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A sepse é uma resposta desregulada do organismo a um insulto infeccioso, que se não reconhecido adequadamente, resulta em choque ou disfunção de múltiplos órgãos em 48 a 72h, tendo alta morbidade e mortalidade. Pode também ser desencadeada por causas não infecciosas, mas que colocam o corpo em situações de estresse como queimaduras, traumas, pancreatites, doenças autoimunes e outros. Estima-se que a cada 100 mil crianças, 22 tenham sepse em algum momento da infância, e entre 100 mil nascidos vivos, 2.202 evoluem com sepse neonatal, resultando em 1,2 milhões de casos de sepse na infância por ano. Em 2020 foi criada a campanha de sobrevivência a sepse, com o objetivo de criar diretrizes com base em evidencias e recomendações para o tratamento da sepse pediátrica. O ponto crucial para o manejo da sepse é o reconhecimento precoce, devendo a partir desse realizar a estabilização da via aérea, a reposição hídrica, a terapia antimicrobiana e aminas vasoativas. 90% das sepses são bacterianas, sendo necessário tentar identificar ou agente infeccioso através da hemocultura ou, quando não for possível, através da identificação do foco inicial e então dos agentes mais comuns. Em RN predominam as bactérias gram negativas, em lactentes as bactérias gram positivas (stafilo aureus e epidermides resistentes a meticilia), MRSA e pneumococo, os vírus (VSR, influenza, corona vírus) e alguns fungos. É um quadro grave que requer unidade de terapia intensiva pediátrica, muitas vezes necessitando de oxigenação por ECMO, dialise, nutrição parenteral e profilaxias para ulceras por estresse e TVP. Tem apresentação clinica muito variadas e quanto menor a idade, mais inespecífico é o quadro clinico. Triagem pediátrica A presença de 3 ou mais* desses critérios indica necessidade de atendimento prioritário e início imediato do protocolo de sepse: Alteração de temperatura Taquicardia Taquipneia Alteração do nível de consciência Anormalidade na pele: quente ou fria. *Se a criança é aplenica, oncológica, imunodeficiente ou possui algum outro risco, basta 2 critérios. É necessário o preenchimento da ficha de triagem dos protocolos gerenciados de sepse pediátrica. Fatores de risco Prematuridade Desmame precoce Hospitalização previa Uso prévio de antibiótico Imunocomprometimento Presença de vomito persistente e recusa alimentar (risco para choque) Quadro clinico Letargia ou prostração Palidez cutânea Bradicardia ou taquicardia Gemidos respiratórios Distensão abdominal Hipertermia ou hipotermia Sintomas da infecção inicial variam de acordo com o foco Diagnostico A sepse é diagnosticada através dos critérios de SIRS: SIRS pediátrico Temperatura corporal >38,5°C ou menor que 36°C. Taquicardia: FC>2DP para a idade na ausência de estimulo externo (controle da febre) ou Bradicardia>2DP para idade. Taquipneia FR>2DP do normal para idade Leucocitose ou leucopenia (VR varia com a idade) ou >10% neutrófilos imaturos Se 2 ou + critérios alterados: sepse. Sepse grave É a sepse associada a pelo menos uma: Disfunção cardiovascular (hipotensão) Disfunção respiratória aguda Duas ou mais alterações orgânicas ou neurológicas: o Glasgow<11 o Plaquetopenia <80 mil o Creatinina séria>2xVR da idade o ALT>2xVR o Bilirrubina Total≥4mg/dL Choque séptico O choque séptico é a sepse com sinais clínicos de perfusão alterada, que são: Alteração do nível de consciência (sonolência, irritabilidade, agitação, choro sem controle...) Diminuição do debito urinário contabilizado com cateter vesical - DU<1ml/kg/h. Alteração no tempo de enchimento capilar Avaliação do Choque: Choque com DC Choque com DC ↑ Frequente em: Lactentes Crianças DC ↑ Resistencia vascular sistêmica ↑ TEC >2seg <1seg Pulsos periféricos Amplos Pele Fria Vermelha e quente Exames complementares Hemograma: é o primeiro exame solicitado na suspeita de qualquer criança com infecção grave, sendo utilizado no critério de SIRS. Os valores de leucocitose e leucopenia variam de acordo com a idade e percentil, mas frente a ausência dos VRs, considera-se o valor adulto. Hemoculturas: devem ser colhidas rapidamente antes do início da antibioticoterapia, sem atrasar o início desta. Exames em busca do foco primário infeccioso: RX tórax ou urinocultura ou exame do líquor, quando não há sinais sugestivos do foco inicial. Lactato sérico: nas recomendações mais recentes, não é utilizado para os critérios de sepse, mas é utilizado para verificar o prognostico da criança, uma vez que a hiperlactatemia entre 2 e 4 sinaliza a elevada mortalidade. PCR: é utilizado para verificar a evolução do tratamento e o prognostico da criança, se negativar em 4 dias após do início do tratamento, tem bom prognostico, e em neonatais, se duas mensurações em 24h não mostrarem elevação, descarta a suspeita de sepse. Ferritina: é um indicativo de prognostico, estando seu aumento relacionado a gravidade da doença. Se acima de 500ng/dL está associada a chance elevada de evoluir com óbito. Procalcitonina: tem correlação com a gravidade da doença, crianças com níveis elevados tem maior falência de órgãos e menor sobrevida nas UTIP. Propedêutica Ações na emergência Reconhecer diminuição da consciência e perfusão. Iniciar cateter ou máscara de oxigênio e estabelecer acesso venoso Monitorar oximetria, PA, temperatura e debito urinário Realizar avaliação diagnostica Coletar hemocultura Iniciar antibioticoterapia entre 1 e 3h Realizar fluidoterapia com ringer lactato ou SF 0,9% Reavaliação dos sinais volêmicos e de perfusão tecidual a cada nova tentativa de fluidos Se não houver resposta hemodinâmica após uso de fluidos, utilizar catecolaminas Solicitar UTIp Sendo assim: 1. Vias aéreas: Diminuir risco de broncoaspiração. Aumentar oferta de oxigênio, se necessário (satO2<92%) Melhorar a perfusão capilar Se há deterioração respiratória, deve ser iniciada ventilação pulmonar invasiva. Em pediatria, a indicação é clínica, não devendo aguardar a gasometria. 2. Hidroeletrolítico: Recomendação: utilizar cristaloide balanceado e tamponado ao invés de coloide no quadro inicial do choque ou disfunção organiza relacionada a sepse. Ringer lactato: bolus 10 a 20ml/kg EV ou Intra Óssea – repetido até no máximo 40 a 60ml/kg até melhorar. Sinais de melhora: urina, FC, FR, PA, grau de hidratação, estado geral melhora. No brasil ainda utiliza-se mais soro fisiológico 0,9%. Deve ser reavaliada a cada reposição, afim de evitar sobrecarga cardiovascular. Deve ser aferida a PA a cada infusão. 3. Drogas vasoativas: Se choque com queda do DC: usar epinefrina. Se choque com aumento do DC: usar norepinefrina. OBS: O uso de corticoides (hidrocortisona) não é recomendado se a estabilidade hemodinâmica for atingida com fluidos e catecolaminas. 4. Antibioticoterapia Em geral, é empírica, uma vez que não esperamos o resultado da hemocultura para iniciar. Pode ser modificado após o resultado da hemocultura. Em cada serviço é utilizado um protocolo de antibioticoterapia, mas, em maioria segue o quadro: Possível Foco Antimicrobiano de acordo com os agentes mais comuns Sepse neonatal precoce ou Pneumonia<3meses Ampicilina + Gentamicina Sepse neonatal tardia ou Pneumonia>3meses Oxacilina + ceftriaxone ou Cefatoxina + Oxacilina + ceftazidina Otites e sinusites Ceftriaxone ou Cefuroxima ou Amox+clavulanato Celulites e piodermites Oxacilina ou cefalotina Gastroenterites Ceftriaxone ou Ampicilina ou Gentamicina Combinações para sepse infantil: Vancomicina + amino glicosídeo + - Cefalosporina de 3ª ou 4ª geração - Carbapenem:imipenem, meropenem - Penicilina de espectro ampliado: carbenicilina, ticarcilina
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