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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CAMPUS AVANÇADO DE SOBRAL CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS Renato de Morais Souza SEGURANÇA, LIBERDADE E DESIGUALDADE Uma análise comparativa entre T. Piketty e F. A. Hayek Sobral 2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CAMPUS AVANÇADO DE SOBRAL CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS Renato de Morais Souza SEGURANÇA, LIBERDADE E DESIGUALDADE Uma análise comparativa entre T. Piketty e F. A. Hayek Análise comparativa acerca de dois autores entregue à professora do Curso de Ciências Economicas da Universidade Federal do Ceará – Campus do sobral, como requisito para obtenção de nota na disciplina de Economia e sociedade. Ana Sara Parente Ribeiro Cortez Sobral 2015 RESUMO O presente trabalho, busca fazer uma análise de visões entre os autores de O caminho da servidão e O capital no século XXI, a saber F. A. Hayek e Thomas Piketty respectivamente. No mesmo, busca-se apresentar de forma sintética a visão dos dois em relação á situação econômica dos indivíduos nos contextos analisados e apresentados pelos dois, cada um em sua obra. Analisa-se o capítulo 9 de Hayek e os capítulos 7 e 8 de Piketty e busca-se no final contrapor as soluções apresentadas pelos dois autores, colocando-os em lado a lado em suas ideias e conclusões. Palavras-chave: Segurança, liberdade e desigualdade social. SUMÁRIO RESUMO ...................................................................................................................... 1 SEGURANÇA E LIBERDADE ...................................................................................... 4 DESIGUALDADE E CONCENTRAÇÃO: PRIMEIRAS IMPRESSÕES; OS DOIS MUNDOS ........................................................................................................................6 ANÁLISE COMPARATIVA ............................................................................................8 REFERÊNCIAS ............................................................................................................10 1 SEGURANÇA E LIBERDADE No capítulo nove do livro O caminho da servidão, seu autor F. A. Hayek, faz uma análise da relação existente entre Segurança Econômica e Liberdade Econômica. Sua análise assume um caráter de denúncia, quanto aos equívocos existentes em torno das duas. O autor inicia dizendo que apesar de estarem sempre interligadas pelas pessoas, a busca pela segurança é uma ameaça à liberdade. A primeira não cria condições de se conquistar a outra, pelo contrário. Em cima dessa afirmação, Hayek discorre por todo o capítulo procurando demonstrar o quanto as duas são contrárias por natureza, e o quanto a busca pela segurança tem prejudicado as pessoas, tirando delas, o direito à liberdade. Segundo ele, é inaceitável que uma sociedade com considerável grau de riqueza acumulada não consiga dar segurança, que ele chama de limitada, a todos, ou seja, é necessário que sejam mantidos pelo menos o nível de segurança no que diz respeito às necessidades básicas, que garantam saúde e condições de trabalho. Outro fato que não se poderia aceitar seria o estado não prestar assistência diante de problemas imprevisíveis. Um último problema que precisa ser solucionado é o desequilíbrio no mercado que costuma acompanhar tragédias, e este é certamente algo que embora precise de planejamento, não precisa se substituir o sistema de mercado, como também não se deve colocar a solução como sendo apenas o aumento de obras públicas, o que colocaria o estado como dependente sobremaneira dos gastos governamentais. Sua tese diz que não é possível dar segurança e liberdade para um mesmo indivíduo. Quando se proporciona segurança, é estabelecido um salário, ou seja, tal indivíduo passa a ter renda fixa, e está totalmente livre das reduções de renda que todos sofrem normalmente. Hayek usa a expressão sociedade militar para exemplificar como seria uma sociedade segura. Na entidade militar, todas as funções e rendas são estabelecidas pela autoridade local, e da mesma forma que todos são remunerados conforme estabelecido, todos também são submetidos à “ração” reduzida, numa situação de baixa de recursos. Seu objetivo é mostrar que numa sociedade que deseje estabelecer qual renda as pessoas devem ter, e que tentar manter esta renda a todos, essa igualdade seria seguida por momentos, que podemos pressupor como certos de acontecer, de escassez de recursos. Além do mais, quando uma pessoa é colocada como segura em sua renda, não é possível que ela se mantenha livre para fazer o que quiser, isso quer dizer que, tem-se que abrir mão de liberdade para se obter segurança. Esta situação de escolha é explicada porque, quando uma entidade qualquer estabelece de antemão uma renda fixa, esta decisão é necessariamente acompanhada por quais funções esta pessoa irá exercer, e isto priva o indivíduo de em determinado momento, decidir não fazer aquilo que lhe foi determinado. Outra situação que deve ser considerada é quando há uma desigualdade quanto à segurança. Se determinado grupo passa a gozar de segurança, outro certamente sofrerá com a falta dela. Não é possível dar segurança para uns poucos e pensar que poderá ao menos manter os demais num estado intermediário. A partir do momento em que um grupo é beneficiado com certo nível de segurança, qualquer resquício da mesma em outros grupos será comprometido. Ou seja, vai ser sempre um em detrimento do outro. Ao longo do seu texto vários exemplos são ainda citados para apresentar as situações que já reproduzimos até aqui. Em suma, Hayek diz que certo nível de segurança deve ser almejado, no entanto, este não deve ser em detrimento da liberdade individual. Em outras palavras, não é possível dar segurança completa a toda a sociedade, apenas deve cuidar da mesma em certo nível, protegendo a mesma de situações extremas, mas a liberdade individual deve ser buscada e mantida, garantindo ao indivíduo o direito de escolher o que fazer. 2 DESIGUALDADE E CONCENTRAÇÃO: PRIMEIRAS IMPRESSÕES; OS DOIS MUNDOS Thomas Piketty, na terceira parte do seu livro O capital no Século XXI, faz uma análise ampla sobre a desigualdade e a distribuição individualmente. Para introduzir o assunto, o mesmo relembra a discussão já existente em torno da herança, ou seja, do poder aquisitivo que esta dá aos indivíduos. Piketty trata das rendas do trabalho como especificamente as rendas de salários, enquanto as rendas de capital são as rendas de juros, lucros, etc. A partir daí sua análise acerca da desigualdade prossegue e vai ganhando formas, ao considerar o histórico desta, e a forma como ela se distribui em cada momento da historia e em cada sociedade diferente. Os dados usados são principalmente a França, os países Escadinavos e os Estados Unidos. Sua visão é de que a desigualdade na verdade nunca diminuiu como deveria ter acontecido ou como na verdade se acredita que diminuiu, indo ainda mais além, o autor a coloca como um grave problema que precisa ser analisado, estudado e se possível solucionado. Ele adota uma postura um tanto socialista ao fazeressas análises, olha para a desigualdade como problemática e causadora de diversos males na história da humanidade. Piketty se utiliza de dados para fazer suas demonstrações que são bastante calculadas, e demonstrativas quanto ao histórico da desigualdade. Trabalha sempre sobre uma divisão da sociedade em decis e percentis, tal qual segue: o décimo superior se refere aos 10% que detém a maior parte da riqueza do país, este mesmo é ainda divido em um centésimo superior (1%) que detém a maior parte dessa riqueza e os outros 9%; outra parte da população seria os 40% do meio que em dado momento ele chama de classe média, e esta detém uma que consiste em menos da metade da riqueza do país; por últimos as classes populares que são os 50% restantes, estes detém menos de 10% da riqueza do país. O autor se apega principalmente aos casos da França e dos Estados Unidos. Na França sua análise é em cima das alterações que a sociedade sofreu e como a desigualdade sofreu variações desde a Belle Époque, o período entre guerras e o momento depois de 1945. Com a crise econômica do inicio da década de 1930, muitas alterações ocorreram, um sociedade rentista deu lugar a uma sociedade de executivos. Entre os anos 1980-1990, houve uma alta considerável da desigualdade, e segundo a análise do autor, um dos principais fatores para isso, foi o surgimento dos altos salários que atingiram em sua maior parte os integrantes do décimo superior. No caso do Estados Unidos, tudo gira em torno do surgimento de uma sociedade de “superexecutivos” nas últimas décadas. Aqui é apresentado um dos problemas do aumento da desigualdade: a crise financeira. Segundo seu estudo, o aumento considerável da desigualdade pode ter sido muito importante para fragilizar o sistema financeiro americano. Isso porque um aumento considerável de riqueza nas mãos do décimo superior causa uma perda de poder de compra das classes populares e médias. Vê-se então um endividamento das famílias e claro uma consequente crise. Ainda no caso Americano, uma das principais causas do aumento da desigualdade, certamente é o advento dos altíssimos salários, que atinge principalmente os executivos de grandes empresas, ou seja, de forma desigual, e consequentemente a sociedade acaba colhendo certo nível de desigualdade no geral. Sua tese é de que a desigualdade é um problema que precisa ser enfrentado, e olhado de forma séria pela própria sociedade. A mesma pode vir a causar muitos problemas à sociedade e por isso deve-se procurar sempre reduzí-la, tornando a sociedade o mais igualitária possível. Não há margem de negociação quanto a isso. A desigualdade é um problema e deve ser resolvida. 3 ANÁLISE COMPARATIVA Colocando assim os dois lado a lado, vamos poder ver grandes diferenças de pensamentos, e soluções diferentes para o mesmo problema: a situação econômica do indivíduo. Ao passo que Hayek defende uma evolução individual centrada no trabalho do mesmo, Piketty supõe que a renda advinda do trabalho não é suficiente para resolver os problemas individuais. Piketty pensa que uma mudança no sistema deve haver, de modo que permita aos indivíduos evoluir, enquanto Hayek afirma que alterações no sistema de mercado não resolveriam o problema. Os dois estão preocupados com a situação do individuo, no entanto, usando as palavras ou termos de Hayek, ele mesmo estava preocupado com a sua liberdade, para poder escolher o que fazer, poder agir livremente como agente econômico, já Piketty preocupa-se com a segurança econômica dos indivíduos. Em última análise as soluções dos dois, visam uma maior qualidade de vida, segurança e liberdade, se pudéssemos equilibrar as duas visões aqui apresentadas, chegaríamos à conclusão de que tanto liberdade, quanto segurança são extremamente importantes para um individuo qualquer. O próprio Hayek chega a declarar que certo nível de segurança deve sim ser desejado e proporcionado pelo estado, mas sua liberdade deveria ser o mais importante, ou seja, não se deve pensar em segurança em detrimento da liberdade. Piketty discute o quanto a desigualdade existente na sociedade, tem prejudicado a mesma, e tem retirado segurança dela. Pensando pela ótica do autor francês, a parcela da população chamada de classes populares vem sofrendo muito com essas situações. E um problema crucial nesse sistema é a grande desigualdade causada pelas rendas de capital. Segundo ele, a renda de trabalho sempre fora mais branda em termos de desigualdade, do que a renda de capital, e esta disputa começa problemática desde o seu início, pensando nas grandes heranças existentes especialmente na Belle Époque francesa, ou seja, era uma disputa injusta entre aqueles que detinham poder resultante de uma herança e aqueles que se sujeitavam a estudar, se preparar e trabalhar para construir sua riqueza. Na verdade essas pessoas nunca conseguiriam atingir o nível desejado de riqueza. Na visão de Hayek isso não ocorre. Para o autor austríaco, toda e qualquer riqueza deve ser conquistada pelas habilidades do individuo, e estes tem plenas condições de conseguir acumular tais riquezas. A grande diferença entre os dois pensadores, está nas soluções que eles apresentam. Hayek exalta a liberdade de cada individuo, considera um nível de segurança importante, mas não em detrimento de sua liberdade, Piketty por sua vez, coloca como fundamental, a luta contra a desigualdade, vê a luta atual como injusta e propõe que se pense em reduzir ao máximo a desigualdade o que resultaria numa maior segurança ou pelo menos possibilidade de segurança para cada individuo. REFERÊNCIAS Hayek, Frederich August von. O Caminho da Servidão. 6ª edição. São Paulo – SP: Instituto Ludwing von Mises Brasil, 2010. Capítulo 9. Piketty, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro – RJ: Editora Intríseca, 2014. Capítulo 7 e 8.
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