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Território e Circulação Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Vivian Fiori Revisão Textual: Prof. Ms. Luciene Santos Transporte Marítimo e Fluvial • Introdução • Os Modais de Transportes no Brasil • Antecedentes Históricos do Transporte Aquaviário • A ascensão da lógica de mercado e a circulação de mercadorias no Brasil • O Transporte Hidroviário · Analisar as mudanças nos meios de transporte marítimo ao longo do tempo. · Evidenciar as caraterísticas do transporte marítimo e fluvial no Brasil. OBJETIVO DE APRENDIZADO Nesta unidade, vamos aprender um pouco mais sobre modais de transportes e especificamente o transporte marítimo e fluvial. Procure ler, com atenção, o conteúdo disponibilizado e o material complementar. A leitura é um momento oportuno para registrar suas dúvidas; por isso não deixe de registrá-las e transmiti-las ao professor-tutor. Além disso, para que a sua aprendizagem ocorra num ambiente mais interativo possível, é fundamental assistir à videoaula e realizar as atividades de sistematização e aprofundamento. Cada material disponibilizado é mais um elemento para seu aprendizado. Bons estudos! ORIENTAÇÕES Transporte Marítimo e Fluvial UNIDADE Transporte Marítimo e Fluvial Contextualização Leia atentamente o texto a seguir: CONCEITOS: • Porto organizado: bem público construído e aparelhado para atender a necessidades de navegação, de movimentação de passageiros ou de movimentação e armazenagem de mercadorias, e cujo tráfego e operações portuárias estejam sob jurisdição de autoridade portuária; • Portos marítimos: são aqueles aptos a receber linhas de navegação oceânicas, tanto em navegação de longo curso (internacionais) como em navegação de cabotagem (domésticas), independente da sua localização geográfica; • Portos fluviais: são aqueles que recebem linhas de navegação oriundas e destinadas a outros portos dentro da mesma região hidrográfica, ou com comunicação por águas interiores; • Portos Lacustres: são aqueles que recebem embarcações de linhas dentro de lagos, em reservatórios restritos, sem comunicação com outras bacias. • Instalação portuária: instalação localizada dentro ou fora da área do por- to organizado e utilizada em movimentação de passageiros, em movimen- tação ou armazenagem de mercadorias, destinadas ou provenientes de transporte aquaviário; • Terminal de uso privado: instalação portuária explorada mediante autorização e localizada fora da área do porto organizado; • Navegação de Cabotagem: É a realizada entre portos brasileiros, utilizando exclusivamente a via marítima ou a via marítima e as vias interiores (Lei nº10.893/04); • Navegação Interior (fluvial e lacustre): É a navegação realizada entre portos brasileiros usando exclusivamente as vias interiores (Lei 10.893/04); • Navegação de Longo Curso: É a realizada entre portos brasileiros e portos estrangeiros, sejam marítimos ou fluvial ou lacustre (Lei nº 10.893/04). Fonte: Trecho extraído da Secretaria de Portos, Presidência da República, 2016. Sistema Portuário Nacional. https://goo.gl/1OfGWX Ex pl or 6 7 Introdução Nesta unidade, vamos tratar do modal de transporte aquaviário – marítimo e fluvial, dando ênfase aos processos existentes no Brasil em relação ao transporte de cargas. Inicialmente, traremos de uma breve definição dos modais de transportes, posteriormente, apresentaremos alguns antecedentes históricos sobre o transporte fluvial e marítimo e, por fim, evidenciaremos algumas situações mais recentes destes modais de transporte no Brasil. Os Modais de Transportes no Brasil Existem diferentes modais de transportes, conforme se verifica no quadro 1. Contudo, os mais usuais para o transporte de cargas são o marítimo, o ferroviário, o rodoviário e aéreo. Quadro 1 – Modais de Transportes Modal Subtipos Alguns Meios de Locomoção Aquaviário MarítimoFluvial-Lacustre Navios, Barcos, Catamarãs. Terrestre Rodoviário Ferroviário Metroviário Caminhão, Automóvel, Trem, Ônibus. Dutoviário Gasoduto Oleoduto Mineroduto Alcoolduto Dutos Aéreo ----- Avião Elaborado por Vivian Fiori, 2016 Mas esta situação varia de país e região do mundo, dependendo das condições naturais do lugar, das infraestruturas instaladas no território e também conforme o tipo de mercadoria e produto a ser transportado. No caso do transporte dutoviário, por exemplo, é muito especializado em alguns produtos, tais como petróleo, álcool, gás natural etc. No caso do Brasil, privilegia-se o transporte rodoviário para transportar cargas, opção que se mostra bastante inadequada para um país de grandes dimensões. 7 UNIDADE Transporte Marítimo e Fluvial Como afirmam os pesquisadores geógrafos: Esta situação decorre das escolhas deliberadas que integram o “modelo brasileiro”, algumas delas recentemente questionadas. Podem se datar estas escolhas do fim dos anos de 1950 e início de 1960. Ao comprar, em 1957, 18 das 22 companhias privadas de estradas de ferro, o Estado brasileiro criava a rede ferroviária federal e empreendia uma racionalização que se traduziu no fechamento de linhas, ao mesmo tempo, tudo foi feito para favorecer o desenvolvimento da indústria automobilística, e a construção de Brasília foi o ponto de partida para as grandes obras rodoviárias. (THERY, MELLO, 2005, p. 196) Em relação aos meios de transporte que são usados para transportar cargas, há algumas vantagens e desvantagens em seu uso, a saber: Quadro 2 –: Vantagens e Desvantagens dos Modais Modais Vantagens Desvantagens Aquaviário Transportar a grandes distâncias e em grandes volumes, transporte de mercadorias de baixo valor agregado. Exige mais documentos, sobretudo quando é interoceânico. No caso do transporte hidroviário depende das condições climáticas. Dutoviário Carga e descarga mais simples. Baixo consumo de energia e transporte a grandes distâncias. Tem riscos ambientais casos os dutos sejam rompidos. Custo inicial da infraestrutura é alto. Ferroviário Grandes volumes transportados, baixo nível de acidentes e mais segurança no transporte. Menor poluição. Limitação do tráfego aos trilhos- certa rigidez. Malha insuficiente no Brasil, com diferentes bitolas. Rodoviário Tem maior capilaridade no território brasileiro. Transporte porta a porta. Gerenciamentos mais simples. Poluição do ar. Limite do tamanho e tipo de carga. Maior risco de acidentes e segurança. Aéreo Transporte a grandes distâncias, tempo curto e próximo às grandes cidades. Limite e volume das mercadorias. Frete alto. Elaborado por Vivian Fiori, 2016 O transporte aéreo, por exemplo, tem como limitação o tipo de mercadoria a ser transporte e, principalmente, o volume dela, mas presta-se ao transporte de produtos perecíveis que tenham de ser transportados em tempo curto, assim como de pequenos volumes. Em relação à gestão dos transportes no nível nacional, este ocorre mediante dois Ministérios e uma Secretaria Especial dos Portos. No Brasil, após os anos 1990-2000 criaram-se agências para regular e fiscalizar os portos brasileiros. Conforme se observa na figura 1, o Ministério dos Transportes tem sob sua responsabilidade o transporte aquaviário (fluvial e terrestre), e o terrestre (ferroviário, rodoviário e o dutoviário). Já o Ministério da Defesa tem a responsabilidade de gerenciar o transporte aéreo e a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) fiscaliza e regula as normas do setor aeroportuário no Brasil, em relação às atividades da aviação civil e da infraestrutura aeronáutica e aeroportuária, desde 2005. 8 9 Ministério dos Transportes Empresa de Planejamento e Logística (EPL) VALEC Secretária Especial do Portos - PR Secretária de Aviação Civil - PR DNIT - 2001 ANTT ANTAq Aquaviário: Fluvial Marítimo Ferroviário Rodoviário Dutoviário OTM ANAC - 2005 Aeroviário Infraero Ministério da defesa Figura 1 – Organograma do Transporte no Brasil – Nível Federal Fonte: Vivian Fiori, 2015 Em relação às demais agências,ambas reguladoras e de fiscalização, há a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAq), ambas são autarquias federais, com independência financeira e de gestão. Já as empresas que cuidam do transporte brasileiro no nível federal são a Em- presa de Planejamento e Logística (EPL), a Valec e a Infraero no setor da aviação. A VALEC Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. é uma empresa pública, sob a forma de sociedade por ações, vinculada ao Ministério dos Transportes, que en- tre outras atividades tem a incumbência da construção da Ferrovia Norte-Sul, uma das mais importantes para o transporte de cargas do Brasil. Antecedentes Históricos do Transporte Aquaviário O transporte fluvial e marítimo representa uma das mais antigas modalidades de transporte utilizadas pelo homem. As primeiras civilizações, como os assírios, babilônios e egípcios, utilizavam-se largamente dos rios, tanto para irrigação, como também para o transporte dos excedentes agrícolas produzidos. Na Antiguidade, os gregos, romanos e, principalmente, os fenícios, dedicaram- se a construir frotas de navios para comercializar seus produtos na costa do Mar Mediterrâneo. 9 UNIDADE Transporte Marítimo e Fluvial Na China antiga, construíram-se canais – existentes até hoje – que possibilitaram estabelecer rotas de comércio interno, indispensáveis para a formação do território da nação. Recentes pesquisas históricas levantaram a hipótese de que os chineses já tinham conhecimento da existência do continente americano, antes mesmo da chegada dos europeus ao Novo Mundo. Outros povos também tiveram uma intensa relação com este meio de transporte. Os vikings, da Escandinávia, utilizavam frotas de pequenos barcos para promover saques na costa da Inglaterra, por volta do século XIII, tendo possivelmente também chegado à costa americana. Os polinésios desenvolveram intenso fluxo de comércio entre pequenas ilhas da Oceania, em pequenas embarcações, que lhes permitiam o domínio de vastas extensões do Oceano Pacífico. A existência desse povo está intrinsicamente ligada às relações com o mar, como fonte de recursos e também como meio de comunicação. Convém lembrar que, em todos os casos citados aqui, portanto, desde os primórdios da civilização, já ocorria a utilização dos rios e mares como meios de comunicação. Porém, em geral, eram embarcações que utilizavam ou a tração humana – como os remadores das galeras romanas – ou a força dos ventos e correntes marítimas. Portanto, havia nesses meios de comunicação um determinismo natural, uma dependência de certos elementos para estabelecer tanto as rotas de navegação como a localização de portos, por exemplo. No final da Idade Média, e início do período renascentista, iniciou-se uma abordagem de aproximação entre a construção naval e o conhecimento científico. A utilização de instrumentos de navegação, como a bússola e o astrolábio, de forma sistemática, permitiu a criação de verdadeiros projetos exploratórios relacionados à navegação. Na Europa, um dos marcos deste momento histórico é a criação da Liga Hanseática, uma união entre cidades mercantis, estabelecidas desde o mar Báltico até o mar Mediterrâneo. A própria formação territorial de diversos países, como Lituânia, Polônia, Alemanha, Suécia, Dinamarca e Holanda, está intrinsicamente relacionada com o desenvolvimento mercantil propiciado por essa Liga. Entretanto, a partir do final do século XV, a navegação ganhou um imenso impulso. Na época, os países europeus mantinham um intenso fluxo comercial com regiões distantes da Ásia, como Índia e China. Estes países asiáticos produziam as chamadas especiarias, que são artigos que, à época, eram produzidos apenas naquela região e que tinham imensa procura na Europa. Entre esses produtos, podemos citar o chá, a canela, a pimenta do reino, a seda, entre outros. 10 11 Esse movimento comercial só não era maior devido a um obstáculo: as rotas de comércio eram praticamente todas terrestres, fazendo com que demorassem meses ou anos para transportar uma pequena caravana de mercadorias. Eram constantes os ataques às caravanas, bem como eram comuns as perdas ocasionadas por eventos climáticos, como neves, chuvas, deslizamentos. Com a tomada da cidade de Constantinopla (atual Istambul) pelos turcos otomanos, em 1453, ficou fechado o principal entreposto para as rotas que vinham da Ásia. Nessa cidade, ocorria o embarque das mercadorias oriundas das rotas terrestres em barcos, para distribuição ao longo da costa Mediterrânea. Esse evento desencadeou uma imensa procura por uma rota alternativa, que pudesse manter o comércio. O ambiente político na Espanha e em Portugal, ocasionado pelo fim das guerras de Reconquista contra os mouros, trouxe a estabilidade necessária para que tais países se voltassem para o comércio marítimo, que, no período, era dominado pelos genoveses e venezianos. Portugal iniciou sua expansão marítima tomando a cidade africana de Ceuta, em 1415. Pouco tempo depois, começaram a circunavegar o continente africano, estabelecendo feitorias, que eram entrepostos de onde embarcavam mercadorias e africanos escravizados. Tal contato propiciou o estabelecimento do domínio português sobre vastas áreas, o que deu início ao processo de formação de seu império colonial. Na mesma época, o recém-unificado reino da Espanha, governado pelos reis Fernando e Isabel, contratou o navegador genovês Cristóvão Colombo, para uma missão de encontrar novas rotas entre a Europa e as “Índias”, como eram chamadas as regiões asiáticas ricas em especiarias. No decorrer de todo esse processo de desenvolvimento da navegação marítima, ocorreram fatos dignos de nota: • O desenvolvimento de novas técnicas e instrumentos de navegação, que permitiram planejar antecipadamente viagens, reduzindo os riscos relacionados a perdas de mercadorias e embarcações; • A formação de pessoas ligadas diretamente ao ofício da navegação, fazendo surgir ambientes onde o conhecimento acerca da navegação pudesse ser documentado e transmitido; • A criação de novos vínculos comerciais, desta vez com as nações africanas no “caminho” das rotas; • O desenvolvimento de novas atividades produtivas, decorrente da descoberta de novos produtos, como a plantação de cana de açúcar e de café. 11 UNIDADE Transporte Marítimo e Fluvial No decurso de poucos séculos, deu-se, assim, a transição de um período de relativo isolamento comercial do continente europeu, no qual este estava voltado para atividades econômicas de base local, para um novo período em que o desenvolvimento dos meios de transporte marítimos iniciou o que chamamos de Idade Moderna. Vemos, assim, que o desenvolvimento das técnicas está intrinsecamente ligado ao modo de produção, e que tal desenvolvimento afeta a existência e as práticas cotidianas. Um evento posterior, que decretou uma revolução nos sistemas de transporte foi a invenção da máquina a vapor, no final do século XVIII, na Inglaterra. A disseminação do seu uso permitiu a criação das ferrovias, no âmbito do transporte terrestre, e dos navios a vapor, no âmbito da navegação marítima e fluvial. A máquina a vapor permitiu um avanço formidável nos processos de fabricação de diversos produtos, como nas tecelagens. A necessidade de ligação das regiões produtoras fabris com as produtoras de matérias-primas, somada à necessidade de comercialização das mercadorias, impulsionou a navegação. Com isso, foram sendo gradualmente incorporadas novas regiões, por meio de linhas regulares de navios a vapor. A ampliação e disseminação do modo de produção capitalista pelo mundo propiciou uma profunda revolução na velocidade das ações e na vida cotidiana das populações. Viagens que antes levavam meses passaram a ser feitas em semanas e, às vezes, em dias. Inauguraram-se linhas regulares entre cidades europeias, americanas e asiáticas, gerando o embrião do processo que hoje conhecemos comoglobalização. Além dos pressupostos técnicos, há que se levar em consideração as mudanças no sistema econômico que, ao longo dos últimos séculos, promoveram transformações fundamentais na ordem social e política. Após a Segunda Guerra Mundial, a expansão capitalista para países do Terceiro Mundo, mediante as empresas multinacionais, a ascensão econômica da China, no final do século XX, e a intensificação do processo de globalização da economia levaram a circulação de mercadorias numa lógica cada vez mais global e com sistemas técnicos mais padronizados, caso do contêiner, dos navios porta-contêiner, dos sistemas de informação cada vez mais precisos. Há uma prevalência das rotas de transporte entre os países do Norte, no sentido Leste-Oeste, ligando, sobretudo, os EUA, os países da Europa e da Ásia. Um dos pontos cruciais para entendermos o funcionamento da navegação nos dias atuais se encontra na inserção desta numa tendência de promoção da “logística multimodal”. 12 13 No Brasil, a Lei n. 9.611/1998 define as condições sobre a prática do Operador de Transporte Multimodal (OTM), definindo que o transporte multimodal de cargas se refere àquele que é regido por um único contrato que se utiliza de um ou mais modais de transporte, desde a origem até do destino final, usando o OTM. Há algumas dificuldades em relação à implementação do uso dessa lei por conta da questão fiscal e de infraestrutura, porque alguns estados afirmam que a arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) fica prejudicada. Há, ainda, problemas de infraestrutura relativos à ineficiência de alguns portos, bem como falta de terminais para integração entre os diversos modais. Os produtos que são comumente transportados de forma multimodal no Brasil são principalmente os commodities de minério de ferro, grãos e cimento, todos de baixo valor agregado. Logo, a logística de transportes e do mercado global segue uma flexibilização da produção e transporte por operadores logísticos. Com a globalização, a Geografia Portuária passa a ter fluxos comandados cada vez mais por grandes empresas e corporações do mercado marítimo. Como afirma Barat: Assim, os serviços de logística, de armazenagem, de transporte, de distribuição, bem com os serviços de gerenciamento de cadeias de suprimento e de compras, tornaram-se de tal forma entrelaçados que acabaram por gerar graus de eficiência jamais imaginados há três décadas. No entanto, como os gargalos nas infraestruturas de transporte comprometem a eficiência das cadeias logísticas, obviamente a globalização impôs grandes desafios competitivos para sua superação por parte de governos e empresas. Assim, a competitividade teve o seu principal suporte nos investimentos em infraestruturas. (BARAT, 2011, p. 221) Há uma multilocalização da produção e a integração produtiva e, segundo dados da UNCTAD, 80% do comércio mundial é feito pelo transporte marítimo, no qual vigoram principalmente os centros mais competitivos do mundo. Há uma integração das esferas da produção, do consumo, do transporte e da distribuição em todas as escalas da circulação por meio da logística. Alguns portos no mundo são concentradores de cargas (hub ports), já que são mais modernos e atendem às condições técnicas necessárias para o transporte de mercadorias dentro dos novos moldes do transporte marítimo. Inovações no Transporte Marítimo Quando avaliamos a situação atual do setor de transporte marítimo, vemos que tais inovações proporcionadas pelas novas tecnologias de informação permitem o rastreamento dos navios por parte dos clientes, permitindo que estes saibam em quanto tempo a carga enviada chegará ao seu destino, além de melhorar a interface entre as operações em terra e mar, agilizando a logística portuária. Ex pl or 13 UNIDADE Transporte Marítimo e Fluvial Isso permite um maior controle sobre a carga, melhorando a informação necessária ao planejamento das ações referentes ao ciclo de produção-circulação consumo das mercadorias. Acessando tais sistemas, antes mesmo da contratação dos serviços é possível verificar a modalidade de transporte mais adequada, especialmente quando se trata do cálculo do tempo de realização do lucro por meio da garantia de entrega ao consumidor final. O processo de conteinerização está intimamente relacionado aos processos de incorporação de novas tecnologias nas operações portuárias. [...] Estas novas tecnologias permitem o aumento das operações intermodais e a criação de redes logísticas globais, além de proporcionar economias de escala e menor risco de danos às mercadorias. Há uma relação intrínseca entre o fenômeno da conteinerização e a industrialização dos espaços portuários. Sendo o porto um espaço de articulação entre modalidades de transporte, este adquire importância locacional fundamental dentro do processo de acumulação do capital via circulação. Há o surgimento de novas ações e novos agentes no cenário do transporte em nível internacional, destacando-se as alianças estratégicas entre empresas e a figura do Operador Multimodal, que oferece serviços porta a porta sob contrato único. (Fonte: Trecho literal extraído de GOMES, Marco Antonio. O uso do território pela navegação de cabotagem brasileira por contêiner no contexto da circulação global de mercadorias. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo: São Paulo, 2013, p. 37). A ascensão da lógica de mercado e a circulação de mercadorias no Brasil O Brasil, por ser um país tão extenso, necessita de uma rede de transportes que seja adequada a integrar suas várias regiões. As políticas de transporte marítimo do Brasil optaram, ao longo do século XX, pelo binômio ferrovia-porto e rodovia- porto para a exportação. Já nos anos 1960, o governo criou o Programa de Corredores de Exportação dentro desta lógica. Nos anos 1990, com os governos neoliberais, houve privatizações e mudanças nas normas para atender aos interesses das grandes corporações- nacionais e internacionais. A Lei n. 8.630/1993, conhecida como Lei de Modernização dos Portos, trouxe flexibilização em relação à mão de obra, bem como com a criação de Terminais de Uso Privativo (TUP) para as grandes empresas. Essa lei dispõe sobre o regime jurídico da exploração dos portos organizados e das instalações portuárias. A exploração portuária pode ser feita mediante uso público, ou uso privativo, este último exclusivo para a movimentação de carga própria de uma determinada empresa ou uso misto para movimentação de carga própria e de terceiros. 14 15 Recentemente, com a Lei n. 12.815/2013, ampliaram-se as normas em relação ao uso privado das empresas, nos terminais de uso privado (TUP), fora do chamado porto organizado. Desse modo, existe o porto organizado – caso, por exemplo, do porto de Santos e dos terminais de uso privado (anteriormente chamado de privativo). Tais terminais de uso privado são usados por grandes empresas do setor mi- neral e do agronegócio principalmente, tais como: Aço-Minas, Petrobrás, Cargill, Braskem, Caulim da Amazônia, Gerdau, Jari Celulose, Samarco Mineração, Suco- Cítrico-Cutrale, Vale, entre outras. Lei Federal 12.815/2013 Art. 2o Para os fi ns desta Lei, consideram-se: I – porto organizado: bem público construído e aparelhado para atender a necessidades de navegação, de movimentação de passageiros ou de movimentação e armazenagem de mer- cadorias, e cujo tráfego e operações portuárias estejam sob jurisdição de autoridade portuária; II – área do porto organizado: área delimitada por ato do Poder Executivo que compreende as instalações portuárias e a infraestrutura de proteção e de acesso ao porto organizado; III – instalação portuária: instalação localizada dentro ou fora da área do porto organizado e utilizada em movimentação de passageiros, em movimentação ou armazenagem de mercadorias, destinadas ou provenientes de transporte aquaviário; IV – terminal de uso privado: instalação portuária explorada mediante autorizaçãoe localizada fora da área do porto organizado. Fonte: BRASIL. Lei n. 12.815/2015. Disponível em: https://goo.gl/xFE8lp. Acesso em 08/04/2016. Ex pl or Os Terminais de Uso Privado (TUP) são especializados principalmente em produtos de commodities agrominerais, como se observa no quadro a seguir: Quadro 3 – Algumas TUPs no Brasil teste Porto Trombetas – TUP Marítimo da Mineração Rio do Norte S/A no Pará CVRD Tubarão – TUP Marítimo da Vale S/A no Espirito Santo Caulim da Amazônia (Cadam) – TUP Marítimo da Caulim da Amazônia S/A – Cadam no Pará Ponta de Ubu - TUP Marítimo da Samarco Mineração S/A no Espírito Santo Praia Mole (Terminal De Produtos Siderúrgicos) TUP Marítimo da CSTT/Gerdau Açominas Sa/Usiminas no Espírito Santo Petrobrás Imbetiba - TUP Marítimo da Petróleo Brasileiro S/A – Petrobras no Rio de Janeiro Cargill Agrícola - TUP Fluvial da Cargill Agrícola S/A Rondônia Portonave – TUP Marítimo da Portonave S/A em Santa Catarina Ponta da Madeira - TUP Marítimo da Vale S/A no Maranhão Ponta da Laje (Terminal Portuário Privativo Miguel De Oliveira) TUP Marítimo da Ford Motor Company Brasil Ltda., na Bahia. Fonte: Elaborado por Vivian Fiori, 2016 15 UNIDADE Transporte Marítimo e Fluvial Alguns portos brasileiros são especializados em alguns setores, caso de portos exportadores de minerais e outros em produtos de commodities agrícolas, já ou- tros destacam-se pela diversidade de produtos importados e exportados. Outro aspecto importante em relação à questão portuária diz respeito ao fato de existir navegação de longo curso, podendo ser marítima ou fluvial, bem como a cabotagem que é um meio de transporte de porto a porto num mesmo país ou de uma parte do continente – caso da União Europeia. Figura 2 – Principais Portos da Cabotagem no Brasil e Mercosul Fonte: Marco Antonio Gomes, 2013 A cabotagem ainda é pouco usada no Brasil, apesar do grande litoral e hidrovias no Brasil é uma forma de transporte que poderia ser melhor e mais explorada no território nacional. Convém ressaltar que não existem portos específicos de cabotagem, mas sim cargas que são transportadas por cabotagem. Cabotagem no Brasil é a navegação realizada entre portos ou pontos do território do Brasil, utilizando a via marítima ou esta e as vias navegáveis interiores – caso dos rios. 16 17 Figura 3 – Principais Portos do Brasil Fonte: Ministério dos Transportes, 2014 No Brasil, a Secretaria de Portos da Presidência da República (SEP-PR) é a instituição responsável pelas políticas, programas e projetos voltados ao desenvolvimento da infraestrutura dos portos brasileiros. Dos 37 portos públicos sob a gestão da Secretaria de Portos, alguns encontram-se delegados a estados e municípios e outros são de administração da União (governo federal) mediante as Companhias Docas, conforme se observa no mapa (fig. 3). Os portos fluviais e lacustres são de competência do Ministério dos Transportes, mas é importante ressaltar que o porto de Manaus, por exemplo, é considerado marítimo, pois recebe bastante embarcação de linhas oceânicas. Como explica a SEP em seu site: Existem 37 Portos Públicos organizados no país. Nessa categoria, encontram-se os portos com administração exercida pela União, no caso das Companhias Docas, ou delegada a municípios, estados ou consórcios públicos. [...] É importante frisar que a Secretaria de Portos (SEP) usa como classificação de porto marítimo ou fluvial o tipo de navegação longo curso ou interior, e não por localização geográfica. Por exemplo, o Porto de Manaus é geograficamente fluvial/rio, entretanto na classificação da SEP é considerado marítimo por receber embarcações de linhas oceânicas. (SEP, 2016) Fonte: https://goo.gl/wCj4vj 17 UNIDADE Transporte Marítimo e Fluvial Dos portos sob a responsabilidade da União está o maior dos portos brasileiros, que é o de Santos, administrado pela Companhia Docas do Estado de São Paulo e pertencente ao governo federal – o maior em exportação e importação do Brasil. Os principais produtos exportados são de seguinte origem: indústria mecânica, indústria de materiais de transporte, setor de agroindústria e madeira, a indústria química, a indústria de alimentos e bebidas, metalurgia, entre outros. O Transporte Hidroviário O transporte hidroviário é uma modalidade de transporte aquaviário realizado nas hidrovias, que envolvem percursos definidos para o tráfego de rios, lagos e lagoas navegáveis, que requerem para isso sinalização, balizamento para que as embarcações possam ter segurança na circulação pela hidrovia. Fig. 4 – Mapa Aquaviário do Brasil Fonte: Adaptado de ANTAQ, 2012 18 19 Trata-se de um modal importante, pois permite transportar grandes quantidades de mercadorias a longa distância. No Brasil, é comum transportar por este modal de transporte minérios, cascalhos, areia, carvão, ferro, grãos e outros produtos não perecíveis. Importante! Dados sobre hidrovias no Brasil: • O Brasil possui uma rede hidroviária economicamente navegada de aproximada- mente 22.037 km. • Segundo o PNLT (2012), a participação do modal aquaviário, considerando hidrovias e cabotagem, é de 13% do total, sendo que as hidrovias respondem por 5%. • Segundo o levantamento das vias economicamente navegadas, realizado pela ANTAQ (2014), as principais hidrovias do país são: Amazônica (17.651 quilômetros), Tocantins-Araguaia (1.360 quilômetros), Paraná-Tietê (1.359 quilômetros), Paraguai (591 quilômetros), São Francisco (576 quilômetros), Sul (500 quilômetros). • 52% do potencial navegável do país é utilizado para o transporte de cargas ou passageiros, considerando o total previsto no PVN de 1973 e atualizações. • 80% das hidrovias estão na região amazônica, especifi camente no complexo Solimões-Amazonas. • De acordo com balanço da Antaq, o Brasil movimentou via navegação nos rios internos, 38 milhões de toneladas no primeiro semestre de 2014. Fonte: Dados extraídos do site do Ministério de Transporte com dados da ANTAQ, 2016. Você Sabia? Apesar da importância, tanto o transporte hidroviário como o realizado por meio de cabotagem são ainda pouco usados no Brasil quando comparados a outros modais de transportes. Finalizando esta unidade, é importante reconhecer os modais de transportes usados no Brasil, as normas e políticas públicas existentes, as técnicas usadas, bem como os produtos que são transportados por meio de tais modais. 19 UNIDADE Transporte Marítimo e Fluvial Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites A circulação através da navegação de cabotagem no Brasil: um sistema de fluxos e fixos aquaviários voltados para a fluidez FONSECA, Rafael Oliveira. A circulação através da navegação de cabotagem no Brasil: um sistema de fluxos e fixos aquaviários voltados para a fluidez. Universidade de São Paulo. São Paulo, 2012. https://goo.gl/5tROf8 Desenvolvimento dos transportes e integração regional no Brasil GALVÃO, Olimpio José de Arroxelas. Desenvolvimento dos transportes e integração regional no Brasil – Uma perspectiva histórica. Rio de Janeiro: IPEA, 1996. https://goo.gl/LGmFAS Sistema Portuário Nacional https://goo.gl/HmpbGp Vídeos Ministério dos Transportes https://goo.gl/Oam3Te 20 21 Referências GOMES, Marco Antonio. O uso do território pela navegação de cabotagem brasileira por contêiner no contexto da circulação global de mercadorias. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo: São Paulo, 2013. BARAT, Josef. Infraestruturas de logística e transporte: análise e perspectivas. In: SILVEIRA, Márcio R. (org.). Circulação, transportes e logística: diferentes perspectivas. São Paulo: Outras Expressões, 2011, p. 217-246. MONIÉ, Frederic. Globalização, modernização do sistema portuário e relações porto-cidade no Brasil. In: SILVEIRA, Márcio R. (org.). Circulação, transportes e logística: diferentes perspectivas. São Paulo: Outras Expressões, 2011, p. 299-330. THERY, Hervé; MELLO, Neli Aparecidade. Atlas do Brasil: disparidades e dinâmicas do território. São Paulo: EDUSP, 2005. 21
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