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AULA 5 GESTÃO DA MUDANÇA E TRANSFORMAÇÃO ORGANIZACIONAL Profª Maura Vello 02 CONVERSA INICIAL Vamos continuar desenvolvendo o estudo relacionado às mudanças e transformações organizacionais. Tratamos, na última aula, da importância da aprendizagem para as organizações em qualquer tempo, principalmente de sua inserção em tempos de mudanças. A grande questão é que, aparentemente, no ambiente complexo em que as empresas estão inseridas, a necessidade de adaptabilidade tem sido uma constante. O que se tem visto, então, é a incorporação, ao cotidiano das organizações, da necessidade de gerenciar mudanças no contexto de suas rotinas, pois elas acabam por administrar apenas algum processo de ajuste ou transformação seja de âmbito tecnológico, ou de políticas regulatórias e fiscais, de alinhamentos para acompanhar o mercado, de gestão, entre outros. Uma ação que tem ocorrido de forma repetida nas organizações é a gestão mais adequada das competências que podem vir a sustentar as necessidades de mudanças ou, pelo menos, deixar mais claras as lacunas e os gaps a serem preenchidos pelas empresas a partir da identificação das necessidades a serem atendidas para sua manutenção no mercado. Assim, tanto a gestão quanto o desenvolvimento de competências têm sido visto como indispensável dentro das organizações tanto nos níveis de gestão, para que seja possível planejar e conduzir mudanças, quanto nas áreas de suporte, para se possa executar as transformações necessárias no ambiente organizacional. Serão foco de estudo nesta aula os recursos, as capacidades e as competências necessárias ao desenvolvimento organizacional, como ocorre o desenvolvimento de competências nas empresas, quais são as categorias de competências organizacionais e sua importância nos processos de mudanças. Trataremos, ainda, da capacidade dinâmica de aproveitamento das competências individuais e organizacionais como fontes geradoras do capital intelectual. Planejamento é fundamental para que as mudanças ocorram, porém, tão importante quanto o planejamento é que os recursos e as pessoas certas e aptas estejam à disposição da organização para que as coisas aconteçam. Portanto, a preocupação com a disponibilidade das competências necessárias ao processo de implementação de mudanças é parte importante para garantir que os resultados esperados sejam alcançados. 03 CONTEXTUALIZANDO As competências são fruto de aprendizagem, seja individual ou organizacional. Assim, o caminho natural do desenvolvimento das competências necessárias às pessoas para que organizações atinjam seus objetivos está em criar ambientes e culturas de aprendizagem nas empresas, ou o que os autores costumam chamar de organizações que aprendem. Vamos pensar melhor sobre esse contexto e o processo que envolve o aprender das pessoas e o aprender organizacional. Ao final, isso levará às mudanças necessárias e aos objetivos. Se observarmos o dia a dia das empresas, o aprender está inserido em seu cotidiano de forma natural, e ocorre o tempo todo em diferentes níveis, por diversos meios. Por exemplo, nas relações entre colaboradores, em reuniões e trabalhos em equipe, na solução de problemas, por meio das trocas com os clientes, em suas demandas que vão surgindo, nas parcerias com fornecedores, que podem agregar valor e novas soluções integradas, ou ainda, em ajustes necessários para atender às regras e demandas de mercado. Para que esse processo ocorra, é preciso que as organizações estimulem ambientes sociais que instiguem as pessoas à aprendizagem em meio ao desenvolvimento de suas atividades, proporcionando o desenvolvimento de novas habilidades e competências, seja na aplicação direta de novas tecnologias ou formas de trabalho, seja na oferta por parte da empresa de treinamento e cursos para que as pessoas estejam aptas ao trabalho. Essa relação e disponibilidade entre pessoas e organizações que promoverá o desenvolvimento das competências individuais, que, juntas, confluirão para o desenvolvimento das competências e dos diferenciais na organização. No mercado, são as somas das tais competências organizacionais que diferenciam as empresas e as colocam em vantagem. Um exemplo prático disso é o resultado de produtos e serviços únicos que não podem ser replicados, ou seja, são reconhecidos pelo mercado como únicos. Certamente você consegue elencar uma lista de marcas que podem ser consideradas únicas, as quais, mesmo que existam produtos similares, possuem um DNA inigualável e ainda assim são referência de mercado para alguns clientes. Concorda? Vamos a alguns exemplos clássicos do mercado e que lideram o ranking das marcas mais valiosas do mundo. Apple – Referência em celulares e computadores e seus aplicativos. 04 Microsoft – Referência em sistemas e serviços de computação. Coca-Cola – Referência na área de refrigerantes e bebidas. Saiba mais Leia o artigo “Conheça as 10 marcas mais valiosas do mundo”. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/economia/conheca-as-10-marcas-mais-valiosas- do-mundo-16273412>. TEMA 1 – RECURSOS, CAPACIDADES E COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS AO DESENVOLVIMENTO E TRANSFORMAÇÃO ORGANIZACIONAL Antes de abordarmos os conceitos de competências diretamente e seu desenvolvimento, seja no nível individual ou organizacional, vamos falar um pouco sobre os recursos necessários e como esse processo se iniciou nas organizações. O desempenho superior que se traduz em vantagem competitiva das organizações pode ser explicado pelo uso distinto de suas capacidades de forma adequada. Essas capacidades estão atreladas ao uso estratégico de recursos e competências. Veja que nos casos que tratamos acima de empresas que detêm marcas únicas e referências no seu segmento, a combinação e o bom uso de recursos, capacidades e competências à disposição daquelas organizações as colocam em posição de destaque no mercado. Quanto aos recursos, Johnson, Scholes e Whittinggton (2011, p. 83) ajudam no seu entendimento comentando que “os recursos tangíveis são os bens físicos de uma organização, como máquinas, pessoal e finanças. Os recursos intangíveis são os bens não físicos como informação, reputação e conhecimento”. Nessa linha, seguimos agora falando um pouco sobre a definição do que seriam as capacidades básicas. Para Johnson, Scholes e Whittinggton (2011, p. 84), são “aquelas essenciais a uma organização para atender às exigências para competir em determinado mercado”. Em seguida, os autores passam a trazer o conceito das competências, que “são as capacidades e habilidades por meio das quais os recursos são disponibilizados de forma eficaz por meio das atividades e dos processos de uma organização”. Todo o processo a partir do direcionamento dado pela organização, de como ela disponibiliza e emprega de modo eficaz seus recursos, direciona e utiliza 05 as capacidades à sua disposição, se bem aplicado, deverá gerar novas competências. Assim, combinando todos esses fatores, temos no quadro a seguir a geração de capacidades estratégicas e vantagens competitivas organizacionais, que resultarão no desenvolvimento de competências as quais permitirão que as empresas sobrevivam, prosperem, diferenciem-se umas das outras, dando a elas identidade única e promovendo seu reconhecimento no mercado. Quadro 1 – Recursos, capacidades e competências Fonte: Adaptado de Johnson; Scholes; Whittinggton, 2011, p. 83. Temos então, as seguintes definições quanto aos fatores relacionados no Quadro 1 pelos autores. Recursos iniciais: os recursos necessários ao atendimento das condições mínimas da sobrevivência empresarial no mercado. Competências iniciais: atividades e processos mínimos para a manutenção da empresa. Recursos exclusivos: recursos que sustentarãoa vantagem competitiva e darão identidade única à empresa, e que sejam difíceis de serem copiados pelo mercado. Competências essenciais: atividades únicas que são difíceis de serem reproduzidas e que dão sustentação à vantagem competitiva e à identidade única da marca e da empresa. Takahashi (2015, p. 16) também traz os conceitos iniciais de competência nas organizações, comentando que: Em 1959, Edith Penrose escreveu o livro The Theory of the Grouth of the Firm (Teoria do crescimento da firma) explicando como as organizações crescem. Nessa obra, ela concebe a empresa com um conjunto de 06 recursos produtivos cuja disposição entre os diferentes usos ao longo do tempo é determinada pela decisão administrativa (Takahashi, 2015, p. 16). Com esse conceito, Edith Penrose dá início ao que hoje conhecemos como o estudo da visão baseada em recursos (VBR), embora Takahashi (2015) comente que a autora não tenha usado na época essa nomenclatura, que surgiu somente mais tarde nos estudos de Wernerfelt, em 1984, e depois também nos estudos de outros autores. Takahashi (2015, p. 17) comenta que “de acordo a abordagem dos recursos, uma organização apresenta um conjunto de recursos tangíveis e intangíveis”. Desse modo, a VBR vem da capacidade de combinar esses recursos e, a partir de tais combinações, é que são construídas as competências que darão sustentação e manutenção à organização no mercado. Há outras contribuições de autores na leitura de Takahashi (2015, p. 19) que classificam os recursos organizacionais de forma ainda mais ampla, como podemos observar no quadro a seguir. Quadro 2 – Categorias apropriadas para identificação de recursos Fonte: Mills et al., 2002, p. 20-21, citado por Takahashi, 2015, p. 19. 07 É importante observar como se ampliam as leituras relacionadas aos recursos e capacidades, bem como os elementos que envolvem o desenvolvimento das competências organizacionais. Nessas últimas leituras conceituais, além dos processos de manutenção das empresas no mercado, já se fala desses fatores como processos-chave nos contextos de mudança. TEMA 2 – COMO ACONTECE O DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS ORGANIZACIONAIS Embora autores tratem o desenvolvimento das competências organizacionais como o conjunto de fatores ou elementos que, agregados, devem promover a diferenciação da organização no mercado, é importante lembrar que esse processo todo ocorre a partir dos esforços e do desenvolvimento das habilidades e competências individuais de seus colaboradores. A soma e o acúmulo dos conhecimentos e aprendizados deles se refletirão na construção das distintas e essenciais competências organizacionais. Dutra (2001, citado por Leitão, 2010, p. 250) comenta que “as competências organizacionais são concretizadas pelas pessoas e devem ser a base para o desenvolvimento das competências individuais”. Ou seja, o desenvolvimento das competências organizacionais se apoia nas capacidades de seus colaboradores em contribuir com novas competências individuais por meio do desenvolvimento de suas habilidades e conhecimentos, que, por sua vez, sustentarão as vantagens competitivas da empresa e sua manutenção no mercado. Outra contribuição trazida por Leitão (2010) trata da questão do desenvolvimento das competências coletivas, que teriam o papel de fazer a integração ou a ponte entre as competências individuais e organizacionais, conectar esses processos. Vejamos o que a autora fala sobre os conceitos trazidos por Bonotto e Bitencourt (2006): As autoras definem competências coletivas como capacidade de um grupo de pessoas de atingir um objetivo comum, tendo como base uma visão compartilhada construída a partir da qualidade dos processos de interação entre essas pessoas, do contexto e do sentido que essas pessoas conferem ao grupo e às suas atividades” (Bonotto; Bitencourt, 2006, p. 12, citado por Leitão, 2010, p. 251). A ideia aqui de fato é promover o desenvolvimento das atividades de um grupo com foco no atingimento dos objetivos organizacionais. 08 Sanches et al. (1996, citado por Takahashi, 2015, p. 22) também contribuem nesse sentido quando citam que conceituam competência como sendo “a habilidade de manter o emprego coordenado de ativos, de forma que se auxilie a empresa a atingir seus objetivos”. Assim, a coordenação inclusive das competências individuais ou em grupos na direção do atingimento dos objetivos ou metas organizacionais segue no sentido da construção e no desenvolvimento das competências organizacionais. Vejamos a seguir a representação de uma competência segundo Mills et al. (2002, p. 14, citado por Takahashi, 2015, p. 22): Figura 1 – Representação de uma competência Fonte: Mills et al., 2002, p. 14, citado por Takahashi, 2015, p. 22. Segundo os autores, na Figura 1 os círculos representam os recursos necessários para o desenvolvimento de uma atividade, e o triângulo, os limites para seu desenvolvimento, impostos pelas competências e conhecimentos disponíveis para que a organização chegue aos seus objetivos. Assim, essa delimitação se modifica à medida que as competências são desenvolvidas ou que mudanças organizacionais surgem e pressionam a organização na direção da transformação. Ou seja, o desenvolvimento das competências organizacionais e de seus colaboradores se modificará à medida que as novas necessidades forem surgindo. A partir de pressões sofridas por motivos diversos, as mudanças ocorreram e os recursos e atividades se modificaram para apoiar todo o contexto de mudança à medida que essas necessidades surgirem. Esse é um processo contínuo dentro das organizações e tende a se tornar cada vez mais dinâmico. 09 TEMA 3 – CATEGORIAS DE COMPETÊNCIAS ORGANIZACIONAIS E SUA IMPORTÂNCIA NOS PROCESSOS DE MUDANÇAS Observando os aspectos relacionados à mudança organizacional, quando as organizações são pressionadas a fazê-las, seja por questões internas, como obsolescência tecnológica, ou ainda, por questões mercadológicas, elas geralmente tendem a buscar primeiro as mudanças estruturais e, em geral, buscam adaptar as necessidades por novas competências quando as mudanças estão em andamento. Ruas (2001, citado por Leitão, 2010, p. 252) contribui com a seguinte reflexão sobre o tema: Identifica-se empiricamente a existência de uma tendência de enfraquecimento das mudanças implementadas, explicada pela dificuldade das organizações em estabelecer processos de aprendizagem em relação às mudanças que levem ao desenvolvimento de competências necessárias para a prática do que é novo. O autor critica o tratamento usualmente adotado em relação ao desenvolvimento de competências, que tem sido posicionado como o último passo nos processos de mudança. (Ruas, 2001, citado por Leitão, 2010, p. 252) Outra falha apontada pelos autores se refere à aplicação, pelas organizações, de programas que acreditam dar formação e treinamento aos seus colaboradores. Esses programas acabam sim por ter o fim de formação, mas não promovem o desenvolvimento prático e de aplicação propriamente dito das competências necessárias para o enfrentamento das mudanças promovidas, gerando uma série de problemas a serem administrados posteriormente, entre os recursos ministrados e entregues nos programas de formação e treinamento e as necessidades de aplicação efetiva desses recursos em competências pós- mudanças implementadas, gerando necessidades de retrabalho. Existem várias frentes teóricas relacionadas às categorias de competências organizacionais. Vamos trabalhar aqui com a teoria desenvolvida por Mills et al. (2002), que pode ser melhor vista no quadro a seguir, com a descrição de cada uma dessas categorias definidas pelos autores. 010 Quadro 3 – Categorias de competência Categorias de competência Descrição Competências essenciais Competências e atividades maiselevadas, no nível corporativo, que são chave para a sobrevivência da empresa e centrais para a estratégia. Competências distintivas Competências e atividades que os clientes reconhecem como diferenciadores de seus concorrentes e que proveem vantagens competitivas. Competências organizacionais ou das unidades de negócios Competências e atividades chave esperadas de cada unidade de negócios da empresa, geralmente em pequeno número, de três a seis. Competências de suporte Atividade valiosa para apoiar um leque de outras atividades. Capacidades ou capacitações dinâmicas Capacidade da empresa em adptar suas competências com o tempo. É diretamente relacionada aos recursos importantes para mudança. Fonte: Mills et al., 2002, p. 13. Se observarmos o Quadro 3, é possível se chegar à conclusão de que os autores dividiram as competências organizacionais de forma que se diferenciem entre o que é estratégico para a sobrevivência da organização: o que as diferencia no mercado considerando uma competência que promove vantagem competitiva; algumas competências muito próprias e culturais de unidades; competências tecnológicas e apoio fundamentais ao funcionamento da organização como um todo; e o maior diferencial do modelo, que talvez seja o de competência de adaptação e dinamismo, que estão diretamente relacionados à capacidade de atender a demandas e necessidades de mudanças organizacionais. Assim como é fundamental o desenvolvimento de formas que categorizem as competências e sua dinâmica dentro das organizações, também é importante ter em mente que elas precisam estar em constante processo de monitoramento, pois se modificam o tempo por meio da aprendizagem contínua que ocorre dentro das empresas, bem como por meio do desenvolvimento das habilidades dos seus colaboradores, seja de forma natural, no contexto do dia a dia, ou ainda, de forma compulsória ou provocada pela empresa por motivos de necessidade de aprimoramento das competências individuais e organizacionais. 011 TEMA 4 – CAPACIDADE DINÂMICA DE APROVEITAMENTO DAS COMPETÊNCIAS NAS ORGANIZAÇÕES Agora, vamos refletir sobre como as organizações devem administrar o desenvolvimento, o aproveitamento e a gestão do conhecimento gerado internamente por meio das competências desenvolvidas. O contexto ambiental propõe e as pressiona na direção de um cenário em que a mudança passa a fazer parte do cotidiano empresarial constantemente. Bitencourt (2004, p. 138, citado por Leitão, 2010, p. 253) destaca que o indivíduo aprende a aprender pela experiência ao ser levado pela “importância da aprendizagem no desenvolvimento de competências a partir de um processo dinâmico entre ação e reflexão diante de situações desconhecidas”. A afirmação nos leva à reflexão de que a própria pressão por mudanças contínuas nas organizações promove um processo também contínuo de aprendizado e acúmulo de novas habilidades e competências, o que leva a uma constante mudança de status relacionada ao somatório de novas competências adquiridas ao longo do tempo. Entretanto, também há uma identificação constante por parte da organização de novas necessidades de aprendizagem ou de adaptações e mudanças, que promoverão e pressionarão a organização como um todo em busca de novas competências, tornando esse ciclo interminável, que resultará na construção de inteligência corporativa. Ruas (2001, citado por Leitão, 2010, p. 253) cita muito bem nesse contexto que: O sucesso dos processos de mudanças está na capacidade da organização de internalizar as novas práticas e de “construir uma estratégia de gestão adaptada” à mudança. Organizações em que o processo de mudança atingiu um determinado nível de aprofundamento passaram pelo desenvolvimento de “novas formas de pensar e atuar no nível gerencial e relacional. (Ruas, 2001, p. 243, citado por Leitão, p. 253). Ou seja, se observarmos, as pressões para a mudança e transição para novos modelos, novos aprendizados, acúmulo de novos conhecimentos e formação de novas competências podem vir de muitas direções. Takahashi (2015, p. 28) afirma que, quando as organizações desenvolvem suas estratégias de longo prazo, pode ser necessário promover mudanças significativas nas suas competências para que acompanhem as necessidades futuras da organização. Nesse contexto, a autora cita Sanchez, Hene e Thomas 012 (1996), que estudaram e desenvolveram os conceitos de manutenção, construção e alavancagem de competências. Vejamos no Quadro 4 a seguir. Quadro 4 – Conceitos de manutenção, construção e alavancagem de competências Fonte: Sanchez; Hene; Thomas, 1996, citado por Takahashi, 2015, p. 28. Diante de tanta complexidade, é preciso também administrar tais processos, fazer a gestão de tudo isso e promover o aproveitamento e adequado direcionamento, dando estratégia e inteligência ao uso de tais competências. Assim, a proposta dos autores é que haja coerência na administração das competências, para que elas atendam às diferentes necessidades da organização ao longo do tempo. Por isso, precisam ser bem gerenciadas. 013 TEMA 5 – COMPETÊNCIAS INDIVIDUAIS E ORGANIZACIONAIS: FONTES GERADORAS DO CAPITAL INTELECTUAL Vamos ver agora como as competências acumuladas geram o processo de construção intelectual dentro das organizações. Não basta acontecer o acúmulo de conhecimento e competências dentro das empresas; elas precisam ser direcionadas e bem aplicadas, para que promovam a eficiência corporativa. O melhor caminho a ser adotado é por meio da convergência entre competências individuais, coletivas e organizacionais, de forma que estejam alinhadas com o planejamento estratégico de curto, médio e longo prazo das empresas. Assim é possível se ter uma visão mais sistêmica e saber de forma antecipada quais as competências à disposição, quais as que precisam ser aprimoradas e ainda aquelas que precisam ser adquiridas ao longo do tempo. A partir de tal leitura ampliada e do mapeamento de todo esse conhecimento gerado, é possível se iniciar um processo de construção de capital intelectual dentro da organização. É a inteligência estratégica a serviço da empresa. Vamos ver agora como ocorre o desenvolvimento de competências individuais, “a tríade conhecimento, habilidades e atitudes (CHA), conjunto de atributos do indivíduo”. Figura 2 – As três dimensões da competência Fonte: Adaptado de Brandão; Guimarães, 2001, p. 10. Considerados os pilares da competência, temos, então: 014 Conhecimento: representado pelo saber teórico, a informação adquirida por meio de estudo, leitura, cursos, conhecimento e conceitos adquiridos por vários meios. Habilidades: representado pelo saber fazer, pela prática adquirida a partir do conhecimento acumulado ou o aprimoramento de habilidades desenvolvidas a partir da experiência com o tempo. Atitudes: é a decisão e a escolha do indivíduo de aprender, de querer fazer, de se desenvolver e se tornar melhor a cada dia e a vontade de mudar. O desenvolvimento das competências organizacionais ocorre a partir do processo de desenvolvimento das competências individuais e em grupo, e esse processo se retroalimenta, pois, como já comentado, são vários os processos internos e externos que pressionam organizações e pessoas na direção do aprimoramento. Assim, conforme comenta Takahashi (2015, p. 44), “tanto competências individuais como organizacionais são relevantes para as organizações”. Figura 3 – Estratégia, competências organizacionais e individuais Fonte: Adaptado de Fleury; Fleury, 2004, p. 30, citado por Takahashi, 2015, p. 45. A autora ainda complementa que, ao pensarmos em uma organização de forma sistêmica, veremos a interação e a retroalimentação ocorrer entre as competências individuais e organizacionais e a importância delas para que a estratégia empresarialseja implementada. 015 Para finalizar o entendimento desse processo de aprendizado e acúmulo de conhecimento por meio do desenvolvimento de competências, vamos falar um pouco do capital intelectual gerado a partir de todos esses desdobramentos. Chiavenato (2014, p. 401) traz o seguinte conceito a respeito do capital intelectual: “para poderem incrementar o seu capital intelectual, as organizações estão se transformando em verdadeiras organizações do conhecimento e de aprendizado”. O autor complementa ainda que a motivação é transformar e converter informação em conhecimento, e, este, em competências que poderão ser usadas nos processos de inovação em produtos, serviços, processos e ganhos para todos os clientes internos e externos das organizações. FINALIZANDO Para fechar mais esta aula, vamos apenas relembrar alguns dos conceitos que vimos aqui. Começamos essa conversa tratando de alguns conceitos básicos acerca de recursos, capacidades e competências essenciais ao desenvolvimento e transformação organizacional, um conjunto de fatores sem os quais as coisas não ocorrem dentro de uma empresa, ou ainda, a sustentação dela no mercado pode se ver prejudicada. Passamos, então, ao aprofundamento de alguns conceitos de competência e de como elas são desenvolvidas, para observarmos um dos muitos modelos que categorizam os tipos de competências organizacionais. Mais ao final desta aula, tratamos das capacidades dinâmicas do aproveitamento das competências nas organizações e do processo de se gerar capital intelectual a partir da gestão do conhecimento gerado com base no desenvolvimento dessas competências individuais e corporativas. Assim, como comentado no início desta aula, para as organizações, o que as diferenciará no mercado será o emprego e o bom uso das capacidades e competências à sua disposição e que as tornarão únicas e em vantagem sobre seus concorrentes. Esse valor agregado e percebido em produtos e serviços não pode ser replicado, ou seja, é reconhecido pelos seus clientes e pelo mercado, criando identidade organizacional e de marca. 016 REFERÊNCIAS BRANDÃO, H. P.; GUIMARÃES, T. A. Gestão de competências e gestão de desempenho: tecnologias distintas ou instrumentos de um mesmo constructo? Revista de Administração de Empresas, v. 41, n. 1, p. 8-15, 2001. CHIAVENATO, I. Comportamento organizacional: a dinâmica do sucesso das organizações. 3. ed. Barueri, São Paulo: Manole, 2014. JOHNSON, G., SCHOLES, K., WHITTINGGTON, R. Fundamentos de estratégia. Porto Alegre: Bookman, 2011. LEITÃO, S. S. A importância do desenvolvimento de competências para a mudança organizacional. Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 7, p. 245- 268, jan./jun. 2010. MILLS, J. et al. Competing through competences. Cambridge: Cambridge University Press, 2002. TAKAHASHI, A. R. W. Competências, aprendizagem organizacional e gestão do conhecimento. Curitiba: InterSaberes,2015.
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