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Legislação da Educação Básica e Políticas Educacionais Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Ruth Cássia Schreiner Prof.ª Me. Maria do Carmo Teles F. Stringhetta Revisão Textual: Jaquelina Kutsunugi Estatuto da criança e do adolescente • Considerações iniciais sobre o ECA; • Direitos e deveres; • Estatuto da Criança e do Adolescente e a educação. • Compreender a importância do Estatuto da Criança e do Adolescente. • Analisar o estatuto no que se refere à escolarização. • Verifi car os principais direitos assegurados às crianças e adolescentes no estatuto. OBJETIVO DE APRENDIZADO Estatuto da criança e do adolescente Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. Unidade Estatuto da criança e do adolescente Introdução Seja muito bem-vindo(a) a mais uma unidade de estudos! Neste momento, os textos aqui propostos contemplarão o Estatuto da Criança e do Adolescente. Compreender em que consiste esse estatuto, como eram assistidas as crianças e adolescentes antes dessa lei e em que termos ela oportunizou melhorias para esse público, assegurando-lhes dignidade e acesso a tudo o que for necessário ao seu desenvolvimento, é parte fundamental da compreensão do que de fato o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) representa. Sabe-se que o ECA é um marco no contexto de valorização e garantia da dig- nidade humana às crianças e adolescentes no país. Mas para além disso, algumas questões precisam ser refletidas: Em que consiste um Estatuto? Havia alguma legislação para as crianças e adolescentes antes do ECA? A respeito de quais direitos esse estatuto se refere? E quanto à educação e escolarização das crianças e adolescentes, como o ECA contribui? Essas são apenas alguns, dos tantos questionamentos que podem ser desenvol- vidos, refletidos e debatidos a respeito do Estatuto. Desse modo, serão analisadas características desde o seu surgimento até os reflexos dessa lei para o amparo às crianças e adolescentes que se têm na atualidade. Boa leitura! Considerações iniciais sobre o ECA O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) surgiu no ano de 1990, repre- sentado pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Ele trata, essencialmente, dos direitos e deveres das crianças e adolescentes e possui grande representatividade no que tange às conquistas legais para esse público, assegurando, dentre outros fatores, saúde, educação e dignidade. Dessa forma, é válido compreender, inicialmente, em que consiste um estatuto e uma lei. Pois bem, estão caracterizados por um conjunto de normas, regras e de- terminações, que organizam aspectos voltados a determinado grupo de indivíduos, instituição, empresa, localidade etc. Nesse sentido, a lei que rege o ECA determina os direitos e deveres das e, para as crianças e adolescentes no Brasil. 8 9 É oportuno destacar aqui que o período em que o ECA foi criado, foi um pe- ríodo de mudanças no país, que possibilitaram novos olhares para a sociedade e, nesse caso, principalmente para as crianças e adolescentes. Antecedendo o ECA, tem-se a Constituição de 1988 e ao longo da década de 1990, muitas foram as leis que surgiram e normatizaram a vida em sociedade no país. No âmbito da educa- ção, por exemplo, na Constituição já constava a educação como direito de todos e dever do Estado e das famílias, no ECA, há um trecho que contempla o direito de acesso e permanência na escolarização e a LDB, complementares tais leis ao contemplar exclusivamente da educação. O conceito de criança e adolescente foi se modificando ao longo dos anos e isso implicou no surgimento de regras e leis adaptadas a cada período, o estatuto, reflete assim, as necessidades voltadas ao grupo que contempla e que precisavam ser estabelecidas em lei a fim de que fossem efetivamente colocadas em prática. Contudo, antes da promulgação do ECA, outras leis vigoraram voltadas às crianças e adolescentes no país. Com o ECA, ficou estabelecido como criança e como adolescente: “Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade”. (BRASIL, 1990, on-line) Voltando-se para uma breve contextualização histórica, no que se refere às políticas voltadas às crianças e adolescentes, a existência de atribuições legais voltada à infância e à juventude, mais direcionado à parcela populacional menos favorecida, dessa for- ma, e a partir das contribuições de Romão (2015, p. 297), fica evidente que: [...] até a Constituição da República de 1988 vigorava no Brasil o Direito do Menor. Através do Código de Menores de 1927 consolidou-se as leis de assistência e proteção vigentes na Primeira República dedicadas ao menor de 18 anos de idade e abandonado ou delinquente. Nesse período, as ações voltadas às crianças e adolescentes tinham cunho assis- tencialista e contavam também com algumas entidades que desenvolviam o mesmo papel, de oferecer a assistência necessária básica aos menores em condições des- favorecidas na sociedade. Essa assistência era desde o aspecto educativo, formativo de ofícios e também assistência corretiva. Após esse período e com o Estado Novo, [...] o menor delinquente passou a ser considerado infrator, a partir do Decreto-Lei nº 6.026/1943 que dispunha sobre as medidas aplicáveis aos menores de 18 anos pela prática de fatos considerados infrações penais. Este primeiro código ficou conhecido como Mello Mattos [...]. (ROMÃO, 2015, p. 297) Com o passar dos anos e de acordo com as novas tendências, os direitos e deve- res das crianças e adolescentes foram crescendo, percebendo-os enquanto sujeitos sociais que são, e por isso, cabíveis de oportunidades de direitos e obrigações que lhes responsabiliza os deveres. 9 Unidade Estatuto da criança e do adolescente Na década de 1970, em detrimento das novas condições políticas do país, foi desenvolvido um novo Código do Menor, substituindo o que existia até então. Sujeito ou objetode medidas judiciais, assim, esse código, considerava ainda uma parcela de indivíduos menores de 18 anos, assim, como nas antecedentes políticas sociais para esse grupo. Contudo, no código de 1979, verificava-se uma atenção ao menor que se encontrava em situação irregular. De acordo com o Có- digo do Menor, sob a Lei nº 6.697, de 10 de outubro de 1979, verifica-se: Art. 2º. Para os efeitos deste Código, considera-se em situação irregular o menor: I - privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de: a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável; b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para provê-las; II - vítima de maus-tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou responsável; III - em perigo moral, devido a: a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons cos- tumes; b) exploração em atividade contrária aos bons costumes; IV - privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável; V - Com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou comunitária; VI - autor de infração penal. Dessa forma, por situação irregular, pode-se entender como aqueles menores que encontravam-se em condições mais precárias, de marginalização, abandono, de violação de direitos, ou que tivessem cometido ato infracional. Dessa forma, o menor em situação regular não estava inserido nas medidas previstas neste código. Vale ressaltar que o Código do Menor foi o que entendeu e que foi revogado com o surgimento do Estatuto da Criança e do adolescente. A grande distinção do ECA para o código que o antecedeu foi o fato do ECA estar direcionado para todas as crianças e adolescentes menores de 18 anos, conforme o excerto: Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportu- nidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, men- tal, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação fami- 10 11 liar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, con- dição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de moradia ou outra condição que diferen- cie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem. (incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) Fica evidente que a essência do Estatuto consiste na normatização e legalização dos direitos e deveres das crianças e adolescentes e também da sociedade e do Es- tado para com eles. A partir de 1990, o código do menor perdeu sua validade ao ser revogado pelo ECA que, por sua vez, tornou-se a lei que vigora até hoje para esse grupo. Por estar em vigência desde a década de 1990, várias foram as adap- tações e modificações feitas no Texto da Lei nº 8.069/90, por isso não é difícil se deparar ao longo da leitura inclusões feitas em seu texto por novas leis. Quadro 1 - Diferenças entre o Código do Menor e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Código de Menores ECA Lei nº 6.697/79 Lei nº 8.069/90 Menor em situação irregular Proteção Integral para crianças e adolescentes Objeto de medidas judiciais Sujeito de direitos Fonte: Elaborado pelas autoras. Desde o código de menores até o ECA, se observa o auxílio e a assistência di- recionados para as crianças e adolescentes, e que com a efetivação do ECA como a lei nacional que ampara esse grupo, outras novas conquistas foram possíveis, especialmente pelo fato de que seu foco de atuação está no todo que compreende esse grupo. Dessa forma, todas as crianças e adolescentes passam a ser sujeitos de direitos perante o estatuto, de modo que, legalmente, possuem todo o respaldo para o pleno desenvolvimento. Para compreender um pouco mais do processo de atendimento às crianças e adolescentes no país, acesse e realize a leitura do texto “Uma Breve História dos Direitos da Criança e do Adolescente no Brasil”. Nele, será possível observar com mais detalhes cada período do país desde o século XX e as principais normas e leis que vigoraram em prol da criança e do adolescente. O texto está disponível em: <http://fundacaotelefonica.org.br/promenino/ trabalhoinfantil/noticia/uma-breve-historia-dos-direitos-da-crianca-e-do-adolescente- -no-brasil/>. Acesso em: 23 fev. 2019. Boa leitura! Ex pl or 11 UNIDADE Estatuto da criança e do adolescente Direitos e Deveres Ao pensar o ECA como um grande marco para as crianças e adolescentes, surge sempre a ideia de direitos assegurados legalmente, contudo, vale ressaltar que o refe- rido estatuto considera os direitos e também os deveres que as crianças e adolescen- tes possuem na sociedade brasileira. De modo geral, o ECA visa assegurar os direitos básicos para a manutenção da dignidade humana e desenvolvimento das crianças e adolescentes, bem como as medidas socioeducativas, caso seja necessário. Das mais expressivas contribuições do ECA, podem ser destacadas a roupagem mais descentralizadora e emancipatória que possui, bem como a garantia de di- reitos que são fundamentais ao desenvolvimento na infância e juventude, como a saúde, educação e outros. Ainda nas disposições preliminares no início da lei, fica claro que um dos fato- res determinantes do ECA é o direito a prioridade, nele considera-se uma série de fatores em que são assegurados às crianças e adolescentes, incluindo-se o fato de punição aos que não garantirem a esse público os direitos fundamentais, de modo que não haja negligências ou qualquer forma de discriminação, violência e explora- ção. Verifique o direito à prioridade contido no artigo 4º da Lei. Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direi- tos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Figura 1 - Garantia à prioridade Fonte: Tarapong / 123RF. 12 13 Dentre as várias determinações contidas na Lei, ao tratar dos direitos fundamen- tais voltados às crianças e adolescentes, e que devem ser considerados pela família, responsáveis, da comunidade, do Estado e da sociedade em geral, verifica-se o direito à saúde desde a gravidez, ao nascimento e desenvolvimento infantojuvenil ao oportunizar acesso à saúde pública por meios de programas e políticas voltadas à área, abarcando o Sistema Único de Saúde (SUS), bem como os serviços de as- sistência médica, odontológica e social, ofertando o atendimento e demais ações necessárias ao desenvolvimento de maneira gratuita. Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade, compreende conforme a Lei em seu artigo 15 “A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis”. (BRASIL, 1990, on-line). Assegurando assim a liberdade, a autonomia e o respeito, mantendo-os a salvo de qualquer forma discriminatória, violenta ou de exploração. No que faz menção ao Direito à Convivência Familiar e Comunitária, inclui o fato de que toda criança ou adolescente deve ter assegurado o convívio familiar e com a comunidade, seja na família original ou em caso específicos com famílias substitutas, bem como o respeito da guarda, tutela e adoção, com todo o suporte necessário oferecido por programas e políticas para tal fim. Outro direito contido na lei,diz respeito à Educação, Cultura, Esporte e Lazer, do qual as crianças e adolescentes precisam ter acesso para seu pleno desenvolvi- mento, enquanto cidadãos. Quanto ao Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho, enquadra-se, basicamente, o fato de o trabalho ser proibido a menores de 14 anos de idade, bem como o direcionamento para ações profissionalizantes quando devido, de modo a direcionar os jovens ao mercado de trabalho, sem que isso prejudique seus demais direitos como o de educação, por exemplo. Figura 2 - Direitos fundamentais contidos no ECA Fonte: Elaborada pelas autoras. 13 Unidade Estatuto da criança e do adolescente Na sequência dos direitos que são fundamentais as crianças e adolescente há na lei um capítulo específico para tratar da prevenção, que abarca diversos condicio- nantes desse aspecto e que tem como característica principal, conforme o artigo 70, o fato de que “é dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente”. (BRASIL, 1990, on-line). Contém tam- bém como particularidades deste item, as entidades de atendimento, a fiscalização, bem como medidas de proteção. Outro ponto muito importante a ser tratado são os atos infracionais cometidos pelas crianças e adolescentes, que caso seja necessário, terão medidas e penalida- des específicas e consequentes de seus atos, dentre elas medidas socioeducativas, conforme legislação para tal fim. Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida; V - inserção em regime de semiliberdade; VI - internação em estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. § 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração. § 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de trabalho forçado. § 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental re- ceberão tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições. Dessa forma, ao passo que o Estatuto prevê os direitos, considera também os deveres, sobretudo, as consequências de atos infracionais que, porventura, crianças e adolescentes venham a cometer. Em continuidade ao que contempla o Estatuto da Criança e do Adolescente, encontram-se as medidas direcionadas aos pais ou responsáveis. É também com o ECA que surgem conselhos de direito, como o Conselho Tutelar, que está encarre- gado de zelar pelas crianças e adolescentes com relação aos direitos que possuem. De acordo com a Lei nº 8.069/90, em seu artigo 131, verifica-se: “Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, 14 15 definidos nesta Lei”. Está incluída neste item a escolha dos conselheiros, assim como as atribuições cabíveis ao conselho em questão. São consideradas também na lei, o acesso à justiça por parte das crianças e ado- lescentes e as particularidades cabíveis a esse atendimento, e a respeito dos Crimes e das infrações administrativas. De modo geral, pode-se compreender que o ECA estabelece direitos às crianças e adolescen- tes. Tais direitos estão relacionados à vida, saúde, alimentação, educação, lazer, profi ssiona- lização, cultura, dignidade humana, o respeito, assim como a liberdade, o convívio familiar e comunitário, igualmente está voltado para atender aspectos voltados às políticas de aten- dimento, medidas protetivas ou socioeducativas, e diversas outras providências. Ex pl or Consoante as considerações apresentadas, ainda que brevemente a respeito do Estatuto da Criança e do Adolescente, fica evidente que ele representa uma conquista legal que ampara e principalmente esclarece em determinações legais os direitos e deveres voltados para esse público, reconhecendo-o como sujeito social. Como visto, o ECA foi estabelecido pela Lei nº 8.069 de 1990. Você considera que todas as suas atribuições estão sendo aplicadas e as crianças estão com seus direitos garantidos ple- namente? Considera que ainda hoje é um desafi o implementá-lo em sua completude? Ex pl or Estatuto da criança e do adolescente e a educação Dentre as várias atribuições legais para as crianças e adolescentes, o ECA de- termina o direito à educação, mas o que de fato se relaciona à educação e quais as contribuições do estatuto nesse sentido? A partir de seu estudo, torna-se evidente que o ECA foi também um marco de desenvolvimento no âmbito da educação básica no Brasil, primeiro porque foi de- senvolvido em um período em que muitas mudanças estavam sendo pensadas para essa área, segundo porque foi estabelecido após as determinações da Constituição Federal de 1988 e, também, antecede a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Verifique o que consta no Estatuto com relação à educação: Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao ple- no desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; 15 Unidade Estatuto da criança e do adolescente II - direito de ser respeitado por seus educadores; III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instân- cias escolares superiores; IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência. Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais. Ao assegurar tais direitos, ao tratar especificamente da educação nos artigos 53 ao 59, é possível identificar as várias caracterizações desse direito à educação por parte das crianças e adolescentes. Trata-se assim de aspectos gerais, bem como do dever do Estado, do respeito que os alunos precisam ter no processo educativo, as- sim como a obrigatoriedade dos pais ou responsáveis de matricularem as crianças e adolescentes que estão sob suas responsabilidades na escola. Para além dessas atribuições, há uma relação da educação estabelecida entre a escola e o Conselho Tutelar em que o conselho deverá ser avisado quando houver muitas faltas, repetências ou percepção de maus-tratos. Consoante o ECA e a educação como um direito, pode-se considerar mediante contribuições de Lamenza e Machado (2012, p. 95) que: a educação infantojuvenil compreende o processo de transmissão de co- nhecimentos à criança e ao adolescente sobre os mais variados ramos do saber humano, tarefa de competência do Estado (por si só ou por delega- ção), fazendo com que sejam estimuladas a capacidade de aprendizado, a criação e difusão de idéias próprias e a formação do público infantojuvenil para o exercício da cidadania plena, com preparo suficiente para o ingres- so no mercado de trabalho. Tais considerações possuem também embasamento na Constituição Federal, que promulga: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988, on-line) O direito à educação está assim, diretamente vinculado a outros direitos como o de respeito, inclusão, igualdade e outros tantos, relacionados a inserção e permanên- cia do estudante na escola que deve, por sua vez, manter um foco democrático e di- nâmico que capacite e forme indivíduos para a sociedade, ou seja,cidadãos atuantes. Ao passo que o ECA assegura legalmente o direito das crianças e adolescentes à educação, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96, irá tratar, dentre outras condicionantes da educação, da educação que deve ser ofertada a todos. Dentre os diversos condicionantes educativos contidos na LDB, 16 17 constam o papel das instituições de ensino e também dos professores. Observe o Quadro a seguir. Quadro 2 - Incumbências das Instituições de ensino e dos professores, segundo a LDB INCUMBÊNCIAS Instituições de Ensino Professores Elaborar e executar sua proposta pedagógica e administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros. Participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento. Assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas. Elaborar e cumprir plano de trabalho, conforme a proposta pedagógica da instituição. Cumprir com o plano de trabalho de cada docente e prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento. Zelar pela aprendizagem dos alunos. Articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola, e manter os pais ou responsáveis cientes do cotidiano escolar do estudante. Estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento. Notificar o Conselho Tutelar em casos específicos e previstos por lei, como o excesso de faltas. Ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos. Promover medidas de conscientização, prevenção e combate a todos os tipos de violência, no âmbito escolar. Participar dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional. Estabelecer ações destinadas a promover a cultura de paz nas escolas. Colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade Fonte: Adaptado de artigos 12 e 13 da LDB. A gestão democrática é outro aspecto fundamental para a educação e que man- tém a relação entre a LDB e o ECA, ao possibilitar a participação e o reconheci- mento do aluno enquanto sujeito atuante de sua formação, integrando também a escola e a comunidade de maneira democrática, inclusiva e igualitária. 17 Unidade Estatuto da criança e do adolescente O ECA, no contexto escolar, reforça e reassegura o direito que as crianças e adolescentes têm à educação e para além disso, na prática, esse acesso à educação deve assegurar também a permanência, a integração, interação e inclusão, para que efetivamente a aprendizagem seja significativa e prazerosa, formadora de cidadãos. Ex pl or Quanto às medidas protetivas das crianças e adolescentes também podem ser direcionadas na escola para o Conselho Tutelar, caso sejam percebidos indícios de maus-tratos, ou em casos como faltas excessivas e comportamento inadequado. Na educação, pode-se considerar que a LDB e o ECA caminham juntos no que se refere ao direito de acesso e permanência nas instituições de ensino, bem como a obrigatoriedade da oferta de vagas gratuita atendendo a demanda e pre- missa de que a educação é um direito de todos e um dever do Estado e da família em assegurar aos estudantes tais direitos que culmine em uma formação cidadã, crítica e reflexiva. Mediante informações anteriores, ressalta-se que tão importante quanto a exis- tência das leis aqui contempladas é a sua aplicabilidade efetiva, que assegure re- almente tais direitos às crianças e adolescentes. Pois embora várias ações sejam, ainda hoje, desafiadoras, precisam ser implementadas com eficácia para que os objetivos de tais medidas sejam atingidos com excelência. A partir de tais leituras foi possível a compreensão de que o Estatuto da Criança e do Adolescente é um grande marco de direitos a esse grupo, entendendo-os como cidadãos de direitos, assegurando-lhes o desenvolvimento pleno para a cidadania. Ainda que desafiador, as premissas contidas no estatuto possibilitaram e ainda possibilitam a muitas crianças e adolescentes o amparo quanto a saúde, lazer, cultu- ra, educação, dignidade humana, liberdade, convívio familiar e profissionalização. O direito à educação preconizado no ECA, aliado a outras leis como a Constitui- ção Federal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e tantas outras polí- ticas que atendam a diversidade da qual o país é composto no que tange a educação, fomentam o desenvolvimento e capacitação infantojuvenil de maneira democrática e inclusiva, possibilitando a esses indivíduos a formação para a cidadania. Que estes textos tenham possibilitado inquietações que te levem a aprofundar ainda mais e manter-se sempre atualizado quanto aos assuntos aqui tratados. 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros ECA Esse material consiste em um livro que traz o Estatuto da Criança e do Adolescente com alguns breves comentários que irão esclarecer e facilitar a compreensão da lei que o constitui. EQUIPE EUREKA. ECA: estatuto da criança e do adolescente. São Paulo: Eureka, 2015. A proteção constitucional de crianças e adolescentes e os direitos humanos Neste livro é possível ter uma visão geral da proteção aos direitos da criança e do adolescente sob a ótica da Constituição Brasileira de 1988, ao analisar em seu texto os direitos fundamentais de crianças e adolescentes, bem como as principais características dessa proteção, os motivos e os principais aspectos que a fundamentam. MACHADO, M. de T. A proteção constitucional de crianças e adolescentes e os direitos humanos. Barueri, SP: Manole, 2003. Leitura Entrevista Antonio Carlos Gomes da Costa Segue a indicação de leitura da entrevista concedida por Antonio Carlos Gomes da Costa, que foi um dos redatores da lei do estatuto em 1990. Nessa entrevista, ele apresentará seu posicionamento e conhecimentos relacionados ao Estatuto da Criança e do Adolescente. ECA na escola – entrevista com o pedagogo Antonio Carlos Gomes da Costa. Disponível em: https://bit.ly/2XpyLSw Entrevista Antonio Carlos Gomes da Costa Segue a indicação de leitura da entrevista concedida por Antonio Carlos Gomes da Costa, que foi um dos redatores da lei do estatuto em 1990. Nessa entrevista, ele apresentará seu posicionamento e conhecimentos relacionados ao Estatuto da Criança e do Adolescente. ECA na escola – entrevista com o pedagogo Antonio Carlos Gomes da Costa. Disponível em: https://bit.ly/2XpyLSw Secretária nacional diz que desafio do ECA é integração de esforços A notícia publicada na EBC apresenta o posicionamento da então secretária nacional, a respeito do ECA, no que tange os principais desafios do Estatuto. EBC. Agência Brasil. Secretária nacional diz que desafio do ECA é integração de esforços. https://bit.ly/2KStdgw 19 Unidade Estatuto da criança e do adolescente Referências BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 10 jan. 2019. ______. Lei n. 6.697, de 10 de outubro de 1979. Institui o Código de Menores. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1970-1979/lei-6697- -10-outubro-1979-365840-publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: 29 jan. 2019. ______. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/ L8069.htm>. Acesso em: 29 jan. 2019. ______. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ L9394.htm>. Acesso em: 10 jan. 2019. LAMENZA, F.; MACHADO, A. C. da C. (orgs.). Estatuto da Criança e do Adoles- cente interpretado: artigo por artigo, parágrafo por parágrafo. Barueri, SP: Mano- le, 2012. ROMÃO, L. F. de F. OEstatuto da Criança e do Adolescente no Direito Brasilei- ro: Significados e desafios decorridos 25 anos da lei. In: ZAGAGLIA, R. A. et al. (orgs.). Criança e adolescente. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2015, pp. 297-316. 20
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