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Material Didático INSTITUTO NACIONAL SABER T O D O S O S D IR E IT O S R E S E R V A D O S Ética Geral e Profissional INSTITUTO NACIONAL SABER O Instituto Nacional Saber tem por objetivo especializar profissionais em diversas áreas, capacitando alunos e os inserindo no mercado de trabalho, fazendo com que tenham destaque e ampliem suas carreiras. Nosso objetivo não é apenas oferecer conhecimento, mas formar profissionais capacitados e aptos para exercer as profissões que desejam, para participar do desenvolvimento de sua sociedade, e colaborar na sua formação contínua. Oferecemos conteúdos elaborados por conceituais profissionais, e tendo em vista os esforços de nossos colaboradores para a entrega do mais seleto conhecimento, assim aproximando-o ainda mais do mercado de trabalho. Pensando na necessidade dos nossos alunos em realizar o curso de forma flexível e mais acessível, o Instituto disponibiliza a especialização (Pós-Graduação Lato sensu), 100% EAD com reconhecimento do MEC, e com a mesma qualidade e peso de um estudo presencial. Desejamos sucesso e bons estudos! Equipe Instituto Nacional Saber UNIDADE 1 - ÉTICA E MORAL 1.1 Primeiras Impressões sobre Ética ........................................................................ 4 1.2 E a Moral? ............................................................................................................ 4 1.3 Moral X Filosofia .................................................................................................. 5 1.4 A Ética Antiga, A Filosofia e o Ato Moral .............................................................. 6 1.5 A Ética e o Ato Moral ........................................................................................... 7 UNIDADE 2 - CONCEITOS DE ÉTICA 2.1 Distinção entre a Ética e a Moral .......................................................................... 8 2.2 Conceitos de Ética ............................................................................................... 9 2.3 Definição de Ética como Ramo da Filosofia ......................................................... 9 2.4 Definição de Ética como Ciência ........................................................................ 10 2.5 Objeto, Objetivo, Funções da Ética .................................................................... 10 2.6 Virtudes e Vícios ................................................................................................ 11 2.7 Teorias que explicam os Conceitos Éticos ......................................................... 15 UNIDADE 3 - A ÉTICA PROFISSIONAL 3.1 A Ética Profissional ............................................................................................ 17 3.1.1 Mas o quê a sociedade busca no profissional? ............................................... 17 3.1.2 O que é um Compromisso ético profissional? ................................................. 18 3.1.3 E a Conduta ética? .......................................................................................... 18 3.1.4 Ética Profissional e Mercado de Trabalho ....................................................... 19 3.2 Código de Ética .................................................................................................. 19 3.2.1 Códigos de Ética Profissionais ........................................................................ 19 3.2.2 Códigos de Ética Empresariais ....................................................................... 20 3.2.3 Principais Objetivos de um Código de Ética .................................................... 21 3.2.4 Obrigatoriedade dos Códigos de Ética ............................................................ 21 3.3 Ética, Transparência e Responsabilidade Social ................................................ 22 3.4 Ética e Compliance ............................................................................................ 23 3.4.1 Função do Compliance ................................................................................... 24 UNIDADE 4 - ÉTICA PARA TODOS 4.1 Introdução .......................................................................................................... 25 4.2 Ética para consigo mesmo ................................................................................. 25 4.3 Ética para com o próximo ................................................................................... 29 4.4 A ética e o dinheiro ............................................................................................ 36 4.5 A ética e a natureza ........................................................................................... 40 4.6 A ética e a Quarta Revolução Industrial ............................................................. 46 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 55 SUMÁRIO 4 UNIDADE 1 - ÉTICA E MORAL 1.1 Primeiras Impressões sobre Ética Entender, compreender e discutir ética é fundamental para viver em sociedade. Para isso, precisamos entender primeiro que a ética surgiu quando o homem se descobriu como um ser racional e despertou para a necessidade de assumir responsabilidades para viver em sociedade, como uma questão de sobrevivência. As dicussões sobre a ética são bem antigas, desde as inquietações levantada pelos grandes filósofos gregos como Socrátes, Platão e Aristóteles. Segundo MOORE (1975, p. 4), “ética é uma palavra de origem grega, com duas origens possíveis: 1.2 E a Moral? Moral são as regras que orientam os indivíduos no convívio diário na sociedade, nor-teando suas ações e seus julgamentos sobre o que é moral ou imoral, certo ou errado, bom ou mau, ou seja, Moral é o comportamento. Vimos que a Moral pode ser definida como o conjunto de regras adquiridas por meio da cultura, da educação, da tradição e do cotidiano, que orientam o comportamento de cada um de nós na sociedade em que vivemos. Também discutimos aqui que as regras definidas pela moral regulam o modo de agir de todas as pessoas e que a moral está relacionada com a moralidade e com os ditos “bons costumes, valores e convenções” estabelecidos por uma cultura ou pela 5 sociedade, a partir do que nós, que fazemos parte dessa sociedade, conseguimos distinguir como bem ou mal, certo ou errado, bom ou ruim, aceitável ou inaceitável. Os princípios morais da honestidade, da bondade, do respeito, e da virtude, dentre outros, são valores universais que regem a conduta humana e tornam as relações harmoniosas. 1.3 Moral X Filosofia Na Filosofia, temos uma Moral Objetiva, que remete para a obediência às leis morais, que são aquelas que as tradições, padrões e leis da sociedade estabelecem e a Moral subjetiva, cujo cumprimento do dever ocorre pela própria vontade do sujeito. Podemos identificar a moral na literatura, principalmente na literatura infantil, na conclusão das histórias cujo objetivo, geralmente, é transmitir valores morais aplicados às relações sociais (o bem sempre vence o mal). Amoral e Imoral Um comportamento ou situação Amoral é a ausência do conhecimento ou noção do que seja a moral. As pessoas com Comportamentos Amorais desconhecem os princípios morais de determinada sociedade, por isso não os seguem. Amoral é a ausência. Um comportamento ou situação Imoral é todo o tipo de comportamento ou situação que contraria os princípios estabelecidos pela moral. Por exemplo, a falta de pudor, a inde-cência e etc. Comparação entre o que é Moral e o Ato Moral • Moral é a maneira de se comportar regulada pelo costume. • Moral é o conjunto de regras de conduta de um grupo em uma determinada época. • Existe a Moral Pessoal e a Moral Coletiva. • Atos Humanos vêm da liberdade pessoal e da pressão coletiva.• No cotidiano temos os ATOS MORAIS – ATOS COLETIVOS – MORAL COLETIVA 6 1.4 A Ética Antiga, A Filosofia e o Ato Moral A vida moral é causada pelo choque entre o nosso querer e a realidade (acreditavam os filósofos antigos). ÉTICA era educar a paixão e orientar a vontade e a finalidade da Ética era observar a relação e harmonia entre o caráter do sujeito e os valores da sociedade. A Ética Cristã Filosófica, era definida por nossa relação com Deus e não por outros homens, uma vez que entendia que nós, por sermos dotados de vontade livre, somos fracos e tentados ao pecado, por esse motivo, devemos nos guiar por Deus. Após a reve-lação da Lei Divina temos a obrigação de obedecer, daí a ideia do DEVER. O cristianismo trouxe a relação desvinculada da política e ligada ao homem crente. A Ética se torna um ATO DE DEVER. A Ética Cristã julga as ações, atitudes e intenções e define 3 tipos de condutas morais: 7 1.5 A Ética e o Ato Moral Para Rousseau e Kant, a Ética é definida na relação Homem/natureza e o dever de cum-prir o ATO MORAL está dentro de nós porque é da nossa natureza social. No pensamento de Hagel, a ética seria o fruto da razão humana, enquanto que para Nietzsche, em uma crítica à violência moral, afirma que a ética é apenas a imposição da vontade das grandes potências e Marx, numa crítica ao capitalismo, afirma que os valores éticos jamais podem se realizar na sociedade atual. 8 UNIDADE 2 - CONCEITOS DE ÉTICA 2.1 Distinção entre a Ética e a Moral Antes de refletirmos sobre conceitos de Ética, vejamos a distinção entre Ética e Moral. Você sabe diferenciá-las? As expressões Ética e Moral, embora possuam significados semelhantes, são bem distintas Vimos então que as expressões são distintas, uma vez que uma vez do grego e outra do latim. Também os s termos são de origem etimológica distinta: a palavra “ética” vem do Grego “ethos” que significa “modo de ser” ou “caráter”. Já a palavra “moral” tem origem no termo latino “morales” que significa “relativo aos costumes Podemos então concluir que a Ética se fundamenta nos valores morais que orientam o comportamento humano na sociedade e a Moral são os costumes, regras, tabus e ocn-venções estabelecidas por cada sociedade. Partindo disso, é possível dizer que: Ética são os conhecimentos obtidos da investigação do comportamento humano em relação às regras morais, explicadas de forma racional, fundamentada, científica e teó-rica, ou seja, ética é uma reflexão sobre a MORAL. A Moral orienta o comportamento perante as normas criadas ou determinadas pela sociedade ou por um grupo. A Moral e a Ética são diferentes porque a Ética são princí-pios e a Moral, condutas. 9 2.2 Conceitos de Ética Vamos descobrir que não existe consenso quanto à definição de Ética. Mas, é interessante observar que existem dois caminhos distintos que os estudiosos tem definido a ética: ou como ramo da filosofia ou como ciência da conduta humana A ética tem se tornado um assunto muito discutido no nosso dia-a-dia, pois temos enfrentado grandes desafios neste século. Se associarmos ética ao caráter do indivíduo, afirmando que a ética é formada pelo convício e que a convivência com a família, com compartilhamento de valores morais, balizará a conduta humana, no campo pessoal, social e profissional. 2.3 Definição de Ética como Ramo da Filosofia Para os estudiosos que definem ética como ramo da filosofia, existe uma profunda ligação entre Ética e Filosofia: a concepção filosófica do homem como um ser social e histórico e, os conceitos de liberdade, necessidade, valor, consciência e sociabilidade, uma vez que a ética deve estar inserida nas relações humanas em sociedade. Ética é o nome dado ao ramo da Filosofia dedicado aos assuntos morais. Jupiassú (1996): Conceitua a ética como “a parte da filosofia prática que tem por objetivo elaborar uma reflexão sobre os problemas fundamentais da moral”. Arruda ( 2001): A ética é “a parte da filosofia que estuda a moralidade dos atos humanos, enquanto livres e ordenados a seu fim último. Lisboa ( 1997): Define a ética como sendo “ um ramo da filosofia que lida com 10 o que é moralmente bom ou mal, certo ou errado”. 2.4 Definição de Ética como Ciência Os que defendem a Ética como é uma ciência, acreditam que por ser a ética uma disciplina racional que parte dos atos humanos, ou seja, é um conjunto de conhecimentos sistemáticos, metódicos e racionais, baseados na experiência e fundados em princípios universais. Dos estudiosos que definem ética como ciência, convém destacar o pensamento de dois grandes filósofos, Aristóteles e Kant, e do ilustre contador, Antônio Lopes de Sá. Para Aristóteles: A ética consistia na ciência de praticar o bem. Para Kant: A ética consistia na ciência do dever. Ele buscava uma ética de validade universal, a qual possuía seu alicerce no princípio de que o dever obriga moralmente a consciência. Para SÁ (1996): “Em seu sentido de maior amplitude, a ética tem sido entendida como a ciência da conduta humana perante o ser e os seus semelhantes”. 2.5 Objeto, Objetivo, Funções da Ética O objeto ou o propósito da Ética é a Moralidade da Conduta Humana ou a MORAL: A Moral ou a Moralidade positiva – conjunto de regras e comportamentos e formas de vida através das quais tende o homem a realizar o valor do bem (NALINI, 2006); Sendo assim, o Objetivo da ética consiste em observar o comportamento humano, apontando os erros e desvios e formular os princípios básicos para definir a conduta do indivíduo na sociedade, ou seja, no meio em que ele vive. Realizar os valores e princípios que devem nortear a existência das pessoas. Logo, a Função da ética é: • Explicar; esclarecer; investigar e Elaborar conceitos correspondentes (VAZQUEZ, 1999:20) Para Cortina (2005), os Objetivos Essenciais da ética são: • Elucidar em que consiste o Moral, que não se identifica com os restantes 11 dos saberes práticos (com o jurídico, com o político ou com o religioso); • Tentar fundamentar o Moral; • Tentar uma aplicação dos princípios éticos descobertos aos distintos âmbitos da vida cotidiana. lustração: Marcone da Silva 2.6 Virtudes e Vícios Sabemos que a Ética está relacionada com a virtude e também com luta do homem para superar seus principais vícios. Isto porque a ética possui como centro de atenção o HOMEM, que é moldado de virtudes e vícios, capaz de ter atitudes que objetivam suprir suas necessidades individuais e coletivas. Virtude A palavra “virtude” é um a palavra originada do latim “vis”, que significa força, energia. Lopes de Sá (1988:65), afirmava que “virtude, é condição basilar, ou seja, não se pode conceber o ético sem o virtuoso como princípio, nem deixar de apreciar tal capacidade em relação a terceiros”. Podemos também definir Virtude como uma qualidade moral, um atributo positivo de um indivíduo, sua disposição para praticar o bem. Quando pensamos na palavra virtude, podemos relacionar vários termos como: força, paciência, coragem, a eficácia ou a integridade, por exemplo. O filósofo Aristóteles, elaborou uma diferenciação entre virtudes intelectuais e virtudes éticas (ou morais), definindo que o estado ideal seria a moderação. Para Aristóteles, Virtude Intelectual é aquela que “nasce e progride graças aos resultados da aprendizagem e da educação”. A Virtude Moral seria aquela que “não é gerada em nós por natureza, é o resultado do hábito que nos torna capazes de praticar atos justos”. Entende-se então que, na visão de Aristóteles, não existem virtudes inatas, todas se adquirem pela repetição dos atos, que gera o costume, e esses atos, paragerarem as virtudes, não devem desviar-se nem por falta, nem por excesso, pois a 12 virtude consiste na justa medida, longe dos dois extremos. Na visão de Platão, a ação do homem é determinada pela virtude. Resumindo, as virtudes intelectuais, são ligadas à inteligência e as virtudes morais, que são relacionadas com o bem. A virtude intelectual consiste na capacidade de aprender com o diálogo e a reflexão em busca do verdadeiro conhecimento e a virtude moral, por sua vez, é a ação ou comportamento moral, é o hábito que é considerado bom de acordo com a ética. Barbosa e Ribeiro (2008:20), apresentam o seguinte quadro de virtudes básicas, adaptado de Camargo (2001): • PRUDÊNCIA: A reta noção daquilo que se deve fazer ou evitar, exigindo conhecimento dos princípios gerais da moralidade e das continências particulares da ação • JUSTIÇA: É o ato de respeitar os direitos e os deveres; é a disposição de dar a cada um o que é seu de acordo com a natureza, a igualdade ou a necessidade; é a base da vida em sociedade e da participação na existência comum; a justiça implica a combinação de diversas atividades, com a imparcialidade, a piedade, a veracidade, a fidelidade, a gratidão, a liberdade e a equidade. • FORTALEZA: Firmeza interior contra tudo o que molesta a pessoa neste mundo, fazendo vencer as dificuldades e os perigos que exercem a medida comum. • TEMPERANÇA: Regra, medida e a condição de toda virtude; é o meio justo entre excesso e a falta; Exige sensatez baseada num pensamento flexível e forme. Encontra-se atrelada à continência, a sobriedade, a humildade, a mansidão e a modéstia. Coelho (2014), apresentou um quadro de definição das virtudes básicas bem mais completo, em que identifica as exigências e os inimigos de cada uma das virtudes básicas: PRUDÊNCIA • Definição: Prudência: É o hábito de decidir bem. É a busca sistemática da objetividade, do realismo, do conhecimento de todas as circunstâncias dentro das quais devemos agir. 13 • Exige: Percepção das situações concretas; considerar as circunstâncias todas; perspicácia para perceber os meios oportunos a pôr em prática; estabelecer conexões entre os dados; ordenar os meios; prever o futuro; lembrar-se das experiências próprias e alheias; evitar inconvenientes etc. • Inimigos da Prudência: Desatenção (viver desligado); a precipitação; a negligência; a desconsideração (não dar importância); a inconstância; a astúcia (que leva à fraude). JUSTIÇA • Definição: Dar a cada um o que é seu. Justiça consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida em que são desiguais. A justiça busca uma harmonia entre as pessoas, uma distribuição, um equilíbrio. • Exige: Considerar fundamentalmente as igualdades e as diferenças entre as pessoas, tais como idade, capacidade, esforço etc. • Inimigos da Justiça: Abuso, açambarcamento, imposição pela força, injustiça. FORTALEZA • Definição: É uma disposição da vontade que leva a não desistir do esforço necessário para fazer o bem ou para resistir ao mal. É a virtude que leva a combater o medo, o encolhimento perante as dificuldades da vida, a evitar a omissão. • Inimigos da Fortaleza: Covardia, temeridade (expor-se ao perigo sem necessidade). TEMPERANÇA • Definição: É a virtude que nos dispõe a moderar a procura do prazer. Visa em manter o equilíbrio, evitando que o ser humano busque o prazer pelo prazer. • Inimigos da Temperança: Excesso. 14 Vícios Ao discutirmos as virtudes, notamos que Aristóteles, ressalta um ponto muito importante: a questão entre a ausência e o excesso. O filósofo afirma que nosso caráter é formado a partir da repetição e do aperfeiçoamento dos atos que já fizemos antes (para melhor ou para pior) e que, com esse hábito, adquirimos as virtudes morais ou os vícios e nos tornamos virtuosos ou viciosos pelo exercício, assim como os homens tornam-se justos ou injustos praticando a justiça ou a injustiça. são as disposições viciosas ou virtuosas que constituem um caráter. Somos todos responsáveis por nossos atos, assim como também pelos nossos vícios. Somente aqueles indivíduos que têm suas atividades conforme a virtude se tornará virtuoso e, assim, atingem sua finalidade humana, sendo que o fim humano consiste, portanto, na busca da sabedoria” (SAMANTA OBADIA, 2016). Principais Vícios • ORGULHO: Procura desordenada de excelência; o orgulhoso se valoriza demais e, normalmente, diminui e menospreza o outro • AVAREZA: Procura desordenada de bens materiais; o avarento acumula riquezas, fazendo usos de meios nem sempre lícitos e, principalmente, centralizando todo o ser neste esforço. • GULA: Procura desordenada dos prazeres de comer e beber; causa o estrago da própria saúde, prejudicando muitas vezes, atividades profissionais e familiares. • LUXÚRIA: Procura desordenada dos prazeres sexuais; vive com fixação e obsessão, procurando satisfações que até implicam desrespeito a si mesmo e a outros. • INVEJA: Tristeza pelo bem alheio como um obstáculo à próprio bem, como se isso impedisse de ele também crescer e aparecer; ele sofre e até gostaria que ninguém fosse superior a ele. • PREGUIÇA: Recuo diante do trabalho e do esforço; falta-lhe aquela energia para assumir atividades dentro de métodos adequados que lhe assegurem a construção de valores. • IRA Violência contra aquilo que resiste à sua vontade, procurando vingança; a pessoa irada não raciocina, mas age tempestivamente. 15 2.7 Teorias que explicam os Conceitos Éticos Teoria do Fundamentalismo Identifica os preceitos éticos externos ao ser humano, não permitindo que o ser humano encontre o certo e o errado por si mesmo. As determinações externas são cumpridas sem questionamentos dos seguidores. (ex. – A Bíblia Sagrada, Alcorão). Teoria do Utilitarismo Propõe que o conceito ético seja elaborado com base no critério do maior bem para a sociedade. Diante de um determinado fato, a conduta do indivíduo será aquela que gerar maior bem para a sociedade. por exemplo, a Guerra do Iraque, a batalha contra o terrorismo. Teoria do Dever Ético Apregoada Kant (1724-1804), propõe que o conceito ético seja extraído do fato de que cada um deve se comportar de acordo com os princípios universais: 1) qualquer con-duta seria como padrão ético deve valer para todos que se encontrem na mesma situação, sem exceções; 2) só se deve exigir dos outros que exigimos de nós mesmos. Teoria Contratualista Seus precursores foram John Locke (1632-1704) e Jean Jacques Rousseau (1712-1778). Parte do pressuposto que o ser humano assume com os seus semelhantes a obri-gação de se comportar de acordo com as regras morais estabelecidas para o con-vívio social, dessa forma os conceitos éticos seriam extraídos 16 das regras morais que con-duzissem à perpetuação da sociedade, da paz e da harmonia do grupo social. Teoria do Relativismo Cada pessoa deveria decidir sobre o que é ou não é ético, com base nas suas próprias convicções e na sua própria concepção sobre o bem e o mal, dessa maneira, o que é ético para um pode não o ser para outro. 17 UNIDADE 3 - A ÉTICA PROFISSIONAL 3.1 A Ética Profissional As organizações, atualmente, têm aumentado o seu interesse por atitudes éticas, pois o que tem sido observado é quando a mesma é negligenciada passa a vigorar a desconfiança entre empresas, a falta de lealdade dos empregados e o uso da tecnologia a serviço da fraude, colocando em jogo o destino da organização. As organizações aplicam os padrões éticos da sociedade as suas regras internas para o bom andamento dos processos de trabalho, alcance de metas e objetivos. A ética profis-sional proporciona um exercício diário de honestidade, comprometimento, confiabili-dade no comportamento do profissionale na tomada de decisões em suas atividades. O profissional deve seguir os padrões éticos da sociedade e as normas e regimentos internos das organizações. A ética profissional proporciona ao profissional um exercício diário e prazeroso de honestidade, comprometimento, confiabilidade, entre tantos outros, que conduzem o seu comportamento e a tomada de decisões em suas ati-vidades. A recompensa é ser reconhecido, não só pelo seu trabalho, mas também por sua conduta exemplar. Neste momento, em que a sociedade brasileira se encontrar em um estágio de instabili-dade provocada por condutas aéticas e precisa reestabelecer e solidificar o conjunto de valores corretos, precisamos entender que ética não é estética, a relevância deste evento se evidencia, pela contribuição para a comunidade ao enraizar, paulatinamente, a ética na produção/ação da academia. 3.1.1 Mas o quê a sociedade busca no profissional? Com base nos valores morais existentes, existem alguns fundamentos da ética pro-fissional que determinam que a sociedade valoriza os profissionais que possuam 18 os seguintes requisitos éticos: • Honestidade enquanto ser humano e profissional • Perseverança na busca de seus objetivos e metas • Conhecimento Geral e Profissional para oferecer segurança na execução das atividades profissionais • Responsabilidade na execução de qualquer tarefa • Iniciativa para buscar solucionar as questões apresentadas • Imparcialidade na execução do trabalho e na apresentação de resultados e sugestões • Atualização constante e contínua • Trabalho em Grupo de modo que seja construído um espírito de equipe • Eficiência na execução das tarefas, buscando aprimorar a qualidade • Eficácia ao fazer o trabalho, visando atingir o resultado esperado • Ambição na busca de crescimento pessoal e profissional • Controle emocional nos relacionamentos pessoais e profissionais, visando a administração de conflitos • Relacionamento Interpessoal baseado na compreensão, ajuda mútua, respeito e consideração • Postura Profissional, privilegiando as boas maneiras, a boa educação, a comuni-cação adequada, os bons hábitos e a boa aparência. 3.1.2 O que é um Compromisso ético profissional? Compromisso ético profissional é comportamento esperado porde-terminada classe ou profissão em relação ao indivíduo que exerce esta mesma profissão. 3.1.3 E a Conduta ética? “Para que haja conduta ética é preciso que exista o AGENTE CONSCIENTE, isto é, aquele que conhece a diferença entre bem e mal, certo e errado, permitido e proibido, virtude e vício” (CHAUÍ, 1997, p. 337). Um profissional executa suas atividades com zelo e cuidados. Dentre as obrigações, destacamos: • Cuidar de sua apresentação pessoal 19 • Comunicar-se corretamente • Aprender a ouvir os outros • Melhorar o vocabulário • Nunca insultar ou gritar • Evitar violência • Oferecer informações • Praticar a Ética Profissional 3.1.4 Ética Profissional e Mercado de Trabalho O avanço tecnológico, o crescimento vertiginoso da informação e dos meios de comunicação, a cibernética tem construído novas percepções e novos espaços para atuação profissional. 3.2 Código de Ética O Código de ética é um documento, elaborado pelos principais gestores de uma organização, ou pelos Conselhos que regem uma profissão, que objetiva evidenciar os princípios, a missão, as atitudes e comportamentos adequados a uma determinada profissão ou empresa, de forma a atender às necessidades que aquela categoria serve e representa e os anseios da sociedade. A elaboração de um código de ética, busca enfatizar os valores, os deveres e as obri-gações que devem ser praticados e respeitados pelos profissionais e pelas instituições e são, geralmente, embasados na legislação vigente do país, na Declaração dos Direitos Humanos, nas Leis Trabalhistas e nas Resoluções e Normas dos Conselhos Profissionais, de cada profissão: 3.2.1 Códigos de Ética Profissionais Evidenciam os direitos e deveres, as proibi-ções, ou seja, as condutas que são vetadas no exercício da profissão e as sanções e punições (éticas e disciplinares), no caso de desobe-diência ao código. Cada código de ética espe-cifica o papel da profissão na sociedade e a importância do respeito à dignidade humana no exercício de cada uma. Exemplificando, temos o código de ética dos Médicos, dos Psicólogos, dos enfermeiros, do contador, do assistente social, dentre outros, etc. 20 3.2.2 Códigos de Ética Empresariais Evidenciam a missão, a visão, os valores e princípios que norteiam a organização e que devem ser conhecidos e respeitado pelos seus funcionários. É por meio do código de ética institucional que a função da empresa na sociedade e os valores que ela cultiva são percebidos e perpetuados. Os conselhos profissionais e as instituições, geralmente, possuem um conselho de ética que é o responsável por definir e elaborar o conteúdo dos códigos de ética. O conselho de Ética é formado por profissionais conceituados, escolhidos pela classe profissional que representam, sem vínculo empregatício com os Conselhos e com a responsabilidade ética legal sobre os assuntos dessa categoria. Atuam como tribunais, julgando as situa-ções que podem gerar sanções éticas ou disciplinares, baseados nas regulamentações dos códigos. No mundo, tem acontecido encontros para a formulação de um conjunto de padrões éticos que possam ser aplicados em todas as organizações. Em um encontro na cidade de Caux, Suíça, em 2004, líderes empresariais europeus, norteamericanos e japoneses elaboraram um código internacional de ética respaldados num conjunto de valores com-partilhados mundialmente, tais como: veracidade, integridade, equidade e igualdade. Esse código internacional de ética é constituído de 13 princípios que abrangem as mais variadas interfaces das organizações (FERRELL, 2001), • Responsabilidade das empresas • Impacto social e econômico das empresas • Conduta empresarial • Respeito às regras • Apoio ao comércio multilateral • Respeito ao meio ambiente • Prevenção de operações ilícitas • Relações com cliente • Direitos e deveres dos colaboradores • Agregação de valor para proprietários e investidores • Parceria com fornecedores • Práticas com relação à concorrência 21 • Inserção da comunidade nas decisões empresarias As organizações que criam um clima transparente, de confiança e respeito mútuo, pos-suem recurso valioso para gerar credibilidade, interna e externa, e incentivo para o sucesso. É vantajoso para a empresa ser considerada ética, pois tal reputação produz um efeito positivo poderoso sobre suas relações com as partes interessadas. 3.2.3 Principais Objetivos de um Código de Ética a) Especificar os princípios e valores de uma instituição e/ou profissão, perante a sociedade b) Documentar os direitos e deveres do profissional c) Evidenciar os limites das relações que o profissional ou o funcionário deve ter com colegas e clientes/pacientes d) Explicar a importância de manter o sigilo profissional (essencial em muitos casos) e) Defender o respeito aos direitos humanos nas pesquisas científicas e na relação cotidiana f) Delimitar e especificar o uso de publicidade em cada área g) Falar sobre a remuneração e os direitos trabalhistas 3.2.4 Obrigatoriedade dos Códigos de Ética O código de ética costuma ser obrigatório, principalmente por ser o documento que explicita os deveres, os direitos e as condutas esperadas dos profissionais ou funcionários das instituições, além das sanções e penalidades para a desobediência a estes deveres e/ou conduta. No entanto, existem exceções e, há mais conhecida é o caso do código de ética do profissional da área de jornalismo, uma vez que as especificações contidas nele são facultativas, ou seja, fica à critério do profissional, no exercício da sua profissão,e às instituições de comunicação avaliarem se adotam ou não algumas práticas. Exemplificando, uma das primeiras especificações que o código dos jornalistas traz é a do direito que todo cidadão tem à informação, logo, é dever do jornalista divulgar as notí-cias de interesse público, isentas de qualquer interesse pessoal ou 22 financeiro e baseada sempre na verdade. Porém, ocorre que geralmente, essa especificação é comprometida pelo corporativismo que existe no jornalismo e pela concorrência e disputa pelo “furo jornalístico”. Esse corporativismo ou essa disputa termina por prejudicar a sociedade, em relação ao direito à informação, uma vez que os conteúdos que são passados são incompletos. 3.3 Ética, Transparência e Responsabilidade Social Responsabilidade social é a contribuição voluntária das empresas para uma sociedade mais justa e um ambiente mais limpo. Responsabilidade social significa que uma empresa não tem apenas o objetivo de retorno financeiro (lucro). Ela, também deve contribuir socialmente para a comunidade ou sociedade onde está inserida, trazendo benefícios como cultura, educação e outros bene-fícios para a sociedade. Atualmente, classificam-se a Responsabilidade Social em: Responsabilidade Social Corporativa Conjunto de ações adotadas pelas empresas, que beneficiam a sociedade e as corpora-ções, levando em consideração a economia, educação, meio-ambiente, saúde, transporte, moradia, atividade locais e governo. Geralmente, são os programas sociais, criados pelas organizações, que geram benefícios mútuos entre a empresa e a comunidade, melho-rando a qualidade de vida dos funcionários, e da própria população. Responsabilidade Social Empresarial Está intimamente ligada a uma gestão ética e transparente que a empresa deve ter nas relações entre a organização e partes interessadas, para minimizar os impactos negativos das suas atividades no meio ambiente e na comunidade. Responsabilidade Social e Ambiental Está relacionada com as práticas de preservação do meio ambiente, uma vez que uma empresa responsável no âmbito social deve ser conhecida pela criação de políticas res-ponsáveis na área ambiental, objetivando sua sustentabilidade. Diretrizes para Implantação da Responsabilidade Social Segundo o Instituto Ethos (2003), existem sete diretrizes para a implantação da Respon-sabilidade Social nas organizações. São elas: 23 1) Adotar valores e trabalhar com transparência 2) Valorizar empregados e colaboradores 3) Fazer sempre mais pelo meio ambiente 4) Envolver parceiros e fornecedores 5) Proteger clientes e consumidores 6) Promover sua comunidade 7) Comprometer-se com o bem comum A Transparência e a Ética Em um artigo publicado pelo Instituto Ethos, em 2013, Lélio Lauretti, sócio fundador e professor do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), afirma que con-ceitos arraigados, como o de “criar valor para os sócios” como objetivo maior de qual-quer atividade empresarial, foi substituído pelo conceito de “criar valor para a sociedade, a começar pelos sócios”. Para Lauretti (2013), a adoção dos princípios éticos é uma consequência natural e necessária em razão das transformações experimentadas pela sociedade na contemporaneidade. A Transparência, como um princípio ético é o desejo de informar tudo aquilo que, no plano empresarial (por exemplo), possa afetar significativamente os interesses dos sta-keholders1, os quais, mais bem informados, terão melhores condições de analisar os riscos que estão assumindo (LAURETTI, 2013). 3.4 Ética e Compliance Compliance tem origem no verbo em inglês to comply, que significa agir de acordo com uma regra, uma instrução interna, um comando ou um pedido. Estar em “Compliance” é estar em conformidade com leis e regulamentos externos e internos. Uma organização “em compliance” é aquela que, por cumprir e observar rigorosamente a legislação à qual se submete e aplicar princípios éticos nas suas tomadas de decisões, preserva ilesa sua integridade e resiliência, assim como de seus colaboradores e da Alta Administração. Em 2017, o Compliance tem tido maior destaque e espaço nas empresas, principalmente as que possuem relações com a administração pública, tendo em vista 24 os constantes escândalos e, de acordo com uma pesquisa efetuada pela Revista Exame, o advogado especializado em compliance é uma das profissões mais promissoras. 3.4.1 Função do Compliance O Compliance tem a função de monitorar e assegurar que todos os envolvidos com uma empresa estejam de acordo com as práticas de conduta da mesma. Essas práticas devem ser orientadas pelo Código de Conduta e pelas Políticas da Companhia, cujas ações estão especialmente voltadas para o combate à corrupção. Benefícios para as empresas com a adoção do Compliance 1. Preservação da Integridade Civil e Criminal Ao prevenir e reduzir os riscos das condutas não conformes, o Compliance diminui o grau de exposição e responsabilização da Alta Administração da Organização em relação a potenciais comportamentos irregulares ou ilegais de seus colaboradores. 2. Aumento de Eficiência O Compliance reduz a incidência de fraudes e desconformidades, que geram desvios de recursos, evitando riscos de sanções legais, perdas financeiras e perda de reputação. Também aumenta a qualidade das decisões da Organização, reduzindo o custo opera-cional. Estes fatores repercutem diretamente no aumento de eficiência na gestão e no desempenho da Organização. 3. Vantagem Competitiva O Compliance é uma estratégia relevante de competitividade e atratividade do negócio, uma vez que a sociedade cada vez mais, se conscientiza em relação ao consumo susten-tável e ético, e passou a exigir que as Organizações adotem posturas e comportamentos que reflitam esses valores. 4. Ganhos de Produtividade Uma cultura organizacional ética exerce influência sobre a integridade dos colabora-dores, reduzindo a incidência de comportamentos que representam desvios. A difusão de boas práticas de governança corporativa amplia a coesão do público interno, gerando uma melhoria de produtividade contínua. 25 UNIDADE 4 - ÉTICA PARA TODOS 4.1 Introdução Várias situações sob a vertente ética foram apreciadas nesta obra. A partir do conceito de ética, dedicou-se uma reflexão específica para a ética ambiental e para a postura dos estudantes, sobretudo os que aprendem Ciência Jurídica na Faculdade de Direito. As profissões forenses foram contempladas: advogado, promotor, policial e juiz. O propósito foi a objetividade e a concisão. Para fazer pensar e, se possível, acionar o mecanismo de consciência que impõe a todo ser humano portar-se eticamente. Haveria condição de se chegar a uma síntese? Algum recado que servisse para todos os interessados em ascender eticamente em sua vida? Uma ética para todas as pessoas e para todos os dias? Independentemente da profissão, da idade, do lugar em que moram? Existe algo comum e rotineiro, incidente sobre toda e qualquer pessoa, que possa estimular a adoção de um pensamento ético para um agir também ético na rotina de nossas vidas? Esse remate para uma obra que chega à 14ª edição (o que significa a persistência e a determinação de pessoas atentas ao estado atual de coisas, no mundo e no Brasil), tenta oferecer a singeleza de uma receita ética factível. Sem aprofundamento teórico, sem mistérios e sem segredos. Algo essencialmente prático. Para tentar convencer o cético, ou o desalentado, de que não é impossível ser ético em pleno século 21, por mais desanimador que se vislumbre o cenário pátrio. 4.2 Ética para consigo mesmo O próximo de mim mais próximo, sou eu mesmo. Sou um indivíduo e mereço consideração e respeito. A começar pela minha autoestima. Nas várias esferas de relacionamento humano, preciso ter uma relação franca,honesta e amistosa com o 26 meu self. Preciso me conhecer melhor. Aprendizado que, muita vez, leva inúmeros anos, ao fim dos quais não se recebe diploma. Preciso me tratar bem. Cuidar de minha saúde física e mental. Explorar as minhas potencialidades. Saber o que me agrada e o que me irrita. Lapidar os meus talentos, podar as minhas falhas. Assumir um contrato consigo mesmo: ser, o quão possível, feliz. Ao menos sereno, tranquilo, aceitando as vicissitudes, pois elas são inevitáveis. O compromisso humano consigo mesmo é tornar-se a cada dia um pouco melhor. Acreditar na rota da perfectibilidade, que nos faz aprender com os erros, perseverar no propósito de não os cometer mais. Levar a sério a intenção de se atingir a plenitude possível, mediante meticuloso trabalho de revolver o que é inservível, lançá-lo fora e amealhar somente o que nos faz crescer. Respeitar os limites, mas tentar superá-los, quando depender de nós. Alegrar- se, porque a tristeza chegará, queiramos ou não. Aceitar-se, com fragilidades e fissuras, corrigir o que é suscetível de correção. Propiciar-se pequenos prazeres, que são esses os mais fundamentais para o nosso bem-estar. Atentar para os detalhes. Às vezes, neles está a beleza. Cultivar aquilo que nos agrada. Evitar tudo o que nos perturba. Com paciência e predisposição, chega-se a distinguir uma coisa da outra. Isso é o que se chama sapiência. Administrar as circunstâncias e balizar sua compatibilidade com a retidão. Procurar a coerência possível na difícil caminhada por uma existência que surpreende e desencanta. Chorar quando tiver vontade. Não esconder o sentimento e mostrar aos seres amados que eles são importantes e essenciais para nós. Aprender a conviver, que isso é um desafio de monta. Aprender a morrer, que é o final inevitável de todos nós. A única verdadeira certeza, no mundo das incertezas. Aceitar a morte, derradeira lição. Guardar as boas recordações. Aprender com aquelas que nos feriram. Não reter incompreensões. Desabafar. Perdoar. Quem não perdoa está mais sujeito a sofrer AVC e a ter enfartes. Não é folclore: é ciência. Cada qual tem a sua estratégia de suportar as dificuldades que, indefectivelmente, fazem às vezes pensar que viver não vale a pena. Eleja os seus objetivos. Relacione o que o faz perder a calma e o que traz sensação de conforto. Releia e refaça a lista, quantas vezes for necessário. Não é preciso aguardar a 27 chegada de um novo ano para fazer a relação das promessas que, em regra, sabe-se que nunca serão cumpridas. Isso acontece com todos, inclusive com os gênios. Leonardo da Vinci fez planos e prometeu muito mais do que chegou a realizar. Seu legado pioneiro ainda assombra a Humanidade. Antecipou-se em vários séculos a descobertas científicas atribuíveis a outras primícias entre os humanos. Legou ensinamentos que, quatrocentos anos depois de sua morte, continuam atuais e valiosos: “Seja curioso, incansavelmente curioso. Busque o conhecimento pelo simples prazer da busca. Conserve a capacidade das crianças de se maravilhar. Observe. Comece pelos detalhes. Veja que está invisível. Mergulhe no desconhecido. Distraia-se. Respeite os fatos. Procrastine. Faça com que o perfeito seja inimigo do bom. Pense visualmente. Evite fechar horizontes. Faça com que seu alcance seja maior do que sua compreensão. Alimente sua fantasia. Crie para você, não só para os patrões. Trabalhe em conjunto. Faça listas. Faça anotações – no papel. Esteja aberto ao mistério”. Milhares de invenções a cujo uso nos acostumamos e das quais nos tornamos até dependentes, exigiram estudo, empenho, trabalho contínuo, idas e voltas, recomeços de quem não abandonou a ideia no meio do caminho. O importante é manter acesa e inflamada a chama da inspiração. Chegar ao ponto almejado nem sempre depende de nós. Mas aquilo que depende, que não falte entusiasmo e esforço. Não se envergonhe de ficar emocionado. De se deleitar com algo que fale ao seu íntimo. São esses raros e fugazes momentos que valorizam o fato de você ter nascido. Revisite amigos que já se foram. Guarde fotografias dos momentos felizes. Percorrer instantes que fizeram bem à alma rejuvenesce. Transporta a mente para aquele exato átimo temporal em que se experimentou o gosto da felicidade. Tenha sempre consigo a chave dos jardins da memória, que só a você pertence, como nos sussurra Cecília Meireles. O filósofo francês Gilles Lipovetsky, autor da ideia do efêmero, do descartável e da cultura hiper, elencou vinte coisas para fazer e dar sentido à vida. Entre elas: adote o slow food, o slow pensamento, o slow sexo: a pressa é inimiga do bom proveito. Aceite que objetos de qualidade e momentos excepcionais têm seu preço. Não transforme o luxo em vulgaridade: não ostente. Aprenda a esperar. Goste do que você faz no trabalho. Use o humor para conquistar e exercite a arte da sedução sempre, não importa a sua idade, em com quem. Ajude os outros. É o tipo de prazer 28 que não se compra. Desligue a televisão para não desperdiçar sua existência. Permita-se emocionar-se e sentir. Não trave batalhas consigo mesmo. Isso só o afasta do bem-estar. Cuide dos relacionamentos: a felicidade e a tristeza são consequência da maneira como interagimos com os outros. Viva o presente. Conecte-se ao mundo virtual, sem esquecer as experiências reais. Priorize ser, e não o ter. Só abra um vinho se puder saboreá-lo sem se preocupar com a hora nem com o amanhã. Redija seus textos a mão. Seja preguiçoso de vez em quando. Sem culpa. Evite a orgia consumista do Natal. Aproveite a varanda de casa. Não exagere no uso de cosméticos, nem nas idas aos cirurgiões plásticos. Você pode multiplicar esse rol ou excluir dele aquilo que não pareça adequado ao seu perfil. O importante é reconhecer-se como ser irrepetível, singular, completamente heterogêneo em relação a qualquer outro. Criatura provida de inteligência, capaz de imprimir um rumo próprio à sua aventura existencial e apta a reformular o trajeto, quando bem o quiser ou a realidade o impuser. Não há regras. O órgão da sensibilidade varia de pessoa a pessoa. Essa a fortuna extraordinária do gênero humano. Como dizia Ralph Waldo Emerson: “Não seja escravo do seu passado. Mergulhe em mares grandiosos, vá bem fundo e nade até bem longe, e voltarás com respeito por si mesmo, com um novo vigor, com uma experiência a mais que explicará e superará a anterior”. Esse “mergulho em mares grandiosos” pode ser lido como um convite ao perene aprendizado. Estudar, conhecer, saber mais, desvendar segredos e mistérios é um exercício fascinante. Representa um compromisso ético para consigo mesmo aprender sempre, pois o verdadeiro sábio é aquele que não se considera superior aos demais. Apenas consegue vislumbrar, do alto de sua sapiência, o infinito horizonte do que ainda não sabe. Enquanto há vida, há não apenas esperança, mas a certeza de que novas coisas virão. E poderão ser boas, a depender de nossa forma de conceber a vida e nosso papel no momento histórico que nos foi dado vivenciar. 29 4.3 Ética para com o próximo Somos gregários por natureza. O ser humano tem por vocação viver em sociedade. Nascemos sós e morremos sós. Entre esses dois termos, convivemos. E se não é sempre fácil partilhar, é prazeroso extrair dos relacionamentos um contexto de sensações e sentimentos que podem nos fazer experimentar a mais instigante entre as emoções: o amor. O ser racional precisa desse combustível como impulsão a todas as suas atitudes. O amor costuma ferir, mas há compensações. Sentir-se parte dessa energia que faz o mundo funcionar. Já não se proclamou que o amor move o sol e as demais estrelas? A chamada “regra de ouro” do convívio é “não fazer aos outros o que você não quer que os outros lhe façam”. Muito próxima à síntese dos mandamentos cristãos: “amar ao próximocomo a si mesmo”. Nem todo “próximo” será alvo do amor evangélico. Mas todos os seres humanos, pelo mero fato de integrarem a espécie, são merecedores de respeito, porque têm o atributo da dignidade. Esse preceito é obrigatório para todos os brasileiros e residentes no Brasil, porque a dignidade humana foi convertida em um princípio superior, acima de todos os demais e norteador da integralidade de atuação dos homens neste solo. É muito fácil considerar, sob a ótica da dignidade, o âmbito doméstico. É o nosso ninho natural. Nossa zona de conforto e segurança. Quem é capaz de negar respeito e afeto ao cônjuge, aos pais e aos filhos? A ética em relação aos filhos oscila à medida em que novos hábitos, costumes e valores alteram o padrão anterior. Qual a ética apropriada para educar os filhos? Pais não têm curso de formação. Aprendem quando se tornam genitores. O mundo inteiro enfrenta polêmicas em relação a quase tudo nesse campo. Educar é obrigação dos pais, mas não proliferam os cursos disponíveis para quem queira se especializar. Agora mesmo, em julho de 2019, a França aprovou a “lei antipalmada”, que veda as violências educativas ordinárias e impõe aos pais uma autoridade a ser exercida sem agressões físicas ou psicológicas. É medida simbólica, pois a Pátria de Rousseau (que, aliás, foi péssimo pai), é conhecida como padrão de severidade e rigor na educação infantil. A França foi o 56º país a proscrever castigos físicos, 30 enquanto o primeiro foi a Suécia em 1979. No Brasil, a mesma norma existe desde 2014. Quase no mundo inteiro a criança foi “empoderada” e tomou consciência de seus direitos. Não é raro chamem Conselhos Tutelares ou polícia e Ministério Público, relatando maus-tratos ou tratamentos cruéis infligidos por seus pais. Há de se encarar com cautela essa novidade. Parece prevalecer em nosso País aquela tendência à lassidão, certa leniência quanto ao dever de educar, a abominação da disciplina, sempre sob argumento de que a criança seria “traumatizada” se chamada a se comportar conforme as expectativas de conduta alimentadas por uma elite bem-educada. Na visão de Luiz Felipe Pondé, “os pais mais jovens hoje fazem dos seus filhos pequenos ditadores, perguntando a eles o tempo todo ‘o que desejam’”. Isso faz deles adultos insuportáveis, incapazes de lidar com os desafios presentes em qualquer vida normal. Por isso a adolescência perene, a preocupante ascensão do suicídio infanto-juvenil, a permissividade sem freios, e certo “remorso” dos pais que declinaram de treinar social e emocionalmente sua prole, quando confrontados com o resultado danoso. Compensam a ausência afetiva com excesso de bens materiais. Sem querer, produzem a tirania da infância, a adolescência perene, quando não a maturidade perplexa, incapaz de administrar frustrações ou derrotas. A escola, em geral, também não costuma ajudar. Para Pondé, “os jovens, hoje em dia, entram na universidade com uma idade mental afetiva de uma criança de dez anos. As escolas são usinas de idiotas da autoestima”. Mas não é somente a família o grupo com que nos relacionamos. Sem abordar as profundas mutações familiares, o surgimento de tantas novas configurações, continua firme na vontade dos homens, quanto à eleição de pessoas que passam a desempenhar, em nossas vidas, papel análogo ou até mais importante do que aquele confiado aos familiares de sangue. O parentesco de seleção, espécie de “familiar que se escolhe”, que é o amigo, também merece consideração. Não é raro o indivíduo encontrar-se mais frequentemente com os amigos do que com os consanguíneos. Pode-se ampliar indefinidamente esse grupo, para incluir colegas de trabalho, amigos de clube, irmãos de fé, companheiros de esporte8. Não há limite para o crescimento do círculo de relações de convívio. 31 Amigo, de verdade, é raro. Mais comum a aproximação por interesse, a formação de laços tênues, que afrouxam assim que algo desagrada uma das partes. Oscar Wilde tem um conto magistral sobre a amizade, no relacionamento entre um jardineiro e um moleiro. Um servia àquele que só queria levar vantagem e acreditava, ingenuamente, que isso era amizade. Não nos iludamos: perfeição não existe. Aceitemos as falhas alheias, como o próximo aceita as nossas. Algo como o “perdoai nossas ofensas” da oração do Pai Nosso. Ocorre que a comunidade humana é imensa. O fenômeno da conurbação fez com que os núcleos citadinos se inflassem. Há exemplos de quase insanidade como a cidade de São Paulo. A “metrópole insensata” é um fértil convite à pesquisa sociológica e antropológica9. Espaço de aturdimento inadministrável, cujo controle pela autoridade tradicional é mera ficção. Eliminadas as fronteiras convencionais que separariam a capital bandeirante de outros municípios, a mancha populacional supera vinte milhões de almas. Entre estas, quantas as que estariam abrigadas sob o guarda-chuva do amor, da afeição, do respeito? Uma agregação insensata de pessoas (amontoado de viventes que é impensável numa Nação continental, sem problemas de espaço físico para abrigá- los), impõe a você o convívio com seres humanos que não seriam os eleitos para frequentar sua casa. Multidões contínuas e diuturnas, já não se resumem às grandes concentrações dos estádios de futebol ou manifestações. Sua movimentação é hoje corriqueira. Basta lembrar que o tecido social deteriorado em áreas nas quais o verdadeiro desenvolvimento não chegou, produz pessoas periféricas. Atestado contundente de que não eliminamos a miséria, nem reduzimos a pobreza, mas mantemos uma sociedade injusta e iníqua, é a presença desses semelhantes em tudo hipossuficientes. Podem estar habitando o centro da cidade, mas, socialmente, integram a periferia. Como nos portamos em relação a eles? Nem todos são aqueles humanos que nos fornecem a imagem assustadora da violência urbana: “Homicídios, tráfico de drogas, assaltos, ocupações de morros, guerras com a polícia e adolescentes armados são tematizados em associação direta com periferias e favelas, figuradas, então, como territórios conflagrados, em que grassa uma violência banal. Seriam espaços apartados do funcionamento normal da 32 sociedade, na qual pais de família tocariam sua vida honesta”. Por óbvio, periferia não é sinônimo de delinquência. O preconceito generalizado sugere o contrário. Advém dessa pré-compreensão disseminada, muito presente entre aqueles que se consideram diferenciados, superiores aos demais. O certo é que o aumento verificado nas últimas décadas é exatamente o do número dos hipossuficientes, dos excluídos, dos “invisíveis”, que não são enxergados como gente digna pelo sistema e pelo Poder Público. Em relação a essa vasta e crescente categoria, qual é a nossa postura ética? Por óbvio, uma situação resultante de múltiplas causas e de efeitos acumulados há séculos – o Brasil foi um dos últimos países a abolir a escravatura – é insuscetível de mutação por obra de uma pessoa. Várias gerações terão de enfrentar as consequências da exclusão e de uma das mais iníquas repartições de renda que perduram no planeta. Todavia, ninguém é tão impotente que não possa fazer alguma coisa. Essa “alguma coisa” depende do talento pessoal e da sensibilidade gerada ante o contato com a realidade. Há quem se dedique a uma obra caritativa ou filantrópica, ou pertença a uma ONG, ou se proponha a uma iniciativa de impacto social. Para quem adquiriu consciência política, a cidadania tem de edificar a Pátria justa, fraterna e solidária prometida pelo constituinte em 1988. Não é favor nem caridade redimir o semelhante das amarras que o mantêm numa certa clandestinidade moral. Situação a que são relegados milhões de brasileiros destituídos do direito ao trabalho, à moradia, ao saneamento básico, à educação, à saúde, ao transporte e a tudo aquilo que se acena e se declara, formalmente,no pacto federativo, como inalienável a qualquer humano. Os mais esclarecidos têm uma poderosa arma à sua disposição: utilizar-se das redes sociais para motivar ações sociais e, também, para que não pereça a indignação. Há muito a ser feito por quem tiver vontade e iniciativa. Não é só dinheiro o que interessa para redimir o semelhante. Boas ações costumam ser gratuitas. Residem no ânimo de fraternidade que, no fundo, até os insensíveis encontram, quando se defrontam com situação de intolerável iniquidade. Em todos os lugares podem ser encontradas. Algo que não custa: um olhar de carinho. Não de comiseração. Encarar o semelhante como gente, não como escória. Enxergá-lo: ele não é invisível, nem é 33 objeto. É um ser humano. Feito da mesma miserável matéria com que você se apresenta. Somos frágeis, falíveis, finitos. Mais dia, menos dia, seremos pó. Por que ignorar aquele que está em condição menos favorável do que a nossa? Se um semelhante está em condição indigna, o correto – se não for possível a devolução imediata de dignidade – é clamar para que a situação tenha cobro. Há dinheiro suficiente, considerada a escorchante carga tributária, para satisfazer as necessidades básicas dos desvalidos. Desde que as verbas arrecadadas não sejam drenadas para alimentar estruturas dispendiosas e desnecessárias, custear mordomias, viagens, vantagens e privilégios. O tesouro nacional traduz o lamentável sustento de tudo o que não é primordial, mas fez do Estado brasileiro um sorvedouro insaciável de recursos financeiros. Cumpre resgatar o princípio da subsidiariedade. Aquilo que eu puder fazer sozinho, não preciso chamar ninguém para me auxiliar. Quando necessário, recorro ao grupo mais próximo. A dificuldade adveniente faz com que se alarguem as esferas do chamamento. Até se chegar ao Poder Público e clamar por ação concreta. Embora se tenha noção exata de que, ao se assenhorear de todas as incumbências, ao assumir todas as obrigações, ao encarnar o papel de onipotência provedora que veio para ficar, o Estado brasileiro quase faliu. Demonstra ainda o quadro perverso de sua impotência. Nada do que realiza consegue satisfazer uma população cada vez mais exigente em suas demandas. Da tragédia em que o Estado foi arremessado, talvez se extraia algum tênue benefício. A nacionalidade pode despertar de um sono esplêndido e assumir seus deveres, obrigações e responsabilidades. A construção de uma Democracia Participativa, para substituir a moribunda Democracia Representativa, precisa de protagonismo. É mais fácil começar pelas pequenas incursões que integram um conceito ético de cidadania. Há uma série infinita de pequenas ações que podem ser praticadas por qualquer pessoa de boa vontade. O que mais falta à legião dos excluídos é educação. Analfabetos e iletrados, analfabetos funcionais, profissionais desprovidos de formação técnica, despreparo, falta de qualificação, tudo isso se acumula e mantém – qual pesada âncora – a pessoa e o grupo familiar em condições sub-humanas. Quem é que não pode assumir a missão de educar alguém que necessite de quem lhe abra os olhos? 34 Ajudar a quem necessita, não com aquela esmola esporádica, mas com gestos significativos, isso é uma conduta ética. Hoje as pessoas vivem uma situação ironicamente paradoxal. Todas munidas de seus mobiles – o Brasil, repita-se, tem 265 milhões de celulares, tablets, smartphones e computadores pessoais, para uma população de 211 milhões de habitantes – e a solidão é uma companheira permanente da maior parte delas. Há poucos olhares individualizados, há reduzidos contatos faciais. É avassalador verificar como a polidez deu lugar à frieza. Seres humanos se esbarram nas aglomerações e não se encaram, nem pedem desculpas. São inúmeros os indivíduos que não têm a quem relatar suas angústias. Nem todos podem se socorrer da terapia, reservada a privilegiados que têm condições econômicas ou conseguem a lotérica benevolência do SUS. Ouvir e proferir uma palavra de conforto é medicamento milagroso para a recuperação da esperança. Interessante que a educação convencional diferenciada estimula a comunicação, mas sob a fórmula do “falar bem”. Exprimir-se com eloquência, invocar a retórica antiga, a arte de persuadir, tudo isso é objeto do ensino formal. Mas a psicologia sustenta a tese de que o que importa mesmo é saber ouvir. É uma falta de ética ouvir mal. E isso é recorrente no âmbito do lar. Casamentos se desfazem sob o argumento de que um dos cônjuges não ouve o que o outro fala, não se interessa por suas angústias. Sociedades se desfazem, conflitos crescem, tudo porque a maioria quer falar, mas não há ouvidos pacientes para ouvir. Hoje existe até leitura específica para ensinar a ouvir. “Escutar é uma disposição a reverberar, pontuar, ecoar, tencionar ou participar da fala do outro. O bom escutador é leitor de textos e de pessoas, alguém que se interessa por entrar na vida alheia porque ela é um desafio de leitura, como um bom livro ou filme”. Ler para cegos ou para crianças, participar de “contação de estórias”, visitar hospitais e estabelecimentos de internação coletiva, são atitudes éticas. Levar uma criança a um espaço educativo ao qual ela, em suas condições normais, não teria acesso. Propor-se a ouvir o relato das recordações de um idoso. Acrescentar à esmola uma palavra carinhosa. Abraçar, apertar a mão com vontade, quando cumprimenta alguém, olhar nos olhos de quem o atende numa repartição, no comércio ou em qualquer bilheteria, abolindo o muro que separa senhor e subalterno, há tantos gestos possíveis e gratuitos! 35 O contato com crianças em escolas públicas, em orfanatos ou instituições, pode ser uma experiência bem interessante. Elas são ávidas por atenção. Basta se evidencie espontâneo interesse e se entregam, na ingenuidade característica à mais tenra idade. Há exemplos colhidos em todas as partes, dando conta de que se aproximar das crianças faz bem ao adulto, mais do que a elas. Será preciso que o Brasil enfrente tragédias, como as ocorridas no restante do planeta, para enternecer o coração empedernido de adultos egoístas? O médico polonês Janusz Korczak foi considerado um apóstolo da infância desamparada e criou revolucionário método pedagógico de valorização da criança. Por atender, conversar e brincar com as crianças esfarrapadas pelas vielas de Varsóvia, foi apelidado pelos adultos de “doutor maluco”. Escreveu o livro “Se eu voltasse a ser criança”, no qual se dirigia aos adultos: “Dizeis-nos: - Aborrece a conversa das crianças. Tendes razão. Dizeis – Temos que nos curvar para entendê- las. Enganai-vos. Não é isso que vos aborrece, mas ter que elevar vossos sentimentos para não agravá-las”.O drama na maturidade é a perda de algo irrecuperável: a inocência infantil. Para Janusz, o adulto escapa de sua monótona alienação quando se recorda de sua infância. Acreditava ele que os educadores devem aprender com os alunos e, concretizador de seus ideais, fundou colônias para crianças trabalhadoras. Criou um famoso asilo de órfãos, que chamou de República Infantil, a qual dirigiu por 25 anos. Incentivou as crianças a elaborarem uma Constituição, elegerem um Parlamento, uma Corte de Justiça e um Código Penal, cujo preâmbulo dizia: “Se alguém procede mal, o melhor será perdoá-lo”. Durante o famigerado Gueto de Varsóvia, para distrair os pupilos famintos, dissertava sobre Justiça, bondade e dignidade dos seres humanos. Em 5.8.1942, foi à frente de suas 200 crianças, todas vestidas com traje de festa, pois acreditavam saírem de férias. Embarcaram todos no trem para a câmara de gás de Treblinka. Ele estava liberado de acompanhá-las. Mas respondeu: “Sigo meus filhos”. Entre seus guardados, encontrou-se o texto que poderia ser a síntese de sua vida: “Minha vida foi difícil, mas interessante. Uma vida assim pedi a Deusna juventude. Rezei, na profundidade da minha alma: - Deus, dê-me uma vida dura, difícil, mas de belos e elevados propósitos”. Não faltam exemplos edificantes, às vezes muito próximos. Todos somos 36 capazes de relacionar pessoas que nos inspiram. A experiência de vida nos habilita a termos nossos heróis pessoais. Aqueles que no íntimo admiramos. Podemos comprovar o acerto de Saint Exupéry, ao escrever: “As pessoas que encontramos profundamente, nos transformam, nos modificam, nos constroem”. Temos noção de que talvez até possamos ser uma dessas pessoas para aqueles aos quais influenciamos? Servir de apoio, confortar quem precisa de um olhar de ternura, ouvir com paciência, é algo que nada custa e recompensa mais quem se propôs a prestar auxílio do que o destinatário desse gesto. Quantos outros belos testemunhos de vida não poderiam nos inspirar a conferir um salto qualitativo à nossa existência? Temos pouco tempo para justificar nossa passagem por este planeta. Algumas décadas, não mais. Valhamo-nos delas para que a nossa presença, junto a qualquer semelhante, seja razão de alegria ou, ao menos, bem-estar do outro. Evitemos nos tornar aquele indivíduo desagradável, triste, lamuriante e de quem todos, com razão, procuram fugir. 4.4 A ética e o dinheiro Precisamos subsistir e sobreviver é tarefa cada vez mais dispendiosa. Quem se propuser a levar uma vida confortável e dispensar igual padrão a seus dependentes, terá de dispor de recursos consideráveis. Como obtê-los? Se estamos a refletir sobre ética, desde logo se exclua admitir a estratégia dos ímprobos. A estes foi reservado, até como exceção, suportar as consequências legais de um sistema erigido sobre a lógica da honestidade. Valor resgatado pela Operação Lava-Jato e outras análogas. Pensemos em quem não se desvia da correção. Estamos numa era em que o consumismo é impositivo. Quase impossível fugir à publicidade que manipula a nossa vontade e nos faz adquirir bens da vida muita vez desnecessários ou supérfluos. O desapego é algo praticamente em desuso. A ascese é ignorada pela maioria. Tende-se a considerar legítima a intenção de se obter o máximo em comodidade, conforto e, para isso, acredita-se que o jeito é amealhar o máximo de bens materiais. Essa a usual interpretação do que, para a maioria, representa real sucesso. Pessoas consideradas bem-sucedidas são aquelas que dispõem de condições de adquirir os bens materiais da vida que o momento histórico 37 determina sejam imprescindíveis à consecução da felicidade. Há uma pregação insistente, para convencer a todos, principalmente as novas gerações, de que não existe alternativa. O contrário seria o retrato do fracasso. Fracassar é a maior desgraça que, sob a ótica do capitalismo, pode acontecer a um consumidor. A falta de dinheiro submete o ser humano a um status subalterno. É a condição daquele que não foi convidado para a festa do consumo. É um alienado do sistema, além de estigmatizá-lo como um malogrado. Já o homem abonado nem sempre se satisfaz com o que tem, mas procura ter cada vez mais. Explica-se a insatisfação como característica ínsita à criatura. Nunca está feliz com aquilo que já possui. As necessidades são infinitas e sucessivas e, muitas delas, artificial e inteligentemente criadas pelo motor capitalista. O dínamo que faz manter a roda do mundo a girar em moto contínuo. O dinheiro deixou de ser aquele instrumento capaz de tornar o ser humano mais feliz, mas se converteu em finalidade autônoma. É um fim em si mesmo. Por ele praticam-se sacrifícios, insânias e crimes. Dinheiro vicia como substância entorpecente. Assim como há dependentes de drogas, há os dependentes de dinheiro. Só que os resultados dessa dependência podem ser mais desastrosos do que o drama do viciado em substância tóxica. A escravidão ao dinheiro potencializa, e de forma exponencial, o malefício resultante. A vaidade humana colabora para fazer com que o rico se considere um ser superior, predestinado a vencer e muito acima dos demais, propenso a desconsiderar quem não se encontra em nível idêntico. Ricos arrogantes, pretensiosos e insensíveis constituem uma raça sui generis, mas bastante disseminada no capitalismo ocidental e mesmo em países de pretensa inspiração socialista. Ninguém acredita no ditado “dinheiro não traz felicidade”. Replica-se com “não traz felicidade, mas pode comprá- la”. Atribui-se a Françoise Sagan ter afirmado que a vida é um “vale de lágrimas” para todos: ricos e pobres. Mas se eu tiver de chorar, prefiro que seja dentro de uma Mercedes estacionada às margens do Sena e não na sarjeta junto aos monturos do banlieue parisiense. Ter dinheiro sugere a excitante possibilidade de se adquirir tudo o que se queira. O poderoso infla sua autoestima e se esquece da mortalidade, que é a mesma 38 para todos os humanos. Na sua concepção, “o dinheiro compra tudo”: inclusive poder, amor, benevolência e liberdade, prestígio e justiça. O mercado colabora para robustecer essa ideia. Michael J. Sandel observa que hoje são poucas as coisas que o dinheiro não compra. Pois quase tudo está à venda. E fornece exemplos: upgrade no cárcere custa U$ 82 por noite; acesso às pistas de transporte solidário: U$ 8 nas horas do rush; barriga de aluguel indiana: U$ 6.250; direito de ser imigrante nos Estados Unidos: U$ 500 mil; direito de abater um rinoceronte negro ameaçado de extinção: U$ 150 mil; saber o celular do seu médico: U$ 1.500 a mais por ano; direito de lançar uma tonelada métrica de gás carbônico na atmosfera: 13 euros ou U$ 18; matrícula do filho em Universidade americana de prestígio: preço não divulgado. O livro de Sandel é muito interessante, porque mostra o que o dinheiro tem feito com a humanidade, reduzindo-a a servil escrava do ouro. Para o autor, o mercado descarta a moral. Alugam-se amigos, escrevem-se discursos, dissertações de Mestrado, Teses de Doutorado, até livros autobiográficos. Vende-se sangue, qualquer órgão do corpo humano, e há mercados que apostam na morte. São os “bolões” com previsão de qual o idoso que morrerá primeiro, a garantir o prêmio a quem acertou. Isso ocorre em todo o mundo e também no Brasil. Aqui, talvez, o preço seja inferior, porque temos muito mais pobres do que ricos. É um golpe baixo contra a ética. Pois “numa época de crescente desigualdade, a marquetização de tudo significa que as pessoas abastadas e as de poucos recursos levam vidas cada vez mais separadas. Vivemos, trabalhamos, compramos e nos distraímos em lugares diferentes. Nossos filhos vão a escolas diferentes. Estamos falando de uma espécie de camarotização da vida americana. Não é bom para a democracia e nem sequer é uma maneira satisfatória de levar a vida”. O Brasil deu exemplos repugnantes de compra de pessoas para favorecerem outras pessoas ou empresas. Ocorreu e, com certeza, continua a ocorrer, a aquisição de testemunhas, de candidatos, de perícias, de certidões. Compram-se cargos em instituições tidas por respeitáveis, até em instâncias acima de qualquer suspeita, com uma desenvoltura que já não choca uma sociedade anestesiada. À evidência, não há emissão de nota fiscal, nem de recibos. Os subterfúgios disfarçam que, ontologicamente, não deixa de ser uma compra: alguém oferece dinheiro por algo que não estaria à venda. Em São Paulo, por exemplo, quem tem dinheiro coloca sua cria numa escola 39 que é nicho de excelência, que será trilíngue, com ensino integral, viagens ao exterior e convívio com iguais. Uma blindagem separatista. Não se tem noção do que acontece fora da casamata tutelar. É a tranquila aquisição do futuro glorioso. Enquanto isso, o despossuído fica na Rede Pública, palco da costumeira tragédia generalizada, com ressalva de raríssimas exceções. O mesmo acontece com a saúde, privilégio a que o pobre não tem acesso. Aprofunda-se o fossoque separa o muito rico do muito pobre e isso é encarado com naturalidade. “Pobres sempre existirão”, já se afirmou. À evidência, ninguém atenta para a sabedoria estoica, na sua pregação de que a vida não passa de um engodo. A busca de dinheiro, poder e sexo não produz felicidade. Algo em que o ianque não acredita, pois ali o lema é “siga o dinheiro” e “tempo é dinheiro”, enquanto a França preferiu o “cherchez la femme”. Seria conveniente, para a saúde da humanidade, resgatar ao menos alguma coisa do estoicismo. “A ética estoica era pensada, acima de tudo, como uma ética para a vida, não apenas como uma ética sistematizada e elaborada para fazer frente aos críticos e aos desafios”. Quem procurava um filósofo estoico evidenciava estar enfermo. A ética estoica é terapêutica. Por isso adequada aos nossos tempos, nos quais a consciência se obscurece e a escravidão ao deus dinheiro inspira grande parte da atuação dos poderosos. O Brasil destes últimos anos exibiu ao mundo a carcaça de sua política e a falência da Democracia Representativa. Fortunas foram apropriadas por aqueles que assumiram a responsabilidade de defender o bem comum e reduzir a profunda iniquidade transparente em nossa sociedade. Ignoraram a ética estoica aqueles que perpetraram o drama orgiástico da apropriação do dinheiro do Erário, mas lembraram outra máxima latina: pecúnia non olet. Dinheiro que, simbolicamente, está impregnado do sangue dos desfavorecidos, que têm direito virtual a tudo aquilo que a desonestidade a eles subtraiu. A ética da pós-modernidade impõe ainda uma reflexão a respeito da renda mínima. A legião dos desempregados estará condenada ao ócio permanente e, se não houver alternativa, à miséria. Os novos modelos “deveriam ser orientados pelo princípio de que é preciso proteger os humanos e não os empregos”. A renda mínima, ou renda básica universal (RBU), “propõe que os governos tributem os bilionários e as corporações que controlam os algoritmos e robôs, e usem o dinheiro para prover 40 cada pessoa com um generoso estipêndio que cubra suas necessidades básicas. Isso protegerá os pobres da perda de emprego e da exclusão econômica, enquanto protege os ricos da ira populista”. A ideia seria remunerar atividades que hoje não são consideradas “emprego”, mas têm evidente valor financeiro. O exemplo é pagar pelas mães que cuidam de seus filhos em casa, dos filhos que zelam pelos pais idosos, de vizinhos que “tomam conta” de outros mais frágeis ou até da residência alheia, quando os moradores viajam. Algo haverá de ser pensado, pois o prenúncio é de extinção de milhões de profissões, enquanto as novas funções reclamam qualificação ainda não disponível e de longo preparo. Seria utópico tentar relembrar o ser humano de que dinheiro é instrumento, é meio, não finalidade? E recordar Kant, que deixou a indelével lição de que a moral humana não é a doutrina que ensina a ser feliz, senão aquela que nos leva a nos tornar dignos da felicidade. 4.5 A ética e a natureza Haverá ainda uma pessoa sobre a face da Terra que desconheça a situação do planeta, mercê da insensatez com que é tratado pelos humanos? Inúmeros sinais foram emitidos e não ocorreu a conversão esperada. A ciência anunciou a catástrofe e esta já foi deflagrada. Há uma tonelagem de obras de alerta e conclamação a que as pessoas mudem de atitude, sejam racionais e sensatas, sob pena de se extinguir a experiência da vida neste habitat. Advirta-se uma vez ainda: não é a Terra que corre perigo. O perigo põe em risco a vida humana. O planeta continuará a existir, como existem outros inúmeros, nesta e em outras Galáxias. Todavia, deixará de hospedar essa espécie terrível, que se comporta, em relação aos recursos naturais, de maneira mais destrutiva do que o gafanhoto e outras pragas soem dizimar a lavoura. A ética ambiental tem merecido minha modesta atenção há várias décadas. Já produzi obra específica para suscitar reflexão e remota mudança de comportamento. Essa reflexão não se propõe a reiterar toda a argumentação desenvolvida, nem a rememorar publicações de defensores do ambiente, tudo, aliás, disponível a quem se interesse pelo tema, com facilitado acesso pelas redes sociais. Limito-me a citar um livro recente, de Kate Raworth, economista heterodoxa e 41 professora da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Chama-se “Economia Donut: Uma Alternativa ao Crescimento a Qualquer Custo”. A obsessão por um equivocado conceito de “desenvolvimento”, que é o da maioria dos humanos, levará o Planeta à completa destruição. Fixar-se no PIB como critério de progresso é um lamentável erro. As regras impostas à economia levam a um perigoso desnível da igualdade entre os homens, em afronta com o discurso de que ela, a inalcançável igualdade, é um bem a ser perseguido de forma contínua. Essa cruzada pelo crescimento econômico conduziu a humanidade a viver num planeta frágil e poluído, com deficiência de água potável, comprometimento de todos os espaços, habitáveis ou não e agudo empobrecimento da maioria das pessoas. A sustentabilidade é um valor presente na retórica, mas ausente na prática. O correto seria adotar uma economia distributiva, que fizesse circular o valor agregado em vez de concentrá-lo, e que fosse ainda regenerativa, ou seja: auxiliasse a recuperar as imensas áreas perdidas para uso saudável, por nefasta e descriteriosa exploração. Kate Raworth se utiliza da figura do donut, um doce americano, muito popular, geralmente em forma de rosquinha, para explanar seu projeto. Para ela, o limite interno do doce configura o alicerce social. É o conjunto de direitos a serem garantidos a todo ser humano. São doze categorias, entre as quais o acesso à água limpa, renda, trabalho, igualdade de gênero e participação na política. A parede externa da rosca seria o “teto ecológico da humanidade”, que não pode ser ultrapassado, sob pena de se agravar o já dramático estado do aquecimento global e perda da biodiversidade. O restante da rosquinha seria o espaço seguro e justo para a humanidade continuar a viver com qualidade neste que é o único planeta disponível à espécie. A ideia não é original, mas a autora propõe fórmulas para se chegar a bom resultado. Algumas das medidas sugeridas já foram anteriormente aventadas. Entre elas, instituir imposto sobre a riqueza. Considerando que existam cerca de dois mil bilionários em cerca de vinte países, um tributo anual de 1,5% sobre o patrimônio líquido renderia 74 bilhões de dólares por ano. O suficiente para que não faltasse educação a qualquer criança em qualquer lugar no mundo. Outra providência seria a renda básica ou renda mínima, tese há muitos anos defendida por Eduardo Matarazzo Suplicy e há pouco mencionada como renda básica universal (RBU). Seria uma contrapartida à robotização que inflará o contingente dos 42 desempregados. A escritora salienta a responsabilidade social das empresas, que não podem apenas cuidar de seus negócios, mas devem assumir o encargo de salvar a vida no planeta, mediante exploração sustentável de seus recursos. Nenhuma novidade, sugestões que encontram os naturais obstáculos agasalhados nas mentes egoístas daqueles que não têm compromisso com o futuro, mas, geralmente, com a próxima reeleição. Mais uma obra que os céticos relegarão ao ostracismo, na certeza de que a perspectiva de lucro rápido e fácil seja mais convincente. Ocorre que a parcela lúcida da sociedade mundial aprendeu a se servir das redes sociais. A comunicação on-line hoje é o meio pelo qual se relacionam os humanos, dos quais pequeníssima porção, tendente à extinção, ainda resiste à informatização da vida. O Brasil percebeu que a mobilização de “antenados” é uma possibilidade real. As eleições de 2018 comprovaram que a “velha política” não seduz a maioria. Afinal, quem dispunha de Fundo Eleitoral – vergonha
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