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Centro Universitário Integrado Curso de Medicina Disciplina: Medicina Laboratorial Professora Me. Paula Assis Queiroz UCT 7 – SP1 – Teste do Pezinho INTRODUÇÃO O Programa Nacional de Triagem Neonatal - PNTM é um programa de rastreamento populacional que tem como objetivo geral identificar distúrbios e doenças no recém-nascido, em tempo oportuno, para intervenção adequada, garantindo tratamento e acompanhamento contínuo às pessoas com diagnóstico positivo. O teste do pezinho no SUS possibilita o diagnóstico precoce de fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, doença falciforme e outras hemoglobinopatias, fibrose cística, hiperplasia adrenal congênita e deficiência de biotinidase. Atualmente, existem três versões do teste do pezinho disponíveis no Brasil: uma básica e duas ampliadas. A mais simples delas é a utilizada pelo SUS. As duas versões ampliadas podem detectar um número variado de doenças. Os nomes dos exames podem variar, dependendo do local em que for realizada a coleta. Por isso, antes do procedimento, o ideal é checar qual é a triagem mais completa. O Teste básico é obrigatório e gratuito em todo o país e pode detectar as 6 doenças citadas acima. O teste Ampliado é oferecido na maioria dos hospitais e maternidades particulares. Pode detectar até 10 doenças, além das seis já detectadas pelo teste básico, pode indicar deficiência de G-6-PD, galactosemia, leucinose e toxoplasmose congênita. O teste Super ou Expandido é o mais completo dos exames disponíveis no Brasil. Pode detectar mais de 40 tipos de doenças. É oferecido apenas em laboratórios, hospitais e maternidades particulares. Nesta aula apreenderemos sobre o PNTN, popularmente conhecido como teste do pezinho. Bons estudos OBJETIVO + Compreender o Programa Nacional de Triagem Neonatal (teste do pezinho), metodologias utilizadas e como é realizada a triagem e diagnóstico de doenças ao nascimento. QUESTÕES NORTEADORAS PARA A APRENDIZAGEM 1. Como é realizado o teste do pezinho e como é feita a análise do material colhido? 2. Quais são as doenças que podem ser detectadas a partir do teste do pezinho do PNTN? 3. Com quantos dias é ideal que se realize o teste do pezinho? 4. O teste do pezinho é gratuito? CONTEÚDO A triagem neonatal a partir da matriz biológica, “teste do pezinho”, é um conjunto de ações preventivas, responsável por identificar precocemente indivíduos com doenças metabólicas, genéticas, enzimáticas e endocrinológicas, para que estes possam ser tratados em tempo oportuno, evitando as sequelas e até mesmo a morte. Além disso, propõe o gerenciamento dos casos positivos por meio de monitoramento e acompanhamento da criança durante o processo de tratamento. A finalidade do “Teste do Pezinho” é o rastreamento neonatal de crianças portadoras de doenças que devem ser diagnosticadas e tratadas o mais precocemente possível a fim de evitar sequelas para o paciente, como o Hipotireoidismo Congênito (HC) e a Fenilcetonúria (PKU), ou então, doenças que cursam com elevada morbi-mortalidade, a qual pode ser diminuída através de alguns cuidados básicos de saúde, como no caso da Anemia Falciforme e de outras hemoglobinopatias e da Fibrose Cística (FC) (uso profilático de antibióticos, vacinação adequada; uso de ácido fólico, etc). Para a inclusão de uma doença em programas de rastreamento neonatal, alguns critérios de elegibilidade devem ser preconizados: deve existir um estágio assintomático no qual a doença possa ser diagnosticada; a doença deve ser um problema importante de saúde pública e causar lesões graves e irreversíveis caso não tenham intervenção terapêutica precoce; o tratamento deve ser social e eticamente aceitável; e, além disso, o teste deve ser altamente sensível e seguro, e a detecção precoce deve ter uma relação custo/benefício economicamente viável e socialmente aceitável. Para minimizar resultados falso-negativos e falso-positivos, o teste do pezinho deve ser realizado a partir do terceiro dia de vida e, depois desse período, o mais brevemente possível. No Brasil, o “Teste do Pezinho” faz parte do Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN), um programa de saúde pública que foi implantado em 2001 através da Portaria Ministerial No 822 de 06/06/01 do Ministério de Saúde e que determina a gratuidade e obrigatoriedade da realização dos testes para diagnóstico neonatal da PKU, HC, Hemoglobinopatias e FC. Este programa tem como objetivos ampliar a triagem neonatal já existente, ampliar a cobertura populacional da triagem neonatal para 100% dos nascidos vivos, realizar a busca ativa de pacientes suspeitos de serem portadores das patologias, a confirmação diagnóstica, o acompanhamento e tratamento adequados dos pacientes e criar um sistema de informações para cadastrar todos os pacientes num Banco de Dados Nacional. Para que estes objetivos sejam alcançados, alguns passos devem seguidos: 1) Coleta correta e em tempo adequado da amostra sanguínea; 2) Rápido envio da amostra para o laboratório; 3) Realização correta do exame pelo laboratório; 4) Rápida comunicação dos resultados dos exames; 5) Um centro de referência onde exista(m) médico(s) treinado(s) para estabelecer o diagnóstico correto e onde o seguimento das crianças afetadas possa ser realizado; 6) Avaliações periódicas do programa quanto ao seu controle de qualidade, com reportagem dos resultados destas avaliações às autoridades responsáveis, a fim de que possíveis melhorias possam ser realizadas. Sendo assim, é de extrema importância que a coleta, o preenchimento do pedido de exame e o envio do exame ao laboratório sejam feitos corretamente, a fim de que o resultado do teste seja confiável e liberado para o médico e para a família o mais breve possível. Em virtude dos diferentes níveis de organização das redes assistenciais existentes nos diferentes estados brasileiros, da variação percentual de cobertura dos nascidos-vivos do rastreamento que vinha sendo realizada no País e da diversidade das características populacionais existentes, optou-se por implantar o PNTN em fases, conforme descrição a seguir: • Fase I – Rastreamento, confirmação diagnóstica, acompanhamento e tratamento de fenilcetonúria e hipotiroidismo congênito. • Fase II – Rastreamento, confirmação diagnóstica, acompanhamento e tratamento de fenilcetonúria, hipotiroidismo congênito + doenças falciformes e outras hemoglobinopatias. • Fase III – Rastreamento, confirmação diagnóstica, acompanhamento e tratamento de fenilcetonúria, hipotiroidismo congênito, doenças falciformes e outras hemoglobinopatias + fibrose cística. • Fase IV – Rastreamento, confirmação diagnóstica, acompanhamento e tratamento de deficiência de biotinidase e hiperplasia suprarrenal congênita. A realização do teste de rastreamento em laboratórios privados permite a detecção de um número maior de doenças (Quadro 1). Contudo, é importante ressaltar que a qualidade do teste depende de um número amostral grande para elaboração das curvas de normalidade, que variam entre as populações. Quadro 1: Principais doenças que podem ser rastreadas no teste do pezinho A tendência é de que cada vez mais doenças sejam incorporadas à triagem neonatal. A espectrometria de massa Tandem (MS) é uma técnica que permite, a partir de uma única gota de sangue, o diagnóstico de cerca de 30 doenças metabólicas. O método analisa e mede aminoácidos e acilcarnitinas, detectando, portanto, aminoacidopatias, acidemias orgânicas, defeitos envolvendo o ciclo da ureia e o metabolismo de ácidos graxos (defeitos de oxidação). Por se tratar de um programa de rastreamento, é importante enfatizar que um teste do pezinho alterado requer a realização de exames confirmatórios. Em um primeiro momento, realizam-se exames de alta sensibilidade, que serão confirmados com exames de maior especificidadee menores taxas de falsos-positivos. Na Figura abaixo, estão descritos os principais passos a serem seguidos na triagem neonatal. Figura 1: Passos para a triagem neonatal. RN, recém-nascido; dv, dia de vida; TP, tempo de protrombina. Fonte: XAVIER et al., 2016 De acordo com o Ministério da Saúde, a triagem neonatal contempla o diagnóstico presuntivo, o diagnóstico de certeza, o tratamento, o acompanhamento dos casos diagnosticados e a incorporação e uso de tecnologias voltadas para a promoção, prevenção e cuidado integral. ► O diagnóstico presuntivo em triagem neonatal refere‑se à interpretação de correlações clínicas e/ou clinico‑laboratoriais, indicando impressão, suspeita ou probabilidade, obtidas por utilização unicamente dos testes de triagem conforme protocolos técnicos estabelecidos para os distúrbios ou doenças específicas; ► O diagnóstico definitivo ou de certeza refere‑se à constatação da presença do distúrbio ou doença, nos casos previamente suspeitos à triagem, por meio de testes confirmatórios e/ou avaliação clínica; ► A melhoria da efetividade do acesso ao tratamento e acompanhamento dos casos diagnosticados, obtidos com as ações operacionais de monitoramento e acompanhamento das pessoas com diagnóstico positivo, incluem a busca ativa para a recoleta, reteste, reavaliação, agendamento de consultas e acompanhamento de comparecimento; Brasil. Ministério da Saúde. Triagem neonatal biológica: manual técnico, 2016. A Tabela 1 descreve as principais doenças metabólicas que podem ser diagnosticadas por meio do teste do pezinho relacionando a doença e o teste utilizado em caso de teste do pezinho alterado. Tabela 1: Doença e teste utilizado em caso de teste do pezinho alterado: Legenda: MCAD, desidrogenase das acil-CoA dos ácidos graxos de cadeia média; ITR, tripsina imunorreativa; MS, espectometria de massa; T4, tiroxina; TSH, tireotrofina; HSRC, hiperplasia suprarrenal congênita; 17-α-OHP, 17-α- hidroxiprogesterona; G6PD, glicose-6-fosfato-desidrogenase. Fonte: XAVIER et al., 2016 O Programa Nacional de Triagem Neonatal tem em seu escopo seis doenças, que serão analisadas com mais detalhes nas sessões seguintes: 1. Fenilcetonúria (PKU); 2. Hipotireoidismo Congênito (HC); 3. Doenças Falciformes (DF) e outras Hemoglobinopatias; 4. Fibrose Cística (FC); 5. Hiperplasia Adrenal Congênita (HAC) ou Hiperplasia Congênita da Supra-renal; 6. Deficiência de Biotinidase (DB). É importante que o acompanhamento e tratamento dos pacientes detectados sejam baseados nos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas publicados pelo Ministério da Saúde, para cada uma das doenças. 1. Fenilcetonúria (PKU) A PKU é uma doença genética, autossômica recessiva, caracterizada pelo defeito ou ausência da enzima fenilalanina hidroxilase, responsável pela conversão da fenilalanina em tirosina. Quando existe a doença, esta reação enzimática não ocorre ou ocorre de maneira lentificada, levando a um acúmulo de fenilalanina no sangue do paciente. Sendo assim, o diagnóstico laboratorial da PKU se dá através da dosagem elevada de fenilalanina (FAL) no sangue do paciente. O 1º resultado de FAL raramente permite o diagnóstico imediato da fenilcetonúria. É necessária uma nova coleta o mais rapidamente possível para que possa ser avaliado como está evoluindo o metabolismo da fenilalanina naquela criança. Apenas após o 2º resultado é que se pode orientar melhor a família da criança. É considerado normal um resultado de FAL < 4 mg%. 2. Hipotireoidismo Congênito (HC) O HC ocorre quando a glândula tireóide do RN não é capaz de produzir quantidades adequadas de hormônios tireoidianos (T3 e T4), o que resulta numa redução generalizada dos processos metabólicos e retardo mental, se não tratado precocemente. Na maioria das vezes, se deve a uma alteração primária na glândula tireóide, com consequente elevação do TSH, hormônio produzido pela hipófise e que regula a função tireoidiana. A Triagem Neonatal para HC pode ser realizada pela dosagem de TSH (no caso de um RN afetado, este hormônio está elevado) e/ou pela dosagem de T4 (no caso de um RN afetado, este hormônio está diminuído). Normalmente, utiliza-se a dosagem de TSH em sangue colhido em papel filtro (TSH neo), sendo considerados resultados alterados aqueles ≥10 mUI/ml. Valores maiores do que este sugerem o diagnóstico de HC e demandam uma avaliação clínica (história e exame físico) imediata do recém-nascido e confirmação diagnóstica através da dosagem sérica de TSH e T4. 3. Anemia Falciforme e outras Hemoglobinopatias A anemia falciforme é a doença hereditária mais frequente no Brasil. É uma alteração genética, autossômica recessiva, causada por uma mutação no gene da globina beta da hemoglobina, originando, no lugar da hemoglobina A (HbA), uma hemoglobina mutante denominada hemoglobina S (HbS). Esta Hb S. em algumas situações, provoca a distorção dos eritrócitos, fazendo-os tomar a forma de “foice” ou “meia-lua”, com consequente anemia, vaso- oclusão, dor e lesões de órgãos-alvos. O termo anemia falciforme define a situação de homozigose (Hb SS), ou seja, a criança recebe de cada pai um gene para HbS. No caso de heterozigose (HbAS), quando a criança recebe um gene mutado (HbS) de um dos pais e um gene normal (HbA) do outro, ela é portadora de traço falciforme, o que não é doença (a criança não tem anemia e nem outras manifestações clínicas). Além disso, o gene da HbS pode se combinar com outras alterações hereditárias das hemoglobinas, como Hb C, D e E, alfa e beta-talassemia, gerando doenças que se apresentam com sintomas semelhantes aos da anemia falciforme. Este conjunto de combinações SS, SC, SD, S-betatalassemia e outras, é denominado de doença falciforme. 4. Fibrose Cística (FC) A FC é uma doença hereditária autossômica recessiva, caracterizada por uma grande heterogeneidade de manifestações clínicas. No entanto, a tríade clássica da doença é constituída de doença pulmonar crônica (infecções pulmonares recorrentes) insuficiência pancreática (diarréia e desnutrição) e teores elevados de cloreto de sódio no suor (“suor salgado”). Existem vários protocolos de triagem neonatal, sendo o mais utilizado o IRT1/IRT2, que consiste na dosagem da imunotripsina reativa (IRT), um precursor da enzima pancreática tripsina, cuja concentração costuma estar elevada no sangue dos recém-nascidos com FC. Como o IRT é um exame que se apresenta elevado em várias circunstâncias, que não propriamente a doença, tais como na prematuridade e na presença de infecções, com alta taxa de resultados falso-positivos, quando o primeiro exame (IRT1) mostra-se alterado, sempre deve ser coletada uma 2ª amostra para confirmação diagnóstica (IRT2). Este 2º exame deve ser realizado sempre entre a 3ª e 4ª semanas de vida do RN. Este tempo é de extrema importância, visto que há uma queda crescente dos níveis da enzima com o passar dos dias e, após 45 dias, o valor do IRT se normaliza mesmo a criança sendo afetada, dificultando o diagnóstico da FC. Aquelas crianças que apresentam os 2 IRT alterados (valor de referência < 70 ng/ml), devem ser submetidas à avaliação clínica e ao teste do cloro no suor para confirmação diagnóstica. 5. Hiperplasia Adrenal Congênita (HAC) ou Hiperplasia Congênita da Supra-renal; A denominação hiperplasia adrenal congênita (HAC) engloba um conjunto de síndromes transmitidas de forma autossômica recessiva que se caracterizam por diferentes deficiências enzimáticas na síntese dos esteroides adrenais. Na deficiência da 21-hidroxilase existe um espectro de manifestações clínicas, que podem ser divididas em três formas: forma clássica perdedora de sal, forma clássica não perdedora de sal e forma não clássica. As deficiências enzimáticas na HAC levam ao acúmulo de metabólitos precursores na síntese do cortisol e da aldosterona, principalmentea 17-hidroxi progesterona (17-OHP), que está geralmente muito elevada. As formas perdedoras de sal apresentam também hiponatremia, hiperpotassemia e atividade de renina plasmática aumentada. A coleta de sangue para triagem da Hiperplasia Adrenal Congênita deverá ser realizada em papel-filtro entre o 3º e 5ª dias de vida, quando existe estabilização da função hormonal do recém-nascido (RN) e a possibilidade do diagnóstico e tratamento precoces dos casos positivos. Se for necessário realizar a coleta em maternidade, ela só deverá ser feita após 48 horas de vida. É realizada a quantificação da 17-hidroxi-progesterona (17-OHP) nas amostras de sangue colhidas em papel-filtro de todas as crianças e determinados limites de emergência para convocação direta para consulta médica. Como os valores da 17-OHP podem variar em crianças submetidas a situações de estresse perinatal e/ou com baixo peso ao nascimento, deverão ser estabelecidos valores de corte ajustados para o peso, em 4 faixas: Peso >= 2.500g, Peso entre 2.499g a 2.000g, Peso entre 1.999 a 1.500g e Peso < 1.499g. As medidas da 17-OHP serão avaliadas de acordo com o fluxograma da Figura 2. O recém-nascido que apresentar valores da 17-OHP ≤ percentil 99 será considerado normal. Valores ≥ 2 x percentil 99 serão considerados altamente suspeitos e as crianças receberão convocação de emergência para consulta médica e realização de testes confirmatórios para a elucidação diagnóstica. Se for detectado aumento moderado da 17-OHP, com valores ≥ percentil 99 e ≤ 2 x percentil 99, a dosagem em papel será repetida e a conduta será de acordo com o fluxograma. Os níveis de 17-OHP de crianças não afetadas podem estar elevados em situações de estresse (recém-nascidos internados, com infecção, prematuridade, etc.) podendo gerar diagnósticos falsos positivos. As metodologias utilizadas serão as atualmente disponíveis: imunofluorimetria por tempo resolvido, elisa ou outras novas oferecidas pelo mercado com eficiência e efetividade comprovada na área de triagem neonatal (TN) e aprovadas pela ANVISA. Nos casos suspeitos deverá ser solicitada 2ª coleta em papel-filtro. Cada laboratório responsável deverá determinar valores de normalidade para a 2ª amostra, bem como os valores que indicarão a necessidade de avaliação urgente de acordo com a metodologia utilizada. Para avaliação deverão ser utilizados os mesmos critérios definidos para a 1ª amostra. Figura 2: Fluxograma da Triagem Neonatal Hiperplasia Adrenal Congênita por Deficiência da 21- Hidroxilase Se o novo exame não apresentar valores normais, a criança deverá ser encaminhada para consulta médica e acompanhamento. Os RN nessa condição deverão receber atenção especial para a avaliação de: • Presença de genitália ambígua nas meninas • Testículo palpável nos meninos e pesquisar presença de hipospádia Nos Casos Urgentes, isto é, crianças com valores da 17-OHP ≥ 2 x percentil 99 deverá ser agendada consulta médica e solicitada coleta de amostra de sangue no mesmo dia para a realização de exames confirmatórios. Testes confirmatórios em soro: Os exames confirmatórios - 17-OHP (Radioimunoensaio ou espectrometria de massa), cortisol, androstenediona, testosterona, sódio e potássio (ionograma) - deverão ser realizados em amostra de sangue venoso, obtida o mais precocemente possível, após os resultados positivos iniciais. 6. Deficiência de Biotinidase (DB) A deficiência de biotinidase (DBT) é um erro inato do metabolismo, de origem genética e herança autossômica recessiva, que consiste na deficiência da enzima biotinidase, responsável pela absorção e regeneração orgânica da biotina, uma vitamina existente nos alimentos que compõem a dieta normal, indispensável para a atividade de diversas enzimas. Assim, como a maioria dos erros inatos do metabolismo, a deficiência de biotinidase, de herança autossômica recessiva, apresenta mais de 140 mutações descritas. Classificação: a) deficiência profunda de biotinidase; b) deficiência parcial de biotinidase; c) sem deficiência de biotinidase. Clinicamente esta doença manifesta-se a partir da sétima semana de vida com distúrbios neurológicos e cutâneos tais como crises epiléticas, hipotonia, microcefalia, atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, alopecia e dermatite eczematoide. Nos pacientes com diagnóstico tardio observam-se, distúrbios visuais, auditivos, assim como, atraso motor e de linguagem. Pacientes diagnosticados em período sintomático, frequentemente apresentam atraso do desenvolvimento e risco de desenvolverem sequelas auditiva, visual e de funções nervosas superiores irreversíveis, ao contrário do que se observou nos pacientes diagnosticados no período neonatal. Os pacientes com testes de triagem alterados (parcial ou total), identificados pela análise da enzima biotina, serão classificados como suspeitos até a confirmação ou não do diagnóstico, que será estabelecido a partir do teste quantitativo da atividade de biotinidase, podendo ser complementado com estudo genético-molecular. O tratamento medicamentoso é muito simples, de baixo custo e consiste na utilização de biotina (vitamina H) em doses diárias de acordo com a subclassificação da deficiência de biotina, baseada no teste quantitativo. O diagnóstico precoce, com o início do tratamento ainda nos primeiros meses de vida, assegura ao bebê uma vida normal sem qualquer sintoma da doença. Em crianças diagnosticadas precocemente, o uso de biotina preveniu as anormalidades clínicas e bioquímicas. Estudos demonstram que quanto mais precocemente o tratamento é instituído, melhor é a resposta clínica. A prevalência da DBT pode variar de acordo com a população estudada. Nos EUA estudos do ano de 2000 relatam uma incidência de 1: 59.000. No Brasil, estima-se que possam existir aproximadamente 3.200 pacientes com DBT (incidência aproximada de 1 para 60.000, em uma população de cerca de 190 milhões de habitantes). Figura 3: Acompanhamento de recém-nascidos submetidos à triagem neonatal para Deficiência de Biotinidase * PONTO DE ATENÇÃO ESPECIALIZADA EM DB: serão ponto de atenção especializada em DB aqueles estabelecimentos de saúde designad os pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) para atender os pacientes advindos da triagem neonatal no estado. Fonte: PNTN – CGSH/DAET/SAS/MS. COLETA A técnica utilizada para coleta de material para realização do teste do pezinho é importante para a qualidade da análise e para a obtenção de resultados confiáveis. A coleta deve ser em um cartão de papel-filtro específico para a triagem neonatal. Dados de identificação e data de nascimento devem ser preenchidos com atenção. Figura 4: cartão para coleta do teste do pezinho. Como já mencionado, O “Teste do Pezinho” deve ser colhido em todo recém-nascido (RN) com 3 a 5 dias de vida, de preferência no 3º dia. Apesar de poder ser realizado mais tardiamente, é de extrema importância a divulgação para o público o período ideal de coleta do exame, evitando assim que muitas crianças percam o período de diagnóstico e tratamento precoces e não se beneficiem da prevenção de sequelas, principalmente neurológicas, que é o objetivo do teste. Este tempo é ainda mais importante no caso de crianças que tiveram sua primeira coleta devolvida como mal colhida. Vale ressaltar que o teste, idealmente, não deve ser colhido antes de a criança ter pelo menos 48 horas de vida por 2 motivos: 1) Evitar um resultado falso-negativo para “PKU”: para que o resultado do exame para diagnóstico de PKU seja confiável, o RN deverá ter mamado uma quantidade suficiente de leite para que a fenilalanina se acumule no sangue; se for colhido antes deste tempo, o leite ingerido pelo RN poderá não ser suficiente para que o resultado do teste se altere; 2) Evitar um resultado falso-positivo para HC: logo que a criança nasce existe uma liberaçãofisiológica de TSH no sangue (hormônio dosado no teste para diagnóstico de HC) com posterior diminuição das concentrações, atingindo valores séricos menores do que 10 mUI/ml (nível de corte para resultado alterado), somente em torno de 72 horas de vida do RN. No entanto, se houver necessidade de o bebê receber transfusão de sangue, o “Teste do Pezinho” deve ser colhido antes da mesma, não importando a data de nascimento. No caso de crianças prematuras (Idade Gestacional < 37 semanas), a coleta de sangue deve ser realizada preferencialmente no final da 1a semana de vida. Para estas crianças, o teste deve também ser repetido quando elas completam 1 mês de vida, o que será comunicado no resultado de exame da 1ª coleta. A escolha do local adequado para a punção é importante, devendo ser numa das laterais da região plantar do calcanhar, local com pouca possibilidade de atingir o osso. Segure o pé e o tornozelo da criança, envolvendo com o dedo indicador e o polegar todo o calcanhar, de forma a imobilizar, mas não prender a circulação. A punção só deverá ser realizada após a assepsia e secagem completa do álcool. Brasil. Ministério da Saúde. Triagem neonatal biológica: manual técnico, 2016. Figura 5: Local adequado para punção Técnica de coleta: 1. Fazer antissepsia do calcanhar com álcool 70% e esperar secar em temperatura ambiente; 2. Puncionar, com lanceta de ponta fina ou agulha descartável, uma das áreas laterais da região plantar do calcanhar; 3. Após a formação de gota de sangue, retirar a primeira gota com gaze ou algodão. Encostar o centro do círculo, saturando sua área até o verso do papel-filtro. 4. Normalmente, dois círculos são preenchidos para tiroxina (T4), tireotrofina (TSH, do inglês thyroid-stimulating hormone), tripsina, 17-hidroxiprogesterona (17-OHP); dois círculos para biotinidase, galactose, toxoplasmose, sífilis, vírus da imunodeficiência humana (HIV); um círculo para os outros testes; 5. Aguardar a secagem do cartão. Acondicionar o cartão em papel-alumínio e enviar ao laboratório. Cartão de Coleta Área do papel‑filtro: é a parte mais sensível do cartão de coleta, destinada para a absorção e transporte do sangue do recém-nascido. Esse papel-filtro é especial e deve estar em conformidade com o padrão internacional estabelecido para a ação de triagem neonatal, permitindo a análise quantitativa dos analitos. Área de registro das informações: essa área normalmente é confeccionada com papel sulfite comum ou reciclado, destinada ao registro dos dados de identificação do recém-nascido e informações necessárias e importantes para a interpretação dos resultados. Preencher todas as informações solicitadas com letra legível, de preferência de fôrma, e evitar o uso de abreviaturas. Dados incompletos, trocados ou ilegíveis retardam ou impedem a realização do exame, atrasam um possível diagnóstico positivo, impactando a vida da criança. O cartão de coleta é distribuído pelo laboratório especializado em triagem neonatal, que faz o controle do respectivo lote de fabricação do papel-filtro anexado. Para evitar a contaminação dos círculos do papel-filtro, manuseie o cartão de coleta com cuidado evitando o contato com as mãos, bem como com qualquer tipo de substância, no local reservado ao sangue. Figura 6: Exemplos de coleta adequada Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Triagem neonatal biológica: manual técnico, 2016. Quadro 2 – Síntese sobre possibilidades que levam a inutilização das amostras Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Triagem neonatal biológica: manual técnico, 2016. Figura 7: Exemplos de amostras mal colhidas Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Triagem neonatal biológica: manual técnico, 2016. IMPORTANTE: não deve-se dispensar o recém‑nascido antes de ter certeza de que a coleta foi adequada. Amostras insuficientes e mal coletadas serão rejeitadas pelo laboratório, exigindo reconvocação do recém‑nascido para coleta de uma nova amostra. Além de correr o risco da mãe ou familiar recusar a nova coleta, reconvocações por amostra inadequada atrasam possíveis diagnósticos. Essa situação é potencialmente danosa ao bebê portador de alguma das doenças da triagem neonatal biológica, pois eles podem evoluir ao óbito e/ou estabelecer sequelas neurológicas irreversíveis. CASO CLÍNICO A triagem neonatal, por ser um exame realizado a partir de gotas de sangue obtidas do calcanhar do RN, possibilita a identificação de um grupo de doenças metabólicas, genéticas, endocrinológicas e infecciosas, mesmo que assintomáticas no período neonatal. Tais doenças têm tratamento estabelecido que, quando iniciado precocemente, altera de forma significativa o curso prognóstico da doença. Leia o caso clínico abaixo e responda: Recém-nascido (RN) é trazido à consulta pelos pais, que estão em busca de orientações sobre o resultado alterado do teste do pezinho (aumento de TIROSINA). Negam queixas. O RN alimenta-se adequada e exclusivamente de leite materno; apresenta-se em bom estado geral e sem particularidades no exame físico. COMO O LABORATÓRIO PODE AJUDAR NA AVALIAÇÃO DESTE PACIENTE? _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ [+] Referências Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 822, de 06 de junho de 2001. Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde, o Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN). Diário Oficial da União. 7 jun. 2001; Seção 1:33. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção a Saúde. Departamento de Atenção Especializada e Temática. Triagem neonatal biológica: manual técnico / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção a Saúde, Departamento de Atenção Especializada e Temática. – Brasília: Ministério da Saúde, 2016. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada e Temática. Triagem neonatal : hiperplasia adrenal congênita / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada e Temática. – Brasília : Ministério da Saúde, 2015. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada e Temática. Triagem neonatal : deficiência de biotinidase / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada e Temática. – Brasília : Ministério da Saúde, 2015. Ricardo M. Xavier, José Miguel Dora, Elvino Barros. Laboratório na prática clínica: consulta rápida. 3. ed. Porto Alegre : Artmed, 2016.
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