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Montes Claros/MG - 2014 Admilson Eustáquio Prates Harlen Cardoso Divino Shirlene dos Passos Vieira Santos Cosmovisão das religiões Africanas e Orientais 2014 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. EDITORA UNIMONTES Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089 Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214 Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes Ficha Catalográfica: Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES REITOR João dos Reis Canela VICE-REITORA Maria Ivete Soares de Almeida DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Humberto Velloso Reis EDITORA UNIMONTES Conselho Editorial Prof. Silvio Guimarães – Medicina. Unimontes. Prof. Hercílio Mertelli – Odontologia. Unimontes. Prof. Humberto Guido – Filosofia. UFU. Profª Maria Geralda Almeida. UFG. Prof. Luis Jobim – UERJ. Prof. Manuel Sarmento – Minho – Portugal. Prof. Fernando Verdú Pascoal. Valencia – Espanha. Prof. Antônio Alvimar Souza - Unimontes. Prof. Fernando Lolas Stepke. – Univ. Chile. Prof. José Geraldo de Freitas Drumond – Unimontes. Profª Rita de Cássia Silva Dionísio. Letras – Unimontes. Profª Maisa Tavares de Souza Leite. Enfermagem – Unimontes. Profª Siomara A. Silva – Educação Física. UFOP. CONSELHO EDITORIAL Ana Cristina Santos Peixoto Ângela Cristina Borges Betânia Maria Araújo Passos Carmen Alberta Katayama de Gasperazzo César Henrique de Queiroz Porto Cláudia Regina Santos de Almeida Fernando Guilherme Veloso Queiroz Jânio Marques Dias Luciana Mendes Oliveira Maria Ângela Lopes Dumont Macedo Maria Aparecida Pereira Queiroz Maria Nadurce da Silva Mariléia de Souza Priscila Caires Santana Afonso Zilmar Santos Cardoso REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA Carla Roselma Waneuza Soares Eulálio REVISÃO TÉCNICA Karen Torres C. Lafetá de Almeida Viviane Margareth Chaves Pereira Reis DESIGN EDITORIAL E CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO Andréia Santos Dias Camilla Maria Silva Rodrigues Fernando Guilherme Veloso Queiroz Magda Lima de Oliveira Sanzio Mendonça Henriiques Wendell Brito Mineiro Zilmar Santos Cardoso ISBN - 978-85-7739-534-7 Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/ Unimontes Maria das Mercês Borem Correa Machado Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH/Unimontes Antônio Wagner Veloso rocha Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA/Unimontes Paulo Cesar Mendes Barbosa Chefe do Departamento de Comunicação e Letras/Unimontes Sandra ramos de Oliveira Chefe do Departamento de Educação/Unimontes Andréa lafetá de Melo Franco Chefe do Departamento de Educação Física/Unimontes rogério Othon teixeira Alves Chefe do Departamento de Filosofi a/Unimontes Ângela Cristina Borges Chefe do Departamento de Geociências/Unimontes Antônio Maurílio Alencar Feitosa Chefe do Departamento de História/Unimontes Francisco Oliveira Silva Jânio Marques Dias Chefe do Departamento de Estágios e Práticas Escolares Cléa Márcia Pereira Câmara Chefe do Departamento de Métodos e Técnicas Educacionais Helena Murta Moraes Souto Chefe do Departamento de Política e Ciências Sociais/Unimontes Maria da luz Alves Ferreira Ministro da Educação Aloizio Mercadante Oliva Presidente Geral da CAPES Jorge Almeida Guimarães Diretor de Educação a Distância da CAPES João Carlos teatini de Souza Clímaco Governador do Estado de Minas Gerais Antônio Augusto Junho Anastasia Vice-Governador do Estado de Minas Gerais Alberto Pinto Coelho Júnior Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior narcio rodrigues da Silveira Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes João dos reis Canela Vice-Reitora da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes Maria ivete Soares de Almeida Pró-Reitor de Ensino/Unimontes João Felício rodrigues neto Diretor do Centro de Educação a Distância/Unimontes Jânio Marques Dias Coordenadora da UAB/Unimontes Maria Ângela lopes Dumont Macedo Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes Betânia Maria Araújo Passos Autores Admilson Eustaquio Prates Doutorando em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP. Mestre em Ciências da Religião pela PUC/SP. Especialista em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília – UCB. Especialista em Bioética pela Universidade Federal de Lavras. Graduado em Filosofia pela Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes. Professor no departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes. Coordenador do Grupo de Extensão Filosofia na Sala de Aula – Pró- reitoria de Extensão/Unimontes. Autor dos seguintes livros: “Sala de Espelhos: inquietações filosófica” - Editora Unimontes e “Exu a esfera metamórfica” - Editora Unimontes. Organizador dos seguintes livros: “O fazer Filosófico” - Editora Unimontes; “Filosofia: educação infantil ao ensino médio. Temas e estratégias desenvolvidas em sala de aula” - Editora Unimontes. Harlen Cardoso Divino Graduado em Ciências da Religião pela Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes. Pós-Graduando em Didática e Metodologia do Ensino Superior pela Unimontes. Aperfeiçoamento em Tutoria de Educação a Distância - EaD. Atualmente Docente Formador (UAB - Unimontes). Cursando o Aperfeiçoamento em Educação Científica pelo CAED/UFMG e Centro Pedagógico da Escola de Educação Básica e Profissional - CP/UFMG. Ex-Bolsista (FNDE) do Programa de Educação Tutorial em Ciências da Religião - PETCRE/ Unimontes [Capacitado como Professor Pesquisador, tendo experiência de atuação nas temáticas de: Religião, Religiosidade, Religiões de matriz Afro-brasileira e Oriental, Ação Social das Instituições Religiosas, Vida Humana, Cinema comentado, Produção audiovisual e de materiais didáticos]. Shirlene dos Passos Vieira Santos Mestre em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC/SP. Especialista em Ciências das Religiões: Metodologia e Filosofia do Ensino pela Faculdades Integradas de Jacarepaguá- FIJ em Rio de Janeiro - RJ. Graduada em Ciências da Religião pela Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes. Graduada em História pelas Faculdades Integradas do Norte de Minas em Montes Claros - MG. Professora da Universidade Estadual de Montes Claros no Departamento de Filosofia, Curso de Ciências da Religião. Professora da Secretaria Municipal de Educação - Disciplina: Ensino Religioso. Coordenadora do PIBID Interdisciplinar do Sub Projeto: Educar para a complexidade: formação de habilidades cognitivas e sociais. Sumário Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 Cosmovisão das Religiões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.2 Exploração conceitual: cosmovisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.3 Exploração conceitual: religião . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13 1.4 Exploração conceitual: cosmovisão das religiões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15 Unidade2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17 Religiões primitivas ou tribais e religiões africanas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17 2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17 2.2 Religiões primitivas ou tribais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17 2.3 O desenvolvimento das religiões primitivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19 2.4 Sistema simbólico e ritos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19 2.5 O pensamento reflexivo nas religiões tribais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21 2.6 O mito e a mística nas religiões tribais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21 2.7 A tradição oral do conhecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 2.8 Religiões tradicionais africanas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .25 Religiões orientais: Hinduísmo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 3.2 O Hinduísmo e sua localização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 3.3 Evolução do Hinduísmo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .26 3.4 Práticas espirituais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27 3.5 Deuses e lugares sagrados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28 3.6 Símbolo sagrado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29 3.7 Os textos sagrados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29 3.8 As crenças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31 Budismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31 4.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31 4.2 Budismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31 4.3 Antropologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42 Unidade 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45 Confucionismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45 5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45 5.2 Confucionismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45 5.3 História . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 5.4 Sistema simbólico e ritos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47 5.5 Pensamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 5.6 Mística. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49 5.7 Antropologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51 Unidade 6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53 Taoísmo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53 6.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53 6.2 Taoísmo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53 6.3 História . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55 6.4 Sistema simbólico e ritos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55 6.5 Pensamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 6.6 Mística. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .59 6.7 Antropologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .61 Resumo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63 Referências básicas e complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .65 Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .67 9 Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões Africanas e Orientais Apresentação Caro(a) acadêmico(a), o presente material sobre cosmovisão das religiões tem como pro- pósito apresentar o possível conceito de religião e estrutura simbólica, mística e ritualística das religiões africanas e orientais, tendo como perspectiva epistemológica e metodológica a Ciências da Religião. Os autores. 11 Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões Africanas e Orientais UniDADE 1 Cosmovisão das Religiões Admilson Eustáquio Prates 1.1 Introdução Prezados acadêmicos, este capítulo discu- tiráa noção de cosmovisão, especificamente cosmovisão das religiões. Vamos começar con- ceituando o que é cosmovisão, o que é religião, e, logo após esse exercício, aproximaremos os dois termos que formam um terceiro: cosmo- visão das religiões. Somos conhecedores da tensão epistemológica em trabalhar o conceito de cosmovisão e religião, pois ambos os termos trazem consigo lentes circunstâncias limitadas ao tempo e ao espaço. Dessa maneira, utilizare- mos a nomenclatura exploração conceitual para tentar construir uma paisagem mental que pos- sa representar o termo cosmovisão e religião. 1.2 Exploração conceitual: cosmovisão A estrutura humana não consegue viver, sobreviver em um ambiente caótico. A exis- tência humana, como poder ser percebido em várias culturas, é uma luta constante em negar o caos, a desordem. Não é uma negação no sentido que o caos não existe, mas uma ne- gação na tentativa em construir uma ordem sabendo da existência, da presença do caos. Desde os primórdios até os dias de hoje o in- divíduo procura encontrar uma ordem, uma regularidade nas coisas, na natureza. Enfim, as pessoas desejam a existência de uma ordem, mesmo que seja um ordenamento incognoscí- vel, fantástico, mirabolante. É comum encontrar, nas culturas, grupos sociais, narrativas, relato sobre o caos e como, a partir do caos, nasceu a ordem. Então, o que é o caos? Pode do caos nascer uma ordem? Como pode o caos produzir ordem? Entende-se por caos a desordem. Russ define caos da seguinte maneira: (...) abismo, espaço tenebroso que precede a aparição das coisas. A. Sentido filosófico geral: confusão ou desordem radical, estado de indiferen- ciação em que se confundem as potências criadora e destruidora. B. Religião: confusão e vazio anterior à criação. (...) “ideia de caos é, inicialmen- te, uma ideia energética: traz em seus flancos efervescência, cintilação, turbu- lência. O caos é um ideia que precede a distinção, separação, uma ideia, pois, de indistinção, de confusão entre potência destruidora e potência criadora, en- tre ordem e desordem (...) (RUSS, 1994, p. 29) Inicialmente, podemos explorar a concep- ção de caos como algo tenebroso, assustador, algo sem forma e vazio. Mas é desse vazio sem forma, confuso, desordenado anterior a toda a criação que surge a ordem. Podemos com- preender o caos como princípio primordial de tudo, princípio absoluto. Ele, o caos, vem do verbo grego que quer dizer “abrir-se, entrea- brir-se, significa abismo insondável (...) massa informe e confusa.” (BRANDÃO, 2009, p. 194) O caos é a desordem, a destruição e deve existir uma força maior e mais poderosa para conter a destruição e assim manter a regulari- dade do cosmo. Na tradição chinesa, o caos é o espaço homogêneo, anterior à divisão em qua- tro horizontes, que equivale à fundação do mundo. Essa divisão marca a passa- gem ao diferenciado e a possibilidade da orientação. É a base de toda organi- 12 UAB/Unimontes - 2º Período zação do cosmo. Ser desorientado significa tornar a entrar no caos. Dele não se sai senão pela intervenção de um pensamento ativo, que introduz contornos e separações no elemento primordial (...) (CHEVALIER; GHEERBRANT, 1993, p. 183) Na perspectiva chinesa será a intervenção de um pensamento ativo que dará a separa- ção do princípio primordial e a configuração do mundo. A busca pela ordem fez com que o ser humano inventasse estruturas simbólicas mágicas a partir daquilo que estava próximo a ele. Ou seja, é difícil sonhar, sentir, pensar além do ambiente no qual se vive. Dessa forma, arquitetaram-se mitos, ritos, símbolos mágicos, mística. Entendemos pelos exemplos apresenta- dos que a primeira compreensão e organiza- ção que o ser humano tem acerca do mundo é mítica. Isto é, o mito é uma narrativa sagra- da sobre a origem do mundo e de tudo que nele existe, com o propósito de organizar, no sentido de tranquilizar as pessoas perante o medo que a natureza provoca. Isto é, esta ordem não tem como base estruturante ex- plicar as coisas e o mundo, mas acalmar. As cosmogonias e as teogonias têm como fun- ção principal promover uma constelação sim- bólica de acolhimento e segurança. BOX 1 O mito [...] O verdadeiro substrato do mito não é de pensamento, mas de sentimento. O mito e a religião primitiva não são, de maneira alguma, totalmente incoerentes, nem destituídos de senso ou de razão; mas sua coerência depende muito mais da unidade de sentimento que de regras lógicas. Esta unidade é um dos impulsos mais vigorosos e profundos do pensamento primitivo. Se o pensamento científico desejar descrever e explicar a realidade será obrigado a empregar seu método geral, que é o de classificação e sistematização. A vida é dividida em províncias separadas, que se distinguem nitidamente uma da outra. As fronteiras entre os rei- nos das plantas, dos animais, do homem – as diferenças entre as espécies, famílias e gêneros – são fundamentais e indeléveis. Mas a mente primitiva ignora e rejeita todas elas. Sua visão da vida é sintética e não analítica; não se acha dividida em classes e subclasses. É percebida como um todo ininterrupto e contínuo, que não admite restrições bem definidas e incisivas. Os limites entre as diferentes esferas não são barreiras intransponíveis, mas fluentes e flutuan- tes. Não existe diferença específica entre os vários reinos da vida. Nada possui forma definida, invariável, estática: por súbita metamorfose qualquer coisa pode transformar-se em qualquer coisa. Se existe algum traço característico e notável no mundo mítico, alguma lei que o go- verne, é o da metamorfose. Mesmo assim, dificilmente poderemos explicar a instabilidade do mundo mítico pela incapacidade do homem primitivo de apreender as diferenças empíricas das coisas. Nesse sentido, o selvagem, muito frequentemente, demonstra sua superioridade em relação ao homem civilizado, por ser suscetível a inúmeros traços distintivos, que esca- pam a nossa atenção. Os desenhos e pinturas de animais, que encontramos nos estádios mais baixos da cultura humana, na arte paleolítica, foram amiúde admirados pelo seu caráter na- turalista. Revelam assombroso conhecimento de toda sorte que formas animais. A existência inteira do homem primitivo depende, em grande parte, de seus dotes de observação e discri- minação: se for caçador, deverá estar familiarizado com os menores detalhes da vida animal e ser capaz de distinguir os rastros de vários animais. Tudo isto está pouco de acordo com a presunção de que a mente primitiva, por sua própria natureza e essência, é indiferenciada ou confusa, pré-lógica ou mística. O que caracteriza a mentalidade primitiva não é sua lógica, mas seu sentimento geral da vida. O homem primitivo não vê a natureza com os olhos do naturalista que deseja classificar coisas com a finalidade de satisfazer uma curiosidade intelectual, nem dela se acerca com um interesse puramente pragmático ou técnico. Não a considera mero objeto de conhecimento nem o campo de suas necessidades práticas imediatas. Temos o hábito de dividir nossa vida nas duas esferas da atividade prática e da teórica. Nessa divisão, somos propensos a esque- cer que existe um estrato inferior debaixo de ambas. O homem primitivo não é vítima deste tipo de esquecimento; seus pensamentos e sentimentos estão ainda encerrados nesse estrato original inferior. Sua visão da natureza não é meramente teórica nem meramente prática; é simpática. Se deixarmos escapar este ponto, não poderemos abordar o mundo mítico. O traço mais fundamental do mito não é uma direção especial de pensamento nem uma direção es- pecial da imaginação humana; é fruto da emoção e seu cenário emocional imprime, em todas as suas produções, sua própria cor específica. GlOSSáriO Autóctones: adj.m. e adj.f. Que é natural da região ou do territó-rio em que habita; aborígene, indígena; nativo. Diz-se daquilo que é natural da região onde ocorre. Originário do país em que habita e cujos ancestrais aí sempre habitaram: os berberes são popu- lações autóctones da África do Norte. linguística: Diz-se da língua que primeiro foi falada num país, numa região, bem como suas particularidades. Medicina: Que se formou ou teve origem no lugar em que foi encontrado: cisto Autóctone: s.m. e s.f. Pessoa nativa da região ou do território em que habita; aborígene, indígena. (Etm. do gre- go: authócton.on, pelo latim: autochthon.onis) AtiViDADE Sabemos que cosmo- gonia e cosmovisão não são sinônimos. Faça uma pesquisa apresentando as carac- terísticas e os conceitos de cada termo. 13 Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões Africanas e Orientais O homem primitivo não carece, de maneira nenhuma, da capacidade de apreender as dife- renças empíricas das coisas. Mas, em sua concepção da natureza e da vida, todas as diferenças são apagadas por um sentimento mais forte: a profunda convicção de uma fundamental e in- delével solidariedade da vida, que transpõe a multiplicidade e a variedade de suas formas isoladas. Não atribui a si mesmo um lugar único e privilegiado na escala da natureza. [...] Fonte: (CASSIRER, 1972, p. 134-136.) Além de tranquilizar, o mito tem algumas funções, conforme Campbell: Cada indivíduo deve encontrar um aspecto do mito que se relacione com sua própria vida. Os mitos têm basicamente quatro funções. A primeira é a função mística e é disso que venho falando, dando conta da maravilha que é o uni- verso, da maravilha que é você, e vivenciando o espanto diante do mistério. Os mitos abrem o mundo para a dimensão do mistério, para a consciência do mistério que subjaz a todas as formas. Se isso lhe escapar, você não terá uma mitologia. Se o mistério se manifestar através de todas as coisas, o universo se tornará, por assim dizer, uma pintura sagrada. Você está sempre se dirigindo ao mistério transcendente, através das circunstâncias da sua vida verdadeira. A se- gunda é a dimensão cosmológica, a dimensão da qual a ciência se ocupa, mos- trando qual é a forma do universo, mas fazendo-o de tal maneira que o misté- rio, outra vez, se manifeste. Hoje, tendemos a pensar que os cientistas detêm todas as respostas. Mas os maiores entre eles dizem-nos: Não, não temos todas as respostas. Podemos dizer-lhe como a coisa funciona, mas não o que é. Você risca um fósforo. O que é o fogo? Você pode falar de oxidação, mas isso não me dirá nada. A terceira função é sociológica, suporte e validação de determina- da ordem social. E aqui os mitos variam tremendamente, de lugar para lugar. Você tem toda uma mitologia da poligamia, toda mitologia da monogamia. Ambas satisfatórias. Depende de onde você estiver. Foi essa função sociológica do mito que assumiu a direção do nosso mundo e está desatualizada. A quarta função do mito, aquela, segundo penso, com que todas as pessoas deviam ten- tar se relacionar a função pedagógica, como viver uma vida humana sob qual- quer circunstância. Os mitos podem ensinar-nos isso. (CAMPBELL, 1990, p. 32). Mesmo com todo avanço e conhecimento relacionados à ciência, a tecnologia e as socieda- des se estruturam e se organizam em torno do mito e seus ritos para manter a coesão social. 1.3 Exploração conceitual: religião Faremos neste tópico o exercício de ex- ploração conceitual acerca do que possa ser religião. Inicialmente, quando nos referimos à religião, associamos imediatamente ao cristia- nismo e depois às religiões monoteístas: juda- ísmo e islamismo. Quando um ocidental pergunta ou se re- fere ao conceito de religião, ele traz consigo na pergunta a herança sociocultural da sociedade judaíca-cristã filosófica, que comumente a cha- mamos de civilização ocidental. Esta cultura tem como pilares as matrizes judaica, cristã e a filosofia. Esses pilares constroem as lentes com as quais olham os outros e a si mesmo. É uma lente reducionista e limitada quando olha, por exemplo, o mundo asiático, as nações indíge- nas no Brasil e os povos da África Negra. A cultura é construída a partir da relação que os indivíduos travam com o meio em que vivem. E os conceitos, os costumes, os com- portamentos, as crenças estão condicionadas a esta herança formativa, isto é, a compreen- são de certo ou errado, justo ou injusto, sagra- do ou profano, deuses ou demônios, tabus ou permissões, a noção de honra e de desrespei- to, enfim, ao seu ordenamento simbólico. As- sim, a herança conceitual que possuímos de religião é: Lat. religio, prática religiosa, culto, religião - de relegere, colher novamente, reu- nir, ou de religare, ligar, vincular. A. Subjetivamente: sentimento interior do Sagrado, com crença na divindade e fé. B. Objetivamente: instituição cujo objeto é honrar e prestar homenagem a Deus. Conjunto de práticas e ritos relativos a uma realidade sagrada, separada do profano. (RUSS, 1994, p. 251) 14 UAB/Unimontes - 2º Período É um ótimo conceito quando se refere à dimensão e compreensão do mundo a par- tir da cosmovisão cristã. Pois, conforme esta cosmovisão, o ser humano havia desligado de Deus, ou seja, há uma separação entre o sagra- do e profano. Mas esse conceito não consegue apreender a concepção de mundo para o bu- dista, o taoista, o hinduísta, por exemplo. Freud, em sua obra O Futuro de uma ilu- são, apresenta religião como sendo uma neu- rose obsessiva, isto é, “A religião seria a neuro- se obsessiva universal da humanidade: como a da criança, ela deriva do complexo de Édipo, das relações da criança com o pai” (FREUD, 1996, p. 61). Dessa forma, Freud percebe a reli- gião como relíquias neuróticas. Em Durkheim, na obra As Formas Ele- mentares da Vida religiosa, ele define reli- gião como “um sistema de solidário de cren- ças e práticas relativas a coisas sagradas, isto é, separadas, proibidas, crenças e práticas que unem numa mesma comunidade moral, chamada Igreja, todos os que a ela aderem.” (DURKHEIM, 1979, p. 65). Na definição, ele liga religião ao sagrado, dizendo que é um siste- ma de crença com dimensão sagrada e co- mum a um determinado grupo. Para Marx, a religião está relacionada à sanção moral ou a um código de conduta, à compreensão geral do mundo e à dimensão fantástica do indivíduo. Assim escreve Marx: Religião é a teoria geral deste mundo, sua soma enciclopédica, sua lógica sob forma popular, seu ponto de honra espiritualista, seu entusiasmo, sua sanção moral, seu complemento solene, sua consolação e sua justificação universais. É a realização fantástica do ser humano, porque o ser humano não possui verda- deira realidade. (MARX; ENGELS, 1988, p. 41) Por outro lado, Marx entende que a re- ligião “(...) é o suspiro da criatura oprimida, a alma de um mundo sem coração, como ela é o espírito de condições sociais de onde o es- pírito é excluído. É o ópio do povo” (MARX; ENGELS, 1988, p. 48). Isto quer dizer que é na esfera da religião que o ser humano consegue realizar os seus desejos e anseios como dimen- são do suspiro dos oprimidos. Inicialmente havíamos dito que definir religião seria algo complicado. E nosso pen- samento continua o mesmo, segundo Brelich (1982, p.7): “nenhuma língua dos povos primi- tivos, ou das civilizações arcaicas, nem mes- mo o grego e o latim possuem esse termo”. A antropóloga Paula Montero explica como a palavra religio surge: No caso das sociedades indígenas, ainda que se façam distinções práticas en- tre as funções dos xamãs e dos feiticeiros, por exemplo, elas não implicam em uma distinção correlata entre os fatos religiosos e outras ordens de fatos. Sua reificação enquanto “entidade de interesse especulativo” tampouco exis- tia no mundo romano. Religiono latim referia-se à existência de um poder fora do homem (mas não transcendente), ao qual ele estava obrigado: o sen- timento de piedade que os homens tinham com relação a esse poder ordena- va os comportamentos corretos diante da res publica. Essa noção tinha, pois, uma dimensão jurídica, já que designava um conjunto de observância, regras e interdições que regulavam as relações humanas, sem referência à adoração de divindade ou a ritos. (MONTERO, 2006, p. 250) O cristianismo incorpora a palavra reli- gio, adicionando nela a cosmovisão cristã, por exemplo, a ideia de transcendente. Após trilhar os possíveis conceitos de religião, o leitor pode ficar com a seguinte pergunta: posso aplicar ou não posso aplicar o conceito religião oriundo da matriz ociden- tal? Entendemos que o termo religião será aplicado no fenômeno religioso conforme a cultura geradora, mantendo-se, assim, uma coerência entre o fenômeno e o conceito: religião. 1.4 Exploração conceitual: cosmovisão das religiões Podemos entender por cosmovisão das religiões a maneira pela qual os indivíduos, reunidos em sociedade ou em grupo ou em uma comunidade, organizam e interpretam o mundo e tudo que existe. Além disso, organi- zam e interpretam a vida e sua relações com a DiCA Conheças várias religiões acessando o site <http://www. mundoeducacao.com/ geografia/as-religioes- -no-mundo.htm> 15 Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões Africanas e Orientais natureza e com os outros seres humanos. Então, cosmovisão da religião é uma saber, uma ferramenta que possibilita à dis- ciplina Ciência da Religião entender e com- preender o mundo tendo como lente cosmo – ordem – a visão das religiões. Para isto, não entramos no mérito se Deus ou deus ou deu- ses existe(m) ou não; se a ideia de sagrado é correta ou não. O que nos interessa é poder alargar nossa compreensão de mundo olhan- do para o outro como um ser humano que de- seja, sente, pensa e age assim como qualquer ser humano do planeta Terra. O estudo da cosmovisão das religiões nos permite entrar na dimensão mais íntima do ser humano: na sua identidade. Referências BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. BRELICH, Ângelo. In: PUECH, HC (org.). Histoire dês religions – Encyclopédie de la pêiade. Pa- ris: Gallimard, 1982. CAMPBELL, J. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Athenas, 1990. CASSIRER, Ernst. Antropologia filosófica.São Paulo, Mestre Jou, 1972. CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos. 7. ed. Rio de Janeiro: José Olym- pio, 1993. DURKEIM, Émile. As Formas Elementares de Vida religiosa: o sistema totêmico na Austrália. São Paulo; Ed.. Paulinas, 1979 FREUD, S. O mal-estar na civilização (1930). In: ______. O futuro de uma ilusão, o mal-estar na civilização e outros trabalhos (1927-1931). Direção-geral da tradução de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1996, p. 67-153. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 21). MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. 7. ed. São Paulo: Global, 1988. MONTERO, Paula. Religião, modernidade e cultura: novas questões. In: TEIXEIRA, Faustino, MENE- ZES, Renata (orgs). As religiões no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. RUSS, Jacqueline. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Scipione, 1994. PArA SABEr MAiS As Ciências da Religião estudam o fenômeno religioso nos seus múltiplos contextos histórico, social e cul- tural. Partindo da con- tribuição dos diversos instrumentais teóricos, oriundos das ciências humanas, procura, de forma interdisciplinar, analisar as diferentes manifestações, nas suas múltiplas contextuali- dades, que as religi- ões assumem na sua relação com a cultura e a sociedade. Fonte: Disponível em <http://www.unicap.br/ pos/ciencias_religiao/ apresentacao.htm> acesso em 18 ago. 2013. 17 Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões Africanas e Orientais UniDADE 2 Religiões primitivas ou tribais e religiões africanas Shirlene dos Passos Vieira Santos 2.1 Introdução Desde os primórdios de sua existência, o ser humano teve sua evolução e desenvol- vimento social vinculados às suas crenças. Com o tempo, essas crenças foram se desen- volvendo e se diferenciando através do sur- gimento de novas teorias e das diferentes in- terpretações do que já existia, Dando origem, assim, a uma série de religiões, que muitas vezes se misturam compartilhando ideias ou, ao contrário, gerando conflitos. Hoje são clas- sificadas como religiões primitivas ou tribais as primeiras formas de manifestação religio- sa e, nesse contexto, enquadra-se a religiões primitivas africanas, classificadas nessa cate- goria e pertencentes a esse grupo. Faremos, portanto, a descrição dando um quadro geral e destacando aspectos das religiões primi- tivas ou tribais com a finalidade de encerrar abordando o contexto das religiões tradicio- nais africanas. 2.2 Religiões primitivas ou tribais As religiões tribais ou primais são aquelas que os estudiosos chamavam de “religiões pri- mitivas”. São encontradas em culturas ágrafas entre as tribos de populações da África, Ásia, América do Norte e do Sul e Polinésia. O que caracteriza essas religiões são a crença em es- píritos e deuses que podem transformar o co- tidiano, em geral apresentado por um conjun- to de mitos, estórias contadas de forma oral e que explique a realização dos ritos. As religiões tribais remontam de um pas- sado de cerca de três milhões de anos. São compostas de pequenos grupos de pessoas que trazem seus conhecimentos e os trans- mitem oralmente, já que a escrita lhes é des- conhecida. Esses povos vivem em pequenas comunidades, divididos por clãs ou tribos, por isso o uso do termo tribal. Sobreviviam da agricultura de subsistência. “As ciências naturais nos ensinam que o mundo, a terra e o homem se desenvolveram lentamente ao longo de milhões e bilhões de anos!” (KUNG, 2004, p. 19). Nesses povos não há aspectos separados da vida social, ou seja, as políticas e as religi- ões estão imbuídas de uma mesma justificati- va, consolidadas pela tradição. Em termos cro- nológicos, essas religiões representam apenas uma ponta do iceberg religioso presente no mundo, de acordo com Smith (1986), em seu livro “As religiões do mundo”. Religiões primitivas ou tribais possuem características similares entre si, já que elas dedicam exclusiva atenção aos seus mortos. O homem ao se dedicar a essas práticas tinha como objetivo chamar a atenção de entidades superiores. Quanto à questão dos mortos, des- de o início do desenvolvimento das sociedades ainda não existia diferença entre o poder secu- lar e o poder espiritual, apesar de que alguns aspectos dessas descobertas não estarem to- talmente esclarecidos. Verifica-se, através dos antropólogos que trabalham nas escavações do habitat de antigas tribos, que o cuidado com os mortos demonstra a crença em uma sobrevivência individual após a morte. Na opinião da antropologia e dos etnó- logos, a religião dos primeiros povos consistia em práticas mágicas, cujo objetivo era aplacar as forças da natureza, dos espíritos dos mortos ou criar vínculos mágicos com animais caçados pelas tribos. Por isso houve muitas tentativas de explicar como surgiram as religiões. Uma dessas explicações foi a de que o homem teve 18 UAB/Unimontes - 2º Período suas primeiras percepções através do seu coti- diano, relacionando fenômenos individuais aos fenômenos naturais, ou seja, seus sentimentos como frio, fome, prazer e dor estavam direta- mente ligados aos fenômenos da natureza, sobre os quais ele não tinha nenhum controle. Também quando ele começou a obter noções de tempo, através de certa periodização comodia e noite, luz e escuridão. Já as primeiras manifestações concretas foram os registros simbólicos. O símbolo re- presentava aquilo que os seres humanos acre- ditavam. O símbolo surgiu como a primeira forma de expressão e comunicação da humanida- de. De acordo com Croatto (2001, pag. 81), “o símbolo é a chave da linguagem inteira da ex- periência religiosa.” Destacaremos com mais evidência os sistemas simbólicos no texto à frente. No aspecto social não há possibilidade de separar a religião da vida social. Sua história remonta a desde o aparecimento do primeiro ser humano, com os cultos da fertilidade. Seu sistema simbólico e ritual está centralizado e representando por um corpo de crenças co- muns ao grupo. O grupo tribal, de acordo com Gaarder (2005, p. 40), carecia de um pensamento abs- trato que lhe permitisse uma postura mental reflexiva. Sua mística consistia numa forma de se situar no mundo, isto é, de encontrar o seu lugar entre os demais seres da natureza. Para explicar essa questão, tomemos como exemplo as culturas ágrafas que registrava os fenômenos naturais ou mesmo ou fatos de sua construção cultural através de seus desenhos. De acordo com Mircea Eliade (1978), pinturas rupestres da França e Espanha, datando de cerca de 30.000 a 14.000 anos a.C., represen- tam aspectos desse relacionamento mágico- -religioso que nossos antepassados tinham com a natureza. Podemos citar como exemplo: Na Aus- trália, o gigantesco monólito do Uluru, cha- mado atualmente de Ayer’s Rock; vestígios de vida humana, esqueletos, utensílios e pedra e pinturas rupestres dão conta que é possível o homo sapiens ter evoluído lá. Os aborígenes, seus habitantes originários, deixaram seus símbolos nas pinturas rupestres e os renova- vam constantemente. Com cerca de 230 mil aborígenes na Austrália, poucos tentam viver da forma tradicional, como viviam os antepas- sados há dez mil anos – caça, colheitas, frutos selvagens, raízes e pequenos animais são sua dieta (KUNG, 2004, p. 19-20). Outro exemplo descrito por Kung (2004) é com relação à ima- gem dos homens que vivem na Austrália. Ele descreve que William Dampier, pirata e des- cobridor inglês, vê os habitantes da região “como as pessoas mais miseráveis do mundo, sem vestuário e sem casas.” Ele destaca que viviam em solidariedade, “mas seriam feios, quase não se diferenciando dos animais.” (KUNG, 2004, p. 20). PArA SABEr MAiS Leitura do autor: KUNG, Hans. Religiões do mundo: em busca de pontos comuns, Cam- pinas, Versus editora, 2004. Figura 1: Aborigenes australiano Fonte: Disponível em indios.htmlhttp://tvchar- mosa.blogspot.com. br/2010/06/aborigenes- -australianos-e-indios. html Acessado em 09 jan. 2014. ► GlOSSáriO tribo: (do latim: tribu) é o nome que se dá a cada uma das divisões dos povos antigos, possuindo um território e com algum tipo de comando, possuindo em comum a mesma ancestralidade. Fonte: Disponível em http://pt.wikipedia.org/ wiki/Tribo acessado em 09 jan. 2014. 19 Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões Africanas e Orientais Em relação à vida religiosa destes povos, enfocaremos com mais redundância nos pró- ximos itens, destacamos apenas que suas re- ligião concebe uma infinidade de forças que controlam o cotidiano. Através de espíritos e deuses podem indicar ações, como cultos aos antepassados e ritos de passagem. Em geral, a figura do sacerdote é unificada e também é o líder político (GAARDER, 2005, p. 40). 2.3 O desenvolvimento das religiões primitivas Foi no final do Paleolítico que surgiram os cultos da fertilidade, cujas deusas, de formas voluptuosas, foram representadas em diversas estatuetas esculpidas em ossos de urso e rena. A partir do período Neolítico, há cerca de 8.000 anos, quando em determinadas regi- ões (Oriente Médio, noroeste da Índia e sul da China) começa a ser praticada regularmente a agricultura, surgem as religiões organizadas. Estas já haviam evoluído para uma organiza- ção permanente, dispondo de um corpo sa- cerdotal, ritos estabelecidos, local de culto fixo e organização patriarcal. Os reis foram considerados os primeiros deuses senhores da terra. A crença em deuses se desenvolveu letamente com o início das ati- vidades agrícolas e com a fixação no solo. Eles eram corporificados e concentravam sua auto- ridade sagrada e poder disciplinar para a evo- lução das primeiras sociedades. Um exemplo citado por Cupitt – filosofo inglês da religião e estudioso de teologia cristã, que se dedicou ao estudos da origem das sociedades, no seu livro ” Depois de Deus”é quanto a Faraó do Egito, que, além de rei, era personificação de um deus. E dos reis da Babilônia, China e Mé- xico que eram filhos de deuses. Don Cupitt ainda declara que a transição das crenças dos povos nômades vai acontecer com o início do sedentarismo em que surgem as religiões dos centros urbanos. Apesar do poder de dominação dos cor- pos e das mentes, nem sempre a ideologia re- ligiosa foi integralmente hegemônica. Todas as culturas, grupos e indivíduos criticaram a religião estabelecida ou as crenças sobrena- turais, de maneira geral. Em 2000 a.C. surgem, em diversas regiões, movimentos de crítica às religiões dominantes (Egito, Babilônia, Irã, Gré- cia). Segundo Mircea Eliade: “Esse desespero não surge de uma meditação sobre a inutilidade da existên- cia humana, mas da experiência da injustiça generalizada: os maus triunfam e as orações não surtem efeito; os deuses parecem indiferentes aos problemas humanos. ”(ELIADE, 1978. pag. 122). Nem todos eram submissos ao poder instituído. Sempre nasciam resistências por parte de pequenos grupos que se consideravam injustiçados com a estrutura de poder e acabavam se re- belando e criando novas formas de crenças. 2.4 Sistema simbólico e ritos Como descrito no texto acima, o surgi- mento dos símbolos foi a primeira forma de expressão e comunicação da humanidade. As marcas deixadas nas paredes das cavernas eram, uma tentativa de compreender o mun- do. Sob o aspecto social, a religião cimenta a união entre grupos humanos; sejam tribos, povos ou países. Com isso, vieram formas de manifestação dessas crenças através dos ri- tos e símbolos. Representando um corpo de crenças comuns ao grupo, com as quais este se identifica, a religião atua como elemento de coesão social, mantendo as relações sociais. Ao mesmo tempo, a religião legitima estrutu- ras sociais, leis, costumes e práticas políticas. Símbolo: sua etimologia provém do gre- go sum-ballo, ou sym-ballo, e refere-se à união de duas coisas. Era um costume grego que, ao se fazer um contrato, fosse quebrado em duas partes um objeto de cerâmica, então cada pes- soa levava um dos pedaços. Uma reclamação 20 UAB/Unimontes - 2º Período posterior era legitimada pela reconstrução (por junto= symbollo) da cerâmica destruída, cujas metades deveriam coincidir. A união das partes permitia reconhecer que a amizade permanecia intacta (CROATTO, 2001, p.85). Sobre este aspecto da crença, David Hume, em “Diálogos sobre a Religião Natural”, observou: “Que privilégio peculiar tem esta pequena agitação no cérebro, que nós chama- mos de pensamento, que precisamos fazê-la o modelo de todo o universo?” (Hume, Dialo- gues, parte II). Porém, determinar que a reli- gião seja apenas um conjunto de crenças de determinado grupo é simplificá-la. A complexidade das diferentes teologias religiosas, as elaboradas cosmologias e os va- riados rituais de culto têm uma riqueza muito maior e representam muito mais do que um simples conjunto de crenças. Não podemos deixar de considerar o quanto as religiões in- fluenciam as sociedades nas quais são prati- cadas, em seus diversos aspectos: artes,moral, costumes, tecnologias, práticas econômicas, entre outros. Considerada como um lugar mágico e misterioso, as cavernas proporcionavam aos homens uma proteção dos perigos externos. Esses perigos e os eventos naturais foram iden- tificados como divinos, pois justificavam os fa- tos acontecidos e, numa tentativa de apaziguar seu sofrimento, o homem procurava interagir com eles, criando a linguagem simbólica. O símbolo foi empregado de forma a re- presentar essas divindades e ainda criar um meio de comunicação com elas. A linguagem simbólica, traz uma luz de entendimento, lu- gares que contam histórias, imagens com emoção que expressam o mistério da vida e da morte e representam a certeza de que esta- mos vivos. Os símbolos também representam a conquista de um homem ou de um povo, ex- primem suas vidas, tudo que as palavras não conseguem dizer, história de um povo, que vai permanecer viva. Com o tempo, o homem se organizou em sociedade e compartilhou ideias e pensamen- tos, criando elementos simbólicos representa- tivos expressos no rito. Rito, etimologicamente, provém da pala- vra latina ritus e é próxima da palavra sanscri- to – vedica rta(rita), que significa a força da or- dem cósmica sobre a qual velam divindades. O rito não é uma ação puramente humana ou in- ventada por uma pessoas qualquer, conforme declara Croatto. Ele é , de alguma forma, uma ação divina , uma imitação dos que fizeram os Deuses. Por isso, deve ser repetido como uma ação divina chamada ritual. O ritual é uma forma generalizada de comportamento religioso que surgiu nas cul- turas primitivas. Com culturas que expressa por rituais e ritualizada em ações. Os rituais possuem formas e funções variadas. Podem ser realizados para assegurar a favor do divi- no, para afastar o mal, ou para marcar uma mudança cultural no estado. Na maioria, é um mito etiológico que fornece a base para o ri- tual em um ato divino ou de injunção. Geral- mente, eles expressam grandes transições na vida humana como: nascimento, puberdade (o reconhecimento e expressão sexual no es- tado), casamento (a aceitação de um adulto papel na sociedade) e morte (o regresso ao mundo dos antepassados). Eles variam na for- ma, na importância e na intensidade de uma cultura, porque são vinculados a vários outros significados e rituais. Nas religiões tribais, a puberdade e o ca- samento são rituais que simbolizam o fato de que as crianças estão adquirindo papéis adul- tos no sistema de parentesco, em particular, e na cultura, em geral. A maioria das culturas Figura 2: Pinturas Rupestres Fonte: Disponível em http://cultura.cultura- mix.com/curiosidades/ pinturas-rupestres&docid Acessado em 09 jan. 2014. ► 21 Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões Africanas e Orientais primitivas considera os rituais em torno desses eventos muito importantes. Outros rituais são associados com o iní- cio do novo ano e com a plantação e a colhei- ta em sociedades agrícolas. Outros rituais são encontrados na caça - e – no recolhimento da caça pelas sociedades, estas têm por objetivo aumentar o jogo e dar o maior caçador proe- za. Outra classe dos rituais está relacionada a eventos pontuais, como a guerra, secas, catás- trofes ou eventos extraordinários. Esses ritu- ais são habitualmente destinados a apaziguar forças sobrenaturais ou seres divinos que po- deriam ser a causa do evento, ou para desco- brir qual o poder divino que está causando o evento e por quê. Enquanto alguns rituais co- municam convite para participação, outros são restritos por sexo, idade e tipo de atividade. Assim, ritos para iniciação de machos e fêmeas são separados, e só caçadores podem partici- par das caças rituais. Há também ritual limita- do aos guerreiros, ferreiros, mágicos e adivi- nhos. Nessa perspectiva, o homem começa a desenvolver uma postura mental reflexiva. 2.5 O pensamento reflexivo nas religiões tribais O homem, no início da civilização, care- cia de um pensamento abstrato que lhe per- mitisse uma postura mental reflexiva, e, com um desenvolvimento psíquico ainda muito rudimentar, mantinha suas percepções tão somente da realidade física que o cercava. Incapaz, pela ausência de conhecimento, de conceber um ser imaterial, sem forma determi- nada, atuando sobre a matéria, conferiu-lhe o homem atributos da natureza corpórea, isto é, uma forma e um aspecto. Desde então, tudo o que parecia exceder os limites da inteligência comum era, para ele, uma divindade. Tudo o que não compreendia devia ser obra de uma energia sobrenatural. De acordo com Guari- nello (2003), historiador e antropólogo, no seu livro “Uma morfologia da história”, a evolução se deu através da preparação e imitação de es- tratégias para caçar, coletar alimentos e se de- fender, a capacidade de reconhecer terrenos e deslocar por eles usando referências visuais como montanhas, a diferenciação das plantas e do solo e a observação das estrelas, a neces- sidade de cultivar alimentos e desenvolver fer- ramentas e armadilhas, usadas também para a caça e para a guerra. A fala foi desenvolvida, inicialmente, atra- vés de grunhidos, chiados e imitando os sons de outros animais. No princípio, os homens agiam basicamente por instinto: eram caça- dores e coletores nômades. Com o tempo, seu comportamento foi evoluindo e passaram à prática agrícola. A partir desse momento, eles começaram a criar assentamentos de forma a proteger sua lavoura de saqueadores. As formas que eles usaram para transmitir o conhecimento humano foram a imitação, o desenvolvimento da fala, a formação e trans- missão dos arquétipos, a formulação de regras e princípios místicos que se formaram basea- dos em sua relação e observação da natureza e, posteriormente, pela descoberta das rela- ções matemáticas, numéricas e geométricas do ambiente, sendo nossas primeiras referên- cias históricas os sumérios, os egípcios, os assí- rios, os babilônios e os gregos. 2.6 O mito e a mística nas religiões tribais Eliade (2001), define mito como aquilo que não se deixa integrar na realidade. Para ele, o mito seria um produto da imaginação de um estado imperfeito da linguagem. Já para Wundt (1980), fundador da psicologia moderna, o mito reproduz as representações do espírito popular, enquanto condicionado por sentimentos e impulsos. Tylor (1832) de- clara que a mitologia nasce com a passagem da magia a religião. Chegamos em Maria Lúcia de Arruda Aranha, e, Maria Helena Pires Mar- tins, no artigo “Temas de Filosofia”, que define mito da seguinte forma: “mito entre os povos primitivos, é uma forma de se situar no mun- DiCA rito: Em primeira apro- ximação, o rito aparece como uma norma que guia o desenvolvimen- to de uma ação sacra. O rito é uma prática periódica, de caráter social, submetida a regras precisas. Em sua exterioridade, porém, a norma é uma “rubrica” e não define realmente o que é um mito (CROAT- TO. 2001, p. 330). 22 UAB/Unimontes - 2º Período do, isto é, de encontrar o seu lugar entre os demais seres da natureza” e sobre mística elas apontam que “explicam parte dos fenômenos naturais ou mesmo a construção cultural, mas que dão, também, as formas da ação huma- na”. Continua da seguinte forma: “Devemos salientar, entretanto, que, não sendo teórica, a verdade do mito não obedece a lógica nem da verdade empírica, nem da verdade cientí- fica. É verdade intuída, que não necessita de provas para ser aceita”. Já o antropólogo Levi- Strauss (1957), que estudou os povos primitivos, ajuda-nos a entender que os chamados selvagens não são atrasados ou menos evoluídos, selvagens nem primitivos, apenas operam com o pen- samento mítico. A mística (mito) e o rito, es- creve Lévi-Strauss, “não são simples lendas fabulosas,mas uma organização da realidade a partir da experiência sensível enquanto tal”. E, para explicar a composição do mito, ele or- ganizou três características principais: função explicativa, o presente é explicado por alguma ação passada cujos efeitos permaneceram no tempo; função organizativa, o mito organiza as relações sociais (de parentesco, de sexo, de aliança, de poder, de identidade etc.) de modo a legitimar e garantir a permanência de um sistema complexo de proibições e permissões; e, por fim, uma função compensatória, em que o mito narra uma situação passada, que é a negação do presente e que serve tanto para compensar os homens de alguma perda como para garantir-lhes que um erro passado seja corrigido no presente, de modo a oferecer uma visão estabilizada e regularizada da natu- reza e da vida comunitária que tem no tempo um termômetro da vida. Afogado no tempo místico, um vasto oceano sem margens e marcos, o mito é a representação fantástica do passado na con- cepção do desenrolar da vida, isso predomina até nos gestos mais prosaicos do soberano do povo tribal sob a forma de costumes, dos tempos imemoriais. Nessa situação, o tempo não é a duração capaz de dar ritmo a coletivi- dade, o tempo engloba e integra a eternidade em todos os sentidos, a causalidade atua em todas as direções: o passado sobre o presente, e o presente sobre o futuro. Essa concepção mítica e coletiva era tal que o tempo tornava- -se um atributo da soberania dos líderes. O sentimento de autor-regulação da autonomia da comunidade era vivo e poderoso, justifi- cando as ações através da repetição dos atos dos ancestrais. 2.7 A tradição oral do conhecimento Uma sociedade oral reconhece a fala não apenas como um meio de comunicação diária, mas como meio de preservação da sabedoria dos ancestrais. A tradição oral pode ser defini- da como um testemunho transmitido verbal- mente de uma geração para outra. A palavra tem um poder misterioso, de acordo com J. Vansina, pois palavras criam coisas. A oralidade é uma atitude diante da reali- dade e não ausência de uma habilidade. A tra- dição requer um retorno contínuo à fonte. Está caracterizada no verbalismo e na sua maneira de transmissão, na qual difere das fontes escri- tas. Ela absorve tudo que é importante para o perfeito funcionamento de suas instituições e a compreensão dos vários status sociais e seus respectivos papéis para os direitos e obri- gações de cada um, tudo é cuidadosamente transmitido. A palavra, diz A. Hampaté Ba, es- tudioso da tradição, tem um poder criador , mas também a dupla função de conservar e destruir. Está baseada na concepção do ho- mem, do seu lugar e do seu papel no universo. Tudo está ligado, tudo é solidário e é o com- portamento do homem em relação a si mes- mo o objeto de regulação da vida. Dentro des- se contexto de religiões primitivas e tribais se encontram as religiões tradicionais africanas. 2.8 Religiões tradicionais africanas A religião está impregnada em toda a vida individual do africano, que é um ser pro- fundamente religioso. Religião não é simples- mente um conjunto de crenças, mas um modo de vida, fundamentado na cultura, na identi- dade e nos valores morais dos africanos. É um 23 Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões Africanas e Orientais elemento essencial que contribui na ação cria- dora. A sociedade africana está ancorada na religião tradicional, mesmo tendo se expandi- do as influências cristãs e islâmicas. O cristianismo e o islamismo na áfrica se instalaram sem renunciar os valores funda- mentais da religião tradicional africana ou a experiência histórica africana. Será abordada essa questão nos escritos sobre o islã e o cris- tianismo na África. A religião tradicional africana consiste em explorar as forças da natureza conforme vimos acima quando descrevemos sobre re- ligiões primitivas, uma vez que elas estão en- quadradas nessa categoria, e sistematizam os novos conhecimentos sobre ambiente humano e físico. Seu desejo sempre foi com- preender os inúmeros aspectos da natureza e de fazer frente a eles, conforme declara Ajayi (1985), historiador da religião africana. Ela não é uma religião de proselitismo e sim aberta a todos, já que tolera a inovação religiosa como manifestação de um novo saber, sempre es- perando interpretar mais e interiorizar estes conhecimentos no âmbito da cosmologia tra- dicional. As religiões tradicionais africanas mani- festam o respeito pelos ancestrais através das libações, crê-se, ainda, que eles intervêm na vida de seus sucessores e que existem forças do bem e do mal que são passíveis de mani- pulação pela acessão direta às divindades, por meio das orações e do sacrifício. Acreditam que os talismãs e os amuletos são eficazes para afastar o mal. A fé nos espíritos ou na bru- xaria nas relações sociais consiste em um fator importante. Essas práticas, deixando de ser elemento religioso, também são consideradas costumes, tradição e elementos do patrimônio cultural. Constata-se, com isso, uma solidarie- dade em meio a numerosas famílias expan- didas e clãs ou comunidades em torno dos espíritos ancestrais que são venerados periodi- camente nos ritos conduzidos por sacerdotes. Nas questões de saúde, a sociedade afri- cana amplia sua visão envolvendo o bem- es- tar na vida cotidiana, o sucesso da vida fi- nanceira, o trabalho, a saúde das crianças, a felicidade, a escolhas dos parceiros, a questão religiosa. Os males físicos representam uns deficiência derivada da cólera de uma força malévola a qual pode, ela mesma, provir de algum malefício ou da má qualidade das rela- ções do interessado com seus vizinhos, com um ancestral ou com uma divindade. Para su- perar a saúde do enfermo, o curandeiro devia interrogar o doente sobre o conjunto das rela- ções e, mediante a oração, o sacrifício ou am- bos, ele soluciona o problema, podendo tam- bém fazer uso de ervas e ou feitiços. Referências AJAYI, J. F. A.—“L’education dans l’Afrique contemporaine: historique et perspectives”, em: Le processus d’education et l’historiographie en Afrique, Historia Geral da Africa, Estudos e docu- mentos, n. 9, Paris, UNESCO,1985. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. temas de Filosofia. Editora Mo- derna: São Paulo, 1993. CROATTO. Jose Severiano. As linguagens da Experiência religiosa: Uma introdução a fenome- nologia da religião. São Paulo: Paulinas, 2001. DESCHAMPS, H. Historia Geral da áfrica, vol. II, Paris, PUE, 1971. ELÍADE, Mircea. O sagrado e o Profano - a essência das religiões. São Paulo: Martins Fontes, 2001. ________. História das Crenças e das ideias religiosas. 1. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978. ________. Mito e realidade. São Paulo: Editora Perspectiva, 2006. GAARDER, Jostein. HELLERN, Victor. NOTAKER, Henry. O livro das religiões. São Paulo, Compa- nhia das letras, 2005. GUARINELLO, Norberto Luiz. Uma morfologia da história: as formas da História Antiga. 2003. KUNG, Hans. religiões do mundo: em busca de pontos comuns, Campinas, Versus editora, 2004. AtiViDADE O estudo desta unidade descreve a evolução e desenvolvimento social do ser humano vinculados às suas crenças. Elabore uma síntese desse desenvol- vimento, apontando, de acordo com os texto, os seguintes aspectos: o conceito de tribal ou primitivo, seu desen- volvimento e suas ca- racterísticas e práticas. Você poderá pesquisar a temática para melhor desenvolver essa ativi- dade. E, posteriormen- te, você deverá discutir com os colegas, no fórum de discussão, em nossa sala virtual, sobre a temática. Em seguida, aponte a relação entre sistema simbólico, rito e religiões primitivas e africanas. 24 UAB/Unimontes - 2º Período LÉVI-STRAUSS, Claude. tristestrópicos. São Paulo: Anhembi, 1957. SMITH. Huston. As religiões do Mundo: Nossas grandes Tradições de Sabedoria. São Paulo, Cul- triz. 1986TYLOR, Edward Burnett .Primitive culture: researches into the development of mytholo- gy, philosophy, religion, art, and custom. Plenum Press, 1832. WUNDT. Wilhelm. And the making of ascientific psychology. New York / London: Plenum Press, 1980 25 Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões Africanas e Orientais UniDADE 3 Religiões orientais: Hinduísmo Shirlene dos Passos Vieira Santos 3.1 Introdução Os hindus são seguidores de uma religião conhecida como Hinduísmo. Esse nome foi criado por estudiosos ocidentais no século XIX. Os hindus denominam se conjunto de crenças “sanata- na dharma”, que significa “lei eterna” ou “ensinamento perpétuo”. O nome hindu foi usado ini- cialmente pelos antigos persas para designar o povo que vivia no leste do rio Indo. O hinduismo é uma das religiões mais antigas e mais difundidas no mundo. Surgiu há milhares de anos na Ín- dia, onde ainda vive a maior parte de seus seguidores. Trata-se de uma religião prática e flexível, permitindo que pessoas façam culto de diversas maneiras, segundo suas necessidades. 3.2 O Hinduísmo e sua localização Dois terços dos hindus vivem na Índia e nos países vizinhos como Pa- quistão, Nepal, Butão, Sri Lanka Ban- gladesh e Mianmar, mas há comunida- des hindus por todo o mundo. Cerca de 1.000 anos atrás viajantes levaram o Hinduísmo para Malásia, a Tailândia e outras partes do sudeste asiático, onde muitos hindus vivem e traba- lham. Países como Inglaterra, Canadá e Estados Unidos têm recebido gran- des números de hindus para viver e trabalhar. Já na África e Índias ociden- tais, os hindus são descendentes de trabalhadores que se estabeleceram nesses países no século XIX. Existem cerca de 700 milhões de hindus em todo o mundo. Originalmente, hinduismo indi- cava uma região geográfica. Por esse motivo, alguns grupos indianos mais tradicionalistas defendem que a reli- gião é mais adequadamente chama- da de Sanatana Dharma, significan- do “Religião Eterna”. É considerada a mais velha religião ainda existente no mundo. Ao contrário de outras gran- des religiões do mundo, o Hinduísmo não possui apenas um único fundador e estáa baseado em vários textos religiosos desenvolvidos por vários séculos que contém insights espirituais e providem um guia prática para a vida religiosa. Entre tais textos, os anti- gos Vedas são normalmente considerados os mais autoritários. As outras escrituras incluem os dezoito Puranas, e os épicos Mahabharata e Ramayana. O Bhagavad Gita que está contido Figura 3: Mapa da Índia Fonte: Disponível em http://upload.wiki- media.org/wikipedia/ commons/c/c1/India-CIA_ WFB_Map_%282004%29. png. Acessado em 9 jan. 2014. ▼ 26 UAB/Unimontes - 2º Período no Mahabharata, é um ensinamento ampla- mente estudado que nos dá uma destilação das verdades superiores dos Vedas. A esmagadora maioria vive na Índia, onde oito entre dez pessoas são hindus. Diz-se que se nasce hindu: não se pode torna-se um de- les. Mas os não hindus são livres para seguir os ensinamentos do Hinduísmo e utilizá-los como um guia de vida. Os hindus sempre le- vam suas crenças consigo. 3.3 Evolução do Hinduísmo Não há data que marque seu começo. Suas raízes datam de mais de 4.000 anos, no tempo da civilização do vale do indo, no oeste da Índia. Foram encontradas muitas imagens de argila entre as ruínas das cidades desse vale, algumas representando deuses e deusas semelhantes aos venerados ainda pelos povos hindus. A civilização do vale do Indo desmoronou por volta de 2000 a.C. cCerca de 500 anos mais tarde, o povo ária começou a chegar a Índia em grupos vindos do noroeste. Essa civilização do vale Indo encontra-se no apogeu. Seus dois centros são as cidades de Harappa e Mohejo- Daro. Sua religião misturou-se com a religião do vale Indo, formando a base do Hinduísmo. Os árias (homens) veneravam muitos deuses, a maioria vinculada à natureza e ao mundo ao redor deles. Os hinos religiosos cantados por seus sacerdotes ainda estão entre os textos mais sagrados dos hindus. O Hinduísmo hoje difundido remonta sua origens ao ano de 1500 a.C., a religião hindu foi estabelecida pelos in- vasores arianos da Índia. O mundo, conforme a concepção des- ta época, foi formado a partir da organização, GlOSSáriO Insight: s.m. Inglês (Estados Unidos) Psico- logia. Descoberta sú- bita da solução de um problema, da estrutura de uma figura ou de um objeto percebido; compreensão repen- tina de uma situação; intuição. DiCA As duas grandes cidades da civilização do vale do Indo eram Harappa e Mohenjo Daro. Os arqueólogos começaram a escavá- -las nos anos 20. Cada uma delas tinha um for- te no alto de um morro, ou cidadela usada como templo e sede do governo. Entre os artefatos encontrados, há centenas de selos de pedra usados para marcar mercadorias. Muitos deles represen- tam cenas religiosas ou animais sagrados, como touros e elefantes. Figura 4: Os Indianos (animais sagrados) Fonte: Disponível em www.passeiweb.com/ na_ponta_lingua/ sala_de_aula/historia/his- toria_geral_idade_antiga/ os_indianos/civil_india- na_7_proto. Acessado em 9 jan. 2014. ► 27 Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões Africanas e Orientais por força divina, de um caos pré-existente. Os textos védicos antigos descreviam um universo cercado de água. De 1500 a.C. a 1000 a.C., o Rig Veda e os outros três vedas são usados pelos sacerdotes árias em seus rituais. Nesse período desenvolve-se o sistema de castas, que abor- daremos mais adiante. A explicação para essas divisões sociais era encontrada nos Vedas (livro Sagrado do Hinduísmo): da cabeça do deus primordial saíram os brâmanes (casta social dominante), dos braços saíram os guerreiros, das pernas os produtores e dos pés os servos (não -árias, ou «não -homens”). Em 800 a.C. são compostos os textos Upanishads que só serão escritos séculos depois. De 400 a.C. a 400 d.C. são compostos grandes partes dos dois poe- mas épicos, o Mahabharata e o Ramayana. Entre 320-550 d.C. a Índia passa a ser go- vernada pelos reis grupta e desfruta da cha- mada de “idade de ouro” do hinduismo. De 700 d.C. a 800 d.C. se estabelece o reinado Hindu. O grande filósofo hindu Shankarachar- ya escreve os Upanisshads e os divulga. Em 900 d.C. os reinos cholas governam o sul da Ín- dia. Nesse período são construídos muitos dos mais belos templos. 3.4 Práticas espirituais Existem diversas maneiras de ser hindu. Alguns praticam seus cultos diariamente, ou- tros não tomam parte de nenhum lugar for- mal. Assim, não existe regras estabelecidas, porém a maioria dos hindus compartilha das mesmas crenças. Uma crença importante e a da reencarnação que significa que sua alma renascerá em outro corpo, humano ou animal, depois da morte. A samsara é um ciclo de mor- te e renascimento. Tendo uma vida de bonda- de, a pessoa pode renascer numa forma mais adiantada e aproximar-se de moksha, isso de- pende das ações e dos resultados delas, o que é conhecido como carma. Quanto às práticas religiosas, nos tempos remotos, os árias realizavam rituais elaborados para satisfazer os deuses, de modo que lhes concebessem bênçãos como uma boa saúde e uma boa colheita. No centro dos rituais mais importantes encontravam-se o fogo do sacri- fício, onde o sacerdote lançava oferendas de cereais, especiarias, manteiga e leite. Bodes e cavalo também eram sacrificados aos deuses. Os árias acreditavam que o fogo atuava como uma ponte entre este mundo e o mundo di- vino, levando seus sacrifícios até os deuses. Durante os sacrifícios cantavame entoavam hinos e fórmulas mágicas. Estas deveriam ser recitadas corretamente. Um erro poderia signi- ficar que o sacrifício não funcionaria e todo o ritual teria de ser feito outra vez. Estas práticas são partes integrantes da vida cotidiana do hindu. O banho no rio Gan- ges (rio sagrado) desempenha um papel im- portante no Hinduísmo. Eles acreditam que sua água seja santa e banhando ou bebendo- -a irão lavar seus pecados e se aproximar de moksha (salvação). Existem também os qua- tros caminhos a seguir através dos quais os hindus poderão alcançar a moksha. • O caminho da devoção; • O caminho do conhecimento; ◄ Figura 5: Civilização Indiana Fonte: Disponível em www.passeiweb.com/ na_ponta_lingua/ sala_de_aula/historia/his- toria_geral_idade_antiga/ os_indianos/civil_india- na_7_proto. Acessado em 9 jan. 2014. PArA SABEr MAiS Hindu é o nome em persa do rio Indo, en- contrado pela primeira vez na palavra Hindu (həndu) do persa anti- go, correspondente ao sânscrito védico Sindhu. 28 UAB/Unimontes - 2º Período • O caminho das boas ações; • O caminho da ioga; O hindu pode escolher o caminho que mais lhe agrade. De acordo com Narayanan, (2007, p. 132), .”O caminho eterno” (em Sâns- crito सनातनधरम्, Sanātana Dharma), ou a “Filosofia perene/Harmonia/Fé”, é o nome que tem sido usado para representar o Hinduísmo desde a antiguidade. De acordo com os hin- dus, transmite a ideia de que certos princípios espirituais são intrinsecamente verdadeiros e eternos, transcendendo as ações humanas, re- presentando uma ciência pura da consciência. Mas essa consciência não é meramente aquela do corpo, da mente ou do intelecto, mas a de um estado de espírito supramental que existe dentro e além de nossa existência, o imacula- do Ser de tudo. A religião dos hindus é a busca inata pelo divino dentro do Ser, a busca por encontrar a Verdade que nunca foi perdida de fato. Verda- de buscada com fé que poderá tornar-se recon- fortante luminosidade independentemente da raça ou do credo professado. Na verdade, toda forma de existência, dos vegetais e animais até o homem, são sujeitos e objetos do eterno Dharma. Essa fé inata, então, é também conhe- cida por Arya/Dharma Nobre, Veda/Dharma do Conhecimento, Yoga/Dharma da União, Dhar- ma Hindu ou simplesmente Dharma. 3.5 Deuses e lugares sagrados A teologia hinduísta se fundamenta no culto aos Avatares da divindade suprema, Brahman. Particular destaque é dado à Trimur- ti – uma trindade constituída por Brahma, Shi- va e Vishnu. Pode parecer estranho para os pa- drões de uma cultura cristã, mas o culto direto aos membros da Trimurti é relativamente raro. Ao invés disso, costumam-se cultuar avatares mais específicos e mais próximos da realidade cultural e psicológica dos praticantes, como por exemplo, Krishna, Avatar de Vishnu e per- sonagem central do Bhagavad Gita. A maioria dos hindus acredita numa alma ou espírito supremo chamado Brahma que não tem corpo nem forma, está em todos os lugares, o tempo todo, permeando tudo. Os deuses e deusas do Hinduísmo representam diferentes manifestações, ou características de Brahma. Os principais deuses são Brahma, o criador; Vishnu, o protetor; e Shiva, o destrui- dor. Além dos três principais deuses, Hinduís- mo tem milhares de outros deuses e deusas. (NARAYANAN, 2007, p. 136-7). Os hindus praticam suas orações e culto em templos chamados de mandir. Construí- dos por toda Índia, os mandir são, em geral, dedicados a um deus ou deusa. São lugares barulhentos e cheios de vidas. Os fiéis tocam os sinos do templo ao entrar e repetem ao sair. Além disso, existem pequenos santuários de rua, onde os hindus podem rezar a caminho do trabalho ou da escola. Em casa, muitos hindus reservam um local como santuário onde a fa- mília possa rezar. Ao visitar um templo, o hin- du vai para obter um darshana (uma benção especial) do deus ou da deusa. No templo, eles executam a cerimônia chamada de puja (ofe- rendas). Para entrar no templo, os hindus reti- ram os sapatos e as mulheres cobrem a cabeça em sinal de respeito. Como parte da devoção, as pessoas caminham devagar ao redor do san- tuário, sempre no sentido horário, com a mão direita voltada para o altar e para o deus. Os lugares sagrados são visitados pelos hindus que acreditam que essa visita os ajuda- rá a aproximar-se de moksha. Esses lugares es- tão ligados a acontecimentos da vida dos deu- ses e homens santos hindus. Varanasi, cidade dedicada a Shiva, é o lugar de peregrinação mais sagrado para os hindus. Milhões de pes- soas vão lavar seus pecados no rio Ganges e espalhar cinzas de parentes mortos. Também escolhem lá como o melhor lugar para se mor- rer. Além disso, as cidades de Ayodhya, Mathu- ra, Hardwar, Ujjain, Dwarka e Kanchipuram são chamadas de tirthas, que significa “passagens” ou “encruzilhadas”, onde se pode passar deste mundo para moksha. 3.6 Símbolo sagrado O símbolo sagrado é o Om, som escrito na grafia híndi. Os hindus acreditam que seja um símbolo de perfeição espiritual. Ele é reci- tado no começo das orações, bênçãos e leitu- ras de livros sagrados, sendo também usado durante a meditação. 29 Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões Africanas e Orientais Flor de Lótus é o símbolo para espirituali- dade, meditação, pureza e imortalidade. Nas imagens religiosas hindus, divindades apare- cem em pé ou sentadas sobre a flor. É o caso das representações de Ganesha, Lakshmi e Shiva. Krishna que aparecem com algumas flo- res de Lótus a seus pés, que são chamados de pada-kamala (“pés de Lótus”). Os muitos bra- ços das divindades representam onipotência e proteção. Mandalas têm origem hindu e no sânscrito significa “círculo mágico”. São dese- nhos geométricos que representam a unidade entre a divindade e o cosmos. Igualmente de- signa a representação simbólica do núcleo do psiquismo humano e são usadas como instru- mento de meditação e busca de paz interior. Encontram-se também na arquitetura de dife- rentes templos, em danças e pinturas sagra- das. A vaca simboliza maternidade, a fertilida- de, a esperança, a alegria e a criação da vida. O Hinduísmo possui 330 milhões de Deuses, mas todos simbolizam um só, porque essas re- presentações são os poderes que o Deus uno pode ter. 3.7 Os textos sagrados Os livros sagrados são compostos pe- los Vedas. O Rig Vedas é o mais antigo escrito em sânscrito, a antiga língua dos árias e a lín- gua sagrada da Índia. O filho do saber contém mais de mil hinos; outros textos, como os Upa- nishads, e dois extensos poemas, o Mahabha- rata e o Ramayana. Os Vedas e os Upanishads são chamados de textos shruti ( ouvidos). A acredita-se que um grupo de homens sábios os ouviram diretamente de Brahma, há muito tempo. Os Shmriti (os lembrados) foram com- postos por pessoas e passados adiante. 3.8 As crenças O Hinduísmo é um sistema diversificado de pensamento, com crenças que abrangem o monoteísmo, politeísmo, panteísmo, monismo e ateísmo. É uma corrente religiosa que evoluiu organicamente através de um grande território, marcado por uma diversidade étnica e cultu- ral significativa. A maior parte dos hindus acre- dita que o espírito ou a alma é eterno. O eu ver- dadeiro de cada pessoa é chamado de ãtman (eterno), e este ãtman não pode ser distinguido. Essa corrente evoluiu tanto através da inovação interior quanto pela assimilação de tradições ou cultos externos ao próprio Hinduísmo. O resul- tado foi uma variedade enorme de tradições religiosas, que vai de cultos pequenos e pouco sofisticados até os principais movimentos da religião, que contam com milhões de aderentes espalhados por todo o subcontinente indiano e outras regiões do mundo. O conceito de Deus é complexo, e está vinculado a cada
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