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Material Didático 
INSTITUTO NACIONAL SABER
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Ética Geral e Profissional 
 
 
INSTITUTO NACIONAL SABER 
 
O Instituto Nacional Saber tem por objetivo especializar 
profissionais em diversas áreas, capacitando alunos e os inserindo no 
mercado de trabalho, fazendo com que tenham destaque e ampliem suas 
carreiras. 
Nosso objetivo não é apenas oferecer conhecimento, mas formar 
profissionais capacitados e aptos para exercer as profissões que 
desejam, para participar do desenvolvimento de sua sociedade, e 
colaborar na sua formação contínua. 
Oferecemos conteúdos elaborados por conceituais profissionais, e 
tendo em vista os esforços de nossos colaboradores para a entrega do 
mais seleto conhecimento, assim aproximando-o ainda mais do mercado 
de trabalho. 
Pensando na necessidade dos nossos alunos em realizar o curso 
de forma flexível e mais acessível, o Instituto disponibiliza a 
especialização (Pós-Graduação Lato sensu), 100% EAD com 
reconhecimento do MEC, e com a mesma qualidade e peso de um estudo 
presencial. 
 
 
Desejamos sucesso e bons estudos! 
Equipe Instituto Nacional Saber 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 1 - ÉTICA E MORAL 
1.1 Primeiras Impressões sobre Ética ........................................................................ 4 
1.2 E a Moral? ............................................................................................................ 4 
1.3 Moral X Filosofia .................................................................................................. 5 
1.4 A Ética Antiga, A Filosofia e o Ato Moral .............................................................. 6 
1.5 A Ética e o Ato Moral ........................................................................................... 7 
 
UNIDADE 2 - CONCEITOS DE ÉTICA 
2.1 Distinção entre a Ética e a Moral .......................................................................... 8 
2.2 Conceitos de Ética ............................................................................................... 9 
2.3 Definição de Ética como Ramo da Filosofia ......................................................... 9 
2.4 Definição de Ética como Ciência ........................................................................ 10 
2.5 Objeto, Objetivo, Funções da Ética .................................................................... 10 
2.6 Virtudes e Vícios ................................................................................................ 11 
2.7 Teorias que explicam os Conceitos Éticos ......................................................... 15 
 
UNIDADE 3 - A ÉTICA PROFISSIONAL 
3.1 A Ética Profissional ............................................................................................ 17 
3.1.1 Mas o quê a sociedade busca no profissional? ............................................... 17 
3.1.2 O que é um Compromisso ético profissional? ................................................. 18 
3.1.3 E a Conduta ética? .......................................................................................... 18 
3.1.4 Ética Profissional e Mercado de Trabalho ....................................................... 19 
3.2 Código de Ética .................................................................................................. 19 
3.2.1 Códigos de Ética Profissionais ........................................................................ 19 
3.2.2 Códigos de Ética Empresariais ....................................................................... 20 
3.2.3 Principais Objetivos de um Código de Ética .................................................... 21 
3.2.4 Obrigatoriedade dos Códigos de Ética ............................................................ 21 
3.3 Ética, Transparência e Responsabilidade Social ................................................ 22 
3.4 Ética e Compliance ............................................................................................ 23 
3.4.1 Função do Compliance ................................................................................... 24 
 
UNIDADE 4 - ÉTICA PARA TODOS 
4.1 Introdução .......................................................................................................... 25 
4.2 Ética para consigo mesmo ................................................................................. 25 
4.3 Ética para com o próximo ................................................................................... 29 
4.4 A ética e o dinheiro ............................................................................................ 36 
4.5 A ética e a natureza ........................................................................................... 40 
4.6 A ética e a Quarta Revolução Industrial ............................................................. 46 
 
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 55 
SUMÁRIO 
 
4 
 
 
UNIDADE 1 - ÉTICA E MORAL 
 
 
 
 
1.1 Primeiras Impressões sobre Ética 
Entender, compreender e discutir ética é fundamental para viver em sociedade. 
Para isso, precisamos entender primeiro que a ética surgiu quando o homem se 
descobriu como um ser racional e despertou para a necessidade de assumir 
responsabilidades para viver em sociedade, como uma questão de sobrevivência. 
As dicussões sobre a ética são bem antigas, desde as inquietações levantada 
pelos grandes filósofos gregos como Socrátes, Platão e Aristóteles. Segundo MOORE 
(1975, p. 4), “ética é uma palavra de origem grega, com duas origens possíveis: 
 
 
 
 
 
 
 
 
1.2 E a Moral? 
Moral são as regras que orientam os indivíduos no convívio diário na sociedade, 
nor-teando suas ações e seus julgamentos sobre o que é moral ou imoral, certo ou 
errado, bom ou mau, ou seja, Moral é o comportamento. 
Vimos que a Moral pode ser definida como o conjunto de regras adquiridas por 
meio da cultura, da educação, da tradição e do cotidiano, que orientam o 
comportamento de cada um de nós na sociedade em que vivemos. 
Também discutimos aqui que as regras definidas pela moral regulam o modo 
de agir de todas as pessoas e que a moral está relacionada com a moralidade e com 
os ditos “bons costumes, valores e convenções” estabelecidos por uma cultura ou pela 
 
5 
 
sociedade, a partir do que nós, que fazemos parte dessa sociedade, conseguimos 
distinguir como bem ou mal, certo ou errado, bom ou ruim, aceitável ou inaceitável. 
Os princípios morais da honestidade, da bondade, do respeito, e da virtude, 
dentre outros, são valores universais que regem a conduta humana e tornam as 
relações harmoniosas. 
 
1.3 Moral X Filosofia 
Na Filosofia, temos uma Moral Objetiva, que remete para a obediência às leis 
morais, que são aquelas que as tradições, padrões e leis da sociedade estabelecem 
e a Moral subjetiva, cujo cumprimento do dever ocorre pela própria vontade do sujeito. 
Podemos identificar a moral na literatura, principalmente na literatura infantil, na 
conclusão das histórias cujo objetivo, geralmente, é transmitir valores morais 
aplicados às relações sociais (o bem sempre vence o mal). 
Amoral e Imoral 
Um comportamento ou situação Amoral é a ausência do conhecimento ou 
noção do que seja a moral. As pessoas com Comportamentos Amorais desconhecem 
os princípios morais de determinada sociedade, por isso não os seguem. Amoral é a 
ausência. 
Um comportamento ou situação Imoral é todo o tipo de comportamento ou 
situação que contraria os princípios estabelecidos pela moral. Por exemplo, a falta de 
pudor, a inde-cência e etc. 
Comparação entre o que é Moral e o Ato Moral 
• Moral é a maneira de se comportar regulada pelo costume. 
• Moral é o conjunto de regras de conduta de um grupo em uma 
determinada época. 
• Existe a Moral Pessoal e a Moral Coletiva. 
• Atos Humanos vêm da liberdade pessoal e da pressão coletiva.• No cotidiano temos os ATOS MORAIS – ATOS COLETIVOS – MORAL 
COLETIVA 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1.4 A Ética Antiga, A Filosofia e o Ato Moral 
 
 
 
 
 
 
 
 
A vida moral é causada pelo choque entre o nosso querer e a realidade 
(acreditavam os filósofos antigos). ÉTICA era educar a paixão e orientar a vontade e 
a finalidade da Ética era observar a relação e harmonia entre o caráter do sujeito e os 
valores da sociedade. 
A Ética Cristã Filosófica, era definida por nossa relação com Deus e não por 
outros homens, uma vez que entendia que nós, por sermos dotados de vontade livre, 
somos fracos e tentados ao pecado, por esse motivo, devemos nos guiar por Deus. 
Após a reve-lação da Lei Divina temos a obrigação de obedecer, daí a ideia do 
DEVER. 
O cristianismo trouxe a relação desvinculada da política e ligada ao homem 
crente. A Ética se torna um ATO DE DEVER. A Ética Cristã julga as ações, atitudes e 
intenções e define 3 tipos de condutas morais: 
 
7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1.5 A Ética e o Ato Moral 
Para Rousseau e Kant, a Ética é definida na relação Homem/natureza e o dever 
de cum-prir o ATO MORAL está dentro de nós porque é da nossa natureza social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
No pensamento de Hagel, a ética seria o fruto da razão humana, enquanto que 
para Nietzsche, em uma crítica à violência moral, afirma que a ética é apenas a 
imposição da vontade das grandes potências e Marx, numa crítica ao capitalismo, 
afirma que os valores éticos jamais podem se realizar na sociedade atual. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
 
UNIDADE 2 - CONCEITOS DE ÉTICA 
 
 
 
 
2.1 Distinção entre a Ética e a Moral 
Antes de refletirmos sobre conceitos de Ética, vejamos a distinção entre Ética 
e Moral. Você sabe diferenciá-las? 
As expressões Ética e Moral, embora possuam significados semelhantes, são 
bem distintas 
 
 
 
 
 
Vimos então que as expressões são distintas, uma vez que uma vez do grego 
e outra do latim. Também os s termos são de origem etimológica distinta: a palavra 
“ética” vem do Grego “ethos” que significa “modo de ser” ou “caráter”. Já a palavra 
“moral” tem origem no termo latino “morales” que significa “relativo aos costumes 
Podemos então concluir que a Ética se fundamenta nos valores morais que 
orientam o comportamento humano na sociedade e a Moral são os costumes, regras, 
tabus e ocn-venções estabelecidas por cada sociedade. 
Partindo disso, é possível dizer que: 
Ética são os conhecimentos obtidos da investigação do comportamento 
humano em relação às regras morais, explicadas de forma racional, fundamentada, 
científica e teó-rica, ou seja, ética é uma reflexão sobre a MORAL. 
A Moral orienta o comportamento perante as normas criadas ou determinadas 
pela sociedade ou por um grupo. A Moral e a Ética são diferentes porque a Ética são 
princí-pios e a Moral, condutas. 
 
9 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.2 Conceitos de Ética 
Vamos descobrir que não existe consenso quanto à definição de Ética. Mas, é 
interessante observar que existem dois caminhos distintos que os estudiosos tem 
definido a ética: ou como ramo da filosofia ou como ciência da conduta humana 
A ética tem se tornado um assunto muito discutido no nosso dia-a-dia, pois 
temos enfrentado grandes desafios neste século. Se associarmos ética ao caráter do 
indivíduo, afirmando que a ética é formada pelo convício e que a convivência com a 
família, com compartilhamento de valores morais, balizará a conduta humana, no 
campo pessoal, social e profissional. 
 
2.3 Definição de Ética como Ramo da Filosofia 
Para os estudiosos que definem ética como ramo da filosofia, existe uma 
profunda ligação entre Ética e Filosofia: a concepção filosófica do homem como um 
ser social e histórico e, os conceitos de liberdade, necessidade, valor, consciência e 
sociabilidade, uma vez que a ética deve estar inserida nas relações humanas em 
sociedade. Ética é o nome dado ao ramo da Filosofia dedicado aos assuntos morais. 
Jupiassú (1996): Conceitua a ética como “a parte da filosofia prática que tem 
por objetivo elaborar uma reflexão sobre os problemas fundamentais da moral”. 
Arruda ( 2001): A ética é “a parte da filosofia que estuda a moralidade dos atos 
humanos, enquanto livres e ordenados a seu fim último. 
Lisboa ( 1997): Define a ética como sendo “ um ramo da filosofia que lida com 
 
10 
 
o que é moralmente bom ou mal, certo ou errado”. 
 
2.4 Definição de Ética como Ciência 
Os que defendem a Ética como é uma ciência, acreditam que por ser a ética 
uma disciplina racional que parte dos atos humanos, ou seja, é um conjunto de 
conhecimentos sistemáticos, metódicos e racionais, baseados na experiência e 
fundados em princípios universais. 
Dos estudiosos que definem ética como ciência, convém destacar o 
pensamento de dois grandes filósofos, Aristóteles e Kant, e do ilustre contador, 
Antônio Lopes de Sá. 
Para Aristóteles: A ética consistia na ciência de praticar o bem. 
Para Kant: A ética consistia na ciência do dever. Ele buscava uma ética de 
validade universal, a qual possuía seu alicerce no princípio de que o dever obriga 
moralmente a consciência. 
Para SÁ (1996): “Em seu sentido de maior amplitude, a ética tem sido 
entendida como a ciência da conduta humana perante o ser e os seus semelhantes”. 
 
2.5 Objeto, Objetivo, Funções da Ética 
O objeto ou o propósito da Ética é a Moralidade da Conduta Humana ou a 
MORAL: 
A Moral ou a Moralidade positiva – conjunto de regras e comportamentos e 
formas de vida através das quais tende o homem a realizar o valor do bem (NALINI, 
2006); 
Sendo assim, o Objetivo da ética consiste em observar o comportamento 
humano, apontando os erros e desvios e formular os princípios básicos para definir a 
conduta do indivíduo na sociedade, ou seja, no meio em que ele vive. 
Realizar os valores e princípios que devem nortear a existência das pessoas. 
Logo, a Função da ética é: 
• Explicar; esclarecer; investigar e Elaborar conceitos correspondentes 
(VAZQUEZ, 1999:20) 
Para Cortina (2005), os Objetivos Essenciais da ética são: 
• Elucidar em que consiste o Moral, que não se identifica com os restantes 
 
11 
 
dos saberes práticos (com o jurídico, com o político ou com o 
religioso); 
• Tentar fundamentar o Moral; 
• Tentar uma aplicação dos princípios éticos 
descobertos aos distintos âmbitos da vida 
cotidiana. 
 
 
lustração: Marcone da Silva 
2.6 Virtudes e Vícios 
Sabemos que a Ética está relacionada com a virtude e também com luta do 
homem para superar seus principais vícios. 
Isto porque a ética possui como centro de atenção o HOMEM, que é moldado 
de virtudes e vícios, capaz de ter atitudes que objetivam suprir suas necessidades 
individuais e coletivas. 
Virtude 
A palavra “virtude” é um a palavra originada do latim “vis”, que significa força, 
energia. Lopes de Sá (1988:65), afirmava que “virtude, é condição basilar, ou seja, 
não se pode conceber o ético sem o virtuoso como princípio, nem deixar de apreciar 
tal capacidade em relação a terceiros”. 
Podemos também definir Virtude como uma qualidade moral, um atributo 
positivo de um indivíduo, sua disposição para praticar o bem. Quando pensamos na 
palavra virtude, podemos relacionar vários termos como: força, paciência, coragem, a 
eficácia ou a integridade, por exemplo. 
O filósofo Aristóteles, elaborou uma diferenciação entre virtudes intelectuais e 
virtudes éticas (ou morais), definindo que o estado ideal seria a moderação. Para 
Aristóteles, Virtude Intelectual é aquela que “nasce e progride graças aos resultados 
da aprendizagem e da educação”. A Virtude Moral seria aquela que “não é gerada em 
nós por natureza, é o resultado do hábito que nos torna capazes de praticar atos 
justos”. 
Entende-se então que, na visão de Aristóteles, não existem virtudes inatas, 
todas se adquirem pela repetição dos atos, que gera o costume, e esses atos, paragerarem as virtudes, não devem desviar-se nem por falta, nem por excesso, pois a 
 
12 
 
virtude consiste na justa medida, longe dos dois extremos. Na visão de Platão, a ação 
do homem é determinada pela virtude. 
Resumindo, as virtudes intelectuais, são ligadas à inteligência e as virtudes 
morais, que são relacionadas com o bem. A virtude intelectual consiste na capacidade 
de aprender com o diálogo e a reflexão em busca do verdadeiro conhecimento e a 
virtude moral, por sua vez, é a ação ou comportamento moral, é o hábito que é 
considerado bom de acordo com a ética. 
Barbosa e Ribeiro (2008:20), apresentam o seguinte quadro de virtudes 
básicas, adaptado de Camargo (2001): 
• PRUDÊNCIA: A reta noção daquilo que se deve fazer ou evitar, exigindo 
conhecimento dos princípios gerais da moralidade e das continências 
particulares da ação 
• JUSTIÇA: É o ato de respeitar os direitos e os deveres; é a disposição 
de dar a cada um o que é seu de acordo com a natureza, a igualdade ou 
a necessidade; é a base da vida em sociedade e da participação na 
existência comum; a justiça implica a combinação de diversas 
atividades, com a imparcialidade, a piedade, a veracidade, a fidelidade, 
a gratidão, a liberdade e a equidade. 
• FORTALEZA: Firmeza interior contra tudo o que molesta a pessoa neste 
mundo, fazendo vencer as dificuldades e os perigos que exercem a 
medida comum. 
• TEMPERANÇA: Regra, medida e a condição de toda virtude; é o meio 
justo entre excesso e a falta; Exige sensatez baseada num pensamento 
flexível e forme. Encontra-se atrelada à continência, a sobriedade, a 
humildade, a mansidão e a modéstia. 
Coelho (2014), apresentou um quadro de definição das virtudes básicas bem 
mais completo, em que identifica as exigências e os inimigos de cada uma das virtudes 
básicas: 
PRUDÊNCIA 
• Definição: Prudência: É o hábito de decidir bem. É a busca sistemática 
da objetividade, do realismo, do conhecimento de todas as 
circunstâncias dentro das quais devemos agir. 
 
13 
 
• Exige: Percepção das situações concretas; considerar as circunstâncias 
todas; perspicácia para perceber os meios oportunos a pôr em prática; 
estabelecer conexões entre os dados; ordenar os meios; prever o futuro; 
lembrar-se das experiências próprias e alheias; evitar inconvenientes 
etc. 
• Inimigos da Prudência: Desatenção (viver desligado); a precipitação; a 
negligência; a desconsideração (não dar importância); a inconstância; a 
astúcia (que leva à fraude). 
JUSTIÇA 
• Definição: Dar a cada um o que é seu. Justiça consiste em tratar 
igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida em que 
são desiguais. A justiça busca uma harmonia entre as pessoas, uma 
distribuição, um equilíbrio. 
• Exige: Considerar fundamentalmente as igualdades e as diferenças 
entre as pessoas, tais como idade, capacidade, esforço etc. 
• Inimigos da Justiça: Abuso, açambarcamento, imposição pela força, 
injustiça. 
FORTALEZA 
• Definição: É uma disposição da vontade que leva a não desistir do 
esforço necessário para fazer o bem ou para resistir ao mal. É a virtude 
que leva a combater o medo, o encolhimento perante as dificuldades da 
vida, a evitar a omissão. 
• Inimigos da Fortaleza: Covardia, temeridade (expor-se ao perigo sem 
necessidade). 
TEMPERANÇA 
• Definição: É a virtude que nos dispõe a moderar a procura do prazer. 
Visa em manter o equilíbrio, evitando que o ser humano busque o prazer 
pelo prazer. 
• Inimigos da Temperança: Excesso. 
 
 
 
 
14 
 
Vícios 
Ao discutirmos as virtudes, notamos que Aristóteles, ressalta um ponto muito 
importante: a questão entre a ausência e o excesso. O filósofo afirma que nosso 
caráter é formado a partir da repetição e do aperfeiçoamento dos atos que já fizemos 
antes (para melhor ou para pior) e que, com esse hábito, adquirimos as virtudes 
morais ou os vícios e nos tornamos virtuosos ou viciosos pelo exercício, assim como 
os homens tornam-se justos ou injustos praticando a justiça ou a injustiça. 
são as disposições viciosas ou virtuosas que constituem um caráter. Somos 
todos responsáveis por nossos atos, assim como também pelos nossos 
vícios. Somente aqueles indivíduos que têm suas atividades conforme a 
virtude se tornará virtuoso e, assim, atingem sua finalidade humana, sendo 
que o fim humano consiste, portanto, na busca da sabedoria” (SAMANTA 
OBADIA, 2016). 
 
Principais Vícios 
• ORGULHO: Procura desordenada de excelência; o orgulhoso se 
valoriza demais e, normalmente, diminui e menospreza o outro 
• AVAREZA: Procura desordenada de bens materiais; o avarento 
acumula riquezas, fazendo usos de meios nem sempre lícitos e, 
principalmente, centralizando todo o ser neste esforço. 
• GULA: Procura desordenada dos prazeres de comer e beber; causa o 
estrago da própria saúde, prejudicando muitas vezes, atividades 
profissionais e familiares. 
• LUXÚRIA: Procura desordenada dos prazeres sexuais; vive com fixação 
e obsessão, procurando satisfações que até implicam desrespeito a si 
mesmo e a outros. 
• INVEJA: Tristeza pelo bem alheio como um obstáculo à próprio bem, 
como se isso impedisse de ele também crescer e aparecer; ele sofre e 
até gostaria que ninguém fosse superior a ele. 
• PREGUIÇA: Recuo diante do trabalho e do esforço; falta-lhe aquela 
energia para assumir atividades dentro de métodos adequados que lhe 
assegurem a construção de valores. 
• IRA Violência contra aquilo que resiste à sua vontade, procurando 
vingança; a pessoa irada não raciocina, mas age tempestivamente. 
 
 
15 
 
2.7 Teorias que explicam os Conceitos Éticos 
Teoria do Fundamentalismo 
Identifica os preceitos éticos externos ao ser 
humano, não permitindo que o ser humano encontre o 
certo e o errado por si mesmo. As determinações 
externas são cumpridas sem questionamentos dos 
seguidores. (ex. – A Bíblia Sagrada, Alcorão). 
 
Teoria do Utilitarismo 
Propõe que o conceito ético seja elaborado com 
base no critério do maior bem para a sociedade. Diante 
de um determinado fato, a conduta do indivíduo será 
aquela que gerar maior bem para a sociedade. por 
exemplo, a Guerra do Iraque, a batalha contra o 
terrorismo. 
 
Teoria do Dever Ético 
Apregoada Kant (1724-1804), propõe que o 
conceito ético seja extraído do fato de que cada um deve 
se comportar de acordo com os princípios universais: 1) 
qualquer con-duta seria como padrão ético deve valer 
para todos que se encontrem na mesma situação, sem 
exceções; 2) só se deve exigir dos outros que exigimos 
de nós mesmos. 
 
Teoria Contratualista 
Seus precursores foram John Locke (1632-1704) 
e Jean Jacques Rousseau (1712-1778). Parte do 
pressuposto que o ser humano assume com os seus 
semelhantes a obri-gação de se comportar de acordo 
com as regras morais estabelecidas para o con-vívio 
social, dessa forma os conceitos éticos seriam extraídos 
 
16 
 
das regras morais que con-duzissem à perpetuação da sociedade, da paz e da 
harmonia do grupo social. 
 
Teoria do Relativismo 
Cada pessoa deveria decidir sobre o que é ou não 
é ético, com base nas suas próprias convicções e na sua 
própria concepção sobre o bem e o mal, dessa maneira, 
o que é ético para um pode não o ser para outro. 
 
 
 
17 
 
 
 
UNIDADE 3 - A ÉTICA PROFISSIONAL 
 
 
 
 
3.1 A Ética Profissional 
As organizações, atualmente, têm aumentado o seu interesse por atitudes 
éticas, pois o que tem sido observado é quando a mesma é negligenciada passa a 
vigorar a desconfiança entre empresas, a falta de lealdade dos empregados e o uso 
da tecnologia a serviço da fraude, colocando em jogo o destino da organização. 
As organizações aplicam os padrões éticos da sociedade as suas regras 
internas para o bom andamento dos processos de trabalho, alcance de metas e 
objetivos. A ética profis-sional proporciona um exercício diário de honestidade, 
comprometimento, confiabili-dade no comportamento do profissionale na tomada de 
decisões em suas atividades. 
O profissional deve seguir os padrões éticos da sociedade e as normas e 
regimentos internos das organizações. A ética profissional proporciona ao profissional 
um exercício diário e prazeroso de honestidade, comprometimento, confiabilidade, 
entre tantos outros, que conduzem o seu comportamento e a tomada de decisões em 
suas ati-vidades. A recompensa é ser reconhecido, não só pelo seu trabalho, mas 
também por sua conduta exemplar. 
Neste momento, em que a sociedade brasileira se encontrar em um estágio de 
instabili-dade provocada por condutas aéticas e precisa reestabelecer e solidificar o 
conjunto de valores corretos, precisamos entender que ética não é estética, a 
relevância deste evento se evidencia, pela contribuição para a comunidade ao 
enraizar, paulatinamente, a ética na produção/ação da academia. 
 
3.1.1 Mas o quê a sociedade busca no profissional? 
Com base nos valores morais existentes, existem alguns fundamentos da ética 
pro-fissional que determinam que a sociedade valoriza os profissionais que possuam 
 
18 
 
os seguintes requisitos éticos: 
• Honestidade enquanto ser humano e profissional 
• Perseverança na busca de seus objetivos e metas 
• Conhecimento Geral e Profissional para oferecer segurança na 
execução das atividades profissionais 
• Responsabilidade na execução de qualquer tarefa 
• Iniciativa para buscar solucionar as questões apresentadas 
• Imparcialidade na execução do trabalho e na apresentação de 
resultados e sugestões 
• Atualização constante e contínua 
• Trabalho em Grupo de modo que seja construído um espírito de equipe 
• Eficiência na execução das tarefas, buscando aprimorar a qualidade 
• Eficácia ao fazer o trabalho, visando atingir o resultado esperado 
• Ambição na busca de crescimento pessoal e profissional 
• Controle emocional nos relacionamentos pessoais e profissionais, 
visando a administração de conflitos 
• Relacionamento Interpessoal baseado na compreensão, ajuda mútua, 
respeito e consideração 
• Postura Profissional, privilegiando as boas maneiras, a boa educação, a 
comuni-cação adequada, os bons hábitos e a boa aparência. 
 
3.1.2 O que é um Compromisso ético profissional? 
Compromisso ético profissional é comportamento esperado porde-terminada 
classe ou profissão em relação ao indivíduo que exerce esta mesma profissão. 
 
3.1.3 E a Conduta ética? 
“Para que haja conduta ética é preciso que exista o AGENTE CONSCIENTE, 
isto é, aquele que conhece a diferença entre bem e mal, certo e errado, permitido e 
proibido, virtude e vício” (CHAUÍ, 1997, p. 337). 
Um profissional executa suas atividades com zelo e cuidados. Dentre as 
obrigações, destacamos: 
• Cuidar de sua apresentação pessoal 
 
19 
 
• Comunicar-se corretamente 
• Aprender a ouvir os outros 
• Melhorar o vocabulário 
• Nunca insultar ou gritar 
• Evitar violência 
• Oferecer informações 
• Praticar a Ética Profissional 
 
3.1.4 Ética Profissional e Mercado de Trabalho 
O avanço tecnológico, o crescimento vertiginoso da informação e dos meios de 
comunicação, a cibernética tem construído novas percepções e novos espaços para 
atuação profissional. 
 
3.2 Código de Ética 
O Código de ética é um documento, elaborado pelos principais gestores de 
uma organização, ou pelos Conselhos que regem uma profissão, que objetiva 
evidenciar os princípios, a missão, as atitudes e comportamentos adequados a uma 
determinada profissão ou empresa, de forma a atender às necessidades que aquela 
categoria serve e representa e os anseios da sociedade. 
A elaboração de um código de ética, busca enfatizar os valores, os deveres e 
as obri-gações que devem ser praticados e respeitados pelos profissionais e pelas 
instituições e são, geralmente, embasados na legislação vigente do país, na 
Declaração dos Direitos Humanos, nas Leis Trabalhistas e nas Resoluções e Normas 
dos Conselhos Profissionais, de cada profissão: 
 
3.2.1 Códigos de Ética Profissionais 
Evidenciam os direitos e deveres, as proibi-ções, ou seja, as condutas que são 
vetadas no exercício da profissão e as sanções e punições (éticas e disciplinares), no 
caso de desobe-diência ao código. Cada código de ética espe-cifica o papel da 
profissão na sociedade e a importância do respeito à dignidade humana no exercício 
de cada uma. Exemplificando, temos o código de ética dos Médicos, dos Psicólogos, 
dos enfermeiros, do contador, do assistente social, dentre outros, etc. 
 
20 
 
3.2.2 Códigos de Ética Empresariais 
Evidenciam a missão, a visão, os valores e princípios que norteiam a 
organização e que devem ser conhecidos e respeitado pelos seus funcionários. É por 
meio do código de ética institucional que a função da empresa na sociedade e os 
valores que ela cultiva são percebidos e perpetuados. 
Os conselhos profissionais e as instituições, geralmente, possuem um conselho 
de ética que é o responsável por definir e elaborar o conteúdo dos códigos de ética. 
O conselho de Ética é formado por profissionais conceituados, escolhidos pela classe 
profissional que representam, sem vínculo empregatício com os Conselhos e com a 
responsabilidade ética legal sobre os assuntos dessa categoria. Atuam como 
tribunais, julgando as situa-ções que podem gerar sanções éticas ou disciplinares, 
baseados nas regulamentações dos códigos. 
No mundo, tem acontecido encontros para a formulação de um conjunto de 
padrões éticos que possam ser aplicados em todas as organizações. Em um encontro 
na cidade de Caux, Suíça, em 2004, líderes empresariais europeus, norteamericanos 
e japoneses elaboraram um código internacional de ética respaldados num conjunto 
de valores com-partilhados mundialmente, tais como: veracidade, integridade, 
equidade e igualdade. 
Esse código internacional de ética é constituído de 13 princípios que abrangem 
as mais variadas interfaces das organizações (FERRELL, 2001), 
• Responsabilidade das empresas 
• Impacto social e econômico das empresas 
• Conduta empresarial 
• Respeito às regras 
• Apoio ao comércio multilateral 
• Respeito ao meio ambiente 
• Prevenção de operações ilícitas 
• Relações com cliente 
• Direitos e deveres dos colaboradores 
• Agregação de valor para proprietários e investidores 
• Parceria com fornecedores 
• Práticas com relação à concorrência 
 
21 
 
• Inserção da comunidade nas decisões empresarias 
As organizações que criam um clima transparente, de confiança e respeito 
mútuo, pos-suem recurso valioso para gerar credibilidade, interna e externa, e 
incentivo para o sucesso. É vantajoso para a empresa ser considerada ética, pois tal 
reputação produz um efeito positivo poderoso sobre suas relações com as partes 
interessadas. 
 
3.2.3 Principais Objetivos de um Código de Ética 
a) Especificar os princípios e valores de uma instituição e/ou profissão, 
perante a sociedade 
b) Documentar os direitos e deveres do profissional 
c) Evidenciar os limites das relações que o profissional ou o funcionário 
deve ter com colegas e clientes/pacientes 
d) Explicar a importância de manter o sigilo profissional (essencial em 
muitos casos) 
e) Defender o respeito aos direitos humanos nas pesquisas científicas e na 
relação cotidiana 
f) Delimitar e especificar o uso de publicidade em cada área 
g) Falar sobre a remuneração e os direitos trabalhistas 
 
3.2.4 Obrigatoriedade dos Códigos de Ética 
O código de ética costuma ser obrigatório, principalmente por ser o documento 
que explicita os deveres, os direitos e as condutas esperadas dos profissionais ou 
funcionários das instituições, além das sanções e penalidades para a desobediência 
a estes deveres e/ou conduta. No entanto, existem exceções e, há mais conhecida é 
o caso do código de ética do profissional da área de jornalismo, uma vez que as 
especificações contidas nele são facultativas, ou seja, fica à critério do profissional, 
no exercício da sua profissão,e às instituições de comunicação avaliarem se adotam 
ou não algumas práticas. 
Exemplificando, uma das primeiras especificações que o código dos jornalistas 
traz é a do direito que todo cidadão tem à informação, logo, é dever do jornalista 
divulgar as notí-cias de interesse público, isentas de qualquer interesse pessoal ou 
 
22 
 
financeiro e baseada sempre na verdade. Porém, ocorre que geralmente, essa 
especificação é comprometida pelo corporativismo que existe no jornalismo e pela 
concorrência e disputa pelo “furo jornalístico”. Esse corporativismo ou essa disputa 
termina por prejudicar a sociedade, em relação ao direito à informação, uma vez que 
os conteúdos que são passados são incompletos. 
 
3.3 Ética, Transparência e Responsabilidade Social 
Responsabilidade social é a contribuição voluntária das empresas para uma 
sociedade mais justa e um ambiente mais limpo. 
Responsabilidade social significa que uma empresa não tem apenas o objetivo 
de retorno financeiro (lucro). Ela, também deve contribuir socialmente para a 
comunidade ou sociedade onde está inserida, trazendo benefícios como cultura, 
educação e outros bene-fícios para a sociedade. 
Atualmente, classificam-se a Responsabilidade Social em: 
Responsabilidade Social Corporativa 
Conjunto de ações adotadas pelas empresas, que beneficiam a sociedade e as 
corpora-ções, levando em consideração a economia, educação, meio-ambiente, 
saúde, transporte, moradia, atividade locais e governo. Geralmente, são os programas 
sociais, criados pelas organizações, que geram benefícios mútuos entre a empresa e 
a comunidade, melho-rando a qualidade de vida dos funcionários, e da própria 
população. 
Responsabilidade Social Empresarial 
Está intimamente ligada a uma gestão ética e transparente que a empresa deve 
ter nas relações entre a organização e partes interessadas, para minimizar os 
impactos negativos das suas atividades no meio ambiente e na comunidade. 
Responsabilidade Social e Ambiental 
Está relacionada com as práticas de preservação do meio ambiente, uma vez 
que uma empresa responsável no âmbito social deve ser conhecida pela criação de 
políticas res-ponsáveis na área ambiental, objetivando sua sustentabilidade. 
Diretrizes para Implantação da Responsabilidade Social 
Segundo o Instituto Ethos (2003), existem sete diretrizes para a implantação da 
Respon-sabilidade Social nas organizações. São elas: 
 
23 
 
1) Adotar valores e trabalhar com transparência 
2) Valorizar empregados e colaboradores 
3) Fazer sempre mais pelo meio ambiente 
4) Envolver parceiros e fornecedores 
5) Proteger clientes e consumidores 
6) Promover sua comunidade 
7) Comprometer-se com o bem comum 
 
A Transparência e a Ética 
Em um artigo publicado pelo Instituto Ethos, em 2013, Lélio Lauretti, sócio 
fundador e professor do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), afirma 
que con-ceitos arraigados, como o de “criar valor para os sócios” como objetivo maior 
de qual-quer atividade empresarial, foi substituído pelo conceito de “criar valor para a 
sociedade, a começar pelos sócios”. 
Para Lauretti (2013), a adoção dos princípios éticos é uma consequência 
natural e necessária em razão das transformações experimentadas pela sociedade 
na contemporaneidade. 
A Transparência, como um princípio ético é o desejo de informar tudo aquilo 
que, no plano empresarial (por exemplo), possa afetar significativamente os interesses 
dos sta-keholders1, os quais, mais bem informados, terão melhores condições de 
analisar os riscos que estão assumindo (LAURETTI, 2013). 
 
3.4 Ética e Compliance 
Compliance tem origem no verbo em inglês to comply, que significa agir de 
acordo com uma regra, uma instrução interna, um comando ou um pedido. Estar em 
“Compliance” é estar em conformidade com leis e regulamentos externos e internos. 
Uma organização “em compliance” é aquela que, por cumprir e observar 
rigorosamente a legislação à qual se submete e aplicar princípios éticos nas suas 
tomadas de decisões, preserva ilesa sua integridade e resiliência, assim como de seus 
colaboradores e da Alta Administração. 
Em 2017, o Compliance tem tido maior destaque e espaço nas empresas, 
principalmente as que possuem relações com a administração pública, tendo em vista 
 
24 
 
os constantes escândalos e, de acordo com uma pesquisa efetuada pela Revista 
Exame, o advogado especializado em compliance é uma das profissões mais 
promissoras. 
 
3.4.1 Função do Compliance 
O Compliance tem a função de monitorar e assegurar que todos os envolvidos 
com uma empresa estejam de acordo com as práticas de conduta da mesma. Essas 
práticas devem ser orientadas pelo Código de Conduta e pelas Políticas da 
Companhia, cujas ações estão especialmente voltadas para o combate à corrupção. 
 
Benefícios para as empresas com a adoção do Compliance 
1. Preservação da Integridade Civil e Criminal 
Ao prevenir e reduzir os riscos das condutas não conformes, o Compliance 
diminui o grau de exposição e responsabilização da Alta Administração da 
Organização em relação a potenciais comportamentos irregulares ou ilegais de seus 
colaboradores. 
2. Aumento de Eficiência 
O Compliance reduz a incidência de fraudes e desconformidades, que geram 
desvios de recursos, evitando riscos de sanções legais, perdas financeiras e perda de 
reputação. Também aumenta a qualidade das decisões da Organização, reduzindo o 
custo opera-cional. Estes fatores repercutem diretamente no aumento de eficiência na 
gestão e no desempenho da Organização. 
3. Vantagem Competitiva 
O Compliance é uma estratégia relevante de competitividade e atratividade do 
negócio, uma vez que a sociedade cada vez mais, se conscientiza em relação ao 
consumo susten-tável e ético, e passou a exigir que as Organizações adotem posturas 
e comportamentos que reflitam esses valores. 
4. Ganhos de Produtividade 
Uma cultura organizacional ética exerce influência sobre a integridade dos 
colabora-dores, reduzindo a incidência de comportamentos que representam desvios. 
A difusão de boas práticas de governança corporativa amplia a coesão do público 
interno, gerando uma melhoria de produtividade contínua. 
 
25 
 
 
 
UNIDADE 4 - ÉTICA PARA TODOS 
 
 
 
 
4.1 Introdução 
Várias situações sob a vertente ética foram apreciadas nesta obra. A partir do 
conceito de ética, dedicou-se uma reflexão específica para a ética ambiental e para a 
postura dos estudantes, sobretudo os que aprendem Ciência Jurídica na Faculdade 
de Direito. As profissões forenses foram contempladas: advogado, promotor, policial 
e juiz. O propósito foi a objetividade e a concisão. Para fazer pensar e, se possível, 
acionar o mecanismo de consciência que impõe a todo ser humano portar-se 
eticamente. 
Haveria condição de se chegar a uma síntese? Algum recado que servisse para 
todos os interessados em ascender eticamente em sua vida? Uma ética para todas 
as pessoas e para todos os dias? Independentemente da profissão, da idade, do lugar 
em que moram? Existe algo comum e rotineiro, incidente sobre toda e qualquer 
pessoa, que possa estimular a adoção de um pensamento ético para um agir também 
ético na rotina de nossas vidas? 
Esse remate para uma obra que chega à 14ª edição (o que significa a 
persistência e a determinação de pessoas atentas ao estado atual de coisas, no 
mundo e no Brasil), tenta oferecer a singeleza de uma receita ética factível. Sem 
aprofundamento teórico, sem mistérios e sem segredos. Algo essencialmente prático. 
Para tentar convencer o cético, ou o desalentado, de que não é impossível ser ético 
em pleno século 21, por mais desanimador que se vislumbre o cenário pátrio. 
 
4.2 Ética para consigo mesmo 
O próximo de mim mais próximo, sou eu mesmo. Sou um indivíduo e mereço 
consideração e respeito. A começar pela minha autoestima. Nas várias esferas de 
relacionamento humano, preciso ter uma relação franca,honesta e amistosa com o 
 
26 
 
meu self. Preciso me conhecer melhor. Aprendizado que, muita vez, leva inúmeros 
anos, ao fim dos quais não se recebe diploma. 
Preciso me tratar bem. Cuidar de minha saúde física e mental. Explorar as 
minhas potencialidades. Saber o que me agrada e o que me irrita. Lapidar os meus 
talentos, podar as minhas falhas. Assumir um contrato consigo mesmo: ser, o quão 
possível, feliz. Ao menos sereno, tranquilo, aceitando as vicissitudes, pois elas são 
inevitáveis. 
O compromisso humano consigo mesmo é tornar-se a cada dia um pouco 
melhor. Acreditar na rota da perfectibilidade, que nos faz aprender com os erros, 
perseverar no propósito de não os cometer mais. Levar a sério a intenção de se atingir 
a plenitude possível, mediante meticuloso trabalho de revolver o que é inservível, 
lançá-lo fora e amealhar somente o que nos faz crescer. 
Respeitar os limites, mas tentar superá-los, quando depender de nós. Alegrar-
se, porque a tristeza chegará, queiramos ou não. Aceitar-se, com fragilidades e 
fissuras, corrigir o que é suscetível de correção. 
Propiciar-se pequenos prazeres, que são esses os mais fundamentais para o 
nosso bem-estar. Atentar para os detalhes. Às vezes, neles está a beleza. Cultivar 
aquilo que nos agrada. Evitar tudo o que nos perturba. Com paciência e 
predisposição, chega-se a distinguir uma coisa da outra. Isso é o que se chama 
sapiência. Administrar as circunstâncias e balizar sua compatibilidade com a retidão. 
Procurar a coerência possível na difícil caminhada por uma existência que 
surpreende e desencanta. Chorar quando tiver vontade. Não esconder o sentimento 
e mostrar aos seres amados que eles são importantes e essenciais para nós. 
Aprender a conviver, que isso é um desafio de monta. Aprender a morrer, que 
é o final inevitável de todos nós. A única verdadeira certeza, no mundo das incertezas. 
Aceitar a morte, derradeira lição. 
Guardar as boas recordações. Aprender com aquelas que nos feriram. Não 
reter incompreensões. Desabafar. Perdoar. Quem não perdoa está mais sujeito a 
sofrer AVC e a ter enfartes. Não é folclore: é ciência. 
Cada qual tem a sua estratégia de suportar as dificuldades que, 
indefectivelmente, fazem às vezes pensar que viver não vale a pena. Eleja os seus 
objetivos. Relacione o que o faz perder a calma e o que traz sensação de conforto. 
Releia e refaça a lista, quantas vezes for necessário. Não é preciso aguardar a 
 
27 
 
chegada de um novo ano para fazer a relação das promessas que, em regra, sabe-se 
que nunca serão cumpridas. 
Isso acontece com todos, inclusive com os gênios. Leonardo da Vinci fez planos 
e prometeu muito mais do que chegou a realizar. Seu legado pioneiro ainda assombra 
a Humanidade. Antecipou-se em vários séculos a descobertas científicas atribuíveis 
a outras primícias entre os humanos. Legou ensinamentos que, quatrocentos anos 
depois de sua morte, continuam atuais e valiosos: “Seja curioso, incansavelmente 
curioso. Busque o conhecimento pelo simples prazer da busca. Conserve a 
capacidade das crianças de se maravilhar. Observe. Comece pelos detalhes. Veja 
que está invisível. Mergulhe no desconhecido. Distraia-se. Respeite os fatos. 
Procrastine. Faça com que o perfeito seja inimigo do bom. Pense visualmente. Evite 
fechar horizontes. Faça com que seu alcance seja maior do que sua compreensão. 
Alimente sua fantasia. Crie para você, não só para os patrões. Trabalhe em conjunto. 
Faça listas. Faça anotações – no papel. Esteja aberto ao mistério”. 
Milhares de invenções a cujo uso nos acostumamos e das quais nos tornamos 
até dependentes, exigiram estudo, empenho, trabalho contínuo, idas e voltas, 
recomeços de quem não abandonou a ideia no meio do caminho. O importante é 
manter acesa e inflamada a chama da inspiração. Chegar ao ponto almejado nem 
sempre depende de nós. Mas aquilo que depende, que não falte entusiasmo e esforço. 
Não se envergonhe de ficar emocionado. De se deleitar com algo que fale ao 
seu íntimo. São esses raros e fugazes momentos que valorizam o fato de você ter 
nascido. Revisite amigos que já se foram. Guarde fotografias dos momentos felizes. 
Percorrer instantes que fizeram bem à alma rejuvenesce. Transporta a mente para 
aquele exato átimo temporal em que se experimentou o gosto da felicidade. Tenha 
sempre consigo a chave dos jardins da memória, que só a você pertence, como nos 
sussurra Cecília Meireles. 
O filósofo francês Gilles Lipovetsky, autor da ideia do efêmero, do descartável 
e da cultura hiper, elencou vinte coisas para fazer e dar sentido à vida. Entre elas: 
adote o slow food, o slow pensamento, o slow sexo: a pressa é inimiga do bom 
proveito. Aceite que objetos de qualidade e momentos excepcionais têm seu preço. 
Não transforme o luxo em vulgaridade: não ostente. Aprenda a esperar. Goste do que 
você faz no trabalho. Use o humor para conquistar e exercite a arte da sedução 
sempre, não importa a sua idade, em com quem. Ajude os outros. É o tipo de prazer 
 
28 
 
que não se compra. Desligue a televisão para não desperdiçar sua existência. 
Permita-se emocionar-se e sentir. Não trave batalhas consigo mesmo. Isso só o afasta 
do bem-estar. Cuide dos relacionamentos: a felicidade e a tristeza são consequência 
da maneira como interagimos com os outros. Viva o presente. Conecte-se ao mundo 
virtual, sem esquecer as experiências reais. Priorize ser, e não o ter. Só abra um vinho 
se puder saboreá-lo sem se preocupar com a hora nem com o amanhã. Redija seus 
textos a mão. Seja preguiçoso de vez em quando. Sem culpa. Evite a orgia consumista 
do Natal. Aproveite a varanda de casa. Não exagere no uso de cosméticos, nem nas 
idas aos cirurgiões plásticos. 
Você pode multiplicar esse rol ou excluir dele aquilo que não pareça adequado 
ao seu perfil. O importante é reconhecer-se como ser irrepetível, singular, 
completamente heterogêneo em relação a qualquer outro. Criatura provida de 
inteligência, capaz de imprimir um rumo próprio à sua aventura existencial e apta a 
reformular o trajeto, quando bem o quiser ou a realidade o impuser. Não há regras. O 
órgão da sensibilidade varia de pessoa a pessoa. Essa a fortuna extraordinária do 
gênero humano. 
Como dizia Ralph Waldo Emerson: “Não seja escravo do seu passado. 
Mergulhe em mares grandiosos, vá bem fundo e nade até bem longe, e voltarás com 
respeito por si mesmo, com um novo vigor, com uma experiência a mais que explicará 
e superará a anterior”. 
Esse “mergulho em mares grandiosos” pode ser lido como um convite ao 
perene aprendizado. Estudar, conhecer, saber mais, desvendar segredos e mistérios 
é um exercício fascinante. Representa um compromisso ético para consigo mesmo 
aprender sempre, pois o verdadeiro sábio é aquele que não se considera superior aos 
demais. Apenas consegue vislumbrar, do alto de sua sapiência, o infinito horizonte do 
que ainda não sabe. 
Enquanto há vida, há não apenas esperança, mas a certeza de que novas 
coisas virão. E poderão ser boas, a depender de nossa forma de conceber a vida e 
nosso papel no momento histórico que nos foi dado vivenciar. 
 
 
 
29 
 
4.3 Ética para com o próximo 
Somos gregários por natureza. O ser humano tem por vocação viver em 
sociedade. Nascemos sós e morremos sós. Entre esses dois termos, convivemos. E 
se não é sempre fácil partilhar, é prazeroso extrair dos relacionamentos um contexto 
de sensações e sentimentos que podem nos fazer experimentar a mais instigante 
entre as emoções: o amor. 
O ser racional precisa desse combustível como impulsão a todas as suas 
atitudes. O amor costuma ferir, mas há compensações. Sentir-se parte dessa energia 
que faz o mundo funcionar. Já não se proclamou que o amor move o sol e as demais 
estrelas? 
A chamada “regra de ouro” do convívio é “não fazer aos outros o que você não 
quer que os outros lhe façam”. Muito próxima à síntese dos mandamentos cristãos: 
“amar ao próximocomo a si mesmo”. 
Nem todo “próximo” será alvo do amor evangélico. Mas todos os seres 
humanos, pelo mero fato de integrarem a espécie, são merecedores de respeito, 
porque têm o atributo da dignidade. Esse preceito é obrigatório para todos os 
brasileiros e residentes no Brasil, porque a dignidade humana foi convertida em um 
princípio superior, acima de todos os demais e norteador da integralidade de atuação 
dos homens neste solo. 
É muito fácil considerar, sob a ótica da dignidade, o âmbito doméstico. É o 
nosso ninho natural. Nossa zona de conforto e segurança. Quem é capaz de negar 
respeito e afeto ao cônjuge, aos pais e aos filhos? A ética em relação aos filhos oscila 
à medida em que novos hábitos, costumes e valores alteram o padrão anterior. Qual 
a ética apropriada para educar os filhos? Pais não têm curso de formação. Aprendem 
quando se tornam genitores. O mundo inteiro enfrenta polêmicas em relação a quase 
tudo nesse campo. Educar é obrigação dos pais, mas não proliferam os cursos 
disponíveis para quem queira se especializar. 
Agora mesmo, em julho de 2019, a França aprovou a “lei antipalmada”, que 
veda as violências educativas ordinárias e impõe aos pais uma autoridade a ser 
exercida sem agressões físicas ou psicológicas. É medida simbólica, pois a Pátria de 
Rousseau (que, aliás, foi péssimo pai), é conhecida como padrão de severidade e 
rigor na educação infantil. A França foi o 56º país a proscrever castigos físicos, 
 
30 
 
enquanto o primeiro foi a Suécia em 1979. No Brasil, a mesma norma existe desde 
2014. 
Quase no mundo inteiro a criança foi “empoderada” e tomou consciência de 
seus direitos. Não é raro chamem Conselhos Tutelares ou polícia e Ministério Público, 
relatando maus-tratos ou tratamentos cruéis infligidos por seus pais. Há de se encarar 
com cautela essa novidade. 
Parece prevalecer em nosso País aquela tendência à lassidão, certa leniência 
quanto ao dever de educar, a abominação da disciplina, sempre sob argumento de 
que a criança seria “traumatizada” se chamada a se comportar conforme as 
expectativas de conduta alimentadas por uma elite bem-educada. Na visão de Luiz 
Felipe Pondé, “os pais mais jovens hoje fazem dos seus filhos pequenos ditadores, 
perguntando a eles o tempo todo ‘o que desejam’”. Isso faz deles adultos 
insuportáveis, incapazes de lidar com os desafios presentes em qualquer vida normal. 
Por isso a adolescência perene, a preocupante ascensão do suicídio infanto-juvenil, a 
permissividade sem freios, e certo “remorso” dos pais que declinaram de treinar social 
e emocionalmente sua prole, quando confrontados com o resultado danoso. 
Compensam a ausência afetiva com excesso de bens materiais. Sem querer, 
produzem a tirania da infância, a adolescência perene, quando não a maturidade 
perplexa, incapaz de administrar frustrações ou derrotas. 
A escola, em geral, também não costuma ajudar. Para Pondé, “os jovens, hoje 
em dia, entram na universidade com uma idade mental afetiva de uma criança de dez 
anos. As escolas são usinas de idiotas da autoestima”. 
Mas não é somente a família o grupo com que nos relacionamos. Sem abordar 
as profundas mutações familiares, o surgimento de tantas novas configurações, 
continua firme na vontade dos homens, quanto à eleição de pessoas que passam a 
desempenhar, em nossas vidas, papel análogo ou até mais importante do que aquele 
confiado aos familiares de sangue. 
O parentesco de seleção, espécie de “familiar que se escolhe”, que é o amigo, 
também merece consideração. Não é raro o indivíduo encontrar-se mais 
frequentemente com os amigos do que com os consanguíneos. Pode-se ampliar 
indefinidamente esse grupo, para incluir colegas de trabalho, amigos de clube, irmãos 
de fé, companheiros de esporte8. Não há limite para o crescimento do círculo de 
relações de convívio. 
 
31 
 
Amigo, de verdade, é raro. Mais comum a aproximação por interesse, a 
formação de laços tênues, que afrouxam assim que algo desagrada uma das partes. 
Oscar Wilde tem um conto magistral sobre a amizade, no relacionamento entre um 
jardineiro e um moleiro. Um servia àquele que só queria levar vantagem e acreditava, 
ingenuamente, que isso era amizade. Não nos iludamos: perfeição não existe. 
Aceitemos as falhas alheias, como o próximo aceita as nossas. Algo como o “perdoai 
nossas ofensas” da oração do Pai Nosso. 
Ocorre que a comunidade humana é imensa. O fenômeno da conurbação fez 
com que os núcleos citadinos se inflassem. Há exemplos de quase insanidade como 
a cidade de São Paulo. A “metrópole insensata” é um fértil convite à pesquisa 
sociológica e antropológica9. Espaço de aturdimento inadministrável, cujo controle 
pela autoridade tradicional é mera ficção. Eliminadas as fronteiras convencionais que 
separariam a capital bandeirante de outros municípios, a mancha populacional supera 
vinte milhões de almas. 
Entre estas, quantas as que estariam abrigadas sob o guarda-chuva do amor, 
da afeição, do respeito? 
Uma agregação insensata de pessoas (amontoado de viventes que é 
impensável numa Nação continental, sem problemas de espaço físico para abrigá-
los), impõe a você o convívio com seres humanos que não seriam os eleitos para 
frequentar sua casa. Multidões contínuas e diuturnas, já não se resumem às grandes 
concentrações dos estádios de futebol ou manifestações. Sua movimentação é hoje 
corriqueira. Basta lembrar que o tecido social deteriorado em áreas nas quais o 
verdadeiro desenvolvimento não chegou, produz pessoas periféricas. Atestado 
contundente de que não eliminamos a miséria, nem reduzimos a pobreza, mas 
mantemos uma sociedade injusta e iníqua, é a presença desses semelhantes em tudo 
hipossuficientes. Podem estar habitando o centro da cidade, mas, socialmente, 
integram a periferia. 
Como nos portamos em relação a eles? 
Nem todos são aqueles humanos que nos fornecem a imagem assustadora da 
violência urbana: “Homicídios, tráfico de drogas, assaltos, ocupações de morros, 
guerras com a polícia e adolescentes armados são tematizados em associação direta 
com periferias e favelas, figuradas, então, como territórios conflagrados, em que 
grassa uma violência banal. Seriam espaços apartados do funcionamento normal da 
 
32 
 
sociedade, na qual pais de família tocariam sua vida honesta”. 
Por óbvio, periferia não é sinônimo de delinquência. O preconceito generalizado 
sugere o contrário. Advém dessa pré-compreensão disseminada, muito presente entre 
aqueles que se consideram diferenciados, superiores aos demais. O certo é que o 
aumento verificado nas últimas décadas é exatamente o do número dos 
hipossuficientes, dos excluídos, dos “invisíveis”, que não são enxergados como gente 
digna pelo sistema e pelo Poder Público. 
Em relação a essa vasta e crescente categoria, qual é a nossa postura ética? 
Por óbvio, uma situação resultante de múltiplas causas e de efeitos acumulados 
há séculos – o Brasil foi um dos últimos países a abolir a escravatura – é insuscetível 
de mutação por obra de uma pessoa. Várias gerações terão de enfrentar as 
consequências da exclusão e de uma das mais iníquas repartições de renda que 
perduram no planeta. 
Todavia, ninguém é tão impotente que não possa fazer alguma coisa. Essa 
“alguma coisa” depende do talento pessoal e da sensibilidade gerada ante o contato 
com a realidade. Há quem se dedique a uma obra caritativa ou filantrópica, ou 
pertença a uma ONG, ou se proponha a uma iniciativa de impacto social. Para quem 
adquiriu consciência política, a cidadania tem de edificar a Pátria justa, fraterna e 
solidária prometida pelo constituinte em 1988. Não é favor nem caridade redimir o 
semelhante das amarras que o mantêm numa certa clandestinidade moral. Situação 
a que são relegados milhões de brasileiros destituídos do direito ao trabalho, à 
moradia, ao saneamento básico, à educação, à saúde, ao transporte e a tudo aquilo 
que se acena e se declara, formalmente,no pacto federativo, como inalienável a 
qualquer humano. 
Os mais esclarecidos têm uma poderosa arma à sua disposição: utilizar-se das 
redes sociais para motivar ações sociais e, também, para que não pereça a 
indignação. Há muito a ser feito por quem tiver vontade e iniciativa. Não é só dinheiro 
o que interessa para redimir o semelhante. Boas ações costumam ser gratuitas. 
Residem no ânimo de fraternidade que, no fundo, até os insensíveis encontram, 
quando se defrontam com situação de intolerável iniquidade. Em todos os lugares 
podem ser encontradas. 
Algo que não custa: um olhar de carinho. Não de comiseração. Encarar o 
semelhante como gente, não como escória. Enxergá-lo: ele não é invisível, nem é 
 
33 
 
objeto. É um ser humano. Feito da mesma miserável matéria com que você se 
apresenta. Somos frágeis, falíveis, finitos. Mais dia, menos dia, seremos pó. Por que 
ignorar aquele que está em condição menos favorável do que a nossa? 
Se um semelhante está em condição indigna, o correto – se não for possível a 
devolução imediata de dignidade – é clamar para que a situação tenha cobro. Há 
dinheiro suficiente, considerada a escorchante carga tributária, para satisfazer as 
necessidades básicas dos desvalidos. Desde que as verbas arrecadadas não sejam 
drenadas para alimentar estruturas dispendiosas e desnecessárias, custear 
mordomias, viagens, vantagens e privilégios. O tesouro nacional traduz o lamentável 
sustento de tudo o que não é primordial, mas fez do Estado brasileiro um sorvedouro 
insaciável de recursos financeiros. 
Cumpre resgatar o princípio da subsidiariedade. Aquilo que eu puder fazer 
sozinho, não preciso chamar ninguém para me auxiliar. Quando necessário, recorro 
ao grupo mais próximo. A dificuldade adveniente faz com que se alarguem as esferas 
do chamamento. Até se chegar ao Poder Público e clamar por ação concreta. Embora 
se tenha noção exata de que, ao se assenhorear de todas as incumbências, ao 
assumir todas as obrigações, ao encarnar o papel de onipotência provedora que veio 
para ficar, o Estado brasileiro quase faliu. Demonstra ainda o quadro perverso de sua 
impotência. Nada do que realiza consegue satisfazer uma população cada vez mais 
exigente em suas demandas. 
Da tragédia em que o Estado foi arremessado, talvez se extraia algum tênue 
benefício. A nacionalidade pode despertar de um sono esplêndido e assumir seus 
deveres, obrigações e responsabilidades. A construção de uma Democracia 
Participativa, para substituir a moribunda Democracia Representativa, precisa de 
protagonismo. É mais fácil começar pelas pequenas incursões que integram um 
conceito ético de cidadania. 
Há uma série infinita de pequenas ações que podem ser praticadas por 
qualquer pessoa de boa vontade. O que mais falta à legião dos excluídos é educação. 
Analfabetos e iletrados, analfabetos funcionais, profissionais desprovidos de formação 
técnica, despreparo, falta de qualificação, tudo isso se acumula e mantém – qual 
pesada âncora – a pessoa e o grupo familiar em condições sub-humanas. 
Quem é que não pode assumir a missão de educar alguém que necessite de 
quem lhe abra os olhos? 
 
34 
 
Ajudar a quem necessita, não com aquela esmola esporádica, mas com gestos 
significativos, isso é uma conduta ética. Hoje as pessoas vivem uma situação 
ironicamente paradoxal. Todas munidas de seus mobiles – o Brasil, repita-se, tem 265 
milhões de celulares, tablets, smartphones e computadores pessoais, para uma 
população de 211 milhões de habitantes – e a solidão é uma companheira permanente 
da maior parte delas. 
Há poucos olhares individualizados, há reduzidos contatos faciais. É 
avassalador verificar como a polidez deu lugar à frieza. Seres humanos se esbarram 
nas aglomerações e não se encaram, nem pedem desculpas. 
São inúmeros os indivíduos que não têm a quem relatar suas angústias. Nem 
todos podem se socorrer da terapia, reservada a privilegiados que têm condições 
econômicas ou conseguem a lotérica benevolência do SUS. Ouvir e proferir uma 
palavra de conforto é medicamento milagroso para a recuperação da esperança. 
Interessante que a educação convencional diferenciada estimula a 
comunicação, mas sob a fórmula do “falar bem”. Exprimir-se com eloquência, invocar 
a retórica antiga, a arte de persuadir, tudo isso é objeto do ensino formal. Mas a 
psicologia sustenta a tese de que o que importa mesmo é saber ouvir. É uma falta de 
ética ouvir mal. E isso é recorrente no âmbito do lar. Casamentos se desfazem sob o 
argumento de que um dos cônjuges não ouve o que o outro fala, não se interessa por 
suas angústias. Sociedades se desfazem, conflitos crescem, tudo porque a maioria 
quer falar, mas não há ouvidos pacientes para ouvir. 
Hoje existe até leitura específica para ensinar a ouvir. “Escutar é uma 
disposição a reverberar, pontuar, ecoar, tencionar ou participar da fala do outro. O 
bom escutador é leitor de textos e de pessoas, alguém que se interessa por entrar na 
vida alheia porque ela é um desafio de leitura, como um bom livro ou filme”. 
Ler para cegos ou para crianças, participar de “contação de estórias”, visitar 
hospitais e estabelecimentos de internação coletiva, são atitudes éticas. Levar uma 
criança a um espaço educativo ao qual ela, em suas condições normais, não teria 
acesso. Propor-se a ouvir o relato das recordações de um idoso. Acrescentar à esmola 
uma palavra carinhosa. Abraçar, apertar a mão com vontade, quando cumprimenta 
alguém, olhar nos olhos de quem o atende numa repartição, no comércio ou em 
qualquer bilheteria, abolindo o muro que separa senhor e subalterno, há tantos gestos 
possíveis e gratuitos! 
 
35 
 
O contato com crianças em escolas públicas, em orfanatos ou instituições, pode 
ser uma experiência bem interessante. Elas são ávidas por atenção. Basta se 
evidencie espontâneo interesse e se entregam, na ingenuidade característica à mais 
tenra idade. Há exemplos colhidos em todas as partes, dando conta de que se 
aproximar das crianças faz bem ao adulto, mais do que a elas. Será preciso que o 
Brasil enfrente tragédias, como as ocorridas no restante do planeta, para enternecer 
o coração empedernido de adultos egoístas? 
O médico polonês Janusz Korczak foi considerado um apóstolo da infância 
desamparada e criou revolucionário método pedagógico de valorização da criança. 
Por atender, conversar e brincar com as crianças esfarrapadas pelas vielas de 
Varsóvia, foi apelidado pelos adultos de “doutor maluco”. Escreveu o livro “Se eu 
voltasse a ser criança”, no qual se dirigia aos adultos: “Dizeis-nos: - Aborrece a 
conversa das crianças. Tendes razão. Dizeis – Temos que nos curvar para entendê-
las. Enganai-vos. Não é isso que vos aborrece, mas ter que elevar vossos sentimentos 
para não agravá-las”.O drama na maturidade é a perda de algo irrecuperável: a 
inocência infantil. Para Janusz, o adulto escapa de sua monótona alienação quando 
se recorda de sua infância. 
Acreditava ele que os educadores devem aprender com os alunos e, 
concretizador de seus ideais, fundou colônias para crianças trabalhadoras. Criou um 
famoso asilo de órfãos, que chamou de República Infantil, a qual dirigiu por 25 anos. 
Incentivou as crianças a elaborarem uma Constituição, elegerem um Parlamento, uma 
Corte de Justiça e um Código Penal, cujo preâmbulo dizia: “Se alguém procede mal, 
o melhor será perdoá-lo”. 
Durante o famigerado Gueto de Varsóvia, para distrair os pupilos famintos, 
dissertava sobre Justiça, bondade e dignidade dos seres humanos. Em 5.8.1942, foi 
à frente de suas 200 crianças, todas vestidas com traje de festa, pois acreditavam 
saírem de férias. Embarcaram todos no trem para a câmara de gás de Treblinka. Ele 
estava liberado de acompanhá-las. Mas respondeu: “Sigo meus filhos”. Entre seus 
guardados, encontrou-se o texto que poderia ser a síntese de sua vida: “Minha vida 
foi difícil, mas interessante. Uma vida assim pedi a Deusna juventude. Rezei, na 
profundidade da minha alma: - Deus, dê-me uma vida dura, difícil, mas de belos e 
elevados propósitos”. 
Não faltam exemplos edificantes, às vezes muito próximos. Todos somos 
 
36 
 
capazes de relacionar pessoas que nos inspiram. A experiência de vida nos habilita a 
termos nossos heróis pessoais. Aqueles que no íntimo admiramos. Podemos 
comprovar o acerto de Saint Exupéry, ao escrever: “As pessoas que encontramos 
profundamente, nos transformam, nos modificam, nos constroem”. Temos noção de 
que talvez até possamos ser uma dessas pessoas para aqueles aos quais 
influenciamos? 
Servir de apoio, confortar quem precisa de um olhar de ternura, ouvir com 
paciência, é algo que nada custa e recompensa mais quem se propôs a prestar auxílio 
do que o destinatário desse gesto. 
Quantos outros belos testemunhos de vida não poderiam nos inspirar a conferir 
um salto qualitativo à nossa existência? Temos pouco tempo para justificar nossa 
passagem por este planeta. Algumas décadas, não mais. Valhamo-nos delas para 
que a nossa presença, junto a qualquer semelhante, seja razão de alegria ou, ao 
menos, bem-estar do outro. Evitemos nos tornar aquele indivíduo desagradável, triste, 
lamuriante e de quem todos, com razão, procuram fugir. 
 
4.4 A ética e o dinheiro 
Precisamos subsistir e sobreviver é tarefa cada vez mais dispendiosa. Quem 
se propuser a levar uma vida confortável e dispensar igual padrão a seus 
dependentes, terá de dispor de recursos consideráveis. Como obtê-los? Se estamos 
a refletir sobre ética, desde logo se exclua admitir a estratégia dos ímprobos. A estes 
foi reservado, até como exceção, suportar as consequências legais de um sistema 
erigido sobre a lógica da honestidade. Valor resgatado pela Operação Lava-Jato e 
outras análogas. Pensemos em quem não se desvia da correção. 
Estamos numa era em que o consumismo é impositivo. Quase impossível fugir 
à publicidade que manipula a nossa vontade e nos faz adquirir bens da vida muita vez 
desnecessários ou supérfluos. O desapego é algo praticamente em desuso. A ascese 
é ignorada pela maioria. Tende-se a considerar legítima a intenção de se obter o 
máximo em comodidade, conforto e, para isso, acredita-se que o jeito é amealhar o 
máximo de bens materiais. Essa a usual interpretação do que, para a maioria, 
representa real sucesso. Pessoas consideradas bem-sucedidas são aquelas que 
dispõem de condições de adquirir os bens materiais da vida que o momento histórico 
 
37 
 
determina sejam imprescindíveis à consecução da felicidade. 
Há uma pregação insistente, para convencer a todos, principalmente as novas 
gerações, de que não existe alternativa. O contrário seria o retrato do fracasso. 
Fracassar é a maior desgraça que, sob a ótica do capitalismo, pode acontecer a um 
consumidor. 
A falta de dinheiro submete o ser humano a um status subalterno. É a condição 
daquele que não foi convidado para a festa do consumo. É um alienado do sistema, 
além de estigmatizá-lo como um malogrado. 
Já o homem abonado nem sempre se satisfaz com o que tem, mas procura ter 
cada vez mais. Explica-se a insatisfação como característica ínsita à criatura. Nunca 
está feliz com aquilo que já possui. As necessidades são infinitas e sucessivas e, 
muitas delas, artificial e inteligentemente criadas pelo motor capitalista. O dínamo que 
faz manter a roda do mundo a girar em moto contínuo. 
O dinheiro deixou de ser aquele instrumento capaz de tornar o ser humano 
mais feliz, mas se converteu em finalidade autônoma. É um fim em si mesmo. Por ele 
praticam-se sacrifícios, insânias e crimes. Dinheiro vicia como substância 
entorpecente. Assim como há dependentes de drogas, há os dependentes de 
dinheiro. Só que os resultados dessa dependência podem ser mais desastrosos do 
que o drama do viciado em substância tóxica. A escravidão ao dinheiro potencializa, 
e de forma exponencial, o malefício resultante. 
A vaidade humana colabora para fazer com que o rico se considere um ser 
superior, predestinado a vencer e muito acima dos demais, propenso a desconsiderar 
quem não se encontra em nível idêntico. Ricos arrogantes, pretensiosos e insensíveis 
constituem uma raça sui generis, mas bastante disseminada no capitalismo ocidental 
e mesmo em países de pretensa inspiração socialista. Ninguém acredita no ditado 
“dinheiro não traz felicidade”. Replica-se com “não traz felicidade, mas pode comprá-
la”. 
Atribui-se a Françoise Sagan ter afirmado que a vida é um “vale de lágrimas” 
para todos: ricos e pobres. Mas se eu tiver de chorar, prefiro que seja dentro de uma 
Mercedes estacionada às margens do Sena e não na sarjeta junto aos monturos do 
banlieue parisiense. 
Ter dinheiro sugere a excitante possibilidade de se adquirir tudo o que se 
queira. O poderoso infla sua autoestima e se esquece da mortalidade, que é a mesma 
 
38 
 
para todos os humanos. Na sua concepção, “o dinheiro compra tudo”: inclusive poder, 
amor, benevolência e liberdade, prestígio e justiça. O mercado colabora para 
robustecer essa ideia. Michael J. Sandel observa que hoje são poucas as coisas que 
o dinheiro não compra. Pois quase tudo está à venda. E fornece exemplos: upgrade 
no cárcere custa U$ 82 por noite; acesso às pistas de transporte solidário: U$ 8 nas 
horas do rush; barriga de aluguel indiana: U$ 6.250; direito de ser imigrante nos 
Estados Unidos: U$ 500 mil; direito de abater um rinoceronte negro ameaçado de 
extinção: U$ 150 mil; saber o celular do seu médico: U$ 1.500 a mais por ano; direito 
de lançar uma tonelada métrica de gás carbônico na atmosfera: 13 euros ou U$ 18; 
matrícula do filho em Universidade americana de prestígio: preço não divulgado. 
O livro de Sandel é muito interessante, porque mostra o que o dinheiro tem feito 
com a humanidade, reduzindo-a a servil escrava do ouro. Para o autor, o mercado 
descarta a moral. Alugam-se amigos, escrevem-se discursos, dissertações de 
Mestrado, Teses de Doutorado, até livros autobiográficos. Vende-se sangue, qualquer 
órgão do corpo humano, e há mercados que apostam na morte. São os “bolões” com 
previsão de qual o idoso que morrerá primeiro, a garantir o prêmio a quem acertou. 
Isso ocorre em todo o mundo e também no Brasil. Aqui, talvez, o preço seja 
inferior, porque temos muito mais pobres do que ricos. É um golpe baixo contra a 
ética. Pois “numa época de crescente desigualdade, a marquetização de tudo significa 
que as pessoas abastadas e as de poucos recursos levam vidas cada vez mais 
separadas. Vivemos, trabalhamos, compramos e nos distraímos em lugares 
diferentes. Nossos filhos vão a escolas diferentes. Estamos falando de uma espécie 
de camarotização da vida americana. Não é bom para a democracia e nem sequer é 
uma maneira satisfatória de levar a vida”. 
O Brasil deu exemplos repugnantes de compra de pessoas para favorecerem 
outras pessoas ou empresas. Ocorreu e, com certeza, continua a ocorrer, a aquisição 
de testemunhas, de candidatos, de perícias, de certidões. Compram-se cargos em 
instituições tidas por respeitáveis, até em instâncias acima de qualquer suspeita, com 
uma desenvoltura que já não choca uma sociedade anestesiada. À evidência, não há 
emissão de nota fiscal, nem de recibos. Os subterfúgios disfarçam que, 
ontologicamente, não deixa de ser uma compra: alguém oferece dinheiro por algo que 
não estaria à venda. 
Em São Paulo, por exemplo, quem tem dinheiro coloca sua cria numa escola 
 
39 
 
que é nicho de excelência, que será trilíngue, com ensino integral, viagens ao exterior 
e convívio com iguais. Uma blindagem separatista. Não se tem noção do que acontece 
fora da casamata tutelar. É a tranquila aquisição do futuro glorioso. Enquanto isso, o 
despossuído fica na Rede Pública, palco da costumeira tragédia generalizada, com 
ressalva de raríssimas exceções. 
O mesmo acontece com a saúde, privilégio a que o pobre não tem acesso. 
Aprofunda-se o fossoque separa o muito rico do muito pobre e isso é encarado com 
naturalidade. “Pobres sempre existirão”, já se afirmou. 
À evidência, ninguém atenta para a sabedoria estoica, na sua pregação de que 
a vida não passa de um engodo. A busca de dinheiro, poder e sexo não produz 
felicidade. Algo em que o ianque não acredita, pois ali o lema é “siga o dinheiro” e 
“tempo é dinheiro”, enquanto a França preferiu o “cherchez la femme”. 
Seria conveniente, para a saúde da humanidade, resgatar ao menos alguma 
coisa do estoicismo. “A ética estoica era pensada, acima de tudo, como uma ética 
para a vida, não apenas como uma ética sistematizada e elaborada para fazer frente 
aos críticos e aos desafios”. Quem procurava um filósofo estoico evidenciava estar 
enfermo. A ética estoica é terapêutica. Por isso adequada aos nossos tempos, nos 
quais a consciência se obscurece e a escravidão ao deus dinheiro inspira grande parte 
da atuação dos poderosos. 
O Brasil destes últimos anos exibiu ao mundo a carcaça de sua política e a 
falência da Democracia Representativa. Fortunas foram apropriadas por aqueles que 
assumiram a responsabilidade de defender o bem comum e reduzir a profunda 
iniquidade transparente em nossa sociedade. Ignoraram a ética estoica aqueles que 
perpetraram o drama orgiástico da apropriação do dinheiro do Erário, mas lembraram 
outra máxima latina: pecúnia non olet. Dinheiro que, simbolicamente, está impregnado 
do sangue dos desfavorecidos, que têm direito virtual a tudo aquilo que a 
desonestidade a eles subtraiu. 
A ética da pós-modernidade impõe ainda uma reflexão a respeito da renda 
mínima. A legião dos desempregados estará condenada ao ócio permanente e, se 
não houver alternativa, à miséria. Os novos modelos “deveriam ser orientados pelo 
princípio de que é preciso proteger os humanos e não os empregos”. A renda mínima, 
ou renda básica universal (RBU), “propõe que os governos tributem os bilionários e 
as corporações que controlam os algoritmos e robôs, e usem o dinheiro para prover 
 
40 
 
cada pessoa com um generoso estipêndio que cubra suas necessidades básicas. Isso 
protegerá os pobres da perda de emprego e da exclusão econômica, enquanto 
protege os ricos da ira populista”. 
A ideia seria remunerar atividades que hoje não são consideradas “emprego”, 
mas têm evidente valor financeiro. O exemplo é pagar pelas mães que cuidam de seus 
filhos em casa, dos filhos que zelam pelos pais idosos, de vizinhos que “tomam conta” 
de outros mais frágeis ou até da residência alheia, quando os moradores viajam. Algo 
haverá de ser pensado, pois o prenúncio é de extinção de milhões de profissões, 
enquanto as novas funções reclamam qualificação ainda não disponível e de longo 
preparo. 
Seria utópico tentar relembrar o ser humano de que dinheiro é instrumento, é 
meio, não finalidade? E recordar Kant, que deixou a indelével lição de que a moral 
humana não é a doutrina que ensina a ser feliz, senão aquela que nos leva a nos 
tornar dignos da felicidade. 
 
4.5 A ética e a natureza 
Haverá ainda uma pessoa sobre a face da Terra que desconheça a situação 
do planeta, mercê da insensatez com que é tratado pelos humanos? Inúmeros sinais 
foram emitidos e não ocorreu a conversão esperada. A ciência anunciou a catástrofe 
e esta já foi deflagrada. Há uma tonelagem de obras de alerta e conclamação a que 
as pessoas mudem de atitude, sejam racionais e sensatas, sob pena de se extinguir 
a experiência da vida neste habitat. Advirta-se uma vez ainda: não é a Terra que corre 
perigo. O perigo põe em risco a vida humana. O planeta continuará a existir, como 
existem outros inúmeros, nesta e em outras Galáxias. Todavia, deixará de hospedar 
essa espécie terrível, que se comporta, em relação aos recursos naturais, de maneira 
mais destrutiva do que o gafanhoto e outras pragas soem dizimar a lavoura. 
A ética ambiental tem merecido minha modesta atenção há várias décadas. Já 
produzi obra específica para suscitar reflexão e remota mudança de comportamento. 
Essa reflexão não se propõe a reiterar toda a argumentação desenvolvida, nem a 
rememorar publicações de defensores do ambiente, tudo, aliás, disponível a quem se 
interesse pelo tema, com facilitado acesso pelas redes sociais. 
Limito-me a citar um livro recente, de Kate Raworth, economista heterodoxa e 
 
41 
 
professora da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Chama-se “Economia Donut: 
Uma Alternativa ao Crescimento a Qualquer Custo”. 
A obsessão por um equivocado conceito de “desenvolvimento”, que é o da 
maioria dos humanos, levará o Planeta à completa destruição. Fixar-se no PIB como 
critério de progresso é um lamentável erro. As regras impostas à economia levam a 
um perigoso desnível da igualdade entre os homens, em afronta com o discurso de 
que ela, a inalcançável igualdade, é um bem a ser perseguido de forma contínua. Essa 
cruzada pelo crescimento econômico conduziu a humanidade a viver num planeta 
frágil e poluído, com deficiência de água potável, comprometimento de todos os 
espaços, habitáveis ou não e agudo empobrecimento da maioria das pessoas. 
A sustentabilidade é um valor presente na retórica, mas ausente na prática. O 
correto seria adotar uma economia distributiva, que fizesse circular o valor agregado 
em vez de concentrá-lo, e que fosse ainda regenerativa, ou seja: auxiliasse a 
recuperar as imensas áreas perdidas para uso saudável, por nefasta e descriteriosa 
exploração. 
Kate Raworth se utiliza da figura do donut, um doce americano, muito popular, 
geralmente em forma de rosquinha, para explanar seu projeto. Para ela, o limite 
interno do doce configura o alicerce social. É o conjunto de direitos a serem garantidos 
a todo ser humano. São doze categorias, entre as quais o acesso à água limpa, renda, 
trabalho, igualdade de gênero e participação na política. A parede externa da rosca 
seria o “teto ecológico da humanidade”, que não pode ser ultrapassado, sob pena de 
se agravar o já dramático estado do aquecimento global e perda da biodiversidade. 
O restante da rosquinha seria o espaço seguro e justo para a humanidade 
continuar a viver com qualidade neste que é o único planeta disponível à espécie. A 
ideia não é original, mas a autora propõe fórmulas para se chegar a bom resultado. 
Algumas das medidas sugeridas já foram anteriormente aventadas. Entre elas, instituir 
imposto sobre a riqueza. Considerando que existam cerca de dois mil bilionários em 
cerca de vinte países, um tributo anual de 1,5% sobre o patrimônio líquido renderia 74 
bilhões de dólares por ano. O suficiente para que não faltasse educação a qualquer 
criança em qualquer lugar no mundo. 
Outra providência seria a renda básica ou renda mínima, tese há muitos anos 
defendida por Eduardo Matarazzo Suplicy e há pouco mencionada como renda básica 
universal (RBU). Seria uma contrapartida à robotização que inflará o contingente dos 
 
42 
 
desempregados. A escritora salienta a responsabilidade social das empresas, que não 
podem apenas cuidar de seus negócios, mas devem assumir o encargo de salvar a 
vida no planeta, mediante exploração sustentável de seus recursos. 
Nenhuma novidade, sugestões que encontram os naturais obstáculos 
agasalhados nas mentes egoístas daqueles que não têm compromisso com o futuro, 
mas, geralmente, com a próxima reeleição. Mais uma obra que os céticos relegarão 
ao ostracismo, na certeza de que a perspectiva de lucro rápido e fácil seja mais 
convincente. 
Ocorre que a parcela lúcida da sociedade mundial aprendeu a se servir das 
redes sociais. A comunicação on-line hoje é o meio pelo qual se relacionam os 
humanos, dos quais pequeníssima porção, tendente à extinção, ainda resiste à 
informatização da vida. 
O Brasil percebeu que a mobilização de “antenados” é uma possibilidade real. 
As eleições de 2018 comprovaram que a “velha política” não seduz a maioria. Afinal, 
quem dispunha de Fundo Eleitoral – vergonha

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