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HISTÓRIA DAHISTÓRIA DA EDUCAÇÃO EDUCAÇÃO UNIDADE 4 – EDUCADORESUNIDADE 4 – EDUCADORES E MOVIMENTOSE MOVIMENTOS HISTÓRICOS BRASILEIROS HISTÓRICOS BRASILEIROS Autor: Professor Mestre Jair Rodrigues daAutor: Professor Mestre Jair Rodrigues da Silva Silva Revisora: Maria da Conceição Fernandes deRevisora: Maria da Conceição Fernandes de França França INICIAR Introdução Chegamos ao capítulo final de nossa disciplina, História da Educação. Até aqui, conhecemos e refletimos sobre os diversos períodos históricos da humanidade, desde a Pré-história até a contemporaneidade (nosso objeto de estudo neste capítulo final). Toda a ênfase de nosso estudo está voltada para as principais contribuições da História da Educação, visto que buscamos sintetizar os principais acontecimentos, uma vez que nosso foco está no processo histórico da educação brasileira. Neste capítulo final, daremos continuidade a partir do período da ditadura militar no Brasil e, em especial, falaremos de dois grandes educadores nacionais: Anísio Teixeira e Paulo Freire. 4.1 A educação brasileira e os governos militares (1964- 1985) Na unidade anterior falamos sobre a ditadura militar no Brasil, que vigorou durante 20 anos, entre 1964 e 1984. Durante essa época, os militares se sucediam no governo brasileiro, como apresentado na linha do tempo a seguir. Vale ressaltar que foi durante o governo militar que marcos históricos aconteceram no campo educativo, como a reforma universitária, em 1968, e também no campo político e social com o Ato Inconstitucional nº 5, o temido AI-5, do qual falaremos adiante. Acerca dos generais que foram presidentes da república, durante suas gestões foram criadas ações e legislações que buscavam legitimar o autoritarismo imposto pela ditadura militar. Leis que impunham o autoritarismo militar sobre a Educação » Clique nas abas para saber mais sobre o assunto Foram anos conhecidos como os “anos de chumbo”, devido à forte repressão que o governo imprimia na sociedade a todos quanto fossem contrários ao governo militar. Muitos intelectuais, militantes políticos, estudantes e artistas sofreram com prisões, torturas e mortes – algumas, ainda hoje, não totalmente solucionadas, com corpos não encontrados. Por fim, abordaremos a contemporaneidade do sistema educacional no Brasil, citando, inclusive, nossa lei maior, a Constituição de 1988, e a importante legislação que regula a educação no Brasil: a Lei de Diretrizes e Bases, de 1996. Bons estudos! Lei nº 5379/67 Decreto-Lei nº 869/69 Lei nº 5692/71 Sobre esse período histórico da sociedade brasileira, Aranha (2006, p. 518) destaca: Com o golpe militar de 1964, desapareceu o estado de direito. Emudecidas as assembleias após expurgos e a dissolução dos partidos políticos, foram criados outros dois, a Aliança Renovadora Nacional (Arena) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), evidentemente manipulados pelo poder centralizado. O Executivo forte governava apoiado em atos institucionais (AI), mecanismo adotado pelos militares para transformar em lei imposta as decisões que não estavam previstas na Constituição ou mesmo eram contrárias a ela. Com o enrijecimento do regime, as manifestações políticas foram vigorosamente contidas. A doutrina de segurança nacional justificou todo tipo de repressão, desde cassação de direitos políticos, censura da mídia, até prisão, tortura, exílio e assassinato. Dessa maneira, perderam força os grupos que antes buscavam se fazer ouvir: operários, camponeses, estudantes. Ainda sobre o período da ditadura militar e as implicações de seu sistema autoritário que se apoderou e controlou as escolas brasileiras a partir de 1964, todo o pensamento e filosofia educacional contrária ao regime militar foi prontamente banida. Um exemplo foi a pedagogia de Paulo Freire, que mais tarde foi exilado pelo governo brasileiro. Durante os “anos de chumbo” o governo militar procurou controlar inclusive os movimentos estudantis, quando passou a perseguir entidades como a UNE – União Nacional dos Estudantes e legitimava a perseguição aos contrários ao regime por meio de atos inconstitucionais, dentre os quais destaca-se o AI-5 de dezembro de 1968, do qual falaremos adiante. VOCÊ SABIA? Vladimir Herzog (Osijek, Reino da Iugoslávia, 27 de junho de 1937 – São Paulo, 25 de outubro de 1975) foi jornalista, filósofo e teatrólogo naturalizado brasileiro, cuja morte foi falsamente noticiada como suicídio na prisão, fato que gerou muita polêmica na época. A história de sua tortura e morte simbolizou a luta contra a ditadura no Brasil. Para saber mais sobre esse importante jornalista, acesse sua biografia em: < https://vladimirherzog.org/biografia/ >. 4.1.1 O contexto político e econômico Foram anos de repressão política e social que tiveram um aparente fim, na política brasileira, em 1985, com o processo de redemocratização do país. Entre as ações desse período histórico, destacamos o retorno ao pluripartidarismo, a Lei da Anistia (Lei nº 6.683/79) e o movimento Diretas Já, que conduziu o país à democratização. A partir de 1978, os movimentos populares surgidos de diversos segmentos da sociedade civil cada vez mais exigiam a abertura política e o retorno ao estado de legalidade. As campanhas das chamadas diretas-já , pelas eleições diretas, encheram as praças no país. Em abril de 1984, reuniram mais de 1 milhão de pessoas no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. Em 1985, terminou o governo militar e teve início a então chamada Nova República , ainda que pela eleição indireta de Tancredo Neves. Com a sua morte trágica – acontecimento que provocou comoção popular –, o vice José Sarney tornou-se o primeiro presidente civil desde 1964 (ARANHA, 2006, p. 519). Assim, parecia chegar ao fim, não sem consequências e resquícios, um momento turbulento da história brasileira. Mas, com relação à educação, quais as marcas da ditadura militar durante esse período? No campo educacional, as ações do governo militar também foram desastrosas, com repressões e cerceamento de direitos, a começar pela prisão de estudantes e professores contrários ao regime militar. No Ensino Superior, a repressão muda a organização dos grupos estudantis, a fim de https://vladimirherzog.org/biografia/ vigiar e controlar as ações. De acordo com Aranha (2006), as ações autoritárias do governo militar foram sentidas nas organizações estudantis. A União Nacional dos Estudantes (UNE) foi, em 1967, considerada subversiva e passou a ser tida como fora da lei. A intenção do governo militar era a de controlar a movimentação dos estudantes, para tanto o governo permitia a atuação do Diretório Acadêmico (DA), restrito a cada curso, e do Diretório Central dos Estudantes (DCE), para cada universidade. Portanto, foi proibida toda ação política por parte dos estudantes universitários e secundaristas com a máxima imposta pelos militares: “Estudante é para estudar; trabalhador para trabalhar”. Nas escolas de ensino médio também houve ações de controle e repressão: essas se deram por meio da criação de centros cívicos e de disciplinas, como a disciplina de Educação Moral e Cívica. As escolas do grau médio sofreram controle, e seus grêmios foram transformados em centros cívicos, sob a orientação do professor de Educação Moral e Cívica, cargo ocupado por pessoa de confiança da direção, o que, em outras palavras, significava comprovar não ter passagem pelo Departamento Estadual de Ordem Política e Social (DEOPS). Este organismo controlava a participação das pessoas em movimentos de protesto, fichando como comunistas as consideradas subversivas. Aliás, a intenção explícita da ditadura em “educar” politicamentea juventude revelou-se no decreto-lei baixado pela Junta Militar em 1969, que tornou obrigatório o ensino de Educação Moral e Cívica nas escolas em todos os graus e modalidades de ensino. No ensino secundário, a denominação mudava para Organização Social e Política Brasileira (OSPB) e, no curso superior, para Estudos de ProblemasBrasileiros (EPB). Nas propostas curriculares do governo transparecia o caráter ideológico e manipulador dessas disciplinas. (ARANHA, 2006, p. 552) Com interferência direta do governo militar, o sistema de educação refletia a tensão social da época. Outro fato marcante da época dos “anos de chumbo” ocorreu no ano de 1968, quando cerca de 900 estudantes foram presos e interrogados pela polícia durante um congresso realizado pela UNE, que agia de modo clandestino no Brasil. Em especial, o ano de 1968 foi considerado um ano histórico no que se refere aos movimentos estudantis. Esse fato se deve ao movimento de revolta estudantil ocorrido em maio, realizado em Paris, e ao confronto entre estudantes do Mackenzie e da Universidade de São Paulo (USP), realizado em frente ao atual prédio do Centro Universitário Maria Antônia, em São Paulo – na ocasião, destruído e incendiado. Um ano conturbado para a sociedade e para o campo da educação, que culminou, em dezembro, na publicação do AI-5 (Ato Inconstitucional nº 5), que dava ao governo plenos poderes de punir e perseguir os contrários ao regime militar. VOCÊ QUER LER? O AI-5 foi considerado o mais duro golpe da ditadura militar no Brasil. Decretado em dezembro de 1968, o Ato Inconstitucional nº 5 dava plenos poderes ao Governo para prender e perseguir os inimigos do Estado. O ano de 1968 é considerado, na História, como o ano que não acabou. Para saber mais sobre esse período histórico da sociedade brasileira, marcado pelo autoritarismo do estado militar, acesse os arquivos eletrônicos do CPDOC, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), disponíveis em: < https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/AI5 >. Economicamente, o Brasil viveu um aparente milagre econômico durante os anos de 1968 a 1973, que consistiu, na verdade, em concentrar o poder econômico ainda mais nas mãos dos ricos, aumentando a desigualdade entre pobres e ricos no País. Durante essa época, o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu cerca de 14%. https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/AI5 Durante esse período foram criadas diversas estatais, entre elas, a Infraero e a Telebrás. Foi o tempo de grandes construções, como a Usina Hidrelétrica de Itaipu, a Ponte Rio- Niterói e grandes rodovias, como a Transamazônica. Para financiar essas e outras grandes obras, o governo recebia financiamento de capital estrangeiro, o que resultou em um aumento considerável da dívida externa brasileira. Para crescer as indústrias, bem como para atrair novas empresas, o governo abaixou a mão de obra de trabalhadores, o que consistia em uma missão fácil, uma vez que os sindicatos, assim como toda a sociedade, estavam controlados por meio da forte repressão e censura. Assim, favorecia os empresários e diminuía os ganhos dos trabalhadores. Mas o milagre econômico não se sustentou por muito tempo. Esse crescimento tornou-se insustentável, e, anos mais tarde, a recessão econômica foi um dos motivos da saída dos militares do governo brasileiro. Os anos seguintes à ditadura ficaram marcados pelo aumento e não pagamento da dívida externa e pela crescente inflação, que chegou, em 1993, a 2.700%. O milagre econômico deixou marcas sentidas por longos anos na economia brasileira. 4.1.2 A Reforma Universitária Em 1968, ainda sob o domínio da ditadura militar, o governo implementou a reforma do, então, ensino de terceiro grau, ou seja, do Ensino Superior. Para tanto, convocou pessoas do interesse governamental e depois submeteu o projeto ao Legislativo, que não se opôs à aprovação. Mais do que isso, os legisladores aprovaram a reforma, sem contestações e emendas, de modo célere, pois o temor era grande por parte dos parlamentares devido a cassações e perseguições políticas. Não era um bom negócio ser inimigo do Estado durante a época dos “anos de chumbo”. A Lei nº 5.540/68, que tratava do ensino de 3º grau, introduziu diversas modificações na LDB de 1961. Em tempo recorde, o Grupo de Trabalho da Reforma Universitária (GTRU), formado por pessoas especialmente designadas pelo presidente general Costa e Silva, definiu as diretrizes da reforma. O projeto baseava-se nos estudos do Relatório Atcon (Rudolph Atcon, teórico norte-americano) e do Relatório Meira Matos (coronel da Escola Superior de Guerra). O Congresso não ofereceu dificuldades para aprová-lo: depois das cassações de mandatos, intimidações, não se podia esboçar nenhum tipo de oposição ao governo autoritário (ARANHA, 2006, p. 558). A reforma do Ensino Superior tinha como princípio estratégias que visavam enfraquecer a autonomia das instituições, a aglutinação de várias faculdades em universidades e a nomeação de caráter técnico se sobrepondo ao pedagógico, na prioridade de escolha de professores. A reforma extinguiu a cátedra (cargo de professor universitário, titular em determinada disciplina), unificou o vestibular e aglutinou as faculdades em universidades para a melhor concentração de recursos materiais e humanos, tendo em vista maior eficácia e produtividade. Instituiu também o curso básico nas faculdades para suprir as deficiências do 2º grau e, no ciclo profissional, estabeleceu cursos de curta e longa duração. Desenvolveu, ainda, um programa de pós-graduação. A reestruturação completa da administração visava a racionalizar e modernizar o modelo, com a integração de cursos, áreas e disciplinas. Uma nova composição curricular permitia a matrícula por disciplina, instituindo-se o sistema de créditos. A nomeação de reitores e diretores de unidade dispensava a exigência de pessoas ligadas ao corpo docente universitário, bastando possuir “alto tirocínio da vida pública ou empresarial”. Como convém a uma reforma em que o viés tecnocrático se sobrepõe ao pedagógico (ARANHA, 2006, p. 558). De modo geral, a reforma do Ensino Superior, de 1968, pretendia atender aos interesses do governo ditatorial e controlar as atividades das faculdades e universidades brasileiras. Sobretudo a reforma buscava manter o Ensino Superior voltado para as classes superiores e o ensino técnico voltado para o mundo de trabalho nas indústrias para os mais pobres da população. Esse dualismo na educação é uma marca perene da história da educação brasileira, uma forte barreira que, até então, não havia sido vencida. Todavia, vale ressaltar que os cursos de pós-graduação, de mestrado e doutorado tiveram apoio do governo militar, o que, segundo Aranha (2006), objetivava demonstrar o desenvolvimento educacional e social durante o governo militar, ainda que o real objetivo do governo fosse o de implantar medidas para cercear a autonomia das instituições como um modo de controle que visava a minar o constante crescimento do movimento de politização dos estudantes universitários. 4.2 A Lei de Diretrizes e Bases – Lei nº 5.692/71 É importante discutir a criação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da educação, na versão de 1971, a fim de refletir sobre seus avanços e seus retrocessos. O que ainda vigorava era a ditadura militar brasileira e sua repressão a todos quanto fossem contrários ao seu modo autoritário de governar. O contexto para a criação dessa nova versão de tão importante legislação para o sistema educacional brasileiro só poderia se dar com a marca de sua mão pesada, uma vez que a sociedade em geral era vigiada de perto o tempo todo pela repressão. A LDB, de 1971, trata da reforma nos Ensinos Fundamental e Médio. Segundo Aranha (2006), essa reforma aconteceu no período mais violento da história da ditadura militar, durante o governo Médici. O então ministro da educação, Jarbas Passarinho, nomeou pessoas da confiança do governo para reestruturar esses níveis de ensino. Essas mudanças visavam otimizar o sistema educativo de modo a integrar o primário e o ginásio, o secundário e técnico. Diz o artigo 1º da Lei nº 5.692/71: “O ensino de 1º e 2º graus tem por objetivo geral proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de autorrealização, qualificaçãopara o trabalho e preparo para o exercício consciente da cidadania”. Para levar a efeito tal objetivo, a lei reestruturou o ensino, ampliando a obrigatoriedade escolar de quatro para oito anos. Com isso, aglutinou o antigo primário com o ginasial, suprimindo os exames de admissão, responsáveis pela seletividade (ARANHA, 2006, p. 559). Quanto ao ensino técnico e profissionalizante, a intenção do governo era a de proporcionar ao estudante um modo de concluir a escola já com uma formação profissional, ou seja, para preparar o jovem para ingressar no mundo do trabalho. A criação da escola única profissionalizante representou a tentativa de extinguir a separação entre escola secundária e técnica, uma vez que, terminado o ensino médio, o aluno teria uma profissão. Para aqueles que não conseguiam concluir os estudos regulares, foi reestruturado o curso supletivo. As integrações de primário e ginásio, secundário e técnico obedeceram aos princípios da continuidade e da terminalidade. A continuidade garantia a passagem de uma série para outra, desde o 1º até o 2º grau. Pelo princípio da terminalidade, esperava-se que, ao terminar cada um dos níveis, o aluno estivesse capacitado para ingressar no mercado como força de trabalho, caso necessário (ARANHA, 2006, p. 559). Para estruturar esse sistema de ensino, o governo implementou mudanças nos currículos, baseadas em dois níveis: ensino geral e formação profissional. A formação profissional oferecia habilitações para três diferentes áreas econômicas: agropecuária, indústria e serviços. VOCÊ QUER LER? A reforma educacional do primeiro e segundo graus foi estruturada na Lei nº 5.692/71 , que visava à reestruturação do sistema de ensino. Essa reforma tinha como objetivo que o estudante concluísse os estudos e ingressasse no mundo do trabalho sem a necessidade de concluir o Ensino Superior. Para saber mais, leia a matéria publicada por Tatiana Beltrão, no Agência Senado, disponível em: < https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/03/03/reforma-do-ensino- medio-fracassou-na-ditadura >. Com relação ao problema de analfabetismo, que contava à época com números alarmantes, o governo criou o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), em 1967, que entrou em vigor somente em 1970, momento em que o analfabetismo já alcançava 33% em jovens e adultos com mais de 15 anos, conforme ilustra o Infográfico 1 (ARANHA, 2006). Infográfico 1 – Analfabetismo no Brasil (1920 a 2000): Jovens e adultos com mais de 15 anos » Clique nas abas para saber mais sobre o assunto Fonte: ARANHA, 2006, p. 613. (Adaptado). Para o trabalho de alfabetização, era utilizado o método de Paulo Freire, todavia esvaziado do que o governo denominava de discurso ideológico e subversivo, o que, sem dúvidas, depreciava o processo educativo. Isso porque seu método é baseado no processo de conscientização. Para tentar minimizar o problema dos precários índices de alfabetização, em 1967 foi criado o Movimento Brasileiro de 1920 1940 1950 1960 1970 1980 1985 1991 2000 https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/03/03/reforma-do-ensino-medio-fracassou-na-ditadura Alfabetização (Mobral), que começou a funcionar de fato em 1970, época em que a taxa de analfabetismo de pessoas de mais de 15 anos chegou a 33%. Em 1972, caiu para 28,51%. O programa de alfabetização utilizava o consagrado método Paulo Freire (que veremos no tópico Pedagogia), só que esvaziado do conteúdo ideológico considerado subversivo. Havia, pois, uma adulteração indevida do método, impensável sem o processo de conscientização. Estudos mostravam o baixo rendimento alcançado pelo programa, se levarmos em conta o grande número de inscritos. Essa avaliação torna-se ainda menos otimista quando se verifica que nem sempre a aprovação significava desempenho de leitura, pois muitos dos “alfabetizados” permaneciam analfabetos funcionais, sem desenvoltura para ler e mal sabendo escrever o próprio nome (ARANHA, 2006, p. 561). Essa desvirtuação da necessária conscientização do método freiriano resultou na baixa qualidade do programa, que gerava números baixos de efetiva alfabetização e tinha, como consequência, um número elevado de analfabetos funcionais. O termo analfabeto funcional engloba pessoas que mal leem e escrevem. VOCÊ QUER VER? O filósofo e professor Mario Sergio Cortella discute o conceito de analfabetismo como um crime social, além da questão da falta de oportunidade e a exclusão social de pessoas que não tiveram acesso à formação educacional, por diversos motivos. Disponível em: A seguir, vemos a fotografia de um homem lendo a Bíblia . Essa imagem é emblemática para a educação de jovens e adultos, pois o desejo de aprender a ler pela primeira vez a palavra sagrada é uma das motivações recorrentes dos alunos de alfabetização da Educação de Jovens e Adultos (EJA), especificamente esse livro é muito citado entre os alunos. Outra motivação dos alunos está no desejo de ler uma carta recebida e responder por eles mesmos, principalmente para os parentes que moram em lugares distantes e outros estados. Figura 1 – Leitor da Bíblia , no centro da cidade de São Paulo. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 29/11/2020. A avaliação a respeito das reformas educacionais implementadas pela Lei nº 5.692/71 mostram que nem todas as expectativas foram exitosas, como previa o Ministério da Educação. Para Aranha (2006), dentre essas expectativas estavam: uma escola única, o que significava o fim da separação entre o ensino secundário e o técnico; a profissionalização de nível médio para todos; a integração geral do sistema educacional do nível primário ao superior, em um sistema de continuidade e cooperação das empresas na educação. Ao contrário, os resultados apontam para estratégias que não deram conta da demanda da educação nacional. Conforme destaca Aranha (2006, p. 562): A situação, porém, não era bem essa, e hoje podemos dizer que a reforma não só foi um fracasso como provocou prejuízos inestimáveis. Vejamos alguns aspectos. A obrigatoriedade de oito anos tornou-se letra morta, uma vez que não havia recursos materiais e humanos para atender à demanda. A profissionalização não se efetivou. Faltavam professores especializados, as escolas não ofereciam infraestrutura adequada aos cursos (oficinas, laboratórios, material), sobretudo nas áreas de agricultura e indústria. Daí o subterfúgio do recurso à área terciária, de instalação menos onerosa. Sem a adequada preparação para o trabalho, era lançado no mercado um “exército de reserva” de mão de obra desqualificada e barata, o que fez manter nossa dependência para com os países desenvolvidos. De modo geral, o sistema de ensino brasileiro seguia o constante dualismo, pois se as escolas técnicas preparavam as pessoas mais pobres para o mercado de trabalho, as escolas destinadas às classes superiores seguiam o ensino propedêutico, preparando os jovens para disputar as vagas nas faculdades de mais prestígio e que tinham os melhores cursos, o que, em geral, eram universidades públicas, como a Universidade de São Paulo. O percurso histórico da educação brasileira, como já dito antes, mantém as velhas marcas de uma educação distinta entre as classes mais pobres e as classes ricas. Enquanto as classes economicamente inferiores são formadas para o trabalho manual, a classe superior prepara seus descendentes para ocupar as vagas nas melhores universidades e, posteriormente, os cargos de maior destaque social e político. Essas são marcas persistentes no ensino brasileiro. Veremos, mais adiante, com a Constituição brasileira de 1988 e a criação da Lei de Diretrizes e Bases (LBD), de 1996, se a educação brasileira seguiu caminhos mais igualitários quanto à oferta de educação para a sociedade. Historicamente, as demandas são muitas e uma educação de qualidade para todos sempre foi um desafio enorme para a políticas educacionais no Brasil – aspecto que remonta às primeiras ações educacionais brasileiras, com a vinda dosjesuítas e suas formas de ensino. 4.3 Educação popular e contestação a partir dos movimentos sociais Nesta seção, vamos abordar a temática dos movimentos sociais, dando destaque especial ao trabalho do educador Paulo Freire e aos movimentos dos educadores por melhores condições de trabalho. Com o esperado término da ditadura militar brasileira, na década de 1980, novas ações de retorno à democracia começaram a surgir também no campo educacional, dando novos ares à política e à educação brasileira, com enormes desafios a superar – entre eles, o alto índice de analfabetismo e de analfabetos funcionais. 4.3.1 O surgimento das tendências pedagógicas A contribuição de Paulo Freire para a educação brasileira se fez por meio de sua obra bibliográfica, que serve de base para diversas pesquisas e publicações, mas se dá, principalmente, no campo da educação de jovens e adultos e no combate ao analfabetismo. O chamado método Paulo Freire. O método Paulo Freire consiste em desconsiderar as ideias prontas e acabadas. Segundo Freire, para educar é necessário compreender e dialogar com o educando. Nesse sentido, o educador deve rejeitar a postura de quem sabe tudo e se inserir no universo do educando. Para tanto, é necessário conhecer seu universo, sua comunidade, modo de vida e trabalho. É necessário o diálogo como base para o trabalho com o educando. Segundo Aranha (2006), o método de Paulo Freire busca: Inicialmente, Paulo Freire recomenda fazer o levantamento do universo vocabular dos grupos, a fim de escolher palavras geradoras, que variam conforme o lugar. Por exemplo, em uma região de Pernambuco as palavras escolhidas foram: tijolo, voto, siri, palha, biscate, cinza, doença, chafariz, máquina, emprego, engenho, mangue, terra, enxada, classe. Já nas favelas do Rio de Janeiro elas foram outras: favela, chuva, arado, terreno, comida, batuque, poço, bicicleta, trabalho, salário, profissão, governo, mangue, engenho, enxada, tijolo, riqueza. Em seguida são organizados os círculos de cultura, constituídos de grupos pequenos sob a coordenação de um animador, que tanto pode ser um professor ou um companheiro já alfabetizado. Diante da representação de uma favela, por exemplo, há o debate sobre o problema da habitação, da alimentação, do vestuário, da saúde, da educação, descobrindo-a como uma situação problemática. Em seguida, passa-se à visualização da palavra favela. Para Paulo Freire, a alfabetização de adultos, para que não seja puramente mecânica e memorizada, o que se há de fazer é proporcionar-lhes que se conscientizem para que se alfabetizem (ARANHA, 2006, p. 599). O método de Freire busca, além da alfabetização, a consciência do ser humano enquanto ser histórico, como um “fazedor de cultura”. Seu método foi desenvolvido com sucesso não só no Brasil, mas em outros países do mundo. A singularidade de seu método de trabalho está além do aprendizado das palavras, mas em como fazer uso dessa. Está em deixar de estar à margem da sociedade letrada e transcender, verbo que pode sintetizar o poder libertador da educação para Freire. Ao longo das mais diversas experiências de Paulo Freire pelo mundo, o resultado sempre foi gratificante e muitas vezes comovente. A pessoa iletrada chega humilde e culpada, mas aos poucos descobre com orgulho que também é um “fazedor de cultura” e, mais ainda, que a condição de inferioridade não se deve à sua incompetência, mas à sua humanidade roubada. O método de Paulo Freire pretende superar a dicotomia entre teoria e prática: no processo, quando o indivíduo descobre que sua prática supõe um saber, conclui que, de certa maneira, conhecer é interferir na realidade. Percebendo-se como sujeito da história, toma a palavra daqueles que até então detêm seu monopólio. Alfabetizar é, em última instância, ensinar o uso da palavra (ARANHA, 2006, p. 600). Outros movimentos educacionais e educadores que tiveram e têm atuação importante são apresentados nos cards a seguir. Educadores brasileiros de destaque » Clique nas abas para saber mais sobre o assunto Segundo Aranha (2006), a pedagogia histórico-crítica se insere na luta por democratização da educação em vista da falta de organização e da consequente exclusão que a educação brasileira gera para as camadas menos favorecidas da sociedade. A intenção do educador Demerval Saviani é a de que a escola possa ser pública, gratuita e de qualidade para toda a sociedade brasileira. Para tanto, é necessário romper com sua tradição dualista, uma escola para ricos e outra para pobres. Em vez disso, que a escola transmita conhecimentos científicos aos alunos sem ser conteudista, isso é, que trabalhe os conhecimentos de modo significativo. Florestan Fernandes (1920-1995) Paulo Freire (1921-1997) Demerval Saviani (1943-) VOCÊ QUER VER? Para conhecer mais sobre a pedagogia histórico-crítica, vale assistir ao depoimento de seu criador: o intelectual e educador Demerval Saviani. No relato, o autor fala das motivações e das especificidades da pedagogia crítica elaborada por ele e por outros estudiosos, como o professor José Carlos Libâneo. Disponível em: As teorias construtivistas na educação brasileira são um tema que merece destaque. Entre as que influenciaram a educação brasileira, podemos citar os postulados da psicogênese de Jean Piaget em suas abordagens sobre os estágios de desenvolvimento, teoria já conhecida pelos escolanovistas na década de 1930. A partir da década de 1980, tais práticas passaram a ser utilizadas na educação brasileira com a teoria do desenvolvimento do russo Lev Vygotsky, da qual podemos citar, como exemplo, a zona de desenvolvimento proximal (ZDP), na qual se considera a capacidade de evolução do aluno a respeito de seu conhecimento atual para o desenvolvimento de novos conteúdos. Outra teoria que ganhou muita notoriedade no Brasil vem da argentina Emilia Ferrero e sua concepção de alfabetização a partir da psicogênese da língua escrita, que não consiste em um método em si, mas em uma visão ligada aos estágios de desenvolvimento baseada em Piaget, de quem foi aluna. Essas tendências influenciaram na construção dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e seguem influenciando, até hoje, tanto na prática de professores quanto na formulação de projetos e políticas educacionais. Em especial, a obra desses três pesquisadores contribuiu e ainda segue influenciando os currículos e as propostas educacionais brasileiras. Desde a década de 1980 passaram a ser enfatizados também os pressupostos epistemológicos do construtivismo, acrescentando- se a esses estudos a contribuição do russo Vygotsky e da argentina Emilia Ferreiro [...] O construtivismo também influenciou a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais, aprovados após a LDB de 1996, no sentido de recomendar que a formação do aluno não se reduza à acumulação de conhecimentos, objetivo comum da pedagogia tradicional. Mas também advertiu sobre os enganos da assimilação inadequada do construtivismo, quando o professor descuida dos conteúdos, já que o compromisso da instituição escolar é garantir o acesso aos saberes elaborados socialmente e que devem estar em consonância com as questões sociais que marcam cada momento histórico (ARANHA, 2006, pp. 608-609). As teorias construtivistas têm grande influência na política educacional brasileira, a ponto de estarem na construção dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), documentos de grande importância para os sistemas de ensino por todo o País. Todavia, essa influência se faz notória ainda no século XXI, inclusive na formação de professores de educação básica, fazendo parte dos currículos de muitas universidades e, também, na elaboração dos currículos municipais e estaduais das redes públicas de ensino. 4.3.2 Pensadores da educação nacional: Anísio Teixeira e Paulo Freire Os educadores e pensadores da educação brasileira em destaque nesta seção são Anísio Teixeira e Paulo Freire devido à importância histórica de ambos. Anísio Teixeira (1900-1971),filósofo e educador baiano, foi um incansável defensor de uma educação pública de qualidade, gratuita e democrática para o Brasil. Em sua trajetória, formou-se em Direito e, durante uma pós-graduação, em Nova Iorque, teve contato pessoal com o educador norte-americano John Dewey, cujas ideias influenciaram sua volta ao Brasil, quando iniciou sua trajetória na educação. Anísio Teixeira enfrentou duas ditaduras ao longo de sua vida: a ditadura de Vargas, na qual foi acusado de ser comunista, e a ditadura militar, período em que veio a falecer de modo violento e sem explicações. A importância de Teixeira para educação foi notória, conforme cita Aranha: Na sua obra Pequena introdução à filosofia da educação , Anísio Teixeira lembra que a educação tradicional provocou a separação entre escola e vida, quando, na verdade, “a escola deve ser uma parte integrada da própria vida, ligando as suas experiências às experiências de fora da escola”. E completa: “a reorganização [do programa escolar] importa em nada menos do que trazer a vida para a escola. A escola deve vir a ser o lugar aonde a criança venha a viver plena e integralmente. Só vivendo, a criança poderá ganhar os hábitos morais e sociais de que precisa, para ter uma vida feliz e integrada, em um meio dinâmico e flexível tal qual o de hoje” (ARANHA, 2006, p. 609). Já a obra de Paulo Freire (1921–1997) figura como uma das mais importantes do Brasil e é reconhecida em diversos países. Os primeiros trabalhos de Freire como educador popular começaram, em 1962, em Angicos, no Rio Grande do Norte, onde colaborou para a alfabetização de cerca de trezentos trabalhadores. Diante desses resultados, Miguel Arraes, então governador de Pernambuco, convidou Freire para que fizesse trabalho semelhante em seu estado de origem. O governo federal também intencionava trabalhar com o método de alfabetização de adultos de Freire, entretanto, com o golpe militar de 1964, o governo militar fez cessar o projeto e, logo depois, prendeu Freire, que ficou cerca de 15 anos no exílio, vivendo e trabalhando seu método de alfabetização e atuando como educador no Chile e em outros países, voltando ao Brasil somente em 1980. Educação como prática de liberdade O livro Educação como prática de liberdade , de 1967, detalha o método de trabalho de Freire para e educação popular. O livro revela em detalhes o método, explicando os conceitos de palavra geradora, fichas de cultura, entre outros, os quais servem, ainda hoje, como base para a Educação de Jovens e Adultos (EJA), em todo o Brasil e em alguns outros países. Segundo Aranha (2006), Paulo Freire foi um dos grandes educadores da educação popular brasileira e sua obra foi traduzida em diversos países. O educador recebeu diversos títulos de Doutor Honoris Causa por universidades da Europa e da América, e também o Educação pela Paz, da UNESCO, em 1986. Podemos dizer, sem risco de errar, que Paulo Freire (1921-1997) foi um dos grandes pedagogos da atualidade, respeitado não só no Brasil, mas também no mundo. Mesmo que suas ideias e práticas tenham sofrido as mais diversas críticas, é indispensável considerar a fecunda contribuição que deu à educação popular. Antes de tudo, Paulo Freire era cristão. Seu cristianismo, porém, embasava-se em uma teologia libertadora, preocupada com o contraste entre a pobreza e a riqueza resultante de privilégios sociais. Mantida a fé, sua formação intelectual alterou-se com o tempo, influenciada inicialmente pelo neotomismo. Percorreu em seguida os caminhos da fenomenologia, do existencialismo e do neomarxismo (ARANHA, 2006, p. 593). A obra escrita de Paulo Freire conta com diversos livros e constitui referência para gerações de pesquisadores e educadores. Obras como Pedagogia da autonomia , Pedagogia do oprimido , entre outras, são referências para a formação de professores. Inclusive, Pedagogia da autonomia é uma das bases teóricas de nossa disciplina. 4.4 A educação brasileira na contemporaneidade Caminhando para a última seção de nossa disciplina, vamos iniciar nossa reflexão do percurso histórico brasileiro a partir da Constituição Brasileira de 1988, a Constituição Cidadã. Depois, vamos analisar a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, que é considerada, ainda hoje, como uma das legislações mais avançadas do mundo no que diz respeito à proteção de crianças e adolescentes. Passaremos para a LDB, de 1996, lei que rege nosso sistema de ensino. Vamos refletir também sobre a Lei nº 10.639, de 2003, que trata sobre o ensino de história e cultura afro-brasileira nas disciplinas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras e finalizaremos abordando a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), de 2017, além de suas contribuições para a educação na atualidade. E, é claro, não podemos deixar de citar o ano de 2020 como um ano histórico por conta da crise mundial provocada pela pandemia da COVID-19 e seus efeitos na educação. Avançaremos para a parte final de nossa disciplina e daremos início na criação da Constituição brasileira de 1988, com a aparente dissolução da ditadura militar, em 1985, demonstrando que o Brasil precisava de novos ares democráticos, a fim de renovar a política e a vida social. No tocante à educação, os debates feitos se voltavam para a questão da escola pública e o papel dos entes federativos para uma escola pública, gratuita e de qualidade para todos. Entre as discussões, segundo Aranha (2006, p. 570), encontravam-se os princípios: • gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; • ensino fundamental obrigatório e gratuito; • extensão do ensino obrigatório e gratuito, progressivamente, ao ensino médio; • atendimento em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos; • acesso ao ensino obrigatório e gratuito como direito público subjetivo, ou seja, o seu não oferecimento pelo poder público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente (podendo ser processada); • valorização dos profissionais do ensino, com planos de carreira para o magistério público; • autonomia universitária; • aplicação anual pela União de nunca menos de 18% e pelos estados, Distrito Federal e municípios de 25%, no mínimo, da receita resultante de impostos, na manutenção e desenvolvimento do ensino; • distribuição dos recursos públicos assegurando prioridade no atendimento das necessidades do ensino obrigatório nos termos do plano nacional de educação; • recursos públicos destinados às escolas públicas podem ser dirigidos a escolas comunitárias confessionais ou filantrópicas, desde que comprovada a finalidade não lucrativa; • plano nacional de educação visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e à integração das ações do poder público que conduzam à erradicação do analfabetismo, universalização do atendimento escolar, melhoria da qualidade do ensino, formação para o trabalho, promoção humanística, científica e tecnológica do país. Esses são os princípios que regeram a criação da Lei Magna da Legislação Brasileira. É claro que a Constituição de 1988 deu base e inspiração para a criação da LDB, de 1996, da qual falaremos a seguir. A Constituição Cidadã, tal como ficou conhecida, foi fruto de união e mobilização de diferentes grupos que visavam ao interesse maior da educação brasileira, fruto de movimentos sociais, educadores e entidades que atuaram nos anos de 1987 e 1988, durante a Assembleia Constituinte. Outra legislação que contou com muito empenho de grupos sociais, educadores e diferentes atores sociais foi o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), criado em 1990. O ECA contou com o apoio de diferentes grupos da sociedade brasileira e foi criado no ano de 1990. Essa legislação é considerada uma das mais avançadas e defende os direitos da criança à saúde, à educação, ao esporte, ao lazer, à convivência com a família etc. VOCÊ QUER VER? Para conhecer mais sobre a criação do ECA, no ano de 1990,assista ao vídeo de homenagem criado pelo Conselho Nacional de Justiça que mostra a trajetória dos envolvidos para a criação dessa importante legislação para a proteção de crianças e adolescentes no Brasil. Disponível em: Em 1996, tivemos a criação da lei que rege a educação brasileira atualmente, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, a LDB, de 1996. A Lei nº 9.394/96 estabelece os níveis de educação, bem como as regras gerais dos sistemas de ensino. No art. 2º, estabelece que a educação é o dever da família e do Estado, e está inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana. Ela deixa claro que a educação tem como objetivo maior o desenvolvimento do educando, com vistas ao exercício da cidadania, contribuindo para a qualificação no mundo do trabalho. Seus princípios estão ligados aos princípios educacionais descritos no terceiro artigo da Constituição Federal de 1988. Dentre os treze princípios, destacam-se: Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; Gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; Consideração com a diversidade étnico-racial. Desde sua criação, em 1996, a LDB sofreu algumas alterações por força de lei, dentre as quais podemos destacar a mudança na duração do ensino fundamental para nove anos. Essa mudança incluiu a criança de 6 anos de idade na classe de alfabetização e que aos 14 conclua o Ensino Fundamental. O Ensino Fundamental de nove anos passou a ser implementado nos sistemas públicos da educação brasileira em 2010. Etapas e duração da educação básica no Brasil do ensino Infantil ao Ensino Médio técnico » Clique nas abas para saber mais sobre o assunto Educação Infantil Pré- escola Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Médio técnico Podemos dizer que a LDB também foi, assim como a Constituição Federal de 1988 e o ECA de 1990, uma conquista de diferentes atores sociais que buscavam uma educação pública de qualidade para a nação brasileira. Em 2003, aconteceu a criação de uma importante lei que trata sobre a contribuição do povo afrodescendente para a sociedade brasileira, trata-se da Lei nº 10.639. Essa legislação promove a obrigatoriedade de ensino da cultura e história africana e afro- brasileira nas escolas de educação básica em todo o território nacional. Em seu primeiro parágrafo, a lei fala sobre a contribuição e, sobretudo, a luta do povo negro por sua liberdade e para a formação da sociedade brasileira. O ensino de história e cultura afro-brasileira e africana deve se dar, preferencialmente, nas disciplinas de educação artística, de literatura e história brasileiras. Todavia, podem estar presentes como tema transversal e matéria interdisciplinar durante a formação escolar. A presente lei é fruto da luta de diferentes atores sociais, com destaque para o movimento negro, que lutou por gerações na reivindicação dos direitos usurpados do povo afrodescendente, entre esses o direito de contar sua própria história, o que faz sentido quando entendemos que a história desse povo quase sempre foi contada pela voz dos colonizadores. A Lei nº 10.639, de 2003, pode ser vista como uma ação afirmativa, uma ação reparadora diante de séculos de vozes silenciadas ou não ouvidas. Nesse cenário, a história precisa ser contada pelas diferentes vozes que construíram a história da nação brasileira. Uma carregada de influências de diferentes povos, tal como a formação do Brasil, fruto da miscigenação. Essa legislação é um importante passo, mas ainda há muito o que fazer em relação à aceitação e participação dessa população na sociedade brasileira, seja no campo educacional, político, cultural ou social. Devemos citar também a Lei nº 11.645, de 2008, que estabelece a inclusão oficial e obrigatória no currículo oficial da rede de ensino a temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Recentemente, em 2017, tivemos a aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que tem como objetivo equalizar os currículos de todos os sistemas de ensino, seja público ou privado, em todo o país. A BNCC tem como destaque a participação da sociedade, em especial das organizações e movimentos educacionais, bem como de professores e gestores que criaram uma base curricular que contempla habilidades e competências para todos os estudantes brasileiros. O objetivo central da BNCC é a de oferecer oportunidades de acesso ao conhecimento de modo mais igualitário em todas as regiões brasileiras. Segundo o Ministério da Educação, a Base estabelece a tríade "conhecimentos, competências e habilidades" que todos os estudantes, em todas as regiões do País, devem desenvolver ao longo da educação básica. Sua criação segue os princípios éticos, políticos e estéticos oriundos das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica. Anterior à Base, os sistemas de ensino definiam seus currículos tendo como base os Parâmentos Curriculares Nacionais (PCN) e as normas contidas na LDB. A partir da BNCC os currículos passam a ser unificados de modo a manter e respeitar as peculiaridades e diferenças regionais, isso considerando a diversidade cultural de um país do tamanho do Brasil, assim, unificando currículos de norte a sul. Apesar de toda a problemática advinda da pandemia da COVID-19, iniciada em 2020, que desestruturou os sistemas de ensino, a economia mundial e a sociedade brasileira, retomando de modo diferente as desigualdades sociais que constituem marcas perenes ao longo de toda a história da educação brasileira, o que vimos, enquanto educadores, nesse período foi a desigualdade de acesso à educação imperar. Uma vez impedidos, pela pandemia, de termos o ensino presencial e com as escolas fechadas o ensino remoto não deu conta das inúmeras famílias que não têm acesso ao conteúdo digital ofertado pelos sistemas de ensino, resultando na exclusão de milhares de alunos justamente por não terem acesso à internet. A pandemia de 2020 nos mostrou que a educação brasileira foi marcada por várias diferenças e injustiças sociais, carregada de dualismo e, sobretudo, vivida intensamente por educadores e educadoras que mantêm a esperança de uma educação de qualidade para todos os brasileiros e brasileiras, apesar de todas as dificuldades. Os reflexos dessa situação aparecerão mais adiante, uma vez que esse cenário ainda se mostra desafiador para a educação brasileira. Síntese Chegamos ao final da nossa disciplina e, neste último capítulo, falamos sobre o panorama da educação brasileira desde a ditadura militar até a BNCC. Percebemos que, infelizmente, a desigualdade social é uma marca cristalizada na educação brasileira, uma marca perene desde a implementação das primeiras escolas em nosso País. Percebemos que a educação brasileira, nesse último período que estudamos, passou por significativos avanços legislativos, destacando-se a LDB, de 1996, o ECA, de 1990, entre outras. Sendo que essas legislações objetivam diminuir as desigualdades sociais e educacionais que insistem em permanecer na educação brasileira. Seguramente, ainda há muito o que fazer para melhorar a educação brasileira e, consequentemente, contamos com vocês, futuros professores e professoras, nessa tão grande empreitada. Sucesso em suas carreiras! SAIBA MAIS Título : Paulo Freire – Patrono da educação brasileira Autor(a) : Instituto Paulo Freire Ano : 2020 Comentário : Artigo que aborda a trajetória do educador brasileiro Paulo Reglus Neves Freire, o conhecido educador brasileiro Paulo Freire (1921- 1997). O texto narra suas conquistas, lutas, prêmios e extensa bibliografia. O texto biográfico está disponível no site do Instituto Paulo Freire. Onde encontrar? < https://www.paulofreire.org/paulo-freire-patrono-da- educacao-brasileira >. Título : Anísio Teixeira e o Manifesto dos Pioneiros da Educação Autor(a) : Helena Bomeny Ano : 2020 Comentário : O texto aborda a história domovimento dos pioneiros da educação brasileira e a ação de Anísio Teixeira, a mais expoente voz entre os 26 educadores que assinaram manifesto criado em 1932. A intenção do manifesto foi a de criar uma escola pública, de qualidade, para a sociedade brasileira – sobretudo, uma escola que superasse o caráter dualista de educação de classes. Onde encontrar? < https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Educacao/ManifestoPioneiros >. Título : Biografia de Florestan Fernandes Autor(a) : Libânia Xavier Ano : 2020 Comentário : Biografia do educador e parlamentarista Florestan Fernandes. Como educador e deputado federal, Florestan Fernandes lutou por uma educação pública e de qualidade para a sociedade brasileira, sobretudo para os mais pobres. O professor Florestan Fernandes também atuou na reforma universitária ocorrida em 1968, durante a ditadura militar no Brasil. https://www.paulofreire.org/paulo-freire-patrono-da-educacao-brasileira https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Educacao/ManifestoPioneiros Onde encontrar? < http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete- biografico/fernandes-florestan >. Referências bibliográficas ANALFABETISMO Funcional - Mario Sergio Cortella . Postado por Canal do Cortella. (06min. 20s.) son. color. port. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch? v=MRp6iPh4gAA >. Acesso em: 23 dez. 2020. ARANHA, M. L. A. História da educação e da pedagogia : geral e Brasil. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2006. BELTRÃO, T. Reforma tornou ensino profissional obrigatório em 1971. Agência Senado , Brasília, 03 mar. 2017. Disponível em: < https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/03/03/reforma-do-ensino-medio- fracassou-na-ditadura >. Acesso em: 23 dez. 2020. BOMENY, H. 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Acesso em: 23 dez. 2020. http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/fernandes-florestan https://www.youtube.com/watch?v=MRp6iPh4gAA https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/03/03/reforma-do-ensino-medio-fracassou-na-ditadura https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Educacao/ManifestoPioneiros http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/l5379.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ait/ait-05-68.htm BRASIL. Decreto-lei n. 869, de 12 de setembro de 1969. Diário Oficial da União , Brasília, DF, 15 set. 1969. Disponível em: < https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1960-1969/decreto-lei-869-12-setembro- 1969-375468-publicacaooriginal-1-pe.html >. Acesso em: 23 dez. 2020. BRASIL. Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Diário Oficial da União , Brasília, DF, 12 ago. 1971. Disponível em: < www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5692.htm >. Acesso em: 08 jan. 2021. BRASIL. Lei n. 6.683, de 28 de agosto de 1979. 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