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AULA 2 GESTÃO DA MUDANÇA E TRANSFORMAÇÃO ORGANIZACIONAL Profª Maura Vello 02 CONVERSA INICIAL Olá! Vamos dar continuidade ao desenvolvimento dos seus estudos, iniciando mais esta aula. Apenas relembrando, na aula 1 trabalhamos com temas relacionados aos conceitos de organização e de onde eles surgiram, como se compõem as estruturas organizacionais, em que ambiente estão inseridas e quem são os diversos participantes com uma diversidade de interesses nesse complexo contexto em que sociedade e organizações as mais variadas estão colocadas. Conhecer um pouco destes cenários nos ajudará a entender de que forma as mudanças e transformações acontecem nas organizações e quais são os fatores que as impulsionam mesmas em direção à mudança. Essas transformações podem ser programadas? Ou simplesmente ocorrem à medida que as organizações se sentem pressionadas a mudar? É possível planejar uma mudança de forma estratégica e envolver toda uma estrutura organizacional, mesmo sabendo que haverá resistência e dificuldades? Você já teve a oportunidade de vivenciar alguma experiência de mudança na empresa onde trabalha ou até mesmo tomar conhecimento de algum processo de transformação e reposicionamento organizacional? É bem provável que sim, certo? Então pergunto a você: quais são os primeiros a serem impactados nesse processo? Isso mesmo, as pessoas, pois são elas que fazem com as coisas aconteçam. Mudanças organizacionais necessariamente passam pela reorganização de ideais, comportamentos, valores, processos, e sem que haja o devido cuidado e envolvimento daqueles que fazem o dia a dia das organizações esse processo pode demorar ou até mesmo não chegar aos resultados esperados. CONTEXTUALIZANDO Muitas vezes mudanças estratégicas organizacionais são tão bem- sucedidas que os próprios colaboradores e até mesmo clientes nem imaginam como a empresa era antes, ou até mesmo se perguntam como a organização sobreviveu antes da transformação. Obviamente, o inverso também pode ser verdadeiro: existem casos de transformações organizacionais que não terminaram bem. Algumas organizações ainda assim conseguem se reposicionar e seguir em frente, outras sucumbem e fecham as portas. 03 Agora pense e tente se lembrar de alguma marca que se reinventou e que hoje está no mercado sem que as pessoas nem se lembrem de como elas eram ou o que faziam antes de mudar. Pense também em algum caso em que mesmo com a aposta na mudança o processo não deu certo. Pesquise pelo menos três casos bem-sucedidos e três que não apresentaram sucesso e anote quais as características em comum perceptíveis nos casos de sucesso e também dos que não chegaram lá. Indo um pouco além, indico a seguir um dos casos mais conhecidos de reposicionamento e transformação no mercado, que reflete o que estamos propondo aqui. Quem não conhece o case da Havaianas, que passou de uma organização que havia se estagnado no mercado a uma potência? Ela se tornou uma marca conhecida mundialmente e deixou de vender chinelos baratos para vender o mesmo produto reposicionado no mercado, transformando-o em acessório de moda. Vamos ver agora fatos marcantes da história da Havaianas e como essa organização se transformou e se adaptou para permanecer no mercado, indo muito além e se tornando um case de sucesso. Saiba mais Veja alguns fatos marcantes da história da marca Havaianas: <https://economia.uol.com.br/album/2012/06/29/veja-fatos-marcantes-da- historia-da-havaianas.htm>. Para entender melhor como as organizações trabalham para evitar que as coisas não aconteçam como planejado ou que se minimizem os riscos que mudanças e transformações provocam em seus ambientes interno e externo, vamos ver nesta aula alguns conceitos, processos e estratégias que auxiliam as tomadas de decisão e a busca pelo sucesso nas mudanças. TEMA 1 – CONCEITOS DE MUDANÇA ORGANIZACIONAL Como entender por que alguns casos de mudança dão certo e outros não? Existe alguma maneira de evitar um desastre nesse processo de transformação? Obviamente quando uma empresa erra nas suas escolhas e estratégia, além de afetar a vida de muitos, ela também acaba por assumir grandes prejuízos – não somente financeiro, mas de imagem da marca também, o que muitas vezes pode ser fatal para a organização. 04 Robbins (2005, p. 18) chama a reflexão para a questão da temporariedade dos novos contextos organizacionais da seguinte forma: Com a mudança vem a temporariedade, nos últimos anos a globalização, a expansão da capacidade e os avanços na tecnologia se combinam de forma a impor às organizações que quiserem sobreviver que elas sejam ágeis e flexíveis. O resultado disso é que tanto os funcionários como os dirigentes trabalham hoje em um clima que pode ser definido como temporário. As evidências desta situação estão em todos os lugares da organização. As funções vêm sendo continuamente redesenhadas e as tarefas cada vez mais sendo realizadas por equipes flexíveis. O que o autor coloca é que não há mais como as organizações fugirem da complexidade que se instala cada vez mais nos seus ambientes interno e externo. A transformação ocorre em tempo integral e real, e cada vez mais deve ser considerada parte natural do processo evolutivo tanto das organizações como da sociedade. Robbins (2005) ainda complementa dizendo que colaboradores de qualquer área das organizações precisam se habituar à temporalidade, entender que é primordial estarem preparados para conviver com a flexibilidade, espontaneidade e imprevisibilidade. Além de termos em mente que a transformação e a mudança devem fazer parte de forma contínua do nosso cotidiano nas organizações e na nossa vida pessoal, é preciso estar pronto para se moldar a novas realidades e demandas que vão surgindo ao longo do processo transformacional. Chiavenato (2008, p. 88) relata que para produzir produtos e serviços com qualidade e preços competitivos, a empresa deve estar em total sintonia com as informações do mercado, conhecer as necessidades dos clientes, monitorar os concorrentes, rever constantemente os processos do negócio, atualizar as tecnologias utilizadas, e, sobretudo, repensar constantemente a sua missão. Se observarmos as colocações acima podemos chegar a vários fatores que são comuns aos ambientes organizacionais. Vamos falar de alguns deles: Necessidade constante de monitoramento interno e externo com relação aos movimentos do mercado e como a empresa se posiciona nesse contexto. Acompanhamento permanente de tendências tecnológicas e necessidades futuras para se preparar para o atendimento de novas demandas. Independentemente de sua área de atuação, estar atento às inovações, pois atualmente a grande maioria dos segmentos é modificada e mobilizada 05 por inovações, seja em novas tecnologias, processos, estruturas, aprendizado ou novos modelos de gestão, de forma exponencial. Buscar realinhar os interesses da organização sempre que necessário, pois uma empresa com interesses desconectados às expectativas e tendências do mercado tende a perder espaço para a concorrência. Como Brown (1991) já afirmava lá na década de 1990, a maior invenção que sairá dos laboratórios de pesquisa no futuro será a própria organização, conforme as organizações tentam, com rápidas inovações tecnológicas, acompanhar o mercado, os departamentos de pesquisa têm de criar novas arquiteturas organizacionais que possibilitem à empresa ser continuamente inovativa. Se pararmos para observar o contexto em que vivemos, seja como colaboradores no mais diverso universo organizacional, seja como consumidores de produtos e serviços, não é difícil chegar à conclusão que é imenso o desafio das organizações em atender às expectativas de um mercado globalizado ecomplexo. Esse desafio se traduz em mudança e adaptabilidade contínuas por parte das organizações frente à criação de identidade e diferencial competitivo, bem como a constante necessidade de buscar alocar, de forma cada vez mais sensata, os seus recursos, para com isso buscar o equilíbrio entre a maximização de seus resultados, o controle de custos e a entrega de qualidade em produtos e serviços. TEMA 2 – PROCESSOS QUE ENVOLVEM A MUDANÇA ORGANIZACIONAL Antes de começarmos a falar dos processos que envolvem a mudança organizacional, sugiro que façamos uma reflexão. Vamos olhar mais atentamente o ator principal do processo de mudança em qualquer contexto, sendo ele organizacional ou social. O ser humano, a ação humana é que promove tudo. Não existiriam organizações de qualquer tipo ou tamanho sem que as pessoas se unissem em torno de objetivos comuns. Pois bem, assim surgem os grupos sociais, as comunidades, as empresas, as instituições de ensino, as organizações políticas e religiosas, as instituições de controle e poder, os governos. Sim, somos nós os responsáveis e beneficiários de todo esse processo. 06 Segundo Nascimento (2016), "quando nos unimos em grupos e organizações, somos capazes de fazer o que não seríamos sozinhos, de crescer, de prosperar, de nos proteger”. Sabemos que os movimentos que levam as organizações ao processo de mudança são feitos pelas pessoas, tanto as que compõem uma organização como as que compõem o ambiente onde tal organização se desenvolve. Então temos aqui um elemento-chave, mas ele não é o único, apesar de ser fundamental. Na busca por mudanças, as organizações estão se reinventando e dando muito mais importância a processos mais fluidos e menos engessados. Chiavenato (2004), quando classificou as organizações em sistemas mecanístico e orgânico, descreveu assim as diferentes características entre esses perfis: Quadro 1 – As diferentes características entre as organizações mecanísticas e orgânicas: Fonte: Chiavenato, 2008, p. 84. O que nos parece demonstrar as características acima descritas pelo autor é que quanto mais tradicional a estrutura organizacional, ainda que em condição de estabilidade e modernizada em seus sistemas e processos, maior se torna a dificuldade de implementação de mudanças, pois esse tipo de estrutura mecanística com predominância verticalizada de comando, muito mais hierarquizada e regulamentada, tende a apresentar maiores fatores de resistência à mudança. Já quando o autor trata de estruturas com aspectos mais flexíveis, o que se observa são características mais informais, descentralização de comando hierárquico e processos participativos, predominado tomada de decisões e 07 processos mais horizontalizados com envolvimento da organização como um todo. Assim, agentes considerados elementos-chaves estão envolvidos nos processos de mudança nas organizações, como liderança e estruturas de comando, áreas e departamentos, colaboradores, processos, tecnologia, cultura organizacional, sociedade, fatores econômicos e aspectos mercadológicos e ambientais, e vão apresentar diferentes respostas dependendo do enquadramento da organização entre o tradicional e o contemporâneo. Chiavenato (2008, p. 84) complementa que “a forma mecanística de organização é mais apropriada para condições ambientais de estabilidade e previsibilidade e a forma orgânica mais apropriada para as condições ambientais de mudança e inovação”. Ambas passaram por processos de mudança e transformação, porém a resposta às mudanças será diferente. O quadro a seguir mostra de forma um pouco mais clara o que diferentes agentes promotores de mudança podem promover numa organização. Quadro 2 – Alguns tipos de mudança organizacional a partir dos agentes que compõem o seu ambiente Fonte: Chiavenato, 2008, p. 18. Assim, observamos que, numa visão mais sistematizada, fazer gestão de mudança e transformação organizacional é responder às pressões vindas dos diversos agentes que compõem os meios interno e externo das organizações, 08 traduzindo todo esse processo na otimização da alocação dos recursos disponíveis, resultando em melhora do desempenho organizacional. Para encerrarmos este tema, indico a seguir um vídeo que fala sobre Modelos Mentais e como as pessoas influenciam as mudanças nas organizações. Saiba mais Assista ao vídeo sobre Modelos Mentais: <https://youtu.be/J-rCRjMIPoM>. TEMA 3 – TIPOS DE MUDANÇA ORGANIZACIONAL Vamos iniciar este tema, que irá tratar de alguns tipos de mudanças organizacionais, fazendo um esclarecimento sobre as mais variadas teorias e formas de entendimento de autores. Sendo assim, vamos ver aqui o que pensam alguns deles e como contribuem para o entendimento das mudanças e transformações organizacionais. Começaremos com a abordagem de Jones (2010), que relaciona os principais mecanismos que, combinados de formas variadas, aparecem envolvidos nos processos de mudança nas organizações. Quadro 3 – Relação entre teoria organizacional, estrutura e cultura organizacional e planejamento e mudança Fonte: Jones, 2010, p. 6. Se observarmos a descrição das características citadas pelo autor, a partir de cada uma das dimensões é possível concluir que: 09 A estrutura organizacional representa o sistema de controle formal de tarefas e pessoas, coordenando ações com foco nos objetivos organizacionais. A cultura organizacional é moldada e desenvolvida por meio dos valores criados e compartilhados pelas pessoas. É a cultura que demonstra a maneira como as pessoas interagem dentro e fora das organizações e como respondem aos estímulos e mudanças. O desenho organizacional representa a forma como gestores combinam os diversos aspectos relacionados à estrutura e à cultura organizacional, buscando atender aos interesses e às necessidades de adaptação em um ambiente de mudança constante. A combinação desses fatores resulta também em identidade organizacional e vai diferenciar as marcas e empresas, ainda que as mesmas atuem em um mesmo segmento de forma semelhante. Jones (2010) cita um exemplo claro quando comenta que a Coca-Cola e a Pepsico são duas das mais bem-sucedidas empresas mundiais de refrigerantes e compartilham ambiente mercadológico similar, já que seus produtos são similares. Essa similaridade pode levar à crença de que a combinação de fatores das duas organizações também possa ser parecida. Porém, não são: enquanto a primeira tem características de abordagem cooperativa, valorizando funcionários e apoiando carreiras de longo prazo, a segunda apresenta como características uma abordagem mais competitiva de alto turn-over e decisões gerenciais que não consideram muito o aspecto humano. Motta (2001) trabalha conceitos que diferenciam, dentro da estrutura organizacional, quais as perspectivas de mudança de acordo com os objetivos organizacionais. 010 Quadro 4 – Perspectivas de análise organizacional por objetivos de processo de mudança Fonte: Motta, 2001, p. 74. O autor trabalha com as diferentes perspectivas da estrutura organizacional e as possibilidades de mudança de acordo com os objetivos da organização como um todo. Vale lembrar que essas necessidades de transformação acontecem de forma integrada, criando interdependência entre perspectivas, processos e áreas envolvidas para que as mudanças aconteçam. 3.1 Os tipos de mudança organizacional São muitas as teorias que abordam o universo das mudanças organizacionais. Vamos trabalhar aqui os conceitos desenvolvidos por Chiavenato (2008), que lista quatro tipos de mudança dentro das empresas: Mudanças Estruturais: Neste tipo de mudança, o que vemos é um envolvimento de toda a estrutura hierárquica da empresa. Ela acontece, na maioria das vezes, nos níveis mais altos de gestão e é planejada,porém exige a participação e envolvimento de toda a organização. Mudanças Tecnológicas: Este tipo de mudança geralmente está relacionado a questões que abordam a forma de produção e realização do 011 trabalho. Tem como objetivo principal trazer eficiência ao processo produtivo ou da prestação de um serviço. Mudanças de produtos e serviços: Este tipo de mudança é mais direcionado a portfólio de produtos ou serviços. Está relacionada ao processo de inovação, que pode ser representado por melhorias incrementais em produtos e serviços já existentes ou o lançamento de novos produtos. Mudanças Culturais: Já as mudanças culturais são mais subjetivas, pois tratam de questões comportamentais de crenças e valores dos colaboradores, e estas têm sempre que estar alinhadas às normas e expectativas da organização. O autor também comenta que as mudanças podem ocorrer em várias dimensões, profundidades e velocidades. Podem apresentar caráter específico ou genérico e ainda podem ser entendidas como lentas, progressivas, incrementais e radicais. Vejamos no quadro a seguir como Chiavenato trata tais aspectos. Quadro 5 – Principais tipos de mudanças empresariais Fonte: Chiavenato, 2008, p. 122. 012 Agora vejamos um pouco melhor o que o autor nos diz sobre cada um desses tipos de mudança e essas mudanças envolvem os diversos agentes e áreas das organizações. Mudanças contínuas: São as transformações que se tornam perenes nas empresas e privilegiam melhorias que envolvem todos os colaboradores. Geralmente são suaves, porém contínuas e permanentes, como, por exemplo, programas de gestão da qualidade. Podem também ser chamadas de mudanças incrementais. Mudanças Planejadas: Geralmente envolvem uma visão de médio e longo prazo. Precisam ser feitas a partir de diagnósticos prévios que irão dar embasamento ao planejamento, à tomada de decisões gerenciais e às ações. Um bom exemplo deste tipo de mudança é a ampliação ou modernização para aumentar capacidade produtiva. Mudanças Radicais: Geralmente ocorrem quando as organizações pretendem redesenhar processos, produtos ou serviços, modificando de forma significativa o contexto organizacional. São planejadas pelas áreas de direção da empresa, mas envolvem todos. Alguns exemplos deste tipo de mudança são processos de reengenharia de reposicionamento mercado e/ou de marca. Mudanças Estratégicas: Geralmente envolvem estudos mais aprofundados e com visões mais ampliadas de posicionamento de mercado a médio e longo prazo. São desenhados diferentes cenários e seus desdobramentos, avaliando riscos e possibilidades de ganhos e perdas para tomada de decisões gerenciais. Por meio da avaliação desses diferentes cenários é comum empresas até mesmo recuarem e desistirem de implantar um projeto. Motta (2001, p. 72) apresenta assim o seguinte entendimento sobre essa diversidade de conceitos: “em meio à variedade de objetos, os gestores da mudança tendem a privilegiar algumas dimensões organizacionais em detrimento de outras, conforme a perspectiva de análise ou a teoria substantiva em que se baseiam”. Assim, as divergentes abordagens teóricas sobre o tema oferecem variados modelos e aplicabilidades que devem ser analisados pelas empresas na escolha das possibilidades que melhor atendam aos interesses de todas as partes 013 envolvidas. Essas diferentes vertentes de estudo não se anulam ou se sobrepõem, são apenas distintas perspectivas. Saiba mais Para finalizarmos este tema, indico duas leituras complementares. A página 18 do livro Comportamento Organizacional, que debate a temporariedade nos novos processos organizacionais e cita o case da Nissan Motors; e o artigo “Mudança Organizacional - Característica das Organizações Dialéticas”. Para mais informações, acesse o material de Leitura Obrigatória da disciplina e boa leitura! TEMA 4 – A MUDANÇA ORGANIZACIONAL COMO ESTRATÉGIA DE NEGÓCIO Vamos iniciar este tema tratando de um case que ficou conhecido como o Manifesto da Pasta de Amendoim. Essa história foi gerada a partir do questionamento de um dos gestores da empresa Yahoo! quanto à estratégia ou falta dela na organização, que a fez perder mercado e ver o preço de suas ações despencarem com a entrada do Google no mercado. Johnson et al. (2011, p. 24) relembram o caso: Em novembro de 2006, Brad Garlinghouse, gerente da Yahoo!, enviou um memorando que era um desabafo direto ao modelo clássico de gerenciamento da gigantesca empresa de internet. Apelidado pela mídia de “Manifesto da pasta de amendoim”, o memorando de Garlinghouse acusava a liderança da Yahoo! de falta de orientação estratégica. O crescimento era lento, o Google havia ultrapassado a Yahoo! em receitas de publicidade on-line e o preço das ações da empresa haviam caído para aproximadamente um terço do valor desde o início do ano. De acordo com Garlinghouse, a Yahoo! estava espalhada muito superficialmente, assim como uma pasta de amendoim sobre uma fatia de pão. Era hora de uma mudança na estratégia. A mudança como estratégia de negócios acontece quase que diariamente nas decisões tomadas pelas organizações e cada vez mais se torna parte dos processos decisórios, independentemente da forma como o processo de mudança venha a acontecer – seja como no caso da Yahoo!, para superar problemas, seja por decisão da organização diante de uma oportunidade de desenvolvimento e ganho de mercado. O enfrentamento de um gestor diante da estagnação de uma grande corporação, como demonstrado anteriormente, faz-nos refletir sobre o quanto todos os envolvidos (colaboradores, diretores, gestores) são afetados quando alguma coisa sai errada ou não acontece como o esperado pelas organizações. 014 Muitas vezes esse processo de identificação e de reordenação estratégica é demorado, gerando perdas e prejuízos, como no caso descrito há pouco. A seguir veremos uma série de empresas que, a partir dos seus fracassos ou da estagnação, usaram a mudança organizacional como estratégia para sobrevivência no mercado. 015 Quadro 6 – Do que são feitas as grandes empresas Fonte: Chiavenato, 2008, p. 28-29. 016 O objetivo principal de citar todos esses casos é promover a reflexão. Vamos nos perguntar como algumas delas se tornaram grandes potências mundiais e estão no mercado há décadas, algumas inclusive se mantendo como líderes de mercado. A resposta é: porque buscaram por meio da mudança construir estratégias que as tornassem únicas. Johnson et al. (2011) comentam que “estratégia é a orientação e o alcance de uma organização em longo prazo, que conquista vantagens num ambiente inconstante por meio de configurações de recursos e competências”. Chiavenato (2008, p. 116) reforça que “a formulação de estratégia empresarial é um importante elemento para introdução de mudanças que a organização espera desenvolver de maneira contínua e gradativa”. Assim, a estratégia constitui uma determinada combinação de realocação de recursos organizacionais que irão dar direcionamento e orientar decisões gerenciais de longo prazo como, por exemplo, posicionamento de mercado, processos inovadores e as relações com seus stakeholders. O que podemos concluir então é que a mudança está inserida no contexto organizacional, em suas decisões estratégicas, e sem ela não há transformação, não há sustentabilidade organizacional. TEMA 5 – ALGUNS MODELOS APLICÁVEIS DE MUDANÇA ORGANIZACIONAL A partir do estudo dos vários conceitos e vertentes das mudanças organizacionais começam a surgir os modelos e as propostas de aplicabilidade efetiva de processos de mudança. Alguns são implantados e usados nas empresas desde que surgiram, como os métodos Kaizen e da Qualidade Total, que têm como proposta melhorias contínuas e que surgiram na reestruturação das organizações logo apóso fim da Segunda Guerra Mundial. Outros foram surgindo e sendo desenvolvidos ao longo dos anos, como a Reengenharia e o uso de Balanced Scorecard (mais conhecido como BSC). Os primeiros modelos são processos mais simples de serem implantados e geram continuidade permanente, os dois últimos modelos são bem mais complexos e promovem transformações mais profundas. Vamos falar um pouco desses dois modelos mais recentes. 5.1 Gestão da Qualidade Total Este modelo de transformação organizacional que surgiu no pós-guerra é um dos mais usados nas organizações até hoje. Ele propõe o envolvimento de 017 todas as áreas e todos os colaboradores das empresas, promove mudanças de comportamento e de cultura que acabam por gerar desdobramentos que vão desde a diminuição do desperdício até a busca pela excelência nos processos, produtos e serviços, aumentando continuamente a qualidade em todos os âmbitos da empresa. Segundo Chiavenato (2008, p. 124), as técnicas de intervenção suaves e contínuas, dentre as quais os Programas de Gestão da Qualidade Total, estão centradas nas pessoas e privilegiam melhorias gradativas e continuadas de processos, produtos e serviços, em longo prazo e com a participação colaborativa da organização como um todo. Existem várias técnicas gerenciais de Gestão da Qualidade Total, mas no quadro a seguir é possível ter uma visão mais sistêmica de como esses processos acontecem. Quadro 7 – Sistema tradicional de inspeção e Sistema de Qualidade Total Fonte: Chiavenato, 2008, p. 136. Os dois esquemas anteriormente demonstrados pelo autor revelam que apesar de, no primeiro contexto, haver inspeção anterior à implantação dos programas de qualidade, havia a correção dos processos, mas ainda assim os clientes finais eram diretamente afetados por falhas e defeitos de produtos e serviços. Observemos que no segundo ciclo as falhas e defeitos são corrigidos antes da entrega final de produtos e serviços, e ainda assim há uma 018 retroalimentação mesmo depois da entrega – demonstrando uma preocupação ainda maior com a satisfação final do cliente. 5.2 O Sistema Balanced Scorecard (BSC) Este outro modelo de desenvolvimento e transformação organizacional tem embasamento mais aprofundando a partir da percepção de dois autores professores de Harvard, David Norton e Robert Kaplan (1997), que notaram que as empresas se baseavam, na maioria das vezes, em mensurações e resultados contábeis e financeiros ocorridos no passado para projetarem seus planos futuros. Com razão, os dois estudiosos verificaram que outros fatores relevantes eram deixados de fora como, por exemplo, as capacidades internas da organização e suas possibilidades de desenvolvimento e inovação, questões mercadológicas momentâneas e previsões futuras. Assim, o BSC passa a ser considerado, segundo seus autores, uma ferramenta que apresenta indicadores que abrangem quatro perspectivas fundamentais na tomada de decisões estratégicas das empresas. Vejamos no quadro a seguir: Quadro 8 – As quatro perspectivas do BSC Fonte: Kaplan e Norton, 1997, p. 274. 019 A aplicação deste modelo para as organizações permite projeções estratégicas de longo prazo mais elaboradas e que levam as empresas a planejar seu futuro de forma mais segura. FINALIZANDO Nesta aula pudemos aprofundar um pouco mais os conceitos de mudança organizacional, bem como todos os processos que envolvem o desenvolvimento e a transformação nas organizações. Vimos também que existem várias vertentes conceituais que estudam os fenômenos das mudanças organizacionais e abordamos alguns tipos de mudança organizacional em diferentes perspectivas, inclusive na utilização da mudança como parte fundamental da estratégia empresarial. Por último, falamos de dois modelos estruturados de aplicação de processos de mudança, dentre outros que existem. 020 REFERÊNCIAS BROWN, J. S. Research that reinvents the corporation (Xerox Paio Alto Research Center). Harvard Business Review, Boston, v. 69, n. 1, p. 102-111, jan./fev. 1991. CHIAVENATO, I. Administração: teoria, processo e prática. Rio de Janeiro: Elsevier/Campus, 2004. ______. Os novos paradigmas: como as mudanças estão mexendo com as empresas. 5. ed. rev. atual. Barueri: Manole, 2008. ______. Comportamento Organizacional: a dinâmica do sucesso das organizações. Barueri: Manole, 2014. FATOS marcantes da história das Havaianas. UOL Economia, São Paulo, 29 jun. 2012. Disponível em: <https://economia.uol.com.br/album/2012/06/29/veja-fatos- marcantes-da-historia-da-havaianas.htm>. Acesso em: 11 jan. 2018. JONES, G. R. Teoria das Organizações. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. JOHNSON, G.; SCHOLES, K.; WHITTINGGTON, R. Fundamentos de Estratégia. 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