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CAPA Universidade Estácio de Sá PSICOLOGIA Psicopatologia Danilo dos Santos, mat. 202002533961 Evelyn Garcia Santos, mat. 202002702249 Flavia Dias Tavares, mat. 202001085904 Maria Eli Meireles Silva, mat. 201903373514 Rúbia Ribeiro Frazao, mat. 202103252061 Vanessa da Silva A. Araujo, mat. 201101117303 Campus Maracanã – RJ 2022 1 Danilo dos Santos; Eli Meireles; Evelyn; Flavia Dias Tavares; Rubia Frazão de Abreu; Vanessa da Silva A. Araujo Universidade Estácio de Sá ARA1109 - Turma 3013 ESTUDO DE CASO: ESTAMIRA - como diagnosticar. https://youtu.be/jGFq8R-h5kY Filme original: Data de lançamento: 28 de julho de 2006 (Brasil) Diretor: Marcos Prado Elenco: Estamira Produção: Marcos Prado, José Padilha Professora: Cristiane Guimarães Campus Maracanã – RJ 2022 ESTAMIRA – DOCUMENTÁRIO. ESTUDO DE CASO https://youtu.be/jGFq8R-h5kY 2 Danilo dos Santos; Eli Meireles; Evelyn; Flavia Dias Tavares;Rubia Frazão de Abreu; Vanessa da Silva A. Araujo Universidade Estácio De Sá Campus João Uchoa - RJ – Brasil RESUMO Estamira. Documentário – Diretor Marcos Prado Apresentamos um breve relato sobre a personagem principal do filme Estamira, a própria, suas ideias, relacionamentos, vida e tudo que contribuiu para ela ser levada ao tratamento psiquiátrico. O premiado documentário Estamira, dirigido por Marcos Prado, foi lançado em 2004. Conta a história da personagem de mesmo nome que, por mais de 20 anos, sobreviveu em um lixão do Rio de Janeiro, conhecido como “Lixão de Gramacho”. O fotógrafo carioca Marcos Prado se dedicou por seis anos a documentar, em fotos, o cotidiano do Aterro Sanitário do Jardim Gramacho, em Duque de Caxias (RJ). Nesse período, ele conheceu a personagem que se tornaria a protagonista de seu longa de estreia como diretor. O documentário correu o mundo, obtendo 25 prêmios em festivais nacionais, como a Mostra Internacional de São Paulo e o Festival do Rio, e internacionais, como os festivais de Marselha, Karlovy Vary (República Tcheca), Havana, Viena, Londres e Miami. (“Estamira – Tecnólogosga2 - WordPress.com”) Observa-se em Estamira, quando lúcida ou em seus devaneios psíquicos, uma inteligência reflexiva, filosófica, que demostra como a sociedade conduz os indivíduos a desequilíbrios psíquicos, posteriormente não os aparando em suas necessidades. Em meio aos seus delírios e alucinações, nota-se as fortes críticas sociais de Estamira decorrente de sua vivência. Do lixão ela obtém as refencias para a essa sociedade de consumo: “existe de resto e também existe o descuido”. De suas lições se pondera sobre o consumo cada vez mais incitado e de forma desordenada, afetando parte da sociedade sem poder aquisitivo ou meios suficientes, impactando de uma forma muito ampla em outros setores como a educação, a saúde e o trabalho. Muito se tem a refletir sobre o que é dito por Estamira; do seu convívio com os amigos do “lixão”, seus familiares, com o próprio diretor do documentário e sua equipe, além da forma como ela soube levar a vida e contornar todas as suas dificuldades e limitações. 3 SUMÁRIO 1 - INTRODUÇÃO .............................................................................................. 4 2 - IDENTIFICAÇÃO GERAL ............................................................................. 5 NOME: ............................................................................................................................................... 5 IDADE: ............................................................................................................................................... 5 CONFIGURAÇÃO FAMILIAR: ................................................................................................................ 5 LOCAL ONDE MORA: .......................................................................................................................... 5 PROFISSÃO:........................................................................................................................................ 5 EMPREGO: ......................................................................................................................................... 5 QUEIXA INICIAL: ................................................................................................................................ 5 PROCEDÊNCIA: .................................................................................................................................. 6 3 – HISTÓRIA CLÍNICA ..................................................................................... 6 - PSICODINÂMICA: ............................................................................................................................ 6 - DESCRIÇÃO DOS SINTOMAS: ............................................................................................................. 7 - HIPÓTESE DIAGNÓSTICA: ................................................................................................................. 7 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 8 5 - REFERÊNCIAS ........................................................................................... 12 ANEXO: ............................................................................................................ 12 4 1 - INTRODUÇÃO O Estudo de Caso, orientado pela Professora Cristiane Guimarães, começa pela leitura do filme, Estamira, documentário apresentado nos cinemas e festivais em 2004, tratando justamente de apresentar a personagem real de Estamira, uma senhora que trabalhava como catadora no lixão de Gramacho, no Rio de Janeiro, por mais de 20 anos. O diretor do filme, Marcos Prado, era documentarista em fotos, do cotidiano do lixão do Jardim Gramacho, em Duque de Caxias (RJ), ali conheceu Estamira, diagnosticada por médicos da rede de saúde pública como esquizofrênica. Durante alguns anos, verificado pelo registros de cada Natal no documentário, a equipe de filmagem e o diretor a acompanhavam desde o início de seu dia, quando saia de sua casa, em Campo Grande, ainda de madrugada, em um longo trajeto, primeiro de ônibus, depois a pé, em direção ao lixão, um gigantesco complexo onde eram depositadas 9 mil toneladas de lixo por dia. No lixão, Estamira se unia a um grupo que incluia idosos, mulheres e crianças, que catavam e selecionavam objetos e alimentos em estado razoável no meio do lixo. Alguns materiais eram vendidos em fabricas de reciclagem e ferros-velhos. Observamos que o Aterro Sanitário de Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, foi destivado num domingo, em 3 de junho de 2012, quase 1 ano após a morte de Estamira. O documentário obteve 25 prêmios em festivais nacionais, como a Mostra Internacional de São Paulo e o Festival do Rio, e internacionais, como os festivais de Marselha, Karlovy Vary (República Tcheca), Havana, Viena,Londres e Miami. (“Filmes Nacionais e Estrangeiros ... - Programa Cinesom”) Nessa análise, que ora apresentamos, procuramos esclarecer a psicodinamica do estado mental de Estamira, a descrição dos seus sintomas e a hipótese diagnóstica. Verificamos que Estamira era negligenciada em relação aos seus tratamentos e não foi feito um acompanhamento sério no seu caso. Não fica claro no documentário se os traumas que ela sofreu tiveram algum tipo de acompanhamento para superação. A sua morte apenas deixa claro o estado de abandono a que submeteram a paciente, pois a mesma faleceu no dia 28 de junho de 2011, com 70 anos, no hospital Miguel 5 Couto, na Gávea, em decorrência de uma septicemia (infecção generalizada) devido a um ferimento no braço, pela demora no atendimento do hospital.A seguir apresentamos o trabalho dividido por tópicos: Vida, desenrolar desde a infância até a idade madura; relacionamento com familiares e amigos; filosofia de vida; diagnóstico psiquiatrico e as considerações finais. 2 - IDENTIFICAÇÃO GERAL NOME: Estamira Gomes de Souza IDADE: nasceu no dia 7 de abril de 1941. No filme documentário tinha entre 59 e 63 anos. CONFIGURAÇÃO FAMILIAR: Falecidos mencionados: avô Ribeiro; mãe, Rita Miranda Coelho; o primeiro marido, Miguel Antonio (pai do Hernani) e o segundo marido, Leopoldo Fontanive (italiano, pai de Carolina). Vivos: Filhos – Hernani, Carolina e Maria Rita, netos (não identificados). Amigos e conhecidos: Sogra; Comadre Angela (“madastra” de Maria Rita); vizinhos; comunidade do lixão, entre eles o Teobaldo dos Santos (Pinguelias) e o João (amigo intimo). LOCAL ONDE MORA: Rua xxx, Lt4, Qd 38, Prado Verde, Nova Iguaçu, divisa com Campo Grande. PROFISSÃO: Catadora de lixo, temporária em supermercado. EMPREGO: Catadora de Lixo no Aterro Sanitario de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, durante mais de vinte anos. ( O local de trabalho dista da sua moradia perfazendo, no mínimo, 3 h 52 min, tendo o ônibus como condução). QUEIXA INICIAL: Desarmonia com o segundo marido. Obrigada pelo marido a internar a mãe no Hospital Psiquiátrico Pedro II, no Engenho de Dentro . Expulsa de casa pelo marido com a filha Carolina. É levada a mendigar para sobreviver. 6 PROCEDÊNCIA: Adquire uma moradia e se estabelece em Campo Grande, Rio de Janeiro, Brasil. 3 – HISTÓRIA CLÍNICA - PSICODINÂMICA: PACIENTE com história de esquizofrenia na família por parte de mãe. Histórico de abuso sexual na infância, vida sexual promiscua na juventude e dois estupros na idade adulta. Abandonada pelos pais dos seus filhos. Chefe de família, arrimo dos filhos na infância destes. Passou fome. Separada da filha mais nova. Trabalho braçal insalubre, em local de contato com doentes, até cadáveres e animais peçonhentos. Manteve o afeto com os amigos e parentes chegados. Se comunica com parentes e amigos de forma assertiva, as vezes discutindo, principalmente quando é abordado o tema religioso. Tentativas de conciliação com os filhos depois das brigas. Tristeza pelo afastamento de amigos e do filho Hernani, onde culpa o inimigo externo identificado como “Trocadilho”. Sentimentos saudosos pelo segundo marido, o “italiano”, pai da Carolina, já falecido. Estamira é líder no local de trabalho, prestando assistência espiritual aos amigos do Aterro Sanitário, o chamado “Lixão de Gramacho”. A pedido da filha Carolina, em uma época, abandona o “lixão” do Jardim Gramacho e resolve trabalhar no Supermercado Mar e Terra em Campo Grande. Essa mudança traz os piores transtornos. É nesse período em que é atacada e estuprada duas vezes, uma no Centro de Campo Grande e a outra no caminho próximo a sua própria casa. Cria desavenças no emprego do supermercado e uma colega coloca um “despacho de macumba” em seu “quarto” de trabalho. Esse tipo de mobbing parece ter contribuído para a deixar ainda mais desestabilizada emocionalmente e insegura. A filha Carolina relata no filme, como a mãe, dias após esses eventos terríveis, desenvolveu uma paranoia e por fim delirou na casa da consogra ao olhar para um pé de coqueiro. 7 - DESCRIÇÃO DOS SINTOMAS: Início dos sintomas: Paranóia - acreditava estar sendo seguida e fotografada no ônibus; alteração da relação eu-mundo. Delírios de grandeza, agressividade, linguagem confusa (glossolalia*), gestos de controle sobre eventos naturais, revolta com as crenças anteriores, tremores, gritos, delírios persecutórios, depressão. (*Glossolalia - Como sintoma psiquiátrico a glossolalia é uma das manifestações presentes na esquizofrenia e na afasia sensorial, quando " o indivíduo parece estar falando uma outra língua; ele produz sons ininteligíveis, porém mantém os aspectos prosódicos da fala normal ".) Atestado médico descrito no documentário e lido pela paciente: “portadora de quadro psicótico de evolução crônica, alucinações auditivas, ideias de influências, discurso mítico. Deverá permanecer em tratamento psiquiátrico continuado.” - HIPÓTESE DIAGNÓSTICA: Neurose motivada pelas violências sofridas e sem tratamento pós traumas; esquizofrenia tardia ou transtorno bipolar. “No DSM-5, o bipolar foi inserido entre os capítulos sobre transtornos do espectro da esquizofrenia e transtornos depressivos em virtude do reconhecimento de seu lugar como uma ponte entre essas duas classes diagnósticas em termos de história familiar, genética e sintomatologia.”(SECAD). No Diagnóstico Diferencial, ainda de acordo com o DSM-5, “a distinção entre esquizofrenia e transtorno depressivo maior ou transtorno bipolar com características psicóticas ou catatonia depende da relação temporal entre a perturbação do humor e a psicose, bem como da gravidade dos sintomas depressivos ou maníacos. Se delírios ou alucinações ocorrem exclusivamente durante um episódio depressivo maior ou maníaco, o diagnóstico é transtorno depressivo ou transtorno bipolar com características psicóticas.” Não se descarta o acerto do diagnóstico de esquizofrenia dado pelo tratamento convencional nos Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), nos quais a paciente Estamira se tratou, tendo o documentário como única fonte. "A esquizofrenia de início tardio foi descrita inicialmente por Bleuler (1978), sem outra caracterização sintomatológica que a diferenciasse da esquizofrenia 8 do jovem, exceto pela idade de início após os 40 anos (Bleuler, 1978). Portanto, os déficits cognitivos encontrados em pacientes com esquizofrenia de início tardio não diferem dos encontrados em pacientes com esquizofrenia na juventude (Barclay e Almeida, 2000). Do total de pacientes esquizofrênicos, 20% dos casos têm início após os 40 anos e há aumento desta incidência após os 60 anos" (Barclay e Almeida, 2000). 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Estamira chamou a atenção do diretor Marcos Prado por apresentar características diferenciadas dentro do contexto em que estava inserida. Apesar de ser uma mulher idosa, frágil, liderava um pequeno grupo de pessoas idosas e carentes também catadores de lixo no Aterro Sanitário de Gramacho, Rio de Janeiro. Ela mesmo se coloca num nível maior quando se apresenta como “homem-par” que é a mulher, no caso uma mulher que ocupa o lugar do homem na sociedade. O homem é visto em nossa sociedade como o forte, o provedor, o decidido e Estamira logo teve que assumir esse papel quando foi abandonada pelo segundo marido e jogada na rua com dois filhos pequenos. Para sobreviver, foi a luta, mendigando, trabalhando como catadora e enfrentando situações em que é exigida grande presença moral e força. Apesar de tudo que possa parecer para quem apenas assisti no documentário a vida de Estamira, essa amava o trabalho no Lixão e acreditava que ali podia realizar seus afazeres sem “sacrifício”. Estamira cativa a todos com sua personalidade forte, seus momentos de lucidez e uma filosofia de vida que arrefece o sofrimento cotidiano de seus colegas de trabalho, conhecidos e família. Ela diz não acreditar num deus que é oferecido ao mundo apenas para enganar e promover “guerras”, mas não duvida da força divina da qual ela é a porta voz e pelas suas palavras vai ensinar aos homens. − Trabalho - “Já tem 20 anos que eu trabalho aqui eu adoro isso aqui. A coisa que eu mais adoro é de trabalhar. “(...) “-Estamira: - Foi combinado alimentar-vos o corpo com o suor do próprio rosto. Não foi com sacrifício. Sacrifico é uma coisa, agora trabalhar é outra coisa. Absoluto, absoluto. Eu, a Estamira, que vos digo ao mundo inteiro, a todos, trabalhar, não sacrificar.” − Missão – “A minha missão além de eu ser a Estamira é revelar é “a verdade somente a verdade”,seja a mentira, seja a capturar a mentira e tacar na cara, ou então ensinar a mostrar o que eles não sabem. “ 9 Estamira demonstra como o ser humano está alienado e distante do que é natural, consumindo em excesso e desprezando valores materiais e morais: “- É isso aqui é um depósito dos restos. Às vezes é só resto e às vezes vem também descuido - o resto e descuido. - Quem me revelou o homem como o único condicional, me ensinou, ele conservar as coisas e conservar as coisas é proteger, lavar, limpar e usar mais e o quanto podes. - Se você tem sua camisa se você está vestindo, você está suado, você não vai tirar sua camisa e joga fora. Você não pode fazer isso. - Quem revelou o homem como o único condicional, não ensinou trair, não ensinou humilhar e não ensinou tirar...ensinou ajudar. - Miséria não, mas as regras sim. Economizar as coisas, bom, é maravilhoso, porque quem economiza tem. - Então as pessoas têm que prestar atenção no que eles usam e no que eles têm, porque ficar sem é muito ruim. - O trocadilho fez uma tal maneira que quanto menos as pessoas têm, mais eles menosprezam, mas eles jogam fora quanto menos eles têm. (Estamira) Discursa com eloquência: “A minha missão, além de ser a Estamira, é mostrar a verdade, capturar a mentira e tacar na cara”. Pela palavra ela quer transformar o mundo, revelando um potencial analítico de uma realidade cruel e injusta. Sobre seu estado de saúde, Estamira não se engana, ela sabe que tem algum sintoma que a deixa muitas vezes fora de si e critica o sistema de saúde que não dá a atenção devida a todos os pacientes os tratando como “robôs”, como seres dispensáveis. “A minha depressão é imensa, a minha depressão não tem cura”, Estamira fala relembrando a infância infeliz junto com a mãe, atacadas pelo pai da sua mãe, o avô Ribeiro. Sobre o tratamento médico psiquiátrico recebido desde que se apresentaram seus distúrbios, a paciente Estamira tem muitas queixas e trás a luz o pouco caso como são tratados os pacientes psiquiátricos nos hospitais: as filas intermináveis para receber uma senha, “não sou robô” ela diz; o atendimento médico que não escuta os pacientes, apenas passa a receita para qualquer caso e o mesmo remédio para os mais diversos “sintomas”. 10 Ao voltar do Centro de Assistência Psicossocial José Miller, se mostra revoltada com o tratamento dado pela médica que a atendeu: “- A doutora passou remédio para raiva (risos). E eu fiquei muito decepcionada, muito triste, muito, muito profundamente com raiva dela falar com uma coisa daquelas. (...) ela me ofendeu demais, depois disso. E aqui ó, olha o retorno, 40 dias, presta atenção nisso. Ela é "A Copiadora" e eu sou amigo dela eu gosto dela ... E eles estão, sabe fazendo o que? Dopando quem quer que seja, com um só remédio. Não pode. O remédio. ...Mas eu não quero não, Deus, não. Eles estão confiando... o tal de diazepan então... entendeu? Se eu beber diazepan, se eu sou louca visivelmente, naturalmente, eu fico mais louco. Entendeu agora? O tal do Diazepan... Não, eles vão lá só conversa, uma conversinha qualquer e só conversa e “TUM ‘(enfiam o remédio) Que que há rapaz!” Com essas palavras ela descreve o descaso como são atendidos os pacientes psiquiátricos por médicos incapazes de se dedicar melhor a profissão, apenas copiando o que lhes ensinaram nas faculdades, segundo ela. Segundo o testemunho da sua filha Carolina, depois que a mãe Estamira voltou ao trabalho no Lixão de Gramacho, em Caxias, ela melhorou emocionalmente: “- Ela melhorou muito, assim, em relação aos distúrbios. Às vezes ela fala certas coisas, que parece até ser verdade, tem que .... se fica, te deixa balançado (...) O quadro final do filme-documentário Estamira, é de uma beleza ímpar. Estamira contracena com um mar turbulento, enfrentando toda aquela fúria com belos gestos de braços e mãos como se estivesse tentando parar a tempestuosidade das ondas, ali querendo representar todo o desatino da sua vida, da sua Alma. Importante se faz reproduzir suas palavras nesse contexto, pois revela muito do que foi diagnosticado e vivido pela personagem real Estamira: (Lixão de Gramacho. Homens dormindo. Cavalo e cachorros) Estamira - E os homens tá pior do que os quadrupedes. São uma decepção de todos os fatos. A decepção de quem venerar o homem como o único condicional. É mole? Me dá a certeza, me dá vergonha, me dá nojo... Quê que eu faço? Olha, eu já tive vontade de desencarnar. Eu falei, mas se eu desencanar, eu não cumpro a minha missão. A minha missão é revelar. Seja lá quem for, doa a quem doer. A minha cabeça trabalha muito. Mas, o trocadilho fez com que, eu me separasse até dos meus parentes e eles não tão vendo também não. Eles estão iguais Pilates fez com Jesus. 11 - Já me bateram com pau para eu aceitar deus, mas esse deus desse jeito, esse deus deles, esse deus sujo, esse deus estuprador, esse deus assaltante em qualquer lugar, de tudo que é lugar esse deus arrombador de casa? Com esse deus eu não aceito. Nem picadinha a carne, nem a minha carne picadinha, de faca, de um facão de qualquer coisa e eu não aceito. Não adianta! - Eu sou a Verdade, eu sou da Verdade. “Os homens” é o superior na terra, o bicho superior. Homem também é bicho, mas é superior. Trocadilho fez isso. Agora vou revelar, quem quiser matar pode matar, não mataram Jesus? Jesus não é bom demais agora, depois que ele morreu? Mas eu não, comigo .... A solução é fogo. A única solução é o fogo. Queimar tudo os espaços com seres e pôr outros seres nos espaços. Estamira: - A Terra disse, ela falava, ela agora não que ela tá morta. Ela disse que então ela não seria testemunha de nada. E olha o que aconteceu com ela! E eu fiquei de mal com ela uma porção de tempo. E falei para ela que até que ela provasse o contrário, ela me provou o contrário. A Terra. E ela me provou o contrário, porque ela é indefesa. A Terra é indefesa. A minha carne, o sangue, é indefesa como a Terra. - Mas eu, a minha Áurea não é indefesa, não. - Fiquei mal do espaço todinho e eu tô no meio. Pode queimar e eu tô no meio, invisível. Se queimar meu sentimento minha carne e o meu sangue, se for para o bem, se for para verdade, para o bem, pela lucidez de todos os seres, pode ir até agora (morrer), neste segundo. Eu agradeço ainda. (Ondas do mar. Estamira anda na areia da praia) - E eu Estamira, eu não concordo com a vida. Eu não vou mudar meu ser. Eu fui visada assim, eu nasci assim e eu não admito as ocorrências que existe, que tem existido com seres sanguíneos, carnívoros, terrestres. Não gosto de erros, não gosto de suspeitos, não gosto de judiação, de perversidade. Não gosto de humilhação, não gosto de imoralidade. - O fogo ele está comigo agora, ele tá me queimando. Ele está me testando. O sentimento, todos os astros, tem gente ... Este Astro aqui, Estamira, não vai mudar o ser, não vou ceder o meu ser a nada. Eu sou a Estamira e tá acabado é a Estamira mesmo. (praia e banho de mar, cai na onda) Estamira: - Eu nunca tive sorte. A única sorte que eu tive, foi de conhecer o senhor Jardim Gramacho, o Lixão, o senhor cisco monturo. E eu amo, eu adoro, como eu quero bem meus filhos, então eu quero bem aos meus amigos. Eu nunca tive, aquela coisa que eu sou, sorte boa. (Estamira brinca na praia e conversa com os amigos. Som do mar ao fundo.) (Cena final. Estamira frente as fortes ondas do mar!) Estamira: Tudo o que é imaginado, tem, existe. É. Sabia que tudo o que é imaginado existe e É e tem? É isso mesmo! (FIM) 12 5 - REFERÊNCIAS • ESTAMIRA – Filme documentário sobre o Aterro Sanitário do Jardim Gramacho e sua ilustre trabalhadora Estamira. Dirigido por Marcos Prado. (Estreia em 2004) • CHENIAUX, Elie, Manual de psicopatologia, 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021. • DSM-5: indispensávelpara diagnóstico de transtornos mentais https://secad.artmed.com.br/blog/psiquiatria/dsm-5-diagnostico-transtornos- mentais/ • Gomes, Adrina Chalita e Laks, Jerson. A evolução de longo prazo pode diferenciar dois subtipos de psicose de início tardio. Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo) [online]. 2005, v. 32, n. 1 [Acessado 17 Abril 2022] , pp. 37-42. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0101-60832005000100005>. Epub 20 Maio 2005. ISSN 1806-938X. https://doi.org/10.1590/S0101- 60832005000100005. • D’Agord, Marta Regina de Leão - Um método para estudo e construção do caso em psicopatologia. Ágora (Rio de Janeiro) v. VIII n. 1 jan/jun 2005. • Carvalho, Henrique Eldinias De. Loucura no cinema e no jornal - olhar da divulgação científica com análise fílmica e de repercussão do documentário Estamira na mídia impressa brasileira. Monografia apresentada ao Museu da Vida | Casa de Oswaldo Cruz | Fundação Oswaldo Cruz, para a obtenção do título de especialista em divulgação da ciência, da tecnologia e da saúde. Orientadora: Prof. Dra. Alda Heizer. Rio de Janeiro, janeiro de 2010. • Fernandes, Ricardo Muniz. Título Estamira – Fragmentos de um mundo em abismo/ Transcultural Estamira – Fragments of a world in the abyss, Autores: Estamira Gomes de Sousa / Marcos Prado (Org. Ricardo Muniz Fernandes) Ano 2013 | 1ª edição. Nº de páginas 160. Edição bilíngue português/Inglês - Portuguese/English. Dimensões 115 x 105mm ISBN 978-85-66943-04-7 ANEXO: • Documentário Legendado por Flavia Dias Tavares, 5º período de Psicologia, Psicopatologia Geral, Professora Cristiane Guimarães. Postado no You Tube: https://youtu.be/jGFq8R-h5kY https://doi.org/10.1590/S0101-60832005000100005 https://doi.org/10.1590/S0101-60832005000100005 https://youtu.be/jGFq8R-h5kY 13 1 - INTRODUÇÃO 2 - IDENTIFICAÇÃO GERAL Queixa Inicial: Procedência: 3 – HISTÓRIA CLÍNICA - Psicodinâmica: - Descrição dos Sintomas: - Hipótese Diagnóstica: 4 - Considerações finais 5 - Referências Anexo:
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