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18/05/2022 15:20 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/20 GOVERNANÇA CORPORATIVA E COMPLIANCE AULA 1 18/05/2022 15:20 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/20 Profº Luiz Eduardo Lanzini CONVERSA INICIAL A governança corporativa, segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, é o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas. Ao longo dos anos, a evolução dos modelos de gestão das empresas passou a sugerir melhorias na combinação dos recursos e retornos aos investidores. Em determinados momentos, essas situações foram amplamente questionáveis, e o que se evidenciou é que nem sempre os comportamentos das pessoas, e por consequência das organizações, foram ao encontro do atendimento de interesses amplos. Por consequência, o modelo de governança corporativa não se apresenta com um desenho único, aplicável de maneira única para todos os negócios. Por isso, há várias interpretações disponíveis e também vários conceitos. Além disso, ela envolve questões legais, macroeconômicas, financeiras, estratégicas e de gestão, amarradas às diferentes condições culturais de cada país. Esta aula apresenta a evolução da formação das empresas, os fatos vinculados que permitem a organização de pessoas em direção a um negócio comum, e características das corporações contemporâneas com base no entendimento da “Teoria da Firma” de Jensen e Meckling. Tais autores estabelecem a teoria da estrutura da propriedade da firma a partir da integração entre elementos da teoria da agência, da teoria dos direitos de propriedade e da teoria de finanças. Esses conceitos são repetidos durante todo a nossa disciplina. Tais situações previstas nos modelos teóricos visam a análise de eventuais conflitos entre os agentes econômicos estabelecidos e eventuais custos de transação pelas ações coordenadas pelos agentes. Dessa forma, essa aula ainda apresenta as principais partes interessadas e também os conceitos de Governança Corporativa. CONTEXTUALIZANDO 18/05/2022 15:20 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 3/20 A Empresa Boa era considerada uma empresa familiar com operações concentradas em um país em desenvolvimento. Precisava mostrar ao mercado que era uma empresa aberta e confiável, como outras empresas reconhecidas em todo o mundo. Nos últimos anos, a adoção de melhores práticas de governança corporativa deu a credibilidade que o mercado exige de uma “empresa nova no mercado”. Internamente, isso significou ser mais transparente, dispor de melhores informações e ser capaz de aprimorar a tomada de decisões. Para manter o seu crescimento de maneira sustentável, a empresa precisava captar recursos para financiar seus planos de expansão. Os gestores dessa empresa citam com frequência a necessidade de acesso ao capital como o principal motivo para iniciar melhorias na governança corporativa. O acesso a novos recursos também pode trazer uma redução do custo de capital. Em última análise, porém, o sucesso da empresa depende da capacidade de acessar o financiamento externo. Quanto mais uma empresa cresce, maior a necessidade de capital adicional. Assim, um dilema para os atuais proprietários e executivos de negócios é: De que forma as empresas podem ter acesso ao dinheiro de outros investidores? As boas práticas de governança podem contribuir para essa situação? TEMA 1 – FORMAÇÃO DAS EMPRESAS E A TEORIA DA AGÊNCIA A crescente importância das empresas, independentemente do seu tamanho (em geral acumulando várias atividades), gera preocupações tanto em relação à própria empresa, a partir de ganhos com a valorização dos seus investimentos, como também em relação aos ganhos para o mercado, representado pelos clientes, pois são aqueles que usufruem dos bens produzidos. Também é natural uma preocupação em gerar ganhos para a cadeia produtiva, representada por fornecedores, para os colaboradores remunerados e, por que não, para o próprio governo, que arrecada recursos e pode melhorar as condições sociais de um determinado local. 1.1 FORMAÇÃO DAS EMPRESAS A concepção de empresas, ou o objetivo da formação do sistema empresarial capitalista, aparece em diversas teorias econômicas, com forte influência da visão de funcionamento do sistema econômico. Rossetti e Andrade (2014) descrevem que as derivações históricas mais reconhecidas 18/05/2022 15:20 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 4/20 dessas visões são as seguintes concepções: a Idealista de Sombart; a Racionalista de Weber; e a visão crítica de Marx. Podemos definir uma empresa da seguinte forma: Uma empresa uma entidade legal que estabelece contratos com fornecedores, distribuidores, empregadores, e frequentemente como clientes. É também uma entidade administrativa, já que havendo divisão do trabalho em seu interior, ou desenvolvendo mais de uma atividade, uma equipe de administradores se faz necessária para coordenar e monitorar as diferentes atividades. Uma vez estabelecida, a empresa se torna um conjunto articulado de qualificações, instalações e capital líquido. Finalmente em nome de lucros, empresas tem sido e são instrumentos de economias capitalistas para a produção de bens e serviços e para o planejamento e a alocação para produção e distribuição futuras (Chandler, 1992, citado por Kupfer; Hasenclever, 2002, p. 24). Em meio a rebeliões sociais de ideais liberais na Europa do final do século XVIII e início do século XIX, formou-se nova estrutura industrial e, por consequência, nova estrutura de negócios. Com predomínio na Inglaterra, que liderou essa fase inicial de capitalismo industrial, novas tecnologias, como a máquina a vapor e as tecnologias siderúrgicas, permitiram o desenvolvimento de indústrias que substituíram o modelo artesanal. Outro fator importante é que as tecnologias também levaram à “expansão territorial” via aprimoramento dos meios de transportes e infraestrutura. O clássico modelo de transporte ferroviário e indústria naval permitiram novos níveis de comércio, interligando inclusive mercados internos, como percebido nos EUA via expansão para a região oeste, e também para o comércio internacional. Nesse momento, a lógica racionalista de utilização plena dos recursos traz algumas discussões e conflitos relacionados à combinação de crescimento dos lucros a qualquer custo, inclusive com dano ambiental e exploração de trabalho. Em um segundo momento, já no final do século XIX e início do século XX, principalmente a partir da economia norte-americana, se apresenta ao sistema corporativo o aprimoramento da primeira fase trazida pela Revolução Industrial. A produção em escala, representada pelo modelo de Henry Ford, inaugura inclusive estudos sobre a área de negócios, como os estudos de tempos e movimentos de Taylor, permitindo o alicerce da ciência da administração como estudamos hoje. Em dez anos (entre 1908 e 1917), o modelo Ford T partiu de vendas unitárias de aproximadamente 10 mil unidades por anos, a um preço médio de US$ 850,00, a uma produção de 730 mil unidades, com redução no seu preço em mais de 50%, custado aos clientes dessa empresa, ao final de 1917, módicos e acessíveis US$360,00. Tal situação demonstra a capacidade de coordenar trabalhos e qualificações, conforme descreve Chandler em sua definição. 18/05/2022 15:20 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 5/20 Esses contextos alicerçam o conceito de empresas como nós conhecemos. Durante o século XX e início deste século, também ocorreram eventos que influenciaram e aperfeiçoaram a atual configuração empresarial, como será apresentado oportunamente em outros materiais. A constatação é que, em diversos momentos críticos, como guerras, crises econômicas e sociais, com avançostecnológicos, entre outros, houve a necessidade de integrar os interesses múltiplos que surgiram, contribuindo para o aperfeiçoamento da governança. 1.2 AMBIENTE INSTITUCIONAL E A TEORIA DA AGÊNCIA O avanço das novas configurações empresariais, dado pela combinação de novo arranjo social e tecnologia, foi fundamental para a formação das corporações, como demonstrado anteriormente. Porém, outra condição também deve ser considerada para o sucesso dessa evolução, que é o ambiente institucional. O ambiente institucional corresponde a um sistema de normas (restrições informais, regras formais e sistemas de controle) que afeta o processo de transferência dos direitos de propriedade nas relações econômicas entre os agentes econômicos. As relações entre os agentes econômicos foram tão importantes para moldar as empresas quanto a própria tecnologia, por exemplo. As mudanças na escala de produção e desempenho das empresas trouxeram também outras modificações nas estruturas econômicas. A remuneração da força de trabalho e os ganhos sobre recursos investidos permitiram a acumulação de capital. Tal situação é prevista como um modelo virtuoso do sistema capitalista, pois permite maior consumo (pela renda) e também uma nova rodada de investimentos. Nessas condições, o aumento da escala e do sortimento de novas empresas trouxe novas oportunidades. De acordo com Rossetti e Andrade (2014), corporações e sociedades acionarias não são instituições novas. Inicialmente, antes da revolução industrial, as chamadas corporações de artes e ofícios convergiam atividades dos artesãos nos seus interesses, direitos e deveres. A definição dos preços e o estabelecimento de certa ordem econômica culminou na organização do comércio em determinado local. Ocorre que o excedente de produção poderia ser levado a outra localidade para comercialização. Nesse cenário, surge a figura do “rentista”, que é o agente com poupança para investir no excedente de produção e levar os produtos para outros mercados. Combinando interesses de produtores e diversos rentistas, consolida-se o modelo das “companhias licenciadas de comércio”. Assim, essas condições proporcionaram o entendimento preliminar do que hoje conhecemos como 18/05/2022 15:20 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 6/20 sociedade por ações, ou seja, o agrupamento de diversos rentistas em torno de uma atividade, buscando maiores ganhos para o seu excedente monetário, não necessariamente com um “artesão”. A sociedade por ações (também conhecida como sociedade anônima) tornou-se mais que simplesmente uma forma de captar recursos para novos investimentos nos negócios – é uma das mais importantes formas de organizar uma empresa. Apesar do gigantismo de algumas empresas, desaparece o controle absoluto de poucas pessoas que definiriam condições e modelos de gestão da empresa. A combinação de interesses direciona as ações empreendidas e a pulverização da “sociedade”, devidamente regulamentada, indica que o planejamento e o controle do negócio exigem certos princípios que atendam aos anseios equilibrados de todos. A separação entre a propriedade do capital e a gestão do negócio é um ponto a ser analisado e entendido. Sem dúvida, essa configuração estabelece os pilares da governança corporativa. Buscar o equilíbrio entre as entradas e saídas, essencialmente para se obter resultados, é um objeto de estudo da ciência econômica. Explicar como os objetivos, mesmo conflitantes, entre os agentes, permite esses ganhos, é um modelo proposto pela chamada “Teoria da Agência”, que define uma relação de agência como um contrato sob o qual uma pessoa emprega outra pessoa para executar um serviço em seu nome. Jensen e Meckling (2008) definem que a pessoa que emprega, denominada como “principal”, delega algum poder para a realização do serviço a um “agente”. O foco da teoria é justamente determinar um modelo de contrato mais eficiente que rege tal relação. Há a necessidade de se resolver a relação entre o principal e o agente, decorrente do natural conflito de expectativas. Além disso, diferentes atitudes, como a percepção de risco e a necessidade do principal de acompanhar se o serviço delegado está sendo feito adequadamente pelo agente, são premissas importantes inclusive para definir os princípios de Governança. Além de propor uma identificação de estrutura de capital ótima, Jensen e Meckling (2008) lançam uma nova luz sobre a perspectiva da estrutura da empresa, que traz implicações para uma série de questões abordadas pela literatura sobre o tema, como a definição de empresa (firma), a “separação entre posse e controle”, a “responsabilidade social” do negócio, e a definição de uma “função objetiva corporativa”. Os autores ainda destacam que a especificação dos direitos individuais no equilíbrio destacado define como “custos” e “recompensas” serão distribuídos entre os participantes em qualquer 18/05/2022 15:20 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 7/20 organização. Pelo fato de a determinação dos direitos ser, em geral, afetada pelos contratos firmados (tanto os implícitos quanto os explícitos), o comportamento individual nas organizações, incluindo o comportamento dos administradores, dependerá da natureza desses contratos. Nesse sentido, preocupa-se principalmente com questões de direito de propriedade e instrumentos usados pelas instituições para normatizar e fiscalizar as transações entre os agentes. De certa forma, a Governança Corporativa se apresenta como conceito que pode levar todos os aspectos de ganhos e eventuais perdas para todas as partes interessadas que envolvem a atividade empresarial. Os efeitos prejudiciais provocados pelas atividades de um negócio podem assumir uma ampla variedade de formas, e por isso é importante entender a formação das empresas e o chamado ambiente corporativo para identificar a lógica de ações que as empresas podem propor para que consigam atingir resultados desejáveis. TEMA 2 – CONCEITOS DA GOVERNANÇA CORPORATIVA O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC, define em seu código de boas práticas o conceito de Governança Corporativa: “Governança corporativa é o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas” (IBGC, 2015). Ainda segundo o instituto, as boas práticas de governança corporativa devem converter princípios básicos em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor econômico de longo prazo da organização, facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para a qualidade da gestão da organização, sua longevidade e o bem comum. Embora às vezes confundido com as práticas de “Cidadania”, “Responsabilidade Social”, “Investimento Socialmente Responsável”, “Ética nos Negócios”, entre outros, a Governança Corporativa é mais abrangente e reforça todos esses conceitos e práticas isoladas. A preocupação da governança corporativa é criar um conjunto eficiente de mecanismos, tanto de incentivos quanto de monitoramento, a fim de assegurar que o comportamento dos executivos responsáveis pela gestão de uma empresa esteja sempre alinhado com o interesse dos acionistas e das demais partes interessadas de um negócio. 18/05/2022 15:20 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 8/20 2.1 PRINCÍPIOS BÁSICOS Os princípios que norteiam as boas práticas de governança corporativa constituem uma combinação entre transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade empresarial, conforme o quadro a seguir. Quadro 1 – Princípios Transparência Consiste no desejo de disponibilizar para as partes interessadas as informações que sejam de seu interesse e não apenas aquelas impostas por disposições de leis ou regulamentos. Não deve restringir- se ao desempenho econômico-financeiro, contemplandotambém os demais fatores (inclusive intangíveis) que norteiam a ação gerencial e que condizem com preservação e otimização do valor da organização. Equidade Caracteriza-se pelo tratamento justo e isonômico de todos os sócios e demais partes interessadas (stakeholders), levando em consideração seus direitos, deveres, necessidades, interesses e expectativas. Prestação de contas (Accountability) Os agentes de governança devem prestar contas de sua atuação de modo claro, conciso, compreensível e tempestivo, assumindo integralmente as consequências de seus atos e omissões e atuando com diligência e responsabilidade no âmbito dos seus papeis. Responsabilidade corporativa Os agentes de governança devem zelar pela viabilidade econômico-financeira das organizações, reduzir as externalidades negativas de seus negócios e suas operações e também aumentar as positivas, levando em consideração, no seu modelo de negócios, os diversos capitais (financeiro, manufaturado, intelectual, humano, social, ambiental, reputacional etc.) no curto, médio e longo prazos Fonte: Elaborado com base em IBGC, 2015. Segundo Lodi (2000, citado por Alencastro; Alves, 2017), o princípio da responsabilidade corporativa pode ser interpretado como compliance, termo em inglês que abarca o conjunto de disciplinas que fazem cumprir as normas legais e regulamentares, além das políticas e diretrizes estabelecidas para o negócio e para as atividades da instituição. Esse conceito será abordado mais a fundo em outras aulas. Ainda, para Alencastro e Alves (2017), todos os princípios têm como fundamento a preocupação com a repercussão das atividades desenvolvidas pela empresa, de modo que proporcionem bem- estar à sociedade. Esses princípios, combinados com a estrutura organizacional da empresa, e ainda com comitês como conselhos de administração, fiscal e auditoria, por exemplo, e as demais partes interessadas, 18/05/2022 15:20 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 9/20 definem o “sistema” para a prática de governança corporativa. Figura 1 – Regulamentação Fonte: IBGC, 2015. Essas circunstâncias impõem uma visão ampliada da função das empresas e do seu impacto no ambiente. A premissa contrária é verdadeira. 2.2 DIFICULDADES EM IMPLANTAR A GOVERNANÇA CORPORATIVA Embora com base consistente para se implantar as boas práticas de Governança Corporativa, como demonstrado anteriormente nos princípios e na própria contextualização dos negócios, na prática pode-se observar alguns problemas para o sucesso desse modelo de gestão. Em países de economia desenvolvida e mercado acionário consolidado, por exemplo, identifica-se um certo controle da empresa sendo pulverizado, causando problemas de representação entre acionistas e executivos. Por outro lado, ainda assim é fácil perceber CEOs ou Presidentes Executivos que constroem verdadeiros impérios e são referenciados e facilmente associados às empresas que eles conduzem. Recentemente, na crise do crédito imobiliário de 2008, principalmente nos EUA, criticou- se a remuneração excessiva (incluindo opções de compra de ações) de certos executivos. 18/05/2022 15:20 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 10/20 Ainda no mercado financeiro, há registros de uso indevido de informação privilegiada (insider trading) e mecanismos/manobras de defesa. Em geral, o problema com relação ao controle de informações, ou falta de abertura de informações (manipulação) para o setor privado, além da divulgação indevida de informações para o setor público (e também privado), geraram enormes desgastes empresariais. Para finalizar, também são observados problemas de controles internos e externos, como em auditorias comprometidas e ausência de independência do auditor. Para economias emergentes, há um certo controle concentrado, que gera problemas de representação entre acionistas controladores e acionistas minoritários. A falta de profissionais capacitados implica conselhos e executivos ineficientes. Nesses países, a insegurança quanto ao ambiente e a decisões jurídicas contribui para pouca transparência e planejamento de longo prazo comprometido. Ainda nesse ambiente econômico, questões relacionadas à sucessão, principalmente em empresas familiares, passam a ser um problema às vezes incontornável. Situações críticas de controladoria e auditoria também estão presentes para as empresas em países emergentes. Essas situações serão detalhadas em outros tópicos. TEMA 3 – 8 P’S DA GOVERNANÇA CORPORATIVA A governança corporativa, como apresentado até então, é um conjunto de princípios expressos em códigos ou normas de conduta, que devem estar presentes nas ações e responsabilidades dos diversos órgãos que exercem algum papel na estrutura das empresas. Os valores que nortearam esses princípios, como transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade, interagem com diversas perspectivas, e vinculam diferentes conceitos. Rossetti e Andrade (2014) sintetizem esses vínculos por “8 Ps”: 1. Propriedade: atributo de identificar os proprietários da empresa, também chamados de investidores, acionistas ou ainda sócios. Como verificado, esse conceito pode ser representado por uma empresa formada com capital pulverizado através de cotas (ações). Geralmente, essas empresas são grandes corporações, com suas ações sendo negociadas em bolsa de valores. A descrição e as boas práticas de governanças são fundamentais. Porém, há empresas familiares ou pequenos e médios negócios com a sua estrutura de capital fechado; essas empresas têm uma estrutura de propriedade menor, o que não as impede de adotar boas práticas de governança corporativa pelos princípios de transparência e prestação de contas e 18/05/2022 15:20 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 11/20 responsabilidade. Geralmente, empresas familiares estão neste grupo. Também podemos considerar a identificação de propriedade pelo ente público ou com empresas estatais, embora com outra lógica de interesse sobre o capital investido, além da necessidade de cumprir os requisitos fundamentais de governança. 2. Princípios: os chamados princípios “inegociáveis”, já descritos. Vale relembrar: transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade. 3. Propósitos: identifica o objetivo ou razão de existência do negócio. O objetivo legítimo de retorno máximo ao investidor é, por consequência, gerar riqueza. Porém, como identificado na conceituação da boa prática, tal condição estabelece a necessidade de harmonizar o retorno com os interesses das demais partes interessadas. 4. Papéis: a formação complexa do sistema empresarial qualifica papéis diferentes a serem exercidos na empresa. O grande desafio é estabelecer os limites de cada papel e como deve ocorrer a interação entre eles. Os papéis de acionista, gestor e conselho, de colaborar ou executar atividades operacionais, às vezes são confundidos ou exercidos concomitantemente. O delineamento desses papéis é apontado como um fator importante a ser avaliado na descrição da governança corporativa. 5. Poder: o poder é estabelecido pela estrutura organizacional necessária para a organização da empresa. Inclui uma discussão sobre a legitimidade e o limite de atuação das pessoas designadas em diferentes funções, além da necessidade de tomada de decisão. 6. Práticas: iniciativas e rotinas de ações alinhadas com as descrições da governança da empresa. A partir das definições estruturais, define-se a relação funcional entre as estruturas. Execução e controle são os resultados esperados. 7. Perenidade: o objetivo da boa prática de Governança Corporativa é mediar necessidades de curto prazo com resultados de longo prazo, sinalizando uma sustentabilidade ou perenidade. 8. Pessoas: a base de qualquer perspectiva. Independentemente de qualquer arranjo organizacional, as pessoas são elementos-chave para o processo. Nesse quesito, além das questões definidas em “papéis”, também consideramos aspectos culturais,conflito de gerações, valores e tradições, entre outros. A boa interação entre as pessoas é o que deve prevalecer. 18/05/2022 15:20 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 12/20 Como tentativa de síntese, pode-se definir a governança como um conjunto de princípios, propósitos, processos e práticas, que articula o sistema de poder estabelecido entre as pessoas e seus papéis. Tudo é orientado para otimizar o resultado e garantir a sustentabilidade do negócio, em todos os sentidos. Figura 2 – Esquema conceitual Fonte: Elaborado com base em Rossetti; Andrade, 2014, p. 144. TEMA 4 – A ABORDAGEM DE STAKEHOLDERS Como já tratamos no decorrer da aula, falar sobre Governança Corporativa é considerar uma abrangência multidisciplinar. Por esse entendimento, podemos perceber que também há interesses legítimos de diversas partes interessadas aos princípios de governança. O termo na língua inglesa stakeholder é usado no nosso idioma para conceituar as partes interessadas, e essa definição é utilizada em diversas áreas de negócios, como por exemplo gestão de projetos, administração em geral e desenvolvimento de software. Em práticas de governança corporativa executadas pela empresa, podemos identificar alguns exemplos de stakeholders de uma empresa, a saber: Acionistas Investidores 18/05/2022 15:20 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 13/20 Empregados Fornecedores/subministradores da empresa Sindicatos Bancos e outros operadores de crédito Associações empresariais, revolucionais ou profissionais Comunidades nas quais a empresa tem operações: associações de vizinhos Grupos Normativos Governos municipais Governos estatais Governo federal ONGs Concorrentes Imprensa Consumidores Embora a classificação dessas partes interessadas varie muito, devido ao perfil ou natureza do negócio, Rossetti e Andrade (2014) propõem uma classificação em quatro categorias: 1. Stakeholders investidores ou genericamente proprietários 2. Stakeholders internos 3. Stakeholders externos 4. Stakeholders não integrado ou entorno 4.1 INVESTIDORES Os proprietários são os agentes principais. Tecnicamente, subscrevem e integralizam capital para a constituição da empresa. Detalhe importante é que o seu papel independe da participação ou não da gestão da empresa. Em empresas muito grandes ou de capital aberto, o número de acionistas geralmente é alto, possibilitando a “pulverização” do capital da empresa em diversas partes interessadas. Portanto, nesse caso, o que os detentores de capital da empresa esperam é que se tenha um direcionamento do negócio, possibilitando o máximo retorno de capital investido. Esse 18/05/2022 15:20 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 14/20 direcionamento é atribuído a um conselho de administração, entre outros conselhos formados para zelar pelos interesses dos investidores e de demais partes interessadas. 4.2 INTERNOS As partes interessadas envolvidas diretamente na geração e monitoramento dos resultados são chamadas “internos”. São membros participantes dos órgãos de governança, como conselho administrativo e outros. O principal interesse desse grupo é a segurança e o reconhecimento de trabalho, com salários e benefícios assistenciais e materiais, além é claro de oportunidades de trabalho. Esse grupo também tem especial interesse em remunerações por participação nos resultados. Em alguns casos, tal bonificação é a principal atratividade de executivos no mercado. Profissionais que já aplicaram modelos de gestão eficientes e trouxeram resultados são buscados no mercado e a eles são oferecidos bônus e participação atraentes. 4.3 EXTERNOS As partes interessadas definidas como externas são agentes que não compõem os quadros funcionais da organização e nem mesmo os órgãos de governança, porém estão integrados à cadeia de negócios da empresa. Nesse grupo, identifica-se por exemplo credores (bancos e outros agentes de crédito), fornecedores diretos e indiretos, empresas ou profissionais terceirizados, e ainda os clientes ou usuários finais (consumidores). De certo modo, até mesmo o modelo de franquias ou franchising pode considerar uma relação entre partes interessadas pelo modo “externo”, pois a relação entre as partes interessadas é combinada entre o franqueador e franqueada. Os interesses desse grupo passam pela capacidade de honrar seus compromissos financeiros com os credores, obviamente, e também com os fornecedores; passa também pela capacidade da empresa de estabelecer regularidade e desenvolvimento nos negócios. Para os clientes, considera-se ainda a expectativa de preços justos, em conformidade com entregas confiáveis e seguras. 4.4 ENTORNO (NÃO-INTEGRADO) Finalmente, para o grupo de partes interessadas não-integrada, tem-se como expectativa a geração de empregos e a contribuição para o desenvolvimento local e regional. Condições como adesão a práticas sociais, ambientais e econômicas permitem uma abrangência ainda maior deste 18/05/2022 15:20 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 15/20 grupo. Nesse caso, podemos identificar como integrantes desse grupo: a sociedade como um todo, o governo e seus agentes regulatórios, como receita federal, por exemplo, organização não governamental de diversas bandeiras e ainda potenciais fornecedores não diretos, como escolas. A abordagem de stakeholders para a governança corporativa identifica que todos os interesses das partes identificadas acima são legítimos; atualmente as empresas consideram essas condições para definir o seu planejamento de curto, médio e longo prazo. A dificuldade maior é atender as expectativas. Nem sempre os prazos da empresa com os agentes mencionados são coincidentes; dessa forma a governança corporativa desempenha um papel fundamental. O foco no retorno do investimento para acionistas encontra uma contrapartida na responsabilidade com os demais stakeholders. Não desvinculado a esse fato, observa-se a atuação e a divulgação dessas responsabilidades junto com a sociedade. Embora ainda se tenha noticiado infringências de aspecto legal e ético, observa-se uma preocupação das empresas em se tornarem “amigas” do meio ambiente e da criança, pois se mostram preocupadas em desenvolver economicamente um determinado local. São práticas efetivas e não simplesmente um discurso. Tal condição se deve à acomodação dos interesses de diversos agentes que envolvem os negócios. Ou seja, trata-se de reconhecer a legitimidade das demandas e procurar atendê-las. TEMA 5 – GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES MODERNAS Os conceitos relacionados à sustentabilidade e responsabilidade social não são novidade para o mundo empresarial atualmente. O reconhecimento das suas ações e a velocidade com que eventualmente notícias negativas possam circular devido à exposição em mídias sociais digitais é um exemplo de como a integração de diversos interesses é tida como de suma importância pelas empresas, sendo considerada como uma oportunidade de negócio inclusive. 5.1 RESULTADOS E PRINCÍPIOS A geração de valor ao acionista (investidor) e a maximização dos resultados é um lado de um modelo de gestão das organizações modernas. O outro lado é a capacidade de manter sustentáveis as ações propostas. O sentido de sustentabilidade utilizado aqui se refere à capacidade de as ações se perpetuarem no longo prazo. Teremos a oportunidade de perceber que os princípios e conceitos de governança corporativa foram moldados em exemplos de gestão de empresas; a priorização se 18/05/2022 15:20 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 16/20 deu por ação de consequência imediata, de curto prazo, infringindo a maturação de entendimento necessária e por consequência afetando negativamente interesses de outras partes envolvidas, como empregados, fornecedores, governo etc. É interessante perceber que a geração de valor e a maximização são vertentes complementares, que permitem abrangência para as boas práticas de governança – no terceirosetor, por exemplo, não faz buscar geração de valor ao acionista, dada a característica da organização; porém, a maximização dos resultados é plenamente aceita. A melhor eficiência na arrecadação de doações e a melhor utilização dos recursos disponíveis permitem essa otimização. Nesse caso, uma organização que atende uma comunidade carente, por exemplo, consegue implantar as premissas de governança corporativa mesmo que sua finalidade não seja especificamente “gerar lucro”. Desse modo, o princípio é manter equilibrados os interesses de diversos grupos, sejam internos, externos ou no entorno. A possibilidade de uma atividade se perpetuar diminui à medida que os legítimos interesses múltiplos não são atendidos, ou ainda quando geram prejuízos. A ideia é que os resultados sejam atingidos associados ao interesse atual e futuro, ou seja, sustentável. Para isso, articula-se responsabilidade através da governança corporativa, em uma relação de “causa e efeito”, como ilustra a figura a seguir. Figura 3 – Governança e sustentabilidade 5.2 FERRAMENTAS PARA UMA GESTÃO RESPONSÁVEL 18/05/2022 15:20 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 17/20 Empresas responsáveis são aquelas que conseguem incorporar os desafios de otimizar os ganhos financeiros com as questões relacionadas à sustentabilidade. As empresas modernas incorporam em seu modelo de gestão ferramentas do planejamento estratégico, como a análise do ambiente externo. Nessa análise, os gestores buscam entender as ameaças e oportunidades do macroambiente. Questões políticas, sociais, jurídicas, tecnológicas e, naturalmente, econômicas são avaliadas nesse planejamento. Por esse aspecto, respeitam-se valores, cultura, tradições, inovações e tendências. Procura-se avaliar as condições legais para estabelecer um negócio, bem como viabilizar o acesso a tecnologias e outras condições acesso. Também são consideradas nessa dimensão algumas situações críticas, como uma catástrofe ambiental; o interesse dos agentes externos e do entorno demandam ações de empresas que possam estabelecer novos vínculos de negócios em condições adversas. Outra análise diz respeito à estrutura e capacidade interna de se diferenciar ou se desenvolver habilidades para a execução de tarefas e processos, além é claro da capacidade para implantar novos projetos. Fatores relacionados com as restrições de investimento também serão analisados nesta ferramenta. Nesse sentido, a empresa foca na necessidade de manter os negócios atuais e criar mercados para o futuro, com resultados orientados à redução de custos e produtividade (curto prazo), buscando garantir o acesso à tecnologia e inovação (longo prazo). A combinação desses fatores é representada por uma matriz que combina as condições internas e externas e também o aspecto temporal de curto e longo prazo, conforme o modelo de geração de valor ao acionista apresentado por Hart e Milstein, na figura que segue. Figura 4 – O modelo de geração de valor ao acionista apresentado por Hart e Milstein 18/05/2022 15:20 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 18/20 Fonte: Elaborado com base em Hart; Milstein, 2004. Todas essas situações direcionam responsabilidades para a empresa e certamente orientam as premissas da governança corporativa a ser adotada. Para a maioria das empresas, a conciliação dos vetores acima é conflitante; através desse modelo, ao invés de perceberem a responsabilidade com os interessas das partes externas como um “mal necessário”, percebem como as condições estabelecidas pelo ambiente compõem uma análise estratégica que oportuniza novos negócios. TROCANDO IDEIAS O IBGC, Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, organização sem fins lucrativos, é a principal referência no Brasil para o desenvolvimento das melhores práticas de Governança Corporativa. O IBGC promove palestras, fóruns, conferências, treinamentos e networking entre profissionais, além de produzir publicações e pesquisas, que permitem ao participante adquirir mais conhecimento sobre um conjunto de temas necessários para o bom entendimento tema. NA PRÁTICA Com a possibilidade de acesso a todos os usuários, as empresas de capital aberto, ou seja, as empresas que dispõem de ações listadas e negociadas em bolsa de valores, divulgam os seus resultados de maneira pública e ainda divulgam as pretensões de negócios futuros, sinalizando para o mercado o seu posicionamento e seus objetivos também a médio e longo prazo. 18/05/2022 15:20 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 19/20 Quais são os maiores desafios, quais os mercados em que pretendem atuar, onde a empresa fará seus investimentos, entre outras condições estratégicas, são divulgadas oportunamente. Pesquise livremente uma empresa que divulgue as suas informações e, com base nas informações levantadas, selecione 5 (cinco) partes interessadas que, na sua opinião, são mais impactadas pelas operações das empresas pesquisadas. Justifique a sua escolha apontando o impacto para cada stakeholder. Saiba mais No site <http://www.b3.com.br> você encontrará a listagem das empresas com suas ações negociadas. Você pode encontrar por nome, setor de atuação e ainda segmento. Após a sua escolha, é só procurar pelas informações da empresa diretamente em seu portal. FINALIZANDO Nesta aula, procuramos apresentar as condições iniciais para o entendimento do que é governança corporativa. Para isso, contextualizamos a evolução e a formação das empresas, com sua lógica econômica. Também nessa linha, procuramos entender as condições do ambiente institucional que possibilitaram o desenvolvimento de negócios como conhecemos hoje. São fatores como tecnologia, aprimoramento legal e, naturalmente, o comportamento da sociedade. Nesse contexto, também apresentamos os princípios do tema governança corporativa e suas premissas fundamentais, como propriedade, princípios, prestação de contas, transparência, pessoas, entre outras. As condições apresentadas nesta aula permitiram entender que o propósito da empresa só é atendido plenamente quando se consegue atingir de forma o mais unânime possível o interesse de todas as partes interessadas, que são definidas como. REFERÊNCIAS ALENCASTRO, M. S. C.; ALVES, O. F. Governança, Gestão Responsável e Ética nos negócios. Curitiba: InterSaberes, 2017. BLOK, M. Compliance e Governança Corporativa. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2017. http://www.b3.com.br/ 18/05/2022 15:20 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 20/20 IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Código das melhores práticas de governança corporativa. 5. ed. São Paulo: IBGC, 2015. FROTA, A.; SENS, D. F. Globalização e Governança Internacional: Fundamentos Teóricos. Curitiba: InterSaberes, 2017. HART, S. L.; MILSTEIN, M. B. Criando valor sustentável. Academy Management Executive, v. 17, n. 2, p. 56-69, maio 2003. JENSEN, M. C.; MECKLING, W. H. Teoria da firma: comportamento dos administradores, custos de agência e estrutura de propriedade. Revista de Administração e Economia, v. 48, n. 2, p. 87-125, abr./jun. 2008. KUPFER, D.; HASENCLEVER, L. Economia Industrial: fundamentos teóricos e práticos no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2002. ROSSETTI, J. P.; ANDRADE, A. de. Governança corporativa: fundamentos, desenvolvimento e tendências. São Paulo: Atlas, 2014. ROSSETTI, J. P. et al. Finanças Corporativas: teoria e prática empresarial do Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
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