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Políticas Educacionais e Organização da Educação Básica Angelica Bocca Rossi Código Logístico 58299 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6230-0 9 7 8 8 5 3 8 7 6 2 3 0 0 Políticas Educacionais e Organização da Educação Básica Angelica Bocca Rossi Estudar as políticas educacionais não é apenas conhecer as leis que regem a categoria, mas é também ter a consciência da relevância do papel da educação na formação do cidadão, conhecer os direitos e as obrigações do Estado e da sociedade, bem como dos profissionais do magistério. Desse modo, estudar políticas educacionais colabora com a formação do professor brasileiro, inclusive no que diz respeito a comportamento, ética, direitos e deveres, compromisso, atitudes, conceitos e procedimentos. P o líticas E d u cacio n ais e O rg an ização d a E d u cação B ásica A n g e lica B o cca R o ssi Políticas educacionais e organização da educação básica IESDE BRASIL S/A 2019 Angelica Bocca Rossi Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2019 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: surasaki/ Lincoln Beddoe/ GUNDAM_Ai/ Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ R741p Rossi, Angelica Bocca Políticas educacionais e organização da educação básica / Angelica Bocca Rossi. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2019. 106 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6230-0 1. Educação e Estado - Brasil. 2. Educação e Estado - Brasil - História. 3. Ensino - Legislação - Brasil. I. Título. 19-58901 CDD: 379.81 CDU: 37.014.5(81) Angelica Bocca Rossi Especialista em Educação a Distância pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). Licenciada em Pedagogia pelo Centro Universitário Padre Anchieta (UniAnchieta). Professora formada pelo curso de Magistério das escolas Padre Anchieta. Atuou como professora de educação básica, de ensino de jovens e adultos e de educação infantil durante os primeiros 20 anos da carreira docente, com dedicação maior à educação infantil em escolas públicas e privadas. Foi docente em cursos de pós-graduação lato sensu como professora convidada. Atua, desde 1998, em assessoria para assuntos educacionais do ensino superior . Sumário Apresentação 7 1 Política educacional e legislação educacional brasileira 9 1.1 O que é política educacional? 9 1.2 Leis de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira 14 2 Organização da educação brasileira e sua trajetória histórica 21 2.1 Brasil Colônia e Brasil Império: os primórdios da educação no país 21 2.2 A Primeira República e o sistema educacional brasileiro 29 2.3 Educação na Segunda República 32 2.4 Nova República e a democratização escolar 34 3 Os sistemas de ensino no Brasil 41 3.1 Os sistemas federal, estadual e municipal e suas inter-relações 41 3.2 A participação da União no Fundef e no Fundeb 44 3.3 O Plano Nacional de Educação (PNE) 47 4 Estado, sociedade e educação 57 4.1 Educação escolar no contexto das reformas do Estado 57 4.2 Transformações da educação na sociedade contemporânea 62 4.3 Trajetória histórica da formação docente 65 5 Financiamento educacional brasileiro 77 5.1 A Emenda Constitucional n. 95/2016 77 5.2 As receitas e o destino dos recursos da educação 80 5.3 Piso salarial profissional nacional 81 5.4 Entendendo o CAQi e o CAQ 84 6 Avaliação institucional 91 6.1 Função e sistemas de aplicação da avaliação institucional 91 6.2 Mecanismos de avaliação no ensino brasileiro: relevâncias e resultados 94 Gabarito 103 Apresentação Desde a chegada dos jesuítas, a educação no Brasil tem construído uma história interessante e instigante. Durante a colonização, com a vinda de famílias provenientes da Europa, em sua maioria de Portugal, a educação estava relacionada com um misto de poder e querer. As famílias mais abastadas tinham o privilégio de educar seus filhos para que fossem buscar formação fora do país. Com a vinda da família real e, posteriormente, com a Proclamação da Independência do Brasil por D. Pedro I, as escolas se multiplicaram e, portanto, surgiu a necessidade de implementação de políticas educacionais específicas. Desde então, muitas legislações foram e continuam sendo elaboradas no intuito de regrar a educação brasileira, a qual, de modo geral, está mais organizada, apesar de enfrentar muitas dificuldades e, obviamente, de ter muitas falhas. Esses problemas, consequentemente, conferem importância ao conhecimento, ao estudo e à compreensão de nossas políticas educacionais. Antes de tudo, é preciso saber que as políticas educacionais precisam respeitar a Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), especialmente no que se refere ao direito de acesso à educação a qualquer brasileiro, o qual está garantido por essas leis fundamentais. Partindo da LDB, que deve ser de leitura constante para todos os profissionais do magistério, todas as demais leis referentes à educação são importantes e merecem atenção. Por isso, toda a legislação educacional comentada nesta obra está atualizada e pode ser facilmente encontrada no site do Ministério da Educação (MEC). Estudar as políticas educacionais não é apenas conhecer as leis que regem a categoria, mas é também ter a consciência da relevância do papel da educação na formação do cidadão, conhecer os direitos e as obrigações do Estado e da sociedade, bem como dos profissionais do magistério. Por fim, estudar políticas educacionais colabora com a formação do professor brasileiro, inclusive no que diz respeito a comportamento, ética, direitos e deveres, compromisso, atitudes, conceitos e procedimentos. Bons estudos! 1 Política educacional e legislação educacional brasileira Para que a convivência na sociedade seja de respeito, honestidade e ética, é necessário haver uma organização do povo, o que não é possível sem que sejam estabelecidas regras e normas que direcionem e conduzam os caminhos, as ações e o crescimento de um povo, de uma comunidade, de um núcleo de pessoas ou de qualquer outro tipo de formação grupal humana. Nesse sentido, pela nossa própria humanidade, apesar de sermos perfeitamente capazes de nos organizarmos, precisamos registrar as regras em forma de lei, para que a democracia seja efetivada. Dessa maneira, a educação deverá ser a primeira a cumpri-las e, para isso, faz-se necessário ter o conhecimento das políticas emanadas pelo Poder Público, as quais regulamentam, organizam e dão forma à oferta do sistema educacional brasileiro em todas as suas fases. Para entendermos tais políticas públicas, estudaremos neste capítulo os temas que se relacionam à legislação educacional brasileira, sua etimologia e o início da legislação educacional no Brasil, até chegarmos à lei que rege a educação brasileira nos últimos 50 anos: a Lei de Diretrizes e Bases (LDB). A respeito da LDB, perceberemos quais aspectos foram representativos e por isso se mantiveram ou foram melhorados, bem como quais se tornaram obsoletos ou não lograram êxito e, portanto, foram extintos. Por meio da Lei n. 9.394/1996, a atual LDB (BRASIL, 1996), vislumbraremos os atuais mandamentos que regem a educação brasileira e ainda observaremos as atualizações da lei e entenderemos todas as normas que fazem parte do sistema legislativo nacional do setor educacional. Sob essa ótica, devemos acabar com o paradigma de que a legislação é cansativa e ninguém precisa conhecê-la, somente quem a usa. Todos os profissionais da educação devem saber as leis que fazem parte de suas profissões, o que não é diferente em relação aos professores. Temos o hábito de não nos inteirarmos da legislação pertinente à educação, mas isso precisa mudar. É tempode compreender, assimilar e participar do cumprimento da lei. 1.1 O que é política educacional? A política educacional deve ser planejada e implementada pelo governo de um país como parte de suas políticas públicas. Para entendermos isso melhor, vamos primeiramente compreender o que são políticas. De acordo com o Dicionário Michaelis (2019), política é a “arte ou ciência de governar” ou ainda a “arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados”. A origem da palavra é a união de dois termos gregos: polis, que significa cidade, e tikós, que diz respeito ao bem comum dos cidadãos, resultando em politiké – em português: política. A ação política se originou na Grécia pela necessidade de organização das cidades gregas, de modo que fosse possível a participação dos cidadãos nas decisões que refletissem nas cidades, Políticas educacionais e organização da educação básica10 sendo então criadas regras de funcionamento e de organização. Assim, foi instituída a política, que organiza, dá direção e administra as nações e os Estados. Na realidade, diversos autores mencionam que desde a pré-história já havia indícios de uma organização social e política. Os registros históricos indicam que a partir dos primeiros ensaios de escrita e comunicação a política começou a ser contada. Portanto, os registros de civilizações organizadas com a instituição de políticas se reportam à Grécia antiga. A partir da Idade Média (século V até XV), marcada pelo fim do Império Romano com a queda de Constantinopla, teve início o feudalismo. Foi nesse momento da história que a política se transformou e a Igreja católica começou a controlar toda a sociedade, a qual se tornou hierarquizada. Os senhores feudais eram os “donos” das terras e viviam dos impostos cobrados dos camponeses, que eram servos e faziam parte da terceira casta hierárquica. A Igreja, por sua vez, era isenta de impostos e vivia de dízimos e indulgências. A economia girava em torno da agricultura e do artesanato, havia troca de mercadorias e algumas moedas circulavam entre os nobres, mas nada muito significativo. Na área da educação, também a Igreja era majoritária, pois, apesar de o estudo ser privilégio da nobreza, o ensinamento era basicamente sobre as doutrinas religiosas e alguns valores morais, enquanto o latim era oferecido somente em (poucas) escolas específicas. Ensinavam-se alguns conhecimentos militares e táticas de guerra, uma vez que havia um grande interesse na formação de soldados. Podemos dizer que a população medieval era basicamente analfabeta, sem acesso a livros, o que a tornava vulnerável aos ensinamentos da Igreja. Entre os anos de 1453 e 1789 surgiu a Idade Moderna, marcada pelas transformações europeias e pela colonização do continente americano, além de representar também o momento da famosa Revolução Francesa. Politicamente falando, a Idade Moderna foi a época do Absolutismo, em que a palavra do rei era “absoluta”. A própria Igreja, que intervinha nos bastidores dos palácios, apoiava a prática absolutista, baseando-se nos textos bíblicos que instituíam os reis por intermédio dos “profetas de Deus”. Ou seja, o reinado não era parte da hierarquia familiar, mas sim concomitante à vontade e à permissão de Deus. Na Idade Moderna, apesar de terem surgido significativas mudanças na sociedade, ainda havia uma diferenciação bastante acentuada em relação às castas sociais. Para a nobreza, mantiveram- -se os privilégios da economia que provinham do povo, por meio do pagamento de impostos e do impedimento do crescimento intelectual, cultural e econômico. Nessa época, também teve início o sistema capitalista. É importante ressaltar que nessa fase da história surgiram diversas invenções possibilitadas por avanços tecnológicos, como a bússola e o astrolábio, objetos que auxiliaram na exploração de outros continentes (descoberta do continente americano), na construção de embarcações marítimas melhores e, inclusive, no desenvolvimento das máquinas a vapor. Foi na Idade Moderna também que apareceram os primeiros filósofos islamistas e movimentos como a Reforma Religiosa (por Martinho Lutero) e a Contrarreforma – uma reação da Igreja católica. Conhecido como Renascimento, esse período possibilitou as primeiras investigações, por meio de indagações e pesquisas, o que gerou um grande avanço nas ciências e nas artes, com Política educacional e legislação educacional brasileira 11 destaque para autores como Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, William Shakespeare, Nicolau Maquiavel e Leonardo da Vinci. No século XIX, teve início a Idade Contemporânea, que perdura até os dias atuais. Foi nessa época da história que as mais significativas mudanças aconteceram: desde a reforma organizacional política e social, de maneira geral, até as grandes conquistas tecnológicas, que ocorreram de modo extremamente acelerado. Atualmente, ainda vivemos grandes transformações nessa área. Por exemplo, há 100 anos, quem imaginaria que hoje em dia poderíamos conversar com alguém em outro país, a qualquer hora do dia ou da noite e, até mesmo, estando em movimento (caminhando ou de carro), com a possibilidade de ver a pessoa e o local onde ela está? Na Idade Contemporânea, também na política observamos uma grande transformação. Mesmo que a liderança e o poder ainda sejam objeto de desejo de alguns, a soberania só se tornou permitida pelo próprio povo, o qual, por sua vez, é resistente a desmandos e imposições desprovidos de um claro entendimento e compreensão. Na educação, apesar de tantas tecnologias e avanços tecnológicos, há poucas mudanças em relação à maneira de ministrar aulas. Sob essa ótica, percebemos claramente que as práticas pedagógicas atuais são muito semelhantes às do Padre José de Anchieta, ao ensinar os índios no Brasil Colônia. De toda forma, mesmo com uma prática pedagógica muito aquém do que se esperava para o século atual, há pessoas preocupadas em desenvolver e implementar políticas educacionais justas e que tenham como objetivo uma formação humanística, ética e cidadã. Portanto, o estudo das políticas públicas é essencial para o conhecimento das regras e normas que possibilitam a aplicabilidade da estrutura escolar em qualquer época, independentemente de lugar ou povo. Mas, antes de entrarmos nesse assunto, precisamos compreender como tais políticas são elaboradas, pensadas, organizadas, instituídas, bem como por que e para quem servem. Por políticas públicas podemos entender o conjunto de políticas para o atendimento de todos os setores da sociedade civil, com a intenção de organizar o Estado/nação de modo que sejam garantidos os direitos e deveres dos cidadãos, democraticamente. Dessa forma, elas buscam organizar as ações governamentais e instituir regras para o bom funcionamento da nação. Além disso, é com base nelas que um país tem como avaliar e colaborar para a melhoria de atendimento, da qualidade e do cumprimento de toda legislação para cada setor. Considerando as políticas públicas, as instituições, organizações, empresas e indústrias são criadas e organizadas, sejam elas mantidas pelo Poder Público, por ONGs ou iniciativa privada. Assim, não é possível, por exemplo, transportar cargas sem que se tenha a legitimidade delas. Ou seja, elas devem estar devidamente mencionadas em documentos como nota fiscal, bem como ser corretamente acomodadas para o transporte (presas, refrigeradas etc.). Também não é possível fazer negociações entre empresas sem que haja registros e emissões de notas fiscais para os devidos recolhimentos de impostos, o que contribui também para inibir ou meramente combater o contrabando. No que se refere às políticas educacionais, desde a reforma da Constituição Federal (BRASIL, 1988), muitas ações já foram definidas pelos governos que passaram pelo poder no Brasil. Sob essa Políticas educacionais e organização da educação básica12 ótica, as políticas educacionais devem ser fundamentadas nos objetivos da ConstituiçãoFederal e na LDB (BRASIL, 1996), a qual regulamenta e organiza a oferta de educação no país. A esse respeito, conforme afirma Adão Francisco de Oliveira: em outras palavras, pode-se dizer que políticas públicas educacionais dizem respeito à educação escolar. Por que é importante fazer essa observação? Porque educação é algo que vai além do ambiente escolar. Tudo o que se aprende socialmente – na família, na igreja, na escola, no trabalho, na rua, no teatro, etc. –, resultado do ensino, da observação, da repetição, reprodução, inculcação, é educação. Porém, a educação só é escolar quando ela for passível de delimitação por um sistema que é fruto de políticas públicas. Portanto, políticas públicas educacionais dizem respeito às decisões do governo que têm incidência no ambiente escolar enquanto ambiente de ensino-aprendizagem. Tais decisões envolvem questões como: construção do prédio, contratação de profissionais, formação docente, carreira, valorização profissional, matriz curricular, gestão escolar, etc. (OLIVEIRA, 2010, p. 96-97) Assim, podemos concluir que as políticas educacionais são ações governamentais que organizam, administram, apoiam e colaboram com as instituições educacionais, de modo que seja cumprida a LDB, especialmente considerando o que diz o art. 3º de tal texto legal: Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII - valorização do profissional da educação escolar; VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX - garantia de padrão de qualidade; X - valorização da experiência extraescolar; XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais; XII - consideração com a diversidade étnico-racial; XIII - garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo da vida. (BRASIL, 1996) Para a definição, a propositura, o estudo e a criação de políticas públicas na educação, faz- -se necessário elaborar leis específicas que são enviadas ao Poder Legislativo para serem votadas. Dessa forma, ocorre a participação, a discussão e o voto de todas as esferas do governo (federal, estadual e municipal), bem como a participação da população, que pode se manifestar sempre que se sentir lesada ou tiver alguma ideia que possa melhorar a lei, colaborando com a forma de oferta e a aplicabilidade da educação no país. Política educacional e legislação educacional brasileira 13 No Brasil, algumas políticas educacionais instituídas e que estão em andamento são as seguintes: • Programa Brasil Alfabetizado: alfabetização de jovens, adultos e idosos. • Educação para Jovens e Adultos (EJA): ensino fundamental e médio para jovens que não terminaram os estudos. • Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec): oferta de cursos de educação tecnológica e profissionalizante. • Programa Universidade para Todos (Prouni): bolsas de estudo em instituições privadas de ensino superior, para estudantes de baixa renda. • Mediotec: curso de ensino técnico dedicado a estudantes de ensino médio nas escolas públicas estaduais. • Programa Escola Acessível: acessibilidade no ambiente escolar da rede pública de ensino, para melhorar o aprendizado de estudantes com necessidades especiais. • Prolind: apoio à formação superior, envolve licenciaturas interculturais indígenas. • Programa Caminho da Escola: transporte escolar nas redes de ensino estaduais e municipais. • Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb): fundo de investimento financeiro do governo federal em projetos de educação nos estados. • Educação em Prisões: ensino a jovens e adultos que cumprem pena no sistema prisional. • Programa Brasil Profissionalizado: educação profissionalizante dirigida aos jovens matriculados no ensino médio da rede pública de ensino. Além desses programas de políticas públicas educacionais, há o Plano Nacional de Educação (PNE), que determina diretrizes, metas e estratégias para a política educacional no período de 2014 a 2024. O documento foi aprovado pela Lei n. 13.005/2014 (BRASIL, 2014). O PNE foi projetado para ser cumprido em vinte anos. Para isso, foram estabelecidas vinte metas. Observamos, porém, que há muita dificuldade no atingimento de tais objetivos, visto que para seu cumprimento são necessários muitos investimentos. A meta mais importante desse Plano é: “Meta 20: ampliar o investimento público em educação pública de forma a atingir, no mínimo, o patamar de 7% (sete por cento) do Produto Interno Bruto – PIB do País no 5º (quinto) ano de vigência desta Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% (dez por cento) do PIB ao final do decênio” (BRASIL, 2014). Mas, sem investimento financeiro, é praticamente impossível que o PNE seja efetivamente cumprido. Estamos em 2019 e, até junho de 2018 (quatro anos depois de ser sancionada a lei que aprova o PNE), apenas uma meta foi cumprida em sua totalidade, como pode ser observado no documento Relatório do 2º Ciclo de Monitoramento das Metas do Plano Nacional de Educação: 2018 – Resumo, elaborado e divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) em conjunto com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) (BRASIL, 2018b). Políticas educacionais e organização da educação básica14 Concluindo, observamos que é imprescindível a implementação de políticas educacionais para o efetivo cumprimento do disposto na Constituição Federal, propiciando o crescimento, o desenvolvimento e, consequentemente, a melhoria de vida de toda a população brasileira. 1.2 Leis de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira Como apresentamos na seção anterior, as políticas públicas são necessárias para o bom funcionamento de uma nação. Tais políticas são baseadas em leis que normatizam e estabelecem as regras para o funcionamento de todos os órgãos e departamentos do país. Também de acordo com o que já estudamos, a educação é regulamentada pela LDB. No Brasil, a primeira LDB foi instituída em 1961, sendo posteriormente substituída pela LDB de 1971 e, finalmente, pela atual, publicada em dezembro de 1996. Passemos agora a um breve estudo das LDBs que fizeram a história da educação brasileira. 1.2.1 Lei n. 4.024, de 20 de dezembro de 1961 A primeira LDB historicamente instituída no Brasil foi a Lei n. 4.024, sancionada pelo então Presidente da República do Brasil João Goulart. Essa lei tinha como objetivo a unificação das escolas públicas e particulares, garantindo, assim, a igualdade dos princípios de liberdade e dos ideais de solidariedade humana, conforme rege seu art. 1º: Art. 1º - A educação nacional, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por fim: a) a compreensão dos direitos e deveres da pessoa humana, do cidadão, do Estado, da família e dos demais grupos que compõem a comunidade; b) o respeito à dignidade e às liberdades fundamentais do homem; c) o fortalecimento da unidade nacional e da solidariedade internacional; d) o desenvolvimento integral da personalidade e a sua participação na obra do bem comum; e) o preparo do indivíduo e da sociedade para o domínio dos recursos científicos e tecnológicos que lhes permitam utilizar as possibilidades e vencer as dificuldades do meio; f) a preservação e expansão do patrimônio cultural; g) a condenação a qualquer tratamento desigual por motivo de convicção filosófica, política ou religiosa, bem como a quaisquer preconceitos de classe e raça. (BRASIL, 1961) Dez anos mais tarde, houve a reformulação da LDB que originoua Lei n. 5.692/1971. 1.2.2 Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971 Apesar de ter sido aprovada em 11 de agosto de 1971, essa lei começou a vigorar somente em 1972. Ela reformulou o ensino no início dos anos escolares (o que atualmente chamamos de ensino fundamental) e ainda reorganizou o ensino médio – à época era chamado de científico ou colegial. Política educacional e legislação educacional brasileira 15 No ano em que essa LDB foi promulgada, o presidente era o General Emílio Garrastazu Médici, época em que o país era governado por militares. Essa lei tinha como objetivo a profissionalização do povo com o intuito de alavancar o país com mão de obra mais qualificada. As principais mudanças identificadas nessa LDB são as seguintes (BRASIL, 1971): • Art. 4º: núcleo comum para os currículos do ensino de 1º e 2º graus e parte diversificada para atendimentos específicos e especiais. Para o ensino de 2º grau, houve a oferta de habilitação profissional. • Art. 7º: obrigatoriedade do ensino de Educação Moral e Cívica, Educação Física, Educação Artística e Programas de Saúde, nos currículos de 1º e 2º graus. O ensino religioso tinha oferta facultativa. • Art. 9º: tratamento diferenciado para alunos especiais (com deficiências físicas ou mentais) e alunos superdotados. • Art. 10: é instituída a figura do orientador educacional para cooperar com os professores, a família e a comunidade. • Art. 11: ano letivo de no mínimo 180 dias. Nesse período, deveriam ser ministradas aulas regulares, outras atividades e estudos de recuperação para alunos com aproveitamento insuficiente. O regime letivo poderia ser adaptado na zona rural, de acordo com o plantio e a colheita de safras. • Art. 20: obrigatoriedade de oferta do ensino de 1º grau (atual ensino fundamental – anos iniciais) dos 7 aos 14 anos de idade, com a responsabilidade de o município promover a verificação da população na idade escolar e garantir sua matrícula. • Art. 25: ensino supletivo desde a alfabetização até a oferta de atualização de conhecimentos específicos e gerais, com regime escolar adequado aos alunos. Poderiam ser ministradas aulas nas modalidades presencial ou a distância, conforme as necessidades de cada região. • Art. 30: formação para o exercício do magistério com exigência mínima de habilitação específica de 1º grau (da 1ª à 4ª série, atual 2º ao 5º ano). Licenciatura específica em curso de curta duração (da 1ª à 8ª série). E, para o 2º grau (atual ensino médio), habilitação específica de licenciatura plena. • Art. 33: para as funções de administração, planejamento, orientação, inspeção e supervisão, os profissionais deveriam ter curso superior de graduação com duração plena ou curta, ou de pós-graduação. Fixação de remuneração de professores considerando a maior qualificação obtida em cursos e estágios de formação, aperfeiçoamento ou especialização. • Art. 40: o registro profissional, em órgão do Ministério da Educação e Cultura, passou a ser condição ao exercício de magistério ou à especialidade pedagógica. • Art. 43: recursos públicos passaram a ser distribuídos para todas as instituições de ensino, oportunizando a melhoria, o aperfeiçoamento e a assistência ao magistério, a serviços educacionais e ao desenvolvimento científico e tecnológico. • Art. 59: ficaram obrigados os municípios a aplicarem pelo menos 20% da receita no ensino de 1º grau. Políticas educacionais e organização da educação básica16 • Art. 63: nova política de bolsas de estudos oferecidas pelo Poder Público. • Art. 64: valorização e validação de estudos e de experiências pedagógicas. • Art. 77: permissão para professores legalmente não habilitados lecionarem em caráter suplementar. • Art. 79: permissão para o exercício das funções administrativas escolares de professores com formação e experiência de magistério. A LDB n. 5.692 teve vigência até 1996, quando a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabeleceu novos parâmetros para a educação nacional. 1.2.3 Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 A atual LDB teve seu texto revisado inúmeras vezes. Os profissionais da educação envolvidos nesse projeto se empenharam fortemente para que a educação no Brasil tivesse seus direitos preservados, mas também para que os textos constitucionais que tratam da educação no país fossem respeitados e, de alguma forma, inseridos na nova lei, garantindo o direito de estudo escolar para todos, independentemente de cor, raça, idade, localidade etc. Até que a nova LDB fosse devidamente publicada, apesar de muitos esforços políticos e idealistas, o país passou por inúmeras mudanças, porém o que mais significou na área educacional foi a nova Constituição Federal (BRASIL, 1988), organizada por subcomissões e comissões temáticas na intenção de que nenhum assunto se perdesse durante a revisão e a nova redação. A Constituição Federal é a lei maior de uma nação, pois define, organiza e rege o funcionamento de um país. É por ela que são definidos e garantidos os direitos e deveres dos cidadãos. No Brasil, tal texto legal foi criado por uma Assembleia Constituinte e promulgado oficialmente em 5 de outubro de 1988. Dele emanaram as leis que regulamentam todos os setores do país. Entre outros artigos da Constituição que serão discutidos neste capítulo, o art. 24 confere ao Poder Público a competência para legislar na educação, conforme a redação a seguir: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: [...] IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação” (BRASIL, 1988). Mas é no Capítulo III, “Da Educação, da cultura e do desporto”, na Seção I “Da educação”, que a Constituição trata particularmente da educação (BRASIL, 1988). Com base no que está disposto na seção indicada, foram definidas as regras para a educação brasileira, originando a LDB n. 9.394 (BRASIL, 1996). Foi o Senador Darcy Ribeiro (PDT-RJ) que apresentou o novo projeto de LDB que obteve a aprovação pela Comissão de Educação do Senado, em fevereiro de 1993. Depois disso, o texto passou por estudos, não somente do Poder Público, mas principalmente de profissionais da área, que puderam contribuir com suas opiniões e com o texto final dessa LDB. Nessa lei estão dispostas as normas para a educação de acordo com a Constituição Federal e suas emendas que ocorreram durante sua vigência, as quais, certamente, continuarão Política educacional e legislação educacional brasileira 17 existindo. Sob essa ótica, as mudanças mais significativas para a educação brasileira, provenientes da LDB n. 9.394, referem-se a deveres, direitos, flexibilização, respeito e níveis da escolarização (BRASIL, 1996). A LDB n. 9.394 tem foco no aluno como sujeito do aprendizado, e não mais na educação pura e simples. Assim, ela passa a ver o aluno como eixo para o desenvolvimento do país. Para isso, o texto legal entende e demonstra a necessidade de formar cidadãos conscientes, éticos e capazes. O art. 2º dessa LDB declara o dever da família e do Estado no desenvolvimento do estudante: “A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1996). O art. 3º e seus incisos, como já mencionamos anteriormente, tratam das bases em que o ensino deve ser ministrado, ou seja: igualdade, liberdade, pluralismo, respeito, gratuidade do ensino, valorização do profissional da educação, diversidade étnico-racial e garantia do direito ao estudo (BRASIL, 1996). A Lei n. 9.394/1996 trouxe diversas inovações, mas uma delas merece destaque: o fato de não tratar apenas da educação básica, mas também da educação superior. De acordo com essa lei, as modalidades da educação brasileira (conforme exposto sob o Título V, “Dos níveis e das modalidades de educação e ensino”,em seu Capítulo I, “Da composição dos níveis escolares”) estão assim compostas: • Educação básica: educação infantil, ensino fundamental e ensino médio (nomenclatura usada no inciso I do art. 21 da LDB em sua versão original). • Educação superior: mencionada no inciso II do art. 21 da versão original da LDB (BRASIL, 1996). No entanto, desde 2001 outras leis deram à LDB novas redações (BRASIL, 2001; 2003; 2004; 2009; 2013; 2015; 2017; 2018a; 2019), sendo que uma delas, a Lei n. 12.796, de 4 de abril de 2013, dá nova redação ao art. 4º da LDB, organizando a educação básica da seguinte forma: pré-escola, ensino fundamental e ensino médio (BRASIL, 2013). Em relação à educação superior, de acordo com o art. 44 da LDB (BRASIL, 1996), que não sofreu alterações até o presente momento, ela assim se organiza: cursos sequenciais pelo campo de saber; graduação; pós-graduação (mestrado, doutorado, especialização, aperfeiçoamento e outros) e extensão. Existe uma legislação específica para cada etapa do desenvolvimento do processo de ensino- -aprendizagem. Assim, todos os ciclos de escolaridade recebem orientações em relação à forma de oferta e à organização para suas respectivas implementações. No ensino superior, há muitas publicações de portarias, decretos, regulamentos e portarias normativas que fixam novas normas para a oferta de cursos de graduação e pós-graduação. Porém, para que sejam legitimadas, tais publicações precisam estar de acordo com a LDB. De qualquer forma, todos os níveis de escolarização são regidos basicamente pela Constituição Federal (BRASIL, 1988) e pela Lei n. 9.394 (BRASIL, 1996). Políticas educacionais e organização da educação básica18 Considerações finais País algum pode sobreviver harmonicamente se não for por meio de regras que permitam e limitem as ações do homem na vida, na natureza, na convivência em comunidade etc. Assim, as políticas educacionais tratam da organização para as boas relações nas escolas, sejam elas da educação básica ou superior. No entanto, sem o conhecimento de tais regras, tanto a convivência como as ações ficam prejudicadas, dificultando a vida em sociedade. Ampliando seus conhecimentos Livro: • DEMO, P. A nova LDB: ranços e avanços. 20. ed. Campinas: Papirus Editora, 2008. Uma boa forma de desmistificar a LDB é com a leitura do livro de Pedro Demo intitulado A nova LDB: ranços e avanços. Demo é doutor em Sociologia pela Universidade de Saarbrucken, na Alemanha, e professor titular da Universidade de Brasília (UnB). Vídeo: • DERMEVAL SAVIANI: políticas educacionais brasileiras. 2015. 1 vídeo (1h53min). Publicado pelo canal TV UFBA. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=uhomL5IUoFk&feature=youtu.be. Acesso em: 18 jul. 2019. No vídeo, o professor e pedagogo Dermeval Saviani discorre sobre o tema das políticas educacionais brasileiras sob uma perspectiva histórica. O vídeo foi gravado durante uma palestra que fez parte da semana de abertura do ano letivo de 2015 da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atividades 1. Como um país poderia se organizar se não fosse possível estabelecer políticas públicas? 2. A educação brasileira está em consonância com as leis que a regulamentam? 3. Se você pudesse, o que faria para melhorar a forma como a educação brasileira está sendo atualmente oferecida? Referências BRASIL. Lei n. 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 27 dez. 1961. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4024.htm. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 12 ago. 1971. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5692.htm. Acesso em: 18 jul. 2019. Política educacional e legislação educacional brasileira 19 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao. htm. Acesso em: 5 jun. 2019. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 10.287, de 20 de setembro de 2001. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 21 set. 2001. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10287.htm. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 10.709, de 31 de julho de 2003. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 1 ago. 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.709.htm#art2. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 10.870, de 19 de maio de 2004. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 20 maio 2004. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.870. htm#art1. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 12.013, de 6 de agosto de 2009. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 7 ago. 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12013. htm#art1. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 12.796, de 4 de abril de 2013. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 abr. 2013. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12796. htm#art1. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 13.005, de 25 junho de 2014. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 26 jun. 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13005.htm. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 13.234, de 29 de dezembro de 2015. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 30 dez. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13234. htm#art2. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 17 fev. 2017. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13415.htm. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 13.663, de 14 de maio de 2018. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 15 maio, 2018a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13663. htm#art1. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Relatório do 2º Ciclo de Monitoramento das Metas do Plano Nacional de Educação: 2018 – Resumo. Brasília, 2018b. Disponível em: http://estaticog1.globo.com/2018/06/07/resumo_relatorio_pne_2_ciclo.pdf. Acesso em: 18 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 13.796, de 3 de janeiro de 2019. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 4 jan. 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13796. htm#art1. Acesso em: 18 jul. 2019. DEMO, P. A nova LDB: ranços e avanços. 20. ed. Campinas: Papirus Editora, 2008. DICIONÁRIO MICHAELIS. Disponível em: http://michaelis.uol.com.br. Acesso em: 18 jul. 2019. OLIVEIRA, A. F. Políticas públicas educacionais: conceito e contextualização numa perspectiva didática. In: OLIVEIRA, A. F. Fronteiras da educação: tecnologias e políticas. Goiânia: PUC Goiás, 2010. 2 Organização da educação brasileira e sua trajetória histórica A educação brasileira passou por diversas fases para se organizar. A mais complicada está na primeira delas, entre o Brasil Colônia e o Brasil Império. Sabemos que, quando muitos mandam, não há ordem, certo? Portanto, foi preciso um tempo até que o país se organizasse de modo que não apenas a economia se tornasse o foco, mas também o desenvolvimento educacional e cultural do povo, a fim de que a evolução passasse a ser natural e constante. A maior transformação da educação brasileira está ocorrendo atualmente. Com o advento da internet, os microcomputadores e equipamentosacessíveis a quase todas as pessoas nos colocam praticamente dentro das notícias. Assim, é possível interagir, trocar ideias, opinar e sair do ostracismo para participarmos do mundo a nossa volta. Sob essa ótica, este segundo capítulo lhe fará revisitar a história da educação no Brasil, revendo com mais aprofundamento alguns aspectos já estudados, bem como outros já vividos ou conhecidos. Com isso, esperamos fazer com que sua imaginação seja capaz de remontar todas as épocas aqui expostas e usar da empatia para reconhecer as grandes e valorosas lutas pelo desenvolvimento educacional brasileiro. 2.1 Brasil Colônia e Brasil Império: os primórdios da educação no país Retomando a história do Brasil, sabemos que seu descobrimento ocorreu em 1500. Mas, se foi ocasional ou não, até hoje não há dado exato sobre isso. O que conhecemos, no entanto, é que em março de 1500 partiu de Portugal uma frota de 13 navios tendo como destino as Índias – assim havia indicado Vasco da Gama ao regressar de sua viagem exploratória. Pedro Álvares Cabral, fidalgo de mais ou menos 30 anos, foi quem comandou tal expedição (BORIS, 1996). No entanto, ao passar as Ilhas de Cabo Verde, rumou à oeste, afastando-se da costa africana. Depois de algum tempo de navegação, avistou uma terra: o Brasil. Alguns homens verificaram a terra e, no dia seguinte, a frota de Cabral realizou a ancoragem onde atualmente fica o litoral da Bahia – mais especificamente Porto Seguro. Era dia 22 de abril de 1500. Até esse ponto, todos conhecemos essa história. No entanto, precisamos recordar todo o passado da nossa nação para podermos compreender os momentos mais importantes em que a educação se instalou e evoluiu no Brasil. A terra encontrada por Cabral não era despovoada, pois índios a habitavam. Com a chegada dos portugueses, iniciou-se uma exploração ambiental. A princípio, isso ocorreu como forma de conhecimento, mas logo avançou para a exploração das matérias-primas aqui encontradas, até chegar à escravização dos povos indígenas. Entre 1500 e 1822, muitas ações foram tomadas para que essa nova terra fosse colonizada. Políticas educacionais e organização da educação básica22 Apesar dos esforços de Portugal para promover a colonização, todos os portugueses que eram enviados ao Brasil permaneciam por pouco tempo e regressavam a Portugal, alegando não estarem satisfeitos com a nova terra (RAMOS, 2011). Nessa época, havia uma grande preocupação do rei de Portugal, D. João III, de que outros países invadissem o Brasil. Então, em 1530 ele enviou Martin Afonso de Souza para, entre outras funções, dar início à colonização brasileira. Mais tarde, em 1549, Tomé de Souza chegou ao Brasil com os jesuítas, comandados por Manuel da Nóbrega. Assim se iniciou o processo educacional na história do nosso país. De 1549 a 1554 tivemos o chamado período heroico, pois nesses cinco anos inúmeras escolas foram implementadas. Com o propósito primordial do ensino, nas escolas fundadas nessa época não havia distinção de raça, idade ou classe social (MARTINO, 2000). Dessa expedição fazia parte o mais atuante pedagogo da Companhia de Jesus, Padre José de Anchieta, “um dos nomes de maior destaque da história da educação brasileira” (AZEVEDO, 2018). Sua didática era especial, pois, para educar, ele usava estratégias inusitadas, a fim de que o povo compreendesse o que ele ensinava. Entre suas técnicas estava o uso de teatro, da música e da poesia. Sua metodologia era ativa, com uma aprendizagem construída e com significado. Sob essa ótica, em 1750 foi assinado o Tratado de Madrid, entre Portugal e Espanha. Nessa época, Portugal tinha como rei D. José I, que havia nomeado Sebastião de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal) como primeiro-ministro, o responsável por expulsar os jesuítas de Portugal em 1759 – o mesmo ocorreu no Brasil no ano seguinte (AZEVEDO, 2018). Porém, precisamos destacar que, no período em que a Companhia de Jesus esteve no Brasil, apesar de toda a precariedade conhecida e contada em diversos livros de história brasileira, ela foi capaz de criar 25 residências, 36 missões e 17 colégios e seminários. O Alvará Régio de 1759, que suprimiu as escolas jesuíticas de Portugal e do Brasil, criou também as “diretrizes dos estudos menores que compreendiam o ensino primário e secundário”. De maneira preliminar, tais normativas estabeleciam “as disposições inerentes ao diretor de estudos e aos professores de gramática latina, de grego e de retórica” (SILVA; SIMÕES-NETO; RODRIGUES, 2018, p. 639). Após dez anos da expulsão dos jesuítas do Brasil, mesmo sem haver nesse período qualquer manifestação da corte portuguesa para uma estruturação efetiva da educação brasileira, o Marquês de Pombal promoveu a chamada reforma pombalina, que, entre outros assuntos, tratava da educação. No entanto, foi em 1772, por meio do subsídio literário1, que essa temática passou a ganhar mais destaque (PIMENTA; MERLO, 2013). Com a reforma pombalina, mesmo que a população indígena brasileira tenha sofrido perdas em seu desenvolvimento educacional, outros aspectos representaram grandes conquistas. Entre eles, houve a valorização dos professores, que passaram a receber pelas aulas que ministravam. Apesar disso, sem uma real organização educacional, as aulas eram ministradas nas casas dos próprios professores, o que dificultava a participação de todos, 1 “Imposto responsável para a manutenção do ensino implementado pelo sistema pombalino” (PIMENTA; MERLO, 2013, p. 5). Organização da educação brasileira e sua trajetória histórica 23 o controle dos aspectos educacionais gerais, a divisão do aprendizado por faixa etária, o tempo-limite de estudo e, principalmente, a formação dos professores. Por aproximadamente 27 anos, Portugal passou por inúmeras dificuldades, especialmente na economia. O país precisava se revitalizar e restituir o poder que tinha à época do descobrimento do Brasil, para enfrentar os países da Europa que se opunham ao rei português. Nesse período, a capital, Lisboa, foi acometida por um tsunami, que a devastou, trazendo maiores preocupações ao rei e a toda a corte. Esse fato conferiu ao único ministro presente, o Marquês de Pombal, toda a autoridade necessária, o que imediatamente o levou a ordenar, entre outras ações, a reconstrução da cidade. Naquele momento da história de Portugal, por intermédio do poder do Marquês de Pombal dado pelo Rei D. José I, iniciou-se uma doutrina que se manteve até a revolução liberal, em 1820: o despotismo esclarecido (SAVIANI, 2013). É importante identificarmos as características da época. O significado de tal doutrina (despotismo esclarecido) pode ser melhor entendido de acordo com o Dicionário Michaelis (2019): “forma de governo surgida no século XVIII que tinha como fundamento o absolutismo e o racionalismo iluminista. Preconizava o progresso e o bem do povo, sem permitir-lhe, no entanto, a participação nas realizações do governo”. Apesar dessa doutrina, o movimento iluminista passou a se instalar em toda a Europa e Portugal começou a receber essa influência. O Marquês de Pombal, por sua vez, vislumbrou a possibilidade de usar as ideias iluministas modificando toda a administração mercantilista, o que promoveu uma considerável reforma na educação (especialmente no Brasil Colônia) que aconteceu em 1759, por meio da classificação em estudos menores e estudos maiores – objetivando o ensino de conteúdos de formação geral cidadã (humanidades – aulas régias) e atendendo às necessidades burocráticas do Estado –, bem como por meio da criação da Escola de Primeiras Letras (SAVIANI, 2013). As aulas régias, criadas em 1759, deram início ao sistema público de ensino no Brasil Colônia. Surgiu, então, a figura dos diretores de estudos, que selecionavam os professores responsáveis pelo ensino das primeiras letras e que ensinavam em suas próprias casas. Entretanto, com a instituição do Alvará Régio, ficou extinto o cargo do diretor de estudo, o qual assumiua função de reger o controle do material e dos livros de estudos, algo que perdurou até 1794. Nesse meio-tempo, foi criada a Lei de 6 de novembro, permitindo a abrangência do ensino nas aulas régias com leitura, escrita, cálculo e filosofia. Para o ensino secundário, foram criadas as chamadas cadeiras avulsas, cujos mestres eram aqueles que ensinavam aulas régias de primeiras letras, elaboradas pelo mesmo alvará de 1759. Tais aulas eram de gramática latina, retórica e grego (MENDONÇA, 2005). Os estudos em universidade (estudos maiores) só eram possíveis àqueles que tivessem concluído os estudos menores e que tinham 18 anos de idade. Nesse sentido, a reforma pombalina na área educacional era discriminatória, como mencionado por Silva, Simões-Neto e Rodrigues (2018, p. 642). Políticas educacionais e organização da educação básica24 As dificuldades da reforma Pombalina na educação deixaram claras as exclusões dos menos favorecidos como escravos, pobres e mulheres. [...] para os estudos menores bastaria saber ler, escrever e contar [...] os estudos maiores para filhos de classe dominantes, nobreza, aulas de grego, retórica e filosofia para seguir os estudos superiores. Contudo, muitas foram as dificuldades de Portugal na implementação da educação no Brasil Colônia. Portanto, em 1771, outro alvará foi publicado (alvará de 4 de junho de 1771), extinguindo o cargo do diretor de estudos e transferindo as suas competências para a Real Mesa Censória (órgão criado em 1768, responsável pela secularização do controle da circulação de livros). Para contribuir com o suporte da educação pública, a Lei de 10 de novembro de 1772 criou o subsídio literário, que nada mais era do que um imposto cobrado sobre o vinho, a aguardente e o vinagre para pagar os professores e subsidiar a escolarização. Em 1787, foi criada a Real Mesa da Comissão Geral, em substituição à Mesa Censória, com a incumbência de examinar e censurar os livros que fossem contrários ao estabelecido. Isso ocorreu durante o reinado de D. Maria I. Entretanto, foi a partir de 1799 que as escolas e os professores brasileiros passaram a ser de responsabilidade dos governadores de capitanias e bispos. Com isso, tornou-se comum à elite do Brasil Colônia enviar seus filhos para complementar sua formação nas universidades de Portugal, especialmente em Coimbra. Durante a intervenção do Marquês de Pombal, e com a expulsão dos padres jesuítas do Brasil, os colégios jesuítas e qualquer lugar onde fossem ministradas aulas foram fechados, pelos motivos já explanados anteriormente, como comenta Barata (1972, p. 40) no livro Escola de heróis: fecharam-se os colégios que dirigiam, os únicos que, então, existiam no Brasil para a juventude secular, em São Paulo, Rio, Bahia, Belém da Bahia, Olinda, Recife, Paraíba e Pará, e as numerosas residências espalhadas por toda a parte, onde também, ao menos em algumas se ministrava instrução. O colégio de Olinda ficou fechado até a virada do século. Assim, em 1800, foi criado “inteiramente dentro do espírito iluminista e em consonância com o teor das reformas pombalinas” o Seminário de Olinda, cujo fundador foi o Bispo José Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho (SAVIANI, 2013, p. 109). A partir de então, esse colégio, considerado o mais avançado do Brasil Colônia, tornou-se o difusor de ideias liberais e maçônicas, pois oferecia diversas disciplinas contrárias aos tradicionais estudos de teologia e filosofia. Portanto, não era mais um colégio formador de padres, porém até mesmo os padres eram formados ao mesmo tempo como sacerdotes e filósofos da natureza (SAVIANI, 2013). Foi no século XIX que as mais significativas situações educacionais aconteceram no Brasil. O país deixou de ser Brasil Colônia e se tornou Brasil Império, com a chegada da família real, em 1808, que fugia da invasão a Portugal. A corte portuguesa trouxe consigo uma biblioteca de aproximadamente 60 mil livros, coleção que, mais tarde, originou a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Os motivos que fizeram a corte portuguesa aportar no Brasil remontam à Era Napoleônica (1799-1815), quando Napoleão Bonaparte se transformou em chefe supremo da nação francesa. Organização da educação brasileira e sua trajetória histórica 25 Para resumir a era Napoleônica: o governo desse general, em 1806, impôs o Bloqueio Continental à Europa, exigindo que nenhuma nação europeia tivesse relações comerciais com a Inglaterra, que era a maior potência industrial do continente. No entanto, Dom João VI, o príncipe-regente de Portugal, negou-se a cumprir tal ordem francesa. Não aceitando a rebeldia portuguesa, Napoleão ameaçou invadir Portugal. Em contrapartida, a Inglaterra sugeriu um plano para o príncipe, de modo que a situação ficasse amenizada (RAMOS, 2015). A Inglaterra ofereceu escolta para que a família real deixasse Portugal rumo ao Brasil. Obviamente, haveria uma troca de favores, e, como D. João VI aceitou o acordo, a capital portuguesa foi transferida para o Rio de Janeiro, no Brasil, com a abertura dos portos brasileiros às nações do mundo, mas com taxas reduzidas aos ingleses. Sendo assim, no período de 1808 a 1821, Portugal centralizou sua administração governamental no Brasil. Na área da educação, houve um significativo investimento, o que possibilitou a criação das primeiras escolas de ensino superior. Apesar de serem de exclusividade dos filhos dos nobres e aristocratas, D. João VI criou cursos superiores de Medicina, a Academia Real Militar, o Museu Real e laboratórios de Química e Química-Prática. Em todas as capitanias houve um aumento de aulas régias. O rei também criou o Desembargo do Paço, por meio do Decreto de 17 de janeiro de 1809, que estabelecia o provimento dos professores e previa a nomeação do magistrado com a incumbência de fiscalização do ensino, especialmente na corte. Mais tarde, D. João VI propiciou a vinda de intelectuais franceses, que, por sua vez, agradaram-se do convite de passar a morar no Brasil, já que a França havia sido derrotada pela Inglaterra. Comandado pelo Conde da Barca (Antônio de Araújo de Azevedo), esse ato recebeu o nome de Missão Francesa, com o objetivo de transformar a capital (Rio de Janeiro). Nesse grupo havia intelectuais e artistas vitais para o sistema educacional do Brasil Império. Com a ação escolar desses sujeitos, que possibilitou o fim da defasagem dos professores, formaram-se os primeiros intelectuais do nosso país. Além disso, por permissão de D. João VI, foi criada a tipografia no Brasil e, consequentemente, os primeiros jornais. Assim, a Gazeta do Rio de Janeiro marcou época, apesar de ser impedida de publicar assuntos contra o governo, pois era censurada pela Igreja. Também foi D. João VI que criou o Jardim Botânico, em 1810, atraindo pesquisadores estrangeiros devido à imensa variedade de espécies da flora tropical. Além disso, o rei oportunizou atividades artísticas, permitindo a vinda de alguns pintores que retrataram os usos e costumes da época e da população – entre esses artistas, pode-se citar Charles Pradier e Jean-Baptiste Debret. Embora a educação ainda estivesse sob o regime pombalino, D. João VI permitiu a alavancagem do sistema não só partindo da implementação de novos cursos, mas também caracterizando a forma de oferta com um caráter mais profissionalizante, preparando pessoas para as funções necessárias na corte. Entre 1808 e 1816, foram criados, na Bahia e no Rio de Janeiro, cursos de Cirurgia, Economia, Agricultura, Química, Desenho Industrial, Cirurgia e Anatomia, além da Academia Real da Marinha, da Academia Real Militar e da Políticas educacionais e organização da educação básica26 Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, a qual, em 1820, passou a se chamar Real Academia de Pintura, Escultura e Arquitetura Civil. Todas essas ações foram impactantes e importantes para o desenvolvimento do Brasil, mas ainda não eram suficientes para uma terra com tantas possibilidades, jápercebidas pela realeza e principalmente pelo então príncipe, filho de D. João e Dona Leopoldina. Temendo perder o trono em Portugal, que enfrentava um movimento liberalista das cortes portuguesas, D. João VI voltou para Lisboa, deixando no Brasil seu filho, Pedro de Alcântara, como regente, pois sabia que o país se separaria de Portugal. Então, ele preferia que o trono passasse para o filho, e não para outra pessoa que não o obedeceria. D. Pedro I promoveu, com muitas lutas e disputas, a independência do Brasil, como conta a história transcorrida às margens do Rio Ipiranga, por meio da célebre frase “Independência ou Morte”, em 1822. A partir de então, ocorreu a “constituição da mandioca”, isto é, o direito de voto para os donos de 150 alqueires de mandioca. Sob essa ótica, a Assembleia Constituinte era a responsável por organizar o sistema educacional brasileiro, o que causou impasses com o imperador, resultando na destituição de seus membros da corte em 1823 – fato conhecido como Noite da Agonia. Com o poder total nas mãos, D. Pedro I elaborou uma nova Constituição e a promulgou em 1824, cujas leis foram tributárias e vigoraram até a Proclamação da República, em 1889. Embora sem sucesso, em razão da pobreza do país e do descaso pela educação, já que a elite se mantinha firme no propósito de enviar seus filhos à Europa para estudar, o principal objetivo educacional na Constituição de D. Pedro I era a oferta de ensino popular e gratuito, com o intuito de estimular o desenvolvimento cultural, instigando o amor e o respeito à nação. Tal fato fez com que fossem promulgadas diversas leis complementares, que até contrariavam a Constituição, mas eram necessárias para corrigir algumas insuficiências contidas na Lei Maior. Tais leis complementares tinham o objetivo de viabilizar a educação inovadora, conforme os moldes de oferta de educação gratuita. A primeira lei (15 de outubro de 1827) aprovada pela Assembleia Legislativa estabelecia que: Art 1º Em todas as cidades, villas e logares mais populosos, haverão as escolas de primeiras letras que forem necessarias. [...] Art 3º Os Presidentes, em Conselho, taxarão inteiramente os ordenados dos Professores [...]. Art 4º As escolas serão de ensino mutuo nas capitaes das provincias; e o serão tambem nas cidades, villas e logares populosos dellas, em que fór possivel estabelecerem-se. Art 5º Para as escolas do ensino mutuo se applicarão os edifficios, que houverem com sufficiencia nos logares dellas, arranjando-se com os utensillios necessarios á custa da Fazenda Publica [...]. Art 6º Os Professores ensinarão a ler, escrever as quatro operações de arithmetica, pratica de quebrados, decimaes e proporções, as nações mais geraes de geometria pratica, a grammatica da lingua nacional, e os principios de moral chritã e da doutrina da religião catholica e apostolica romana [...]. Organização da educação brasileira e sua trajetória histórica 27 Art 9º Os Professores actuaes não seram providos nas cadeiras que novamente se crearem, sem exame e approvação, na fórma do art. 7º. [...] Art 11º Haverão escolas de meninas nas cidades e villas mais populosas, em que os Presidentes em Conselho, julgarem necessario este estabelecimento. Art 12º As mestras, além do declarado no art 6º, com exclusão das noções de geometria e limitando a instrucção da arithmetica só as suas quatro operações, ensinarão tambem as prendas que servem á economia domestica; [...] Art 15º Estas escolas serão regidas pelos estatutos actuaes no que se não oppozerem á presente lei; os catigos serão os praticados pelo methodo de Lencastre. (BRASIL, 1827, grafia da época) Apesar de a lei tratar mais detalhadamente sobre a forma de oferta da educação no Brasil, os resultados se mostravam muito aquém do que o imperador e toda a corte esperavam. Segundo o Ministro do Império, Lino Coutinho, as deficiências estavam na má administração e fiscalização das vilas (municípios) e dos professores, que se tornaram menos comprometidos com a educação, propiciando a “vadiagem” dos alunos que não tinham tanto interesse no aprendizado conduzido daquela forma (NASCIMENTO, 2019). Nos relatórios de Coutinho, o ministro indicava a displicência com que o Poder Público cuidava da educação, não cumprindo o que estava na lei em relação aos edifícios, aos livros didáticos e aos demais “utensílios” necessários. Tais textos também apontavam para a defasagem nos salários dos professores – por não estarem preparados para cumprir com os requisitos exigidos na lei –, bem como para o método, o qual era considerado inadequado pelo ministro. Portanto, podemos observar que já em 1831 havia uma ilusão na elaboração das leis, que eram escritas com ideais praticamente inatingíveis, pois, para alcançá-los, era preciso um grande esforço do governo em providenciar as condições necessárias para as escolas e os professores. Obviamente, um país em desenvolvimento e que acabava de se tornar independente precisava de providências mais contundentes. Assim, em 1834, a elaboração de um Ato Adicional alterou a Constituição de 1824, dando às províncias poderes de administrar seus próprios recursos, além das diretrizes dos ensinos primário e secundário. Dessa forma, leis e decretos foram criados e aprovados sem que fossem aplicados, pois não havia escolas e poucos eram os professores (NASCIMENTO, 2019). Esse fato colaborou para que a educação no Brasil tomasse outro rumo, propiciando a criação da primeira Escola Normal do país, instalada em Niterói, no Rio de Janeiro, em 1835. A partir de então, a criação de escolas se disseminou por todo o Brasil, tais como: • 1836 – Escola Normal na Bahia; • 1845 – Escola Normal no Ceará; • 1846 – Escola Normal em São Paulo; • 1837 – Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Também em 1837 foram criados colégios religiosos e cursos de magistério somente para homens. É importante salientar que, a partir de 1840, D. Pedro II foi emancipado, com apenas 14 anos, pois já estava no Brasil sem sua família desde os cinco anos, quando seu pai abdicou do trono. Assim se iniciou o segundo e último reinado no Brasil, que durou até 1889. Políticas educacionais e organização da educação básica28 Foi um período de calmaria no país. D. Pedro II favoreceu os interesses dos grandes proprietários rurais, responsáveis pelo movimento econômico e financeiro. Também nessa época foram criados o Parlamentarismo e a figura do presidente do Conselho de Ministros. A economia tomou novo fôlego com o favorecimento do comércio de café, aumentando, assim, as lavouras cafeeiras e trazendo prosperidade econômica para o país. Por outro lado, a mão de obra escrava aumentou, mas o tráfego de negros foi inibido. Em 1870, ocorreu a Proclamação da República e, em 1888, o fim da escravidão, por meio da Lei Áurea. É imprescindível registrar que, no final do império, o ensino brasileiro estava em decadência. Quase não havia mais escolas, apenas algumas de cunho privado instaladas nas capitais ou nas principais cidades do país, o que gerou um número muito grande de brasileiros analfabetos. Foi preciso formar professores, o que só se tornou possível por meio de decretos e de políticos como Carlos Leôncio de Carvalho (Ministro dos Negócios do Império) e seus contemporâneos, para alavancar a instituição escolar brasileira e fazer frente aos países europeus. Nesse sentido, Rui Barbosa foi um dos homens que mais se empenhou no desenvolvimento cultural e intelectual do povo brasileiro nessa época. No final do século XIX, mais precisamente em 1879, Carlos Leôncio de Carvalho apresentou uma reforma na educação que inovava o que já existia, por meio do Decreto n. 1.331-A, de 17 de fevereiro de 1854, que aprovou o “Regulamento para a reforma do ensino primário e secundário do Município da Côrte” (BRASIL, 1854, grafia da época). Assim, Leôncio de Carvalho instituiu a liberdade de ensino, o que culminou no surgimento de colégios protestantes e positivistas. Entre as inovações,podemos destacar, segundo Saviani: criação de jardins-de-infância para as crianças de 3 a 7 anos (artigo 5º); caixa escolar (artigo 6º); bibliotecas e museus escolares (artigo 7º); subvenção ao ensino particular, equiparação de Escolas Normais particulares às oficiais e de escolas secundárias privadas ao Colégio Pedro II, criação de escolas profissionais de bibliotecas populares e de bibliotecas e museus pedagógicos onde houver Escola Normal (artigo 8º); regulamentação do ensino superior abrangendo a associação de particulares para a fundação de cursos livres em salas dos edifícios das Escolas ou Faculdades do Estado (artigo 22); faculdade de direito (artigo 23; e faculdades de medicina (artigo 24). [...] a Reforma Leôncio de Carvalho levou bem mais longe a inclusão de dispositivos referentes ao funcionamento da educação nas províncias. Assim, o artigo 8º contempla, nas províncias, a subvenção a escolas particulares; a contratação de professores particulares para ministrar os rudimentos do ensino primário; a criação de cursos de alfabetização de adultos e de Escolas Normais; fundação de bibliotecas e museus pedagógicos e de bibliotecas populares; e a criação, nos municípios mais importantes das províncias, de escolas profissionais e de ensino de artes e ofícios. A Reforma previu, também, a abertura, nas províncias, de mesas de exames de preparatórios (artigos 11 e 12) e a inspeção dos estabelecimentos de instrução primária e secundária (artigo 15). (SAVIANI, 2007, p. 138) Assim se encerrou o período imperial no Brasil, resultando na partida da família real para a Europa, em 1889, dando lugar a uma nova história no país, que foi chamada de Primeira República. Organização da educação brasileira e sua trajetória histórica 29 2.2 A Primeira República e o sistema educacional brasileiro A Proclamação da República se deu em 15 de novembro de 1889, com o objetivo de derrubar a monarquia. Com o Imperador D. Pedro II fora do Brasil, os militares assumiram o poder do país. Nesse momento, foi nomeado o primeiro presidente brasileiro, Marechal Deodoro da Fonseca, que teve um governo marcado por uma grande crise financeira e, em 1891, renunciou ao cargo, assumindo o seu vice, Marechal Floriano Peixoto, em mandato que durou até 1894 e não obteve os sucessos esperados. Nesse mesmo ano, foi eleito o primeiro presidente civil do Brasil, Prudente de Morais. Em 24 de fevereiro de 1891, a primeira Constituição republicana foi promulgada. Ela seguia o modelo norte-americano e tinha como foco a democracia. Em relação à educação, em seu art. 35, tal texto legal estabelecia a criação de instituições de ensino superior e secundário nos estados, além da promoção da instrução secundária no Distrito Federal. Ou seja, o presidente da república e os governadores começaram a ser responsáveis também pela educação, que, por sua vez, passou por diversas reformas. O objetivo era dar uma estrutura aos ensinos primário e secundário. Por isso, os idealistas republicanos buscaram a inovação baseando-se nos estudos da ideologia positivista de Auguste Comte2. Em São Paulo, foram criados a Escola Normal Caetano de Campos, em 1891, e o Grupo Escolar (atual Escola de Ensino Fundamental), em 1894, por meio do Decreto Estadual n. 248, de 26 de setembro de 1894, que revolucionou a forma de oferta da educação brasileira. Nesse modelo, os alunos eram instruídos por apenas um professor e ficavam separados por características semelhantes. Nesse contexto surgiu, então, a figura do diretor de escola. Vale lembrar que a reforma de Benjamin Constant na educação trouxe para o currículo escolar as disciplinas chamadas científicas (Matemática, Astronomia, Física, Química, Biologia, Sociologia e Moral) e foi importante na divisão da faixa etária das crianças de acordo com séries escolares. Tal divisão está presente no Título II do Decreto n. 981, de 8 de novembro de 1890 (BRASIL, 1890, grafia da época): TITULO II Das escolas primarias, suas categorias e regimen Art. 2º A instrucção primaria, livre, gratuita e leiga, será dada no Districto Federal em escolas públicas de duas categorias: 1ª escolas primarias do 1º gráo; 2ª escolas primarias do 2ª gráo. § 1º As escolas do 1º gráo admittirão alumnós de 7 a 13 annos de idade, e as do 2º gráo, de 13 a 15 annos. Umas e outras serão distinctas para cada sexo, porém meninos até 8 annos poderão frequentar as escolas do 1º gráo do sexo feminino. § 2º Nenhum alumno será admittido á frequencia das escolas do 2º gráo sem exhibir o certificado de estudos primarios do gráo precedente. 2 O filósofo francês Auguste Comte (1798-1857) é considerado o fundador do positivismo. Políticas educacionais e organização da educação básica30 Devido a essa nova regra para o ensino, o país se deparou com outro problema, pois não havia professores suficientes e preparados para esse trabalho. Desse modo, foram criadas, então, as escolas complementares, que aparentemente resolveriam o problema, mas não formavam o professor com a mesma qualidade que os cursos normais, algo que propunha o governo paulista. Havia uma política que, ao mesmo tempo em que dava ao professor poderes para premiar ou castigar os alunos, também os responsabilizava pelos insucessos dos aprendizes. Era uma época na qual os alunos reprovados se evadiam das escolas, e esse número era muito alto, o que trazia um grande prejuízo ao governo. Campos Sales era o então presidente da república do Brasil. Em 1901, ele baixou o Decreto n. 3.914, de 26 de janeiro, elaborado por Epitácio Pessoa, que tinha como principal objetivo regularizar a oferta de ensino em 2º grau para promover o ingresso dos estudantes no ensino superior, especificamente para o bacharelado em Ciências e Letras. A esse nível de escolaridade foi dado o nome de ginásio (gymnasio). “Art. 1º O Gymnasio Nacional tem por fim proporcionar a cultura intellectual necessaria para a matricula nos cursos de ensino superior e para a obtenção do grau de bacharel em sciencias e lettras” (BRASIL, 1901, grafia da época). Em 1910, outra reforma na educação foi proposta e seguiu implementada em 1911, durante o governo de Hermes da Fonseca. Chamada também de Lei Orgânica do Ensino Superior e Fundamental (Decreto n. 8.659, de 5 de abril de 1911), foi conhecida como Reforma Rivadária Corrêa e permitiu a criação de instituições de ensino superior pela iniciativa privada, criando também a figura do Conselho Superior de Educação e possibilitando que a Congregação elegesse o Diretor da Instituição escolhendo entre seus pares (SILVEIRA, 1954, p. 39). Diversos autores relatam que essa foi a mais significativa reforma da educação brasileira, pois possibilitou a qualificação do povo, que passou a ter acesso (mesmo que pouco) à formação universitária e à possibilidade de formação profissional graduada e de qualidade, já que a mesma reforma que permitia a existência de instituições de ensino superior privado também regrava sua oferta e suas obrigações com a União. Embora essa legislação tenha sido revolucionária, em 1915, durante o governo de Venceslau Brás, o Decreto n. 11.530, de 18 de março de 1915, proposto por Carlos Maximiliano, reorganizou os ensinos secundário e superior, mas devolveu ao governo a sua oferta. Outro marco importante nesse decreto foi a criação e institucionalização do exame vestibular para ingresso no ensino superior. Entre as regras para tal, o candidato deveria provar sua idoneidade moral e ter idade mínima de 16 anos. Além disso, as provas eram escritas e orais e abrangiam os conteúdos de Física, Química, História Natural e Universal, Matemática Elementar, Psicologia e Lógica. Os exames vestibulares eram julgados por uma comissão de professores do Colégio Pedro II ou por outros que fossem igualmente competentes para o ato. Podemos observar, portanto, que as últimas legislações voltadas para o ensino tinham como preocupação apenas os ensinos secundário e superior, deixando o ensino primário (fundamental) seminovações ou reformas. Obviamente, muitos problemas acabariam sendo encontrados no ensino secundário devido à fragilidade do ensino na educação primária. Organização da educação brasileira e sua trajetória histórica 31 No final da Primeira República, e depois de tantas reformas na educação brasileira, já no governo de Arthur Bernardes (e em meio a diversos acontecimentos no mundo, como a Primeira Guerra Mundial) um grande movimento civil começava a aparecer, dando uma nova direção aos caminhos políticos do país. Arthur da Silva Bernardes foi o presidente do Brasil de 1922 até 1926, período em que o país vislumbrava um grande crescimento operário. Havia uma situação de sítio instalada no Estado, em decorrência dos movimentos tenentista, considerados ameaças ao regime vigente. Então, surgiu em 1925 uma nova proposta de reforma da educação, apresentada por Rocha Vaz, que tinha como finalidade inibir a ação de estudantes contra o governo de Arthur Bernardes, obrigando também a inclusão da disciplina Moral e Cívica nos currículos escolares e fixando o currículo no ensino superior, além de aprimorar o vestibular. Nesse período, os educadores inspirados pelos ideais da Escola Nova realizaram outras reformas na educação, as quais futuramente comporiam a base para o movimento da Escola Nova propriamente dita. Os educadores mais expoentes nessas reformas foram: Sampaio Dória, em São Paulo, em 1920; Lourenço Filho, no Ceará, em 1922; Fernando de Azevedo, no Rio de Janeiro, em 1927; Carneiro Leão, em Pernambuco, em 1928; Francisco Campos e Mario Casassanta, em Minas Gerais, em 1927; Anísio Teixeira, na Bahia, em 1928; e Lysímaco da Costa, no Paraná, em 1927 (IVASHITA; VIEIRA, 2019). Em 1926, Washington Luís assumiu a presidência. Naquela época, ainda estava instaurado o Estado de sítio no país, o qual teve fim em dezembro do mesmo ano. Com o encerramento das batalhas contra o governo, surgiu o Partido Comunista, o que provocou a oposição ao governo, que se viu obrigado a promulgar a Lei Celerada, que desorganizou todo o país, mas atacou principalmente a imprensa, por meio da instituição da censura. A esse respeito, observe o que consta no Decreto n. 5.221, de 12 de agosto de 1927, no art. 2º: O art. 12 da lei n. 4.269, de 17 de janeiro de 1921, fica substituido pelo seguinte: “O Governo poderá ordenar o fechamento, por tempo determinado, de aggremiações, syndicatos, centros ou sociedades que incidam na pratica de crimes previstos nesta lei ou de actos contrarios á ordem, moralidade e segurança públicas, e, quer operem no estrangeiro ou no paiz, vedar-lhes a propaganda, impedindo a distribuição de escriptos ou suspendendo os orgãos de publicidade que a isto se proponham, sem prejuizo do respectivo processo criminal”. (BRASIL, 1927, grafia da época) Diante de todo esse cenário caótico na economia brasileira, a educação despontava com mais uma reforma, oriunda de Minas Gerais, agora com ênfase no ensino público e, principalmente, na formação de professores. Com as ações do então Diretor de Instrução Pública, Francisco Campos, em convocar os professores para juntos repensarem a educação primária, eles fortaleceram as intenções de Fernando de Azevedo, tendo como meta, entre outras ações, a construção de escolas e a instituição do ensino técnico-profissional, do ensino primário e do ensino normal. Azevedo almejava preparar os alunos para a vida social e para a produção, por meio de um intercâmbio entre as duas vertentes da vida humana (estudo e trabalho). Políticas educacionais e organização da educação básica32 Infelizmente, não podemos dizer que essa época foi boa para a educação, apesar de terem ocorrido diversas mudanças e inovações. O país passava por tantas reformas e crises que era de se esperar que a educação sentisse também alguns reflexos. Em 1930, teve fim a Primeira República (ou República Velha), quando aconteceu o chamado golpe de 1930, que teve como objetivo destituir o presidente Washington Luís, deposto pelas Forças Armadas. Para sucedê-lo, foi composta uma junta provisória com as figuras dos generais Tasso Fragoso e Mena Barreto, bem como pelo almirante Isaías de Noronha. Júlio Prestes foi nomeado sucessor de Washington Luís, mas as lideranças governamentais do país se opuseram a essa escolha. Assim, por eleição, Júlio Prestes venceu Getúlio Vargas em 1930, no entanto não assumiu o cargo, pois a Aliança Liberal se opôs e promoveu a Revolução de 1930, dando a Getúlio Vargas o cargo de presidente do Brasil. Encerrou-se assim a Primeira República do Brasil. 2.3 Educação na Segunda República Esse período da história do Brasil ficou conhecido como Era Vargas e teve início com a posse do Presidente Getúlio Vargas, que já iniciou sua gestão suspendendo a Constituição de 1821 e instalando uma Assembleia Constituinte, com a função de elaborar uma nova Constituição mais adequada ao Brasil daquele tempo, contemplando um povo mais brasileiro e mais conhecedor. Graças à cafeicultura, o Brasil contava com uma infraestrutura que possibilitava atividades urbanas como o comércio, bancos, casas de exportação e fábricas, especialmente as têxteis, que se espalhavam por todo o país, além de algumas alimentícias. Tal desenvolvimento propiciou a vinda de imigrantes que chegavam prontos para o trabalho e o consumo, o que possibilitou que a economia mantivesse um giro considerável, trazendo mais desenvolvimento para o país. No início da Era Vargas, o Brasil, mais moderno, passou a impulsionar nos estados a participação das companhias brasileiras em detrimento das estrangeiras, que se instalaram no país durante a Segunda Guerra Mundial. Também foi nessa era que as reformas educacionais até então mais modernas aconteceram. A princípio, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública, durante a IV Conferência Nacional de Educação, em 1931, organizada pela Associação Brasileira de Educação (ABE). O Ministro da Educação e Saúde Francisco Campos ensejou a reforma no ensino secundário – a Reforma Campos. Entre outras inovações, essa reforma criou o exame de madureza, destinado aos brasileiros que desejassem adquirir o certificado de primeiro e segundo graus. Então, em 1932, surgiu o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, documento assinado por importantes intelectuais que defendiam a reorganização da educação brasileira para fazer frente aos países mais desenvolvidos, prevendo a possibilidade de progresso ao país. As transformações educacionais a partir de Vargas foram significativas. O ensino se democratizou, em virtude de uma discussão sobre os grandes pensadores, filósofos e educadores mundiais. Uma delas foi a escola ativa, de John Dewey, que teve como seguidores no Brasil Anísio Organização da educação brasileira e sua trajetória histórica 33 Teixeira, Lourenço Filho, Fernando de Azevedo e Francisco Campos (SOUZA, 2007; VALENTE, 2012; MAGALHÃES, 2019). Foi na mesma época que o ensino primário se tornou gratuito e obrigatório, e o ensino religioso, facultativo, conforme exposto no texto da Constituição de 1934, em seu art. 153: “O ensino religioso será de frequência facultativa e ministrado de acordo com os princípios da confissão religiosa do aluno manifestada pelos pais ou responsáveis e constituirá matéria dos horários nas escolas públicas primárias, secundárias, profissionais e normais” (BRASIL, 1934). No que se refere à educação, a Reforma de Campos inspirou a Constituição de 1934, introduzindo o ensino profissionalizante. As indústrias ficaram obrigadas a criar escolas para os filhos de seus operários, de acordo com o texto do art. 139: “toda empresa industrial ou agrícola, fora dos centros escolares, e onde trabalharem mais de cinquenta pessoas, perfazendo estas e os seus filhos, pelo menos, dez analfabetos, será obrigada a lhes proporcionar ensino primário gratuito” (BRASIL, 1934). Entretanto, em 1942, por meio da implementação da Reforma do Sistema Educacional Brasileiro do então Ministro da Educaçãoe Saúde Gustavo Capanema – chamada de Reforma Capanema –, ocorreu a articulação das ideias nacionalistas de Vargas, conhecidas como Estado Novo. À época, foi criada uma série de órgãos importantes que existem até os dias atuais, entre eles: o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o Instituto Nacional de Serviços Pedagógicos (Inep), o Serviço Nacional de Radiodifusão Educativa e, em 1946, o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). Na chamada redemocratização do Brasil, foi promulgada a Constituição de 1946 e surgiu o Estado Populista Desenvolvimentista, que se referia ao processo de desenvolvimento pelo qual a economia brasileira desejava se movimentar, implementando políticas de desenvolvimento visando à integração ao novo formato econômico mundial pós-Segunda Guerra Mundial. Durante o governo de Vargas, diversas reivindicações direcionadas à escola pública gratuita propiciaram a promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação Nacional, em 1961. Antes, porém, muito se discutiu sobre as reformas da educação brasileira, como comenta Piana (2009, p. 65): o primeiro projeto de lei encaminhado para Câmara foi o do Clemente Mariani, ministro da Educação, considerado progressista, mas que foi engavetado e sua discussão retomada apenas em 1957 (Freitag, 1980, p. 58). Um novo projeto de lei foi encaminhado, agora conhecido como substitutivo Lacerda. A Lei n° 4.024/61 resultou dos dois projetos de lei e estabeleceu que o ensino no Brasil de nível primário poderia ser ministrado pelo setor público e privado, extinguindo a obrigatoriedade do ensino gratuito nesses anos escolares. Permitiu também ao Estado subvencionar os estabelecimentos de ensino particulares, por meio de bolsas de estudo e empréstimos, e a construção, as reformas e a infraestrutura da escola. Em 1961, quando foi promulgada a primeira LDB, já haviam passado pela presidência do Brasil, após o suicídio de Vargas, os seguintes presidentes: Café Filho (1954-1955); Carlos Luz Políticas educacionais e organização da educação básica34 (1955); Nereu Ramos (1955-1956); Juscelino Kubitschek (1956-1961); e Jânio Quadros (1961), que renunciou após sete meses no poder, dando lugar a seu vice, João Goulart (1961-1964). Apesar da crescente queda econômica nos idos de 1963, do aumento considerável da inflação e de um povo sem poder aquisitivo adequado, os movimentos para a melhoria da educação se intensificaram, fazendo ressurgir o Movimento de Educação de Base (MEB), que teve seu início em 1958. Tal movimento recebeu o apoio de outros grupos e movimentos preocupados com os rumos da educação brasileira e com as taxas de analfabetismo (que ainda eram prementes no país), como os Centros de Cultura Popular (CCP) e os Movimentos de Cultura Popular (MCP). No entanto, somente em 1964, com o início da ditadura militar, a educação ganhou corpo nos debates políticos, e o sistema educacional foi ampliado, incorporando inclusive o ensino superior e criando as agências de apoio à pesquisa e à pós-graduação. Paulo Freire inovou a educação da época, apresentando um novo método pedagógico de alfabetização e técnicas de leitura e escrita como processo de conscientização e de participação política (PIANA, 2009). Portanto, a Segunda República foi marcada pela mudança de política entre o autoritarismo e a democracia. As propostas educacionais desse período foram significativas especialmente no que se refere às mudanças na forma de alfabetizar e na oportunidade de estudos, bem como no desenvolvimento de pesquisas que marcaram o início e um grande crescimento científico para o Brasil. A nova Constituição de 1988 e o movimento eleitoral Diretas Já, para a eleição do presidente da república em 1989, encerrando o período de domínio militar e a privatização do ensino de terceiro grau, terminaram com a vigência da Segunda República, dando lugar à Nova República, cujos feitos e defeitos podemos vislumbrar até os dias atuais. 2.4 Nova República e a democratização escolar Desde o fim da ditadura militar, estamos vivendo a época da Nova República. A partir desse novo modelo político, teve início o período democrático, marcado por um movimento que obrigou o Poder Legislativo a aprovar a volta das eleições diretas, com o povo saindo às ruas e se organizando no chamado movimento das Diretas Já. Em 1985, o primeiro presidente foi eleito na Nova República. Embora essa eleição tenha ocorrido de maneira indireta, Tancredo Neves contava com o apoio do povo, mas faleceu antes mesmo de assumir o cargo. Portanto, seu vice, José Sarney, ocupou o cargo de Presidente da República do Brasil. Apesar de duas importantes ações de seu governo (a promulgação da nova Constituição democrática e a participação na formação do Mercosul), a economia no país começou a degringolar, aumentando constantemente a inflação e denotando a evidência de muita corrupção. O presidente seguinte foi Fernando Collor de Mello, o primeiro eleito pelas Diretas Já. Como o país estava em constante crescimento inflacionário, Collor surgiu com uma proposta econômica que pretendia acabar com a inflação. Mas ele fracassou e, apesar de todas as suas tentativas de consertar e melhorar a economia, foi obrigado a renunciar em 1992. Sua ação mais Organização da educação brasileira e sua trajetória histórica 35 significativa na área da educação foi a criação do Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania (Pnac), que substituiu a Fundação Educar, mas teve seu fim em um ano. Com a renúncia de Collor, seu vice, Itamar Franco, assumiu a presidência do Brasil (1992-1995). Franco escolheu como Ministro da Fazenda o Senador Fernando Henrique Cardoso, que elaborou e pôs em prática o Plano Real, melhorando a economia do país. Na educação, o governo de Itamar Franco elaborou um plano negociado com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para garantir os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil. Tal plano recebeu o nome de Plano Decenal de Educação para Todos (1993-2003). A partir dele, a educação básica foi definida e vigora até hoje, apesar de passar por periódicas revisões e adequações. No governo que sucedeu ao de Itamar Franco (o de Fernando Henrique Cardoso, eleito em 1995 e reeleito em 1999), a educação tomou força, pois o novo presidente acreditava na educação como forma de desenvolvimento público. Além de suas ações econômicas de sucesso, houve um desparamento no sistema educacional brasileiro, com a promulgação da nova LDB em 1996, que previu principalmente a reorganização da educação básica, uma nova forma de oferta do ensino superior e a democratização das instituições de ensino superior de cunho privado. Em cumprimento à Constituição de 1988, além dos aspectos apresentados na própria LDB, foram criados diversos programas para avaliar a educação anualmente, os quais, posteriormente, foram modificados e aprimorados. Como exemplo, podemos citar o Plano Nacional da Educação (PNE), que planeja metas a serem alcançadas em um determinado espaço de tempo. Outra ação importante foi a criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que norteiam a educação básica em âmbito nacional. Para o ensino superior, foram criadas as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para cada curso de graduação. Nos governos seguintes, o interesse pela educação esteve baseado na forma de demonstração do progresso educacional, como visibilidade pública internacional. Essa política trouxe um desconforto muito grande nas esferas educacionais, de modo que a implementação da LDB ficou paralisada, sofrendo diversas alterações por decretos, portarias e outras leis. De qualquer forma, os programas existentes foram aprimorados e houve a criação de novos planos que colaboraram com a evolução da educação brasileira e incentivaram os estudantes, tais como o Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), que são financiadores doensino superior. Além disso, os programas que avaliam anualmente a educação básica e o ensino superior, apesar de precisarem melhorar em diversos aspectos, têm colaborado muito com o compromisso dos governos em oferecer e propiciar uma educação de qualidade e uma formação de professores que correspondam a esses anseios. Desde o início de 2019, estamos vivendo uma nova administração pública federal. O tempo ainda não é suficiente para avaliarmos o regime educacional. Tampouco conhecemos seus sucessos e fracassos, mas é recomendável que todos estejamos atentos aos atos do Ministério da Educação e Cultura (MEC) para sabermos em que chão estamos pisando quando estivermos em sala de aula, independentemente do nível, do grau ou da modalidade de ensino. Políticas educacionais e organização da educação básica36 Considerações finais A evolução da educação brasileira, apesar de lenta, tem se mostrado eficaz na maioria de suas motivações. Para um país que teve o programa educacional iniciado há menos de 500 anos, e com tantas intervenções que resultaram na inibição do processo educacional, podemos dizer que o Brasil tem se esforçado para melhorar desde o início. A evolução do sistema educacional brasileiro pode ser notada com maior ênfase nas últimas cinco décadas, destacando-se o período de 1995 até os dias atuais. Nesse processo, o papel dos professores fica evidenciado não apenas como educadores, facilitadores e/ou organizadores de ideias dentro de uma sala de aula, tampouco como fomentadores de reivindicações políticas; pelo contrário, eles são principalmente planejadores da educação em âmbito nacional, representando uma das mais importantes peças nesse cenário. Eles trazem para a população leiga a realidade do ensino e das condições que essa formação humana tem em mãos para preparar o povo. Também é importante lembrar que um país organizado dificilmente passará por dificuldades, mas, para isso, é preciso que existam pessoas que ensinem principalmente as regras para a condução de uma nação organizada e próspera. Ampliando seus conhecimentos Documentos oficiais: • BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 5 jun. 2019. A melhor maneira de compreender a organização de um país é por meio do conhecimento, do estudo e da discussão da legislação que o rege. Em relação ao Brasil, devemos iniciar pela Constituição Federal de 1988. • BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 18 jul. 2019. O mesmo procedimento é imprescindível em relação à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – atualmente, a Lei n. 9.394 –, a qual deve ser considerada como o manual de instruções da educação brasileira. Vídeos: • BREVE HISTÓRIA da educação no Brasil. 2010. 1 vídeo (4 min). Publicado pelo canal UNIVESP. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=eTYWvbW8XPw. Acesso em: 19 jul. 2019. Organização da educação brasileira e sua trajetória histórica 37 • LINHA DO TEMPO da história da educação no Brasil. 2011. 1 vídeo (10 min). Publicado pelo canal PedagogoSoares. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VoTX8_ pPrQE. Acesso em: 19 jul. 2019. A historicidade da evolução educacional no país, além de muito interessante, é importante para a percepção das mudanças, da significância de todo o processo de desenvolvimento da educação brasileira e dos personagens mais importantes nesse processo desde o início da história do Brasil. Por isso, os vídeos indicados são muito interessantes. Livro: • FERREIRA JÚNIOR, A. História da educação brasileira: da Colônia ao século XX. São Carlos/SP: Edufscar, 2010. Este livro é indicado como uma leitura complementar aos assuntos discutidos neste capítulo, pois o autor, um estudioso da história da educação, aborda a temática a começar pela época do Brasil Colônia, isto é, como a educação exclusivista teve início, e procura demonstrar sua perpetuidade no decorrer dos anos. A proposta do prof. Amarildo Ferreira Jr. nesta obra é nos levar à compreensão histórica da escola para alguns privilegiados. Atividades 1. Ao ensinar, utilizamos diversas técnicas facilitadoras. A premissa é que o aluno use os seus conhecimentos prévios para que, quando se deparar com os novos conhecimentos, seja capaz de absorver, assimilar e acomodar as novas informações. Isso tudo não parece novidade, mas houve alguém que fez uso dessa técnica muito antes de qualquer ação ideológica ou política de sistematização educacional. Quem foi essa pessoa e quais foram as estratégias metodológicas adotadas à época e que até hoje fazem parte da prática pedagógica docente? 2. No final da Primeira República, a educação começou a ser considerada fundamental para o desenvolvimento do povo. Após esse período, houve diversas propostas de reforma da educação, sendo que todas provocaram a reflexão e o olhar do povo e dos governos para a situação da educação no país. Com isso, surgiu uma nova maneira de organizar a educação: a instituição da Lei de Diretrizes e Bases (LDB). Sobre isso, responda: quando foi criada a primeira LDB? Quantas LDBs já existiram no Brasil? Qual é a lei que promulga a atual LDB? Como a LDB trata os profissionais da educação? 3. A partir da Nova República, foram criados documentos norteadores para a educação básica e programas de avaliação da educação aplicados anualmente. Quais são os documentos norteadores e para que faixa de escolarização eles estão definidos? Qual é o nome do programa de avaliação da educação brasileira? Políticas educacionais e organização da educação básica38 Referências AZEVEDO, R. A história da educação no Brasil: uma longa jornada rumo à universalização. Gazeta do Povo, 11 mar. 2018. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/a-historia-da-educacao-no- brasil-uma-longa-jornada-rumo-a-universalizacao-84npcihyra8yzs2j8nnqn8d91. Acesso em: 19 jul. 2019. BARATA, J. C. Escola de heróis. Rio de Janeiro: Universia, 1972. BORIS, F. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1996. BRASIL. Lei de 15 de outubro de 1827. Coleção de Leis do Império do Brasil, v. 1, parte I, p. 71, 1827. 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Organização da educação brasileira e sua trajetória histórica 39 MAGALHÃES, L. D. R. A educação na Primeira República. Disponível em: http://proferlao.pbworks.com/f/ Livia_D_Rocha_Magalhaes_artigo+A+EDUCA%C3%87%C3%83O+NA+PRIMEIRA+REPUBLICA.pdf. Acesso em: 19 jul. 2019. MARTINO, M. C. Primórdios da educação no Brasil: o período heroico (1549 a 1570). Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 14, maio-ago. 2000. Resenha. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/ n14/n14a09.pdf. Acesso em: 19 jul. 2019. MENDONÇA, A. W. P. C. A reforma pombalina dos estudos secundários e seu impacto no processo de profissionalização do professor. Revista do Centro de Educação, v. 30, n. 2, 2005. Disponível em: http://coralx. ufsm.br/revce/revce/2005/02/a2.htm. Acesso em: 19 jul. 2019. NASCIMENTO, M. I. M. O império e as primeiras tentativas de organização da educação nacional (1822- 1889). Disponível em: http://www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/periodo_imperial_intro.html. 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Acesso em: 19 jul. 2019. 3 Os sistemas de ensino no Brasil Nos capítulos anteriores, analisamos como surgiu a organização do povo, de que maneira o Brasil se constituiu com base nas antigas organizações e como vem se estruturando no que diz respeito à educação. Abordamos também como a educação foi organizada desde que os jesuítas chegaram ao Brasil e passamos por uma breve história dos governos que legislaram sobre a educação até a Nova República. A partir da Nova República, com a Constituição de 1988 (BRASIL, 1988) e a nova Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, 1996b), a educação brasileira tomou um novo rumo, tanto no que se refere aos conteúdos e à aprendizagem como no que diz respeito à responsabilidade política do Estado. Dessa forma, neste capítulo discorreremos sobre a organização e a estrutura federativa da educação brasileira. Esclareceremos ainda os tipos de ensino existentes (público e privado), como está organizado o sistema de financiamento da educação e, principalmente, qual é a responsabilidade de cada esfera governamental nessa área. Além disso, compreenderemos o que é, para que serve, de que forma é aplicado e como tem sido avaliado o Plano Nacional da Educação (PNE), desde sua primeira versão até a atual, aprovada em 25 de junho de 2014 por meio da Lei n. 13.005 (BRASIL, 2014). 3.1 Os sistemas federal, estadual e municipal e suas inter-relações O Brasil tem por tradição a oferta de educação particular (privada) desde o Império, época em que os professores eram pagos pelas famílias mais abastadas ou nobres para que seus filhos fossem preparados para cursar as universidades da Europa quando atingissem a idade adequada. Posteriormente, os professores começaram a receber seus salários diretamente do governo, pelas aulas que ministravam em suas próprias residências. Mais tarde, observou-se a necessidade de regulamentação específica para a oferta de educação, bem como para o regime de trabalho dos professores e o funcionamento de escolas em locais mais apropriados. Pouco a pouco, a educação começou a tomar corpo na vida da população, que clamava por uma situação mais organizada e igualitária, o que forçou o governo a instituir órgãos para reger a educação brasileira. Com o aumento das pessoas que passaram a frequentar as escolas, ficou evidente a necessidade de se distribuir a gestão e uma parte da verba arrecadada para os estados e, mais tarde, para os municípios. Assim, chegamos à formatação atual da educação no Brasil. Toda a regulamentação do ensino no Brasil atual foi proveniente da principal legislação brasileira, a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), que norteou a lei educacional, responsável por dar corpo e forma à educação, estabelecendo as diretrizes do sistema de ensino brasileiro: a LDB (BRASIL, 1996b). Políticas educacionais e organização da educação básica42 De acordo com a Constituição Federal (BRASIL, 1988), Capítulo III, “Da Educação, da cultura e do desporto”, Seção I, “Da educação”, em seu art. 205: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. No parágrafo único do art. 206, que foi incluído pela Ementa Constitucional n. 53, de 2006, fica esclarecida a responsabilidade das esferas públicas quanto aos profissionais da educação básica, ao mencionar que a elaboração e fixação dos planos de carreira ficarão a cargo da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios: “Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores considerados profissionais da educação básica e sobre a fixação de prazo para a elaboraçãoou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios” (BRASIL, 1988). O art. 208 da Lei Maior esclarece as condicionantes a serem cumpridas em relação à Educação Básica: Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade; V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. (BRASIL, 1988) Assim, podemos afirmar que a responsabilidade pela gestão da educação está distribuída entre os sistemas federal, estadual e municipal e no Distrito Federal. Para o melhor funcionamento dessa gestão, existem órgãos específicos em cada esfera governamental, os quais estão assim distribuídos: no âmbito federal, estão o Ministério da Educação e Cultura (MEC) e o Conselho Nacional de Educação (CNE); no âmbito do Estado, os órgãos que respondem pela educação são: as Secretarias Estaduais de Educação (SEED), os Conselhos Estaduais de Educação (CEED) e as Delegacias Regionais de Educação (DRE); e, para os municípios, a organização da educação está sob a orientação das Secretarias Municipais de Educação (SME) e dos Conselhos Municipais de Educação (CME). O MEC e o CNE são os órgãos maiores na hierarquia administrativa do sistema educacional brasileiro, responsáveis pela organização da educação em nível nacional. O MEC foi criado em 1930, no governo de Getúlio Vargas, por meio do Decreto n. 19.402 (BRASIL, 1930), Os sistemas de ensino no Brasil 43 recebendo o nome de Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública. Suas responsabilidades incluíam o ensino, a saúde pública e a assistência hospitalar. Desde então, muitas mudanças ocorreram e atualmente o órgão em questão é de dedicação exclusiva da educação. Juntamente com o CNE, ambos se responsabilizam por legislar, regular e avaliar a educação brasileira, desde a educação básica – que compreende a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, de competência dos estados e municípios – até a educação superior – que contempla a graduação e a pós-graduação, cuja administração está a cargo de secretarias específicas no próprio MEC. Entretanto, os atos políticos de ensino que envolvem o planejamento, o financiamento, a manutenção e a execução das políticas de ensino devem ser realizados por todas as esferas governamentais já citadas, as quais também são responsáveis por garantir que tais atos estejam em conformidade com a Constituição Federal, com a LDB e com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), prevista na LDB. Da mesma forma, esses atos podem ser observados em alguns artigos da LDB, os quais contemplam a definição de um documento que norteie a elaboração dos planos educacionais brasileiros em todos os níveis de escolaridade: Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos. [...] § 10. A inclusão de novos componentes curriculares de caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular dependerá de aprovação do Conselho Nacional de Educação e de homologação pelo Ministro de Estado da Educação. Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio, conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação. [...] Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular. [...] Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes cursos e programas: [...] § 3o O processo seletivo referido no inciso II considerará as competências e as habilidades definidas na Base Nacional Comum Curricular. [...] Art. 62. [...] § 8o Os currículos dos cursos de formação de docentes terão por referência a Base Nacional Comum Curricular. [...] Art. 64. A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional. (BRASIL, 1996b, grifos nossos) O MEC mantém em seu site uma página (BRASIL, 2019b) que presta esclarecimentos, informa e conta a história de todo o processo de construção da BNCC, bem como de sua implementação. Nessa página, encontramos a definição de BNCC, de acordo com o idealizado na LDB. Políticas educacionais e organização da educação básica44 A Base Nacional Comum Curricular é um documento normativo que define o conjunto de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. Seu principal objetivo é ser a balizadora da qualidade da educação no País por meio do estabelecimento de um patamar de aprendizagem e desenvolvimento a que todos os alunos têm direito! (BRASIL, 2019b) Assim, é necessário atribuirmos a devida atenção ao que dispõe a BNCC, sem negligenciar a LDB ou a Constituição em relação à educação brasileira, independentemente do nível de desenvolvimento dos documentos institucionais, de todas as esferas governamentais, tanto na oferta de educação pública como na privada. Todos os documentos aqui citados são importantes, primordiais e imprescindíveis para que a proposta educacional proveniente da Constituição Brasileira seja plenamente satisfatória e para que seja possível alcançar, com êxito, o que está disposto no PNE, que estudaremos a seguir. Além disso, eles são importantes para o estabelecimento das diretrizes específicas para cada grau de instrução, etapa de escolarização e curso superior a ser oferecido. Não podemos nos esquecer, porém, de que a União (ou seja, o governo federal) é a principal provedora financeira da educação pública, colaborando, inclusive, com os estudantes das escolas privadas de nível superior prioritariamente. 3.2 A participação da União no Fundef e no Fundeb Como já foi citado diversas vezes, a Constituição teve como uma de suas principais preocupações a oferta da educação no Brasil. Por isso, à época de sua elaboração, buscou-se estabelecer as responsabilidades das esferas governamentais para a definição, elaboração, gestão, implementação e avaliação das bases educacionais – ou seja, conteúdos, currículos e programas –, bem como para o financiamento e suas respectivas responsabilidades no que diz respeito ao estudante, aos professores e aos funcionários de toda a infraestrutura física, tecnológica, mobiliária e didático-pedagógica. A mesma lei também contempla a oferta de escolas privadas, municipais, estaduais e federais no mesmo município, uma vez que as responsabilidades de algumas etapas da escolarização já estão definidas. Por exemplo, é atribuição dos municípios a oferta de educação infantil (crianças de quatro meses a cinco anos de idade). Além disso, muitos municípios já são responsáveis pelas escolas de ensino fundamental (do 1º ao 9º ano), atendendo crianças de 6 a 14 anos de idade. Na maioriados casos, o ensino médio, que atende adolescentes a partir dos 15 anos de idade, é de responsabilidade dos estados. Inclusive, a educação profissional pode ser cursada concomitantemente ao ensino médio, após a conclusão da primeira etapa dele. E, para a federação, ficaram as faculdades e universidades que oferecem cursos de graduação e pós-graduação, os quais podem ser frequentados por alunos que terminaram o ensino médio e se submeteram a um processo seletivo. Para as escolas privadas, mais conhecidas como particulares, são permitidos todos os níveis de escolarização. Desse modo, podem ser oferecidos apenas um deles ou todos eles, Os sistemas de ensino no Brasil 45 conforme cada caso. Nessas situações, a regulamentação se divide entre o Estado, para a educação básica, e a União, para o ensino superior. Para o custeio e o financiamento da educação básica brasileira, existem dois órgãos em funcionamento: o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) e o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Vamos descobrir o que são, para quem são destinados, para que foram criados e de que forma eles atuam. Por meio da Lei n. 5.537, de 21 de novembro de 1968 (BRASIL, 1968), complementada pelo Decreto-Lei n. 872, de 15 de setembro de 1969 (BRASIL, 1969), foi criado o Instituto Nacional de Desenvolvimento da Educação e Pesquisa (Indep), com o objetivo de captar e distribuir os recursos financeiros que subsidiariam o sistema educacional brasileiro: “Art 2º O INDEP tem por finalidade captar recursos financeiros e canalizá-los para o financiamento de projetos de ensino e pesquisa, inclusive alimentação escolar e bolsas de estudo, observadas as diretrizes do planejamento nacional da educação” (BRASIL, 1968). O Indep tem como competência o financiamento do ensino em todos os níveis e de assistência financeira aos estados, ao Distrito Federal, aos territórios, aos municípios e aos estabelecimentos particulares, como define o art. 3º da Lei n. 5.537: Art 3º Compete ao INDEP: a) financiar os programas de ensino superior, médio e primário, promovidos pela União, e conceder a assistência financeira aos Estados, Distrito Federal, Territórios, Municípios e estabelecimentos particulares; b) financiar sistemas de bolsas de estudo, manutenção e estágio a alunos dos cursos superior e médio; c) apreciar, preliminarmente, as propostas orçamentárias das universidades federais e dos estabelecimentos de ensino médio e superior mantidos pela União, visando à compatibilização de seus programas e projetos com as diretrizes educacionais do governo; d) financiar programas de ensino profissional e tecnológico; e) prestar assistência técnica e financeira, conforme disponibilidade de dotações orçamentárias, para aperfeiçoar o processo de aprendizagem na educação básica pública, por intermédio da melhoria da estrutura física ou pedagógica das escolas; f) operacionalizar programas de financiamento estudantil; g) prestar assistência técnica e financeira, conforme disponibilidade de dotações orçamentárias, para garantir o acesso e a permanência do estudante no ensino superior. h) para fins de implementação do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento das Instituições de Ensino Superior (Proies), operacionalizar a custódia, a movimentação, a desvinculação e o resgate dos certificados financeiros do Tesouro Nacional. (BRASIL, 1968) O Decreto-Lei n. 872, de 15 de setembro de 1969, que “Complementa disposições da Lei número 5.537, de 21 de novembro de 1968, e dá outras providências” (BRASIL, 1969), ao dar nova redação à Lei n. 5.537, criou o Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão Políticas educacionais e organização da educação básica46 responsável pela execução de políticas educacionais do Ministério da Educação (MEC): “Art. 1º É criado, com personalidade jurídica de natureza autárquica, vinculado ao Ministério da Educação e Cultura, o Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE)” (BRASIL, 1969). O FNDE tem por finalidade alcançar a melhoria e garantir uma educação de qualidade a todos, em especial a educação básica da rede pública, de acordo com o que declara a história do órgão, que pode ser encontrada em seu portal na internet (BRASIL, 1969). Por meio da criação desses órgãos, foi possível organizar a distribuição dos recursos financeiros para a educação, de modo a atender às necessidades que se apresentaram durante muitos anos. No entanto, com o crescimento da população em idade escolar e a demanda premente de profissionais qualificados, a partir da Constituição (BRASIL, 1988), surgiu a necessidade de uma nova organização no sistema de distribuição de recursos. Com uma nova forma de governo e uma visão mais voltada para a formação cultural e intelectual do povo, teve início uma nova etapa no sistema educacional. O atendimento às necessidades apresentadas e os novos investimentos tornaram-se evidentes e necessários. Assim, por ação do MEC, foi desenvolvido o Fundef, com o objetivo de atender ao ensino fundamental, cujos recursos tinham a provisão oriunda de impostos e de transferências dos estados, do Distrito Federal e de municípios vinculados à educação, em atendimento à Constituição de 1988 (BRASIL, 1988) e à Emenda Constitucional n. 14, de 12 de setembro de 1996 (BRASIL, 1996a). Com as reformas no sistema educacional brasileiro, visualizou-se a necessidade de ampliar o modo de distribuição das receitas destinadas à educação, conforme a Constituição e suas emendas, o que originou, em 2006, o Fundeb, focado nas demais etapas da educação básica, compreendendo a captação e o investimento de recursos na educação infantil, no ensino médio e na educação de jovens e adultos. O Fundeb foi criado em substituição ao Fundef pela Emenda Constitucional n. 53, de 19 de dezembro de 2006 (BRASIL, 2006), e regulamentado pela Lei n. 11.494/2007 (BRASIL, 2007b) e pelo Decreto n. 6.253, de 13 de novembro de 2007 (BRASIL, 2007a). É um fundo especial, de natureza contábil e de âmbito estadual (um fundo por estado e Distrito Federal, num total de vinte e sete fundos), formado, na quase totalidade, por recursos provenientes dos impostos e transferências dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, vinculados à educação por força do disposto no Art. 212 da Constituição Federal. Além desses recursos, ainda compõe o Fundeb, a título de complementação, uma parcela de recursos federais, sempre que, no âmbito de cada estado, seu valor por aluno não alcançar o mínimo definido nacionalmente. Independentemente da origem, todo o recurso gerado é redistribuído para aplicação exclusiva na educação básica. Com vigência estabelecida para o período 2007-2020, sua implantação começou em 1º de janeiro de 2007, sendo plenamente concluída em 2009, quando o total de alunos matriculados na rede pública foi considerado na distribuição dos recursos e o percentual de contribuição dos estados, Distrito Federal e municípios para a formação do fundo atingiu o patamar de 20%. (BRASIL, 2019c) Os sistemas de ensino no Brasil 47 O Fundeb é, portanto, um fundo especial, de natureza contábil e de âmbito estadual, que conta ainda com recursos da esfera federal, sempre que o valor por aluno não for suficiente para atender ao estipulado como mínimo no âmbito nacional. Sua forma de distribuição tem como base o número de alunos da educação básica pública, de acordo com os dados do censo escolar de cada ano. O Fundeb tem sido muito bem gerenciado, apesar de todas as dificuldades que a educação brasileira enfrenta, pois os recursos advindos desse fundo proporcionam as inovações no sistema educacional, bem como a manutenção, o zelo e a promoção de capacitação dos envolvidos na educação, em todas as áreas, demonstrando empenho para a melhoria da formação acadêmica do povo brasileiro. A prova de queele é producente está no recente pronunciamento do atual Ministro da Educação, Abraham Weintraub, que revela seu empenho em ampliar os recursos do Fundeb. Ainda sobre esse órgão, de acordo com matéria escrita por Mariana Tokarnia para o Portal da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC): O Fundeb é, atualmente, uma das principais fontes de financiamento para as escolas de todo o país. Pela legislação vigente, o Fundeb tem validade até o final de 2020. Para tornar o fundo permanente, propostas com conteúdos relativamente semelhantes tramitam tanto no Senado Federal (PEC 33/2019 e PEC 65/2019), quanto na Câmara dos Deputados (PEC 15/2015). (TOKARNIA, 2019) Todos os esforços do governo federal relacionados à educação têm como foco o desenvolvimento do povo brasileiro, sendo gerados principalmente pela oferta de educação com qualidade e seriedade. Para tanto, e cumprindo o art. 214 da Constituição Federal de 1988, foi criado um novo documento que determina metas e prazos para a evolução da educação, o qual recebeu o nome de Plano Nacional de Educação (PNE) em 1996, tendo sua primeira versão implementada em 2001. 3.3 O Plano Nacional de Educação (PNE) O PNE tem como finalidade o estabelecimento de metas e prazos para a melhoria da educação brasileira. As metas nele declaradas precisam do esforço de todo o sistema educacional, em todos os níveis de escolarização, bem como de todas as esferas governamentais. De acordo com o art. 214 da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), fica estabelecido que o PNE deverá ser projetado para 10 (dez) anos, definindo diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação que propiciem a erradicação do analfabetismo, o atendimento escolar universalizado, a qualidade do ensino, a formação profissional, a promoção da pesquisa e o investimento na educação com recursos públicos: Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas que conduzam a: Políticas educacionais e organização da educação básica48 I - erradicação do analfabetismo; II - universalização do atendimento escolar; III - melhoria da qualidade do ensino; IV - formação para o trabalho; V - promoção humanística, científica e tecnológica do País. VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto. (BRASIL, 1988) Em cumprimento à Constituição, no ano de 2001 foi sancionada a Lei n. 10.172, de 9 de janeiro de 2001, que aprova o PNE para o período de dez anos: “Art. 1º Fica aprovado o Plano Nacional de Educação, constante do documento anexo, com duração de dez anos” (BRASIL, 2001a). Com esse documento, que estabelecia metas para a educação, almejava-se o cumprimento do PNE no prazo estipulado pelo art. 1º, recém-referido, e, embora tenha sido elaborado em 1996, somente com a mencionada lei é que o PNE foi devidamente instituído, em 2001. O documento foi elaborado para todos os níveis de escolaridade, compreendendo educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio), educação superior, educação de jovens e adultos, educação a distância e tecnologias educacionais, educação tecnológica e formação profissional, educação especial, educação indígena e formação dos professores e valorização do magistério, além do financiamento da gestão. No entanto, o PNE de 2001 não obteve o êxito esperado, pois, apesar de alcançar todas as etapas da escolarização, nem todas as metas estão mensuradas, o que torna o objetivo inatingível, uma vez que há um prazo estipulado para o alcance das metas estabelecidas. O PNE de 2001 foi um documento muito importante e causou um grande movimento em todo o setor educacional do país, levando todos os envolvidos à reflexão, pois, para o seu cumprimento, era preciso rever as práticas pedagógicas, as didáticas e metodologias aplicadas e desenvolvidas, entre outros aspectos pedagógicos, e, principalmente, identificar as responsabilidades e os responsáveis em todo o processo, de modo a poder distribuir e usar os recursos financeiros da forma mais consciente. Infelizmente, por se tratar de um documento muito extenso, algumas questões fundamentais para a viabilidade do PNE foram vetadas (BRASIL, 2001b): Ampliar o Programa de Garantia de Renda Mínima associado a ações socioeducativas; [...] Ampliar a oferta de ensino público de modo a assegurar uma proporção nunca inferior a 40% do total das vagas; [...] Assegurar, na esfera federal, através de legislação, a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Superior; [...] Ampliar o programa de crédito educativo; [...] Ampliar o financiamento público à pesquisa científica e tecnológica; [...] Implantar, no prazo de um ano, planos gerais de carreira para os profissionais que atuam nas áreas técnica e administrativa e respectivos níveis de remuneração; [...] Elevação, na década, através de esforço conjunto da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, do percentual de gastos públicos em relação ao PIB, aplicados em educação; [...] Orientar os orçamentos nas três esferas governamentais; [...] Garantir recursos do Tesouro Nacional para o pagamento de aposentados e pensionistas do ensino público. Os sistemas de ensino no Brasil 49 Esses e outros aspectos, tais como a grande quantidade de metas (297 ao todo) a serem alcançadas num prazo de dez anos – considerado tempo insuficiente em relação às metas –, aliados à dificuldade de os estados e municípios se adequarem ao PNE, causaram o insucesso do plano. Uma análise do PNE 2001-2010 gerou sua revisão e, com isso, um novo documento, com metas mais objetivas, sendo submetido à análise e à votação do Congresso Federal em 2010. Para essa análise, que durou dois anos, foi criada uma comissão especial (MOURA, 2013, p. 11): Com a missão de preencher a lacuna do PNE anterior, o Ministério da Educação enviou ao Congresso Federal sua versão do PNE 2011-2020 [...]. Na Câmara dos Deputados o projeto tramitou por quase dois anos, em Comissão Especial criada para a discussão. [...] O novo Plano é composto de apenas 20 metas, cada qual com estratégias de implementação. De acordo com o MEC, isto viabilizará a cobrança e acompanhamento da sociedade. O tema é efervescente no legislativo e tem provocado enorme mobilização. O número de emendas ao projeto na câmara (2.915) constitui um marco histórico, já que nunca um projeto de lei recebera tantas propostas de retificações. O PNE 2011-2020 foi elaborado de maneira mais enxuta com o propósito de ser efetivamente aplicado e suas metas serem alcançadas no prazo de dez anos, como determina a Constituição (BRASIL, 1988). Assim, apenas 20 metas estão dispostas no documento, sendo que as três primeiras focam no atendimento escolar da população de zero a 17 anos de idade, e a quarta meta prevê o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado para os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, preferencialmente na rede regular de ensino. As demais metas estão voltadas para: • qualidade do ensino; • oferta de educação em período integral nas escolas públicas; • formação do profissional da educação, inclusive propiciando a aquisição de titulação por meio da oferta de pós-graduação aos professores da educação básica; • melhoria salarial dos profissionais da educação básica nas escolas públicas; • garantia de uma gestão democrática da educação; • ampliação do investimento público em educação pública, propondo 7% do PIB investido na educação. O PNE 2011-2020 teve seu projeto de lei encaminhado para o Congresso Nacional para ser votado. Em meioàs discussões acerca das metas nele estabelecidas, surgiram os questionamentos a respeito do financiamento para o cumprimento de tais metas e também a dúvida sobre a adequação delas no sistema educacional. Conforme consta na publicação Plano Nacional de Educação 2014-2024, da Câmara dos Deputados, a deputada Dorinha Seabra Rezende fez uma solicitação do “diagnóstico da realidade educacional brasileira que fundamenta a proposta encaminhada” (REZENDE apud CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2014, p. 15), com o intuito de tornar o debate educacional mais concreto e proveitoso. Políticas educacionais e organização da educação básica50 Assim, por meio do Requerimento nº 287, de 14 de março de 2011, a deputada professora Dorinha Seabra Rezende solicitou o envio pelo Ministério da Educação à Câmara dos Deputados do “diagnóstico da realidade educacional brasileira que fundamenta a proposta encaminhada”. A parlamentar argumentava que a divulgação desse documento à sociedade e ao Congresso Nacional por parte do Poder Executivo tornaria o debate educacional mais concreto e proveitoso, permitindo a todos os atores a avaliação que embasava a proposta do segundo PNE e da adequação das metas e estratégias formuladas. Além disso, acrescentava, o diagnóstico da realidade educacional elaborado para o PNE serviria de orientação à elaboração dos planos dos estados, Distrito Federal e municípios. (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2014, p. 15-16) O mesmo documento apresenta o trâmite do processo, cuja sugestão da parlamentar citada foi aceita: “o processo legislativo manteve curso normal para matéria da complexidade do PNE, que teve um amplo debate, com participação dos atores sociais, por meio de audiências públicas e seminários, e requereu a construção de consensos” (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2014, p. 16). Em resumo, o PNE apresentado em 2010, para vigência no período de 2011-2020, somente foi aprovado em 3 de junho de 2014, por meio da Lei n. 13.005, de 25 de junho de 2014 (BRASIL, 2014), com apenas 14 artigos e o PNE 2014-2024 anexo. O art. 7º da referida lei registra a importância do cooperativismo entre as esferas governamentais para o atingimento das metas estabelecidas. Já o art. 8º orienta a elaboração ou adequação dos planos de educação dos estados, Distrito Federal e municípios ao PNE e estipula o prazo de um ano a partir da publicação da citada lei: Art. 7º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios atuarão em regime de colaboração, visando ao alcance das metas e à implementação das estratégias objeto deste Plano. [...] Art. 8º Os estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão elaborar seus correspondentes planos de educação, ou adequar os planos já aprovados em lei, em consonância com as diretrizes, metas e estratégias previstas neste PNE, no prazo de um ano contado da publicação desta lei. (BRASIL, 2014) Também é importante destacar o que diz o art. 5º da Lei n. 13.005 e seus incisos quanto ao monitoramento do cumprimento das metas e as instâncias responsáveis: Art. 5º A execução do PNE e o cumprimento de suas metas serão objeto de monitoramento contínuo e de avaliações periódicas, realizados pelas seguintes instâncias: I - Ministério da Educação - MEC; II - Comissão de Educação da Câmara dos Deputados e Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal; III - Conselho Nacional de Educação - CNE; IV - Fórum Nacional de Educação. (BRASIL, 2014) Em razão disso, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão ligado ao MEC, por intermédio da Diretoria de Estudos Educacionais (Dired), tornou-se responsável pelos estudos que subsidiam o monitoramento do PNE. A partir de dezembro de 2014, o Inep iniciou as ações para esse fim. Os sistemas de ensino no Brasil 51 Em ordem cronológica, e que pode ser conferida no portal do MEC/Inep, as ações do instituto até 2018 foram as seguintes (BRASIL, 2019a): 2014 • Seminário do PNE – com o objetivo de discutir os desafios para o monitoramento do PNE. 2015 • Linha de Base do PNE – documento que oferece um panorama das condições da educação brasileira, contextualizando o início do período de vigência do plano e possibilitando um exame sobre os desafios que se colocavam à consecução dos objetivos de cada meta naquele momento. • Consulta Pública – ofereceu os aprimoramentos nos indicadores e na apresentação dos dados, incorporados ao processo de monitoramento em curso, e reverberaram no Relatório do Primeiro Ciclo de Monitoramento. • Série PNE em Movimento – conjunto de documentos que promove a comunicação que vem agregar e disseminar estudos referentes ao cumprimento das metas e estratégias do PNE. 2016 • Relatórios de Monitoramento – em cumprimento à Lei n. 13.005/2014, em seu § 2º do art. 5º (BRASIL, 2014) o Inep apresenta o Relatório do Primeiro Ciclo de Monitoramento de Metas (2014-2016): “Os relatórios trazem os resultados atualizados dos indicadores das metas do PNE, bem como análises sobre as tendências em cada indicador. Os próximos relatórios serão publicados em 2018, 2020, 2022 e 2014” (BRASIL, 2019a). 2017 • Seminário do PNE – a partir da manifestação crítica de pesquisadores, gestores, educadores, técnicos e representantes das instituições educacionais públicas e privadas, foi promovido um estudo objetivando o aprimoramento dos indicadores de monitoração das metas do PNE. 2018 • Relatórios de Monitoramento – a diretoria do Inep apresenta os estudos e as propostas de melhoria dos indicadores que avaliam o PNE e que promovem a melhoria dos indicadores. “Na ocasião, foi possível debater e obter críticas e sugestões que contribuíram para ratificar as opções teóricas e metodológicas adotadas, além de possibilitar melhorias nos indicadores” (BRASIL, 2019a). Além disso, em junho de 2018, durante um seminário no Inep, foi lançado o Relatório do Segundo Ciclo de Monitoramento das Metas do Plano Nacional de Educação – 2018, que apresentava aprimoramentos, reformulações e a definição de novos indicadores que foram constituídos para melhor representar e aferir o que as 20 metas do PNE propõem. Em janeiro de 2019, a Câmara dos Deputados demonstrou uma grande preocupação com a dificuldade na implementação do PNE e divulgou em sua página de notícias uma série de Políticas educacionais e organização da educação básica52 dados que caracterizam o não cumprimento efetivo das metas contidas no PNE: “Prioridade para 2019 é implementar o PNE, afirmam deputados ligados à educação. Na opinião de parlamentares da Comissão de Educação, a falta de recursos está inviabilizando a implementação do Plano” (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2019). As 20 metas contidas no PNE 2014-2024 foram elaboradas para todos os níveis de escolaridade, da educação infantil ao ensino superior, com especificidades relacionadas à educação inclusiva, à taxa de escolaridade objetivando uma considerável melhoria, a professores com formação adequada e superior, bem como a planos de carreira que propiciem a valorização da classe e a gestão da educação com responsabilidades de financiamento de todas as esferas governamentais. Para cada meta, há uma série de estratégias estabelecidas no próprio documento. Além disso, como já discutimos, há uma forma de monitorar sua aplicação e sua evolução, bem como sua avaliação. Todas as metas do PNE são importantes e incidem consideravelmente na evolução da educação brasileira, especialmente no que se refere à educação básica. Por isso, destacamos a meta 7, que indica, inclusive, índices específicos para serem alcançados no período de 2015 a 2021: Meta 7: fomentar a qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades, com melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem de modo a atingir as seguintes médias nacionais para o Ideb: IDEB 2015 2017 2019 2021 Anos iniciais do ensino fundamental 5,2 5,5 5,7 6,0 Anos finais do ensino fundamental 4,7 5,0 5,2 5,5 Ensino médio 4,3 4,7 5,0 5,2 (Brasil, 2014) Conhecendo as metasdo PNE e toda a trajetória das avaliações que auxiliam o Inep no monitoramento do alcance delas, podemos entender que os esforços para a melhoria da educação podem ser vistos e percebidos, mas cabe a cada cidadão o monitoramento desse trabalho, para que o país possa crescer mais rapidamente. Isso só pode acontecer por meio da educação. Considerações finais Neste capítulo, percebemos que existe um esforço considerável do Poder Público para cumprir com a meta principal da Constituição Federal de 1988 no que se refere à educação, que é a melhoria da oferta e a formação de um povo mais consciente e instruído. Vimos também como funciona o sistema educacional brasileiro, quais são os órgãos que regimentam e regram a educação, quais são suas funções e como eles participam na sustentabilidade da oferta da educação pública, considerando também a origem financeira e a legislação que os regulamenta. Entendemos ainda a função da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e percebemos a importância de estarmos inteirados sobre a lei que regulamenta nossa profissão e a educação do país. Os sistemas de ensino no Brasil 53 Também conhecemos e compreendemos o Plano Nacional de Educação (PNE), tão comentado atualmente. Abordamos que existem metas mensuráveis e que há prazos para o cumprimento de cada uma delas, além de que existe um procedimento específico regido por um órgão que monitora a efetividade do cumprimento das metas estabelecidas. Além disso, percebemos que há um esforço do atual governo para o cumprimento de tais metas, apesar do pouco tempo que resta para o fim do prazo determinado. Resumindo, neste capítulo concluímos que a legislação educacional está em processo de desmistificação, passando de um documento complicado e de difícil entendimento para um texto importante e necessário para todas as profissões e ações, especialmente no âmbito da educação. Ampliando seus conhecimentos Site: • BRASIL. Ministério da Educação. Disponível em: mec.gov.br. Acesso em: 22 jul. 2019. No site do Ministério da Educação, é possível navegar e encontrar inúmeras informações a respeito de toda a legislação que estudamos neste capítulo. Além disso, existem outros assuntos importantes que devem ser consultados, tanto por educadores como pelos cidadãos em geral, e ainda há inúmeras entrevistas e publicações que valem a pena ser lidas. Vídeo: • SISTEMA educacional no Brasil – Dermeval Saviani. [S.l.: s.n.], 2017. 1 vídeo (7 min). Publicado pelo canal Carolinne Paz. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=bGaIr1W73i0. Acesso em: 22 jul. 2019. Esse é um vídeo interessante para ser assistido, ele confirma o que estudamos e ainda é capaz de esclarecer possíveis dúvidas encontradas ao longo da leitura deste capítulo. Documento oficial: • BRASIL. Lei n. 13.005, de 25 de junho de 2014. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 26 jun. 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2014/lei/l13005.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. A Lei n. 13.005 aprova o Plano Nacional de Educação e traz todas as metas pensadas para melhorar a educação brasileira, principalmente em relação à educação básica. O conhecimento de todas elas é importante para que você compreenda os esforços empreendidos para a evolução da educação nacional. Políticas educacionais e organização da educação básica54 Atividades 1. De quem é a responsabilidade pela gestão da educação brasileira? 2. O que significam as siglas Fundef e Fundeb? Quais são as funções de cada um desses órgãos? 3. Qual é o órgão responsável por monitorar o cumprimento das metas do Plano Nacional de Educação 2014-2024? De que forma esse órgão se organizou para cumprir o monitoramento? Referências BRASIL. Decreto n. 19.402, de 14 de novembro de 1930. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 18 nov. 1930. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-19402- 14-novembro-1930-515729-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 5.537, de 21 de novembro de 1968. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 21 nov. 1968. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5537.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Decreto-Lei n. 872, de 15 de setembro de 1969. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 16 set. 1969. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1965-1988/Del0872.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Constituição. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Emenda Constitucional n. 14, de 12 de setembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 13 set. 1996a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/ emc14.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 23 dez. 1996b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 10 jan. 2001a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Mensagem n. 9, de 9 de janeiro de 2001. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 9 jan. 2001b. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/Mensagem_Veto/2001/Mv0009-01.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Emenda Constitucional n. 53, de 19 de dezembro de 2006. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 20 dez. 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/ emc53.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Decreto n. 6.253, de 13 de novembro de 2007. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 14 nov. 2007a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/Decreto/ D6253.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 11.494, de 20 de junho de 2007. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 21 jun. 2007b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11494.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 13.005, de 25 de junho de 2014. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 26 jun. 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. Os sistemas de ensino no Brasil 55 BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Histórico. 2019a. Disponível em http://inep.gov.br/dados/monitoramento-do-pne/historico. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: a base. 2019b. Disponível em: http:// basenacionalcomum.mec.gov.br/a-base. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Fundeb. 2019c. Disponível em: https://www.fnde.gov.br/financiamento/ fundeb. Acesso em: 22 jul. 2019. CÂMARA DOS DEPUTADOS. Plano Nacional de Educação 2014-2024. Brasília: 2014. (Série Legislação). Disponível em: http://www.proec.ufpr.br/download/extensao/2016/creditacao/PNE%202014-2024.pdf. Acesso em: 22 jul. 2019. CÂMARA DOS DEPUTADOS. Prioridade para 2019 é implementar o PNE, afirmam deputados ligados à educação. 9 jan. 2019. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/EDUCACAO-E- CULTURA/570527-PRIORIDADE-PARA-2019-E-IMPLEMENTAR-O-PNE,-AFIRMAM-DEPUTADOS- LIGADOS-A-EDUCACAO.html. Acesso em: 22 jul. 2019. MOURA, E. S. A construção da ideia de plano nacional de educação no Brasil: antecedentes históricos e concepções. In: REUNIÃO NACIONAL DA ANPED, XXXVI, Goiânia, 2013. p. 1-16. Disponível em: http:// www.anped.org.br/sites/default/files/gt05_3246_texto.pdf. Acesso em: 22 jul. 2019. TOKARNIA, M. Ministrodiz que estuda propostas para ampliar recursos do Fundeb. 22 maio 2019. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2019-05/ministro-diz-que-estuda-propostas-para- ampliar-recursos-do-fundeb. Acesso em: 22 jul. 2019. 4 Estado, sociedade e educação Para a existência de uma instituição escolar, independentemente do tipo, do grau ou da modalidade, são necessárias muitas situações, organizações, instalações e equipamentos, bem como uma gestão de pessoas eficaz e adequada a cada tipo de oferta e localidade. Porém, há duas figuras que caracterizam uma ação educacional/escolar: o aluno, objetivo da existência de uma instituição escolar, e o professor. Ambos protagonizam a ação escolar. Obviamente, um sujeito não faz sentido sem o outro, pois o aluno é aquele que está disposto a aprender e o professor é quem colabora com o aprendizado do aluno, especialmente na organização da forma e dos conteúdos de aprendizagem, facilitando o processo de assimilação e de acomodação do conhecimento para os alunos. Se temos um ambiente escolar devidamente instalado, equipado e assessorado, com alunos e professores, podemos dizer que esse ambiente perfaz uma escola. Portanto, entendemos a escola como um espaço específico em que se ensina e se aprende e no qual é possível perceber a sociabilização de uma comunidade que, em muitos casos, reúne integrantes de classes sociais, etnias, características e comportamentos diferentes, advindos de suas respectivas famílias e da sociedade em que vivem. Tantas diferenças se manifestando no mesmo espaço propiciam a formação de novos comportamentos, pensamentos e ações, mas, principalmente, promovem a geração de novas pessoas, compondo uma nova comunidade observada dentro das escolas espalhadas por todo o Brasil. Sob essa ótica, neste capítulo abordaremos as situações educacionais no contexto do Estado, chamado de unidade administrativa de um território. Além disso, trataremos da sociedade, a qual é composta por pessoas que compartilham o mesmo propósito, e ainda discutiremos novamente sobre a educação, aqui encarada como o processo que abrange os atos de ensinar (professor) e de aprender (aluno), ou seja, o ensino-aprendizagem. Portanto, a abordagem neste capítulo seguirá a tendência da educação nas escolas com base nas reformas do Estado, considerando as transformações da educação e sua contemporaneidade, com um foco especial na trajetória da formação dos professores até os dias atuais. Com isso, será possível observarmos como está a instituição escolar e qual é o perfil dos professores atualmente, bem como de que forma a sociedade tem influenciado esses dois pontos importantes na educação escolar do Brasil atual. 4.1 Educação escolar no contexto das reformas do Estado Nos capítulos anteriores, entendemos como ocorreu a escolarização no Brasil desde a chegada dos primeiros portugueses e também apresentamos quais foram as leis que regeram a Políticas educacionais e organização da educação básica58 educação brasileira até a implementação da primeira Lei de Diretrizes e Bases (LDB), de 1961, além de conhecermos a atual LDB, promulgada em 1996 (BRASIL, 1996). Assim, todos os estudos anteriores nos permitiram compreender que a educação é o elo entre o Estado e a sociedade, pois todas as pessoas, independentemente de suas faixas etárias, passam pelo aprendizado, o que denota a importância da educação para o desenvolvimento de uma sociedade e para sua transformação. No percurso da história da educação brasileira, podemos observar uma evolução que acompanhou todas as reformas políticas do país. Nosso estudo será focado a partir da década de 1930, quando ocorreu um dos marcos mais importantes da revolução escolar, impactado pelo movimento conhecido como Escola Nova, o qual foi liderado por importantes figuras da área educacional no Brasil daquela época, entre eles Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo e Manuel Lourenço Filho, como visto no Capítulo 3. O objetivo da Escola Nova era democratizar a escolarização oportunizando um estudo igualitário para todos, sem distinção, e abdicado da influência religiosa obrigatória. O que se pretendia com essa proposta era formar cidadãos capazes de participar da nova reforma política que acontecia no país, criando, assim, a igualdade de oportunidades e valorizando as competências individuais de cada um. Nesse contexto, com a Revolução de 1930, Getúlio Vargas assumiu a presidência do Brasil, época chamada de Era Vargas, quando a educação brasileira sofreu as maiores mudanças até então. Para começar, nesse mesmo ano foi criado o Ministério da Educação e da Saúde Pública, tendo como ministro Francisco Campos. Em 1932, ele propôs a reforma do ensino secundário e do ensino superior e, no ano seguinte, o movimento pela Escola Nova, chamado de Manifesto dos Pioneiros pela Educação Nova. Em 1934, foi promulgada a Constituição Federal (BRASIL, 1934) e, com ela, houve uma série de reformas na educação. Foi na Era Vargas que os estados perderam sua autonomia em relação à educação, a qual, até então, era de sua responsabilidade financeira e pedagógica, como já mencionado nos capítulos anteriores. Tal fato provocou o movimento pela Escola Nova, também amplamente discutido no Capítulo 3. Mas, apesar de tudo, a Era Vargas, mesmo dando nova configuração à educação, inclusive instituindo um ministério específico, ainda estava longe de ser o ideal, pois não foi possível implementar a política igualitária idealizada e proposta pelos “pioneiros da educação”. No entanto, para que o acesso ao ensino médio fosse garantido às classes menos favorecidas, foi criado o ensino médio profissionalizante. O foco desse nível de escolarização era a formação de mão de obra especializada para a indústria, o comércio e a agricultura, que geravam a economia brasileira da época. Isso acabou aguçando a classe trabalhadora (especialmente a classe metalúrgica de multinacionais instaladas no Brasil) à continuação dos estudos, por meio da possibilidade de cursar o ensino superior. Surgiu, então, em 1934, a Universidade de São Paulo (USP), criada de acordo com as normas do Estatuto das Universidades Brasileiras de 1931, instituído pelo Decreto n. 19.851, de 11 de abril de Estado, sociedade e educação 59 1931 (BRASIL, 1931), posteriormente revogado pelo Decreto n. 99.999, de 1991 (BRASIL, 1991b) e pelo Decreto de 5 de setembro de 1991 (BRASIL, 1991a). Paralelamente a isso, ocorreu a constituição das universidades criadas pelos estados, os quais, por sua vez, deveriam cumprir com as exigências do governo federal, instituídas por decretos que organizavam não apenas as universidades (Decreto n. 19.851/1931), mas também o ensino secundário (decretos n. 19.890/1931 e 21.241/1931), o ensino comercial e a profissão de contador (Decreto n. 20.158/1931). Especificamente em relação ao ensino secundário, o então Ministro da Educação, Francisco Campos, estabeleceu que nesse nível de ensino o currículo deveria ser seriado, e a frequência dos alunos às aulas, obrigatória. Ele propôs ainda a organização do ensino secundário em dois ciclos: o primeiro chamou de fundamental, o qual seria integralizado em cinco anos; e ao segundo deu o nome de complementar, com duração de dois anos, com o objetivo de preparar o aluno para o ensino superior nos seguintes segmentos: pré-jurídico, pré-médico e pré-politécnico (profissões que, à época, eram tidas como importantes e necessárias). No currículo dessa formação complementar estavam as disciplinas de Português, Francês, Inglês, Alemão, Latim, História da Civilização, Geografia, Matemática, Ciências Físicas e Naturais, Física, Química, História Natural e Desenho. A habilitação nesses ciclos era condicionante para o ingresso ao ensino superior. De acordo com Palma Filho (2005), a reforma proposta por Francisco Campos procurou igualar a qualidade da oferta de ensino secundário à proposta pedagógica do Colégio Pedro II, estendendo essa oportunidadeàs instituições escolares particulares desde que fossem inspecionadas. Para isso, o então ministro estabeleceu a figura do inspetor de ensino, conforme exposto na citação a seguir. Ainda, criou a inspeção federal e equiparou todos os estabelecimentos de ensino secundários oficiais ao Colégio Pedro II, dando a mesma oportunidade aos colégios secundários particulares, desde que se sujeitassem à inspeção federal recém-criada. Para isso, criou a carreira de inspetor de ensino; estabeleceu normas para o exercício da atividade docente e seu registro junto ao Ministério da Educação. (PALMA FILHO, 2005, p. 4) Em relação ao ensino primário, como ele era de competência exclusiva dos estados, não mereceu a atenção do ministério, que tinha o foco na classe social que contabilizava reais possibilidades de cursar o ensino superior. O foco elitizado dessa época do governo estava no estudo secundário, e, para o ingresso nessa “casta”, foi criado o exame de admissão, o qual consistia em uma avaliação bastante rígida que selecionava os melhores alunos para a continuação dos estudos e afastava uma grande parte dos estudantes das escolas secundárias mantidas pelo Poder Público. Até que Getúlio Vargas se tornasse presidente da República do Brasil, e com a Revolução Industrial movimentando o país de maneira diferente da que existia até então, a reforma educacional se manteve estática. Mas, com a criação do Ministério da Educação e Saúde, no início da Era Vargas, a escolarização do povo brasileiro se transformou, e a população conquistou mais acesso aos estudos, o que promoveu mais estabilidade de emprego, novos cargos e postos de trabalho, além da necessidade de formação específica. Políticas educacionais e organização da educação básica60 A escola cresceu tanto em número de matrículas como em quantidade de professores e funcionários. Inclusive, houve o desenvolvimento de novos cargos para que ficasse garantida a qualidade de ensino. O ensino especializado tomou corpo e foi ganhando campo, possibilitando cada vez mais a ingressão de alunos, mesmo com as dificuldades impostas com o intuito de elitizar o ingresso à formação superior. Surgiu, então, um novo Brasil, ainda tímido em suas iniciativas e mundialmente pouco encarado como competência produtiva industrial e intelectual. Mas descobriu-se um povo cheio de garra e vontade de crescer, em um caminho que já não tinha mais volta para o país. Logo, os governantes seguintes precisaram ser mais empreendedores, criativos, flexíveis e empenhados para fazer do Brasil uma nação melhor. Porém, apesar de todo o esforço do povo, Vargas, temendo um golpe comunista no Brasil, revogou a Constituição Federal de 1934. Juntamente com Francisco Campos, autor da redação, instituiu a nova Constituição Federal em 10 de novembro de 1937 (conhecida como Lei Polaca, por ter sido baseada na Constituição da Polônia). Era o chamado Golpe de Estado. Denominada Constituição Polaca, a Lei Maior centralizou e ampliou o poder do presidente, inclusive permitindo sua intervenção nos poderes Legislativo e Judiciário, a indicação dos governos estaduais e criação das diretrizes educacionais. As várias consequências desse texto legal – algumas delas repercutem até os dias atuais – tornaram-se motivos para o golpe militar de 1964. Na Constituição Federal de 1937, a educação é tratada do art. 128 ao 134. Ou seja, dos 11 artigos e seus parágrafos, incisos e alíneas sobre a educação contidos na Constituição de 1934, a então nova Lei Maior reduziu esse número para apenas sete. Com uma redação concisa e objetiva, a nova redação manteve o domínio do poder para o chefe de Estado, vinculando a educação à responsabilidade cívica e à economia, sem demonstrar preocupação com a educação pública, o que representou um grande retrocesso na educação brasileira. Art. 128. A arte, a sciencia e o ensino são livres á iniciativa individual e á de associações ou pessoas collectivas publicas e particulares [...]. Art. 129. A infancia e á juventude, a que faltarem os recursos necessarios á educação em instituições particulares, é dever da Nação, dos Estados e dos Municipios assegurar, pela fundação de instituições publicas de ensino em todos os seus gráos [...]. O ensino prevocacional profissional destinado ás classes menos favorecidas é, em materia de educação, o primeiro dever de Estado [...]. É dever das industrias e dos syndicatos economicos crear, na esphera da sua especialidade, escolas de aprendizes, destinadas aos filhos de seus operarios ou de seus associados [...] Art. 130. O ensino primario é obrigatorio e gratuito [...]. Art. 131. A educação physica, o ensino civico e o de trabalhos manuaes serão obrigatorios em todas as escolas primarias, normaes e secundarias [...]. Art. 132. O Estado fundará instituições ou dará o seu auxilio e protecção ás fundadas por associações civis, tendo umas e outras por fim organizar para a juventude periodos de trabalho annual nos campos e officinas, assim como promover-lhe a disciplina moral e o adestramento physico, de maneira a Estado, sociedade e educação 61 preparal-a ao cumprimento dos seus deveres para com a economia e a defesa da Nação. Art. 133. O ensino religioso poderá ser contemplado como materia do curso ordinario das escolas primarias, normaes e secundarias [...]. Art 134. Os monumentos historicos, artisticos e naturaes, assim como as paizagens ou os locaes particularmente dotados pela natureza, gozam da protecção e dos cuidados especiaes da Nação, dos Estados e dos Municipios. (BRASIL, 1937, grafia da época) O Estado Novo deixou de ser uma esperança e, com a Segunda Guerra Mundial, em 1939, a Era Vargas começou a declinar. Assim, o fim do Estado Novo e a retomada da democracia foram exigidos por meio da apresentação do Manifesto dos Mineiros. Vargas, que compreendia o que estava acontecendo no país, criou uma emenda constitucional que permitia a criação de partidos políticos e divulgou novas eleições para o ano de 1945. Dessa forma, em 1943 surgiram os seguintes partidos: Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e Partido Social Democrata (PSD), que receberam total apoio de Vargas; a União Democrática Nacional (UDN), que se opunha a Vargas; e o Partido Comunista Brasileiro (PCB), criado pelo então presidente. Em 1945, enfim, Vargas renunciou ao cargo por força das manifestações públicas e populares. Com isso, o Estado Novo se encerrou. Então, José Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), assumiu a presidência, e em dezembro de 1945 Eurico Gaspar Dutra foi eleito pelo pleito. Em 1950, Vargas foi reeleito democraticamente e fez um governo diferente do que havia sido apresentado até então. Porém, em 1954 cometeu suicídio. Seu vice, Café Filho, assumiu a presidência, mas foi afastado antes de terminar o mandato. Dessa forma, em 1956 Juscelino Kubitschek tomou posse, permanecendo até 1961. Na área educacional, ainda em 1942 o então Ministro da Educação Gustavo Capanema publicou diversos decretos-lei que demonstravam a intenção do Governo Vargas de estruturar o ensino técnico profissional. Assim, foi criado o Senai1. Para tanto, Vargas convocou os empresários para colaborar com esse novo modelo de escolarização profissionalizante. Os decretos-lei criados à época foram os seguintes: • Decreto-lei n. 4.073, de 30 de janeiro de 1942 (Lei Orgânica do Ensino Industrial) (BRASIL, 1942a); • Decreto-lei n. 4.048, de 22 de janeiro de 1942 (cria o Serviço Nacional de Aprendizagem dos Industriários – Senai) (BRASIL, 1942b); • Decreto-lei n. 4.244, de 9 de abril de 1942 (Lei Orgânica do Ensino Secundário) (BRASIL, 1942c); • Decreto-lei n. 6.141, de 28 de dezembro de 1943 (Lei Orgânica do Ensino Comercial) (BRASIL, 1943). 1 “O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) é um dos cinco maiores complexos de educação profissional do mundo e o maior da América Latina. Seus cursos formam profissionais para 28 áreas da indústria brasileira, desde a iniciação profissionalaté a graduação e pós-graduação tecnológica” (PORTAL DA INDÚSTRIA, 2019). Políticas educacionais e organização da educação básica62 Nessa época, o ensino secundário era dividido em dois níveis: ginásio e colégio (científico – ênfase nas Ciências Naturais; clássico – foco nas Humanidades), com duração de quatro e três anos, respectivamente. Os governos seguintes pouco fizeram para a educação. Assim, ficou a cargo do presidente João Goulart o sancionamento da primeira LDB, por meio da Lei n. 4.024, de 20 de dezembro de 1961, que indicava avanços ao permitir o acesso gratuito à educação pré-primária, diminuindo consideravelmente o índice de analfabetismo (BRASIL, 1961). Além disso, a administração escolar passou a ter uma melhor organização, e o currículo escolar foi uniformizado, medida que permitiu a igualdade na evolução cultural e intelectual em todo o território nacional. Infelizmente, com a ditadura militar, a partir de 1964, o magistério sofreu outra decadência. Os governos que vieram a partir de então engendraram esforços que desativaram o ensino, e os professores foram desvalorizados e desrespeitados, sofrendo queda nos salários e falta de estímulos para a formação e educação continuadas. Ou seja, a educação e o profissional da educação entraram em falência, e os recursos se tornaram insuficientes, causando maior estrago à educação brasileira. 4.2 Transformações da educação na sociedade contemporânea Há muitos anos, a educação brasileira vem sendo tema de campanhas políticas, tanto de candidatos à presidência da República como de vereadores de pequenos municípios espalhados por todo o país. Infelizmente, a maioria das promessas não sai do papel, e o discurso que justifica isso é sempre o mesmo: a verba é insuficiente para o desenvolvimento das políticas educacionais necessárias para a educação e a escolarização no Brasil. De qualquer forma, assim como em outros setores, a exemplo de saúde e segurança pública, a educação se reinventa a todo momento. Com isso, apesar dos baixos salários, da precariedade na infraestrutura e do sucateamento de muitas instalações físicas das escolas públicas, há uma força-tarefa entre os agentes educacionais, considerando corpos docentes, técnico-administrativos, entre outras figuras igualmente importantes para a educação. Todos se empenham diuturnamente para que a qualidade de oferta esteja em constante aperfeiçoamento, garantindo um aprendizado mais eficaz e efetivo para uma população que precisa e anseia por um país melhor. As metas objetivadas pelos apelos políticos podem ser observadas em toda a legislação do governo federal desde a Constituição. Porém, sempre há muitas dificuldades para o desenvolvimento dos projetos que se baseiam em tais metas. De toda forma, para fazer cumprir o que estava disposto nas constituições brasileiras, em um esforço para demonstrar preocupação com a formação intelectual do povo brasileiro, Getúlio Vargas, à época de seu governo, instalou a Assembleia Constituinte, que tinha como função a elaboração da Constituição de 1934. Assim, pela primeira vez, determinou-se a criação do Plano Nacional de Educação (PNE), conforme exposto na Lei Maior daquele ano: “Art 150. Compete à União: a) fixar o plano nacional de educação, comprehensivo do ensino de todos os graus e ramos, communs e especializados; e coordenar e fiscalizar a sua execução, em todo o território do paiz” (BRASIL, 1934, grafia da época). Estado, sociedade e educação 63 O PNE foi reforçado na Constituição de 1937, ignorado na Constituição de 1946 e mencionado novamente na Emenda Constitucional n. 1, de 17 de outubro de 1969: “Art. 8º. Compete à União: [...] d) prover a censura de diversões públicas; [...] XIV - estabelecer e executar planos nacionais de educação e de saúde, bem como planos regionais de desenvolvimento” (BRASIL, 1969). No entanto, somente com a atual Constituição, de 1988, é que o PNE tomou forma definitivamente. Assim, em 2001, foi sancionada a Lei n. 10.172, de 9 de janeiro de 2001, que aprovou o PNE para o período de dez anos: “Art. 1º Fica aprovado o Plano Nacional de Educação, constante do documento anexo, com duração de dez anos” (BRASIL, 2001). Na época, foi preciso rever as práticas pedagógicas, na intenção de possibilitar o alcance das metas contidas no documento. Porém, não foi possível vislumbrar seu sucesso. Dessa forma, um novo documento, mais conciso, foi elaborado, amplamente analisado e remodelado por uma Comissão Especial criada exclusivamente para esse fim, o que deu origem ao último PNE2, implementado a partir de 2014 com vigência até 2024, por meio da Lei n. 13.005, de 25 de junho de 2014 (BRASIL, 2014). Esse breve histórico sobre a legislação, e especialmente a respeito do Plano Nacional de Educação (PNE), teve por objetivo contextualizar o estudo sobre as transformações da educação na sociedade contemporânea, que é o nosso tema de estudo. Para alcançar as metas determinadas no PNE 2014-2024, as práticas pedagógicas têm sido revistas, analisadas, discutidas e inovadas, a fim de atender aos anseios da sociedade contemporânea, que vê na educação a possibilidade de desenvolvimento econômico, político e social. Assim, a intenção é promover caminhos para que a escola tenha na aprendizagem e na construção do conhecimento sua razão e sentido, como citam Wittmann e Kliplel (2010, p. 81): a razão e o sentido da escola é a aprendizagem. O processo de (re) construção do conhecimento é o próprio objetivo do trabalho educativo. Portanto, o centro e o eixo da escola é a aprendência, única razão de ser. Todas as atividades dessa instituição só fazem sentido quando centradas na (re) construção do conhecimento, na aprendizagem e na busca. Um dos fatores que deu início à revisão da pedagogia na história da educação brasileira foi, sem dúvida, a globalização, que provocou um grande avanço em todos os setores no mundo todo. O advento da internet e das redes sociais, bem como a facilidade de acesso por equipamentos móveis, transformou não apenas a vida das pessoas, que independentemente do lugar onde estejam podem se manter sempre atualizadas, mas, principalmente, a educação, que também permanece sendo atualizada em qualquer tempo e lugar. É possível, inclusive, que a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino-aprendizagem de qualquer grau de instrução educacional (educação básica ou ensino superior) ocorra por intermédio das tecnologias de informação e comunicação (TICs), sem que seja necessário sair de casa, conforme dispõe o § 1º do art. 80 da atual LDB (BRASIL, 1996), que avaliza a oferta de educação a distância (EaD). 2 Todo o estudo sobre a trajetória do PNE está no Capítulo 3. Políticas educacionais e organização da educação básica64 Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada. § 1º A educação a distância, organizada com abertura e regime especiais, será oferecida por instituições especificamente credenciadas pela União. A atual legislação que regulamenta essa modalidade de ensino é o Decreto n. 9.057, de 25 de maio de 2017 (BRASIL, 2017). É também por meio dessa revolução tecnológica que o desenvolvimento científico ganhou propulsão, e isso, obviamente, refletiu na forma como a sociedade se comporta e se manifesta. Nessa direção, os estudos científicos propiciam signi- ficativos avanços em todas as áreas de conhecimento; as pesquisas da área de saúde, por exemplo, estão mais eficientes e os resultados são obtidos mais rapidamente, devido ao desenvolvimento de métodos mais avançados e inovadores e de tecnologias que se renovam constantemente. Na educação, embora já tenhamos obtido muitos avanços, ainda há muito a ser feito, pois, no Brasil, o processo educativo requer constante atualização e adaptação, o que demanda uma melhor distribuição de recursos, algo que ainda é muito incipiente nas políticas públicasdo país. A capacitação continuada dos professores e agentes educacionais é o melhor caminho para a obtenção de uma escola mais afinada às novas tendências mundiais – o que perfaz outro problema de ordem econômica que se instala na educação. É o que manifesta Machado (2000), ao relativizar o que existe entre o discurso político e a efetividade dos investimentos nas escolas. A intenção é que tais espaços sejam, realmente, veículos de transformação social para o desenvolvimento da educação e do conhecimento do sujeito, que estuda e aprende para fazer parte de uma sociedade globalizada. Nesse sentido, apregoa-se que o aprendizado não seja meramente preparatório para exames, sem significância para os projetos de vida dos estudantes. Ainda que a Educação constitua um dos temas favoritos das autoridades políticas, nos mais variados países, poucas vezes os debates sobre as questões educacionais conseguem ultrapassar o âmbito de sua dimensão econômica, limitando-se a uma parafernália de indicadores numéricos de diferentes tipos. E enquanto a economia sufoca a Filosofia, a escola permanece reduzida a uma cultura utilitarista no sentido mais mesquinho, de preparação para exames, cujos resultados expressam algo cada vez mais difícil de interpretar. (MACHADO, 2000, p. 64) Se o projeto de vida do indivíduo é o que importa na construção do conhecimento, que pode e deve ser desenvolvido nas instituições escolares, podemos afirmar que tal ideal ainda está em processo de desenvolvimento e precisa de muita reflexão e ações de todos – e não apenas governamentais –, a fim de que a escola ideal surja em algum momento e constitua o veículo de transformação da sociedade, centrada na vida e no bem-estar de cada indivíduo, como expõe Gadotti (2003, p. 3): a educação, para ser transformadora, emancipadora, precisa estar centrada na vida, ao contrário da educação neoliberal que está centrada na competitividade, sem solidariedade. Para ser emancipadora a educação precisa considerar as pessoas, suas culturas, respeitar o modo de vida das pessoas, sua identidade. Percebemos, portanto, que a educação e a política são inseparáveis e que as práticas educativas devem receber especial atenção nas reflexões cotidianas, tanto dos agentes educacionais como dos órgãos governamentais. Estado, sociedade e educação 65 Significativamente, a educação transforma a sociedade. É justamente por isso que se faz necessário pensá-la e repensá-la diariamente, para que os desenvolvimentos individual e social tenham o mesmo ânimo, conforme opinião de Schafranski (2005, p. 109): as transformações científicas, políticas, econômicas, culturais e sociais, que ocorrem em nível mundial, estão a exigir o repensar da educação e das escolas, pois os paradigmas que têm dado sustentação às práticas educacionais não têm sido capazes de propiciar um desenvolvimento individual e social equânime, podendo-se verificar o aumento da miséria, da exclusão social, do individualismo, da competitividade, que estão a segregar indivíduos, grupos e nações. (SCHAFRANSKI, 2005, p. 109) A professora e doutora Rosângela Florczak, em seu artigo “O lugar da comunicação na gestão educacional: dimensões possíveis e riscos de incomunicação”, demonstra a importância do diálogo entre a pedagogia, a gestão, a política e a cultura: a comunicação conquista um novo lugar no contexto organizacional se for compreendida pela possibilidade relacional. Em relação dialógica com a gestão educacional, poderá contribuir na produção de sentido dos novos elementos que se incorporam ao universo educacional, no estabelecimento e na manutenção do diálogo imprescindível entre pedagógico, administrativo, político e cultural e no compartilhamento de conhecimento e de vivências que poderão produzir o saber específico para cada organização educacional. (FLORCZAK, 2011, p. 7) Essa abordagem demonstra a necessidade de haver comunicação entre os setores, para que haja um desenvolvimento significativo da sociedade. Esse desenvolvimento poderá partir da escola, desde que sua gestão (englobando gestão escolar e política) seja aberta ao diálogo, próspera em mudanças e suscetível às inovações. Não é possível transformar uma sociedade, por qualquer meio, sem que exista uma vontade política envolvendo setores, organizações e pessoas. A partir da revolução educacional que objetiva estagnar a exclusão social e o individualismo, transformando a competitividade em metas e objetivos a serem perseguidos em conjunto, torna-se possível perceber a mudança de comportamento de uma população que não se deixa mais levar pelos aspectos externos, mas sim que busca conteúdo, não se ilude com grandiosos discursos e foca na essência deles, acredita na igualdade e, por isso, exercita continuamente o respeito e aprende com as diferenças. As transformações da educação na sociedade contemporânea brasileira têm sido significativas, especialmente no que diz respeito ao comportamento. Tal fato decorre das práticas de pensar e repensar a escola, a formatação de uma gestão inovadora e democrática, bem como as políticas públicas para a educação. 4.3 Trajetória histórica da formação docente O trabalho de um professor é não só reflexo de sua formação e de sua experiência adquirida ano a ano dentro das salas de aula, mas também de estudos e pesquisas que projetam seu desempenho, garantindo melhores e maiores cargos na esfera educacional. Sob essa ótica, podemos dizer que a formação do indivíduo está relacionada à postura docente tanto quanto a formação familiar, pois, de uma maneira ou de outra, os professores exercem uma Políticas educacionais e organização da educação básica66 grande influência na vida das pessoas. Quem nunca mencionou algum professor durante uma conversa? Fazemos isso da mesma forma que mencionamos o pai, a mãe, os avós, os tios, os irmãos, os primos. Enfim, as pessoas que, de algum modo, foram ou são significativas em nossas vidas. Há nisso uma importante preocupação, considerando que o professor não tem vínculo afetivo familiar com seus alunos – no máximo, esse vínculo é amigável o suficiente para manter uma relação salutar dentro e fora da sala de aula. Por isso mesmo, é importante que sua formação seja adequada, atualizada e constante. Historicamente, a formação do professor no Brasil teve início no século XIX, com a criação da primeira Escola Normal de formação de professores, no Rio de Janeiro. Conforme Saviani (2009), outras escolas dessa natureza foram criadas em diversos estados do país, na seguinte ordem: “Bahia, 1836; Mato Grosso, 1842; São Paulo, 1846; Piauí, 1864; Rio Grande do Sul, 1869; Paraná e Sergipe, 1870; Espírito Santo e Rio Grande do Norte, 1873; Paraíba, 1879; Rio de Janeiro (DF) e Santa Catarina, 1880; Goiás, 1884; Ceará, 1885; Maranhão, 1890” (SAVIANI, 2009, p. 144). O autor ainda distingue a trajetória da formação de professores no Brasil nos seguintes períodos: 1. Ensaios intermitentes de formação de professores (1827-1890). Esse período se inicia com o dispositivo da Lei das Escolas de Primeiras Letras, que obrigava os professores a se instruir no método do ensino mútuo, às próprias expensas; estende-se até 1890, quando prevalece o modelo das Escolas Normais. 2. Estabelecimento e expansão do padrão das Escolas Normais (1890-1932), cujo marco inicial é a reforma paulista da Escola Normal tendo como anexo a escola-modelo. 3. Organização dos Institutos de Educação (1932-1939), cujos marcos são as reformas de Anísio Teixeira no Distrito Federal, em 1932, e de Fernando de Azevedo em São Paulo, em 1933. 4. Organização e implantação dos Cursos de Pedagogia e de Licenciatura e consolidação do modelo das Escolas Normais (1939-1971). 5. Substituição da Escola Normal pela Habilitação Específica de Magistério (1971-1996). 6. Advento dos Institutos Superiores de Educação, Escolas Normais Superiores e o novo perfil do Curso de Pedagogia (1996-2006). (SAVIANI, 2009, p. 142-143) As primeiras EscolasNormais intencionavam uma formação específica, segundo a qual os alunos por elas formados deveriam dominar apenas os conteúdos das disciplinas que ministrariam. Contudo, tais instituições não se preocupavam em capacitar os futuros professores com competências didático-pedagógicas. “Portanto, o que se pressupunha era que os professores deveriam ter o domínio daqueles conteúdos que lhes caberia transmitir às crianças, desconsiderando-se o preparo didático-pedagógico” (SAVIANI, 2009, p. 144). Como tais escolas eram incipientes nos conteúdos para a formação docente, uma reforma para esse fim se tornou inevitável e veio por meio da chamada Reforma Paulista da Escola Normal – também conhecida como Reforma da Instrução Pública do Estado de São Paulo (1890). Estado, sociedade e educação 67 Seus reformadores alegaram que “sem professores bem preparados, praticamente instruídos nos modernos processos pedagógicos e com cabedal científico adequado às necessidades da vida atual, o ensino não pode ser regenerado e eficaz” (SAVIANI, 2009, p. 145). A reforma da Escola Normalista se deu com a liderança de Caetano de Campos3, diretor da Escola Normal. De acordo com Teixeira (2012, p. 98), essa reforma “possibilitou a utilização de novos métodos de ensino e a formação de professores normalistas para a expansão da rede pública estadual”. Além de encabeçar a reforma no ensino, Campos criou a Escola Modelo de ensino primário, localizada na Praça da República, na cidade de São Paulo. Caetano de Campos não só realizou a grande reforma no ensino como também criou a Escola Modelo, em uma época na qual, para estudarem, as crianças tinham que frequentar a casa de professores se quisessem ter o ensino básico. Com a criação da Associação Nacional de Educação (ABE), em outubro de 1924, teve início a organização da educação brasileira. Considerando o entendimento dos reformadores, segundo Saviani (2009, p. 145), “sem assegurar de forma deliberada e sistemática por meio da organização curricular a preparação pedagógico-didática, não se estaria, em sentido próprio, formando professores”. Já na década de 1930, com as transformações políticas, econômicas e sociais causadas pela crise internacional, juntamente com o golpe de Estado de Getúlio Vargas, iniciou-se uma nova reforma educacional, agora com o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932, já mencionado anteriormente, que deu ao cenário educacional novo fôlego, trazendo à tona uma nova discussão sobre a formação de professores. Dessa vez, o enfoque estava na formação do professor em nível superior. O magistério primário, preparado em escolas especiais (escolas normais), de caráter mais propedêutico, e, às vezes misto, com seus cursos geral e de especialização profissional, não recebe, por via de regra, nesses estabelecimentos, de nível secundário, nem uma sólida preparação pedagógica, nem a educação geral em que ela deve basear-se. A preparação dos professores, como se vê, é tratada entre nós, de maneira diferente, quando não é inteiramente descuidada, como se a função educacional, de todas as funções públicas a mais importante, fosse a única para cujo exercício não houvesse necessidade de qualquer preparação profissional. Todos os professores, de todos os graus, cuja preparação geral se adquirirá nos estabelecimentos de ensino secundário, devem, no entanto, formar o seu espírito pedagógico, conjuntamente, nos cursos universitários, em faculdades ou escolas normais, elevadas ao nível superior e incorporadas às universidades. (MANIFESTO..., 2006, p. 200). 3 “Antônio Caetano de Campos, médico e educador, nasceu em 17 de maio de 1844, na cidade de São João da Barra, Estado do Rio de Janeiro. De família pobre, seus primeiros anos foram de lutas e privações. Formou-se pela Escola de Medicina da antiga Corte, em 1867, participando como cirurgião da armada na Guerra do Paraguai. Em 1870, transferiu-se para São Paulo, conseguindo logo grande clientela. Ainda encontrava tempo para lecionar. Rangel Pestana, reconhecendo as altas qualidades de Caetano de Campos como educador, sugeriu a Prudente de Moraes, então presidente do Estado de São Paulo, sua nomeação para o cargo de diretor da Escola Normal. O médico Caetano de Campos, diretor da Escola Normal de São Paulo, entre janeiro de 1890 e 1891, lançou a pedra fundamental do prédio que levaria seu nome, onde o curso normal iniciava a mulher para o mercado de trabalho, fornecendo-lhe alguma cultura geral sem dispensar os trabalhos manuais” (BEGLIOMINI, 2019, p. 1). Políticas educacionais e organização da educação básica68 Ainda na década de 1930 e até o final dela, outros movimentos ocorreram, alavancando o ideário para a formação de professores. Sendo assim, foram criados os institutos de educação, os quais, de acordo com Saviani (2009, p. 145), foram “concebidos como espaços de cultivo da educação, encarada não apenas como objeto do ensino, mas também da pesquisa”. No Brasil, os primeiros institutos de educação foram instalados por Anísio Teixeira, em 1932, no Distrito Federal, e em 1933, em São Paulo. Respectivamente, seus diretores foram Lourenço Filho e Fernando Azevedo. Os institutos de educação foram criados seguindo o modelo da Escola Nova, que buscava a formação com base no conhecimento científico, com o objetivo de formar para a docência por meio de métodos didático-pedagógicos, mas humanísticos e com viés para a pesquisa. Por essa premissa, seria possível levar às escolas primárias profissionais mais bem preparados e capazes de pensar no modo de fazer a educação. E, para que isso ocorresse da forma idealizada no Manifesto dos Pioneiros, de acordo com Saviani (2009, p. 145-146), as disciplinas a serem estudadas nos cursos de formação de professores incluíam desde o primeiro ano: 1) biologia educacional; 2) sociologia educacional; 3) psicologia educacional; 4) história da educação; 5) introdução ao ensino, contemplando três aspectos: a) princípios e técnicas; b) matérias de ensino abrangendo cálculo, leitura e linguagem, literatura infantil, estudos sociais e ciências naturais; c) prática de ensino, realizada mediante observação, experimentação e participação. Como suporte ao caráter prático do processo formativo, a escola de professores contava com uma estrutura de apoio que envolvia: a) jardim de infância, escola primária e escola secundária, que funcionavam como campo de experimentação, demonstração e prática de ensino; b) instituto de pesquisas educacionais; c) biblioteca central de educação; d) bibliotecas escolares; e) filmoteca; f) museus escolares; g) radiodifusão. Sob essa ótica, foi promulgado o Decreto-lei n. 8.530, de 2 de janeiro de 1946, conhecido como Lei Orgânica do Ensino Normal (BRASIL, 1946), que deu legitimidade à oferta de cursos normal, organizou o curso de formação de professores em etapas de formação para cada grau de instrução, além de capacitar à administração escolar, conforme exposto no trecho a seguir: Art. 1º O ensino normal, ramo de ensino do segundo grau, tem as seguintes finalidades: 1. Prover à formação do pessoal docente necessário às escolas primárias. 2. Habilitar administradores escolares destinados às mesmas escolas. 3. Desenvolver e propagar os conhecimentos e técnicas relativas à educação da infância. [...] Art. 2º O ensino normal será ministrado em dois ciclos. O primeiro dará o curso de regentes de ensino primário, em quatro anos, e o segundo, o curso de formação de professôres primários, em três anos. Art. 3º Compreenderá, ainda o ensino normal cursos de especialização para professôres primários, e cursos de habilitação para administradores escolares do grau primário. (BRASIL, 1946, grafia da época) O mesmo decreto delimitou os estabelecimentos para o ensino de formação de professores: Art. 4º Haverá três tipos de estabelecimentos de ensino normal: o curso normal regional, a escola normal e o instituto de educação. Estado, sociedade e educação 69 § 1º Curso normal regionalserá o estabelecimento destinado a ministrar tão somente o primeiro ciclo de ensino normal. § 2º Escola normal será o estabelecimento destinado a dar o curso de segundo ciclo desse ensino, e ciclo ginasial do ensino secundário. § 3º Instituto de educação será o estabelecimento que, além dos cursos próprios da escola normal, ministre ensino de especialização do magistério e de habilitação para administradores escolares do grau primário. § 4º Os estabelecimentos de ensino normal não poderão adotar outra denominação senão as indicadas no artigo anterior, na conformidade dos cursos que ministrarem. Parágrafo único. É vedado a outros estabelecimentos de ensino o uso de tais denominações, bem como o de nomes que incluam as expressões normal, pedagógico e de educação. (BRASIL, 1946) Os institutos criados pelo mesmo decreto deveriam abrigar também: Art. 47. Todos os estabelecimentos de ensino normal manterão escolas primárias anexas para demonstração e prática de ensino. § 1º Cada curso normal regional deverá manter, pelo menos, duas escolas primárias isoladas. § 2º Cada escola normal manterá um grupo escolar. § 3º Cada instituto de educação manterá um grupo escolar e um jardim de infância. Art. 48. Além das escolas primárias referidas no artigo anterior, cada escola normal e cada instituto de educação deverá manter um ginásio, sob regime de reconhecimento oficial. (BRASIL, 1946) Além disso, tais institutos deveriam capacitar os alunos à ministração de aulas: “Art. 10. Os cursos de especialização de ensino normal compreenderão os seguintes ramos: educação pré- -primária; didática especial do curso complementar primário; didática especial do ensino supletivo; didática especial de desenho e artes aplicadas; didática especial de música e canto” (BRASIL, 1946). A administração escolar também foi determinada no decreto: “Art. 11. Os cursos de administradores escolares do grau primário visarão habilitar diretores de escolas, orientadores de ensino, inspetores escolares, auxiliares estatísticos e encarregados de provas e medidas escolares” (BRASIL, 1946). Com a Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971 (BRASIL, 1971), os ensinos primário e médio ganharam uma nova denominação, passando para primeiro grau e segundo grau. E foi com o Parecer n. 349/1972 que ficou estabelecida a habilitação para o magistério em duas modalidades: uma teria a duração de três anos, com carga horária de 2.200 horas, para ministração de aulas até a 4ª série; e a outra contaria com duração de quatro anos e carga horária de 2.900 horas, para a ministração de aulas até a 6ª série do 1º grau (BRASIL, 1972). Assim, teve início o currículo mínimo, que deveria ser aplicado em todo o território nacional, como explica Saviani (2009, p. 147): “O currículo mínimo compreendia o núcleo comum, obrigatório em todo o território nacional para todo o ensino de 1º e 2º graus, destinado a garantir a formação geral; e uma parte diversificada, visando à formação especial”. Políticas educacionais e organização da educação básica70 Apesar de indicar uma organização na formação de professores, muitos problemas foram identificados nessa formatação de curso preparatório para professores, o que forçou o governo a criar os Centros de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério (Cefams), em 1982. O objetivo desses centros era resgatar o caráter específico de formação de professores em nível médio. No entanto, mesmo com a evidência de bons resultados, o projeto não vingou. Os alunos, em sua maioria do sexo feminino, teriam que estudar por quatro anos em período integral, o que inviabilizava a frequência, já que muitos precisavam trabalhar para colaborar com a renda familiar que vinha se degradando dentro de uma política capitalista instalada no país. Mais uma vez, a educação se viu em dificuldades para a formação dos docentes e, obviamente, a demanda nas escolas seguia crescendo, uma vez que a população tendia a aumentar proficuamente. Foi por meio da Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971, que se vislumbrou a formação do professor para a escola básica nos cursos de nível superior, como explica Saviani (2009, p. 147): em cursos de licenciatura curta (3 anos de duração) ou plena (4 anos de duração). Ao curso de Pedagogia, além da formação de professores para habilitação específica de Magistério (HEM), conferiu-se a atribuição de formar os especialistas em Educação, aí compreendidos os diretores de escola, orientadores educacionais, supervisores escolares e inspetores de ensino. No final da primeira metade da década de 1990, teve início um grande movimento pela reforma da LDB, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Juntamente com o Ministro da Educação Paulo Renato, promoveu-se um grande estudo das diretrizes para a educação brasileira. Toda a comunidade acadêmica, especialmente o professorado atuante das classes primárias – pré-escola, atual educação infantil (EI); primário (da 1ª à 8ª série), atual ensino fundamental (do 1º ao 9º ano); e colegial ou científico, atual ensino médio –, foi convidada a participar da reforma. Esse estudo culminou na promulgação da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (BRASIL, 1996), a qual foi amplamente divulgada nos anos seguintes, sofrendo modificações que vieram para melhorar e viabilizar sua implementação. A nova LDB modificou a estrutura do ensino, deu nova nomenclatura aos ciclos de aprendizagem, trouxe a possibilidade de criação de novas faculdades, popularizando a formação superior, promoveu a oferta de educação a distância, entre outras providências igualmente importantes. Em relação à formação de professores, em seu art. 63, a LDB criou os Institutos Superiores de Educação (IES): Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão: I - cursos formadores de profissionais para a educação básica, inclusive o curso normal superior, destinado à formação de docentes para a educação infantil e para as primeiras séries do ensino fundamental; II - programas de formação pedagógica para portadores de diplomas de educação superior que queiram se dedicar à educação básica; III - programas de educação continuada para os profissionais de educação dos diversos níveis. (BRASIL, 1996) Estado, sociedade e educação 71 Porém, tal criação não logrou êxito, e a Lei n. 12.796, de 4 de abril 2013, alterou a LDB, com a seguinte redação: Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos 5 (cinco) primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio na modalidade normal. (BRASIL, 2013) Os institutos de educação, apesar de terem sido criados para a formação de professores da escola básica, apresentam características de escolas de segunda categoria, como comenta Saviani (2009, p. 148): a nova LDB promulgada, após diversas vicissitudes, em 20 de dezembro de 1996, não correspondeu a essa expectativa. Introduzindo como alternativa aos cursos de pedagogia e licenciatura os institutos superiores de educação e as Escolas Normais Superiores, a LDB sinalizou para uma política educacional tendente a efetuar um nivelamento por baixo: os institutos superiores de educação emergem como instituições de nível superior de segunda categoria, provendo uma formação mais aligeirada, mais barata, por meio de cursos de curta duração. A LDB também contemplou a educação para pessoas com necessidades especiais em seu cap. V: Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. (BRASIL, 1996) E, para o atendimento a esse público, a lei prevê, no art. 59, a formação de professores com especialidades específicas e adequadas:Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação: [...] III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; (BRASIL, 1996) Em 2006, o MEC, por meio da Resolução CNE/CP n. 1, de 15 de maio de 2006, instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Pedagogia. Embora essa resolução não estipule a extinção dos cursos normais superiores para a formação de professores do ensino básico, o art. 2º indica que a formação para esse profissional se dará em cursos de Pedagogia: Art. 2º As Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia aplicam-se à formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. (BRASIL, 2006) Políticas educacionais e organização da educação básica72 A partir de então, os cursos de Pedagogia começaram a se fortalecer por todo o país, e a formação de professores ficou mais expressiva, fazendo com que surgisse mais procura pelo curso e, evidentemente, mais profissionais devidamente formados. Mais recentemente, por meio da Resolução n. 2, de 1º de julho de 2015, o MEC definiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, de formação pedagógica para graduados e de segunda licenciatura) e para a formação continuada. Com ela, o órgão revogou as demais legislações relacionadas à formação de professores desde 1997: Art. 25. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário, em especial a Resolução CNE/CP nº 2, de 26 de junho de 1997, a Resolução CNE/CP nº 1, de 30 de setembro de 1999, a Resolução CNE/CP nº 1, de 18 de fevereiro de 2002 e suas alterações, a Resolução CNE/ CP nº 2, de 19 de fevereiro de 2002 e suas alterações, a Resolução nº 1, de 11 de fevereiro de 2009, e a Resolução nº 3, de 7 de dezembro de 2012. (BRASIL, 2015) Dessa forma, podemos dizer que a formação de professores sempre foi uma preocupação no país, salvos alguns atos políticos que só esmeravam vantagens, o que era de se esperar da classe governamental em um país em desenvolvimento. Atualmente, para alcançar as metas do PNE, o MEC está empreendendo grandes esforços, especialmente no que tange à avaliação dos processos avaliativos, como discutimos no capítulo anterior. Além disso, a análise avaliativa dos cursos de graduação em licenciaturas e inclusive em Pedagogia tem sido alvo de rigorosas inspeções, na tentativa de assegurar uma formação que garanta a melhor oferta de educação básica, especialmente nas escolas públicas. O sonho de um povo cada vez mais capacitado por meio da educação está mais próximo de se concretizar, e a formação do professor é o início para essa finalidade. Considerações finais Com o objetivo de promover a reflexão sobre Estado, sociedade e educação, este capítulo abordou a trajetória das reformas na educação, trazendo informações a respeito das legislações que trataram do tema, bem como os pontos importantes na história política brasileira que refletiram na evolução educacional, além de alguns comentários a respeito dessa temática. Ampliando seus conhecimentos Artigos: • ZOIA, G. F.; ZANARDINI, I. M. S. As implicações da reforma do Estado brasileiro para a reforma da educação e da gestão escolar. Rev. Teoria e Prática da Educação, v. 19, n. 3, p. 107-116, 2016. Disponível em: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/TeorPratEduc/ article/download/36625/pdf. Acesso em: 22 jul. 2019. Estado, sociedade e educação 73 Este artigo, o qual versa sobre a reforma da educação e da gestão escolar, é muito interessante para a complementação dos assuntos abordados neste capítulo, porque propicia a compreensão das implicações da reforma do Estado brasileiro na educação básica e na gestão educacional, permitindo o estabelecimento de parâmetros comparativos na evolução das reformas da educação do século XX em comparação com as atuais. • SAVIANI, D. Formação de professores: aspectos históricos e teóricos do problema no contexto brasileiro. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 14, n. 40, p. 143-155, 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v14n40/v14n40a12.pdf. Acesso em: 22 jul. 2019. Dermeval Saviani é um dos escritores contemporâneos mais citados em trabalhos acadêmicos da área educacional. Nesse texto, que merece ser lido com muita atenção, o autor aborda a temática discutida neste capítulo. Apesar de ter sido escrito em 2009, o texto apresenta conceitos que são de suma importância para quem está se licenciando. Atividades 1. Em que momento da história o Senai foi criado e com qual finalidade? 2. A atual LDB dispõe sobre a formação do profissional de educação para a ministração de aulas e para a gestão escolar. Como esse texto legal orienta que seja a formação desse profissional? 3. Como era organizada a educação escolar até o ano de 1996? A organização escolar atualmente está instalada conforme a redação original da Lei n. 9.394/1996? De que forma? Referências BEGLIOMINI, H. Antônio Caetano de Campos. Disponível em: https://academiamedicinasaopaulo.org.br/ biografias/16/BIOGRAFIA-ANTONIO-CAETANO-DE-CAMPOS.pdf. Acesso em: 24 jul. 2019. BRASIL. Decreto n. 19.851, de 11 de abril de 1931. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 15 abr. 1931. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-19851-11-abril-1931- 505837-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Constituição (1934). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 jul. 1934. Disponível em: https://www2. camara.leg.br/legin/fed/consti/1930-1939/constituicao-1934-16-julho-1934-365196-publicacaooriginal-1- pl.html. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Constituição (1937). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 10 nov. 1937. Disponível em: https:// www2.camara.leg.br/legin/fed/consti/1930-1939/constituicao-35093-10-novembro-1937-532849- publicacaooriginal-15246-pl.html. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Decreto-Lei n. 4.073, de 30 de janeiro de 1942. Coleção de Leis Brasileiras, Brasília, DF, 31 dez. 1942a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/1937-1946/Del4073.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. Políticas educacionais e organização da educação básica74 BRASIL. Decreto-Lei n. 4.048, de 22 de janeiro de 1942. Coleção de Leis Brasileiras, Brasília, DF, 1942b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/1937-1946/Del4048.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Decreto-Lei n. 4.244, de 9 de abril de 1942. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 1942c. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/Del4244.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Decreto-Lei n. 6.141, de 28 de dezembro de 1943. Coleção de Leis Brasileiras, Brasília, DF, 31 dez. 1943. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-6141-28- dezembro-1943-416183-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Decreto-Lei n. 8.530, de 2 de janeiro de 1946. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 4 jan. 1946. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-8530-2- janeiro-1946-458443-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 27 dez. 1961. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4024.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Emenda Constitucional n. 1, de 17 de outubro de 1969. Diário Oficial da União,Poder Legislativo, Brasília, DF, 20 out. 1969. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_ anterior1988/emc01-69.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 12 ago. 1971. Disponível em: http://legis.senado.leg.br/norma/547565/publicacao/15714278. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer n. 346, de 6 de abril de 1972. Relatora: Maria Terezinha Tourinho Saraiva. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 7 abr. 1972. Disponível em: http://siau.edunet.sp.gov.br/ItemLise/arquivos/notas/parcfe349_72.htm. Acesso em: 24 jul. 2019. BRASIL. Constituição (1988). 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Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2 jul. 2015. Disponível em: http://pronacampo.mec.gov.br/images/pdf/res_cne_cp_02_03072015.pdf. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Decreto n. 9.057, de 25 de maio de 2017. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 26 maio 2017. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9057. htm#art24. Acesso em: 12 jul. 2019. FLORCZAK, R. O lugar da comunicação na gestão educacional: dimensões possíveis e riscos de incomunicação. Caderno Marista de Educação, v. 8, p. 25-35, 2011. GADOTTI, M. Boniteza de um sonho: ensinar-e-aprender com sentido. Novo Hamburgo: Feevale, 2003. MACHADO, N. J. Educação: projetos e valores. São Paulo: Escrituras Editoras, 2000. (Coleção Ensaios Transversais). MANIFESTO DOS PIONEIROS. O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932). Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n. Especial, p. 188-204, ago. 2006. 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Acesso em: 22 jul. 2019. 5 Financiamento educacional brasileiro Este capítulo oferece subsídios para o conhecimento relacionado aos investimentos na educação básica e demonstra os mecanismos que baseiam a distribuição das receitas, especialmente no que se refere aos índices de evolução de acordo com as estratégias contidas na Meta 20 do Plano Nacional de Educação (PNE). É de suma importância que os profissionais do magistério tenham conhecimento do plano econômico-financeiro governamental, pois, como profissional, é preciso conhecer as leis que regem a profissão, a origem dos recursos para a efetivação da oferta da educação pública e como é composto seu salário, desde a fonte de arrecadação até a forma de cálculo. Além disso, neste capítulo será possível conhecer toda a legislação que organiza, regimenta e regulamenta a arrecadação, distribuição, forma de repasse e os índices da educação, bem como de que forma estes são compostos. Ainda que os textos aqui expostos pareçam suficientes para o seu conhecimento, não se limite a eles. Busque e pesquise mais informações a respeito dos conceitos trabalhados. Não pare de aprender em nenhum momento e lembre-se de que a legislação brasileira muda continuamente. 5.1 A Emenda Constitucional n. 95/2016 Com a Lei de Responsabilidade Fiscal sancionada em maio de 2000 (BRASIL, 2000), o Brasil passou a ter um novo comportamento no que se refere à economia. Entre as diversas metas estipuladas na referida lei, a prática de não gastar mais do que se arrecadar propiciou o pagamento de dívidas. Essa lei deveria prevalecer durante três anos. No entanto, não foi possível observar o cumprimento dessa meta, conforme expõe Fonsêca (2017, p. 6): “o que se viu foi a fragilização do Regime pela adoção de subterfúgios que permitiram ao Governo aumentar suas despesas”. Com o ocorrido, uma revisão na legislação foi urgentemente necessária. Assim, em outubro de 2016, uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) foi submetida ao Congresso Nacional, que em 15 de dezembro do mesmo ano promulgou a Emenda Constitucional n. 95 (BRASIL, 2016), tema de nosso estudo. Essa emenda instituiu o Novo Regime Fiscal (NRF), com limites para o gasto da União. A EC 95/2016 é composta de três artigos. O primeiro deles insere nove artigos (do 106 até o 114) ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) da Constituição Federal (BRASIL, 1988). O segundo trata da cláusula de vigência. Por fim, o terceiro revoga o art. 2º da Emenda Constitucional n. 86, de 17 de março de 2015 (BRASIL, 2015), que estabelecia os limites mínimos de gastos com ações e serviços públicos de saúde.Art. 2º O disposto no inciso I do § 2º do art. 198 da Constituição Federal será cumprido progressivamente, garantidos, no mínimo: Políticas educacionais e organização da educação básica78 I - 13,2% (treze inteiros e dois décimos por cento) da receita corrente líquida no primeiro exercício financeiro subsequente ao da promulgação desta Emenda Constitucional; II - 13,7% (treze inteiros e sete décimos por cento) da receita corrente líquida no segundo exercício financeiro subsequente ao da promulgação desta Emenda Constitucional; III - 14,1% (quatorze inteiros e um décimo por cento) da receita corrente líquida no terceiro exercício financeiro subsequente ao da promulgação desta Emenda Constitucional; IV - 14,5% (quatorze inteiros e cinco décimos por cento) da receita corrente líquida no quarto exercício financeiro subsequente ao da promulgação desta Emenda Constitucional; V - 15% (quinze por cento) da receita corrente líquida no quinto exercício financeiro subsequente ao da promulgação desta Emenda Constitucional. (BRASIL, 2015) O art. 106, incluído no ADCT, institui o NRF, fixando a sua vigência em vinte anos a partir da data de sua promulgação. Os limites de gastos da União foram definidos no art. 107: “ficam estabelecidos, para cada exercício, limites individualizados para as despesas primárias” (BRASIL, 2016). No entanto, o art. 108 do ADCT propõe a possibilidade de um projeto de lei complementar ser elaborado pelo Presidente da República, a partir do décimo ano da vigência do NRF, a fim de modificar o método de correção dos limites de gastos. Com base nisso, só será admitida apenas uma alteração do método de correção dos limites por mandato presidencial. Art. 108. O Presidente da República poderá propor, a partir do décimo exercício da vigência do Novo Regime Fiscal, projeto de lei complementar para alteração do método de correção dos limites a que se refere o inciso II do § 1º do art. 107 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Parágrafo único. Será admitida apenas uma alteração do método de correção dos limites por mandato presidencial. (BRASIL, 2016) Com o receio da possível imobilização do Estado pelo largo período de vinte anos, o art. 109 fixa uma reduzida lista de vedações à ultrapassagem dos limites de gastos. Ele apregoa que, no caso de descumprimento de limite, exige-se que, até o final do exercício, as despesas retornem aos respectivos limites de gastos. Art. 109. No caso de descumprimento de limite individualizado, aplicam-se, até o final do exercício de retorno das despesas aos respectivos limites, ao Poder Executivo ou a órgão elencado nos incisos II a V do caput do art. 107 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias que o descumpriu, sem prejuízo de outras medidas, as seguintes vedações: I - concessão, a qualquer título, de vantagem, aumento, reajuste ou adequação de remuneração de membros de Poder ou de órgão, de servidores e empregados públicos e militares, exceto dos derivados de sentença judicial transitada em julgado ou de determinação legal decorrente de atos anteriores à entrada em vigor desta Emenda Constitucional; II - criação de cargo, emprego ou função que implique aumento de despesa; III - alteração de estrutura de carreira que implique aumento de despesa; Financiamento educacional brasileiro 79 IV - admissão ou contratação de pessoal, a qualquer título, ressalvadas as reposições de cargos de chefia e de direção que não acarretem aumento de despesa e aquelas decorrentes de vacâncias de cargos efetivos ou vitalícios; V - realização de concurso público, exceto para as reposições de vacâncias previstas no inciso IV; VI - criação ou majoração de auxílios, vantagens, bônus, abonos, verbas de representação ou benefícios de qualquer natureza em favor de membros de Poder, do Ministério Público ou da Defensoria Pública e de servidores e empregados públicos e militares; VII - criação de despesa obrigatória; e VIII - adoção de medida que implique reajuste de despesa obrigatória acima da variação da inflação, observada a preservação do poder aquisitivo referida no inciso IV do caput do art. 7º da Constituição Federal. (BRASIL, 2016) Contudo, é importante observar que as despesas com a saúde e a educação não estão incluídas nos limites a que se refere o caput e o § 1º do art. 107, pois elas são independentes e calculadas de modo específico, conforme o que prevê o art. 110 (BRASIL, 2016). A previsão orçamentária, prevista a partir de 2018, está no art. 111, o qual fixa o teto para emendas individuais, que passa a ser apenas “o montante de execução obrigatória para o exercício de 2017” (BRASIL, 2016). O modo de correção será o previsto no inciso II, § 1º, do art. 107, ou seja, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA): II - para os exercícios posteriores, ao valor do limite referente ao exercício imediatamente anterior, corrigido pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - IPCA, publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, ou de outro índice que vier a substituí-lo, para o período de doze meses encerrado em junho do exercício anterior a que se refere a lei orçamentária. (BRASIL, 2016) Nos termos do art. 112, o NRF estabelece que não há obrigação de pagamento futuro ou direto de quem quer que seja sobre o erário. Já o art. 113 constitucionaliza a regra prevista na Lei de Responsabilidade Fiscal (BRASIL, 2000), mas que praticamente se tornou letra vazia, devido ao seu descumprimento reiterado no processo legislativo: Art. 112. As disposições introduzidas pelo Novo Regime Fiscal: I - não constituirão obrigação de pagamento futuro pela União ou direitos de outrem sobre o erário; [...] Art. 113. A proposição legislativa que crie ou altere despesa obrigatória ou renúncia de receita deverá ser acompanhada da estimativa do seu impacto orçamentário e financeiro. (BRASIL, 2016) Por fim, o art. 114 estabelece que a proposição legislativa que acarrete aumento de despesa poderá ser suspensa por vinte dias, a requerimento de um quinto dos membros do Poder Legislativo, para análise da compatibilidade da proposição com o NRF: Art. 114. A tramitação de proposição elencada no caput do art. 59 da Constituição Federal, ressalvada a referida no seu inciso V, quando acarretar aumento de despesa ou renúncia de receita, será suspensa por até vinte dias, a requerimento de um quinto dos membros da Casa, nos termos regimentais, para análise de sua compatibilidade com o Novo Regime Fiscal. (BRASIL, 2016) A aprovação da Emenda Constitucional n. 95 (BRASIL, 2016) foi precedida de amplos debates, dentro e fora do Congresso Nacional, com manifestações tanto de correntes a favor quanto Políticas educacionais e organização da educação básica80 contrárias à sua promulgação. Os argumentos a favor evidenciaram a necessidade de fixação do teto de gasto, como salvação das contas públicas, em razão dos inegáveis e consistentes déficits primários que acarretaram efeitos danosos nas contas públicas ao longo dos últimos anos que antecederam a promulgação da EC n. 95. Por sua vez, os argumentos contrários enfatizaram o potencial enrijecimento dos limites para gastos sociais (especialmente em saúde e educação), ocasionando o prejuízo das classes menos favorecidas. Assim, evidencia-se que, se as receitas aumentarem, somente o Poder Executivo poderá se apropriar delas, visto que apenas a ele pertence as “cláusulas de escape” da despesa. Mas, em caso de queda, as limitações nos gastos (por exemplo, a necessidade de contingenciamento) recaem sobre todos os demais poderes e órgãos, que também são suscitados a participar do esforço fiscal preconizado no NRF. Os gastos com saúde e educação poderão, a depender das condições fiscais, duplicar, triplicar e/ou multiplicar durante os vinte anos de vigência do NRF, sem vedação constitucional para isso. Não haveria, portanto, proibição à abertura de crédito suplementar ou especial para essas despesas, independentementedo valor, tendo em vista a inexistência de teto para elas. Outro aspecto que merece destaque é a utilização de termos da legislação infraconstitucional e até regulamentar, tais como “despesa primária” e “despesa obrigatória” (BRASIL, 2016), os quais são desprovidos de definição conceitual inequívoca no âmbito jurídico e técnico-econômico, o que implica prejuízo na classificação das despesas, deixando-as ao sabor das circunstâncias. Os limites individualizados fixados pelo NRF não são tão rígidos, tampouco são facilmente detectáveis. Dessa forma, não é possível identificar precisamente os tetos para a elaboração e execução orçamentária. 5.2 As receitas e o destino dos recursos da educação A Conferência Nacional de Educação (Conae) de 2014, intitulada “O PNE na Articulação do Sistema Nacional de Educação: Participação Popular, Cooperação Federativa e Regime de Colaboração”, teve como um dos temas discutidos o “Financiamento da Educação, Gestão, Transparência e Controle Social dos Recursos” (CONAE, 2014, p. 91). No texto elaborado com base nessa conferência, encontramos o seguinte trecho, que descreve o objetivo dos investimentos na educação brasileira: O financiamento da educação é elemento estruturante para a organização e o funcionamento das políticas públicas educacionais e, desse modo, para materialização do SNE. Embora não seja fator suficiente, é condição necessária para a universalização do direito à educação pública de qualidade. (CONAE, 2014, p. 91) Se o que se apregoa é a oferta de educação de qualidade e gratuita, os investimentos para a efetivação de tal objetivo só poderão fazer sentido se existirem políticas públicas muito bem definidas para uma justa e efetiva distribuição dos recursos. Conforme discutimos no Capítulo 3, desde 1969 diversas ações têm acontecido para melhorar a distribuição de renda na educação brasileira. Atualmente, o órgão responsável por isso é Financiamento educacional brasileiro 81 o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que tem ampliado sua atuação na captação de recursos para investimento desde a educação infantil até o ensino médio, incluindo a educação de jovens e adultos. Esse fundo é regulamentado pela Lei n. 11.494, de 20 de junho de 2007 (BRASIL, 2007). O Fundeb é formado por 27 fundos “provenientes dos impostos e transferências dos estados, do Distrito Federal e municípios, vinculados à educação por força do art. 212 da Constituição Federal” (BRASIL, 2019a). Independentemente da origem dos recursos, toda a arrecadação vinculada ao Fundeb é direcionada exclusivamente à educação básica. Contudo, é possível receber alguns recursos da esfera federal, caso o Estado não alcance o índice mínimo definido nacionalmente por aluno. O Fundeb encerrou sua implementação em 2009 e terá vigência até 2020. Podemos concluir, portanto, que a distribuição de renda, apesar de não ser suficiente para suprir todas as necessidades apresentadas ano a ano, tem sido realizada de acordo com a legislação e a programação estabelecidas. Observa-se, porém, que a obsolescência dos dados que fundamentaram a elaboração das leis causou uma acentuada defasagem no real repasse de verbas para a educação básica, o que tem causado inúmeras dificuldades nas metodologias e estratégias didáticas, bem como o esmorecimento dos profissionais do magistério, interferindo drasticamente na evolução planejada e no desenvolvimento cognitivo dos estudantes dessa etapa da escolarização. Nesse sentido, as metas do PNE possivelmente não serão alcançadas conforme a proposta se não houver um remanejamento na aplicação e na distribuição de renda. 5.3 Piso salarial profissional nacional O salário do profissional de educação no Brasil teve início quando ficou a cargo das famílias o pagamento de “ordenados” para aqueles que instruíam as crianças de modo a prepará-las para a formação profissional na Europa. Naquela época, somente uma pessoa era suficiente para dar as instruções necessárias, e isso ocorria nas famílias mais abastadas ou nobres. Com o tempo e a iminente necessidade da instalação de instituições escolares, o país se obrigou a organizar escolas e, obviamente, uma estrutura não apenas física e documental foi necessária, mas principalmente de recursos humanos. Apesar da existência de “ordenados” fixados legalmente para os professores e da nova formatação da educação brasileira, com a instalação de instituições escolares, novos cargos foram criados para atender às necessidades que se tornavam evidentes, a exemplo do diretor, do inspetor, dos profissionais responsáveis pela limpeza (chamados de serventes) e, posteriormente, das merendeiras, que supriram uma necessidade de âmbito social pela falta de alimento adequado às crianças. Além desses, foram elaborados cargos como os de coordenador, orientador, supervisor, secretário e todos os demais necessários ao desenvolvimento das atividades diárias acadêmico-pedagógicas de uma instituição de ensino. Sob essa ótica, uma comunidade acadêmica, independentemente da fase escolar, é formada por alunos e agentes da educação, isto é, as pessoas que proporcionam as condições adequadas ao aprendizado dos alunos, englobando, inclusive e principalmente, os professores. Políticas educacionais e organização da educação básica82 Assim, todos os cargos desenvolvidos na esfera da educação para que a qualidade fosse cada vez mais determinante na vida dos estudantes são preenchidos por profissionais da educação, preparados por instituições de ensino que atendem às necessidades do mercado e às legislações provenientes do Ministério da Educação (MEC). Logo, tais profissionais devem ter não somente os cargos e as funções devidamente reconhecidos, mas também salários suficientes para o desenvolvimento de suas atividades profissionais. Além disso, tais salários devem permitir que eles possam se preparar cada vez mais, projetando melhorias na área de atuação, o que geraria, sem sombra de dúvidas, uma acentuada melhora na oferta da educação básica brasileira. Mediante esses fatos, e com base nesse breve histórico dos profissionais envolvidos na educação brasileira, é preciso delimitar os honorários para esses ramos de atividade. No entanto, apesar de serem consideradas profissões igualmente importantes, o piso salarial, tema desta seção, refere-se a um grupo mais específico de profissionais da educação básica. Na própria Constituição Federal (BRASIL, 1988), em seu art. 60, é possível observar a preocupação dos legisladores da época com a distribuição de recursos para a educação, os quais abrangem, inclusive, os professores e demais profissionais da educação. Além disso, no art. 212 da Lei Maior consta que “a União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino” (BRASIL, 1988). Já quanto às Disposições Constitucionais Transitórias (DCT), esse texto legal, no art. 60, inciso III, assim dispõe: Art. 60. Até o 14º (décimo quarto) ano a partir da promulgação desta Emenda Constitucional, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios destinarão parte dos recursos a que se refere o caput do art. 212 da Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento da educação básica e à remuneração condigna dos trabalhadores da educação, respeitadas as seguintes disposições: [...] III - observadas as garantias estabelecidas nos incisos I, II, III e IV do caput do art. 208 da Constituição Federal e as metas de universalização da educação básica estabelecidas no Plano Nacional de Educação, a lei disporá sobre: a) a organização dos Fundos, a distribuição proporcional de seus recursos, as diferenças e as ponderações quanto ao valor anual por aluno entre etapas e modalidades da educação básica e tipos de estabelecimento de ensino;b) a forma de cálculo do valor anual mínimo por aluno; c) os percentuais máximos de apropriação dos recursos dos Fundos pelas diversas etapas e modalidades da educação básica, observados os arts. 208 e 214 da Constituição Federal, bem como as metas do Plano Nacional de Educação; d) a fiscalização e o controle dos Fundos; e) prazo para fixar, em lei específica, piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica; (BRASIL, 1988) Para a regulamentação do referido inciso do art. 60 da DCT, foi sancionada em 2008 a Lei n. 11.738, de 16 de julho de 2008 (BRASIL, 2008), conhecida como Lei do Piso. Esse texto legal tem a função de instituir o piso salarial para os profissionais do magistério da educação básica Financiamento educacional brasileiro 83 no âmbito nacional das instituições públicas. Naquela época, o piso salarial para os professores foi fixado em R$ 950,00 (novecentos e cinquenta reais). Desde então, esse piso tem passado por atualizações, sendo corrigido de acordo com a inflação, os estados e as regiões. A mesma lei, em seu § 2º, define quem são os profissionais do magistério e, no § 4º, define a carga horária de trabalho, que deverá corresponder, no máximo, a 2/3 em atividades com alunos. Ou seja, pelo menos 1/3 da carga horária deverá ser dedicada a outras atividades acadêmicas, como planejamento, coordenação e avaliação do trabalho didático, entre outras: Art. 2o O piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica será de R$ 950,00 (novecentos e cinquenta reais) mensais, para a formação em nível médio, na modalidade Normal, prevista no art. 62 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. [...] § 2o Por profissionais do magistério público da educação básica entendem-se aqueles que desempenham as atividades de docência ou as de suporte pedagógico à docência, isto é, direção ou administração, planejamento, inspeção, supervisão, orientação e coordenação educacionais, exercidas no âmbito das unidades escolares de educação básica, em suas diversas etapas e modalidades, com a formação mínima determinada pela legislação federal de diretrizes e bases da educação nacional. [...] § 4o Na composição da jornada de trabalho, observar-se-á o limite máximo de 2/3 (dois terços) da carga horária para o desempenho das atividades de interação com os educandos. (BRASIL, 2008) Essa lei foi declarada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) somente em abril de 2011. No entanto, até que isso ocorresse, ficou garantido que nenhum professor da rede pública brasileira devesse receber um salário menor do que os R$ 950,00 (novecentos e cinquenta reais) estipulados na lei. Tal valor era referência para professores cuja formação fosse de nível médio na modalidade normal. Além disso, nele não deveriam estar embutidos prêmios, gratificações etc. Dessa forma, o piso salarial do profissional do magistério não compreende apenas a Lei do Piso, pois a participação da União é responsável pela complementação, via Fundeb, cuja “Comissão Intergovernamental para Financiamento da Educação de Qualidade, composta por membros do MEC, do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), definiu os critérios para essa complementação” (BRASIL, 2019b). Com a Resolução n. 7, de 26 de abril de 2012 (BRASIL, 2012), ficou fixada a parcela de complementação do Fundeb, conforme previsto no art. 7º da Lei n. 11.494, de 20 de junho de 2007 (BRASIL, 2007). Em 2019, essa resolução ainda permanece em vigor. Ainda como informa o MEC em relação ao percentual a ser aplicado na atualização do salário do profissional do magistério da educação básica, em acordo com o parágrafo único do art. 5º da Lei n. 11.738, “a atualização do valor do piso deve ser fixada pelo percentual de crescimento do valor mínimo anual por aluno - VAA. A AGU/CGU” (BRASIL, 2019b), e esse percentual deverá ser calculado conforme o que dispõe a Nota Técnica n. 36/2009, “utilizando-se o crescimento apurado entre os dois exercícios consecutivos mais recentes” (BRASIL, 2019b). Políticas educacionais e organização da educação básica84 Podemos perceber, portanto, que o valor do piso salarial, bem como sua atualização anual, está regido por legislações específicas e ainda segue as normas descritas nas respectivas legislações, considerando a publicação do exercício para vigência no ano subsequente pelo Poder Executivo da União, o que possibilitará o cálculo para a atualização salarial do profissional do magistério. É importante esclarecer que por piso se entende a base de remuneração ou a menor remuneração de cada categoria. Todas as profissões, especialmente as que são remuneradas por organizações públicas ou privadas, têm fixado um piso salarial cujo valor é a base para calcular os salários de cada funcionário. Em outras palavras, o piso se refere ao valor de referência, e o salário diz respeito ao que o profissional recebe, sendo que contempla o valor do piso, as horas extras, os prêmios, o tempo de serviço, entre outros aspectos. O piso salarial também é referência para os profissionais no início de carreira, ou seja, para aqueles que estiverem começando em uma função ou em um posto de trabalho. Porém, especificamente para o magistério, o valor inicial terá sua atualização todos os anos, conforme dispõe o art. 5º da Lei n. 11.738: “O piso salarial profissional nacional do magistério público da educação básica será atualizado, anualmente, no mês de janeiro, a partir do ano de 2009” (BRASIL, 2008). Outro fator importante a ser abordado é que, apesar de existirem leis e regulamentações que informam o valor do piso salarial do profissional do magistério e a forma de sua atualização, elas não são impeditivas de negociações entre empregadores e funcionários, para que os salários sejam melhorados. O que fica claro em toda a legislação é que a base para o salário não deverá ser menor do que a estipulada pela Lei n. 11.738 (BRASIL, 2008). Para finalizar a temática, em janeiro de 2019 houve um reajuste de 4,17%, passando de R$ 2.455,35 em 2018 para R$ 2.557,74 em 2019 (BRASIL, 2019c). Podemos afirmar, portanto, que esse é o valor mínimo obrigatório a ser praticado para os iniciantes. Trata-se de um salário razoável para 40 horas de trabalho semanal. 5.4 Entendendo o CAQi e o CAQ O CAQi (custo aluno-qualidade inicial) refere-se a um padrão mínimo de qualidade estabelecido no Plano Nacional de Educação (PNE) para ser implementado até junho de 2016. Por sua vez, o CAQ (custo aluno-qualidade) diz respeito a um padrão de qualidade que aproxima o Brasil dos países mais desenvolvidos em termos educacionais (CAMPANHA..., 2019a). Ambos são indicadores que têm a função de delimitar os critérios do padrão mínimo de qualidade e a base de cálculos para o financiamento da educação básica brasileira. O CAQi informa quanto deve ser investido por aluno, anualmente, em cada etapa da escolarização da educação básica. Seu objetivo é garantir um padrão mínimo de qualidade para a oferta da educação básica. Nesse sentido, tanto o ensino quanto a aprendizagem (o que engloba alunos e professores) precisam de condições adequadas para que os resultados sejam satisfatórios. Para isso, as informações emendadas dos cálculos obtidos pelo CAQi são essenciais. Tais cálculos são baseados no tamanho das turmas, na formação, nos salários dos profissionais do magistério Financiamento educacional brasileiro 85 (carreira e responsabilidades), nas instalações, nos equipamentos e na infraestrutura adequados, nos laboratórios, nas bibliotecas, nas quadras poliesportivas cobertas, nos materiais didáticos, além de outros fatores (BARRETO, 2018). A definição mais específica e adequada para os dois indicadores é a que consta no portal do CAQi e CAQ: O CAQi é o padrão mínimo de qualidade, por isso ele recebeo “i” de inicial. Já o CAQ avança em relação ao padrão mínimo, pois considera o caráter dinâmico do conceito de custo por aluno e também a capacidade econômica do Brasil, posicionado como 6ª economia do mundo. Assim, o CAQ é o padrão de qualidade que se aproxima dos custos dos países mais desenvolvidos em termos educacionais. Ele deve ser estabelecido no prazo de três anos, porém sua implementação pode ocorrer até 2024. (BRASIL, 2019b) De qualquer forma, precisamos compreender que esses indicadores não surgiram de ideias ou ideais pedagógicos não fundamentados, mas sim a partir das legislações que contemplam a educação brasileira como uma das principais preocupações do país. Desde a Constituição Federal (BRASIL, 1988) até o PNE, existe uma série de diretrizes para a criação e a aplicação de indicadores que possam mensurar a qualidade, a quantidade e os investimentos feitos na educação. Sob essa ótica, de acordo com o exposto na Constituição Federal: Art. 206 O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; [...] VII - garantia de padrão de qualidade; VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. [...] Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino. § 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios; (BRASIL, 1988) Na Emenda Constitucional n. 53, de 19 de dezembro de 2006, que modifica o art. 60 do ADCT, consta o seguinte: “§ 1º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão assegurar, no financiamento da educação básica, a melhoria da qualidade de ensino, de forma a garantir padrão mínimo definido nacionalmente” (BRASIL, 2006). Por sua vez, a Lei de Diretrizes e Bases traz os seguintes textos em alguns de seus artigos: Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: [...] IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem. [...] Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, estabelecerá padrão mínimo de oportunidades educacionais para o Políticas educacionais e organização da educação básica86 ensino fundamental, baseado no cálculo do custo mínimo por aluno, capaz de assegurar ensino de qualidade. Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e dos Estados será exercida de modo a corrigir, progressivamente, as disparidades de acesso e garantir o padrão mínimo de qualidade de ensino. (BRASIL, 1996) Já o PNE, aprovado pela Lei n. 13.005, de 25 de junho de 2014, assim expõe: “Ampliar o investimento público em educação pública de forma a atingir, no mínimo, o patamar de 7% (sete por cento) do Produto Interno Bruto - PIB do País no 5° (quinto) ano de vigência desta Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% (dez por cento) do PIB ao final do decênio” (BRASIL, 2014). Por fim, algumas das estratégias do PNE em que o CAQi e o CAQ são citados são as seguintes: 20.6) no prazo de 2 (dois) anos da vigência deste PNE, será implantado o Custo Aluno-Qualidade inicial - CAQi, referenciado no conjunto de padrões mínimos estabelecidos na legislação educacional e cujo financiamento será calculado com base nos respectivos insumos indispensáveis ao processo de ensino-aprendizagem e será progressivamente reajustado até a implementação plena do Custo Aluno-Qualidade - CAQ; 20.7) implementar o Custo Aluno-Qualidade - CAQ como parâmetro para o financiamento da educação de todas etapas e modalidades da educação básica, a partir do cálculo e do acompanhamento regular dos indicadores de gastos educacionais com investimentos em qualificação e remuneração do pessoal docente e dos demais profissionais da educação pública, em aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e equipamentos necessários ao ensino e alimentação e transporte escolar; 20.8) o CAQ será definido no prazo de 3 (três) anos e será continuamente ajustado, com base em metodologia formulada pelo Ministério da Educação - MEC, e acompanhado pelo Fórum Nacional de Educação - FNE, pelo Conselho Nacional de Educação - CNE e pelas Comissões de Educação da Câmara dos Deputados e de Educação, Cultura e Esportes do Senado Federal; [...] 20.10) caberá à União, na forma da lei, a complementação de recursos financeiros a todos os Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios que não conseguirem atingir o valor do CAQi e, posteriormente, do CAQ; (BRASIL, 2014) O CAQi e o CAQ “são mecanismos que procuram inverter a lógica de financiamento da educação, partindo das necessidades reais das escolas para estabelecer o valor que o Brasil precisa investir por aluno ao ano em cada etapa e modalidade da Educação Básica pública” (MATUOKA, 2018). De acordo com Andressa Pellanda, coordenadora de políticas educacionais da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, durante a Semana de Ação Mundial (SAM) realizada em 2018, os dois indicadores servem para “tentar garantir, ao menos, um padrão mínimo de qualidade do ensino” (PELLANDA apud MATUOKA, 2018). Em resumo, os dois indicadores atuam como instrumentos de medição da qualidade de ensino da educação básica, mas também como referência para a apuração e a definição de estratégias para o cumprimento do PNE. Nesse sentido, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão ligado ao MEC que tem como incumbência fazer o acompanhamento do PNE, tem se utilizado das informações obtidas por esses indicadores para elaborar seus planos de ação e as formas de avaliação da educação básica brasileira. Financiamento educacional brasileiro 87 Considerações finais Com o estudo deste capítulo, pudemos conhecer toda a legislação que rege as formas de investimento da educação básica, partindo da Emenda Constitucional n. 95, de 15 de dezembro de 2016 (BRASIL, 2006), que institui o regime fiscal e prevê os gastos da União com educação e saúde. Também foi possível descobrir como é composto o salário dos profissionais do magistério, baseado nos índices de evolução de acordo com as estratégias contidas na Meta 20 do PNE, os quais são aferidos pelo Fundeb. A composição dos salários, com base no que rege a Lei n. 11.738, de 16 de julho de 2008 (BRASIL, 2008), conhecida como a Lei do Piso, foi definida no ano de publicação da referida lei para ser praticada a partir do ano seguinte, sendo que os reajustes anuais deverão ser calculados considerando os índices de crescimento dos dois últimos exercícios. Esse cálculo, que tem como base os índices apurados do CAQi e do CAQ, gera o percentual a ser aplicado nos salários no início de cada ano. Além disso, apresentamos dois indicadores de qualidade do ensino da educação básica nacional: o CAQi (custo aluno-qualidade inicial) e o CAQ (custo aluno-qualidade), os quais ainda propiciam o cálculo para o financiamento da educação básica brasileira. Tal financiamento, por sua vez, também é de responsabilidade dos governos federal, estadual e municipal. Nesse sentido, o Fundeb, um fundo estadual que conta com recursos do governo federal, é responsável por distribuir a verba e calcular os repasses e as solicitações de acordo com os índices apontados pelas apurações do CAQi e do CAQ. Assim, todas as formas de oferta da educação básica no Brasil estão amparadas pela legislação específica, ressalvando-se as hierarquias originais. Ampliando seus conhecimentos Documento oficial: • BRASIL. Ministérioda Educação. Piso salarial profissional nacional: Lei n. 11.738, de 16/7/2008. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/piso-salarial-de-professores. Acesso em: 29 jul. 2019. Nesta página, você encontrará, de maneira cronológica, a definição, o estabelecimento e as atualizações do piso salarial dos profissionais do magistério da educação básica, bem como outros argumentos e informações. Vídeo: • ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS (Art. 60). [S.l.: s.n.], 2018. 1 vídeo (9 min). Publicado pelo canal LexPlay. Disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=tZbLQ60YVls. Acesso em: 29 jul. 2019. Este vídeo propicia um entendimento simplificado do art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, que trata, especificamente, da manutenção e do desenvolvimento da educação básica, bem como versa sobre a forma de remuneração dos profissionais do magistério. Com essa explicação, será possível compreender o que incide no cálculo para compor o piso salarial dos profissionais do magistério. Políticas educacionais e organização da educação básica88 Site: • CAMPANHA NACIONAL PELO DIREITO à EDUCAÇÃO. O que é CAQi e CAQ: quanto custa a educação pública de qualidade no Brasil? Disponível em: http://www. custoalunoqualidade.org.br/o-que-e-caqi-e-o-caq. Acesso em: 29 jul. 2019. Para obter um melhor entendimento sobre o CAQi e o CAQ, acesse o link indicado, que traz uma abordagem mais coloquial e favorece a compreensão de ambos os conceitos. Atividades 1. Qual é o objetivo da Emenda Constitucional n. 95, de 15 de dezembro de 2016? 2. Como é formado o Fundeb e qual é a sua vigência? 3. Qual é a Lei do Piso? 4. O que significam as siglas CAQi e CAQ? Referências BARRETO, C. Quanto custa um aluno de escola pública no Brasil? 5 nov. 2018. Disponível em: https://blog. forleven.com/2018/11/05/quanto-custa-um-aluno-de-escola-publica-no-brasil/. Acesso em: 29 jul. 2019. BRASIL. Constituição. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Lei Complementar n. 101, de 4 de maio de 2000. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 maio 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm. Acesso em: 29 jul. 2019. BRASIL. Emenda Constitucional n. 53, de 19 de dezembro de 2006. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 20 dez. 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/ emc53.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 11.494, de 20 de junho de 2007. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 21 jun. 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11494.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 11.738, de 16 de julho de 2008. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 17 jul. 2008. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11738.htm. Acesso em: 27 jul. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Resolução n. 7, de 26 de abril de 2012. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 30 jul. 2012. Disponível em: http://www.lex.com.br/legis_23520660_ RESOLUCAO_N_7_DE_26_DE_ABRIL_DE_2012.aspx. Acesso em: 29 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 13.005, de 25 de junho de 2014. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 26 jun. 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. Financiamento educacional brasileiro 89 BRASIL. Emenda Constitucional n. 86, de 17 de março de 2015. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 18 mar. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/ emc86.htm. Acesso em: 29 jul. 2019. BRASIL. Emenda Constitucional n. 95, de 15 de dezembro de 2016. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 15 dez. 2016. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/ emc95.htm. Acesso em: 27 jul. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Sobre o Fundeb: o que é? 2019a. Disponível em: https://www.fnde.gov.br/financiamento/fundeb. Acesso em: 27 jul. 2019. BRASIL. Piso salarial profissional nacional (PSPN). 2019b. Disponível em: http://planodecarreira.mec.gov. br/piso-salarial-profissional-nacional-pspn. Acesso em: 27 jul. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Piso salarial do magistério é reajustado a partir de janeiro. 9 jan. 2019c. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/211-218175739/72571-piso-salarial-do- magisterio-sobe-4-17-a-partir-de-janeiro-valor-sera-de-r-2-557-74. Acesso em: 5 ago. 2019. CAMPANHA NACIONAL PELO DIREITO À EDUCAÇÃO. O CAQi e o CAQ no PNE. 2019a. Disponível em: http://www.custoalunoqualidade.org.br/o-caqi-e-o-caq-no-pne. Acesso em: 27 jul. 2019. CAMPANHA NACIONAL PELO DIREITO À EDUCAÇÃO. O que é CAQi e CAQ: quanto custa a educação pública de qualidade no Brasil? 2019b. Disponível em: http://www.custoalunoqualidade.org.br/o-que-e- caqi-e-o-caq. Acesso em: 29 jul. 2019. CONAE – Conferência Nacional de Educação. O PNE na articulação do sistema nacional de educação: participação popular, cooperação federativa e regime de colaboração. 2014. Disponível em: http://fne.mec. gov.br/images/pdf/documentoreferenciaconae2014versaofinal.pdf. Acesso em: 29 jul. 2019. FONSÊCA, A. C. de C. A emenda constitucional n. 95 como mecanismo de revitalização do regime de metas fiscais. 60 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Orçamento Público) – Instituto Legislativo Brasileiro do Senado Federal. Brasília: Senado Federal, 2017. Disponível em: http://www2.senado.leg.br/ bdsf/item/id/542616. Acesso em: 27 jul. 2019. MATUOKA, I. CAQi e CAQ: os entraves para o financiamento da educação no Brasil. 7 jun. 2018. Disponível em: https://educacaointegral.org.br/reportagens/caqi-e-caq-os-entraves-para-o-financiamento-da- educacao-no-brasil/. Acesso em: 29 jul. 2018. http://planodecarreira.mec.gov.br/piso-salarial-profissional-nacional-pspn http://planodecarreira.mec.gov.br/piso-salarial-profissional-nacional-pspn 6 Avaliação institucional Todo o estudo anterior culmina neste capítulo, que tenciona desvendar o mito da “temida” avaliação. Retomando o tema central de formação da educação brasileira, observamos uma evolução desde a chegada dos portugueses ao Brasil. Nos últimos 60 anos, essa evolução foi maior, e as políticas públicas para a educação brasileira foram definidas, promulgadas, revisadas e implementadas. Desses 60 anos de evolução, os últimos 20 registraram o maior índice de crescimento mundial em todas as áreas (economia, ciência, educação, saúde etc.). O Brasil ainda é um país em crescimento e desenvolvimento, mas, especialmente na educação, e por força da globalização, obteve altos índices de evolução, como pode ser observado em diversos artigos, livros e reportagens que não necessitam ser citados especificamente nesta obra, pois são de fácil acesso. Com essa evolução acelerada, uma política específica para a avaliação é mais do que necessária. E, embora anteriormente já tenham sido feitas menções e regras para isso, na atual legislação da educação brasileira essa política é mais bem definida, uma vez que, para o cumprimento das metas do Plano Nacional de Educação (PNE), as avaliações são o principal instrumento para a aplicabilidade das estratégias de desenvolvimento educacional no país. Sob essa ótica, neste capítulo trataremos das práticas de avaliação institucional desde sua origem internacional. No que se refere à educação brasileira, analisaremos como ocorreram as primeiras práticas e políticas de avaliação. As políticas para a avaliaçãoinstitucional no Brasil estão em processo de implementação e, por isso, são constantemente (re)avaliadas. Para que a avaliação aconteça de maneira satisfatória, foi preciso identificar indicadores de qualidade, e, para persegui-los e alcançá-los, fez-se necessário o desenvolvimento de instrumentos de avaliação aplicados especificamente para cada tipo e lugar de avaliação. Assim, nosso estudo será direcionado à compreensão das formas de avaliação e à sua importância e utilização como função social. 6.1 Função e sistemas de aplicação da avaliação institucional Atualmente, a avaliação tem um caráter mais metodológico e estratégico. Ainda assim, trata-se de um tema de difícil desenvolvimento, pois o paradigma da avaliação, incultido no ser humano, é muito difícil de ser modificado, pois está gravado em nossas mentes que os processos avaliativos geram alguma espécie de punição. No entanto, foi por meio desses processos que a educação obteve êxito em diversos aspectos, especialmente no que se refere às instituições particulares, que, apesar de serem empresas, precisam provar a qualidade da prestação dos serviços que oferecem no ensino, englobando desde material, equipamento, mobiliário, plataformas, pessoal técnico, atendimento, documentos fiscais Políticas educacionais e organização da educação básica92 e institucionais, entre outros, até a própria avaliação institucional, cuja política está estabelecida por meio de uma legislação específica que operacionaliza a avaliação institucional (AI). A AI se refere a um processo que verifica a qualidade do ensino ofertado por uma instituição de ensino. Essa qualidade é mensurada pelos seguintes aspectos: • Pedagógicos: conteúdos, estratégias, metodologias e pesquisas. • Gestão: coordenação pedagógica e administrativa; estudos pedagógicos; comunicação com a comunidade externa; administração financeira; organização de eventos; formação continuada da equipe; organização. • Recursos humanos: corpo docente, corpo discente e pessoal técnico-administrativo. • Documentação: fiscal e institucional (arquivos, prontuários etc.). • Formação e capacitação: docente e de pessoal técnico-administrativo, incluindo plano de carreira. • Infraestrutura física: espaço físico; equipamentos; mobiliário; acessibilidade; material didático e outros materiais; adequação de acordo com os tipos de cursos oferecidos; luminosidade; climatização; limpeza; organização etc. Nesse sentido, a AI não é um mero programa inventado para popularizar a educação ou uma ferramenta de marketing para influenciar a população na escolha de uma ou outra escola de educação básica, mas sim um instrumento de cumprimento das metas delineadas no PNE – já discutidas anteriormente –, o qual está balizado no que determina a própria Lei de Diretrizes e Bases (LDB) em seus artigos 3º e 4º: Art. 3° O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: [...] IX - garantia de padrão de qualidade; Art. 4° O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: [...] IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem; (BRASIL, 1996) Portanto, é incumbência das escolas fazer a avaliação não apenas da aprendizagem, mas também dos processos de ensino, bem como dos processos pedagógicos e administrativos. Da mesma forma, o Poder Público deverá proceder periódicas avaliações para garantir a qualidade de ensino. Assim, a AI tem como função primordial a possibilidade de promover o autoconhecimento, especialmente quando se trata de uma avaliação promovida pela própria escola. Em relação ao país, ela proporciona o conhecimento da situação atual da oferta do ensino no âmbito nacional, com o intuito de promover melhorias, solucionar problemas e prever/planejar orçamentos financeiros para garantir a sua qualidade. Conforme declara Brandalise, em seu artigo “Avaliação institucional na escola pública: os (des)caminhos de uma política educacional”: “há que se ressaltar que a função principal da Avaliação institucional 93 avaliação é a evolução e a consolidação da qualidade do processo de ensino e aprendizagem” (BRANDALISE, 2015, p. 64). Porém, para que tal função seja de fato aplicada, é preciso ter um grande envolvimento de todos os setores da educação. Merece destaque a própria instituição escolar e seus atores, bem como o Poder Público, que tem se manifestado com a avaliação das ações para o atingimento das metas estabelecidas no PNE – as quais são de responsabilidade do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Para garantir a qualidade no ensino por meio da aferição de dados estipulados pelo Inep, faz-se necessário contar com um processo avaliativo muito bem elaborado e que viabilize sua aplicação com resultados satisfatórios, para que, com base em uma análise, seja possível planejar novas estratégias que levem ao alcance das metas já determinadas. Podemos concluir, portanto, que a concepção da AI é um “processo que busca avaliar a instituição de forma global, ou seja, contemplando os vários elementos que a constituem em função de sua finalidade” (PARANÁ, 2004, p. 11). Para que haja um real acompanhamento da AI, o Ministério da Educação (MEC) implementou um sistema específico que verifica a aplicação da autoavaliação e promove a chamada avaliação externa. Os sistemas de aplicação da AI são específicos para a educação básica (Saeb) e para o ensino superior (Sinaes). O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) começou a ser desenvolvido na década de 1980, mas teve sua primeira aplicação em 1990, sendo reestruturado em 1995. O objetivo dessa reformulação foi criar a possibilidade de comparação do desempenho dos alunos ao longo dos anos. Nesse sentido, o Saeb tem a propriedade de fornecer dados sobre a qualidade do ensino no Brasil nas regiões geográficas e no Distrito Federal. Foram criadas outras duas avaliações em 2005: a Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb), sem alterações na avaliação que já vinha sendo aplicada, e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc), conhecida como Prova Brasil, para avaliar a qualidade do ensino das redes públicas (BRASIL, 2019f). Todas essas avaliações foram mantidas, até que em 2013 incorporou-se ao Saeb outra avaliação que teve como princípio focar nos níveis de alfabetização e letramento em Língua Portuguesa (leitura e escrita) e em Matemática. A partir de 2017, as escolas particulares foram incorporadas às avaliações do Saeb e do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Sob essa ótica, acompanhe o que diz o Inep, órgão responsável pelos sistemas de avaliação da educação no Brasil, sobre o Saeb: O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) é composto por um conjunto de avaliações externas em larga escala que permitem ao Inep realizar um diagnóstico da educação básica brasileira e de alguns fatores que possam interferir no desempenho do estudante, fornecendo um indicativo sobre a qualidade do ensino ofertado. (BRASIL, 2019f) Políticas educacionais e organização da educação básica94 Durante todo o período de existência do Saeb, outros sistemas foram incorporados a ele, na intenção de melhorar a avaliação sobre cada aspecto de desenvolvimento. Em 2013, a Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) foi incorporada ao Saeb para melhor aferir os níveis de alfabetização e letramento em Língua Portuguesa (leitura e escrita) e Matemática. Em 2017, não só as escolas públicas do ensino fundamental, mas também as de ensino médio, públicas e privadas, passaram a ter resultados no Saeb e, consequentemente, no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) (BRASIL, 2019f). Desde seu início, o Saeb avaliou somente as áreas de conhecimento das disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática. Porém, a partir de 2019, passou a avaliar também as áreas de Ciênciasda Natureza e Ciências Humanas. Na avaliação da educação básica, encontra-se o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que avalia o desempenho dos estudantes do ensino médio. Esse exame foi criado em 1998 para avaliar os alunos dessa categoria tanto da escola pública como das escolas particulares. Para o ensino superior, a AI é de responsabilidade das instituições de educação superior (IES), por meio de autoavaliação e da avaliação externa institucional. Já as avaliações de cursos são de responsabilidade do Inep, com base nos parâmetros estabelecidos pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), que tem como princípios: proporcionar a melhoria da qualidade dos cursos superiores oferecidos; colaborar com a orientação no que se refere à expansão e à eficácia da oferta; promover um compromisso com as IES. Embora os sistemas de avaliação da educação brasileira apresentem uma significativa trajetória, ainda há muito o que fazer para melhorar a forma de avaliação, os órgãos, as instituições avaliadoras e, principalmente, a capacitação dos agentes avaliadores e das comissões avaliadoras. Tudo isso para que a avaliação tenha o real caráter de melhoria, de modo que a educação, em todas as etapas, alavanque o crescimento do país. 6.2 Mecanismos de avaliação no ensino brasileiro: relevâncias e resultados Já discutimos que os mecanismos de avaliação do ensino brasileiro estão divididos em duas grandes etapas do ensino: educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio) e ensino superior (cursos de graduação – licenciatura, bacharelado e tecnológico – e os programas de pós-graduação – lato e stricto sensu). Nesse sentido, o Inep, órgão diretamente ligado ao MEC, é responsável pela avaliação da educação no país. Por seu intermédio estão estabelecidos os mecanismos de AI que, para a educação básica, como já apresentamos, é o Saeb, e para o ensino superior, o Sinaes. A institucionalização do Saeb teve início no governo de Fernando Henrique Cardoso. O ex-presidente, ao definir novas políticas públicas, de financiamento e iniciativas de avaliação, aumentou significativamente a abrangência das políticas educacionais. Em relação às avaliações, foram criados o já citado Enem e o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) (PESTANA, 2016). Além desses, também foram desenvolvidos a Avaliação Avaliação institucional 95 da Qualidade da Educação e o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). O Saeb foi mantido e, a partir da instituição da LDB, ficou sob a responsabilidade do MEC, que começou a “diversificar e ampliar o sistema nacional de avaliação, com a criação do Exame Nacional de Cursos – Provão – em 1996 e do Enem em 1998” (PESTANA, 2016, p. 79). Com a proposta de um governo mais transparente, iniciou-se a divulgação dos resultados das avaliações. Simultaneamente, outro evento começou a tomar forma no cenário da educação, mobilizando gestores educacionais, que divulgaram seus resultados a fim de potencializar suas qualidades, promovendo um marketing mais agressivo e eficiente para a época. Era hora de estabelecer diretrizes específicas para as avaliações. No entanto, uma grande discussão sobre o tema foi movimentada em todo o sistema educacional, que questionava a motivação da avaliação. Em seguida, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o Inep, no intuito de desmistificar a ação avaliativa da educação brasileira, lançou o seminário “Avaliar para quê? Avaliando as políticas de avaliação educacional”. Durante os dois governos de Lula e o primeiro de Dilma Rousseff, ocorreram muitas transformações na forma de avaliar a educação. Uma delas, de acordo com Castro (2009, p. 32), foi a criação do Ideb, em uma “perspectiva gerencialista – e com o objetivo de aumentar a eficiência e a efetividade dos sistemas educacionais”. A composição do Ideb é resultado dos dados obtidos na Prova Brasil e do Censo Escolar. Em 2005, pela Portaria do Ministério da Educação n. 931, de 21 de março de 2005 (BRASIL, 2005), foram instituídos os novos processos de avaliação: as já citadas Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb) e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc). Ambas são de aplicação bienal e utilizam os dados do censo, além de testes de proficiência de Língua Portuguesa e Matemática na rede pública de ensino. A Aneb fixa sua análise nos 5º e 9º anos do ensino fundamental e no 3º ano do ensino médio, enquanto a Anresc analisa somente os 5º e 9º anos do ensino fundamental. Em relação aos resultados das duas avaliações, podemos verificá-los mais amplamente no site do Inep, em links específicos. No entanto, a seguir, apresentamos uma amostragem dos resultados mais significativos durante o período de existência do Ideb. De acordo com os dados divulgados pelo Inep1, considerando as escolas de educação básica dos sistemas público e privado, podemos observar que: • Nos anos iniciais do ensino fundamental, houve uma evolução entre 2005 (3.8) e 2017 (5.8), e o alcance das metas a partir de 2007 (4.2) e 2017 (5.5), destacando-se negativamente as escolas privadas, que de 2011 a 2017 não alcançaram as metas. • Nos anos finais do ensino fundamental, a evolução existiu em 2005 (3.5) e em 2017 (4.7); nota-se, porém, que as metas só foram alcançadas nos anos de 2007, 2009 e 2011, bem como que as escolas particulares só alcançaram a meta em 2007. 1 Os dados foram retirados de pesquisas realizadas no site do Ideb, mantido pelo Inep: INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira; IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. IDEB: resultados e metas. Disponível em: http://ideb.inep.gov.br/resultado/resultado/resultadoBrasil.seam?cid=2727692. Acesso em: 30 jul. 2019. Políticas educacionais e organização da educação básica96 • No ensino médio, apesar de se observar uma evolução positiva, ela foi muito menor se comparada com os resultados do ensino fundamental em 2005 (3.4) e em 2017 (3.8); quanto às metas para o ensino médio, os resultados estão iguais aos dos anos finais do ensino fundamental, ou seja, as metas não estão sendo alcançadas desde 2013, e, nas escolas particulares, desde 2009. Os índices que aparecem nessas informações se referem ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Ou seja, para a averiguação do atingimento das metas estabelecidas pelo PNE, o Ideb realiza tal apuração da seguinte forma: calcula-se a taxa de rendimento escolar – que diz respeito à aprovação dos alunos, obtida por meio de um censo realizado anualmente – e as médias de desempenho nos exames aplicados pelo Inep via Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). A fórmula do cálculo para o Ideb é a seguinte: As notas das provas de língua portuguesa e matemática são padronizadas em uma escala de zero a dez. Depois, essa nota é multiplicada pela taxa de aprovação, que vai de 0% a 100%. Por exemplo, se a média das notas nas provas de determinada escola for 7 e, se essa mesma escola tiver 70% de aprovação, seu Ideb será 4,9: 7 x 70% = 7 x 0,7 = 4,9. (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2018)2 Para a avaliação do ensino médio, como já informado, existe o Enem, que avalia o desempenho dos estudantes desse nível. A primeira versão do Enem data de 1998 e tinha como objetivo avaliar a formação dos alunos concluintes do ensino médio. Até 2016, esse exame possibilitava a comprovação da conclusão do ensino médio para quem ainda não tinha finalizado essa etapa da educação básica. Atualmente, porém, os interessados devem realizar a prova do Encceja. Esse exame foi criado em 2002 para certificar as pessoas que não frequentavam o ensino médio. Em 2009, ele passou a ser uma ferramenta de avaliação para pessoas que estivessem fora do país. A formatação das provas do Enem gerou uma grande discussão no meio acadêmico, pois os conteúdos nela dispostos eram similares aos que as IES aplicavam em seus processos seletivos (vestibulares). Assim, o Enempassou a ser um instrumento de “seleção para os estudantes que pretendem concorrer a uma bolsa no Programa Universidade para Todos (ProUni)” (BRASIL, 2019h) e para o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que permite a seleção de alunos para vagas nas universidades federais. A partir de 2010, o Enem passou a ser um dos requisitos exigidos para o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), programa do governo federal que concede empréstimo para o pagamento de mensalidades em IES particulares a juros baixos, sendo que o pagamento só começará quando o aluno se formar e começar a trabalhar. Em 2019, o MEC preparou um novo sistema para o Enem, que consta no edital de 2019 (BRASIL, 2019d): • Novo sistema de inscrição; • Inclusão de foto na inscrição (opcional); 2 As planilhas com os resultados apurados pelo Ideb podem ser acessadas no site do Ideb, no Portal do Inep, na aba “Planilhas do Ideb”: INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/ideb. Acesso em: 30 jul. 2019. Avaliação institucional 97 • Espaço para rascunho da redação (pautado) e cálculos no final do caderno de questões; • Todos os lanches serão revistados no dia da aplicação; • Surdos, deficientes auditivos e surdo-cegos poderão indicar, durante a inscrição, o uso do aparelho auditivo ou de implante coclear. • Eliminação do participante que deixar aparelhos eletrônicos emitirem qualquer tipo de som durante a prova. Quanto à avaliação do ensino superior, por meio da Lei n. 10.861, de 14 de abril de 2004 (BRASIL, 2004), foi criado o Sinaes, que compõe três formas de avaliação: a avaliação das instituições, dos cursos e do desempenho dos estudantes. De acordo com o Inep, “O Sinaes avalia todos os aspectos que giram em torno desses três eixos, principalmente o ensino, a pesquisa, a extensão, a responsabilidade social, o desempenho dos alunos, a gestão da instituição, o corpo docente e as instalações” (BRASIL, 2019g). O Sinaes avalia as IES em relação às áreas dos cursos e dos programas de pós-graduação (lato e stricto sensu) no âmbito do ensino, da pesquisa, da extensão e da gestão. Todo o processo ocorre com base em instrumentos que subsidiam a composição do conceito final da IES, os quais estão descritos a seguir: • Autoavaliação institucional: realizada, obrigatoriamente, uma vez ao ano, pela própria IES, da qual se deve originar um relatório. Para a autoavaliação, cada IES deve constituir uma Comissão Própria de Avaliação (CPA), cuja composição assegure a participação de todos os segmentos da comunidade universitária (professores, alunos, funcionários técnico-administrativos) e da sociedade civil organizada, sem uma maioria absoluta de qualquer segmento (BRASIL, 2019b). • Avaliação externa institucional: feita por algumas comissões designadas pelo Inep, tem como referência “os padrões de qualidade para a educação superior expressos no instrumento de avaliação e os relatórios das autoavaliações” (BRASIL, 2019b) institucionais realizadas pela CPA das IES. • Avaliação de cursos de graduação: realizada por comissões designadas pelo Inep, avalia os cursos de graduação para os fins de autorização, reconhecimento e renovação de reconhecimento, com base nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para cada curso, no que se refere ao corpo docente (pelo menos especialistas) e ao Projeto Pedagógico de Curso (PPC), especialmente em relação à coerência entre as políticas de ensino, pesquisa e extensão com a estrutura curricular. Além disso, há entrevistas com o coordenador de cursos, os corpos docentes, discentes e técnico-administrativos. Também são avaliados instalações físicas, equipamentos, biblioteca, laboratórios e atendimento ao discente no que tange ao nivelamento, apoio e incentivo aos estudos, bem como à permanência, inclusive com o oferecimento de apoio psicopedagógico quando necessário (BRASIL, 2019a). • Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade): “avalia o rendimento dos concluintes dos cursos de graduação, em relação aos conteúdos programáticos, habilidades e competências adquiridas em sua formação” (BRASIL, 2019c). Tem como objetivo a Políticas educacionais e organização da educação básica98 avaliação do desempenho do estudante, ou seja, se a IES oferece o ensino de acordo com a DCN do curso, capacitando e habilitando o aluno para o exercício de sua profissão. Para compor o conceito final apurado pelo Sinaes, são consideradas três das avaliações descritas (Avaliação externa institucional, Avaliação de cursos de graduação e Enade). Com esse tripé, torna-se possível verificar a qualidade de cada curso e as respectivas IES que os oferecem. Tal informação é de ordem pública, permitindo que a população, por meio de acesso remoto, possa verificar o curso e a IES de seu interesse, pois todas elas são avaliadas e os conceitos recebidos são divulgados. Além dessas avaliações, existe o Censo, uma pesquisa realizada anualmente pelo Inep que declara a atual situação de cada IES quanto aos alunos, às etapas (semestre ou período letivo), bem como ao corpo docente alocado em cada curso. O Censo apresenta informações a respeito de identidade, formação e titulação, regime de trabalho e disciplinas ministradas em cada curso. Na divulgação, constam os dados do Censo, do cadastro, do conceito preliminar de curso (CPC) e o índice geral de cursos (IGC), que se refere à média ponderada das notas dos cursos de graduação e pós-graduação de cada instituição. A avaliação da educação brasileira, em todos os níveis de escolarização, está em pleno desenvolvimento. Nota-se, portanto, que as falhas vêm sendo corrigidas, e o alinhamento de todas as fases acontece de acordo com as necessidades e conforme elas surgem, o que demonstra uma grande preocupação política governamental com a qualidade do ensino no país. Considerações finais Com o estudo deste capítulo, foi possível observarmos a importância da avaliação institucional e também desmistificá-la, para que ela passe a ser vista muito mais como um mecanismo e instrumento de revisão de práticas do que como uma averiguação de incompetência. Partindo do princípio de que a avaliação da educação brasileira é um rico instrumento de averiguação das práticas adotadas pelos poderes público e privado em todas as etapas da formação escolar, ela deixa de ser um ato isolado ou privilegiado e pode ser encarada como imprescindível e importante para os rumos da educação nacional. Obviamente, a avaliação ainda não vem sendo aplicada da forma ideal, mas o caminho já está descrito e é continuamente desvendado. Nesse sentido, cabe às instituições escolares, desde a educação infantil até a pós-graduação (lato e stricto sensu), encarar a avaliação e a autoavaliação mais como uma forma de agregar valor e menos por seu caráter punitivo. Logo, a avaliação não pode causar estresse e fazer da rica oportunidade de avaliar um momento penoso, sofrido e incapaz de promover a conquista dos resultados desejados. Assim, para que essa finalidade seja atingida, o melhor caminho é a sensibilização de toda a comunidade acadêmica, a fim de que todos compreendam a importância e os benefícios da avaliação. No entanto, nenhum esforço será suficiente se não houver um feedback aos participantes Avaliação institucional 99 e, principalmente, um plano de ação para alavancar o que estiver estático, manter e melhorar o que estiver “bom” e corrigir os pontos fracos. Concluímos, portanto, que a avaliação institucional é benéfica, deve ser bem planejada, elaborada e aplicada e receber constantes revisões e adequações, para que seja possível buscar e conquistar níveis de excelência no sistema educacional brasileiro por meio de políticas públicas cada vez mais adequadas. Ampliando seus conhecimentos Reportagem: • HANCOCK, J. R. Os gráficos que mostram o avanço espetacular da humanidade nos últimos dois séculos. El País, 25 jan.2018. Disponível em: https://brasil.elpais.com/ brasil/2018/01/23/actualidad/1516705169_487110.html. Acesso em: 22 jul. 2019. Em janeiro de 2018, o El País, em sua versão brasileira, publicou uma reportagem que demonstra a evolução humana nos últimos 200 anos. Essa é uma matéria interessante para sabermos como está a evolução mundial em cada setor (pobreza, alfabetização, saúde, liberdade etc.). Com essas informações, é possível percebermos a importância da avaliação em todos os aspectos da vida. Artigos: • PESTANA, M. I. Trajetória do Saeb: criação, amadurecimento e desafios. Em Aberto, Brasília, v. 29, n. 96, p. 71-84, 2016. Disponível em: http://emaberto.inep.gov.br/index. php/emaberto/article/view/2691/2598. Acesso em: 22 jul. 2019. Sobre o Saeb, é interessante conhecermos como ocorreu sua criação e sua trajetória. Nesse sentido, esse é um bom artigo para compreender melhor esse sistema de avaliação. • BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Política Nacional de Avaliação e Exames da Educação Básica regulamenta o Saeb, o Encceja e o Enem após a BNCC. 4 jul. 2018. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/artigo/-/ asset_publisher/B4AQV9zFY7Bv/content/politica-nacional-de-avaliacao-e-exames-da- educacao-basica-regulamenta-o-saeb-o-encceja-e-o-enem-apos-a-bncc/21206. Acesso em: 22 jul. 2019. A leitura desse texto lhe será útil para compreender ainda mais os mecanismos de avaliação, suas funções e origens. • KONZEN, L. Z.; ADAMS, E. Autoavaliação institucional: um estudo sobre a análise de dados da autoavaliação em perspectiva diacrônica. Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior, v. 21, n. 3, p. 783-798, 2016. Disponível em: https://www.redalyc.org/ pdf/2191/219148307007.pdf. Acesso em: 22 jul. 2019. Políticas educacionais e organização da educação básica100 Esse artigo faz uma análise dos dados da autoavaliação da Instituição de Ensino Superior abordada pelos autores. Embora se trate de um caso particular, sua leitura é muito interessante e recomendada para a compreensão dos aspectos avaliados. Atividades 1. Em quais fases da escolaridade a avaliação institucional é aplicada e de que forma? 2. O que significam as siglas Enem e Enade? O que cada uma delas avalia? 3. Como é composta a avaliação do ensino superior e o que significa a sigla Sinaes? Referências BRANDALISE, M. Â. T. Avaliação institucional na escola pública: os (des)caminhos de uma política educacional. Educar em Revista, Curitiba, n. 1, p. 55-74, 2015. Edição especial. Disponível em: https://www. researchgate.net/publication/283618528_Avaliacao_institucional_na_escola_publica_os_descaminhos_de_ uma_politica_educacional. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Lei n. 10.861, de 14 de abril de 2004. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 15 abr. 2004. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.861.htm. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Portaria n. 931, de 21 de março de 2005. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 22 mar. 2005. Disponível em: http://download.inep.gov.br/educacao_basica/prova_brasil_saeb/ legislacao/Portaria931_NovoSaeb.pdf. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Avaliação dos cursos de graduação. 2019a. Disponível em: http://inep.gov.br/avaliacao-dos-cursos-de-graduacao. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Avaliação institucional. 2019b. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/avaliacao-institucional. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Enade. 2019c. Disponível em: http://inep.gov.br/enade. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Exame Nacional do Ensino Médio. Conheça o Enem. 2019d. Disponível em: https://enem.inep.gov.br/antes. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. IDEB: resultados e metas. 2019e. Disponível em: http://ideb.inep.gov.br/resultado/ resultado/resultadoBrasil.seam?cid=2996829. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Saeb. 2019f. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/educacao-basica/saeb. Acesso em: 22 jul. 2019. https://www.researchgate.net/publication/283618528_Avaliacao_institucional_na_escola_publica_os_descaminhos_de_uma_politica_educacional https://www.researchgate.net/publication/283618528_Avaliacao_institucional_na_escola_publica_os_descaminhos_de_uma_politica_educacional https://www.researchgate.net/publication/283618528_Avaliacao_institucional_na_escola_publica_os_descaminhos_de_uma_politica_educacional Avaliação institucional 101 BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Sinaes: o que é o Sinaes. 2019g. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/sinaes. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. ENEM: apresentação. 2019h. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ enem-sp-2094708791. Acesso em: 22 jul. 2019. CASTRO, A. M. D. A. A qualidade da educação básica e a gestão da escola. In: FRANÇA, M.; BEZERRA, M. C. (org.). Política educacional: gestão e qualidade do ensino. Brasília: Líber livro, 2009. p. 21-44. PARANÁ. Avaliação institucional da educação básica no Paraná: processo de autoavaliação – escola. Curitiba: SEED, 2004. PESTANA, M. I. Trajetória do Saeb: criação, amadurecimento e desafios. Em Aberto, Brasília, v. 29, n. 96, p. 71-84, 2016. Disponível em: http://emaberto.inep.gov.br/index.php/emaberto/article/view/2691/2598. Acesso em: 22 jul. 2019. TODOS PELA EDUCAÇÃO. Perguntas e Respostas: o que é o Ideb e para que ele serve? 8 mar. 2018. Disponível em: https://www.todospelaeducacao.org.br/conteudo/perguntas-e-respostas-o-que-e-o-ideb-e- para-que-ele-serve. Acesso em: 30 jul. 2019. Gabarito 1 Política educacional e legislação educacional brasileira 1. Talvez, um país não poderia ser organizado sem que fossem criadas políticas públicas. Afinal, somos humanos e, portanto, precisamos de orientações para todas as nossas ações, das mais comuns até as mais complexas e específicas. O objetivo das políticas públicas reside especialmente na organização de um povo, para que a convivência se torne harmoniosa, envolvendo respeito mútuo e o estabelecimento de regras de conduta e de arrecadação financeira, a fim de obter o sustento econômico-financeiro da nação. 2. Muitas coisas têm sido mudadas na educação brasileira. Diante disso, há uma notória evolução propiciada pelas LDBs e, principalmente, pelas diversas revisões da Lei de Diretrizes e Bases que a tornam mais adequada e buscam o cumprimento, inclusive, da Constituição promulgada em 1988. No entanto, podemos observar que algumas metas do Plano Nacional de Educação (PNE) serão difíceis de serem cumpridas, o que ocasionará uma dissonância entre a realidade da educação no país e suas leis. 3. A pergunta envolve infinitas respostas, pois é de cunho bastante pessoal. Porém, todas elas deverão se referir ao momento que a educação brasileira está passando, com tantas leis, regras e normas que, em vez de melhorar a oferta da educação e promover o crescimento do país, apenas desestabilizam os agentes que estão à frente dos trabalhos educativos, aqueles que literalmente fazem as coisas acontecerem. Então, a mudança só será possível se houver uma capacitação geral e total de todos os envolvidos com a base da educação, ou seja, nas escolas (partindo da educação infantil) e nas instituições de ensino superior (públicas ou privadas). 2 Organizaçãoda educação brasileira e sua trajetória histórica 1. Foi o Padre José de Anchieta, reconhecido como o primeiro pedagogo da história do Brasil. As estratégias metodológicas usadas por ele ainda fazem parte das ações pedagógicas dos professores atuais. São usadas situações cotidianas, cantigas e brincadeiras para que os objetivos do desenvolvimento de competências e habilidades sejam alcançados. 2. A primeira LDB foi criada em 1961. Até hoje, foram elaboradas três LDBs. A atual LDB foi estabelecida pela Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. A partir dessa lei, os profissionais da educação deverão ter formação em cursos superiores de graduação e pós-graduação. 104 Políticas educacionais e organização da educação básica 3. Os documentos norteadores para a educação básica são: (i) Referenciais Curriculares Nacionais (RC), específicos para a educação infantil (EI); (ii) Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), subdivididos para cada etapa, sendo elas: fundamental I, fundamental II e ensino médio. O programa que avalia a educação brasileira é o Plano Nacional de Educação (PNE). 3 Os sistemas de ensino no Brasil 1. A responsabilidade da gestão da educação brasileira está distribuída entre os sistemas federal, estadual e municipal e o Distrito Federal. 2. • Fundef – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério. A meta desse órgão era atender ao ensino fundamental, por meio de recursos provenientes de impostos e transferências dos estados, do Distrito Federal e dos municípios vinculados à educação. • Fundeb – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação. Esse órgão foi criado em substituição ao Fundef, abrangendo as demais etapas da educação básica, no intuito de compreender a captação e o investimento de recursos na educação infantil, no ensino médio e na educação de jovens e adultos. 3. O órgão responsável pelo monitoramento e cumprimento das metas estabelecidas no PNE 2014-2024 é o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O Inep organizou seminários para discutir as possíveis formas de monitoramento, preparou um documento sobre os desafios de cada meta, apresentou um relatório de monitoramento e observou a possibilidade de mudanças nas metodologias de aplicação de avaliações dos indicadores. 4 Estado, sociedade e educação 1. O Senai foi criado em 1942 por meio do Decreto-Lei n. 4.073, de 30 de janeiro de 1942 (Lei Orgânica do Ensino Industrial), com o objetivo de estabelecer a obrigatoriedade da formação profissionalizante. 2. Os arts. 64, 65, 66 e 67 da LDB 9.394/1996, bem como seus parágrafos, incisos e alíneas, tratam da formação do profissional da educação tanto para a administração, o planejamento, a inspeção, a supervisão e a orientação educacional para o exercício na educação básica como para a formação à docência. O texto legal menciona que essa formação deverá ser feita por meio de cursos de graduação, licenciaturas e/ou de programas de pós-graduação. 3. Antes da LDB n. 9.394/1996, existia a pré-escola para crianças de 3 a 6 anos de idade, o ensino primário da 1ª à 8ª série para crianças de 7 a 14 anos de idade, e o colegial (científico) Gabarito 105 era conhecido como curso preparatório para o vestibular. Atualmente, existe a educação infantil (EI) para crianças de 0 a 5 anos de idade, o ensino fundamental do 1º ao 9º ano para crianças de 6 a 14 anos de idade, além do ensino médio. 5 Financiamento educacional brasileiro 1. O objetivo da Emenda constitucional n. 95 é instituir o novo regime fiscal no Brasil, limitando os gastos da União (BRASIL, 2016). 2. O Fundeb é constituído por 27 fundos e formado por “recursos provenientes dos impostos e transferências dos estados, Distrito Federal e municípios” (BRASIL, 2019a). Sua vigência está prevista para até 2020. 3. A Lei n. 11.738, de 16 de julho de 2008, conhecida como Lei do Piso, regulamenta o piso salarial do profissional do magistério da educação básica no âmbito nacional das instituições públicas (BRASIL, 2008). 4. A sigla CAQi significa custo aluno-qualidade inicial e se refere ao “padrão mínimo de qualidade estabelecido no PNE como exigência a ser cumprida até junho de 2016” (CAMPANHA..., 2019); já a sigla CAQ diz respeito ao custo aluno-qualidade e está relacionada ao “padrão de qualidade que aproxima o Brasil dos países mais desenvolvidos em termos educacionais” (CAMPANHA..., 2019). 6 Avaliação institucional 1. A avaliação institucional é aplicada em todos os níveis da educação brasileira. Inclusive, a partir de 2019 ela ocorrerá, de maneira experimental, também na educação infantil. A avaliação acontece de várias formas. No ensino fundamental, faz-se por intermédio da Prova Brasil, e, no Ensino Médio, pelo Exame Nacional do Ensino Médio. No ensino superior, ela ocorre de três formas: autoavaliação, avaliação externa e por meio do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). 2. Enem é a sigla para Exame Nacional do Ensino Médio. Essa prova é aplicada para as pessoas que terminaram o ensino médio ou para as que desejam ingressar no ensino superior, por meio dos programas do governo federal para acesso a essa modalidade de ensino. O Enem avalia o desempenho dos alunos do ensino médio e serve como fonte de informação para avaliar a qualidade desse ensino no Brasil. Já Enade é uma sigla que se refere ao Exame Nacional de Desempenho de Estudantes, uma das formas de avaliação do ensino superior que integra o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). Tem o objetivo de avaliar o desempenho dos estudantes e suas competências para o mundo do trabalho. 106 Políticas educacionais e organização da educação básica 3. Para o ensino superior, são usadas três formas de avaliação: (i) autoavaliação, elaborada, aplicada e informada pela própria IES; (ii) avaliação externa, que avalia os cursos das IES; (iii) Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), feito pelo Inep e aplicado aos estudantes do ensino superior. Por fim, Sinaes é a sigla para Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior. Todas as três formas de avaliação do ensino superior fazem parte do Sinaes, e seu objetivo é avaliar a qualidade dos cursos e das instituições de educação superior no país. Políticas Educacionais e Organização da Educação Básica Angelica Bocca Rossi Código Logístico 58299 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6230-0 9 7 8 8 5 3 8 7 6 2 3 0 0 Políticas Educacionais e Organização da Educação Básica Angelica Bocca Rossi Estudar as políticas educacionais não é apenas conhecer as leis que regem a categoria, mas é também ter a consciência da relevância do papel da educação na formação do cidadão, conhecer os direitos e as obrigações do Estado e da sociedade, bem como dos profissionais do magistério. Desse modo, estudar políticas educacionais colabora com a formação do professor brasileiro, inclusive no que diz respeito a comportamento, ética, direitos e deveres, compromisso, atitudes, conceitos e procedimentos. P o líticas E d u cacio n ais e O rg an ização d a E d u cação B ásica A n g e lica B o cca R o ssi Página em branco Página em branco