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Recursos no processo penal Fundamentos que justificam a existência da garantia ao duplo grau de jurisdição: Duplo grau de jurisdição: o direito ao recurso encontra fundamento jurídico no princípio/garantia ao duplo grau de jurisdição, implícito na estrutura constitucional do Poder Judiciário e explícito na ampla defesa (art. 5º, LV, CF) e no art. 8º, nº 2, letra h da CADH, c/c art. 5º, §§2º e 3º, da CF. Fundamento político: sistema de freios e contrapesos – no EDD, nenhum ato estatal pode ser imune de controle. Fundamento metajurídico: a) falibilidade humana a indicar as possibilidades de erro na decisão judicial monocrática b) do natural inconformismo da parte com uma decisão que lhe é adversa ou que não lhe atenda os interesses c) maior possibilidade de alcançar o valor “justiça” da decisão. 1. Conceito de recurso: meio voluntário (CPP, art. 574) de impugnação de decisões judiciais, utilizado antes da preclusão temporal e na mesma relação jurídica processual, apto a propiciar a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração da decisão. Diferencia-se das relações autônomas de impugnação, quais sejam: revisão criminal, mandado de segurança, habeas data e habeas corpus. Ao impugnar a decisão o recorrente pode objetivar as seguintes finalidades: · a invalidação da decisão · esclarecimento da decisão · a integração da decisão Natureza jurídica: é uma extensão do direito de ação, tanto que também é submetida a condições. · legitimidade para recorrer · interesse em recorrer Classificação dos recursos: Extensão: · total: quando o recorrente impugna integralmente a decisão · parcial: quando o recorrente impugna somente parte da decisão Fundamentação: · livre: o recorrente pode livremente desenvolver razões do seu inconformismo (apelação e RESE) · vinculada: recorrente deve desenvolver as suas razões de acordo com aquilo que determina a lei. Ex.: no recurso extraordinário, as razões devem estar vinculadas e alguns dos vícios apontados no art. 619 e 382, CPP (embargos de declaração) Matéria: · ordinários: matérias de fato e de direito. Interesse subjetivo do recorrente (apelação, RESE) · extraordinários: tutela do direito objetivo e de interesse geral e no qual somente se admite discussão de matéria de direito (ex.: recuso especial para o STJ ou extraordinário para o STF) Efeitos do recurso: A primeira é não transitar em julgado. a) Devolutivo: Todo e qualquer recurso tem, mas por excelência é o da apelação. Devolve-se ao juízo ad quem o conhecimento e apreciação da matéria impugnada. Regra: tantum devoluntum quantum appellatum Exceção: questão de ordem pública (interesse da própria jurisdição) b) Translativo: o tribunal ad quem pode, de ofício, conhecer e decidir questões de ordem pública, ainda que o recorrente não as tenha alegado. Obs.: não poderá, entretanto, em desfavor do acusado. c) Suspensivo: suspende os efeitos da decisão impugnada. A sentença pena absolutória não tem, apenas a condenatória. d) Regressivo: devolve ao próprio órgão que proferiu a decisão impugnada o poder de revê-la de modificá-la (juiz de retratação) e) Extensivo: aplica-se este efeito nos casos em que, havendo pluralidade de acusados e um ou outros recorrer e ou o outro não. Art. 580, CPP – estende aos corréus que não recorreram, os efeitos benéficos da decisão proferida no recurso do corréu que o interpôs. Dos requisitos de admissibilidade a) Cabimento: o requisito do cabimento tem dois aspectos: - decisão recorrível; - recurso adequado. b) Tempestividade: o recurso deve ser interposto dentro do prazo previsto em lei (termo inicial é a data da intimação da decisão de pretende impugnar – se precisar intimar, acusado e defensor o termo inicial se conta da intimação que se deu por último) c) Regularidade procedimental: diz respeito quanto à forma que o recurso deve ser interposto (ordinário e art. 578). Alguns recursos somente são admissíveis quando interpostos por petição e já acompanhados das respectivas razões (especial para o STJ e extra para o STJ) d) Ausência de fato impeditivo ou extintivo: - fato impeditivo do recurso: renúncia ao direito de recorrer que deverá ser expressa e antes da sua interposição. - fatos extintivos: (i) desistência que se dá após a interposição do recurso e também deve ser expressa; (ii) deserção pela falta de pagamento de custas (preparo) ou de despesas de translado). Ampla defesa e direito ao duplo grau afastam a hipótese de deserção nos recursos interpostos pelo acusado. e) Legitimidade: para interpor recurso é necessário estar investido de legitimidade. - legitimados gerais: art. 577, CPP: “O recurso poderá ser interposto pelo Ministério Público, ou pelo querelante, ou pelo réu, seu procurador ou seu defensor.” - legitimados especiais: > ofendido (CPP, art. 598) Nos crimes de competência do Tribunal do Júri, ou do juiz singular, se da sentença não for interposta apelação pelo Ministério Público no prazo legal, o ofendido ou qualquer das pessoas enumeradas no art. 31, ainda que não se tenha habilitado como assistente, poderá interpor apelação, que não terá, porém, efeito suspensivo.” > o assistente de acusação: “Art. 271. Ao assistente será permitido propor meios de prova, requerer perguntas às testemunhas, aditar o libelo e os articulados, participar do debate oral e arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério Público, ou por ele próprio, nos casos dos arts. 584, § 1º, e 598.” f) Interesse: interesse em recorrer está vinculado não só à regra da sucumbência (aquilo que se perdeu com a decisão), mas, também, àquilo que se pode obter em termos de resultado prático com a interposição do recurso. DO PROCEDIMENTO DOS RECURSOS PERANTE O TRIBUNAL No segundo grau de jurisdição (Tribunal) o RESE e o recurso de apelação serão processados nos termos dos artigos 610 e ss do CPP, cujas etapas abaixo são sintetizadas. a) registro e distribuição por sorteio ao Desembargador que funcionará como Relator do recurso. b) Remessa dos autos ao Procurador de Justiça para emissão de parecer no prazo de 5 dias c) Retorno dos autos ao Desembargado Relator para elaboração de Relatório e Voto no prazo de 5 dias e inclusão na pauta de julgamento d) Na sessão de julgamento do recurso, da qual as partes devem ser intimadas, poderão estas proferir sustentação oral pelo prazo de 10 minutos, primeiro o apelante e depois o apelado e) Em seguida o Relator profere o seu voto, após o que, o Presidente da sessão colherá o voto dos demais desembargadores integrantes do colegiado (seção, câmara ou turma). ATENÇÃO: Nos crimes punidos com reclusão atuará o Revisor que terá vista dos autos antes da sessão de julgamento; os prazos serão em dobro (10 dias) e o tempo para a sustentação oral será de 15 minutos.
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