e conhecimentos psicológicos. O Texto 2 “ A Diversidade da Atuação do Psicólogo” contém informações básicas sobre os contextos de atuação profissional dos psicólogos e as principais atividades desenvolvidas neles. Serão apresentados termos “técnicos” e algumas informações elementares sobre a profissão e sobre o que o psicólogo faz profissionalmente. O Texto 3 “A Atuação do Psicólogo em Contextos Específicos” apresenta informações gerais sobre a atuação do psicólogo em contextos específicos da atuação. Assim, a ampla variedade de contextos específicos agrupados sob a denominação de contexto da Saúde receberá alguma atenção e detalhe e também serão abordados o contexto Educacional, Organizacional e o de Pesquisa. Por fim, no Texto 4 “A Função Social da Atuação do Psicólogo” trará alguns critérios para a reflexão a respeito da atuação profissional do psicólogo. Haverá a apresentação de questões que têm sido levantadas por diversos autores que pesquisam sobre a profissão do psicólogo no Brasil. 3 TEXTO 1 “A DIVERSIDADE DA CIÊNCIA PSICOLÓGICA” Ao falarmos em Psicologia não estamos falando de um corpo de conhecimento único, sólido, indivisível e coeso, estamos falando de uma forma de pensamento sobre o psicológico humano, onde existem diferentes formas de pensar e conceber esse fenômeno. Portanto, ao invés de nos referirmos à “Psicologia” seria mais apropriado falar em “Psicologias”. O autor traz um exemplo para ilustrar mais claramente a ideia principal do texto: imagine que alguém em seus primeiros dias como aluno de Psicologia está começando a frequentar a faculdade e a conhecer todas as matérias e está bastante curioso pelo que vem à frente. Este aluno muito provavelmente imagina a Psicologia como algo único, mencionado no singular, algo como uma ciência que já acumulou conhecimento sobre o ser humano. Ele acredita que para todos os temas há uma resposta pronta e acabada e que, nesse sentido, seu compromisso com o curso seja o de assimilação das “verdades” sobre a mente humana. No entanto, à medida que este aluno se aprofundar no curso, perceberá que essa não é a realidade. Em primeiro lugar, ele verá que o conhecimento psicológico não é algo terminado, pelo contrário, a experiência mostra que esse conhecimento está em constante construção e que o próprio aluno poderá vir a participar desta produção de conhecimento. Em segundo lugar, ele perceberá também que sobre um mesmo assunto existem diferentes pontos de vista, diferentes afirmações, diferentes explicações teóricas que o abordam. Ele descobrirá que existem diferentes definições do que é a Psicologia, e poderia, por consequência, presumir que alguém, em todo esse meio, está certo, o que supõe que os demais estariam errados. Porém, em certo sentido, todos estão “certos”. A Psicologia, diferentemente de outras ciências, não tem um objeto único de estudo e não tem um método de estudo único. A Psicologia estuda fenômenos bastante variados, como a mente, o inconsciente, o comportamento, as relações humanas, etc. A Psicologia é marcada, então, pela diversidade: diversidade teórica, metodológica, prática, etc. Figueiredo (1992) se refere a essa característica como “estado fragmentário do conhecimento psicológico” e diz que a Psicologia é considerada como um “espaço de dispersão”. Ou seja, o conhecimento psicológico não é uno, coerente e totalmente integrado. O que se observam são diferentes formas de pensamento, “linhas”, “correntes” ou “abordagens”. Se observarmos estas diferentes formas de pensamento dentro do espaço da Psicologia, veríamos que elas ocupam diferentes pontos deste espaço, visto que não têm as mesmas origens e mesmos objetivos. Figueiredo (1992) utiliza a expressão “matrizes do conhecimento psicológico” para se referir às origens dessas diferentes formas de pensamento. Ele define este conceito como 4 grandes conjuntos de valores, normas, crenças metafísicas, concepções epistemológicas e metodológicas que subjazem às teorias e às práticas profissionais dos psicólogos. Como as respostas para essas questões não foram sempre as mesmas ao longo da História, isso acabou determinando as diferentes trajetórias que a construção do conhecimento psicológico foi assumindo. O conhecimento dessas diversas “mães” ajudaria os psicólogos a entender aquilo que superficialmente pareceria desorganizado e caótico. Diante dessa multiplicidade de caminhos possíveis, é possível que surja a dúvida de para onde seguir. A respeito disso, Figueiredo acredita que o psicólogo muitas vezes não consegue enfrentar a constatação de que a Psicologia é um espaço em que a diversidade predomina e reage à angústia que isso provoca de duas formas diferentes. A primeira forma seria o dogmatismo, isto é, acreditar que só existe uma Psicologia “verdadeira”, rejeitando todas as outras, não admitindo e aceitando a própria existência de formas de pensar diferentes da sua. A segunda forma de reação seria o ecletismo, ou seja, ignorar que as várias Psicologias são, em muitos casos, incompatíveis entre si, radicalmente diferentes, pois se originam de matrizes totalmente diferentes. Neste caso, acredita-se que todas elas pretendem as mesmas coisas, de maneiras ou com nomes diferentes. Figueiredo considera as duas formas inaceitáveis para um psicólogo. Ele acredita que as duas atitudes impedem o crescimento e desenvolvimento da Psicologia. Com relação ao dogmatismo, há a impossibilidade de enfrentar o outro e, sendo assim, não há a possibilidade de crescer, pois só há crescimento quando há confronto com a alteridade. O mesmo aconteceria com o eclético, acreditando que tudo é igual, não enfrenta aquilo que todas têm de diferente. O que o autor propõe é que os psicólogos enfrentem essa questão de duas maneiras: a) o movimento construtivo, em que o psicólogo produz conhecimento com base em recursos oferecidos por uma ou mais teorias, pensando e estabelecendo relações entre as proposições teóricas e sua prática profissional; e ao mesmo tempo b) o movimento reflexivo, caracterizado pela reflexão constante sobre as várias teorias e sistemas de pensamento existentes. Essa reflexão garante o contato com o outro, com a alteridade. TEXTO 2 “ A DIVERSIDADE DA ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO” O objetivo deste texto é trazer informações básicas sobre o que o psicólogo faz,concretamente, nos contextos em que atua e sobre algumas características desses contextos. Aqui, fica evidente a diversidade da Psicologia e da atuação prática do psicólogo e que há formas diferentes que as atividade profissionais assumem, além também de mostrar como são 5 variados e múltiplos os seus locais de atuação, os tipos humanos e a variedade de pessoas com as quais os psicólogos têm contato no cotidiano profissional, dependendo dos diferentes contextos nos quais eles desempenham suas atividades. O objetivo é bastante simples: que os leitores ganhem familiaridade com alguns termos que devem ser novos, mas que são comumente utilizados entre os psicólogos. O autor inicia sua exposição apresentando os contextos em que tais atividades se dão. Isto é, as ações profissionais dos psicólogos se dão dentro de um determinado contexto que as afeta e é afetado por elas. É importante ter em mente que as atividades realizadas pelo psicólogo acontecem em um determinado local, com determinadas características, relacionando-se com seres humanos específicos, provenientes de determinados segmentos sociais e culturais, dentro das condições socioeconômico-culturais do país, em um dado momento de sua história. A diversidade de contextos implica a diversidade de objetivos e de necessidade a serem atendidas. Ao mesmo tempo, na medida em que o profissional desempenha suas atividades, vai transformando, igualmente, esses contextos de atuação. Devido a esta interação, o autor começa caracterizando alguns contextos mais comuns e depois nomeará algumas atividades mais frequentes dos profissionais. Bettoi começa falando dos contextos que envolvem a saúde. Esses contextos envolvem uma ampla variedade de locais de atuação, de clientela, de objetivos e de necessidades. Envolvem a saúde do cidadão e das comunidades, desde o trabalho em consultório particular, até instituições públicas e privadas ou postos de saúde (UBS, CAPS, entre outros). Existem também os contextos que envolvem a educação e a escola. Envolvem as instituições de ensino, particulares ou públicas. Inclui escolas do sistema formal de ensino e outros locais que tem por objetivo a educação e a aprendizagem. Atua na mediação de conflitos, englobando o contexto familiar, social, cultural e incentiva a tomada de consciência pelas pessoas. Outros contextos são aqueles que envolvem o trabalho do homem nas organizações. Aqui, o que está em jogo é o trabalho dos cidadãos em organizações, como nas empresas e nos órgãos de administração pública. O psicólogo atua para fornecer recursos humanos adequados à organização, garantindo-lhes condições de trabalho para que se fixem nela. As ações pretendem humanizar e aprimorar as relações de trabalho que se dão nesse contexto. Há também os contextos que envolvem o trabalho institucional e comunitário, que possuem um espectro e diversidade de atuação bastante amplos. Envolvem a atuação em orfanatos, asilos ou instituições equivalentes. A instituição envolve também o trabalho de 6 profissionais em instituições de atendimento psicológico a deficientes, nas ONGs, em sindicatos e associações profissionais, em clubes e entidades esportivas, em instituições da Justiça (presídios, Varas da Família, Juizado do Menor etc.), em agências de Publicidade, centros psicotécnicos para exame de motoristas, em entidades comunitárias, entre outros. Por fim, temos os contextos que envolvem a Pesquisa, que visa especificamente à produção do conhecimento psicológico, ela se dá em contextos voltados para esse objetivo, como as universidades. No Brasil não é muito frequente, mas existem pesquisas psicológicas realizadas fora das universidades, como nas empresas privadas, por exemplo. Devemos entender a pesquisa como uma forma sistemática de buscar respostas para perguntas sobre os fenômenos psicológicos, logo, ela não se restringe aos contextos de trabalho dos psicólogos-professores, mas também se estende aos profissionais do mais diversos contextos. Em seguida, Bettoi adentra no campo da diversidade de atuação do psicólogo, descrevendo algumas das atividades mais comuns dos psicólogos nos diversos contextos mencionados acima. A primeira são as atividades de coleta e avaliação sistemáticas de informações, a observação, a aplicação de testes e outros instrumentos e a entrevista. A observação é uma das mais básicas e essenciais atividades do trabalho do psicólogo, já que a Psicologia, como ciência, implica a produção de conhecimento que seja metódico e crítico. Assim, o psicólogo observa sistematicamente o fenômeno estudado. Há regras e técnicas para a observação, podendo ser em ambiente natural, em que o fenômeno ocorre livremente, ou em uma situação planejada, em que o psicólogo cria uma situação específica para o sujeito e o observa nela. A aplicação de testes e outros instrumentos se refere a métodos utilizados para identificar e conhecer os mais variados tipos de fenômenos. Existem testes de personalidade, testes de desempenho intelectual etc. A entrevista é a atividade de entrevistar pessoas com um objetivo bem definido, é uma atividade planejada e que deve ser realizada segundo determinadas regras. A entrevista pode ser realizada ao vivo, face-a-face, bem como através de questionários, respondidos pelo próprio indivíduo. Nos contextos de saúde, fala-se em psicodiagnóstico para se referir ao conjunto dessas três atividades, com o objetivo de identificar os fatores que caracterizam um indivíduo. No contexto educacional, pode-se encontrar o psicólogo observando uma criança interagindo com seus colegas no intervalo, entrevistando uma mãe sobre o comportamento da criança, aplicando um teste de nível intelectual etc. No contexto organizacional, quando se fala em seleção de pessoal pode-se observar, da mesma forma, a aplicação dessas atividades. No 7 contexto institucional, o psicólogo judiciário pode realizar estas atividades para fornecer um laudo psicológico que subsidiará a decisão de um juiz. No contexto da pesquisa, a observação, a entrevista e a aplicação de instrumentos são atividades essenciais para a produção de informações sistemáticas sobre os fenômenos investigados. A segunda principal atividade diz respeito à psicoterapia. Nela, o psicólogo aplica um conjunto de técnicas e métodos psicológicos, cujas características e objetivos podem variar, dependendo das concepções teóricas tidas como referencial para o profissional. Nos contextos educacionais e do trabalho, a psicoterapia não é frequentemente utilizada, sendo uma prática mais comum o psicólogo encaminhar a pessoa para um psicoterapeuta, quando julgar necessário. A atividade psicoterápica é desempenhada principalmente em contextos da Saúde, em especial nos consultórios particulares. Em outros ambientes, como hospitais, a prática tradicional, individual, torna-se bastante inviável, o que leva os psicólogos à utilização de técnicas grupais ou outras atividades mais apropriadas. A terceira atividade trata do aconselhamento e orientação, atividade voltada para uma situação mais específica que caracteriza o momento de vida de um indivíduo ou de um grupo. No aconselhamento, assume-se uma posição que é, principalmente, mais educativa. A orientação e aconselhamento aparecem em contextos hospitalares, em orientações para grupos de pacientes e seus familiares; em um posto de saúde, na orientação, por exemplo, de mães ou gestantes; em uma escola, na orientação vocacional ou sexual, etc. A orientação e o aconselhamento também podem ser atividades desempenhadas juntos a outros profissionais, como no trabalho conjunto entre professores e psicólogos, e também em outros contextos. Por fim, a última atividade tratada pelo autor são as atividades junto a equipes multiprofissionais e multidisciplinares. Especialmente junto aos contextos de Saúde e Institucionais, a concepção de que a promoção da saúde integral do indivíduo deve ser o objetivo principal de várias instituições, tem levado à necessidadedo psicólogo atuar junto a outros profissionais. Nessas equipes o que se pretende é que a compreensão total do indivíduo seja possível através da soma e complementação dos conhecimentos específicos dominados por cada profissional. Em suma, esse texto serviu para que o estudante de Psicologia se familiarizar com alguns termos mais comuns relacionados às atividades dos psicólogos e apresentar informações básicas sobre as principais atividades e alguns dos contextos em que elas são desempenhadas. 8 TEXTO 3 “A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EM CONTEXTOS ESPECÍFICOS” Neste texto, foi possível encontrar informações gerais sobre a atuação do psicólogo em contextos específicos. Essas informações complementam as informações do Texto 2, apresentando algumas particularidades dos diversos contextos mencionados. O texto foi dividido em algumas partes; - A atuação do psicólogo no contexto da Saúde Na Psicologia Clínica, via de regra, o contato do profissional com sua clientela é feito pessoal e individualmente com o objetivo de promover sua saúde mental, através da resolução de seus problemas. Caracteriza-se pelo fato do profissional aplicar os métodos e técnicas que a Psicologia desenvolveu ao longo de sua história. Esse modelo tradicional recebe algumas críticas quanto à sua abrangência social. Os críticos defendem a criação e o desenvolvimento de novos modos de atuação, mais apropriados aos novos contextos de atuação, especialmente aqueles que envolvem os serviços públicos de saúde e algumas instituições. As principais atividades realizadas na clínica foram mencionadas no Texto 1: psicodiagnóstico, aconselhamento, orientação (supervisão). A prática multiprofissional não é muito comum entre os clínicos particulares. Quanto à população atendida, pelos altos custos que implica, não permite acesso generalizado a toda população. Pode haver também a especialização em faixas etárias ou grupos específicos. A atuação da Psicologia Hospitalar experimentou grande desenvolvimento nas últimas décadas, o que levou, na prática, à necessidade do profissional refletir sobre esse contexto específico. O hospital é um contexto em que a doença ocupa o lugar de destaque e o indivíduo doente é o foco principal da atenção dos profissionais da saúde. Segundo Terezinha C. Campos (1995), o papel do psicólogo hospitalar é contribuir para a humanização do hospital, contexto que busca proporcionar a manutenção do bem-estar físico, social e mental do homem. O indivíduo, dessa forma, não se resume à sua doença, mas é um ser humano complexo e é esse “todo” humano que precisa ser considerado. As atividades mais frequentemente exigida do psicólogo hospitalar são a orientação e o aconselhamento e a psicoterapia breve. O psicodiagnóstico e outras várias formas de avaliação são aplicadas quando necessário. A atividade de ensino e pesquisa também aparece sendo aplicada pelos psicólogos em hospitais. Em todas essas atividades, a atuação em 9 equipes multiprofissionais é característica essencial do trabalho psicológico no contexto hospitalar. Já na Psicologia Institucional e Comunitária, as instituições nas quais os psicólogos podem atuar são inúmeras, com os mais variados objetivos. Entretanto, o que elas têm em comum é que aqui está em foco a Saúde da população, em seus múltiplos aspectos. Promover a Saúde também é objetivo do trabalho do psicólogo em Comunidades ou Instituições que envolvem coletividades específicas, como Associações de Bairro e Comunitárias, Sindicatos e Associações Profissionais. Nessa ampla variedade de locais em que o psicólogo atua, pode-se observar a presença tanto do modelo clínico tradicional, quanto à presença de atividades mais apropriadas às características dessas instituições. O psicólogo nesses contextos entra em contato com muitas pessoas diariamente, assim, há a necessidade do desenvolvimento de métodos e técnicas para dar conta das demandas sociais que se apresentam ao psicólogo. Deve-se notar que segmentos da população que anteriormente não eram beneficiados pelo trabalho psicológico agora o são, quando se observa que um número grande dessas instituições tem a população mais pobre como a diretamente atendida. - A atuação do psicólogo em contextos escolares No contexto educacional, a atuação do psicólogo é vista basicamente como a atuação de um educador. O psicólogo mais um dos profissionais envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. Nessa medida, os conhecimentos sobre o desenvolvimento humano, processos de aprendizagem e sobre relações humanas são postas em prática para garantir que a aprendizagem ocorra da melhor forma possível. Entre as principais atividades do psicólogo escolar podemos citar: a) planejamento curricular; b) treinamento de professores; c) contato com a família; d) orientação de alunos; e) organização do espaço educacional. Analisando essas atividades, pode-se observar que a atuação do psicólogo aqui é eminentemente preventiva. O foco de interesse principal está aplicado na coletividade dos alunos e não neste ou naquele aluno individual. Tudo que o educador faz se reflete naquela comunidade de alunos. - A atuação do psicólogo no contexto organizacional e do trabalho A atuação do psicólogo no contexto organizacional e do trabalho é o de fornecer à organização os recursos humanos necessários. A humanização das relações de trabalho deve ser um princípio que orienta esse objetivo. 10 As principais atividades são o recrutamento e seleção de pessoal e treinamento. O recrutamento recruta candidatos a ocuparem determinadas vagas na empresa. Pode ser feito dentro da própria empresa ou também fora dela. O psicólogo deve conhecer o perfil do funcionário ideal para ocupar uma vaga. O treinamento se refere à aprendizagem dos indivíduos e o psicólogo é chamado a desenvolver programas de treinamento entre os funcionários de forma a melhorar seus desempenhos. Dessa forma, o trabalho do psicólogo organizacional é majoritariamente, mas não exclusivamente, preventivo. Isso não significa que em determinadas situações o psicólogo não seja chamado para a resolução de problemas, tendo aí, uma atuação remediativa. - Atuação do psicólogo no contexto da pesquisa Por fim, no contexto da pesquisa, o psicólogo atua desenvolvendo cotidianamente pesquisas, normalmente no ambiente universitário. Fazer pesquisa implica um conjunto de atividades específicas, voltada para a busca de respostas para questões que envolvem os mais variados aspectos da psicologia humana. TEXTO 4 “ALGUNS CRITÉRIOS PARA A REFLEXÃO SOBRE A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO” Este texto apresenta um relato da história e ideologia da profissão do psicólogo no Brasil. Apresenta de forma esquemática alguns eventos que são partes dessa história, além de comentar alguns pontos na literatura produzida pelos estudiosos da área. Batista (2000), ao analisar o desenvolvimento científico e profissional da Psicologia no Brasil, aponta três marcos importantes para nossa história: a) um primeiro marco, constituído pelas origens histórica da Psicologia, no período colonial e seus primeiros desenvolvimentos, com sua inclusão, como disciplina, nos currículos dos cursos de Medicina no Rio de Janeiro e na Bahia, no final do século XIX, passando pela criação de laboratórios experimentais e por sua aplicação, como Psicologia Científica, em instituições psiquiátricas e educacionais, já no início do século XX; b) um segundo marco, chamado de fase profissional, inaugurado pela abertura dos cursos de Psicologia e pela regulamentação da profissão em 1962. Houve também, na década de 1970, a expansão do número de escolas de Psicologia, em função da política oficial de abertura do Ensino para a iniciativa privada; c) um terceiro marco, que se inicia com a inserção dos psicólogos nos serviços públicos de saúde. No final da década de 70, começa o movimento de abertura de mercado para as instituições públicas, com o aumento do número de psicólogos nelas. Esse movimento se 11 expandiu muitolentamente nos anos seguintes e ocorreu em estreita relação com o contexto histórico-político-econômico, salientado pelas políticas públicas de saúde e a crise social nos anos 80, levando ao afastamento da clientela dos serviços privados. Quando falamos em ideologia, pensamos em discutir questões como quais os partidos que temos tomado, como psicólogos, em relação às coisas do mundo, aos interesses que servimos e o que nossas ações produzem nos outros. Uma das questões que se colocam diz respeito à nossa função social, isto é, a quantos e a quem temos atingido e qual é o significado dos efeitos produzidos por nossa atuação. A função social, então, deve ser entendida como os efeitos do trabalho do profissional sobre a sociedade, o que deve ser pensado em termos de abrangência e de significado. Nossa abrangência social tem sido, historicamente, bastante restrita. É consenso que poucos brasileiros têm sido atingidos diretamente pela nossa atuação profissional, constituindo-se eles na parcela mais privilegiada da nação. Apenas recentemente a psicologia tem se aproximado das classes mais pobres. Desde o final da década de 70 e início de 80, pudemos observar o interesse de estudiosos por uma discussão da função social do psicólogo. Discutindo a função social, Campos (1983) nos remete à origem de nossa profissão no contexto das sociedades capitalistas da Europa, no final do século XIX, dominadas pela ideologia liberal que serviam à função de mascarar desigualdades produzidas pela divisão de classes. É nesse contexto que a prática do psicólogo passa a ser requerida, principalmente para exercer a função de adaptação e colaboração à reprodução da dominação de classe. A ideologia liberal pressupõe um modelo de indivíduo, que é visto como autônomo, desvinculado dos determinantes de sua cultura. Ao longo das décadas de 80 e 90, Moura (1999) associa o fato de o psicólogo estar insatisfeito com sua formação e começar a ter necessidade de aproximar-se de contextos sócio-culturais desconhecidos, em função da saturação do mercado para a área clínica privada. Campos (1983) acredita que, em função dessa saturação, o psicólogo se viu obrigado a prestar seus serviços à população de menor renda e é neste ponto que o profissional pode encontrar a possibilidade de lutar contra a dominação histórica. Esse movimento, de qualquer forma, levou ao questionamento dos modelos de atuação do psicólogo. Essa discussão contribuiu para que o alcance social da profissão fosse criticado e produziu uma série de iniciativas no sentido de dar à profissão uma função social mais significativa. 12 Pode se dizer, portanto, que apesar de a profissão ter experimentado alguns avanços nas últimas décadas, no que diz respeito à sua relevância social, estes avanços serviram para que a categoria experienciasse o contato concreto com problemas, de alguma forma já antecipados pelos trabalhos de reflexão de alguns autores sobre a profissão. Ou seja, nosso modelo típico de atuação, aplicado na prática, junto aos novos contextos, com populações mais pobres, mostrou-se inviável em muitos aspectos, impedindo que a população se beneficiasse efetivamente com nossa atuação. Nossa atuação ainda necessita, indubitavelmente, ser objeto de estudos e reflexões para que possa cumprir seu papel de área do saber comprometida com a mudança social.
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