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Civil – Prof. André Roberto Data: 23/05/2011 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. Centro: Rua Buenos Aires, 56 - 2º, 3º e 5º andares – Tel.: (21)2223-1327 1 Barra: Shopping Downtown – Av. das Américas, 500 - bl. 21, salas 157 e 158 – Tel.: (21)2494-1888 www.enfasepraetorium.com.br Assuntos tratados: 1º Horário. Defeitos do Negócio Jurídico / Vício de Consentimento ou da Vontade / Erro / Dolo 2º Horário. Coação / Estado de Perigo / Lesão / Vícios Sociais / Simulação (causa de invalidade do negócio jurídico) / Fraude Contra Credores 1º Horário NEGÓCIO JURÍDICO 1. Defeitos do Negócio Jurídico Tratam-se daquelas situações em que há vício na manifestação da vontade ou da expectativa social que vão levar à anulabilidade do negócio (nulidade relativa), sendo defeitos sanáveis, portanto. Os defeitos e subdividem em: vícios de vontade ou do consentimento, em que se incluem erro (arts. 138 a 144 do CC), dolo (arts. 145 a 150 do CC), coação (arts. 151 a 155 do CC), estado de perigo (art. 156 do CC) e lesão (art. 157), sendo que os dois últimos não estavam disciplinados pelo CC/16; e vícios sociais, representado pela fraude contra credores (art. 158 a 165 do CC). A simulação, no âmbito do CC/02 é tida como causa de invalidade, nulidade, do negócio jurídico, não se incluindo mais no capítulo dos defeitos. 1.1. Vício de Consentimento ou da Vontade 1.1.1. Erro O CC/02 fala do erro ou ignorância, sendo que ambos são tratados num mesmo capítulo. O erro representa uma falsa compreensão da realidade, o que leva alguém a interpretar equivocadamente os fatos. Já na ignorância, o que se tem é o desconhecimento de um fato, o que leva também à falsa interpretação da realidade. Civil – Prof. André Roberto Data: 23/05/2011 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. Centro: Rua Buenos Aires, 56 - 2º, 3º e 5º andares – Tel.: (21)2223-1327 2 Barra: Shopping Downtown – Av. das Américas, 500 - bl. 21, salas 157 e 158 – Tel.: (21)2494-1888 www.enfasepraetorium.com.br Nem todo erro é apto a invalidar o negócio, devendo-se sempre privilegiar a segurança jurídica. Existe divergência doutrinária quanto aos requisitos necessários para anulação do negócio por erro. Para a doutrina clássica, os requisitos do erro seriam substancialidade e escusabilidade. As doutrinas clássica e contemporânea concordam quanto ao primeiro requisito, que o erro deve ser substancial, essencial. Diz-se que se o erro é acidental, com efeito lateral, não é capaz de propiciar qualquer reclamação por aquele que erra. Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio. Art. 139. O erro é substancial quando: I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico. Para que o erro seja considerado substancial, deve dizer respeito: à natureza do negócio, ao objeto principal ou às suas qualidades essenciais; ao sujeito referido ou à sua qualidade essencial; ou ao direito. Por exemplo, incorre no inciso I aquele que adquire um bem que tem característica essencial diversa da que se imaginava. Quando o erro é sobre a pessoa do destinatário da vontade, hipótese do inciso II, faz-se necessário demonstrar que as qualidades do sujeito são relevantes para aquele negócio. Por exemplo, no negócio jurídico baseado na fidúcia, a qualidade da pessoa se mostra relevante, porquanto relacionado à confiabilidade. Nesse sentido, o mútuo à pessoa diversa daquela se pensa é causa apta à anulação. O mesmo se pode dizer do casamento, em que o desconhecimento ou crença de informação falsa poderiam levar à anulação, do mesmo modo que poderia ocorrer na doação e nos negócios intuitu personae. No que se refere ao inciso III, deve-se ater que não há colisão com o art. 3º da LINDB (LICC). LINDB, Art. 3o. Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece. Civil – Prof. André Roberto Data: 23/05/2011 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. Centro: Rua Buenos Aires, 56 - 2º, 3º e 5º andares – Tel.: (21)2223-1327 3 Barra: Shopping Downtown – Av. das Américas, 500 - bl. 21, salas 157 e 158 – Tel.: (21)2494-1888 www.enfasepraetorium.com.br Nos termos do dispositivo supra, ninguém pode se eximir de cumprir a lei alegando que a desconhece, há uma presunção juris et de jure. De modo diverso, o art. 139, III ressalva que não se pode alegar desconhecimento da norma para afastar os efeitos que a norma impõe. Nesse caso, há um erro de direito, pois se crê que a lei obriga a algo que não obriga, havendo uma crença equivocada no direito, ou então, faz-se uma interpretação da norma diversa, o que faz com que a pessoa tenha a crença na validade e eficácia da norma. Isso se dá, por exemplo, no caso de norma que venha a ser declarada inconstitucional. Nesse contexto, existe a MP 2.170, pela qual se confere às instituições financeiras a possibilidade de cobrar juros sobre juros em períodos inferiores a um ano no âmbito de seus contratos bancários. Tal MP já teve sua constitucionalidade questionada, mas o STJ a entende eficaz até que o STF declare o contrário. Assim, no caso de devedor que confessa a dívida e celebra novação por pensar que todos os juros capitalizados seriam devidos, diante da declaração de inconstitucionalidade da MP, poderá ter o negócio anulado. Isso porque, os juros capitalizados seriam tidos como ilícitos e o sujeito teria incorrido em erro. A falsa crença representaria o principal motivo para celebração do negócio jurídico, permitindo-se a sua anulação e até mesmo a repetição do indébito. Logo, o inciso III não representa escusa ao cumprimento da lei, mas relata ato que não teria se realizado se o sujeito tivesse conhecimento do real alcance da norma. Falso Motivo O art. 140 trata do falso motivo de fato enquanto o art. 139, III trata do falso motivo de direito. Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante. Tanto o motivo como a causa são a razão de ser do negócio, o porquê de alguém manifestar a vontade naquele sentido. A visão clássica é de que causa e motivo do negócio jurídico, normalmente, não são causas essenciais, afinal pressupostos essenciais seriam apenas: agente capaz, objeto lícito, possívele determinável e forma prescrita e não defesa em lei. Os negócios jurídicos são, em regra, não causais, portanto. Esse panorama se modificou em parte por conta da função social do contrato prevista no art. 421, o que tem gerado grande controvérsia doutrinária. Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. Civil – Prof. André Roberto Data: 23/05/2011 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. Centro: Rua Buenos Aires, 56 - 2º, 3º e 5º andares – Tel.: (21)2223-1327 4 Barra: Shopping Downtown – Av. das Américas, 500 - bl. 21, salas 157 e 158 – Tel.: (21)2494-1888 www.enfasepraetorium.com.br Para autores clássicos como Álvaro Junqueira de Azevedo e Antonio Junqueira de Azevedo, não sendo a causa jurídica um elemento essencial do negócio, deveria a função social servir apenas de limite à manifestação de vontade, não sendo de conteúdo obrigatório na manifestação. Assim, a função social não precisa ser a razão da manifestação de vontade, de modo que nem todo negócio jurídico precisaria cumprir com sua função social, contando que não colida com interesses da sociedade. Logo, a causa jurídica é um elemento acidental e não essencial. Em sentido oposto, autores contemporâneos como Gustavo Tepedino e Cristiano Chaves defendem que o art. 421 do CC trouxe a causa para os elementos essenciais do negócio jurídico. Assim, o negócio só será válido quando a manifestação de vontade das partes for motivada por uma função social a ser alcançada, não servindo apenas como limite. Um negócio jurídico desfuncionalizado seria, portanto, inválido. Causa e motivo representam a razão do negócio, sendo relevantes para eventual anulação dele. Causa é a razão objetiva da manifestação da vontade, enquanto o motivo é razão de ordem subjetiva. Por exemplo, numa compra e venda, pode-se dizer que a causa que impulsiona o comprador a celebrar o negócio é tornar-se proprietário do bem, enquanto do vendedor é a obtenção de certo preço. Se o comprador deseja o bem para dar funcionalidade determinada ao bem, como uma destinação profissional, esta razão será interna, de ordem subjetiva. Também configuraria motivo o vendedor que busca o preço para pagar o tratamento de um parente ou custear uma viagem, sendo razões ocultas da outra parte. Como os motivos são em regra subjetivos e de difícil observância pela outra parte, o falso motivo só se resta capaz de invalidar o negócio jurídico quando tiver sido exteriorizado. Assim, se a parte nada sabia sobre o motivo, o negócio não pode ser invalidado. Por outro lado, como a causa é objetiva, é capaz de ensejar a anulação. Por isso, deve-se analisar caso a caso, devendo-se observar os art. 139, III e 140. Como visto, a doutrina é unânime no sentido de que o erro deve ser substancial. A divergência paira sobre o segundo requisito, tida para os autores clássicos (Moreira Alves) como escusabilidade, que consiste em errar em circunstância que qualquer pessoa de diligência normal também erraria. Percebe-se que para a doutrina clássica, os dois requisitos são destinados à mesma pessoa, àquela que manifesta a vontade. Civil – Prof. André Roberto Data: 23/05/2011 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. Centro: Rua Buenos Aires, 56 - 2º, 3º e 5º andares – Tel.: (21)2223-1327 5 Barra: Shopping Downtown – Av. das Américas, 500 - bl. 21, salas 157 e 158 – Tel.: (21)2494-1888 www.enfasepraetorium.com.br Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio. Como se verifica, a redação do art. 138 é justamente o oposto da definição clássica de escusabilidade. Afinal o dispositivo determina que apesar de o erro ser perceptível, não foi percebido. O legislador impôs a negligência por parte do agente, falta de diligência normal. Diante disso, os doutrinadores clássicos defendiam o erro na redação do art. 138, entendendo que se deveria ter a seguinte redação: “que não poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio”. Em sentido oposto, a doutrina contemporânea defende que a redação do art. 138 está correta, o que teria havido é a mudança quanto aos requisitos do erro, em que se teria a escusabilidade ao lado da cognoscibilidade. Assim, o erro deve ser substancial e perceptível pela outra parte. A doutrina contemporânea adota como justificativa o princípio da boa fé objetiva, que tutela a confiança a partir da imputação de deveres anexos aos sujeitos contratantes. A boa fé impõe à parte o dever de informar as características substancias quanto à natureza do negócio, da pessoa, do objeto ou do direito. Se o erro se dá porque as informações não foram veridicamente prestadas ou porque faltou diligência da parte, é possível a anulação do negócio. Enunciado 12 da IV Jornada de Direito Civil – Art. 138: na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança. Por exemplo, o comprador de eletrodoméstico tem o dever de perguntar qual a voltagem do produto que adquire na perspectiva do CC/16. Mas, conforme o CDC e o CC/02, se o vendedor deixa de prestar os dados, há vício de informação que acarreta o erro do contratante, o que possibilita a anulação do negócio por falta de diligência do vendedor. As bancas examinadoras não são unânimes quanto à adoção da teoria clássica ou da contemporânea. Em uma prova CESPE, por exemplo, o examinador pode adotar uma ou outra, a depender da questão elaborada. Deve-se ater que a jurisprudência já se posicionou que no âmbito consumerista a falta de diligência representa vício do negócio jurídico, sendo mais relevante a conduta do vendedor que do comprador. Já, quanto às demais relações, o STJ ainda vem adotando a visão clássica. Nesse sentido, em julgado recente, o Min. Luis Felipe Salomão já decidiu que, diante do porte Civil – Prof. André Roberto Data: 23/05/2011 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. Centro: Rua Buenos Aires, 56 - 2º, 3º e 5º andares – Tel.: (21)2223-1327 6 Barra: Shopping Downtown – Av. das Américas, 500 - bl. 21, salas 157 e 158 – Tel.: (21)2494-1888 www.enfasepraetorium.com.br da parte (no caso, um banco), a falta de diligência não poderia dar causa à anulação, pois a falta de escusabilidade afastaria a anulação, não sendo suficiente a substancialidade. Vide REsp. 744.311. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. ANULAÇÃO DE NEGÓCIO JURÍDICO. DAÇÃO EM PAGAMENTO. IMÓVEL. LOCALIZAÇÃO. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA DE SÓLIDAPOSIÇÃO NO MERCADO. ERRO INESCUSÁVEL. 1. Não se há falar em omissão em acórdão que deixa de analisar o segundo pedido do autor, cujo acolhimento depende da procedência do primeiro (cumulação de pedidos própria sucessiva). 2. O erro que enseja a anulação de negócio jurídico, além de essencial, deve ser inescusável, decorrente da falsa representação da realidade própria do homem mediano, perdoável, no mais das vezes, pelo desconhecimento natural das circunstâncias e particularidades do negócio jurídico. Vale dizer, para ser escusável o erro deve ser de tal monta que qualquer pessoa de inteligência mediana o cometeria. 3. No caso, não é crível que o autor, instituição financeira de sólida posição no mercado, tenha descurado-se das cautelas ordinárias à celebração de negócio jurídico absolutamente corriqueiro, como a dação de imóvel rural em pagamento, substituindo dívidas contraídas e recebendo imóvel cuja área encontrava-se deslocada topograficamente daquela constante em sua matrícula. Em realidade, se houve vício de vontade, este constituiu erro grosseiro, incapaz de anular o negócio jurídico, porquanto revela culpa imperdoável do próprio autor, dadas as peculiaridades da atividade desenvolvida. 4. Diante da improcedência dos pedidos deduzidos na exordial - inexistindo, por consequência, condenação -, mostra-se de rigor a incidência do § 4º do art. 20 do CPC, que permite o arbitramento por equidade. Provimento do recurso especial apenas nesse ponto. 5. Recurso especial parcialmente provido. Em que pese tal decisão, não se pode descartar a posição contemporânea. 1.1.2. Dolo Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa. O dolo pode ser conceituado como o erro qualificado pela má fé. Desse modo, tudo o que foi dito sobre o erro se aplica ao dolo, porém, acrescendo-se mais um requisito, que é a má-fé da outra parte. A parte intencionalmente induz a outra a erro ou sabendo do seu erro, a mantém assim. Civil – Prof. André Roberto Data: 23/05/2011 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. Centro: Rua Buenos Aires, 56 - 2º, 3º e 5º andares – Tel.: (21)2223-1327 7 Barra: Shopping Downtown – Av. das Américas, 500 - bl. 21, salas 157 e 158 – Tel.: (21)2494-1888 www.enfasepraetorium.com.br Aqui se acrescenta a conduta maliciosa, por isso as consequências serão mais gravosas. O mero retorno ao estado anterior tido pela anulação não se mostra suficiente, há necessidade de se fixar perdas e danos como punição. Se o dolo fosse apenas acidental – o negócio jurídico não deixaria de ser celebrado, apenas teria se dado de modo diverso –, o negócio será válido, mas caberiam perdas e danos. Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo. O dolo substancial acarreta anulação e perdas e danos, havendo pleito desconstitutivo; o dolo acidental gera apenas dever de indenizar o prejuízo. Diz-se que dolo pode se dar por ação ou por omissão (dolo negativo). No primeiro caso tem-se a indução ao erro; no segundo, há manutenção em erro, o agente percebe o erro, mas intencionalmente silencia-se. Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado. Nos fatos até então narrados, quem que se beneficia é aquele que atua dolosamente, por isso nada mais justo que ele próprio suportar a anulação e o custeio da indenização. Dolo de Terceiro No caso de dolo de terceiro, deve-se verificar até que ponto pode-se anular ou imputar dever de indenizar ao beneficiado. Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou O dolo de terceiro gera anulação e perdas e danos, que serão devidos solidariamente entre o terceiro e o beneficiário quando o beneficiário sabia ou devia saber da conduta. O dever de conhecimento geralmente é observado na responsabilidade objetiva, encontrados em regra nos casos de prepostos ou em relação de consumo. Nesse sentido, a jurisprudência vem entendendo que, no caso de corretor de seguros, mesmo que autônomo, haveria essa co-responsabilidade. Não se exige uma relação de emprego, portanto. Civil – Prof. André Roberto Data: 23/05/2011 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. Centro: Rua Buenos Aires, 56 - 2º, 3º e 5º andares – Tel.: (21)2223-1327 8 Barra: Shopping Downtown – Av. das Américas, 500 - bl. 21, salas 157 e 158 – Tel.: (21)2494-1888 www.enfasepraetorium.com.br No “tivesse” se verifica o dolo por omissão, em que um atua enganosamente e outro silencia, havendo duas condutas dolosas relevantes. Nesse caso, a solidariedade advém do art. 942 e todos que participam para o resultado, respondem pela conduta. Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação. Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas designadas no art. 932. No “devesse ter conhecimento” a responsabilidade é objetiva, podendo-se inferir a solidariedade do art. 932, III do CC. Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; Se o beneficiário não sabe nem deveria saber da conduta do terceiro, o negócio será válido e as perdas e danos serão devidas exclusivamente pelo terceiro. Representação No caso da representação em sentido estrito, há formal constituição para representação, sendo que a vontade é manifestada através de interposta pessoa, que se limita a reproduzir a vontade do representado. Quando o representante é convencional, funciona como mandatário ou preposto formalmente constituído, tendo o representado responsabilidade objetiva in eligendo sob todos os atos de quem constituiu. Nesse diapasão, o negócio anulável e as perdas e danos serão devidas solidariamente por representante e representado. Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos. No caso da representação legal, aquela fixada por lei ou por decisão judicial, entendeu por bem o legislador que a responsabilidade civil não fosse imputada de formailimitada ao representado. Aqui o negócio jurídico será anulável e haverá responsabilidade solidária entre representante e representado, todavia a responsabilidade do representante será ilimitada, alcançando todo o prejuízo da Civil – Prof. André Roberto Data: 23/05/2011 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. Centro: Rua Buenos Aires, 56 - 2º, 3º e 5º andares – Tel.: (21)2223-1327 9 Barra: Shopping Downtown – Av. das Américas, 500 - bl. 21, salas 157 e 158 – Tel.: (21)2494-1888 www.enfasepraetorium.com.br pessoa que foi enganada, enquanto a responsabilidade do representado será limitada ao valor do benefício efetivamente auferido com o negócio. Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos. Dolo Recíproco O art. 150 trata do dolo recíproco, situação em que as duas partes comportaram-se dolosamente, de modo que uma não pode alegar o dolo da outra para anular o negócio Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização. Aqui se aplica o instituto da compensação, sendo que o dolo de uma se compensa no da outra. Trata-se da proibição de comportamento tu quoque, pelo que a parte não se pode beneficiar da própria torpeza. Nesse contexto, a doutrina majoritária entende que o grau do dolo não é relevante, assim, sendo recíproco, tendo-se de um lado o dolo acidental e de outro o dolo substancial, ainda assim é cabível anulação do negócio e indenização. Dolus bonus vs. Dolus malus Deve-se, por fim, analisar o dolus bonus, que se contrapõem ao dolus malus. Trata-se de construção doutrinária, que não encontra sede no texto legal. Na perspectiva do CC/16, apenas o dolus malus seria capaz de anular o negócio, o qual consiste na intenção de prejudicar, na certeza do prejuízo alheio. Pela doutrina clássica, o dolus bonus, que consiste em mera malícia negocial, com desataque dos pontos positivos e silêncio sobre os negativos, a falta seria do outro, de modo que o negócio permaneceria válido. Boa parte da doutrina entende que o dolo bonus foi banido do nosso sistema, afinal quando a parte não cumpre com os deveres de diligência e transparência esta incorrendo em dolo, comportamento contrário ao que se defende atualmente, devendo-se sempre prezar pela boa fé, confiança e transparência. Civil – Prof. André Roberto Data: 23/05/2011 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. Centro: Rua Buenos Aires, 56 - 2º, 3º e 5º andares – Tel.: (21)2223-1327 10 Barra: Shopping Downtown – Av. das Américas, 500 - bl. 21, salas 157 e 158 – Tel.: (21)2494-1888 www.enfasepraetorium.com.br 2º Horário 1.1.3. Coação A coação física ou vis absoluta não é tida como defeito do negócio jurídico, sendo vista como causa de inexistência de vontade, sendo que pela posição majoritária o negócio seria inexistente, ao passo que pela minoritária ele seria nulo. A anulabilidade está relacionada à vis compulsiva, que é vício de vontade, capaz de ensejar a anulação do negócio. A declaração de vontade é viciada por temor de se sofrer considerável dano iminente (atual). Assim, não vicia o negócio o medo de sofrer dano eventual no futuro. Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens. Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação. Além disso, o dano deve recair sobre a pessoa do declarante, pessoa da família ou sobre os bens. O parágrafo único permite que, em não se tratando de pessoa da família, mas sendo a pessoa próxima, pode o juiz equiparar à pessoa da família, justificando-se a conduta do declarante. A conduta deve ainda ser injusta, deve ser fruto de coação moral irresistível. A ameaça que seja fruto do exercício regular do direito não vicia a vontade, como é o caso, por exemplo, de cobrança de dívida devida feita dentro dos limites aceitáveis. No caso de se exceder os limites, o comportamento também será tido como irregular. Ademais, não se considera vício da vontade o mero temor referencial, em que se tem a ideia do medo, teme-se a decepção do outro por causa de relação familiar, religiosa ou de trabalho. Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial. É o caso, por exemplo, de filho que se casa por simples vontade dos pais, o que sem maiores dúvidas não consiste em fator capaz de ensejar a anulação do negócio. Na prática, no âmbito da relação de emprego, é difícil diferenciar o mero temor referencial do assédio moral, mas, em provas, o examinador tende a usar o termo “mero temor referencial”, o que torna a questão mais fácil. Civil – Prof. André Roberto Data: 23/05/2011 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. Centro: Rua Buenos Aires, 56 - 2º, 3º e 5º andares – Tel.: (21)2223-1327 11 Barra: Shopping Downtown – Av. das Américas, 500 - bl. 21, salas 157 e 158 – Tel.: (21)2494-1888 www.enfasepraetorium.com.br Deve haver a ameaça do coator, mas também se deve verificar se a ameaça é capaz de fato de incutir o temor quanto àquele paciente determinado. Assim, devem- se analisar as qualidades subjetivas do paciente, como dispõe o art. 152 do CC. Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela. Por exemplo, o sujeito forte e atlético dificilmente se verá ameaçado por idoso que mal consegue se manter em pé, não sendo possível vislumbrar temor de dano injusto e iminente. Normalmente a coação é praticada pelo próprio beneficiário do negócio jurídico, mas, tal como ocorre no dolo, a coação também pode ser cometida por terceiro não beneficiário. Normalmente, a coação realizada por terceiro não vai invalidar o negócio nem gerar ao beneficiário o dever de indenizar. Mas, se o beneficiário sabia ou devia saber, terá o dever de indenizar solidariamente aquele que se viu prejudicado, cabendo ainda a invalidade do negócio. Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos. Por fim, o art. 155 traz a responsabilidade exclusivado terceiro, caso em que o negócio jurídico subsistirá e o terceiro deverá responder por perdas e danos. Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto. 1.1.4. Estado de Perigo Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias. Trata-se de figura introduzida pelo CC/02, daí sua grande incidência em provas. Civil – Prof. André Roberto Data: 23/05/2011 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. Centro: Rua Buenos Aires, 56 - 2º, 3º e 5º andares – Tel.: (21)2223-1327 12 Barra: Shopping Downtown – Av. das Américas, 500 - bl. 21, salas 157 e 158 – Tel.: (21)2494-1888 www.enfasepraetorium.com.br Os requisitos para anulação de negócio jurídico por estado de perigo são três, sendo dois de ordem subjetiva – premente necessidade de evitar dano à pessoa e dolo de aproveitamento da outra parte – e um de ordem objetiva – excessiva onerosidade. A premente necessidade de evitar dano à pessoa (ordem subjetiva) não é qualquer necessidade, a ameaça deve dizer respeito à pessoa do declarante, da família ou à família equiparada. Parte da lógica de que os negócios devem ser comutativos, devem respeitar uma onerosidade equitativa. A excessiva onerosidade é protegida por uma série de figuras como do enriquecimento ilícito, enriquecimento injusto, etc. A hipótese mais citada pela doutrina é da exigência de cheque caução no caso de paciente conveniado a plano de saúde no momento de internação. O cheque seria necessário apenas para garantir eventual inadimplência, tendo o valor limitado ao custo efetivamente que se teve. A onerosidade aqui não é quanto ao valor, mas em se exigir de alguém dever que não lhe é próprio, afinal o dever de pagamento pelo serviço prestado é da seguradora. Impõe-se ao paciente-consumidor um dever de garantidor que não se tem nem por lei nem por contrato, valendo-se da urgência para se extrair essa garantia onerosa. Assim, o estado de perigo não se caracteriza apenas pelo excesso de onerosidade, mas também pela exigência de obrigação acessória de quem a principio não estaria compelido. A jurisprudência tem entendido pela possibilidade de o vício por estado de perigo não só acarretar a invalidade do negócio, como também indenização por perdas e danos. O STJ, por uma decisão da Terceira Turma de 2008 já determinou que caracteriza vício por estado de perigo a exigência de que o segurado migrasse de um plano para outro mais caro para fazer jus a prótese que não estaria incluída no contrato originalmente firmado. No caso, não se exigiu dele uma mensalidade maior do que se exige dos demais clientes, a excessiva onerosidade se deve pela imposição de valor mais elevado. Isso porque, o segurado poderia permanecer no plano antigo e usufruir da cobertura, sendo que a cláusula que afasta o custeio seria nula porque abusiva. A onerosidade esta em se exigir que o sujeito celebre contrato mais oneroso quando no contrato antigo já teria direito ao benefício. A parte deve aceitar ou exigir a vantagem excessiva sabendo da premente necessidade do outro sujeito, sendo então cabível a anulação do negócio e fixação de perdas e danos. Então, mesmo que haja o oferecimento da vantagem excessiva pela Civil – Prof. André Roberto Data: 23/05/2011 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. Centro: Rua Buenos Aires, 56 - 2º, 3º e 5º andares – Tel.: (21)2223-1327 13 Barra: Shopping Downtown – Av. das Américas, 500 - bl. 21, salas 157 e 158 – Tel.: (21)2494-1888 www.enfasepraetorium.com.br parte em estado de perigo, a outra parte não deve aceitar, sob pena de não mais incorrer em boa fé. Parte das regras do art. 157 serão trazidas para o instituto do estado de perigo. 1.1.5. Lesão Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. Também representa figura trazida pelo CC/02, sendo muito cobrado em provas. O dispositivo legal impõe dois requisitos para que se configure a lesão: a. Premente necessidade ou inexperiência (requisito subjetivo) são alternativos, podendo-se verificar um ou outro. b. Desproporção manifesta entre as prestações (requisito objetivo) nada mais é que a excessiva onerosidade que se reconhece no âmbito dos negócios bilaterais. O estado de perigo é uma figura qualificada, mais estreita que a da lesão. Na lesão, não se exige o dolo de aproveitamento, a outra parte não precisa conhecer a situação do outro, sendo que a simples obtenção da vantagem exagerada seria suficiente para caracterizá-la. É certo que o vício por lesão enseja anulação do negócio. Mas, como não há dolo de aproveitamento, não necessariamente se vai cumular a anulação com perdas e danos. Em se tratando de responsabilidade objetiva, deve haver a cumulação com o pedido indenizatório; sendo caso de responsabilidade subjetiva, não cabe a cumulação. Para fins de prova: deve-se analisar se cabe a figura específica do estado de perigo; não sendo o caso, pode ser que caiba a lesão. Por exemplo, no caso catástrofe que destrói uma série de moradias, é possível que o locador, diante de grande procura e pouca oferta de imóveis, exija aluguel em valor desproporcional. Haveria premente necessidade, mas não de se evitar dano físico, de modo que o dolo de aproveitamento seria irrelevante, sendo caso de lesão. No caso de vendedor de imóvel sem conhecimentos adequados sobre o assunto que celebra contrato de compra e venda com uma imobiliária compradora que obtém vantagens desproporcionais, deve-se discutir anulação por lesão. Civil – Prof. André Roberto Data: 23/05/2011 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. Centro: Rua Buenos Aires, 56 - 2º, 3º e 5º andares – Tel.: (21)2223-1327 14 Barra: Shopping Downtown – Av. das Américas, 500 - bl. 21, salas 157 e 158 – Tel.: (21)2494-1888 www.enfasepraetorium.com.br Em consonância com o parágrafo primeiro, a excessiva onerosidade deve existir ao tempo da celebração do negócio. Por exemplo, se uma pessoa há dois anos pagou 8 mil reais pelo produto que hoje custa 2 mil reais, não há lesão, pois ao tempo de celebração não se fazia presente a onerosidade excessiva. § 1oAprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico. Se o negócio for de trato sucessivo ou com efeitos produzidos hoje, é possível a revisão. Mas, a via adequada não é a anulação por conta da lesão, afinal o negócio não se mostrava desproporcional desde sua gênese. No caso, o contrato se tornou desproporcional, tem-se a formação da cláusula rebus sic stantibus, com base na Teoria da Imprevisão do art. 478 do CC ou da Quebra da Base do art. 6º do CDC. Nesse contexto, a revisão se dará daquele momento para a frente, não retroativamente, diverso da lesão, que irá repercutir desde a origem. CC, Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. CDC, Art. 6º São direitos básicos do consumidor: V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; A redação do parágrafo segundo do art. 157 não se mostra adequada. § 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. O dispositivo prevê a conservação do negocio jurídico quando a parte favorecida se oferece a reduzir a vontade exagerada, impondo dependência da vontade espontânea da outra parte. Mas, apenas os doutrinadores clássicos sustentam minoritariamente tal ponto de vista. A posição majoritária é no sentido de que a parte prejudicada pode requerer ao juízo a modificação do negócio pela redução, permitindo-se a manutenção do contrato. Trata-se de instituo da modificação do negócio jurídico embasado no principio da conservação. Enunciado 291 da IV Jornada de Direito Civil - Art. 157. Nas hipóteses de lesão previstas no art. 157 do Código Civil, pode o lesionado optar por não pleitear a anulação do negócio jurídico, deduzindo, desde logo, pretensão com vista à Civil – Prof. André Roberto Data: 23/05/2011 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. Centro: Rua Buenos Aires, 56 - 2º, 3º e 5º andares – Tel.: (21)2223-1327 15 Barra: Shopping Downtown – Av. das Américas, 500 - bl. 21, salas 157 e 158 – Tel.: (21)2494-1888 www.enfasepraetorium.com.br revisão judicial do negócio por meio da redução do proveito do lesionador ou do complemento do preço. Deve-se ater que o art. 156 disse menos do que deveria, devendo-se aplicar por analogia ao estado de perigo o previsto no art. 157, § 2o, de modo a se permitir a ali também a conservação do negócio. Enunciado 148 da III Jornada de Direito Civil – Art. 156: Ao “estado de perigo” (art. 156) aplica-se, por analogia, o disposto no § 2º do art. 157. 1.2. Vícios Sociais Os vícios de vontade não afetam a vontade, mas são exteriorizados com a intenção de prejudicar terceiros, sendo por isso chamados de vícios sociais. O único vício social capaz de anular o negócio jurídico é a fraude contra credores. O outro instituto que o CC/16 tratava como vício social, a simulação, é hoje causa de nulidade. Simulação (causa de invalidade do negócio jurídico) Na simulação há uma vontade manifestada que não corresponde àquilo que efetivamente se deseja. A vontade declarada não corresponde à vontade interna. Também no dolo há essa discrepância nas vontades interna e na declarada. Mas, na simulação, existe a ciência e um querer livre em torno disso. Portanto, a vontade declarada é uma falsa vontade. Essa vontade falsamente manifestada é nula, pois colide com a ordem pública. No sistema anterior, só a simulação maliciosa era apta à anulação, pois só se admitia como interessado aquele terceiro prejudicado. A simulação inocente não poderia gerar a anulação, afinal a própria parte não poderia alegar a própria torpeza. Mas, no sistema atual, a declaração falsa passou a por si só ser causa de nulidade por ser capaz de prejudicar a sociedade. Assim, o próprio juiz deve pronunciá- la de ofício, podendo ser provocado por qualquer interessado ou mesmo pelas partes, o que era inadmissível no sistema anterior. No sistema atual, qualquer simulação é causa de nulidade do negócio, ainda que a inocente. Assim, até quem participou da simulação pode alegá-la, o que não significa que, no campo da boa fé, não se possa aplicar alguma penalidade para evitar que alguém se Civil – Prof. André Roberto Data: 23/05/2011 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. Centro: Rua Buenos Aires, 56 - 2º, 3º e 5º andares – Tel.: (21)2223-1327 16 Barra: Shopping Downtown – Av. das Américas, 500 - bl. 21, salas 157 e 158 – Tel.: (21)2494-1888 www.enfasepraetorium.com.br beneficie de sua própria torpeza. O que se permite apenas é que a questão seja trazida por aquele que tenha se beneficiado. O STJ já decidiu nesse sentido, entendendo ser possível que aquele que participou do negócio jurídico simulado o alegue em juízo. Existem duas vontades, uma interna e outra externa. Na simulação absoluta, só existe a vontade declarada, a vontade falsa. As partes não pretendem internamente qualquer efeito. É o caso, por exemplo, de sujeito casado que retira parte de seus bens de seu patrimônio para que diante de divórcio futuro, com a partilha, não haja transmissão à esposa. No caso de simulação de compra e venda, não há intenção de se transmitir direito algum, pois o alienante não pretende adquirir o preço e o adquirente não quer adquiri a coisa, de modo que o bem nunca deixou de ser do cônjuge. Tudo é falso. Na simulação relativa, existe um negócio jurídico verdadeiro por trás da declaração falsa. Declara-se um querer que na verdade é outro, tem-se paralelamente o negócio jurídico simulado (negócio falso, destinado a enganar) e o dissimulado (negócio verdadeiramente desejado). No caso supra, se o cônjuge dispõe de bens seus em favor de sua amante. Se pretende na verdade doar, quando na verdade o faz sob a forma de compra e venda, há simulação relativa. O negócio dissimulado pode ser válido se for substancial e formalmente válido, desse modo o legislador declara a vontade externa como nula e a vontade interna como válida. Portanto, nem sempre a simulação acarreta a nulidade do negócio. 1.2.1. Fraude Contra Credores Numa relação jurídica obrigacional, se tem um credor que se vincula a um devedor em torno de uma prestação, que será sempre economicamente apreciável. Por isso, o direito de crédito é subjetivo pessoal e de conteúdo patrimonial. O devedor tem dever de cumprir com o débito, sendo que, diante do inadimplemento, se tem sua responsabilidade civil patrimonial, conforme art. 391. Desse modo, é indispensável que o devedor seja patrimonialmente solvente, para que, através dos bens do devedor, sepossa satisfazer as pretensões do credor. Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor. Civil – Prof. André Roberto Data: 23/05/2011 O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. Centro: Rua Buenos Aires, 56 - 2º, 3º e 5º andares – Tel.: (21)2223-1327 17 Barra: Shopping Downtown – Av. das Américas, 500 - bl. 21, salas 157 e 158 – Tel.: (21)2494-1888 www.enfasepraetorium.com.br Se o credor não pedir nenhuma garantia especial, seu crédito será quirografário, garantido pela universalidade de bens do devedor e não por um bem específico. Aquele credor que vê seu direito de crédito frustrado diante de devedor que se desfaz de seus bens esta diante da fraude contra credores. Como primeiro requisito, o negócio que se pretende anular tem que ser prejudicial ao credor, sendo o chamado eventus damni. Desse modo, o devedor deve se tornar insolvente ou agravar sua insolvência para que o mesmo esteja caracterizado. Em sentido oposto, se o devedor goza de ampla fortuna, não haverá prejuízo do credor, não havendo que se falar em fraude. Também se faz necessário analisar outros elementos, tais como: saber o tempo o negócio, se houve celebração de negócio gratuito ou oneroso, etc. A Súmula 375 do STJ tornou as figuras da fraude contra credores bem mais próxima da fraude à execução. Súmula 375 do STJ - O reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente. Na próxima aula, terminaremos este tópico e falaremos de prescrição e decadência, encerrando a parte geral.
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