Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Políticas Educacionais e Organização da Educação Básica Angelica Bocca Rossi Código Logístico 58299 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6230-0 9 7 8 8 5 3 8 7 6 2 3 0 0 Políticas Educacionais e Organização da Educação Básica Angelica Bocca Rossi Estudar as políticas educacionais não é apenas conhecer as leis que regem a categoria, mas é também ter a consciência da relevância do papel da educação na formação do cidadão, conhecer os direitos e as obrigações do Estado e da sociedade, bem como dos profissionais do magistério. Desse modo, estudar políticas educacionais colabora com a formação do professor brasileiro, inclusive no que diz respeito a comportamento, ética, direitos e deveres, compromisso, atitudes, conceitos e procedimentos. P o líticas E d u cacio n ais e O rg an ização d a E d u cação B ásica A n g e lica B o cca R o ssi Políticas educacionais e organização da educação básica IESDE BRASIL S/A 2019 Angelica Bocca Rossi Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2019 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: surasaki/ Lincoln Beddoe/ GUNDAM_Ai/ Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ R741p Rossi, Angelica Bocca Políticas educacionais e organização da educação básica / Angelica Bocca Rossi. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2019. 106 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6230-0 1. Educação e Estado - Brasil. 2. Educação e Estado - Brasil - História. 3. Ensino - Legislação - Brasil. I. Título. 19-58901 CDD: 379.81 CDU: 37.014.5(81) Angelica Bocca Rossi Especialista em Educação a Distância pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). Licenciada em Pedagogia pelo Centro Universitário Padre Anchieta (UniAnchieta). Professora formada pelo curso de Magistério das escolas Padre Anchieta. Atuou como professora de educação básica, de ensino de jovens e adultos e de educação infantil durante os primeiros 20 anos da carreira docente, com dedicação maior à educação infantil em escolas públicas e privadas. Foi docente em cursos de pós-graduação lato sensu como professora convidada. Atua, desde 1998, em assessoria para assuntos educacionais do ensino superior . Sumário Apresentação 7 1 Política educacional e legislação educacional brasileira 9 1.1 O que é política educacional? 9 1.2 Leis de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira 14 2 Organização da educação brasileira e sua trajetória histórica 21 2.1 Brasil Colônia e Brasil Império: os primórdios da educação no país 21 2.2 A Primeira República e o sistema educacional brasileiro 29 2.3 Educação na Segunda República 32 2.4 Nova República e a democratização escolar 34 3 Os sistemas de ensino no Brasil 41 3.1 Os sistemas federal, estadual e municipal e suas inter-relações 41 3.2 A participação da União no Fundef e no Fundeb 44 3.3 O Plano Nacional de Educação (PNE) 47 4 Estado, sociedade e educação 57 4.1 Educação escolar no contexto das reformas do Estado 57 4.2 Transformações da educação na sociedade contemporânea 62 4.3 Trajetória histórica da formação docente 65 5 Financiamento educacional brasileiro 77 5.1 A Emenda Constitucional n. 95/2016 77 5.2 As receitas e o destino dos recursos da educação 80 5.3 Piso salarial profissional nacional 81 5.4 Entendendo o CAQi e o CAQ 84 6 Avaliação institucional 91 6.1 Função e sistemas de aplicação da avaliação institucional 91 6.2 Mecanismos de avaliação no ensino brasileiro: relevâncias e resultados 94 Gabarito 103 Apresentação Desde a chegada dos jesuítas, a educação no Brasil tem construído uma história interessante e instigante. Durante a colonização, com a vinda de famílias provenientes da Europa, em sua maioria de Portugal, a educação estava relacionada com um misto de poder e querer. As famílias mais abastadas tinham o privilégio de educar seus filhos para que fossem buscar formação fora do país. Com a vinda da família real e, posteriormente, com a Proclamação da Independência do Brasil por D. Pedro I, as escolas se multiplicaram e, portanto, surgiu a necessidade de implementação de políticas educacionais específicas. Desde então, muitas legislações foram e continuam sendo elaboradas no intuito de regrar a educação brasileira, a qual, de modo geral, está mais organizada, apesar de enfrentar muitas dificuldades e, obviamente, de ter muitas falhas. Esses problemas, consequentemente, conferem importância ao conhecimento, ao estudo e à compreensão de nossas políticas educacionais. Antes de tudo, é preciso saber que as políticas educacionais precisam respeitar a Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), especialmente no que se refere ao direito de acesso à educação a qualquer brasileiro, o qual está garantido por essas leis fundamentais. Partindo da LDB, que deve ser de leitura constante para todos os profissionais do magistério, todas as demais leis referentes à educação são importantes e merecem atenção. Por isso, toda a legislação educacional comentada nesta obra está atualizada e pode ser facilmente encontrada no site do Ministério da Educação (MEC). Estudar as políticas educacionais não é apenas conhecer as leis que regem a categoria, mas é também ter a consciência da relevância do papel da educação na formação do cidadão, conhecer os direitos e as obrigações do Estado e da sociedade, bem como dos profissionais do magistério. Por fim, estudar políticas educacionais colabora com a formação do professor brasileiro, inclusive no que diz respeito a comportamento, ética, direitos e deveres, compromisso, atitudes, conceitos e procedimentos. Bons estudos! 1 Política educacional e legislação educacional brasileira Para que a convivência na sociedade seja de respeito, honestidade e ética, é necessário haver uma organização do povo, o que não é possível sem que sejam estabelecidas regras e normas que direcionem e conduzam os caminhos, as ações e o crescimento de um povo, de uma comunidade, de um núcleo de pessoas ou de qualquer outro tipo de formação grupal humana. Nesse sentido, pela nossa própria humanidade, apesar de sermos perfeitamente capazes de nos organizarmos, precisamos registrar as regras em forma de lei, para que a democracia seja efetivada. Dessa maneira, a educação deverá ser a primeira a cumpri-las e, para isso, faz-se necessário ter o conhecimento das políticas emanadas pelo Poder Público, as quais regulamentam, organizam e dão forma à oferta do sistema educacional brasileiro em todas as suas fases. Para entendermos tais políticas públicas, estudaremos neste capítulo os temas que se relacionam à legislação educacional brasileira, sua etimologia e o início da legislação educacional no Brasil, até chegarmos à lei que rege a educação brasileira nos últimos 50 anos: a Lei de Diretrizes e Bases (LDB). A respeito da LDB, perceberemos quais aspectos foram representativos e por isso se mantiveram ou foram melhorados, bem como quais se tornaram obsoletos ou não lograram êxito e, portanto, foram extintos. Por meio da Lei n. 9.394/1996, a atual LDB (BRASIL, 1996), vislumbraremos os atuais mandamentos que regem a educação brasileira e ainda observaremos as atualizações da lei e entenderemos todas as normas que fazem parte do sistema legislativo nacional do setor educacional. Sob essa ótica, devemos acabar com o paradigma de que a legislação é cansativa e ninguém precisa conhecê-la, somente quem a usa. Todos os profissionais da educação devem saber as leis que fazem parte de suas profissões, o que não é diferente em relação aos professores. Temos o hábito de não nos inteirarmos da legislação pertinente à educação, mas isso precisa mudar. É tempode compreender, assimilar e participar do cumprimento da lei. 1.1 O que é política educacional? A política educacional deve ser planejada e implementada pelo governo de um país como parte de suas políticas públicas. Para entendermos isso melhor, vamos primeiramente compreender o que são políticas. De acordo com o Dicionário Michaelis (2019), política é a “arte ou ciência de governar” ou ainda a “arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados”. A origem da palavra é a união de dois termos gregos: polis, que significa cidade, e tikós, que diz respeito ao bem comum dos cidadãos, resultando em politiké – em português: política. A ação política se originou na Grécia pela necessidade de organização das cidades gregas, de modo que fosse possível a participação dos cidadãos nas decisões que refletissem nas cidades, Políticas educacionais e organização da educação básica10 sendo então criadas regras de funcionamento e de organização. Assim, foi instituída a política, que organiza, dá direção e administra as nações e os Estados. Na realidade, diversos autores mencionam que desde a pré-história já havia indícios de uma organização social e política. Os registros históricos indicam que a partir dos primeiros ensaios de escrita e comunicação a política começou a ser contada. Portanto, os registros de civilizações organizadas com a instituição de políticas se reportam à Grécia antiga. A partir da Idade Média (século V até XV), marcada pelo fim do Império Romano com a queda de Constantinopla, teve início o feudalismo. Foi nesse momento da história que a política se transformou e a Igreja católica começou a controlar toda a sociedade, a qual se tornou hierarquizada. Os senhores feudais eram os “donos” das terras e viviam dos impostos cobrados dos camponeses, que eram servos e faziam parte da terceira casta hierárquica. A Igreja, por sua vez, era isenta de impostos e vivia de dízimos e indulgências. A economia girava em torno da agricultura e do artesanato, havia troca de mercadorias e algumas moedas circulavam entre os nobres, mas nada muito significativo. Na área da educação, também a Igreja era majoritária, pois, apesar de o estudo ser privilégio da nobreza, o ensinamento era basicamente sobre as doutrinas religiosas e alguns valores morais, enquanto o latim era oferecido somente em (poucas) escolas específicas. Ensinavam-se alguns conhecimentos militares e táticas de guerra, uma vez que havia um grande interesse na formação de soldados. Podemos dizer que a população medieval era basicamente analfabeta, sem acesso a livros, o que a tornava vulnerável aos ensinamentos da Igreja. Entre os anos de 1453 e 1789 surgiu a Idade Moderna, marcada pelas transformações europeias e pela colonização do continente americano, além de representar também o momento da famosa Revolução Francesa. Politicamente falando, a Idade Moderna foi a época do Absolutismo, em que a palavra do rei era “absoluta”. A própria Igreja, que intervinha nos bastidores dos palácios, apoiava a prática absolutista, baseando-se nos textos bíblicos que instituíam os reis por intermédio dos “profetas de Deus”. Ou seja, o reinado não era parte da hierarquia familiar, mas sim concomitante à vontade e à permissão de Deus. Na Idade Moderna, apesar de terem surgido significativas mudanças na sociedade, ainda havia uma diferenciação bastante acentuada em relação às castas sociais. Para a nobreza, mantiveram- -se os privilégios da economia que provinham do povo, por meio do pagamento de impostos e do impedimento do crescimento intelectual, cultural e econômico. Nessa época, também teve início o sistema capitalista. É importante ressaltar que nessa fase da história surgiram diversas invenções possibilitadas por avanços tecnológicos, como a bússola e o astrolábio, objetos que auxiliaram na exploração de outros continentes (descoberta do continente americano), na construção de embarcações marítimas melhores e, inclusive, no desenvolvimento das máquinas a vapor. Foi na Idade Moderna também que apareceram os primeiros filósofos islamistas e movimentos como a Reforma Religiosa (por Martinho Lutero) e a Contrarreforma – uma reação da Igreja católica. Conhecido como Renascimento, esse período possibilitou as primeiras investigações, por meio de indagações e pesquisas, o que gerou um grande avanço nas ciências e nas artes, com Política educacional e legislação educacional brasileira 11 destaque para autores como Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, William Shakespeare, Nicolau Maquiavel e Leonardo da Vinci. No século XIX, teve início a Idade Contemporânea, que perdura até os dias atuais. Foi nessa época da história que as mais significativas mudanças aconteceram: desde a reforma organizacional política e social, de maneira geral, até as grandes conquistas tecnológicas, que ocorreram de modo extremamente acelerado. Atualmente, ainda vivemos grandes transformações nessa área. Por exemplo, há 100 anos, quem imaginaria que hoje em dia poderíamos conversar com alguém em outro país, a qualquer hora do dia ou da noite e, até mesmo, estando em movimento (caminhando ou de carro), com a possibilidade de ver a pessoa e o local onde ela está? Na Idade Contemporânea, também na política observamos uma grande transformação. Mesmo que a liderança e o poder ainda sejam objeto de desejo de alguns, a soberania só se tornou permitida pelo próprio povo, o qual, por sua vez, é resistente a desmandos e imposições desprovidos de um claro entendimento e compreensão. Na educação, apesar de tantas tecnologias e avanços tecnológicos, há poucas mudanças em relação à maneira de ministrar aulas. Sob essa ótica, percebemos claramente que as práticas pedagógicas atuais são muito semelhantes às do Padre José de Anchieta, ao ensinar os índios no Brasil Colônia. De toda forma, mesmo com uma prática pedagógica muito aquém do que se esperava para o século atual, há pessoas preocupadas em desenvolver e implementar políticas educacionais justas e que tenham como objetivo uma formação humanística, ética e cidadã. Portanto, o estudo das políticas públicas é essencial para o conhecimento das regras e normas que possibilitam a aplicabilidade da estrutura escolar em qualquer época, independentemente de lugar ou povo. Mas, antes de entrarmos nesse assunto, precisamos compreender como tais políticas são elaboradas, pensadas, organizadas, instituídas, bem como por que e para quem servem. Por políticas públicas podemos entender o conjunto de políticas para o atendimento de todos os setores da sociedade civil, com a intenção de organizar o Estado/nação de modo que sejam garantidos os direitos e deveres dos cidadãos, democraticamente. Dessa forma, elas buscam organizar as ações governamentais e instituir regras para o bom funcionamento da nação. Além disso, é com base nelas que um país tem como avaliar e colaborar para a melhoria de atendimento, da qualidade e do cumprimento de toda legislação para cada setor. Considerando as políticas públicas, as instituições, organizações, empresas e indústrias são criadas e organizadas, sejam elas mantidas pelo Poder Público, por ONGs ou iniciativa privada. Assim, não é possível, por exemplo, transportar cargas sem que se tenha a legitimidade delas. Ou seja, elas devem estar devidamente mencionadas em documentos como nota fiscal, bem como ser corretamente acomodadas para o transporte (presas, refrigeradas etc.). Também não é possível fazer negociações entre empresas sem que haja registros e emissões de notas fiscais para os devidos recolhimentos de impostos, o que contribui também para inibir ou meramente combater o contrabando. No que se refere às políticas educacionais, desde a reforma da Constituição Federal (BRASIL, 1988), muitas ações já foram definidas pelos governos que passaram pelo poder no Brasil. Sob essa Políticas educacionais e organização da educação básica12 ótica, as políticas educacionais devem ser fundamentadas nos objetivos da ConstituiçãoFederal e na LDB (BRASIL, 1996), a qual regulamenta e organiza a oferta de educação no país. A esse respeito, conforme afirma Adão Francisco de Oliveira: em outras palavras, pode-se dizer que políticas públicas educacionais dizem respeito à educação escolar. Por que é importante fazer essa observação? Porque educação é algo que vai além do ambiente escolar. Tudo o que se aprende socialmente – na família, na igreja, na escola, no trabalho, na rua, no teatro, etc. –, resultado do ensino, da observação, da repetição, reprodução, inculcação, é educação. Porém, a educação só é escolar quando ela for passível de delimitação por um sistema que é fruto de políticas públicas. Portanto, políticas públicas educacionais dizem respeito às decisões do governo que têm incidência no ambiente escolar enquanto ambiente de ensino-aprendizagem. Tais decisões envolvem questões como: construção do prédio, contratação de profissionais, formação docente, carreira, valorização profissional, matriz curricular, gestão escolar, etc. (OLIVEIRA, 2010, p. 96-97) Assim, podemos concluir que as políticas educacionais são ações governamentais que organizam, administram, apoiam e colaboram com as instituições educacionais, de modo que seja cumprida a LDB, especialmente considerando o que diz o art. 3º de tal texto legal: Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII - valorização do profissional da educação escolar; VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX - garantia de padrão de qualidade; X - valorização da experiência extraescolar; XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais; XII - consideração com a diversidade étnico-racial; XIII - garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo da vida. (BRASIL, 1996) Para a definição, a propositura, o estudo e a criação de políticas públicas na educação, faz- -se necessário elaborar leis específicas que são enviadas ao Poder Legislativo para serem votadas. Dessa forma, ocorre a participação, a discussão e o voto de todas as esferas do governo (federal, estadual e municipal), bem como a participação da população, que pode se manifestar sempre que se sentir lesada ou tiver alguma ideia que possa melhorar a lei, colaborando com a forma de oferta e a aplicabilidade da educação no país. Política educacional e legislação educacional brasileira 13 No Brasil, algumas políticas educacionais instituídas e que estão em andamento são as seguintes: • Programa Brasil Alfabetizado: alfabetização de jovens, adultos e idosos. • Educação para Jovens e Adultos (EJA): ensino fundamental e médio para jovens que não terminaram os estudos. • Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec): oferta de cursos de educação tecnológica e profissionalizante. • Programa Universidade para Todos (Prouni): bolsas de estudo em instituições privadas de ensino superior, para estudantes de baixa renda. • Mediotec: curso de ensino técnico dedicado a estudantes de ensino médio nas escolas públicas estaduais. • Programa Escola Acessível: acessibilidade no ambiente escolar da rede pública de ensino, para melhorar o aprendizado de estudantes com necessidades especiais. • Prolind: apoio à formação superior, envolve licenciaturas interculturais indígenas. • Programa Caminho da Escola: transporte escolar nas redes de ensino estaduais e municipais. • Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb): fundo de investimento financeiro do governo federal em projetos de educação nos estados. • Educação em Prisões: ensino a jovens e adultos que cumprem pena no sistema prisional. • Programa Brasil Profissionalizado: educação profissionalizante dirigida aos jovens matriculados no ensino médio da rede pública de ensino. Além desses programas de políticas públicas educacionais, há o Plano Nacional de Educação (PNE), que determina diretrizes, metas e estratégias para a política educacional no período de 2014 a 2024. O documento foi aprovado pela Lei n. 13.005/2014 (BRASIL, 2014). O PNE foi projetado para ser cumprido em vinte anos. Para isso, foram estabelecidas vinte metas. Observamos, porém, que há muita dificuldade no atingimento de tais objetivos, visto que para seu cumprimento são necessários muitos investimentos. A meta mais importante desse Plano é: “Meta 20: ampliar o investimento público em educação pública de forma a atingir, no mínimo, o patamar de 7% (sete por cento) do Produto Interno Bruto – PIB do País no 5º (quinto) ano de vigência desta Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% (dez por cento) do PIB ao final do decênio” (BRASIL, 2014). Mas, sem investimento financeiro, é praticamente impossível que o PNE seja efetivamente cumprido. Estamos em 2019 e, até junho de 2018 (quatro anos depois de ser sancionada a lei que aprova o PNE), apenas uma meta foi cumprida em sua totalidade, como pode ser observado no documento Relatório do 2º Ciclo de Monitoramento das Metas do Plano Nacional de Educação: 2018 – Resumo, elaborado e divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) em conjunto com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) (BRASIL, 2018b). Políticas educacionais e organização da educação básica14 Concluindo, observamos que é imprescindível a implementação de políticas educacionais para o efetivo cumprimento do disposto na Constituição Federal, propiciando o crescimento, o desenvolvimento e, consequentemente, a melhoria de vida de toda a população brasileira. 1.2 Leis de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira Como apresentamos na seção anterior, as políticas públicas são necessárias para o bom funcionamento de uma nação. Tais políticas são baseadas em leis que normatizam e estabelecem as regras para o funcionamento de todos os órgãos e departamentos do país. Também de acordo com o que já estudamos, a educação é regulamentada pela LDB. No Brasil, a primeira LDB foi instituída em 1961, sendo posteriormente substituída pela LDB de 1971 e, finalmente, pela atual, publicada em dezembro de 1996. Passemos agora a um breve estudo das LDBs que fizeram a história da educação brasileira. 1.2.1 Lei n. 4.024, de 20 de dezembro de 1961 A primeira LDB historicamente instituída no Brasil foi a Lei n. 4.024, sancionada pelo então Presidente da República do Brasil João Goulart. Essa lei tinha como objetivo a unificação das escolas públicas e particulares, garantindo, assim, a igualdade dos princípios de liberdade e dos ideais de solidariedade humana, conforme rege seu art. 1º: Art. 1º - A educação nacional, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por fim: a) a compreensão dos direitos e deveres da pessoa humana, do cidadão, do Estado, da família e dos demais grupos que compõem a comunidade; b) o respeito à dignidade e às liberdades fundamentais do homem; c) o fortalecimento da unidade nacional e da solidariedade internacional; d) o desenvolvimento integral da personalidade e a sua participação na obra do bem comum; e) o preparo do indivíduo e da sociedade para o domínio dos recursos científicos e tecnológicos que lhes permitam utilizar as possibilidades e vencer as dificuldades do meio; f) a preservação e expansão do patrimônio cultural; g) a condenação a qualquer tratamento desigual por motivo de convicção filosófica, política ou religiosa, bem como a quaisquer preconceitos de classe e raça. (BRASIL, 1961) Dez anos mais tarde, houve a reformulação da LDB que originoua Lei n. 5.692/1971. 1.2.2 Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971 Apesar de ter sido aprovada em 11 de agosto de 1971, essa lei começou a vigorar somente em 1972. Ela reformulou o ensino no início dos anos escolares (o que atualmente chamamos de ensino fundamental) e ainda reorganizou o ensino médio – à época era chamado de científico ou colegial. Política educacional e legislação educacional brasileira 15 No ano em que essa LDB foi promulgada, o presidente era o General Emílio Garrastazu Médici, época em que o país era governado por militares. Essa lei tinha como objetivo a profissionalização do povo com o intuito de alavancar o país com mão de obra mais qualificada. As principais mudanças identificadas nessa LDB são as seguintes (BRASIL, 1971): • Art. 4º: núcleo comum para os currículos do ensino de 1º e 2º graus e parte diversificada para atendimentos específicos e especiais. Para o ensino de 2º grau, houve a oferta de habilitação profissional. • Art. 7º: obrigatoriedade do ensino de Educação Moral e Cívica, Educação Física, Educação Artística e Programas de Saúde, nos currículos de 1º e 2º graus. O ensino religioso tinha oferta facultativa. • Art. 9º: tratamento diferenciado para alunos especiais (com deficiências físicas ou mentais) e alunos superdotados. • Art. 10: é instituída a figura do orientador educacional para cooperar com os professores, a família e a comunidade. • Art. 11: ano letivo de no mínimo 180 dias. Nesse período, deveriam ser ministradas aulas regulares, outras atividades e estudos de recuperação para alunos com aproveitamento insuficiente. O regime letivo poderia ser adaptado na zona rural, de acordo com o plantio e a colheita de safras. • Art. 20: obrigatoriedade de oferta do ensino de 1º grau (atual ensino fundamental – anos iniciais) dos 7 aos 14 anos de idade, com a responsabilidade de o município promover a verificação da população na idade escolar e garantir sua matrícula. • Art. 25: ensino supletivo desde a alfabetização até a oferta de atualização de conhecimentos específicos e gerais, com regime escolar adequado aos alunos. Poderiam ser ministradas aulas nas modalidades presencial ou a distância, conforme as necessidades de cada região. • Art. 30: formação para o exercício do magistério com exigência mínima de habilitação específica de 1º grau (da 1ª à 4ª série, atual 2º ao 5º ano). Licenciatura específica em curso de curta duração (da 1ª à 8ª série). E, para o 2º grau (atual ensino médio), habilitação específica de licenciatura plena. • Art. 33: para as funções de administração, planejamento, orientação, inspeção e supervisão, os profissionais deveriam ter curso superior de graduação com duração plena ou curta, ou de pós-graduação. Fixação de remuneração de professores considerando a maior qualificação obtida em cursos e estágios de formação, aperfeiçoamento ou especialização. • Art. 40: o registro profissional, em órgão do Ministério da Educação e Cultura, passou a ser condição ao exercício de magistério ou à especialidade pedagógica. • Art. 43: recursos públicos passaram a ser distribuídos para todas as instituições de ensino, oportunizando a melhoria, o aperfeiçoamento e a assistência ao magistério, a serviços educacionais e ao desenvolvimento científico e tecnológico. • Art. 59: ficaram obrigados os municípios a aplicarem pelo menos 20% da receita no ensino de 1º grau. Políticas educacionais e organização da educação básica16 • Art. 63: nova política de bolsas de estudos oferecidas pelo Poder Público. • Art. 64: valorização e validação de estudos e de experiências pedagógicas. • Art. 77: permissão para professores legalmente não habilitados lecionarem em caráter suplementar. • Art. 79: permissão para o exercício das funções administrativas escolares de professores com formação e experiência de magistério. A LDB n. 5.692 teve vigência até 1996, quando a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabeleceu novos parâmetros para a educação nacional. 1.2.3 Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 A atual LDB teve seu texto revisado inúmeras vezes. Os profissionais da educação envolvidos nesse projeto se empenharam fortemente para que a educação no Brasil tivesse seus direitos preservados, mas também para que os textos constitucionais que tratam da educação no país fossem respeitados e, de alguma forma, inseridos na nova lei, garantindo o direito de estudo escolar para todos, independentemente de cor, raça, idade, localidade etc. Até que a nova LDB fosse devidamente publicada, apesar de muitos esforços políticos e idealistas, o país passou por inúmeras mudanças, porém o que mais significou na área educacional foi a nova Constituição Federal (BRASIL, 1988), organizada por subcomissões e comissões temáticas na intenção de que nenhum assunto se perdesse durante a revisão e a nova redação. A Constituição Federal é a lei maior de uma nação, pois define, organiza e rege o funcionamento de um país. É por ela que são definidos e garantidos os direitos e deveres dos cidadãos. No Brasil, tal texto legal foi criado por uma Assembleia Constituinte e promulgado oficialmente em 5 de outubro de 1988. Dele emanaram as leis que regulamentam todos os setores do país. Entre outros artigos da Constituição que serão discutidos neste capítulo, o art. 24 confere ao Poder Público a competência para legislar na educação, conforme a redação a seguir: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: [...] IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação” (BRASIL, 1988). Mas é no Capítulo III, “Da Educação, da cultura e do desporto”, na Seção I “Da educação”, que a Constituição trata particularmente da educação (BRASIL, 1988). Com base no que está disposto na seção indicada, foram definidas as regras para a educação brasileira, originando a LDB n. 9.394 (BRASIL, 1996). Foi o Senador Darcy Ribeiro (PDT-RJ) que apresentou o novo projeto de LDB que obteve a aprovação pela Comissão de Educação do Senado, em fevereiro de 1993. Depois disso, o texto passou por estudos, não somente do Poder Público, mas principalmente de profissionais da área, que puderam contribuir com suas opiniões e com o texto final dessa LDB. Nessa lei estão dispostas as normas para a educação de acordo com a Constituição Federal e suas emendas que ocorreram durante sua vigência, as quais, certamente, continuarão Política educacional e legislação educacional brasileira 17 existindo. Sob essa ótica, as mudanças mais significativas para a educação brasileira, provenientes da LDB n. 9.394, referem-se a deveres, direitos, flexibilização, respeito e níveis da escolarização (BRASIL, 1996). A LDB n. 9.394 tem foco no aluno como sujeito do aprendizado, e não mais na educação pura e simples. Assim, ela passa a ver o aluno como eixo para o desenvolvimento do país. Para isso, o texto legal entende e demonstra a necessidade de formar cidadãos conscientes, éticos e capazes. O art. 2º dessa LDB declara o dever da família e do Estado no desenvolvimento do estudante: “A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1996). O art. 3º e seus incisos, como já mencionamos anteriormente, tratam das bases em que o ensino deve ser ministrado, ou seja: igualdade, liberdade, pluralismo, respeito, gratuidade do ensino, valorização do profissional da educação, diversidade étnico-racial e garantia do direito ao estudo (BRASIL, 1996). A Lei n. 9.394/1996 trouxe diversas inovações, mas uma delas merece destaque: o fato de não tratar apenas da educação básica, mas também da educação superior. De acordo com essa lei, as modalidades da educação brasileira (conforme exposto sob o Título V, “Dos níveis e das modalidades de educação e ensino”,em seu Capítulo I, “Da composição dos níveis escolares”) estão assim compostas: • Educação básica: educação infantil, ensino fundamental e ensino médio (nomenclatura usada no inciso I do art. 21 da LDB em sua versão original). • Educação superior: mencionada no inciso II do art. 21 da versão original da LDB (BRASIL, 1996). No entanto, desde 2001 outras leis deram à LDB novas redações (BRASIL, 2001; 2003; 2004; 2009; 2013; 2015; 2017; 2018a; 2019), sendo que uma delas, a Lei n. 12.796, de 4 de abril de 2013, dá nova redação ao art. 4º da LDB, organizando a educação básica da seguinte forma: pré-escola, ensino fundamental e ensino médio (BRASIL, 2013). Em relação à educação superior, de acordo com o art. 44 da LDB (BRASIL, 1996), que não sofreu alterações até o presente momento, ela assim se organiza: cursos sequenciais pelo campo de saber; graduação; pós-graduação (mestrado, doutorado, especialização, aperfeiçoamento e outros) e extensão. Existe uma legislação específica para cada etapa do desenvolvimento do processo de ensino- -aprendizagem. Assim, todos os ciclos de escolaridade recebem orientações em relação à forma de oferta e à organização para suas respectivas implementações. No ensino superior, há muitas publicações de portarias, decretos, regulamentos e portarias normativas que fixam novas normas para a oferta de cursos de graduação e pós-graduação. Porém, para que sejam legitimadas, tais publicações precisam estar de acordo com a LDB. De qualquer forma, todos os níveis de escolarização são regidos basicamente pela Constituição Federal (BRASIL, 1988) e pela Lei n. 9.394 (BRASIL, 1996). Políticas educacionais e organização da educação básica18 Considerações finais País algum pode sobreviver harmonicamente se não for por meio de regras que permitam e limitem as ações do homem na vida, na natureza, na convivência em comunidade etc. Assim, as políticas educacionais tratam da organização para as boas relações nas escolas, sejam elas da educação básica ou superior. No entanto, sem o conhecimento de tais regras, tanto a convivência como as ações ficam prejudicadas, dificultando a vida em sociedade. Ampliando seus conhecimentos Livro: • DEMO, P. A nova LDB: ranços e avanços. 20. ed. Campinas: Papirus Editora, 2008. Uma boa forma de desmistificar a LDB é com a leitura do livro de Pedro Demo intitulado A nova LDB: ranços e avanços. Demo é doutor em Sociologia pela Universidade de Saarbrucken, na Alemanha, e professor titular da Universidade de Brasília (UnB). Vídeo: • DERMEVAL SAVIANI: políticas educacionais brasileiras. 2015. 1 vídeo (1h53min). Publicado pelo canal TV UFBA. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=uhomL5IUoFk&feature=youtu.be. Acesso em: 18 jul. 2019. No vídeo, o professor e pedagogo Dermeval Saviani discorre sobre o tema das políticas educacionais brasileiras sob uma perspectiva histórica. O vídeo foi gravado durante uma palestra que fez parte da semana de abertura do ano letivo de 2015 da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atividades 1. Como um país poderia se organizar se não fosse possível estabelecer políticas públicas? 2. A educação brasileira está em consonância com as leis que a regulamentam? 3. Se você pudesse, o que faria para melhorar a forma como a educação brasileira está sendo atualmente oferecida? Referências BRASIL. Lei n. 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 27 dez. 1961. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4024.htm. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 12 ago. 1971. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5692.htm. Acesso em: 18 jul. 2019. Política educacional e legislação educacional brasileira 19 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao. htm. Acesso em: 5 jun. 2019. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 10.287, de 20 de setembro de 2001. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 21 set. 2001. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10287.htm. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 10.709, de 31 de julho de 2003. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 1 ago. 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.709.htm#art2. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 10.870, de 19 de maio de 2004. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 20 maio 2004. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.870. htm#art1. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 12.013, de 6 de agosto de 2009. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 7 ago. 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12013. htm#art1. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 12.796, de 4 de abril de 2013. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 abr. 2013. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12796. htm#art1. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 13.005, de 25 junho de 2014. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 26 jun. 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13005.htm. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 13.234, de 29 de dezembro de 2015. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 30 dez. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13234. htm#art2. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 17 fev. 2017. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13415.htm. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 13.663, de 14 de maio de 2018. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 15 maio, 2018a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13663. htm#art1. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Relatório do 2º Ciclo de Monitoramento das Metas do Plano Nacional de Educação: 2018 – Resumo. Brasília, 2018b. Disponível em: http://estaticog1.globo.com/2018/06/07/resumo_relatorio_pne_2_ciclo.pdf. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 13.796, de 3 de janeiro de 2019. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 4 jan. 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13796. htm#art1. Acesso em: 18 jul. 2019. DEMO, P. A nova LDB: ranços e avanços. 20. ed. Campinas: Papirus Editora, 2008. DICIONÁRIO MICHAELIS. Disponível em: http://michaelis.uol.com.br. Acesso em: 18 jul. 2019. OLIVEIRA, A. F. Políticas públicas educacionais: conceito e contextualização numa perspectiva didática. In: OLIVEIRA, A. F. Fronteiras da educação: tecnologias e políticas. Goiânia: PUC Goiás, 2010. 2 Organização da educação brasileira e sua trajetória histórica A educação brasileira passou por diversas fases para se organizar. A mais complicada está na primeira delas, entre o Brasil Colônia e o Brasil Império. Sabemos que, quando muitos mandam, não há ordem, certo? Portanto, foi preciso um tempo até que o país se organizasse de modo que não apenas a economia se tornasse o foco, mas também o desenvolvimento educacional e cultural do povo, a fim de que a evolução passasse a ser natural e constante. A maior transformação da educação brasileira está ocorrendo atualmente. Com o advento da internet, os microcomputadores e equipamentosacessíveis a quase todas as pessoas nos colocam praticamente dentro das notícias. Assim, é possível interagir, trocar ideias, opinar e sair do ostracismo para participarmos do mundo a nossa volta. Sob essa ótica, este segundo capítulo lhe fará revisitar a história da educação no Brasil, revendo com mais aprofundamento alguns aspectos já estudados, bem como outros já vividos ou conhecidos. Com isso, esperamos fazer com que sua imaginação seja capaz de remontar todas as épocas aqui expostas e usar da empatia para reconhecer as grandes e valorosas lutas pelo desenvolvimento educacional brasileiro. 2.1 Brasil Colônia e Brasil Império: os primórdios da educação no país Retomando a história do Brasil, sabemos que seu descobrimento ocorreu em 1500. Mas, se foi ocasional ou não, até hoje não há dado exato sobre isso. O que conhecemos, no entanto, é que em março de 1500 partiu de Portugal uma frota de 13 navios tendo como destino as Índias – assim havia indicado Vasco da Gama ao regressar de sua viagem exploratória. Pedro Álvares Cabral, fidalgo de mais ou menos 30 anos, foi quem comandou tal expedição (BORIS, 1996). No entanto, ao passar as Ilhas de Cabo Verde, rumou à oeste, afastando-se da costa africana. Depois de algum tempo de navegação, avistou uma terra: o Brasil. Alguns homens verificaram a terra e, no dia seguinte, a frota de Cabral realizou a ancoragem onde atualmente fica o litoral da Bahia – mais especificamente Porto Seguro. Era dia 22 de abril de 1500. Até esse ponto, todos conhecemos essa história. No entanto, precisamos recordar todo o passado da nossa nação para podermos compreender os momentos mais importantes em que a educação se instalou e evoluiu no Brasil. A terra encontrada por Cabral não era despovoada, pois índios a habitavam. Com a chegada dos portugueses, iniciou-se uma exploração ambiental. A princípio, isso ocorreu como forma de conhecimento, mas logo avançou para a exploração das matérias-primas aqui encontradas, até chegar à escravização dos povos indígenas. Entre 1500 e 1822, muitas ações foram tomadas para que essa nova terra fosse colonizada. Políticas educacionais e organização da educação básica22 Apesar dos esforços de Portugal para promover a colonização, todos os portugueses que eram enviados ao Brasil permaneciam por pouco tempo e regressavam a Portugal, alegando não estarem satisfeitos com a nova terra (RAMOS, 2011). Nessa época, havia uma grande preocupação do rei de Portugal, D. João III, de que outros países invadissem o Brasil. Então, em 1530 ele enviou Martin Afonso de Souza para, entre outras funções, dar início à colonização brasileira. Mais tarde, em 1549, Tomé de Souza chegou ao Brasil com os jesuítas, comandados por Manuel da Nóbrega. Assim se iniciou o processo educacional na história do nosso país. De 1549 a 1554 tivemos o chamado período heroico, pois nesses cinco anos inúmeras escolas foram implementadas. Com o propósito primordial do ensino, nas escolas fundadas nessa época não havia distinção de raça, idade ou classe social (MARTINO, 2000). Dessa expedição fazia parte o mais atuante pedagogo da Companhia de Jesus, Padre José de Anchieta, “um dos nomes de maior destaque da história da educação brasileira” (AZEVEDO, 2018). Sua didática era especial, pois, para educar, ele usava estratégias inusitadas, a fim de que o povo compreendesse o que ele ensinava. Entre suas técnicas estava o uso de teatro, da música e da poesia. Sua metodologia era ativa, com uma aprendizagem construída e com significado. Sob essa ótica, em 1750 foi assinado o Tratado de Madrid, entre Portugal e Espanha. Nessa época, Portugal tinha como rei D. José I, que havia nomeado Sebastião de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal) como primeiro-ministro, o responsável por expulsar os jesuítas de Portugal em 1759 – o mesmo ocorreu no Brasil no ano seguinte (AZEVEDO, 2018). Porém, precisamos destacar que, no período em que a Companhia de Jesus esteve no Brasil, apesar de toda a precariedade conhecida e contada em diversos livros de história brasileira, ela foi capaz de criar 25 residências, 36 missões e 17 colégios e seminários. O Alvará Régio de 1759, que suprimiu as escolas jesuíticas de Portugal e do Brasil, criou também as “diretrizes dos estudos menores que compreendiam o ensino primário e secundário”. De maneira preliminar, tais normativas estabeleciam “as disposições inerentes ao diretor de estudos e aos professores de gramática latina, de grego e de retórica” (SILVA; SIMÕES-NETO; RODRIGUES, 2018, p. 639). Após dez anos da expulsão dos jesuítas do Brasil, mesmo sem haver nesse período qualquer manifestação da corte portuguesa para uma estruturação efetiva da educação brasileira, o Marquês de Pombal promoveu a chamada reforma pombalina, que, entre outros assuntos, tratava da educação. No entanto, foi em 1772, por meio do subsídio literário1, que essa temática passou a ganhar mais destaque (PIMENTA; MERLO, 2013). Com a reforma pombalina, mesmo que a população indígena brasileira tenha sofrido perdas em seu desenvolvimento educacional, outros aspectos representaram grandes conquistas. Entre eles, houve a valorização dos professores, que passaram a receber pelas aulas que ministravam. Apesar disso, sem uma real organização educacional, as aulas eram ministradas nas casas dos próprios professores, o que dificultava a participação de todos, 1 “Imposto responsável para a manutenção do ensino implementado pelo sistema pombalino” (PIMENTA; MERLO, 2013, p. 5). Organização da educação brasileira e sua trajetória histórica 23 o controle dos aspectos educacionais gerais, a divisão do aprendizado por faixa etária, o tempo-limite de estudo e, principalmente, a formação dos professores. Por aproximadamente 27 anos, Portugal passou por inúmeras dificuldades, especialmente na economia. O país precisava se revitalizar e restituir o poder que tinha à época do descobrimento do Brasil, para enfrentar os países da Europa que se opunham ao rei português. Nesse período, a capital, Lisboa, foi acometida por um tsunami, que a devastou, trazendo maiores preocupações ao rei e a toda a corte. Esse fato conferiu ao único ministro presente, o Marquês de Pombal, toda a autoridade necessária, o que imediatamente o levou a ordenar, entre outras ações, a reconstrução da cidade. Naquele momento da história de Portugal, por intermédio do poder do Marquês de Pombal dado pelo Rei D. José I, iniciou-se uma doutrina que se manteve até a revolução liberal, em 1820: o despotismo esclarecido (SAVIANI, 2013). É importante identificarmos as características da época. O significado de tal doutrina (despotismo esclarecido) pode ser melhor entendido de acordo com o Dicionário Michaelis (2019): “forma de governo surgida no século XVIII que tinha como fundamento o absolutismo e o racionalismo iluminista. Preconizava o progresso e o bem do povo, sem permitir-lhe, no entanto, a participação nas realizações do governo”. Apesar dessa doutrina, o movimento iluminista passou a se instalar em toda a Europa e Portugal começou a receber essa influência. O Marquês de Pombal, por sua vez, vislumbrou a possibilidade de usar as ideias iluministas modificando toda a administração mercantilista, o que promoveu uma considerável reforma na educação (especialmente no Brasil Colônia) que aconteceu em 1759, por meio da classificação em estudos menores e estudos maiores – objetivando o ensino de conteúdos de formação geral cidadã (humanidades – aulas régias) e atendendo às necessidades burocráticas do Estado –, bem como por meio da criação da Escola de Primeiras Letras (SAVIANI, 2013). As aulas régias, criadas em 1759, deram início ao sistema público de ensino no Brasil Colônia. Surgiu, então, a figura dos diretores de estudos, que selecionavam os professores responsáveis pelo ensino das primeiras letras e que ensinavam em suas próprias casas. Entretanto, com a instituição do Alvará Régio, ficou extinto o cargo do diretor de estudo, o qual assumiua função de reger o controle do material e dos livros de estudos, algo que perdurou até 1794. Nesse meio-tempo, foi criada a Lei de 6 de novembro, permitindo a abrangência do ensino nas aulas régias com leitura, escrita, cálculo e filosofia. Para o ensino secundário, foram criadas as chamadas cadeiras avulsas, cujos mestres eram aqueles que ensinavam aulas régias de primeiras letras, elaboradas pelo mesmo alvará de 1759. Tais aulas eram de gramática latina, retórica e grego (MENDONÇA, 2005). Os estudos em universidade (estudos maiores) só eram possíveis àqueles que tivessem concluído os estudos menores e que tinham 18 anos de idade. Nesse sentido, a reforma pombalina na área educacional era discriminatória, como mencionado por Silva, Simões-Neto e Rodrigues (2018, p. 642). Políticas educacionais e organização da educação básica24 As dificuldades da reforma Pombalina na educação deixaram claras as exclusões dos menos favorecidos como escravos, pobres e mulheres. [...] para os estudos menores bastaria saber ler, escrever e contar [...] os estudos maiores para filhos de classe dominantes, nobreza, aulas de grego, retórica e filosofia para seguir os estudos superiores. Contudo, muitas foram as dificuldades de Portugal na implementação da educação no Brasil Colônia. Portanto, em 1771, outro alvará foi publicado (alvará de 4 de junho de 1771), extinguindo o cargo do diretor de estudos e transferindo as suas competências para a Real Mesa Censória (órgão criado em 1768, responsável pela secularização do controle da circulação de livros). Para contribuir com o suporte da educação pública, a Lei de 10 de novembro de 1772 criou o subsídio literário, que nada mais era do que um imposto cobrado sobre o vinho, a aguardente e o vinagre para pagar os professores e subsidiar a escolarização. Em 1787, foi criada a Real Mesa da Comissão Geral, em substituição à Mesa Censória, com a incumbência de examinar e censurar os livros que fossem contrários ao estabelecido. Isso ocorreu durante o reinado de D. Maria I. Entretanto, foi a partir de 1799 que as escolas e os professores brasileiros passaram a ser de responsabilidade dos governadores de capitanias e bispos. Com isso, tornou-se comum à elite do Brasil Colônia enviar seus filhos para complementar sua formação nas universidades de Portugal, especialmente em Coimbra. Durante a intervenção do Marquês de Pombal, e com a expulsão dos padres jesuítas do Brasil, os colégios jesuítas e qualquer lugar onde fossem ministradas aulas foram fechados, pelos motivos já explanados anteriormente, como comenta Barata (1972, p. 40) no livro Escola de heróis: fecharam-se os colégios que dirigiam, os únicos que, então, existiam no Brasil para a juventude secular, em São Paulo, Rio, Bahia, Belém da Bahia, Olinda, Recife, Paraíba e Pará, e as numerosas residências espalhadas por toda a parte, onde também, ao menos em algumas se ministrava instrução. O colégio de Olinda ficou fechado até a virada do século. Assim, em 1800, foi criado “inteiramente dentro do espírito iluminista e em consonância com o teor das reformas pombalinas” o Seminário de Olinda, cujo fundador foi o Bispo José Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho (SAVIANI, 2013, p. 109). A partir de então, esse colégio, considerado o mais avançado do Brasil Colônia, tornou-se o difusor de ideias liberais e maçônicas, pois oferecia diversas disciplinas contrárias aos tradicionais estudos de teologia e filosofia. Portanto, não era mais um colégio formador de padres, porém até mesmo os padres eram formados ao mesmo tempo como sacerdotes e filósofos da natureza (SAVIANI, 2013). Foi no século XIX que as mais significativas situações educacionais aconteceram no Brasil. O país deixou de ser Brasil Colônia e se tornou Brasil Império, com a chegada da família real, em 1808, que fugia da invasão a Portugal. A corte portuguesa trouxe consigo uma biblioteca de aproximadamente 60 mil livros, coleção que, mais tarde, originou a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Os motivos que fizeram a corte portuguesa aportar no Brasil remontam à Era Napoleônica (1799-1815), quando Napoleão Bonaparte se transformou em chefe supremo da nação francesa. Organização da educação brasileira e sua trajetória histórica 25 Para resumir a era Napoleônica: o governo desse general, em 1806, impôs o Bloqueio Continental à Europa, exigindo que nenhuma nação europeia tivesse relações comerciais com a Inglaterra, que era a maior potência industrial do continente. No entanto, Dom João VI, o príncipe-regente de Portugal, negou-se a cumprir tal ordem francesa. Não aceitando a rebeldia portuguesa, Napoleão ameaçou invadir Portugal. Em contrapartida, a Inglaterra sugeriu um plano para o príncipe, de modo que a situação ficasse amenizada (RAMOS, 2015). A Inglaterra ofereceu escolta para que a família real deixasse Portugal rumo ao Brasil. Obviamente, haveria uma troca de favores, e, como D. João VI aceitou o acordo, a capital portuguesa foi transferida para o Rio de Janeiro, no Brasil, com a abertura dos portos brasileiros às nações do mundo, mas com taxas reduzidas aos ingleses. Sendo assim, no período de 1808 a 1821, Portugal centralizou sua administração governamental no Brasil. Na área da educação, houve um significativo investimento, o que possibilitou a criação das primeiras escolas de ensino superior. Apesar de serem de exclusividade dos filhos dos nobres e aristocratas, D. João VI criou cursos superiores de Medicina, a Academia Real Militar, o Museu Real e laboratórios de Química e Química-Prática. Em todas as capitanias houve um aumento de aulas régias. O rei também criou o Desembargo do Paço, por meio do Decreto de 17 de janeiro de 1809, que estabelecia o provimento dos professores e previa a nomeação do magistrado com a incumbência de fiscalização do ensino, especialmente na corte. Mais tarde, D. João VI propiciou a vinda de intelectuais franceses, que, por sua vez, agradaram-se do convite de passar a morar no Brasil, já que a França havia sido derrotada pela Inglaterra. Comandado pelo Conde da Barca (Antônio de Araújo de Azevedo), esse ato recebeu o nome de Missão Francesa, com o objetivo de transformar a capital (Rio de Janeiro). Nesse grupo havia intelectuais e artistas vitais para o sistema educacional do Brasil Império. Com a ação escolar desses sujeitos, que possibilitou o fim da defasagem dos professores, formaram-se os primeiros intelectuais do nosso país. Além disso, por permissão de D. João VI, foi criada a tipografia no Brasil e, consequentemente, os primeiros jornais. Assim, a Gazeta do Rio de Janeiro marcou época, apesar de ser impedida de publicar assuntos contra o governo, pois era censurada pela Igreja. Também foi D. João VI que criou o Jardim Botânico, em 1810, atraindo pesquisadores estrangeiros devido à imensa variedade de espécies da flora tropical. Além disso, o rei oportunizou atividades artísticas, permitindo a vinda de alguns pintores que retrataram os usos e costumes da época e da população – entre esses artistas, pode-se citar Charles Pradier e Jean-Baptiste Debret. Embora a educação ainda estivesse sob o regime pombalino, D. João VI permitiu a alavancagem do sistema não só partindo da implementação de novos cursos, mas também caracterizando a forma de oferta com um caráter mais profissionalizante, preparando pessoas para as funções necessárias na corte. Entre 1808 e 1816, foram criados, na Bahia e no Rio de Janeiro, cursos de Cirurgia, Economia, Agricultura, Química, Desenho Industrial, Cirurgia e Anatomia, além da Academia Real da Marinha, da Academia Real Militar e da Políticas educacionais e organização da educação básica26 Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, a qual, em 1820, passou a se chamar Real Academia de Pintura, Escultura e Arquitetura Civil. Todas essas ações foram impactantes e importantes para o desenvolvimento do Brasil, mas ainda não eram suficientes para uma terra com tantas possibilidades, jápercebidas pela realeza e principalmente pelo então príncipe, filho de D. João e Dona Leopoldina. Temendo perder o trono em Portugal, que enfrentava um movimento liberalista das cortes portuguesas, D. João VI voltou para Lisboa, deixando no Brasil seu filho, Pedro de Alcântara, como regente, pois sabia que o país se separaria de Portugal. Então, ele preferia que o trono passasse para o filho, e não para outra pessoa que não o obedeceria. D. Pedro I promoveu, com muitas lutas e disputas, a independência do Brasil, como conta a história transcorrida às margens do Rio Ipiranga, por meio da célebre frase “Independência ou Morte”, em 1822. A partir de então, ocorreu a “constituição da mandioca”, isto é, o direito de voto para os donos de 150 alqueires de mandioca. Sob essa ótica, a Assembleia Constituinte era a responsável por organizar o sistema educacional brasileiro, o que causou impasses com o imperador, resultando na destituição de seus membros da corte em 1823 – fato conhecido como Noite da Agonia. Com o poder total nas mãos, D. Pedro I elaborou uma nova Constituição e a promulgou em 1824, cujas leis foram tributárias e vigoraram até a Proclamação da República, em 1889. Embora sem sucesso, em razão da pobreza do país e do descaso pela educação, já que a elite se mantinha firme no propósito de enviar seus filhos à Europa para estudar, o principal objetivo educacional na Constituição de D. Pedro I era a oferta de ensino popular e gratuito, com o intuito de estimular o desenvolvimento cultural, instigando o amor e o respeito à nação. Tal fato fez com que fossem promulgadas diversas leis complementares, que até contrariavam a Constituição, mas eram necessárias para corrigir algumas insuficiências contidas na Lei Maior. Tais leis complementares tinham o objetivo de viabilizar a educação inovadora, conforme os moldes de oferta de educação gratuita. A primeira lei (15 de outubro de 1827) aprovada pela Assembleia Legislativa estabelecia que: Art 1º Em todas as cidades, villas e logares mais populosos, haverão as escolas de primeiras letras que forem necessarias. [...] Art 3º Os Presidentes, em Conselho, taxarão inteiramente os ordenados dos Professores [...]. Art 4º As escolas serão de ensino mutuo nas capitaes das provincias; e o serão tambem nas cidades, villas e logares populosos dellas, em que fór possivel estabelecerem-se. Art 5º Para as escolas do ensino mutuo se applicarão os edifficios, que houverem com sufficiencia nos logares dellas, arranjando-se com os utensillios necessarios á custa da Fazenda Publica [...]. Art 6º Os Professores ensinarão a ler, escrever as quatro operações de arithmetica, pratica de quebrados, decimaes e proporções, as nações mais geraes de geometria pratica, a grammatica da lingua nacional, e os principios de moral chritã e da doutrina da religião catholica e apostolica romana [...]. Organização da educação brasileira e sua trajetória histórica 27 Art 9º Os Professores actuaes não seram providos nas cadeiras que novamente se crearem, sem exame e approvação, na fórma do art. 7º. [...] Art 11º Haverão escolas de meninas nas cidades e villas mais populosas, em que os Presidentes em Conselho, julgarem necessario este estabelecimento. Art 12º As mestras, além do declarado no art 6º, com exclusão das noções de geometria e limitando a instrucção da arithmetica só as suas quatro operações, ensinarão tambem as prendas que servem á economia domestica; [...] Art 15º Estas escolas serão regidas pelos estatutos actuaes no que se não oppozerem á presente lei; os catigos serão os praticados pelo methodo de Lencastre. (BRASIL, 1827, grafia da época) Apesar de a lei tratar mais detalhadamente sobre a forma de oferta da educação no Brasil, os resultados se mostravam muito aquém do que o imperador e toda a corte esperavam. Segundo o Ministro do Império, Lino Coutinho, as deficiências estavam na má administração e fiscalização das vilas (municípios) e dos professores, que se tornaram menos comprometidos com a educação, propiciando a “vadiagem” dos alunos que não tinham tanto interesse no aprendizado conduzido daquela forma (NASCIMENTO, 2019). Nos relatórios de Coutinho, o ministro indicava a displicência com que o Poder Público cuidava da educação, não cumprindo o que estava na lei em relação aos edifícios, aos livros didáticos e aos demais “utensílios” necessários. Tais textos também apontavam para a defasagem nos salários dos professores – por não estarem preparados para cumprir com os requisitos exigidos na lei –, bem como para o método, o qual era considerado inadequado pelo ministro. Portanto, podemos observar que já em 1831 havia uma ilusão na elaboração das leis, que eram escritas com ideais praticamente inatingíveis, pois, para alcançá-los, era preciso um grande esforço do governo em providenciar as condições necessárias para as escolas e os professores. Obviamente, um país em desenvolvimento e que acabava de se tornar independente precisava de providências mais contundentes. Assim, em 1834, a elaboração de um Ato Adicional alterou a Constituição de 1824, dando às províncias poderes de administrar seus próprios recursos, além das diretrizes dos ensinos primário e secundário. Dessa forma, leis e decretos foram criados e aprovados sem que fossem aplicados, pois não havia escolas e poucos eram os professores (NASCIMENTO, 2019). Esse fato colaborou para que a educação no Brasil tomasse outro rumo, propiciando a criação da primeira Escola Normal do país, instalada em Niterói, no Rio de Janeiro, em 1835. A partir de então, a criação de escolas se disseminou por todo o Brasil, tais como: • 1836 – Escola Normal na Bahia; • 1845 – Escola Normal no Ceará; • 1846 – Escola Normal em São Paulo; • 1837 – Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Também em 1837 foram criados colégios religiosos e cursos de magistério somente para homens. É importante salientar que, a partir de 1840, D. Pedro II foi emancipado, com apenas 14 anos, pois já estava no Brasil sem sua família desde os cinco anos, quando seu pai abdicou do trono. Assim se iniciou o segundo e último reinado no Brasil, que durou até 1889. Políticas educacionais e organização da educação básica28 Foi um período de calmaria no país. D. Pedro II favoreceu os interesses dos grandes proprietários rurais, responsáveis pelo movimento econômico e financeiro. Também nessa época foram criados o Parlamentarismo e a figura do presidente do Conselho de Ministros. A economia tomou novo fôlego com o favorecimento do comércio de café, aumentando, assim, as lavouras cafeeiras e trazendo prosperidade econômica para o país. Por outro lado, a mão de obra escrava aumentou, mas o tráfego de negros foi inibido. Em 1870, ocorreu a Proclamação da República e, em 1888, o fim da escravidão, por meio da Lei Áurea. É imprescindível registrar que, no final do império, o ensino brasileiro estava em decadência. Quase não havia mais escolas, apenas algumas de cunho privado instaladas nas capitais ou nas principais cidades do país, o que gerou um número muito grande de brasileiros analfabetos. Foi preciso formar professores, o que só se tornou possível por meio de decretos e de políticos como Carlos Leôncio de Carvalho (Ministro dos Negócios do Império) e seus contemporâneos, para alavancar a instituição escolar brasileira e fazer frente aos países europeus. Nesse sentido, Rui Barbosa foi um dos homens que mais se empenhou no desenvolvimento cultural e intelectual do povo brasileiro nessa época. No final do século XIX, mais precisamente em 1879, Carlos Leôncio de Carvalho apresentou uma reforma na educação que inovava o que já existia, por meio do Decreto n. 1.331-A, de 17 de fevereiro de 1854, que aprovou o “Regulamento para a reforma do ensino primário e secundário do Município da Côrte” (BRASIL, 1854, grafia da época). Assim, Leôncio de Carvalho instituiu a liberdade de ensino, o que culminou no surgimento de colégios protestantes e positivistas. Entre as inovações,podemos destacar, segundo Saviani: criação de jardins-de-infância para as crianças de 3 a 7 anos (artigo 5º); caixa escolar (artigo 6º); bibliotecas e museus escolares (artigo 7º); subvenção ao ensino particular, equiparação de Escolas Normais particulares às oficiais e de escolas secundárias privadas ao Colégio Pedro II, criação de escolas profissionais de bibliotecas populares e de bibliotecas e museus pedagógicos onde houver Escola Normal (artigo 8º); regulamentação do ensino superior abrangendo a associação de particulares para a fundação de cursos livres em salas dos edifícios das Escolas ou Faculdades do Estado (artigo 22); faculdade de direito (artigo 23; e faculdades de medicina (artigo 24). [...] a Reforma Leôncio de Carvalho levou bem mais longe a inclusão de dispositivos referentes ao funcionamento da educação nas províncias. Assim, o artigo 8º contempla, nas províncias, a subvenção a escolas particulares; a contratação de professores particulares para ministrar os rudimentos do ensino primário; a criação de cursos de alfabetização de adultos e de Escolas Normais; fundação de bibliotecas e museus pedagógicos e de bibliotecas populares; e a criação, nos municípios mais importantes das províncias, de escolas profissionais e de ensino de artes e ofícios. A Reforma previu, também, a abertura, nas províncias, de mesas de exames de preparatórios (artigos 11 e 12) e a inspeção dos estabelecimentos de instrução primária e secundária (artigo 15). (SAVIANI, 2007, p. 138) Assim se encerrou o período imperial no Brasil, resultando na partida da família real para a Europa, em 1889, dando lugar a uma nova história no país, que foi chamada de Primeira República. Organização da educação brasileira e sua trajetória histórica 29 2.2 A Primeira República e o sistema educacional brasileiro A Proclamação da República se deu em 15 de novembro de 1889, com o objetivo de derrubar a monarquia. Com o Imperador D. Pedro II fora do Brasil, os militares assumiram o poder do país. Nesse momento, foi nomeado o primeiro presidente brasileiro, Marechal Deodoro da Fonseca, que teve um governo marcado por uma grande crise financeira e, em 1891, renunciou ao cargo, assumindo o seu vice, Marechal Floriano Peixoto, em mandato que durou até 1894 e não obteve os sucessos esperados. Nesse mesmo ano, foi eleito o primeiro presidente civil do Brasil, Prudente de Morais. Em 24 de fevereiro de 1891, a primeira Constituição republicana foi promulgada. Ela seguia o modelo norte-americano e tinha como foco a democracia. Em relação à educação, em seu art. 35, tal texto legal estabelecia a criação de instituições de ensino superior e secundário nos estados, além da promoção da instrução secundária no Distrito Federal. Ou seja, o presidente da república e os governadores começaram a ser responsáveis também pela educação, que, por sua vez, passou por diversas reformas. O objetivo era dar uma estrutura aos ensinos primário e secundário. Por isso, os idealistas republicanos buscaram a inovação baseando-se nos estudos da ideologia positivista de Auguste Comte2. Em São Paulo, foram criados a Escola Normal Caetano de Campos, em 1891, e o Grupo Escolar (atual Escola de Ensino Fundamental), em 1894, por meio do Decreto Estadual n. 248, de 26 de setembro de 1894, que revolucionou a forma de oferta da educação brasileira. Nesse modelo, os alunos eram instruídos por apenas um professor e ficavam separados por características semelhantes. Nesse contexto surgiu, então, a figura do diretor de escola. Vale lembrar que a reforma de Benjamin Constant na educação trouxe para o currículo escolar as disciplinas chamadas científicas (Matemática, Astronomia, Física, Química, Biologia, Sociologia e Moral) e foi importante na divisão da faixa etária das crianças de acordo com séries escolares. Tal divisão está presente no Título II do Decreto n. 981, de 8 de novembro de 1890 (BRASIL, 1890, grafia da época): TITULO II Das escolas primarias, suas categorias e regimen Art. 2º A instrucção primaria, livre, gratuita e leiga, será dada no Districto Federal em escolas públicas de duas categorias: 1ª escolas primarias do 1º gráo; 2ª escolas primarias do 2ª gráo. § 1º As escolas do 1º gráo admittirão alumnós de 7 a 13 annos de idade, e as do 2º gráo, de 13 a 15 annos. Umas e outras serão distinctas para cada sexo, porém meninos até 8 annos poderão frequentar as escolas do 1º gráo do sexo feminino. § 2º Nenhum alumno será admittido á frequencia das escolas do 2º gráo sem exhibir o certificado de estudos primarios do gráo precedente. 2 O filósofo francês Auguste Comte (1798-1857) é considerado o fundador do positivismo. Políticas educacionais e organização da educação básica30 Devido a essa nova regra para o ensino, o país se deparou com outro problema, pois não havia professores suficientes e preparados para esse trabalho. Desse modo, foram criadas, então, as escolas complementares, que aparentemente resolveriam o problema, mas não formavam o professor com a mesma qualidade que os cursos normais, algo que propunha o governo paulista. Havia uma política que, ao mesmo tempo em que dava ao professor poderes para premiar ou castigar os alunos, também os responsabilizava pelos insucessos dos aprendizes. Era uma época na qual os alunos reprovados se evadiam das escolas, e esse número era muito alto, o que trazia um grande prejuízo ao governo. Campos Sales era o então presidente da república do Brasil. Em 1901, ele baixou o Decreto n. 3.914, de 26 de janeiro, elaborado por Epitácio Pessoa, que tinha como principal objetivo regularizar a oferta de ensino em 2º grau para promover o ingresso dos estudantes no ensino superior, especificamente para o bacharelado em Ciências e Letras. A esse nível de escolaridade foi dado o nome de ginásio (gymnasio). “Art. 1º O Gymnasio Nacional tem por fim proporcionar a cultura intellectual necessaria para a matricula nos cursos de ensino superior e para a obtenção do grau de bacharel em sciencias e lettras” (BRASIL, 1901, grafia da época). Em 1910, outra reforma na educação foi proposta e seguiu implementada em 1911, durante o governo de Hermes da Fonseca. Chamada também de Lei Orgânica do Ensino Superior e Fundamental (Decreto n. 8.659, de 5 de abril de 1911), foi conhecida como Reforma Rivadária Corrêa e permitiu a criação de instituições de ensino superior pela iniciativa privada, criando também a figura do Conselho Superior de Educação e possibilitando que a Congregação elegesse o Diretor da Instituição escolhendo entre seus pares (SILVEIRA, 1954, p. 39). Diversos autores relatam que essa foi a mais significativa reforma da educação brasileira, pois possibilitou a qualificação do povo, que passou a ter acesso (mesmo que pouco) à formação universitária e à possibilidade de formação profissional graduada e de qualidade, já que a mesma reforma que permitia a existência de instituições de ensino superior privado também regrava sua oferta e suas obrigações com a União. Embora essa legislação tenha sido revolucionária, em 1915, durante o governo de Venceslau Brás, o Decreto n. 11.530, de 18 de março de 1915, proposto por Carlos Maximiliano, reorganizou os ensinos secundário e superior, mas devolveu ao governo a sua oferta. Outro marco importante nesse decreto foi a criação e institucionalização do exame vestibular para ingresso no ensino superior. Entre as regras para tal, o candidato deveria provar sua idoneidade moral e ter idade mínima de 16 anos. Além disso, as provas eram escritas e orais e abrangiam os conteúdos de Física, Química, História Natural e Universal, Matemática Elementar, Psicologia e Lógica. Os exames vestibulares eram julgados por uma comissão de professores do Colégio Pedro II ou por outros que fossem igualmente competentes para o ato. Podemos observar, portanto, que as últimas legislações voltadas para o ensino tinham como preocupação apenas os ensinos secundário e superior, deixando o ensino primário (fundamental) seminovações ou reformas. Obviamente, muitos problemas acabariam sendo encontrados no ensino secundário devido à fragilidade do ensino na educação primária. Organização da educação brasileira e sua trajetória histórica 31 No final da Primeira República, e depois de tantas reformas na educação brasileira, já no governo de Arthur Bernardes (e em meio a diversos acontecimentos no mundo, como a Primeira Guerra Mundial) um grande movimento civil começava a aparecer, dando uma nova direção aos caminhos políticos do país. Arthur da Silva Bernardes foi o presidente do Brasil de 1922 até 1926, período em que o país vislumbrava um grande crescimento operário. Havia uma situação de sítio instalada no Estado, em decorrência dos movimentos tenentista, considerados ameaças ao regime vigente. Então, surgiu em 1925 uma nova proposta de reforma da educação, apresentada por Rocha Vaz, que tinha como finalidade inibir a ação de estudantes contra o governo de Arthur Bernardes, obrigando também a inclusão da disciplina Moral e Cívica nos currículos escolares e fixando o currículo no ensino superior, além de aprimorar o vestibular. Nesse período, os educadores inspirados pelos ideais da Escola Nova realizaram outras reformas na educação, as quais futuramente comporiam a base para o movimento da Escola Nova propriamente dita. Os educadores mais expoentes nessas reformas foram: Sampaio Dória, em São Paulo, em 1920; Lourenço Filho, no Ceará, em 1922; Fernando de Azevedo, no Rio de Janeiro, em 1927; Carneiro Leão, em Pernambuco, em 1928; Francisco Campos e Mario Casassanta, em Minas Gerais, em 1927; Anísio Teixeira, na Bahia, em 1928; e Lysímaco da Costa, no Paraná, em 1927 (IVASHITA; VIEIRA, 2019). Em 1926, Washington Luís assumiu a presidência. Naquela época, ainda estava instaurado o Estado de sítio no país, o qual teve fim em dezembro do mesmo ano. Com o encerramento das batalhas contra o governo, surgiu o Partido Comunista, o que provocou a oposição ao governo, que se viu obrigado a promulgar a Lei Celerada, que desorganizou todo o país, mas atacou principalmente a imprensa, por meio da instituição da censura. A esse respeito, observe o que consta no Decreto n. 5.221, de 12 de agosto de 1927, no art. 2º: O art. 12 da lei n. 4.269, de 17 de janeiro de 1921, fica substituido pelo seguinte: “O Governo poderá ordenar o fechamento, por tempo determinado, de aggremiações, syndicatos, centros ou sociedades que incidam na pratica de crimes previstos nesta lei ou de actos contrarios á ordem, moralidade e segurança públicas, e, quer operem no estrangeiro ou no paiz, vedar-lhes a propaganda, impedindo a distribuição de escriptos ou suspendendo os orgãos de publicidade que a isto se proponham, sem prejuizo do respectivo processo criminal”. (BRASIL, 1927, grafia da época) Diante de todo esse cenário caótico na economia brasileira, a educação despontava com mais uma reforma, oriunda de Minas Gerais, agora com ênfase no ensino público e, principalmente, na formação de professores. Com as ações do então Diretor de Instrução Pública, Francisco Campos, em convocar os professores para juntos repensarem a educação primária, eles fortaleceram as intenções de Fernando de Azevedo, tendo como meta, entre outras ações, a construção de escolas e a instituição do ensino técnico-profissional, do ensino primário e do ensino normal. Azevedo almejava preparar os alunos para a vida social e para a produção, por meio de um intercâmbio entre as duas vertentes da vida humana (estudo e trabalho). Políticas educacionais e organização da educação básica32 Infelizmente, não podemos dizer que essa época foi boa para a educação, apesar de terem ocorrido diversas mudanças e inovações. O país passava por tantas reformas e crises que era de se esperar que a educação sentisse também alguns reflexos. Em 1930, teve fim a Primeira República (ou República Velha), quando aconteceu o chamado golpe de 1930, que teve como objetivo destituir o presidente Washington Luís, deposto pelas Forças Armadas. Para sucedê-lo, foi composta uma junta provisória com as figuras dos generais Tasso Fragoso e Mena Barreto, bem como pelo almirante Isaías de Noronha. Júlio Prestes foi nomeado sucessor de Washington Luís, mas as lideranças governamentais do país se opuseram a essa escolha. Assim, por eleição, Júlio Prestes venceu Getúlio Vargas em 1930, no entanto não assumiu o cargo, pois a Aliança Liberal se opôs e promoveu a Revolução de 1930, dando a Getúlio Vargas o cargo de presidente do Brasil. Encerrou-se assim a Primeira República do Brasil. 2.3 Educação na Segunda República Esse período da história do Brasil ficou conhecido como Era Vargas e teve início com a posse do Presidente Getúlio Vargas, que já iniciou sua gestão suspendendo a Constituição de 1821 e instalando uma Assembleia Constituinte, com a função de elaborar uma nova Constituição mais adequada ao Brasil daquele tempo, contemplando um povo mais brasileiro e mais conhecedor. Graças à cafeicultura, o Brasil contava com uma infraestrutura que possibilitava atividades urbanas como o comércio, bancos, casas de exportação e fábricas, especialmente as têxteis, que se espalhavam por todo o país, além de algumas alimentícias. Tal desenvolvimento propiciou a vinda de imigrantes que chegavam prontos para o trabalho e o consumo, o que possibilitou que a economia mantivesse um giro considerável, trazendo mais desenvolvimento para o país. No início da Era Vargas, o Brasil, mais moderno, passou a impulsionar nos estados a participação das companhias brasileiras em detrimento das estrangeiras, que se instalaram no país durante a Segunda Guerra Mundial. Também foi nessa era que as reformas educacionais até então mais modernas aconteceram. A princípio, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública, durante a IV Conferência Nacional de Educação, em 1931, organizada pela Associação Brasileira de Educação (ABE). O Ministro da Educação e Saúde Francisco Campos ensejou a reforma no ensino secundário – a Reforma Campos. Entre outras inovações, essa reforma criou o exame de madureza, destinado aos brasileiros que desejassem adquirir o certificado de primeiro e segundo graus. Então, em 1932, surgiu o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, documento assinado por importantes intelectuais que defendiam a reorganização da educação brasileira para fazer frente aos países mais desenvolvidos, prevendo a possibilidade de progresso ao país. As transformações educacionais a partir de Vargas foram significativas. O ensino se democratizou, em virtude de uma discussão sobre os grandes pensadores, filósofos e educadores mundiais. Uma delas foi a escola ativa, de John Dewey, que teve como seguidores no Brasil Anísio Organização da educação brasileira e sua trajetória histórica 33 Teixeira, Lourenço Filho, Fernando de Azevedo e Francisco Campos (SOUZA, 2007; VALENTE, 2012; MAGALHÃES, 2019). Foi na mesma época que o ensino primário se tornou gratuito e obrigatório, e o ensino religioso, facultativo, conforme exposto no texto da Constituição de 1934, em seu art. 153: “O ensino religioso será de frequência facultativa e ministrado de acordo com os princípios da confissão religiosa do aluno manifestada pelos pais ou responsáveis e constituirá matéria dos horários nas escolas públicas primárias, secundárias, profissionais e normais” (BRASIL, 1934). No que se refere à educação, a Reforma de Campos inspirou a Constituição de 1934, introduzindo o ensino profissionalizante. As indústrias ficaram obrigadas a criar escolas para os filhos de seus operários, de acordo com o texto do art. 139: “toda empresa industrial ou agrícola, fora dos centros escolares, e onde trabalharem mais de cinquenta pessoas, perfazendo estas e os seus filhos, pelo menos, dez analfabetos, será obrigada a lhes proporcionar ensino primário gratuito” (BRASIL, 1934). Entretanto, em 1942, por meio da implementação da Reforma do Sistema Educacional Brasileiro do então Ministro da Educação
Compartilhar