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Kamilla Galiza / 6º P Introdução A triagem neonatal, portanto, é um rastreamento da população entre 0 e 28 dias de vida. A triagem neonatal consiste em alguns testes: o mais conhecido, o teste do pezinho, responsável pela identificação de diversas doenças metabólicas, genéticas endócrinas e enzimáticas; o teste do coraçãozinho; o teste do reflexo vermelho; a triagem auditiva; e a avaliação do frênulo lingual. Teste do pezinho Introdução O teste do pezinho também é conhecido como triagem neonatal biológica e é responsável pela pesquisa de 6 doenças: Fenilcetonúria, Hipotireoidismo Congênito, Doença Falciforme e outras hemoglobinopatias, Fibrose Cística, Hiperplasia Adrenal Congênita e Deficiência de Biotinidase. O momento ideal de coleta é entre o 3º e 7º dia de vida (MS recomenda entre 3º e 5º dia), NUNCA antes de 48h de amamentação e nunca superior a 30 dias. realização do teste é feita em um posto de coleta, onde será realizada a ficha cadastral da criança. É feita uma pequena punção no calcanhar do RN com agulhas e luvas descartáveis, sendo o sangue adsorvido em um papel-filtro, que deve permanecer em temperatura ambiente até a completa secagem (geralmente 2h) e ser encaminhado ao laboratório. Fenilcetonúria Consiste em um erro inato do metabolismo, com padrão de herança autossômica recessiva, caracterizado por um defeito na enzima Fenilalanina Hidroxilase. Esse defeito leva ao acúmulo do aminoácido Fenilalanina (FAL). Sem o diagnóstico e tratamento antes dos 3 meses de vida, a doença se caracteriza clinicamente por atraso global do desenvolvimento neopsicomotor, deficiência mental, comportamento agitado ou padrão autista, convulsões e odor característico na urina. O diagnóstico é feito pela dosagem quantitativa da Fenilalanina da amostra sanguínea (valor superior a 10 mg/ dL em pelo menos 2 amostras distintas). O aumento da FAL só é detectado se a criança tiver ingerido quantidade suficiente de proteína: por isso, a coleta só pode ser feita após 48 horas do nascimento. O tratamento consiste em uma dieta com baixo teor de FAL por toda a vida, permitindo o crescimento e desenvolvimento normal do indivíduo. O bebê deve ser acompanhado clinica e laboratorialmente de forma frequente até o primeiro ano de vida, para controle dos exames. Hipotireoidismo congênito Doença considerada como uma emergência pediátrica, causada pela incapacidade da tireoide em produzir suficientemente os hormônios, resultando em redução geral do metabolismo. A doença pode ser primária (na qual a forma mais comum é a disgenesia tireoidiana); secundária, com deficiência de TSH hipofisário; terciária, com deficiência do TRH hipotalâmico; e por resistência periférica à ação dos hormônios tireoidianos. As manifestações clínicas incluem hipotonia, dificuldades respiratórias, cianose, icterícia prolongada, constipação, bradicardia, sonolência excessiva, choro rouco, mixedema, déficit de crescimento e outros. As crianças que têm o diagnóstico precoce geralmente não apresentam os sintomas, desde que a reposição hormonal seja iniciada. Após o resultado inicial positivo, deve-se dosar o T4 (total e livre) e TSH de sangue venoso, para confirmação do diagnóstico. O tratamento é baseado na reposição hormonal, promovendo a normalização do estado metabólico. O acompanhamento deve ser feito com dosagem hormonal, além das avaliações de crescimento e desenvolvimento físico e neuropsicomotor, para ajustes das doses. Doença falciforme e hemoglobinopatias A doença falciforme tem herança genética autossômica recessiva, causada por um defeito na estrutura da cadeia beta da hemoglobina. Isso leva as hemácias assumirem formas falcêmicas (de lua minguante). A hemoglobina predominante em um homem adulto normal é a A (Hb A); nos recém-nascidos, há predominância da Hemoglobina F (Hb FA). Por outro lado, as hemoglobinas variantes mais frequentes são a S e a C. Sendo assim, quando o indivíduo adulto é heterozigoto, ou seja, Hb AS, é dito como portador do “traço falciforme”; se é homozigoto (Hb SS), possui a doença. Nos recém-nascidos, é possível identificar os heterozigotos como Hb FAS (portadores de traço falciforme) e os homozigotos (doentes), como Hb FS. As manifestações clínicas do paciente homozigoto são: anemia hemolítica; crises vaso-oclusivas; crises de dor; insuficiência renal progressiva; acidente vascular cerebral; maior susceptibilidade a infecções; e sequestro esplênico. O diagnóstico precoce permite a implantação de cuidados preventivos e orientação aos pais sobre o recém-nascido. O tratamento deve ser iniciado antes dos 4 meses de vida e as medidas preconizadas são: antibioticoterapia profilática, suplementação com ácido fólico e seguimento clínico especializado. Fibrose cística Também chamada de mucoviscidose, é uma doença hereditária grave, de herança autossômica recessiva, que afeta predominantemente os pulmões e o pâncreas. Envolve um processo obstrutivo causado pelo aumento da Triagem neonatal Ambulatorio Kamilla Galiza / 6º P viscosidade do muco e tem mortalidade elevada, com os sintomas aparecendo nos primeiros anos de vida. Dentre as manifestações, pode-se ter: proliferação bacteriana pela obstrução das vias aéreas, levando a infecções crônicas (por pseudomonas e estafilococos), lesão pulmonar e insuficiência respiratória; e no pâncreas, obstrução dos ductos pela secreção espessa, levando à uma perda de enzimas digestivas e má nutrição, com esteatorreia e dificuldade de ganho de peso. O diagnóstico presuntivo é feito pelos níveis da tripsina imunorreativa (IRT); já a confirmação dos casos suspeitos é feito com a dosagem de cloreto no suor. O tratamento consiste no acompanhamento regular, suporte dietético, utilização de enzimas pancreáticas, suplementação de vitaminas A, D, E, K e fisioterapia respiratória. Hiperplasia adrenal congênita Engloba um conjunto de síndromes autossômicas recessivas, que se caracterizam por diferentes deficiências enzimáticas na síntese dos esteroides adrenais. A deficiência mais comum é da 21-hidroxilase (95% dos casos), envolvida na síntese do cortisol e da aldosterona. As manifestações clínicas da deficiência de 21-hidroxilase podem ser divididas em três formas: forma clássica perdedora de sal, que ocorre em 70- 75% dos casos, com virilização da genitália externa (excesso de androgênios) e crise adrenal (depleção de volume, hipotensão, hiponatremia, hipercalemia); forma clássica não perdedora de sal, em que há também virilização da genitália externa, porém não há manifestação da deficiência mineralocorticoide, sendo identificados muitas vezes em idade tardia; e a forma não clássica, que pode ser diagnosticada até na vida adulta pelo hiperandrogenismo ou até não apresentar manifestações. O diagnóstico presuntivo na triagem neonatal é feito pela quantificação da 17-hidroxi-progesterona (17-OHP), seguido de testes confirmatórios. O tratamento para pacientes do sexo feminino com hiperandrogenismo inclui reposição hormonal com baixas doses de glicocorticoides; os pacientes assintomáticos (com a forma não clássica) não precisam de tratamento. Deficiência de biotinidase Doença metabólica hereditária com herança autossômica recessiva, na qual há um defeito no metabolismo da biotina. Manifesta-se clinicamente a partir da 7ª semana de vida, com distúrbios neurológicos e cutâneos (crises epilépticas, hipotonia, microcefalia, atraso no desenvolvimento, dermatite eczematoide). Os pacientes com resultados alterados na triagem são submetidos posteriormente à confirmação, através do teste quantitativo da atividade da biotinidase. O tratamento medicamentoso é simples e de baixo custo, constituído no uso de biotina em doses diárias. Teste do reflexo vermelho Introdução Também chamado de teste do olhinho, consiste em um exame simples e rápido realizado emrecém-nascidos, com o objetivo de detectar precocemente problemas oculares congênitos. Identifica-se com esse teste as condições que comprometem a transparência dos meios oculares e que podem impedir o desenvolvimento visual. O teste é realizado com o oftalmoscópio direto, que projeta a luz nos olhos e atravessa as estruturas transparentes, atingindo a retina e refletindo a luz vermelha. O aparelho deve ser colocado a uma distância de 50cm a 1 metro dos olhos do RN e deve-se observar a presença ou ausência do reflexo, assim como comparar a intensidade e simetria dos olhos. A observação do reflexo vermelho da retina indica que as estruturas estão transparentes (normais); a opacidade desses meios pode levar a leucocoria (pupila branca) ou perda do reflexo. As principais causas de TRV negativo (alterado) são a catarata congênita, glaucoma congênito, retinoblastoma, leucoma, inflamações intraoculares da retina e vítreo, retinopatia da prematuridade e outros. O TRV deve ser realizado pelo pediatra na maternidade, antes da alta do RN. Se não for possível, deve ser feito até completar 01 mês de vida. Recomenda-se, ainda, a repetição do teste durante as consultas pediátricas regulares, de 2 a 3 vezes por ano nos primeiros 3 anos de vida. Caso haja detecção de qualquer alteração, deve-se encaminhar o neonato para acompanhamento em unidade especializada. No entanto, o teste não é suficiente para assegurar a boa saúde ocular da criança: dos seis meses de vida a um ano, todos os bebês devem ser submetidos ao exame oftalmológico. Kamilla Galiza / 6º P Teste do coraçãozinho Introdução A cardiopatia congênita ocorre em cada 1 – 2 para cada 1000 nascidos vivos; destes alguns têm cardiopatias graves, com necessidade de intervenção urgente e que muitas vezes recebem alta sem diagnóstico. A maior parte das cardiopatias congênitas críticas (CCC) cursa com redução da saturação periférica de O2 no período neonatal. Por isso, o teste envolvendo a oximetria de pulso foi desenvolvido como um método de triagem para essas condições críticas. Consiste em um exame fácil e rápido, além de muito específico para a detecção de CCC, que deve ser realizado antes da alta da Unidade Hospitalar em todos os RN com IG > 34 semanas. O teste é realizado a partir da aferição da saturação de oxigênio no membro superior direito (MSD) e em qualquer um dos membros inferiores, entre 24 e 48 horas de vida. O resultado normal consiste na saturação maior ou igual a 95% em ambas as medidas, sendo a diferença menor que 3% entre as medidas do MSD e MMII. Já o resultado anormal está presente quando qualquer medida seja menor que 95% ou houver diferença igual ou maior a 3% entre as medidas do MSD e MMII. Caso a triagem seja alterada, uma nova aferição deve ser realizada em 01 hora. Se o resultado anormal se confirmar, o recém-nascido deve ser submetido a um ecocardiograma dentro de 24 horas. Teste da orelhinha Introdução A deficiência de audição tem consequências desastrosas na infância, com implicações diretas no desenvolvimento, escolaridade, relacionamento social e status emocional do indivíduo. Outro aspecto importante é que a linguagem se desenvolve nos primeiros seis meses de vida, por isso a importância de identificar os bebês com alterações auditivas e iniciar seus atendimentos. Alguns indicadores de alto risco de perda auditiva devem ser considerados: história familiar de surdez congênita; anomalias craniofaciais; espinha bífida; síndromes genéticas que cursam com deficiências auditivas, como a Sd. Waardenburg, Alport e Pendred; e intercorrências neonatais, como peso < 1.500g, anóxia grave, uso de ventilação assistida, permanência em UTI por > 5 dias, sepse/meningite neonatal, infecções congênitas e uso de drogas ototóxicas. Apesar disso, cerca de 50% das perdas auditivas são idiopáticas, sem riscos identificáveis, por isso a importância de realizar os testes em todos os RN. A triagem auditiva deve ser realizada preferencialmente nos primeiros dias de vida (24 a 48 horas), antes da alta ou, no máximo, no 1º mês de vida. A forma como serão realizados os testes dependem da presença ou não de indicadores de risco para a deficiência auditiva. Para os neonatos e lactentes sem indicadores de risco, utiliza-se o exame de Emissões Otoacústicas Evocadas (EOAE), que pode ser repetido caso haja falha. Se a falha permanecer, deve-se realizar o Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico (Peate- Automático). Já para os indivíduos com indicador de risco, utiliza-se diretamente o Peate-Automático, devido à maior prevalência das perdas auditivas retrococleares. O EOAE é um teste rápido, simples e não invasivo, com alta sensibilidade e especificidade, capaz de identificar a maior parte das perdas auditivas cocleares (pré-neural). Porém, não permite a identificação das deficiências auditivas retrococleares e necessita de integridade anatômica da orelha externa e média para ser realizado. Já o PEATE é um teste mais complexo e caro, que precisa de sedação e avalia a integridade das vias auditivas até o tronco cerebral. Todas as crianças que apresentarem falha no teste devem passar pela etapa de reteste após 30 dias. Esse reteste deve ser feito com o Peate-A em ambas as orelhas, mesmo que a falha anterior tenha ocorrido de forma unilateral. Caso a falha persista, o pediatra/ neonatologista deve encaminhar o RN para avaliação especializada. Para as crianças que obtiveram respostas satisfatórias, cabe ao médico assistente realizar o monitoramento do desenvolvimento da audição e da linguagem, registrando-o na Caderneta de Saúde da Criança. Avaliação do frênulo lingual Introdução A anquiloglossia é uma alteração que se caracteriza por um frênulo lingual anormalmente curto e espesso, que restringe a movimentação da língua em graus variados. Kamilla Galiza / 6º P Dessa forma, pode interferir negativamente na amamentação, diminuindo a habilidade para uma sucção adequada. Com isso, há dificuldade no estímulo adequado à produção de leite materno, causando dores e feridas durante a amamentação. Embora as evidências sobre a associação de anquiloglossia e dificuldades na amamentação não sejam robustas, alguns testes podem ser feitos para identificar as alterações no frênulo lingual que podem interferir no processo. A avaliação do frênulo lingual tem como base o Protocolo Bristol, que leva em consideração os seguintes elementos: aparência da ponta da língua, fixação do frênulo na margem gengival inferior, elevação da língua e projeção da língua. As pontuações obtidas em cada item devem ser somadas, podendo variar de 0 a 8. Escores de 0 a 3 indicam possibilidade de redução mais grave da função lingual. Caso o escore seja menor ou igual a 3, sugere-se nova avaliação da mamada e do frênulo lingual antes da alta hospitalar. Caso o escore se confirme e não existam outros fatores que justifiquem a dificuldade na amamentação, pode-se considerar a realização do procedimento cirúrgico. Apesar disso, a força de evidência permanece baixa quanto à melhora na amamentação e redução de dor nos mamilos após a frenotomia. Importante considerar também a possibilidade de eventos adversos, como hemorragias e recidivas, e explicar à família para tomada de decisão em conjunto com a equipe assistencial. Referências Brasil. Triagem neonatal biológica: manual técnico / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção a Saúde, Departamento de Atenção Especializada e Temática. – Brasília: Ministério da Saúde, 2016.
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