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MELHORIA FÍSICO-HÍDRICA DO AMBIENTE RADICULAR DO CAFEEIRO EM CONDIÇÕES DE SEQUEIRO E IMPLICAÇÕES NO USO DA ÁGUA Geraldo César de Oliveira(1), Bruno Montoani Silva(1), Carla Eloize Carducci(2), Sérgio Henrique Godinho Silva(1), Milson Evaldo Serafim(3), Samara Martins Barbosa(1), Érika Andressa da Silva(1), Laura Beatriz Batista de Melo(1), Pedro Antônio Namorato Benevenute(4) Introdução.................................................................................................................................................... 1 Solos utilizados na cafeicultura brasileira ............................................................................................... 3 Características, potencialidades e limitações dos principais solos na cafeicultura ................................. 6 Latossolos ............................................................................................................................................... 8 Argissolos .............................................................................................................................................. 12 Cambissolos .......................................................................................................................................... 14 Visão e sugestões de manejo do solo na cafeicultura de sequeiro ...................................................... 15 Preparo e condicionamento do solo com foco no manejo sustentável ................................................. 18 Outras práticas de manejo do solo na cafeicultura ............................................................................... 24 Efeito do manejo conservacionista na retenção e na disponibilidade de água ..................................... 27 Retenção de água ............................................................................................................................ 27 Distribuição de poros por tamanho ....................................................................................................... 29 Capacidade dos solos em disponibilizar água (CAD) ........................................................................... 32 Intervalo hídrico ótimo ........................................................................................................................... 33 Monitoramento de água no solo ............................................................................................................ 34 Enraizamento, crescimento e produtividade em resposta ao manejo do solo ...................................... 42 Diagnóstico, predição e mitigação da compactação do solo em áreas de cafeicultura ........................ 52 Considerações finais ................................................................................................................................. 60 Literatura citada ......................................................................................................................................... 60 INTRODUÇÃO O café, segunda maior commodity de exportação do mundo (FAO, 2014), tem o Brasil como líder do mercado desde 1850 (Bacha, 1992; ICO, 2018). O estado de Minas Gerais se destaca com 54 % da produção nacional, seguido (1) Universidade Federal de Lavras – UFLA, Departamento de Ciência do Solo, Lavras, MG. E-mails: geraldooliveira@ufla.br; montoani@gmail.com; sergio.silva@ufla.br; samarambar2014@gmail.com; andressaerikasilva@gmail.com; lauramelo26@hotmail.com (2) Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD, Faculdade de Ciências Agrárias, Dourados, MS. E-mail: elocarducci@gmail.com (3) Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso – IFMT, Cáceres, MT. E-mail: milson.serafim@cas.ifmt.edu.br (4) Universidade Federal de Lavras – UFLA, Programa de Pós-graduação em Ciência do Solo, Lavras, MG. E-mail: benevenutepedro@gmail.com do Espírito Santo, com 20 %, de São Paulo, com 10 %, da Bahia, com 8 %, de Rondônia, com 4 %, do Paraná, com 3 %, e dos demais estados, com 2 % (Conab, 2018). A cafeicultura foi instalada no Brasil no século XVIII no Vale do Paraíba (fluminense e paulista), na Zona da Mata mineira e no sul do Espírito Santo, de forma itinerante e predatória aos recursos naturais, o que levou à forte degradação dos solos e à decadência da produção. No início do século XX, a cultura foi deslocada para o oeste de São Paulo e o norte do Paraná (Frederico, 2017), o que trouxe grande impacto positivo para a cafeicultura nacional. No entanto, em função de problemas climáticos e do aparecimento de outras culturas mais lucrativas, essas duas regiões perderam importância. Então foi a vez de a cafeicultura se destacar no sul de Minas Gerais, graças à geração e à difusão de novas tecnologias técnico-científicas na atividade cafeeira, ocupando também áreas do Cerrado mineiro e do norte do Espírito Santo, transformando-as nos principais polos produtores do país. Nas últimas quatro décadas, essa cultura vem sendo instalada nos estados da Bahia e de Rondônia, que também já apresentam importância para a produção brasileira. Solos adequados para a cafeicultura devem ter em torno de 50 % de porosidade (2/3 de microporos e 1/3 de macroporos), entre 20 e 50 % de argila, estrutura granular ou grumosa, ser bem drenados, sem adensamento e com profundidade efetiva mínima de 1,20 m (Rena et al., 1986; Mesquita et al., 2016). Contudo, o cafeeiro tem se adaptado às mais diferentes condições de solos. Quanto ao pedoclima, em algumas regiões produtoras, como norte do Espírito Santo, sul e oeste da Bahia, em Rondônia e parte do Cerrado mineiro, o problema de seca edafológica é limitante, sendo indispensável o uso da irrigação complementar, enquanto, nas regiões produtoras mais antigas, o cultivo ainda é realizado em condições de sequeiro. A cafeicultura de sequeiro tem acumulado prejuízos advindos, principalmente, de períodos de estiagem e má distribuição de chuvas em anos consecutivos (Conab, 2018; Inmet, 2018). Como as fontes de água são escassas nas principais regiões produtoras do país (ANA, 2017) e levando em conta o custo financeiro necessário, a irrigação não é uma alternativa possível para a maioria dos cafeicultores. A saída para viabilizar a cafeicultura de sequeiro é o emprego de técnicas agronômicas que possibilitem aumentar a eficiência do uso da água pelas lavouras, por meio do aumento da capacidade de infiltração e de armazenamento da água no solo, da redução das perdas por evaporação, da erosão, da percolação e do condicionamento físico e químico do solo para criar condições para o aprofundamento do sistema radicular do cafeeiro no perfil de solo. Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Geraldo César de Oliveira et al.2 Melhoria físico-hídrica do ambiente radicular do cafeeiro em condições de... Solos utilizados na cafeicultura brasileira O solo é um recurso natural de fundamental importância para atividades agrícolas e silviculturais e é intimamente relacionado, direta ou indiretamente, à produção de alimentos e de outros produtos, como madeira, celulose, fibras, essências etc. Entre as produções agrícolas, a cafeicultura é uma das mais tradicionais do país, cujos primeiros plantios se iniciaram na primeira metade do século XVIII, na Província do Pará, hoje correspondente a alguns estados das regiões Nordeste e Norte. A partir daí a espécie foi levada para todas as regiões do país, estando presente em 15 estados (Acre, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rondônia e São Paulo), além do Distrito Federal, abrangendo quatro biomas: Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga e Amazônia (Figura 1). Em 2016, 1.466 municípios produziram café (Figura 2), cuja produção total no país foi de 3.019.051 Mg de grãos, com área colhida total de 1.994.761 ha (IBGE, 2016). Essa grande presença das lavouras cafeeiras em várias regiões do país se deve a avanços em diversas áreas do conhecimento,das quais se destaca a Ciência do Solo. Nesse contexto, os solos como recurso natural merecem atenção especial, uma vez que são um dos bens mais valiosos para o cafeicultor, e as suas condições influenciam diretamente o desenvolvimento das plantas e, consequentemente, a produtividade da lavoura. A cultura do café, por estar presente em diversos estados do Brasil, convive com condições climáticas variadas, incluindo locais com temperaturas e precipitações médias anuais de elevadas a baixas, regiões com estações secas e chuvosas bem definidas e algumas com recorrentes veranicos. Essa ampla distribuição geográfica da cafeicultura no país também faz com que a atividade ocupe solos de diferentes classes, cujos atributos físicos, químicos, mineralógicos e microbiológicos são distintos, exercendo grande influência no desenvolvimento das plantas (Resende et al., 2014). Essa diversidade de ambientes explorados com a cafeicultura, particularmente para os solos, gera uma demanda por conhecimento detalhado das classes e dos atributos de solos que são mais comumente utilizados para essa cultura, pois, enquanto suas potencialidades edáficas podem levar a aumentos da produtividade, suas limitações levam a riscos de desequilíbrio financeiro, social e ambiental. O caminho de sustentabilidade da cafeicultura em cada ambiente tem sido encontrado com a adoção de sistemas de manejo conservacionistas do solo, ajustados para atender às demandas do cafeeiro, assegurando seu bom desenvolvimento e sua produtividade com conservação ambiental (Serafim et al., 2013a). 3 Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Figura 1. Municípios que apresentam cultivos de cafeeiro no Brasil, segundo dados do IBGE (2016). A distribuição da cafeicultura nos diferentes ambientes do Brasil (Figura 3) indica a ocupação de solos com potenciais de produção variados, nos diferentes biomas e regiões do país, alguns com limitações severas e de difícil correção ou mesmo inaptos, como Gleissolos e Organossolos, que aparecem nas regiões de cultivo. No Quadro 1, são apresentadas as classes de solo em cada bioma e estado brasileiro, em ordem decrescente de área ocupada em municípios produtores de café. Esses dados foram obtidos a Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Geraldo César de Oliveira et al.4 Melhoria físico-hídrica do ambiente radicular do cafeeiro em condições de... Figura 2. Número de municípios produtores de café por estado brasileiro. Fonte: IBGE (2016). partir do cruzamento das informações do Mapa de Solos do Brasil (IBGE, 2001) e dos limites dos municípios produtores de café em 2016, uma vez que não foi possível obter um mapa que representasse todas as lavouras cafeeiras do país. Além disso, cabe ressaltar que o mapa de solos em questão, embora apresente escala com menor nível de detalhe (1:5.000.000), é o único dessa magnitude para todo o território nacional atualmente (há somente mapas mais detalhados para áreas específicas, mas não para todo o território brasileiro). De qualquer forma, os autores acreditam que a análise elaborada deste capítulo contribua com o fornecimento de informações correspondentes às classes de solos dominantes nas lavouras cafeeiras do país, permitindo discussões sobre seus potenciais e suas limitações para essa cultura. Os autores também apoiam a realização de trabalhos futuros que detalhem esses dados aqui apresentados. Os principais estados brasileiros em termos de área cultivada com café, segundo relatório da safra 2018 divulgado pela Conab (2018), são: Minas Gerais (1.219.812,8 ha), Espírito Santo (427.650,0 ha), São Paulo (213.942,0 ha) e Bahia (137.868,0 ha). Quanto aos biomas, a Mata Atlântica concentra o maior número de municípios que produzem café, seguida pelo Cerrado, pela Amazônia e pela Caatinga. Nesse sentido e analisando o Quadro 1 e a Figura 3, percebe-se que, nesses principais estados produtores e nos dois biomas, as classes Latossolo e Argissolo apresentam-se nas duas primeiras posições, simultaneamente ou em separado, ou seja, são as classes 5 Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 de solos mais utilizadas na cafeicultura. Para os outros estados, a mesma tendência é seguida, com exceção do Acre, do Ceará e de Pernambuco, que apresentam classes de solos dominantes na cafeicultura com menor grau de intemperismo, seja por efeito de material de origem, seja por limitações climáticas. Maiores detalhes sobre esses solos serão apresentados a seguir. Características, potencialidades e limitações dos principais solos na cafeicultura A expansão da cafeicultura brasileira foi assentada sobre os ambientes de condições edafoclimáticas mais favoráveis à cultura, porém, atualmente, Figura 3. Porcentagem relativa à área ocupada em cada classe de solo nos municípios produtores de café no Brasil por bioma (A) e por região do país (B). Fonte: Adaptada de IBGE (2001). Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Geraldo César de Oliveira et al.6 Melhoria físico-hídrica do ambiente radicular do cafeeiro em condições de... Quadro 1. Principais solos (em ordem decrescente de importância) em áreas de cafeicultura por bioma e estado brasileiro. Bioma/Estado Solos principais Amazônia Argissolos, Latossolos, Neossolos, Luvissolos, Plintossolos, Cambissolos, Gleissolos, Planossolos, Nitossolos, Espodossolos, Chernossolos, Organossolos Caatinga Latossolos, Argissolos, Plintossolos, Cambissolos, Neossolos Luvissolos Cerrado Latossolos, Argissolos, Cambissolos, Nitossolos, Neossolos Plintossolos, Gleissolos, Planossolos, Chernossolos, Organossolos, Mata Atlântica Latossolos, Argissolos, Nitossolos, Cambissolos, Neossolos, Luvissolos, Chernossolos, Gleissolos, Planossolos, Espodossolos, Organossolos AC Luvissolos, Cambissolos, Argissolos, Gleissolos, Latossolos AM Latossolos, Argissolos, Luvissolos, Plintossolos, Gleissolos, Neossolos, Cambissolos, Espodossolos BA Latossolos, Neossolos, Argissolos, Luvissolos, Nitossolos, Cambissolos, Gleissolos, Planossolos, Chernossolos, Espodossolos CE Plintossolos, Neossolos, Latossolos, Luvissolos, Argissolos, Planossolos DF Latossolos, Cambissolos, Plintossolos ES Latossolos, Argissolos, Nitossolos, Cambissolos, Neossolos, Gleissolos GO Latossolos, Neossolos, Cambissolos, Argissolos, Plintossolos, Nitossolos MT Argissolos, Latossolos, Neossolos, Plintossolos, Gleissolso, Chernossolos, Cambissolos, Nitossolos MS Latossolos, Argissolos, Neossolos, Planossolos, Organossolos, Nitossolos MG Latossolos, Argissolos, Cambissolos, Nitossolos, Neossolos, Gleissolos, Plintossolos PA Argissolos, Latossolos, Neossolos, Gleissolso, Plintossolos, Luvissolos, Nitossolos PR Nitossolos, Argissolos, Latossolos, Neossolos, Cambissolos, Organossolos PE Neossolos, Planossolos, Latossolos, Argissolos, Luvissolos, Cambissolos RJ Argissolo, Latossolo, Cambissolos, Gleissolos, Neossolos, Espodossolos RO Argissolos, Latossolos, Neossolos, Plintossolos, Cambissolos, Gleissolos, Nitossolos, Luvissolos, Espodossolos SP Argissolos, Latossolos, Nitossolos, Neossolso, Cambissolos, Espodossolos, Gleissolos, Organossolos Fonte: Adaptado de IBGE (2001). 7 Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 a concorrência do uso da terra com outras atividades agrícolas obriga os cafeicultores a implantar as suas lavouras em áreas de menor aptidão natural, dependendo de correção das limitações para viabilizar o cultivo. Nesse cenário, os principais solos ocupados com a cafeicultura são os Latossolos, os Argissolos e os Cambissolos. Por essas razões, será dado maior destaque às características, às potencialidades e às limitações desses solos. Latossolos Com recobrimento de 31,61 % do território nacional, os Latossolos representam a classe de solo com maior expressão geográfica (Santos et al., 2006) e maior potencial produtivo. Na maioria dos casos, Latossolos são solos profundos, com baixos teores de silte e maiores teores de areia ou argila (classe textural franco-arenosa ou mais fina), dependentes do material de origem. Ademais,são bem a acentuadamente drenados, o que favorece a aeração para as plantas, e tendem a ocorrer em relevo plano e suave ondulado, principalmente no Cerrado, facilitando a mecanização, além de outros vários atributos físicos favoráveis ao desenvolvimento das culturas, variáveis de acordo com os biomas em que se inserem. O relevo favorável à mecanização dos Latossolos faz dessa classe a mais procurada pelos cafeicultores com maior capacidade de investimento, que se utilizam de máquinas e de equipamentos em todas as fases da cultura. Vale ressaltar que, mesmo entre os Latossolos, há uma grande variabilidade de atributos e condições de relevo em que eles ocorrem (Ferreira et al., 1999a; Ker et al., 2017), dependente dos biomas em que se localizam. Quimicamente, por serem solos com longo tempo sob ação do intemperismo-lixiviação, têm mineralogia mais caulinítica e oxídica, são ácidos e possuem baixa capacidade de troca de cátions (CTC), conferindo baixa fertilidade natural, o que limita sobremaneira a sua utilização na cafeicultura, por desencadear fortes desequilíbrios nutricionais nas lavouras. Quando essa limitação química também está presente em subsuperfície, limita-se o aprofundamento do sistema radicular, o que reduz o potencial produtivo das lavouras, especialmente no bioma Cerrado, em que a seca é mais pronunciada e o uso da água de subsuperfície é fundamental para garantir que a planta tenha condições adequadas para um bom florescimento no final do período seco e início do período chuvoso. As principais limitações químicas encontradas nos Latossolos para o cafeeiro possuem soluções viáveis, como a aplicação de corretivos e fertilizantes (Lopes e Guilherme, 2016) para corrigir a acidez e a pobreza Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Geraldo César de Oliveira et al.8 Melhoria físico-hídrica do ambiente radicular do cafeeiro em condições de... de bases trocáveis e neutralizar o alumínio trocável da camada superficial, bem como o aumento da eficiência dos fertilizantes em geral. É preciso lembrar que existem exceções a essa baixa fertilidade natural, pois ocorrem também Latossolos eutróficos (maior fertilidade), associados a locais com intemperismo limitado pela ação climática, como nas regiões mais secas ou frias, ou ainda desenvolvidos de rochas mais ricas, como basalto e tufito (Resende et al., 1988). Exemplos são os Latossolos originados de basalto, que historicamente conferiram o sucesso da cafeicultura na região de Ribeirão Preto e de Franca, no estado de São Paulo, e na região de São Sebastião do Paraíso e no Triângulo Mineiro, em Minas Gerais. Uma característica intrínseca aos solos tropicais muito intemperizados, como os Latossolos, é a ação dos óxidos de ferro e de alumínio, associados a moléculas orgânicas recalcitrantes (Zinn et al., 2007), como agentes cimentantes entre as partículas minerais, alterando o arranjamento dos seus constituintes (Ferreira et al.,1999a,b). Assim, quando argilosos, na região dos Cerrados, são dotados de elevada estabilidade de agregados e tendem a apresentar estrutura granular que condiciona alta friabilidade, elevada condutividade hidráulica saturada e porosidade (Vollant-Tuduri et al., 2005; Kämpf et al., 2012; Skorupa et al., 2016; Oliveira et al., 2017). Além disso, possuem elevado volume de poros grandes (> 145 µm), ou estruturais (interagregados), e de poros extremamente pequenos (< 2,9 µm), ou texturais, por serem formados entre as partículas minerais (intragregados), mas não apresentam significativo volume de poros intermediários, o que faz com que uma grande quantidade de água seja rapidamente drenada e outra permaneça retida no solo com energia muito alta, particularmente nos mais argilosos (Giarola et al., 2002; Oliveira et al., 2004; Dexter et al., 2008; Carducci et al., 2011; Severiano et al., 2011a,b; Carducci et al., 2013; Bayat e Zared, 2018). Quanto à água residual, retida em poros muito finos (retida com alta energia) nos Latossolos oxídicos, apesar de ser considerada indisponível às plantas (Klein e Libardi, 2002), ela pode ser relevante em solos mais argilosos (Carducci et al., 2011, 2013), e essa condição deveria ser mais bem estudada, uma vez que pode ser determinante para a regulação de processos bioquímicos e microbianos no solo (Moreira e Siqueira, 2006). Essa água ainda pode ter atuação como agente lubrificante entre agregados quando o solo é submetido a pressões externas durante as operações mecanizadas (Dias Júnior, 2000), e, nesse contexto, Severiano et al. (2013) alertam para necessidade de maiores cuidados com o tráfego nesses solos, mesmo em períodos do ano de menor intensidade pluvial, por causa da sua baixa capacidade de suporte de carga. 9 Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Os Latossolos de textura média-leve (classe textural franco-arenosa), comuns no norte de Minas Gerais, no Triângulo Mineiro e no Oeste Paulista, apresentam elevada permeabilidade e menor disponibilidade de água em relação aos Latossolos argilosos com estrutura em blocos, o que os tornam sensíveis à degradação sob manejo agrícola inadequado, pois provocam maior estresse hídrico às plantas nos períodos de estiagem e maior suscetibilidade à erosão nos períodos chuvosos. Os processos erosivos ocorrem com maior frequência nos Latossolos em declividades mais elevadas e, sobretudo, com o comprimento das rampas muito longo. Entretanto, independentemente da textura, que pode variar de franco-arenosa a muito argilosa (Ker, 1998; Severiano et al., 2013), os Latossolos apresentam, na maioria das vezes, baixa e média disponibilidade de água para as plantas (Carducci et al., 2011). O estado de São Paulo é um dos mais tradicionais no cultivo de cafeeiros, mas, atualmente, concentra o seu cultivo basicamente nas regiões da Média e Alta Mogiana e do Centro-Oeste Paulista. Segundo o mapa pedológico do estado de São Paulo (Oliveira et al., 1999), essas regiões são recobertas predominantemente por Latossolos Vermelhos e Vermelho-Amarelos de textura média desenvolvidos de arenitos do grupo Bauru (Brasil, 1960), localizados em posições com relevo variando de plano a ondulado (declividades de 0 a 20 %). No Cerrado, a cafeicultura se notabilizou em razão da alta tecnologia empregada, com a maioria das práticas sendo realizada de forma mecanizada, tornando-se preocupante a possibilidade de degradação da estrutura desses solos, particularmente pelo fato de nessa região haver um predomínio de Latossolos que são muito suscetíveis à compactação (Severiano et al., 2013). Na literatura, são apresentados casos de danos na estrutura desses solos por causa do tráfego intenso das operações da cafeicultura (Gontijo et al., 2011; Iori et al., 2013). No bioma Mata Atlântica, na região da Zona da Mata mineira, existem Latossolos Amarelos com textura argilosa, profundos e em relevo íngreme. Isso se deve à formação desses solos em condições pretéritas aplainadas, porém, desde então, vêm sofrendo com a erosão geológica, o que deixa o relevo mais íngreme (Ker, 1998). Apesar desse relevo, esses solos são mais resistentes à erosão em razão da presença de estrutura intermediária entre granular e blocos, permitindo uma adequada infiltração de água (Resende, 1985). Nesses locais, o relevo passa a ser fator limitante para uma cafeicultura mecanizada. Na região dos Tabuleiros Costeiros, que se estende pela costa brasileira, desde o Rio de Janeiro até o Amapá (Ker et al., 2017), são comuns os Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Geraldo César de Oliveira et al.10 Melhoria físico-hídrica do ambiente radicular do cafeeiro em condições de... Latossolos Amarelo coesos, muito utilizados na cafeicultura e em outras culturas perenes no estado do Espírito Santo. Por causa de sua estrutura em blocos e de sua coesão (duros, quando secos, e friáveis, quando úmidos) (Ker et al., 2017), possuem profundidade efetiva reduzida (de 0,30 a 0,70 m), prejudicando a dinâmica da água no perfil (Souza, 1996), o desenvolvimentoe o crescimento do sistema radicular, mesmo na condição de solo irrigado (Partelli et al., 2014; Covre et al., 2015; Silva, 2018). Essas condições demandam um manejo diferenciado desses solos, pois qualquer excesso de água pode condicionar redução da aeração, já que possuem um pequeno volume de macroporos (Paiva et al., 2000; Silva, 2018). Nesses solos, a subsolagem tem sido recomendada para amenizar os efeitos da coesão, melhorando a drenagem e criando caminhos preferenciais ao aprofundamento das raízes. Os três perfis de Latossolos apresentados na Figura 4 ilustram os contrastes de atributos nessa classe: Latossolo Vermelho, com elevada infiltração de água, do Cerrado mineiro, sob cafeicultura com manejo intensivo (Figura 4A); Latossolo de textura média, sob cafeicultura no sul de Minas Gerais, com adequada distribuição de raízes (Figura 4B); e Latossolo Amarelo coeso dos Tabuleiros Costeiros (Figura 4C). Figura 4. Latossolo Vermelho sob cultivo intensivo de café após a aplicação de gesso (A); Latossolo Vermelho de textura média sob cafeicultura sem impedimento ao desenvolvimento de raízes (B); Latossolo Amarelo coeso dos Tabuleiros Costeiros (C). Fotografia de Silva, S. 11 Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Argissolos Os Argissolos também são muito representativos no Brasil, ocupando 26,78 % do território nacional (Santos et al., 2006), muito utilizados na cafeicultura nacional (Figura 3 e Quadro 1), destacando-se como a classe de solos mais utilizada pela cafeicultura de montanha, a exemplo do sul de Minas Gerais e a região serrana do Espírito Santo. Em Minas Gerais, aproximadamente 86 % da área com cafeeiros concentra-se nas classes Latossolo e Argissolo (Bernardes et al., 2012). Esses solos apresentam acúmulo de argila em profundidade, gerando, na maioria das vezes, um gradiente textural entre os horizontes superficial e subsuperficial, bem como um adensamento provocado pelo acúmulo de argila associado à estrutura em blocos, a qual é um reflexo da sua mineralogia mais caulinítica. O gradiente textural tende a facilitar a erosão por causa da menor infiltração de água e da dificuldade do desenvolvimento do sistema radicular a partir do topo do horizonte Bt, que se inicia comumente a partir dos 0,30 ou 0,40 m de profundidade. Por outro lado, o acúmulo de argila no horizonte Bt e a estrutura em blocos aumentam o volume de microporos e, consequentemente, incrementam a retenção de água nesses solos em profundidade. No entanto, essa água não será aproveitada se o adensamento do horizonte Bt impedir o crescimento radicular. Em plantios de café no sul de Minas Gerais (município de Alfenas), os autores constataram cafeeiros cultivados em Argissolos Vermelhos com sintomas de déficit hídrico pelo fato de as raízes se concentrarem mais à superfície, não conseguindo se desenvolver no horizonte subsuperficial mais argiloso e adensado, embora estivesse úmido a partir dos 0,60 m de profundidade. Outra característica dos Argissolos é que podem apresentar cerosidade (filmes de argila recobrindo os agregados oriundos da sua translocação no perfil), o que também pode dificultar o movimento de água, a difusão de nutrientes e o crescimento radicular (Liu et al., 2002). A redução da velocidade de infiltração do topo para as camadas inferiores promove um encharcamento superficial, favorecendo a ocorrência de erosão em sulcos, que se aprofundam até o topo do horizonte Bt. Em regra, os Argissolos ocorrem em relevo ondulado ou forte ondulado em diferentes regiões do país e em relevo plano e suave ondulado na região Sul, onde não têm sido observados plantios de café segundo o relatório do IBGE (2016), provavelmente por questões climáticas relacionadas ao risco de geadas. Nos Tabuleiros Costeiros, também são observados Argissolos em Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Geraldo César de Oliveira et al.12 Melhoria físico-hídrica do ambiente radicular do cafeeiro em condições de... relevo plano, com predomínio de Argissolos Amarelos coesos, algumas vezes apresentando mudança textural abrupta do horizonte A ou E para o horizonte B, além de considerável redução de velocidade de infiltração de água dos horizontes superficiais para os subsuperficiais mais argilosos (Oliveira et al., 1968). Os Argissolos Amarelos dos Tabuleiros Costeiros são muito semelhantes aos Latossolos Amarelos da mesma região, diferenciando-se, basicamente, pelo gradiente textural, presente apenas nos Argissolos (Ker et al., 2017). No bioma Amazônico, os Argissolos são bem expressivos, nos quais, em grande parte dos casos, o alto índice pluviométrico tende a reduzir os problemas de déficit hídrico nos cafeeiros da região. Em alguns casos, o encharcamento passa a ser um fator limitante. No Espírito Santo, segundo estado em importância na produção de café (Conab, 2018), os Latossolos e os Argissolos recobrem 79,22 % do território (Achá-Panoso et al., 1976). Embora a área ocupada pela cafeicultura nesses solos ainda não tenha sido bem estabelecida, é destacada a ocupação de Latossolos Amarelos coesos e Argissolos Amarelos coesos em relevo plano e suave ondulado dos platôs litorâneos, bem como de Argissolos não coesos associados a Latossolos e Cambissolos localizados em relevo forte ondulado e ondulado. A Figura 5 mostra dois perfis: um Argissolo Vermelho desenvolvido de gnaisse, adensado, localizado na região de transição entre os biomas Mata Figura 5. Perfis de Argissolo Vermelho adensado, em Minas Gerais (A), e de Argissolo Amarelo coeso nos Tabuleiros Costeiros, na Bahia (B). Fotografia de Silva, S. 13 Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Atlântica e Cerrado, em Minas Gerais (Figura 5A); e um Argissolo Amarelo coeso dos Tabuleiros Costeiros, com textura média no horizonte A e argilosa no horizonte B (Figura 5B). Cambissolos Os Cambissolos recobrem apenas 5,43 % do território brasileiro (Santos et al., 2006). Esses solos são menos intemperizados-lixiviados, apresentando, portanto, atributos bem diferentes das classes de solos anteriores. Possuem menor profundidade efetiva (são, em geral, rasos ou moderadamente profundos), o que torna limitado o volume de solo para ser explorado pelas raízes e para o armazenamento de água. Além disso, têm estrutura pouco desenvolvida, geralmente em blocos. Apresentam maiores teores de silte, o que pode provocar encrostamento superficial e, consequentemente, erosão, sobretudo em locais com pouca cobertura vegetal e em locais com relevo forte ondulado ou mais íngreme, dificultando a mecanização. Esses fatores requerem uma atenção especial às práticas de manejo, uma vez que, quando são inadequadas, podem facilmente provocar degradação e altas taxas de perdas de solo e água. Em contrapartida, manejos apropriados têm comprovado a aptidão desses solos para a cafeicultura, com produtividades superiores à média do estado de Minas Gerais e nacional (Serafim et al., 2013a). Quimicamente, os Cambissolos tendem a apresentar maior reserva nutricional e maior CTC por causa de sua mineralogia, resultante de menor intemperismo, embora a fertilidade natural seja dependente de seu material de origem, por exemplo, Cambissolos formados a partir de rochas pelíticas na região da Canastra em Minas Gerais tendem a ter fertilidade baixa. Algumas vezes, Cambissolos apresentam semelhanças morfológicas em relação aos Latossolos, mas se diferenciam pelos maiores teores de silte em relação à argila e/ou pela maior quantidade de minerais primários facilmente intemperizáveis. Há ainda Cambissolos formados pela remoção de material de antigos Latossolos (Resende et al., 1988). Nesses casos particulares, nem todos os atributos citados para Cambissolos estão presentes. Nos municípios produtores de café, entre os biomas brasileiros, os Cambissolos aparecem em maior quantidade no Cerrado e, depois, na Mata Atlântica (Figura 3). Quanto às regiões brasileiras, são mais comuns nos municípios produtores de café da região Sudeste. Em Minas Gerais,eles ocupam área aproximada de 10,5 milhões de hectares (Amaral et al., 2004), o que equivale a cerca de 18 % da área total. Na cafeicultura, ocorrem muitas Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Geraldo César de Oliveira et al.14 Melhoria físico-hídrica do ambiente radicular do cafeeiro em condições de... vezes associados na paisagem aos Latossolos e Argissolos em diferentes regiões do país, fazendo com que os cafeicultores utilizem esses solos indistintamente, embora os Cambissolos se diferenciem dos demais por se encontrarem em locais com menores comprimentos de rampa e maior declividade, além dos outros atributos já discutidos. Aproximadamente 10 % da área com cafeeiros em Minas Gerais concentra-se nessa classe de solos (Bernardes et al., 2012). Segundo Amaral et al. (2004), os Cambissolos são os solos de menor aptidão para a cultura cafeeira, mas, com manejo adequado, sua potencialidade de uso pode ser aumentada enormemente (Serafim et al., 2011). Deve-se salientar que esses solos normalmente são os que predominam em glebas de terras de menor valor para aquisição, o que contribuiria para a diminuição do custo fixo de produção. Em parte do Cerrado mineiro, em locais de relevo mais movimentado na região do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, alguns Cambissolos pedregosos, desenvolvidos de rochas pelíticas, com baixa fertilidade natural, cauliníticos, rasos e em relevo íngreme (Silva et al., 2018), têm obtido elevadas produtividades com manejo adequado, amenizando as limitações intrínsecas a esse solo. Serafim et al. (2011), avaliando o efeito de manejo conservacionista em Cambissolos e Latossolos da região do Cerrado do oeste mineiro (municípios de São Roque de Minas, Vargem Bonita e Piumhi), com aplicação de altas doses de gesso, braquiária na entrelinha, sulco de plantio profundo, entre outros, constataram resultados promissores e incremento de produtividade nos Cambissolos, aumentando seu potencial produtivo após a adoção de adequadas práticas de manejo. A Figura 6 representa um Cambissolo pedregoso, desenvolvido de rochas pelíticas, na região do Cerrado mineiro (município de Campos Altos), que tem apresentado altas produtividades de café com manejo apropriado, reduzindo suas limitações naturais (Figura 6A), e um Cambissolo desenvolvido de gnaisse em região de transição entre Mata Atlântica e Cerrado (município de Lavras) (Figura 6B). Visão e sugestões de manejo do solo na cafeicultura de sequeiro A necessidade de harmonizar aspectos sociais, ambientais, econômicos e de produção na agricultura estimula cada vez mais uma abordagem holística nas decisões de manejo do solo. O cenário atual de mudanças climáticas e a demanda crescente por alimentos tornaram os recursos naturais mais concorridos e onerosos (Lal et al., 2011). Dessa forma, a sustentabilidade dos 15 Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 sistemas agrícolas requer aumento de produtividade e tecnologias inovadoras que proporcionem impacto social positivo, aliado a serviços ambientais, tais como: o incremento do teor de carbono no solo, a redução da erosão, a conservação da qualidade da água nas bacias, o aumento da infiltração de água e a perenização das nascentes, entre outros. Embora existam caminhos diversos para atender a todas essas demandas simultaneamente, a observação dos preceitos conservacionistas do solo e da água estará sempre presente. Por isso, a adoção de sistemas de manejo conservacionistas do solo vem crescendo nas últimas duas décadas ao redor do mundo (Derpsch et al., 2010). À medida que avançam as recomendações de práticas de manejo conservacionistas do solo com vistas à mitigação do déficit hídrico, a irrigação se torna menos necessária, diminuindo, assim, os conflitos pelo uso da água no campo. As bases desse sistema de cultivo do solo estão em harmonia com a gestão sustentável do recurso terra, que é um dos pontos estratégicos da agenda de compromissos acordada internacionalmente na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992 (ECO-92) (Aguiar e Monteiro, 2005). No Brasil, houve um crescimento exponencial das áreas cultivadas sob sistemas conservacionistas a partir da década de 1980, capitaneado, principalmente, pela adoção do plantio direto em áreas de produção de grãos Figura 6. Perfil de Cambissolo pedregoso no Cerrado desenvolvido de rochas pelíticas (A) e perfil de Cambissolo da região de transição entre Mata Atlântica e Cerrado desenvolvido de gnaisse (B). Fotografia de Silva, S. Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Geraldo César de Oliveira et al.16 Melhoria físico-hídrica do ambiente radicular do cafeeiro em condições de... (Wingeyer et al., 2015), proporcionando melhorias na qualidade do solo e redução da emissão de gases de efeito estufa (Oorts et al., 2007). A adoção desse sistema é responsável por uma grande revolução na agricultura, o que tem permitido aos produtores expansão das áreas de cultivo utilizando menor intensidade de tráfego de máquinas e menor input de energia (Triplett Jr e Dick, 2008). As lavouras perenes, incluindo a cafeicultura, também se beneficiam dos preceitos conservacionistas consagrados no sistema de plantio direto. Com as devidas adequações, destacam-se os efeitos positivos do cultivo mínimo nas entrelinhas do cafeeiro e da cobertura permanente na superfície do solo (Tivet et al., 2013), bem como os ganhos de produtividade e de qualidade dos produtos advindos das boas práticas. Os sistemas conservacionistas de manejo apontam para o início de um novo ciclo, em que, pela primeira vez, a agricultura intensiva converge suas ações para harmonizar aspectos de produção e meio ambiente com aspectos sociais e econômicos, pois os ganhos de produtividade de forma isolada já não atendem às atuais demandas globais (Hosono et al., 2016). A cafeicultura tem se expandido no Brasil em resposta ao aumento da demanda do produto no mercado mundial, promovendo crescimento de áreas cultiváveis (Conab, 2018). No entanto, essas novas áreas incorporadas ao sistema produtivo, em sua maior parte, possuem limitações naturais ao bom desenvolvimento da cafeicultura, a exemplo da seca edafológica (Fialho et al., 2010), determinada pelo clima e intensificada por limitações químicas do solo. Isso tem sido frequente no Cerrado (Lopes e Guilherme, 2016) por causa da pequena profundidade efetiva, o que reduz o aprofundamento do sistema radicular da cultura, aumentando sua suscetibilidade ao déficit hídrico (Serafim et al., 2013a,b,c). A ocorrência dessas limitações está associada ao avanço da cafeicultura em áreas anteriormente consideradas marginais, e estas, para serem incluídas no processo produtivo, demandam que sejam adotadas práticas de manejo adequadas, capazes de promover melhorias nesses ambientes. O potencial produtivo das lavouras cafeeiras é fortemente comprometido pelo déficit hídrico, o que é acentuado quando as lavouras são instaladas em solos com baixa capacidade de disponibilizar água (Silva et al., 2008). Esses fatores interferem na interrupção da disponibilidade hídrica nas fases críticas de demanda de água pela cultura (Fialho et al., 2010) e promovem redução significativa na produção e nas condições de sustentabilidade da cafeicultura desenvolvida em situações de sequeiro (Serafim et al., 2013a,b). Tal fato tem levado a uma grande procura por práticas de manejo do solo que 17 Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 possibilitem aumentos na capacidade de retenção e na disponibilização de água, aliadas a práticas que favoreçam o crescimento do sistema radicular objetivando maior acesso ao reservatório de água no subsolo (Serafim et al., 2013a,b,c). Preparo e condicionamento do solo com foco no manejo sustentável O conhecimento das variáveis químicas, físicas e biológicas do ambiente edáfico, intrínsecas às diferentes classes de solos (Lepsch et al., 2015), favorece a escolha do melhor uso e manejo para a cafeicultura. Limitações,como a pobreza química inerente à maioria dos solos utilizados na cafeicultura, podem comprometer o desenvolvimento adequado das plantas pelo impedimento ao crescimento radicular, pois, embora seja inegável a dependência de fatores genéticos em relação ao crescimento das raízes, a distribuição dos nutrientes no perfil do solo exerce papel fundamental, a exemplo do cálcio e do boro, que são essenciais no desenvolvimento do sistema radicular, com importância maior no período de implantação da lavoura, e do fósforo, que atua na estruturação das raízes (Rosolem et al., 2012; Mesquita et al., 2016) e estimula o seu crescimento lateral. Para fazer frente às limitações edáficas dessas novas áreas de cafeicultura e promover um condicionamento do solo capaz de prover uma cafeicultura sustentável, produtores e técnicos da região do Alto São Francisco(5), Cerrado mineiro, em propriedades dos municípios de São Roque de Minas, Vargem Bonita e Piumhi, desenvolveram um sistema de manejo conservacionista para a cafeicultura. O sistema surgiu há pouco mais de uma década, e seu foco é reduzir limitações químicas e físicas e, principalmente, reduzir o déficit hídrico, que é um problema comum nas regiões cafeeiras. Serafim et al. (2011) salientam que, nesse sistema de manejo, o preparo profundo e o revolvimento do solo nas linhas de plantio, usando preparador que mobiliza 0,60 m de largura e 0,60 m de profundidade, são a essência do sistema (Figura 7). Essas operações de preparo possibilitam a incorporação de fertilizantes e corretivos até 0,60 m, além de aliviar a compactação ou o adensamento do solo. O sistema também preconiza a aplicação de gesso agrícola na linha do cafeeiro e o cultivo de braquiária (Brachiaria (Trin.) Griseb. spp.; syn. Urochloa P. Beauv. spp.) nas entrelinhas. Como prática mecânica de (5) 1 Homenagem especial ao engenheiro agrônomo José Peres Romero (in memoriam), idealizador do sistema, e aos engenheiros agrônomos Hélio Casale e Alessandro de Oliveira, consultores técnicos e divulgadores. Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Geraldo César de Oliveira et al.18 Melhoria físico-hídrica do ambiente radicular do cafeeiro em condições de... conservação do solo, o sistema apregoa a construção de patamares nas áreas muito declivosas. O objetivo da braquiária é manter o solo coberto e produzir abundante biomassa (Figura 8 D, E e F), funcionando como um “reservatório orgânico” de nutrientes, pois são realizadas adubações de cobertura com macro e micronutrientes na braquiária durante o período chuvoso. O manejo da braquiária é realizado com roçadeira motorizada. O último corte no final do período chuvoso produz uma excelente camada de cobertura morta, importante para reduzir as perdas de água por evaporação (Figura 8F). A semeadura da braquiária, quando possível, é realizada antes do plantio do cafeeiro, com o intuito de proteger o solo nessa fase de estabelecimento da cultura (Figura 8 A e B) e formar uma abundante biomassa que irá se misturar ao solo de superfície na operação de amontoa (Figura 8C). O gesso agrícola é aplicado em doses de cinco a dez vezes maior do que são tradicionalmente recomendadas para o cafeeiro no Brasil (Figura 9 A e B). Segundo os idealizadores do sistema (comunicado pessoal), as doses de gesso acima do recomendado na literatura se justificam pela sua forma diferenciada de aplicação, em que o gesso é colocado apenas em uma faixa de aproximadamente 0,60 m na linha do cafeeiro, com posterior recobrimento utilizando solo proveniente da entrelinha da cultura. Desse modo, o gesso forma um reservatório que irá solubilizar lentamente, conferindo um efeito residual por muitos anos. A combinação de boas práticas de preparo e correção do solo em superfície e subsuperfície na fase de implantação da lavoura, associada a uma fertilização balanceada, cria condições favoráveis Figura 7. Maquinários utilizados no preparo do solo profundo e no revolvimento nas linhas de plantio do cafeeiro, mobilizando 0,60 m de largura e 0,60 m de profundidade. Fotografia de Serafim. 19 Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Figura 8. Semeadura da braquiária e implantação dos cafeeiros (A); consórcio cafeeiro e braquiária após três meses do plantio (B); manejo da braquiária nas entrelinhas, com operações de amontoa dos resíduos da gramínea (C); manejo da braquiária nas entrelinhas (D, E e F). Fotografia de Serafim. Figura 9. Visão de área de cafeicultura sob o sistema conservacionista, com destaque para o gesso adicionado em superfície na linha de cultivo e braquiária nas entrelinhas da cultura (A). Perfil de solo com destaque para o reservatório de gesso recoberto por solo e enraizamento de plantas no primeiro ano após a implantação da lavoura (B). Fotografia de Oliveira. Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Geraldo César de Oliveira et al.20 Melhoria físico-hídrica do ambiente radicular do cafeeiro em condições de... ao aprofundamento das raízes, o que pode ser constatado pelo aspecto visual da lavoura no período seco, apresentando verde intenso na maior parte do período seco e pouca desfolha. Uma das restrições ao uso do gesso em altas doses é o seu potencial de causar lixiviação de bases, notadamente Mg e K (Ramos, 2012), o que ajuda a diminuir a concentração foliar desses nutrientes (Silva et al., 1997). Para avaliar o efeito da alta dose de gesso, dois anos após a implantação do sistema em um Latossolo Vermelho muito argiloso, oxídico-gibbsítico, foi realizada uma pesquisa utilizando especiação química da solução do solo submetido às doses de gesso de 7 e 56 Mg ha-1, determinando os teores de Ca2+, Mg2+, K+ e SO4-2 para linha de plantio nas profundidades de 0,15-0,25, 0,35-0,45, 0,75-0,85, 1,15-1,25 e 2,35-2,45 m (Ramos, 2012; Ramos et al., 2013). Para as duas doses de gesso, não houve diferenças significativas para nenhum nutriente estudado. As concentrações de SO4-2 na solução do solo foram superiores ao crítico para o desenvolvimento de plantas nas camadas superficiais do solo, porém as concentrações encontradas nas camadas mais profundas (> 0,75 m) estavam abaixo do crítico, o que aparentemente está relacionado à elevada capacidade de adsorção de sulfato pelos solos gibbsíticos (Freney et al., 1975; Neptune et al., 1975). Os autores observaram que a lixiviação dos pares iônicos sulfato de cálcio (CaSO4-2) e sulfato de magnésio ocorreu somente até a profundidade de 0,75-0,85 m, o que permitiu a conclusão de que não houve perda de Ca e Mg na zona atingida pelas raízes do cafeeiro. Nesse sentido, os autores concluíram que a aplicação de gesso agrícola e de calcário, em conformidade com o que é preconizado nesse sistema de manejo, no que se refere à adubação equilibrada, com base em resultados de análise foliar (realizadas três vezes ao ano) e de análise do solo, foi eficiente na melhoria do ambiente radicular no subsolo do Latossolo oxídico-gibbsítico de textura muito argilosa por ter aumentado Mg2+ e Ca2+ na solução do solo em profundidade, com a concentração mantendo-se acima do nível crítico. Os teores de K+ trocável se mantiveram na faixa do valor crítico indicado para o desenvolvimento da cultura nas duas primeiras camadas e sem incremento expressivo com a profundidade. Dessa forma, com ressalva para a utilização de doses de gesso acima do que é recomendado na literatura, o que necessita de maior embasamento de pesquisas conforme sugerido por Caires e Guimarães (2018), o sistema diferenciado de manejo tem mérito inovador por aliar práticas destacadas na literatura com resultados inequívocos para a cafeicultura, como conservação de carbono orgânico total, melhoria da estrutura do solo e 21 Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 aumento na disponibilização de água (Carducci et al., 2013; Santos et al., 2014; Silva et al., 2015a), favorecendo ainda o aprofundamento das raízes no perfil (Carducci et al., 2014a) e o rápido crescimento das plantas, com potencial de assegurar elevação na produtividadedas lavouras. Em estudo realizado nos municípios de São Roque de Minas e Vargem Bonita, região do Cerrado mineiro, com diferentes solos manejados sob o sistema descrito, Serafim et al. (2013a) relataram que as médias de produção alcançadas em seis colheitas foram até 100 % superiores à média de produtividade de cafeeiros do estado de Minas Gerais, que é de 26 sacas ha-1 (Conab, 2018). São muitos os artigos científicos, as teses e as dissertações que apontam para mudanças benéficas na estrutura dos solos promovidas pelo conjunto de práticas utilizadas por esse manejo (Carducci, 2010; Serafim, 2011; Serafim et al., 2011; Silva et al., 2012; Carducci, 2013; Carducci et al., 2013, 2014a,b, 2015; Serafim et al., 2013a,b,c; Silva et al., 2013; Silva, 2014a; Silva et al., 2016a, 2017). Em estudo em área de Cambissolo argiloso originado de siltito em Vargem Bonita, região oeste de Minas Gerais, após um ano e meio da implantação de cafeeiro, Silva et al. (2016a) observaram a formação de agregados no solo com características morfométricas muito favoráveis e melhor qualidade estrutural comparada ao ambiente natural. Os autores atribuem esses resultados ao Ca2+ proveniente do calcário e do gesso, associados à adição contínua de fitomassa procedente do corte da braquiária cultivada nas entrelinhas da cultura. De acordo com os autores, foi observado aumento na porosidade do solo, originalmente denso, o que possibilita o desenvolvimento do sistema radicular para camadas mais profundas, algo também relatado por Serafim et al. (2013a,b,c). Silva et al. (2013) também realizaram estudo em Latossolo Vermelho muito argiloso e oxídico para avaliar o efeito de doses variáveis de gesso na agregação e concluíram que o Ca2+, associado ao aporte contínuo de material orgânico proveniente dos cortes da braquiária preconizados nesse sistema, era o responsável pelo aumento de agregados estáveis, dada a correlação positiva e significativa do diâmetro médio geométrico de agregados com o carbono orgânico total e cálcio no solo. Nos tratamentos com doses de gesso maiores que as normalmente recomendadas na literatura, houve redução da porcentagem de agregados de menor diâmetro (de 1 a 0,105 mm) para a profundidade de 0,15 m, indicando uma melhoria nas condições de estruturação desse solo. Nesse estudo, no qual se buscou avaliar apenas aspectos físicos do solo, a dose de 7 Mg ha-1 se destaca por estar relacionada com o aumento significativo do carbono orgânico total do solo nessa profundidade. Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Geraldo César de Oliveira et al.22 Melhoria físico-hídrica do ambiente radicular do cafeeiro em condições de... Em área de Latossolo e Cambissolo, ambos argilosos submetidos ao sistema de manejo já especificado, Serafim et al. (2011) descreveram a presença de sistema radicular do cafeeiro com profundidade média no perfil do solo, respectivamente, de 0,80 e 0,60 m aos seis meses da implantação das lavouras, e, após um ano, o sistema radicular atingiu 1,40 m no Latossolo e 1,20 m no Cambissolo. Em trabalho de monitoramento da umidade em ano seco, em Latossolo muito argiloso e oxídico sob lavoura adulta (três anos e meio), Serafim et al. (2013b) evidenciaram secamento intenso na linha da cultura até 1,60 m, o que foi atribuído à presença de raízes utilizando a água. Na camada de 1,50 a 1,70 m, foram encontradas raízes muito finas, indicando potencial de aproveitamento de água dessas camadas mais profundas do solo. Por causa do revolvimento intenso do solo até a camada de 0,60 m por ocasião do preparo, o sistema de manejo promove a quebra de agregados, o que leva a mudanças estruturais significativas; entretanto, isso não se mostra prejudicial, haja vista que, em estudo em Latossolo argiloso, Silva et al. (2016b) encontraram volume significativo de poros interagregados (macroporos) após três anos da implantação de cafeeiros. Após seis anos da implantação, foi observado aumento de poros de tamanho intermediário, o que é indício de aumento na disponibilidade de água para as plantas (Oliveira et al., 2004; Carducci et al., 2013). Segundo Silva et al. (2015a), a adoção do sistema de manejo em Latossolo muito argiloso, localizado em São Roque de Minas, na região do Cerrado mineiro, resultou, após dois anos da implantação do cafeeiro, em aumento significativo no intervalo hídrico ótimo do solo. Segundo os autores, isso se deveu à eliminação de possíveis camadas de impedimento químico e mecânico no solo, com redução da densidade do solo. Esses dados corroboram os de Carducci et al. (2014b), que encontraram nesse solo maior volume de poros (de 0,3 a 0,6 mm de diâmetro) para uma dose de gesso de 28 Mg ha-1, em comparação ao tratamento convencional sem gesso adicional, especialmente para camada de 0,20-0,34 m. Em experimento com doses variadas de gesso adicionadas à superfície de Latossolo Vermelho muito argiloso e oxídico da região do Cerrado mineiro (São Roque de Minas), Carducci et al. (2014b) utilizaram a tomografia computadorizada de raios X e detectaram uma distribuição mais homogênea de poros ao longo do perfil do solo que recebeu 7 Mg ha-1 desse condicionador. Segundo os autores, as doses crescentes de gesso (7 e 28 Mg ha-1), em razão do incremento de Ca2+, favorecem uma melhor distribuição espacial do sistema radicular, particularmente de raízes finas com promoção de poros 23 Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 intermediários, o que fica comprovado em outras pesquisas desenvolvidas no mesmo solo (Santos et al., 2014; Serafim et al., 2013b; Silva et al., 2015b). Outras práticas de manejo do solo na cafeicultura Objetivando economia e uso eficiente da água na cafeicultura, pesquisas recentes vêm testando outras medidas já adotadas por alguns cafeicultores, a exemplo da utilização de condicionadores do solo que têm potencial de maior conservação da água no perfil do solo. É possível citar como exemplos o uso da fertilização do solo com organomineral, o uso do mineral zeólita e a cobertura do solo na linha de cultivo com filmes plásticos ou restos de cultura. Essas práticas têm potencial para agricultura de sequeiro por favorecer, além da conservação da água, também aspectos químicos e físico-hídricos do solo, que, no conjunto, promovem melhorias na exploração do perfil pelo sistema radicular. Em estudo com o material zeólita, Barbosa et al. (2014) observaram que misturas de diferentes porcentagens desses minerais (de 2,5 a 20 %) promovem elevação em até 30 % na disponibilidade de água de um Latossolo Vermelho argiloso, o que é justificado pela existência nesses minerais de grande quantidade de poros com diâmetros intermediários – mesoporos, diâmetro entre 73 e 0,2 μm, segundo Bullock et al. (1985), responsáveis pelo armazenamento e pela liberação gradual de água para as plantas. Os autores concluíram que esses minerais têm capacidade de uso para contornar os problemas de estresses hídricos comuns no Brasil, mas deve ser salientado que um fator limitante é o custo do produto. O uso de cobertura plástica sobre a linha de cultivo se apresenta como boa opção quando o objetivo é conservar a água no solo basicamente pela redução das perdas diretas por evaporação (Chakraborty et al., 2008), além de preservar a estrutura do solo por protegê-lo dos impactos diretos das gotas de chuva (Zhang et al., 2015). O uso da cobertura plástica é uma tecnologia muito difundida para horticultura, mas na cafeicultura as pesquisas são recentes (Barbosa, 2015; Castanheira, 2018). Ressalta-se a necessidade, em pesquisas futuras, de se avaliar os custos econômicos envolvidos na aplicação do mulching e os tratos culturais indispensáveis ao sistema de cultivo, principalmente no tocante às adubações de cobertura feitas em cafeeiro. Há de se questionar a possibilidade de utilização da técnica por pequenos e grandes cafeicultores, além de considerar a diferença entre o tamanho da área e o ciclo da cultura, que são menores para hortícolas,o que justifica uma maior difusão Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Geraldo César de Oliveira et al.24 Melhoria físico-hídrica do ambiente radicular do cafeeiro em condições de... dessa técnica nesse tipo de atividade agrícola que comumente se dá em canteiros e/ou estufas. Quanto à abertura profunda do sulco de plantio do cafeeiro (0,60 m), Barbosa (2015) testou diferentes adubações (organomineral e mineral) associadas ou não ao uso de cobertura plástica (mulching sintético) no desenvolvimento inicial de cafeeiros em Argissolo Vermelho-Amarelo de textura arenosa/média no município de Bom Sucesso, região oeste de Minas Gerais. O estudo revelou que tanto a adubação mineral quanto a organomineral, quando relacionadas à cobertura do solo, foram eficientes em manter maior armazenamento de água no solo, mesmo nos meses mais secos, em comparação com a adubação mineral sem proteção do solo. Ao ser adotada a cobertura do solo na linha de cultivo associada ao organomineral, foram observados maior número de folhas, engrossamento de caule e maior altura do cafeeiro em comparação com outros tratamentos, chamando a atenção para a potencialidade dessas alternativas de cultivo do cafeeiro e sugerindo que mais estudos sobre esse assunto sejam desenvolvidos, particularmente em regiões mais suscetíveis a estiagens prolongadas. Considerando que o manejo altera a configuração do sistema poroso, o condicionamento químico e físico-hídrico do solo pelo preparo profundo do sulco de plantio e calagem adicional foi testado com o objetivo de mitigar os efeitos do adensamento e corrigir as limitações químicas existentes em profundidade em um Cambissolo argiloso no município de Nazareno, região de Campo das Vertentes, em Minas Gerais (Barbosa, 2018; Silva, 2018). Nesse experimento, em que o preparo do sulco de plantio foi realizado com diferentes equipamentos e profundidades (sulcador a 0,40 m, preparador de solo a 0,60 m e subsolador dreno a 0,80 m) (Figura 10), Barbosa (2018) concluiu que o preparo do solo apresentou efeito significativo por mitigar o problema de adensamento existente na camada superficial do Cambissolo e por promover melhorias na sua estrutura em comparação com área não manejada (natural). Entre as combinações de manejo testadas, a abertura de sulco a 0,80 m, seguido de revolvimento a 0,60 m com incorporação de dose adicional de calcário, foi a que promoveu melhor condicionamento estrutural, com aumento expressivo da classe de poros dotados da função de drenagem e aeração. Esse manejo se destacou em relação ao manejo convencional, cuja abertura do sulco é feita a 0,40 m, para todos os indicadores de qualidade física, com destaque para redução da densidade do solo, aumento de macroporos, aumento do índice S e da capacidade de disponibilizar água e ar para as plantas. 25 Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Ainda para esse estudo de condicionamento químico e mecânico de Cambissolo, foi verificado que a profundidade de 0,60 m com incorporação de dose adicional de calcário foi a que melhor promoveu o crescimento e o vigor vegetativo dos cafeeiros, associados aos indicadores de qualidade física, corroborando o estudo de Silva et al. (2015a), realizado em perfil de Latossolo condicionado química e mecanicamente, no qual foi verificado maior atividade do sistema radicular e maior capacidade em absorver água pelo cafeeiro na camada do solo localizada entre 0,50 e 0,75 m. A abertura de sulco profundo seguido do revolvimento a 0,60 m, segundo Silva (2018), promove no Cambissolo aumento na velocidade de infiltração Figura 10. Representação esquemática dos perfis de Cambissolo da região Campo das Vertentes, Minas Gerais, em Cerrado nativo (a), sob o sistema de manejo convencional com sulco de plantio preparado a 0,40 m de profundidade (b), com sulco de plantio aberto e revolvido a 0,60 m de profundidade (c) e com sulco de plantio revolvido a 0,60 m e aberto a 0,80 m de profundidade (d). Fonte: Silva (2018). Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Geraldo César de Oliveira et al.26 Melhoria físico-hídrica do ambiente radicular do cafeeiro em condições de... básica e na capacidade de armazenamento de água pelo solo, quando comparado ao tratamento convencional e ao Cerrado nativo. Dessa forma, é de se esperar que essas melhorias contribuam também para a redução no escoamento superficial e, consequentemente, no processo erosivo do solo, além de promover aumentos na recarga do lençol freático. Como a sustentabilidade da cafeicultura depende de sistemas de cultivo que proporcionem maior longevidade para as lavouras e do aumento da rentabilidade do produtor como forma de garantir sua permanência na atividade (Petek e Patrício, 2007), todos os sistemas de manejo estudados apresentam potencial, mas devem ser acompanhados também de critério econômico. Efeito do manejo conservacionista na retenção e na disponibilidade de água Retenção de água O manejo altera a funcionalidade da estrutura do solo (Doran e Parkin, 1994), causando mudanças no tamanho, na distribuição e na conectividade dos poros, o que reflete no comportamento da água no solo e no crescimento do sistema radicular (Reichert et al., 2011). Na Figura 11, são mostradas alterações na retenção de água no solo pela adoção do sistema de manejo conservacionista descrito por Serafim et al. (2011) após 0,5, 1,5, 3,5, 5 e 11 anos em Latossolo e Cambissolo. De maneira geral, o sulcamento profundo do solo na linha de plantio com revolvimento para incorporação de corretivos e fertilizantes, em associação ao gesso agrícola aplicado em superfície e recoberto por material proveniente da decomposição da braquiária, promove a reorganização da estrutura do solo (Silva et al., 2012; Serafim et al., 2013a,b; Silva et al., 2016a,b) e, consequentemente, uma nova organização do espaço poroso, o que altera a porosidade e a capacidade de retenção de água dos solos (Silva et al., 2012; Carducci et al., 2015). Contudo, a análise das curvas de retenção de água (CRAs) permite observar respostas diferentes ao manejo para cada solo (Figura 11). O Cambissolo sob manejo, comparado à condição natural, apresenta redução da retenção de água em todos os potenciais matriciais. Por outro lado, a umidade retida entre as tensões de 6 kPa e 1.500 kPa, ou seja, água considerada disponível para a planta, foi maior em todos os anos analisados na linha e na entrelinha de plantio, reflexo da maior inclinação das CRAs. Segundo Dexter (2004), a maior inclinação das CRAs nos baixos potenciais é indicativo de melhoria na distribuição do tamanho 27 Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Figura 11. Curva de retenção de água (umidade do solo [m3 m-3] em função do potencial matricial [|kPa|]) em Cambissolo Háplico Tb distrófico (Típico e Latossólico) (A e C) e em Latossolo Vermelho distrófico oxídico (B e D) em função do tempo, e em área de Cerrado nativo nas camadas 0-0,20 m (A e B) e 0,20-0,40 m (C e D), na linha de plantio (L) e na entrelinha coberta com braquiária (EL). * Dados extraídos de Serafim et al. (2013a) e Silva (2017). Os valores comparados dentro de uma mesma classe de solo se referem a unidades pedológicas semelhantes. Os números subscritos indicam a idade da lavoura, em anos, na ocasião da amostragem. Em todos os solos, foi adotado o sistema de manejo descrito em Serafim et al. (2011), com sulco de plantio corrigido e fertilizado a 0,60 m de profundidade, aplicação adicional de 28 Mg ha-1 de gesso e cultivo de braquiária na entrelinha do cafeeiro. Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Geraldo César de Oliveira et al.28 Melhoria físico-hídrica do ambiente radicular do cafeeiro em condições de... de poros, no sentido de favorecimento ao adequado funcionamento físico do solo. As alterações, de modo geral, são mais expressivas na linha do que na entrelinha e ocorrem tanto em superfície como em subsuperfície. Na entrelinha, apenas após três anos e meio da implantação do sistema de manejo a inclinação dasCRAs aumenta substancialmente em relação à condição natural do solo. Para o Latossolo, de maneira geral, o manejo atua no sentido de reduzir a inclinação das CRAs em relação à condição natural, sobretudo nos primeiros anos de adoção. Dessa forma, houve incremento em poros de tamanho intermediário e pequeno, o que favoreceu a retenção e a disponibilidade de água para a planta. Após cinco anos de manejo, as CRAs mostraram-se mais inclinadas que nos anos anteriores em 0,20-0,40 m, o que também ocorreu para as duas profundidades após 11 anos. Contudo, o aumento na quantidade de água retida em poros intermediários e pequenos permaneceu, indicando que, mesmo após mais de uma década da implantação do sistema, os efeitos benéficos ainda podem ser notados. Na entrelinha, a redução da inclinação das CRAs foi marcante após a adoção do manejo, sobretudo em 0-0,20 m. Esses resultados sugerem que as operações de preparo com aração e gradagem do solo na entrelinha, associadas ao tráfego de máquinas, causam impacto na estrutura. Distribuição de poros por tamanho A Figura 12 possibilita melhor visualização das alterações na distribuição de poros causada pelo manejo do solo, complementando a informação apresentada pelas CRAs (Figura 11). Nas áreas de Cambissolo, observou-se que o volume de macroporos grandes (> 145 µm) e de macroporos finos (145-73 µm, segundo Bullock et al.,1985) aumenta na linha de plantio na profundidade de 0-0,20 m e 0,20-0,40 m, no período da implantação do sistema até os cinco anos. Esses poros são responsáveis pela rápida drenagem interna do solo (Lima et al., 2012), o que é muito importante, uma vez que, em condições naturais, esses solos têm permeabilidade muito limitada. Isso, somado ao fato de ocorrerem em áreas declivosas, torna-os muito suscetíveis a processos erosivos. Dessa forma, o manejo adotado condiciona uma melhoria na qualidade física do solo, com reflexos positivos no aspecto ambiental. Em relação aos mesoporos (73-0,2 µm, segundo Bullock et al.,1985), responsáveis pelo armazenamento e pela redistribuição de água no perfil, o manejo promove aumentos em seu volume em relação à área natural, o que também foi efetivo em 0-0,20 m e 0,20-0,40 m, permanecendo até cinco anos após a implantação. Isso mostra que os efeitos do preparo do 29 Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Figura 12. Distribuição das classes de tamanho de poros (m3 m-3) em Cambissolo Háplico Tb distrófico (Típico e Latossólico) (A e C) e em Latossolo Vermelho distrófico oxídico (A e D), em função do tempo de adoção, e em área de Cerrado nativo (CN) nas camadas 0-0,20 m (A e B) e 0,20-0,40 m (C e D), na linha de plantio (L) e na entrelinha coberta com braquiária (EL). * Dados extraídos de Serafim et al. (2013a) e Silva (2017). Os valores comparados dentro de uma mesma classe de solo se referem a unidades pedológicas semelhantes. Os números 0,5, 1,5, 3,5 e 5 indicam a idade da lavoura na ocasião da amostragem em anos. Em todos os solos, foi adotado o sistema de manejo descrito em Serafim et al. (2011), com sulco de plantio corrigido e fertilizado a 0,60 m de profundidade, aplicação adicional de 28 Mg ha-1 de gesso e cultivo de braquiária na entrelinha do cafeeiro. Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Geraldo César de Oliveira et al.30 Melhoria físico-hídrica do ambiente radicular do cafeeiro em condições de... solo associados à fertilização causam modificações benéficas na porosidade do solo com duração de pelo menos cinco anos. Na entrelinha do Cambissolo, as alterações na porosidade foram menos significativas. Porém, foi observado aumento da macroporosidade (> 145 µm e 145-73 µm, segundo Bullock et al., 1985) logo após a implantação e o estabelecimento da braquiária até um ano e meio; contudo aos três anos e meio, as condições se aproximavam da condição natural. Diferentemente do que foi observado na linha, houve redução da porosidade total na entrelinha, o que deve estar associado ao efeito do tráfego de máquinas (Silva, 2017). Nas áreas de Latossolo em geral, o preparo do solo na linha de plantio leva à redução dos macroporos e ao aumento dos microporos (< 0,2 µm, segundo Bullock et al., 1985) no período de seis meses até cinco anos após a implantação da lavoura, comparada à área natural, principalmente em 0-0,20 m, mas também em 0,20-0,40 m. Apesar de essa ação do sistema de manejo sob a porosidade poder ser entendida em um primeiro momento como negativa, isso não foi observado, pois Silva et al. (2012) e Serafim et al. (2013a,b) não encontraram redução significativa na qualidade física do solo após dois anos da adoção do manejo. Pelo contrário, após dois anos, Serafim et al. (2013a,b) observaram presença de raízes finas do cafeeiro de até 2,0 m de profundidade no Latossolo e no Cambissolo. Na entrelinha, assim como ocorre no Cambissolo, há redução da porosidade total do solo, sendo a macroporosidade mais afetada, sobretudo na profundidade de 0-0,20 m. Em 0,20-0,40 m, a macroporosidade (145-73 µm) aumenta a partir de um ano e meio da implantação, o que pode indicar o efeito do sistema radicular da braquiária atuando no sentido de melhorar a agregação e a porosidade do solo, tal como concluído por Calonego et al. (2011), após dois anos de cultivo de braquiária em consórcio com o milho. Os mesoporos (73-0,2 µm, segundo Bullock et al., 1985) também são aumentados em relação à condição natural, principalmente na linha de cultivo, e a partir de três anos e meio da adoção do sistema de manejo. Esses resultados são de grande importância, uma vez que os Latossolos oxídicos possuem comportamento bimodal, ou seja, grande volume de macro e microporos e pouco volume de mesoporos (Carducci et al., 2011). O incremento de mesoporos favorece, além da disponibilização de água, também o crescimento de raízes finas responsáveis pela absorção de água (Carducci et al., 2015). Comparando a ação do sistema de manejo na linha de cultivo nos dois solos, em síntese, pode-se destacar o aumento de macroporos no Cambissolo e o aumento de mesoporos tanto no Cambissolo quanto no Latossolo. 31 Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Particularmente no Latossolo, considerando sua baixa capacidade natural em disponibilizar água para as plantas, o resultado apresentado na Figura 12 deve ser considerado como expressiva ou substancialmente benéfico. Capacidade dos solos em disponibilizar água (CAD) A ação do manejo promove alterações muito diferentes na CAD do Cambissolo e do Latossolo ao longo dos anos (Figura 13). Na camada 0-0,20 m, em áreas de Cambissolo, houve um incremento na CAD de quase 80 % logo no início da adoção do sistema. Com o passar dos anos, esse aumento se manteve, chegando a 65 % depois de um ano e meio e a 27 % aos três anos e meio, em relação à área de Cerrado nativo. Esses resultados são muito importantes, uma vez que esses solos são considerados marginais para a produção agrícola, por apresentarem muitas limitações físicas relatadas anteriormente. No entanto, aos cinco anos, houve decréscimo na CAD (cerca de 20 %), o que pode ser consequência do processo de consolidação do solo e de rearranjo interno da estrutura ao longo dos anos, por causa dos ciclos de umedecimento e secagem (Silva, 2017). Em relação à camada superficial do Latossolo, observa-se que, logo após a realização do preparo do solo, em razão do revolvimento intenso, houve uma redução dos valores de CAD (10 %), Figura 13. Incremento ou decréscimo (%) da capacidade de água disponível do solo em Cambissolo Háplico Tb distrófico (Típico e Latossólico) e em Latossolo Vermelho distrófico oxídico, em função do tempo, sob manejo descrito em Serafim et al. (2011), em relação ao Cerrado da região sob mesma classe de solo na camada 0-0,20 m (A) e na camada 0,20-0,40 m (B). * Dados extraídos de Serafim et al. (2013a) e Silva (2017). Os valores comparados dentro de uma mesma classe de solo se referem a unidades pedológicas semelhantes. Os números 0,5, 1,5, 3,5 e 5 indicama idade da lavoura na ocasião da amostragem em anos. Em todos os manejos, houve adição superficial de 28 Mg ha-1 de gesso além das correções iniciais do solo. Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Geraldo César de Oliveira et al.32 Melhoria físico-hídrica do ambiente radicular do cafeeiro em condições de... mas, a partir de um ano e meio, as alterações não foram expressivas. Resultados expressivos e benéficos foram encontrados na camada de 0,20-0,40 m do Latossolo com o passar dos anos. Em relação à camada de 0-0,40 m, observa-se que, mesmo após cinco anos do preparo do solo, ainda houve incremento da CAD nas áreas de Cambissolo. Foi observado aumento de 69 % após seis meses do preparo, 54 % entre um ano e meio e três anos e meio, e 8 % aos cinco anos. No Latossolo, apesar do pequeno decréscimo no início da implantação do sistema (6 %), observou-se aumento da CAD a partir de um ano e meio (3 %), sendo potencializado com o passar dos anos, chegando a 21 % aos cinco anos. Esses resultados são de grande importância para o uso eficiente da água na agricultura, uma vez que, mesmo sendo muito eficientes na drenagem interna, os Latossolos apresentaram baixa disponibilidade de água para as plantas nas camadas subsuperficiais (Silva et al., 2014). Intervalo hídrico ótimo Além da limitação por déficit hídrico, as plantas podem experimentar limitações por deficiência de aeração e/ou excessiva resistência mecânica à penetração das raízes. Essas condições podem ser avaliadas ao mesmo tempo utilizando a ferramenta intervalo hídrico ótimo (IHO), a qual permite identificar se há limitações mais restritivas às plantas quanto à porosidade mínima de aeração (PA) e/ou à resistência à penetração (RP) em relação à CAD (Silva et al., 1994). Como a planta reduz sua atividade transpirativa máxima antes de a umidade do solo atingir o ponto de murcha permanente (PMP), Silva et al. (2015a) propuseram o uso da umidade crítica (Ɵ*, m3 m-3) em substituição ao PMP como propriedade mais eficaz para diagnosticar a faixa de umidade do solo, em que as limitações físicas ao crescimento das plantas são mínimas. Após um ano e meio da implantação do sistema de manejo, para o Latossolo não foram verificadas sérias limitações por PA e RP (Figura 14A), o que indica que a limitação por déficit hídrico foi a mais severa ao crescimento das plantas. O IHO inclusive aumentou com o manejo até a densidade do solo de 1,1 Mg m-3 (Figura 14B). Silva et al. (2015a) concluíram também que a entrelinha do cafeeiro mantida descoberta apresentou IHO menor, comparada com a entrelinha com cultivo de braquiária em razão da limitação por RP. Após cinco anos de manejo, Serafim et al. (2013c) avaliaram o IHO em Latossolo e Cambissolo, encontrando melhor qualidade física do solo comparado ao que foi observado no estudo de Silva et al. (2015a), que avaliou o Latossolo após dois anos depois da implantação. Observa-se nas 33 Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Figuras 15 e 16 que não houve limitação por PA ou RP nos dois solos, tanto em superfície (0-0,05 m) como em subsuperfície (0,75-0,80 m) em avaliação realizada na linha de plantio. Portanto, desde a implantação até os cinco anos, o condicionamento físico do solo se manteve, demonstrando a eficiência do sistema de manejo ao longo dos anos, o que pode ser muito útil para a sustentabilidade da produção. Contudo, na entrelinha, o Cambissolo apresentou limitações de PA e RP, concordando com o observado na Figura 12 para distribuição de poros por tamanho. Essas limitações ajudam a explicar o caráter marginal desses solos e a necessidade de intervenção mecânica neles. Monitoramento de água no solo Tão importante quanto conhecer o potencial do solo em disponibilizar água para as plantas, expresso pela CAD ou pelo IHO, é conhecer o quanto de Figura 14. Variação da umidade do solo (m3 m-3) na capacidade de campo (CC), no ponto de murcha permanente (PMP), na porosidade mínima de aeração de 0,10 m3m-3 (PA), na resistência à penetração limitante de 3 MPa (RP) e na umidade crítica para fator de depleção de água (p) de 0,5 (Ɵ*) (A); e variação da capacidade de água disponível (CAD), intervalo hídrico ótimo (IHO) e intervalo hídrico ótimo calculado com a Ɵ* para p de 0,5 (IHO* p 0,5), em função da variação de densidade do solo encontrada na lavoura de cafeeiro com um ano e meio em Latossolo Vermelho distrófico muito argiloso oxídico-gibbsítico na profundidade de 0-0,70 m, sob sistema de manejo descrito em Serafim et al. (2011). IC representa o intervalo de confiança de 95 % para a densidade do solo. Fonte: Adaptada de Silva et al. (2015a). Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Geraldo César de Oliveira et al.34 Melhoria físico-hídrica do ambiente radicular do cafeeiro em condições de... água fica armazenada em diferentes profundidades do solo. O armazenamento é resultante da entrada de água, basicamente precipitação pluviométrica, e as saídas que se dão por evaporação, drenagem profunda, escoamento superficial e transpiração. Como a transpiração das plantas e, portanto, a extração de água do solo pelas raízes são as principais fontes de alteração da água armazenada no solo, sobretudo em períodos sem ou com baixa precipitação pluvial, pode-se, por meio do monitoramento da umidade do solo, inferir a absorção de água no perfil do solo (Silva et al. 2009; Santos et al. 2014; Silva et al. 2015b). Na Figura 17, é apresentado o monitoramento de umidade do solo realizado em duas épocas, estação seca e chuvosa, ao Figura 15. À esquerda: variação da umidade do solo (m3 m-3) na capacidade de campo (CC), no ponto de murcha permanente (PMP), na porosidade mínima de aeração de 0,10 m3m-3 (PA), na resistência à penetração limitante de 3 MPa (RP), em função da variação de densidade do solo, sob sistema de manejo descrito em Serafim et al. (2011), em lavoura de cafeeiro com cinco anos em Latossolo Vermelho distrófico em 0-0,05 m e 0,75-0,80 m de profundidade. IC representa o intervalo de confiança de 95 % para a densidade do solo. À direita: representação esquemática do cafeeiro sob sistema de manejo em que: (A) camada de gesso; (B) leira de terra na base das plantas; (C) braquiária na entrelinha; e (D) sulco de plantio. Fonte: Adaptada de Serafim et al. (2013c). 35 Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 longo do perfil de Latossolo e Cambissolo cultivado com cafeeiro em idades crescentes sob o sistema de manejo descrito em Serafim et al. (2011). De maneira geral, para todos os solos estudados, a umidade do solo no perfil apresenta gradiente crescente com a profundidade (Figura 17), salientando menor umidade na camada de 0,80 m e que a umidade a 1,2 m não diferiu significativamente daquela encontrada a 1,60 m (Serafim et al., 2013b). Assim, foi demonstrado que o efeito do período seco é mais pronunciado até a profundidade de 0,80 m, alertando para a necessidade de crescimento das raízes abaixo dessa profundidade (Carducci et al., 2014a). De qualquer forma, mesmo na estação chuvosa, a umidade do solo é menor Figura 16. À esquerda: variação da umidade do solo (m3 m-3) na capacidade de campo (CC), no ponto de murcha permanente (PMP), na porosidade mínima de aeração de 0,10 m3m-3 (PA), na resistência à penetração limitante de 3 MPa (RP), em função da variação de densidade do solo, sob sistema de manejo descrito em Serafim et al. (2011), em lavoura de cafeeiro com cinco anos em Cambissolo Háplico Tb distrófico na profundidade entre 0-0,05 m e 0,75-0,80 m. IC representa o intervalo de confiança de 95 % para a densidade do solo. À direita: representação esquemática do cafeeiro sob sistema de manejo em que: (A) camada de gesso; (B) leira de terra na base das plantas; (C) braquiária na entrelinha; e (D) sulco de plantio. Fonte: Adaptada de Serafim et al. (2013c). Tópicos Ci. Solo, 10:1-71, 2019 Geraldo César de Oliveira et al.36 Melhoria físico-hídrica do ambiente radicular do cafeeiro em condições de... até a profundidade de 0,80 m,
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