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Questões Planos Econômicos Governos FHC

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Universidade Federal de Uberlândia
Instituto de Economia e Relações Internacionais
Graduação em Relações Internacionais
Economia Brasileira Contemporânea II
CARVALHO, Beatriz (11711RIT006)
CRUVINEL, Victória (11711RIT036)
SANTOS, Anna Clara (11711RIT007)
Lista da terceira prova
a) A gestão macroeconômica do primeiro governo FHC (1995-1998); explicando, sobretudo, (i) os esforços e dilemas para manter a estabilização do Plano Real e as suas implicações macroeconômicas, (ii) a gestão macroeconômica frente às crises mexicanas, asiática e russa; (iii) a crise do sistema financeiro brasileiro pós-Real e as medidas adotadas para “salvá-lo”; (iv) o desequilíbrio fiscal e privatizações do período.
O primeiro governo de FHC se iniciou após o primeiro plano bem sucedido para a contenção da inflação, o Plano Real. Apesar de o controle inflacionário ter gerado um cenário favorável internamente, ainda existiam preocupações concernentes à manutenção da estabilidade, procurando evitar o boom do consumo normalmente sucedente como foi o caso do Plano Cruzado. Para que isso não ocorresse, foi implementada uma política de manutenção da taxa de juros elevada, o que, além de conter o consumo, estimulava o fluxo de capitais externos para o país. Além disso o Banco Central promovia a estabilização através de uma política cambial assimétrica, que impedia sua desvalorização mas não a sua valorização. O resultado foi uma forte apreciação da moeda nacional. Embora tal política condicionasse o preço dos bens comercializáveis no mercado externo ao preço internacional, o mesmo não era aplicável aos bens não comercializáveis, como alugueis e mensalidades escolares, por exemplo. Desse modo, o aquecimento da demanda gerado pela estabilização econômica pressiona os salários e eleva o índice de preços através desses bens, que podem realizar os repasses por ausência de concorrência internacional. O aumento decorreu em valorização da taxa de câmbio, gerando uma espécie de superâncora cambial. Desse modo, as importações se mostraram extremamente favoráveis, ao contrário das exportações, que incorreu em déficits na balança comercial e nas transações correntes. 
Para aliviar o processo de deterioração da balança comercial o governo incorreu em políticas para o controle de demanda interna, operando restrições de crédito e elevações na taxa de juros. Essa segunda medida também servia a manter a atratividade do fluxo de investimentos externos para o Brasil, no intuito de financiamento da dívida. Além disso, foi promovida uma leve desvalorização cambial no sentido de promover as exportações. Paralelamente, houve uma séria crise fiscal oriunda da elevação da dívida pública, que chegou a representar parcelas significativas do PIB (que crescia a baixas taxas). Logo, percebia-se que a combinação de políticas de déficit em conta corrente e taxa de juros reais elevada só seriam efetivas diante de possibilidade de endividamento, tanto externo quanto público. No entanto, o cenário subsequente foi de crise internacional, oriunda do México, Ásia e principalmente Rússia, findando a liquidez internacional com a qual o Brasil contava para o financiamento de sua dívida. Esse cenário impulsionou FHC ao adiantamento de uma série de medidas políticas (inclusive um acordo com FMI para financiamento do déficit em conta corrente de ordem acima de trinta bilhões de dólares) no intuito de obter capital político suficiente à sua reeleição. 	Comment by Victória Cruvinel: estratégia gradualista de correção cambial
b) O segundo governo FHC (1999-2002); explicando (ii) a alteração da lógica de gestão macroeconômica da economia brasileira instituída pelo Regime de Metas de Inflação em 1999, (iii) as medidas de controle fiscal e a trajetória da dívida pública, (iv) o desempenho econômico em termos de taxa de crescimento do PIB.	Comment by Beatriz Carvalho: gasto do capital politico no primeiro governo pela reeleição e k estrangeiro - pós crise russa, acordo com o fmi e foco em combater o deficit fiscal que gerou aumento na dívida pública. o ajuste fiscal não significou a redução da dívida pública, pelo contrário, sempre buscando o superávit primário positivo (elementos: desvalorização cambial natural depois do regime de metas aumentou a dívida pública e aumenta o esforço fiscal para pagar o juros da dívida, a qual vai rolando)
Em seu primeiro governo, Fernando Henrique Cardoso concentrou todo o seu capital político para a aprovação da reeleição e melhora da relação com o capital estrangeiro. No entanto, pouco antes de sua reeleição, o governo brasileiro estava em negociação com o Fundo Monetário Internacional (FMI) por um acordo que permitisse enfrentar um quadro externo adverso, decorrente do esgotamento do financiamento de déficits em conta corrente de ordem acima dos trinta bilhões de dólares, em razão dos efeitos da crise russa. Isso gerou uma fuga de capitais, devido ao temor da desvalorização, o que, consequentemente estimulou a troca de reais por dólares sem a realização de mudança cambial ou controle de capitais. Ainda assim, o FMI apoiou o Brasil e organizou um pacote de ajuda externa, o qual, entretanto, enfrentou dois obstáculos: o ceticismo do mercado em relação à ocorrência de desvalorização no Brasil; e a rejeição no Congresso da cobrança de contribuição previdenciária dos servidores públicos inativos (uma medida importante no programa fiscal). Este último passou a ideia de que o governo não teria apoio para implementação de suas propostas, o que contribuiu com o pessimismo externo e a perda de divisas aumentou.
Diante desse panorama, a desvalorização cambial foi inevitável ao governo brasileiro. Após uma tentativa frustrada de controle, adotou-se o câmbio flutuante, o qual escalou rapidamente, temendo-se a reprodução da crise mexicana no Brasil. Contudo, esse cenário começou a mudar quando da nomeação de Armínio Fraga para o cargo de presidente do Banco Central. Suas principais providências foram a elevação da taxa de juros básica, de forma a atrair capital estrangeiro, e o início dos estudos para a adoção do sistema de metas de inflação, que vinha sendo adotado em diversos países. Esta última marcou o fim da âncora cambial.
Com a adoção do sistema de metas de inflação, o Conselho Monetário Nacional (CMN) passou a balizar as decisões de política monetária do Banco Central pela definição de um alvo para a variação do IPCA. Dessa forma, se a variação dos preços incorporadas à taxa de juros Selic estivesse abaixo da meta, estaria-se em condições de reduzir os juros e vice-versa. Esse regime de metas também trabalhava com uma margem de tolerância acima ou abaixo da meta, para acomodar possíveis impactos externos e evitar grandes flutuações do nível de atividade. Com isso, o Banco Central deixava de se preocupar com o crescimento econômico e passava a priorizar o controle da inflação. Entretanto, além do regime cambial, a credibilidade do sistema também estava atrelada ao regime fiscal. Dessa forma, o regime de metas de inflação era sustentado por um tripé: metas de inflação com piso e teto, câmbio flutuante e metas de superávit primário.
Apesar da desvalorização cambial, a inflação não sofreu os efeitos que temiam, devido à demanda contraída da produção industrial, reduzindo as chances de repassar os efeitos aos preços. Aliado a isso, os agentes econômicos mantinham uma mentalidade indexatória e o governo, uma política monetária rígida de contenção das remarcações e busca pela apreciação do Real. Ainda, o cumprimento das metas fiscais do FMI, os reajustes baixos do salário mínimo e as metas de inflação traçadas para o ano seguinte contribuíram para esse efeito sobre a inflação.
A desvalorização cambial aumentou a dívida pública, pois, ao longo dos anos 90, o governo aumentou a captação privada da dívida externa, assumindo os riscos cambiais de uma crise econômica, a fim de proteger o setor privado. Além disso, o atrelamento da dívida pública ao câmbio e à Selic, o que, com o aumento dos juros minava a capacidade de pagamento.
Além da estabilização,o período também foi marcado por reformas (continuidade do governo Collor) que geraram mudanças importantes na dinâmica econômica do Brasil. Em primeiro lugar, as privatizações, pela transferência de empresas deficitárias para o setor privado, sob a lógica do lucro, de modo que parasse de pressionar as contas públicas. As privatizações foram um aprofundamento do processo iniciado no governo Collor, que se fazia necessária dado o engessamento da capacidade de realizar investimentos públicos em infraestrutura e bem-estar social. Antes das privatizações, não havia agências reguladoras para validar os termos contratuais institucionais e equacionar a relação entre bem-estar social e lucratividade do setor privado. Em segundo lugar, o fim dos monopólios estatais sobre o petróleo e telecomunicações, abrindo estes setores para a competição em busca do aumento da eficiência. Em terceiro lugar, o tratamento dado ao capital externo foi modificado por uma Emenda Constitucional, proporcionando um aumento do nível de investimento. Em quarto lugar, o sistema financeiro brasileiro, após ter suas ineficiências expostas pelas crises, passou por privatizações, pela inserção de bancos estrangeiros e por conglomerações. Em quinto lugar, também através de uma Emenda Constitucional, uma Reforma da Previdência foi implementada, alterando a idade mínima para aposentadoria da administração pública e aumento do tempo de contribuição. Além disso, instituiu um fator previdenciário para o INSS, desestimulando a aposentadoria precoce. Em sexto lugar, a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal que impôs tetos para as despesas dos três poderes. Isso, aliado ao ajuste fiscal constituiu-se de uma restrição orçamentária. 
Em linhas gerais, o segundo governo FHC aumentou a carga tributária, aplicou medidas temporárias de vinculação do orçamento, buscando melhorar as contas públicas. No entanto, no que diz respeito ao crescimento econômico em relação ao PIB, as taxas do período foram baixas. Em 1999, isso se deveu a expectativas ruins; em 2000, houve um aumento das exportações devido às desvalorizações; e em 2001, a taxa de crescimento voltou a reduzir. Esta última pode ser explicada por dois viés: externamente, o efeito contágio da crise argentina e o 11 de setembro que gerava medo e desconfiança; e internamente, o racionamento de energia resultante da crise hídrica que desacelerava a dinâmica de produção industrial. Diante de expectativas negativas para o crescimento, o Banco Central aumentava a taxa de juros, o que contraía os investimentos, gerando aumento do desemprego e da dívida pública.
Logo, embora seja possível afirmar que o governo concluiu uma economia mais moderna e competitiva com estabilidade e políticas macroeconômicas adequadas, havia limitações para o sucesso do crescimento, devido a um contexto externo ruim e condições iniciais de desequilíbrio externo. Por isso, Giambiagi afirma que o ajuste entre 1995 e 2002 foi despercebido em razão do aumento da relação entre dívida pública e PIB, a qual era percebida pelos investidores.

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