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AULA 6 GESTÃO DE CARREIRAS, REMUNERAÇÃO E BENEFÍCIOS Profª Jaqueline Becker 02 CONVERSA INICIAL Seja bem-vindo! Nesta aula, abordaremos a implantação de programas de gestão de carreira, remuneração e benefícios. Você acessará informações sobre como construir esses programas. Abordaremos diversos assuntos acerca de planejamento, etapas, indicadores, investimentos e administração de rotina. Esta aula foi didaticamente separada em cinco temas para nosso estudo; todavia, os assuntos se interligam e se relacionam. No primeiro tópico, abordaremos o reconhecimento de modo não financeiro. No segundo, trataremos da construção de programas. O terceiro tópico nos ajudará a analisar as fases de implantação. No quarto tópico, versaremos sobre os indicadores de eficácia dos programas. No quinto e último tema, discutiremos os investimentos necessários para o desenvolvimento de cada programa e como geri-los. O objetivo da aula é que você adquira habilidades conceituais e aprenda a implantar os programas e suas etapas, e a medir resultados e valores associados; tudo isso fará com que você obtenha desenvoltura para orientar e tratar de questões pertinentes à remuneração como profissional de recursos humanos (RH) ou como gestor de uma equipe. CONTEXTUALIZANDO Reflitamos sobre a construção de um programa de reconhecimento com recompensas não monetárias. Ricardo é proprietário de uma corretora de seguros e quer aprimorar os programas internos de gestão de pessoas. Sua empresa está há 20 anos no mercado e vende planos de saúde e outros seguros – de vida, patrimonial, de veículos, viagem, acidentes pessoais, entre outros – para todo o Brasil. Ele tem uma equipe de 50 profissionais distribuídos fisicamente entre o escritório administrativo e diversos outros pontos comerciais, como concessionárias de veículos e agências de viagem. Sua empresa tem muitos profissionais jovens, que estão cursando o ensino superior; o clima de trabalho é descontraído, e os empregados têm autonomia e responsabilidade. Ele solicitou à equipe de RH que lhe apresentasse uma proposta para o estabelecimento de práticas não monetárias de reconhecimento dos empregados, para incentivá-los e recompensá-los pelos bons resultados atingidos. Dessa forma, não há oneração 03 da folha de pagamento resultante de aumentos de salários por mérito, considerando que os empregados podem não manter seus bons desempenhos (que podem ser apenas pontuais) e que o mercado externo pode apresentar retração. Ao final desta aula, você terá mais referências para refletir sobre a proposta que deverá apresentar a essa corretora de seguros. Mãos à obra! TEMA 1 – RECOMPENSAS NÃO MONETÁRIAS Em nossas aulas, estudamos a remuneração fixa, a remuneração variável e os possíveis benefícios em compor um sistema de remuneração total. Analisamos que, isoladamente, nenhuma dessas formas de recompensa fornecidas aos empregados funcionam como fator motivador por si só, pois outros critérios também são fundamentais para estimular os indivíduos dentro das organizações – bom ambiente de trabalho, liderança exemplar e desenvolvedora, possibilidades de crescimento e desenvolvimento, bom relacionamento interpessoal, flexibilidade nos processos, identificação com a cultura da empresa, respeito e reconhecimento. Todavia o contrário é verdadeiro, ou seja, um programa de remuneração insuficiente e inadequado gera desmotivação Vimos na aula sobre princípios e objetivos da remuneração que o reconhecimento pode ser monetário e não monetário. Nesta aula, abordaremos os princípios do reconhecimento não monetário. Para definir qual é a forma de recompensa não remuneratória mais adequada a cada organização, é fundamental realizar um diagnóstico e analisar detalhadamente o perfil da empresa e as expectativas dos empregados, para que a decisão seja mais acertada possível. 1.1 O que são recompensas não monetárias Recompensas não monetárias são elementos – que não são pagos em dinheiro – recebidos pelos empregados que complementam os componentes de retribuição e reconhecimento pelo trabalho bem realizado. Apesar de não constituir um valor de recebimento financeiro, elas podem gerar custos e devem estar ligadas a resultados concretos para não onerar a empresa. Os elementos não monetários estão, muitas vezes, atrelados aos reconhecimentos social, emocional e de status do trabalho. Podem tomar as 04 formas de agradecimento, cartas de reconhecimento, confraternizações em comemoração a resultados obtidos, participação em projetos especiais, escolha do funcionário do mês, prêmios em função de sugestões, prêmios por tempo de casa, cursos, folgas extras, possibilidade de teletrabalho, medalhas, certificados, brindes, entre outros. Analisaremos a seguir o caráter recompensatório e incentivador de algumas dessas modalidades. 1.1.1 Funcionário do mês É um programa de valorização daquele empregado que se destaca em um determinado período por sua atitude e seus comportamentos positivos. São programas de valorização instituídos pelas organizações por serem de fácil execução e baixo custo. Esses processos valorizam de maneira legítima e imprimem status, já que são os próprios colegas que realizam a eleição por meio de critérios preestabelecidos. Após a eleição, a etapa de divulgação interna é fundamental para compartilhar e valorizar os empregados selecionados. As organizações também podem atrelar a essa modalidade algum tipo de prêmio aos nomeados. 1.1.2 Prêmios por sugestões Essa modalidade de recompensa não monetária é adotada pelas empresas a partir de ideias implementados internamente. Ela é usada como uma forma de retribuir as sugestões que se destacam e oferecem resultados importantes para as empresas. As organizações demandam dos empregados uma participação ativa e criativa, com novas propostas que gerem soluções aos problemas existentes e originem reduções nos custos e/ou o aumento de produtividade. É possível adotar uma grande variedade de premiações e adaptá-las a sua cultura e ao seu orçamento. Como exemplo, podemos citar entradas de cinema, viagens, vales- refeições, vouchers para restaurantes, entre outros. Esses programas podem preconizar sugestões geradas individualmente ou em grupo, ou ainda atrelar as duas formas, premiando tanto indivíduos quanto grupos. Para que um plano de sugestões tenha sucesso, além da premiação é necessário que todas as sugestões sejam avaliadas e recebam uma resposta 05 sobre a sua viabilidade. Aquelas que são viáveis devem ser implementadas para imprimir credibilidade ao programa aos olhos de todos membros da organização. 1.1.3 Tempo de casa Reconhecer os empregados veteranos da organização é uma forma de valorizar o funcionário com base em dedicação e tempo de contribuição à companhia. Se o indivíduo permanece por tanto tempo em uma empresa é sinal de que ele contribui com os resultados e está comprometido com a organização, vivenciando tanto os momentos de dificuldades quanto o de bonanças. Geralmente são estabelecidos períodos fixos, como 5, 10, 15, 20, 25 anos de empresa, em que os empregados são homenageados e premiados com valores e status pelo tempo de atuação. As empresas podem fornecer recompensas em forma de brindes (certificados, medalhas, troféus etc.) ou de presentes (canetas, relógios, complemento ao salário, dia de folga, almoço especial, viagens etc.). 1.2 Mitos Avaliaremos agora alguns mitos sobre a capacidade de motivação e os riscos de interpretações equivocadas das recompensas. De acordo com Wood Jr. e Picarelli Filho (1999, p. 129), 1. De fato, abaixo de certo nível, o dinheiro pode ser um fator de desmotivação, mas a crença de que o dinheiro por si pode motivar é um mito. 2. A motivação é um fator para melhorar o desempenho do indivíduo e do grupo, mas é preciso tambémconvergência de competência, esforço e um sistema de gestão eficaz para transformar motivação em bom desempenho. 3. Ninguém pode, em rigor, motivar ninguém. Um líder pode, entretanto, promover as condições necessárias para criar um ambiente motivador. Um líder pode trabalhar para eliminar as barreiras e as condições que levam à desmotivação. 4. Funcionários felizes são apenas felizes. É claro que trabalhar num ambiente agradável e livre de tensões é sadio e ajuda o desempenho, mas acreditar que isto é suficiente é mais um mito. [...] 5. Fatores motivacionais variam de indivíduo para indivíduo. Isto ocorre em função de seu meio social e da interação que se estabelece entre ele e o meio. Além disso, os fatores motivacionais também variam com seu momento de vida. [...] 6. Assim como existem motivadores universais, não existem comportamentos característicos que reflitam motivação. Cada pessoa pode demonstrar esse estado de uma forma diferente, própria de sua personalidade. 06 Os livros e pesquisas sobre motivação sugerem que os indivíduos não trabalham apenas para ganhar dinheiro e atender suas necessidades básicas de subsistência, mas também para satisfazer suas necessidades de autoestima, realização e propósitos de vida. Nesse sentido, as recompensas não monetárias são uma grande aliada das organizações na hora de impulsionar os indivíduos a trabalhar com mais engajamento. TEMA 2 – COMO DESENHAR OS PROGRAMAS Os programas de gestão de carreira, plano de remuneração e benefícios precisam ser estruturados nas organizações quando elas mesmas são planejadas, ou então quando começam a crescer e a administração dos empregados sem a existência de normas e procedimentos específicos se torna mais complexa. Esses programas também podem ser revistos em função de: Desalinhamento entre as políticas da empresa e as necessidades e a realidade dos empregados; Crises e dificuldades financeiras da organização; Fusões, aquisições, internacionalização e crescimento acelerado; Implantação de novos produtos, serviços e tecnologias; Adequação a mudanças de legislação trabalhista; Adequação a novas estratégias organizacionais. Quanto maior o número de empregados, maior a demanda da organização por processos de administração de recursos humanos (RH). Os empregados buscam informações sobre suas possibilidades de progresso e desenvolvimento; os gestores precisam abordar essas questões e, portanto, precisam de normas para informar e impulsionar os negócios. 2.1 Aspectos importantes na construção Os programas devem considerar os seguintes aspectos para a sua elaboração: 1. Diagnóstico organizacional; 2. Estabelecimento do modelo de gestão de carreira, remuneração e benefícios; 3. Implantação; 07 4. Melhoria contínua. Figura 1 – Aspectos importantes Analisaremos em detalhes os aspectos citados para que você compreenda como deve elaborar programas de carreira, remuneração e benefícios. É fundamental que os programas sejam revistos periodicamente a fim de mantê-los atualizados, já que o mercado muda constantemente em decorrência de inovações, necessidades dos empregados e estratégias das próprias organizações. 2.1.1 Diagnóstico organizacional Para propor um programa alinhado ao negócio é necessário reunir uma série de informações internas e externas sobre a organização. São elas: Quem somos? Quais são a missão, as crenças, os valores e a cultura da empresa? Onde estamos? Qual o negócio da organização? Quais são as circunstâncias da empresa neste momento? Ela está crescendo, sendo ampliada ou em declínio? Quais são os seus pontos fortes? E os fracos? Há oportunidades de crescimento ou ameaças ao seu equilíbrio? Onde queremos chegar? Qual é a nossa visão? E os nossos objetivos estratégicos? Onde a empresa pretende estar no futuro? Como alcançaremos nossos objetivos? Quais são a estrutura, os recursos financeiros, as pessoas, as lideranças e as competências necessárias para isso? 08 Análise da estrutura e dos processos internos: organograma, políticas e procedimentos de RH existentes e em construção, Convenção Coletiva de Trabalho (CCT). Análise da composição da remuneração dos empregados, ou seja, do mix entre salário fixo, variáveis e benefícios: eles existem? Qual o orçamento existente, as expectativas dos empregados e as dos gestores? Análise do ambiente externo: quem são os clientes e concorrentes? Com que contexto econômico, legislação trabalhista, relações sindicais, tendências do mercado – entre outros – estamos trabalhando? 2.1.2 Estabelecimento do modelo de gestão de carreira, remuneração e benefícios Para construir um programa de carreira, remuneração e benefícios são necessárias as informações provenientes do diagnóstico adequadas às expectativas atuais e necessidades futuras da organização. 2.1.2.1 Percursos da carreira As carreiras podem ter vários desenhos e ser de diferentes naturezas, como: carreira em linha, em Y, linha de especialização, linha de polivalência e mista, conforme já estudamos. Sendo assim, o estabelecimento do programa de gestão de carreiras pode propor ou não essa diversidade de percursos acompanhada de ferramentas que serão utilizadas na avaliação, como mapas de carreira, assessment,1 avaliação de desempenho e entrevistas. As possibilidades de percursos de carreira podem ser redigidas nas descrições de cargo. Por exemplo: para um cargo de supervisor de atendimento a clientes, a descrição de cargo pode prever alternativas de percurso profissional antes de ocupar o cargo e depois. Lembre-se de que para uma mudança de percurso de carreira é necessário determinar outros fatores, como: surgimento da vaga na estrutura, performance do empregado e orçamento. Veja o modelo mostrado no Quadro 1 e a descrição de cargo de supervisor de atendimento ao cliente anexado ao material da disciplina. 1 Ferramenta de avaliação de perfil. 09 Quadro 1 – Possibilidades de percurso profissional: cargo de supervisor 2.1.2.2 Modelos de remuneração O modelo de remuneração pode variar a composição dos salários fixo e variável, e a dos benefícios. Ele pode ser estruturado a partir das definições internas provenientes do diagnóstico organizacional, principalmente da estratégia. Veja o modelo de diagnóstico e uma sugestão de plano de remuneração na Tabela 1. Tabela 1 – Exemplo de empresa inovadora Características para o diagnóstico da empresa Sugestão de modelo para o sistema de remuneração Ambiente dinâmico, como o setor de alta tecnologia Remuneração total acima daquela do mercado para garantir a permanência dos empregados com boa performance Ambiente despojado Sistema de remuneração variável com % elevada; funcionários devem ser remunerados de acordo com os resultados obtidos Políticas, horário, vestimenta e estrutura flexíveis Flexibilidade para escolher benefícios Comunicação rápida e informal Sistema de remuneração acionária para os cargos de gestão e garantir o vínculo de longo prazo Mão de obra de alta capacitação técnica Instituir programas de recompensas não monetárias ligados às expectativas dos empregados Fonte: adaptado de Wood Jr. e Picarelli Filho, 1999. A construção do modelo de remuneração precisa representar os objetivos estratégicos da organização, ter impacto sobre o desempenho do empregado, apresentar um mix ajustado à estrutura, considerar as expectativas, possibilitar a atração e a retenção dos indivíduos e estar alicerçada na disponibilidade de 010 investimentos. Definir as medidas de controle, ou seja, os indicadores para acompanhamento também propiciam os ajustes e a credibilidade do programa. 2.1.3 Implantação A implantação gera muitas expectativas em todos os envolvidos no processo, desde o RH– que trabalhou para o sistema funcionar adequadamente – passando pelo Gestor – que precisa que o modelo atenda às necessidades dos indivíduos e do crescimento da organização – até chegar aos empregados – que buscam melhores condições. Nesse caminho, sugerimos realizar um programa piloto antes da implantação definitiva para identificar necessidades de ajustes. Durante a implantação é necessário treinar gestores, comunicar os empregados e apresentar o sistema de acompanhamento. 2.1.4 Melhoria contínua A melhoria contínua também faz parte do programa de gestão de carreira, remuneração e benefícios que, como qualquer sistema vivo, passará por mudanças, modernizações e, consequentemente, ajustes ao longo de sua existência. Os impactos de um programa como esse são significativos e diversos para todos os envolvidos com a organização, desde os gestores até os empregados, e, por esse motivo, o projeto precisa ser bem desenhado, analisado e construído. TEMA 3 – FASES DE IMPLANTAÇÃO Com o programa de gestão de carreiras, remuneração e benefícios construído, chega o momento de implantá-lo. O período de implantação varia de acordo com o número de cargos na empresa, o tamanho de sua estrutura, a disponibilidade dos participantes e o comprometimento dos dirigentes. Para a implantação, é necessário definir um cronograma que demonstre o passo a passo de cada etapa. Veja um modelo de cronograma na Tabela 2. 011 Tabela 2 – Cronograma de implantação A finalidade de um projeto piloto é testar a viabilidade do programa construído, experimentar as premissas e regras e simular sua execução para então identificar necessidades de ajustes e aperfeiçoamento do projeto, pois, conforme o dito popular, o papel aceita tudo. Ele deve ser realizado com um grupo reduzido de pessoas e em um curto espaço de tempo antes de sua implantação definitiva. O planejamento do cronograma de implantação deve considerar: O número de gestores; O total de cargos; O total de empregados; A estrutura organizacional (se existem filiais, além da matriz, e onde elas estão localizadas); Onde ocorrerão as reuniões de comunicação; O tempo necessário para deslocamento (caso existam unidades em cidades e regiões distintas); A duração de reuniões e treinamentos; Se serão encaminhamos documentos para leitura anteriormente às reuniões; Se será usado um software de apoio; Como ocorrerá o treinamento dos líderes sobre o plano e sobre o software; Quem será o responsável pelo treinamento; Quem prestará informações sobre o programa no decorrer da implantação e depois de sua execução; 012 Quem fará a comunicação inicial com os empregados sobre os programas (os lideres ou o rh?); Como serão tomadas as medidas de controle; Quem recolherá a informação; Quem montará os relatórios; Qual a periodicidade de divulgação dos indicadores; Como ocorrerá a divulgação (eletronicamente, via mural ou em reuniões de trabalho?). Essas são apenas algumas das informações importantes para a estruturação do cronograma. Os líderes precisam ser treinados sobre os programas, pois a gestão do dia a dia e a avaliação do desempenho é de responsabilidade deles. Eles têm que saber informar o que é necessário para crescer profissionalmente, quais os requisitos de cada cargo, como funciona o programa de remuneração da organização, entre outros. Fazer a gestão de pessoas não é “tarefa do RH”, mas, sim, responsabilidade dos líderes de equipe. Portanto, os gestores precisam compreender conceitos, premissas e prazos dos planos de gestão de carreira, remuneração e benefícios. Na implantação do programa, sugerimos a realização de uma reunião com os empregados para formalizar o momento, abrir um espaço para um diálogo transparente, responder a dúvidas e expectativas dos empregados e construir a credibilidade do programa. Muitos empregados participam da elaboração dos programas, seja na construção das descrições de cargo, seja respondendo pesquisas, questionários de levantamento de expectativas. Portanto, fornece um feedback sobre o resultado final da elaboração do programa é um ato de respeito e consideração. Realizar a divulgação dos resultados dos programas auxilia no acompanhamento de metas. É necessário avaliar quais são os indicadores que precisam ser compartilhados com os empregados e avaliar quais deles são importantes e úteis na tomada de ações por parte dos colaboradores. Essas medidas auxiliam os gestores e o RH a verificar a eficácia dos programas e a ajustar o que for necessário. 013 TEMA 4 – INDICADORES DE EFICÁCIA DOS PROGRAMAS Um indicador é um valor medido por meio de ferramentas para se obter informação sobre a performance e os resultados dos processos da organização. Por meio dessas medidas numéricas é possível realizar o monitoramento da organização para melhorar os números e os processos, de forma a gerar melhores resultados. Quantificar os processos de gestão de pessoas que realizam atividades intangíveis é uma tarefa complexa. É difícil medir a influência do setor de recursos humanos (RH) sobre o desempenho da empresa. Todavia, apesar de difícil, é possível levantar indicadores no caminho de fornecer informações para a tomada de decisão dos processos de RH. Para medir o grau de satisfação dos empregados sobre o programa de gestão de carreira, remuneração e benefícios, e, consequentemente, avaliar se eles fazem ligação com os resultados da organização, podemos utilizar as informações geradas pelos processos de avaliação de desempenho, pela pesquisa de clima, pela entrevista de desligamento, pelo grau de atratividade da empresa, pelo turnover, entre outros. 4.1 Avaliação de desempenho Os programas de avaliação de desempenho medem indicadores de comportamentos, indicadores de resultados ou ambos. O mais comum nos processos de avaliação é a realização de entrevistas 180º, ou seja, uma reunião entre o gestor e o empregado em que esses indicadores são medidos. Muitas organizações propõem que, durante essa conversa, sejam abordados também ações de treinamento, carreira, feedback com relação a melhorias, entre outros temas voltados ao desenvolvimento do empregado. Durante a avaliação de desempenho, os empregados podem manifestar suas expectativas. Os gestores, quando devidamente treinados e inteirados do programa de gestão de carreira, remuneração e benefícios conseguem responder às demandas com informações sobre normas e procedimentos. Além disso, eles podem refletir juntamente com o empregado sobre os caminhos necessários ao desenvolvimento e ao futuro da carreira. Essas conversas podem suscitar informações importantes, como, por exemplo, se os programas estão respondendo às demandas e atendendo as expectativas. 014 4.2 Pesquisa de clima São questionários com diversas perguntas aplicados aos empregados de uma empresa com o objetivo de coletar dados de forma objetiva e criteriosa, medindo a percepção de satisfação dos empregados com a organização e seus processos. O clima da organização é determinado por práticas, políticas, processos, estrutura, cultura e as consequentes reação e percepção dos indivíduos. Vários temas podem ser investigados, como: relacionamento entre os empregados, comunicação interna, remuneração, benefícios, reconhecimento, carreira, liderança, treinamento e desenvolvimento, fatores motivacionais e não motivacionais, imagem da empresa, entre outros. Na Tabela 3 a seguir, podemos ver o resultado de uma pesquisa de clima realizado em um grupo organizacional, em que os nomes das empresas foram omitidos para preservar suas identidades. Observe que os temas reconhecimento e valorização, salário e benefícios obtiveram o resultado mais baixo, inferior a 70%. O índice de satisfação geral (ISG) cresceu entre 2014e 2015. Nessa pesquisa, o tema carreira não foi um aspecto investigado. Já os temas remuneração e benefícios foram contemplados, e demonstraram que eram os menos satisfatórios para os empregados. A partir desses indicadores, novas enquetes podem ser aplicadas no futuro para promover conversas com os empregados e maior compreensão desses dados numéricos de insatisfação para possíveis melhorias. Tabela 3 – Modelo de resultados pesquisa de clima Empresa x empresa y empresa h empresa j empresa l Trabalho realizado 86,27% 88,10% 73,61% 94,09% 90,10% 88,47% 84,50% Liderança imediata 80,75% 80,19% 63,64% 81,23% 84,38% 80,00% 77,36% Comunicação 73,53% 75,00% 66,67% 82,26% 59,38% 71,67% 59,33% Treinamento e Desenvolvimento 61,76% 64,29% 70,83% 74,19% 65,63% 67,50% 51,00% Relacionamento Interpessoal 75,49% 73,81% 72,22% 83,30% 87,38% 80,00% 74,25% Condições fisicas / segurança do trabalho 75,29% 72,86% 60,00% 82,58% 59,38% 70,83% 68,17% Ambiente de trabalho 85,29% 83,93% 70,83% 90,32% 81,25% 83,75% 68,20% Imagem da empresa 74,12% 76,43% 65,00% 83,87% 81,25% 78,17% 77,67% Etica e satisfação do cliente 79,41% 67,86% 70,83% 88,71% 95,31% 82,50% 76,50% Qualidade e satisfação do cliente 88,24% 79,76% 77,78% 97,85% 85,42% 86,94% 86,00% Reconhecimento e valorização 57,98% 61,22% 53,57% 76,96% 72,77% 67,14% 58,57% Salário 54,90% 54,76% 44,44% 76,34% 68,75% 63,06% 54,00% Benefícios 78,82% 62,86% 43,33% 75,48% 60,00% 65,67% 47,80% Motivação 76,47% 78,57% 50,00% 74,19% 90,63% 77,50% 84,00% Satisfação Geral 88,24% 82,14% 58,33% 90,32% 87,50% 84,17% 82,00% ISG GERAL 74,19% 72,41% 61,69% 81,69% 76,61% 75,11% 69,96% Abaixo de 70% TEMA ISG GERAL 2015 ISG GERAL 2014 2015 015 As pesquisas de clima também oferecem espaços para que o empregado possa escrever livremente, indicando pontos de crítica e sugestões de melhorias. Os indicadores apontam temas de satisfação e insatisfação e, portanto, pontos de processos que precisam ser revistos, observando se as práticas são devidamente realizadas e se a liderança precisa de suporte. 4.3 Entrevista de desligamento É uma entrevista dirigida, aplicada quando os empregados partem da organização. Pode ser realizada quando o empregado pede desligamento, para investigar as causas da decisão, ou verificar se há necessidade de aprimorar processos, relacionamentos, estilo de gestão etc., tanto para os empregados que permanecem na empresa quanto para os futuros contratados, evitando a manutenção dos problemas. Também pode ser realizada quando o empregado é desligado pela empresa na tentativa de compreender suas percepções, dando espaço para feedback e tornando o momento o menos desgastante possível. Apesar de ser uma atividade que ocorre quando o empregado está mais sensível emocionalmente, os dados precisam ser considerados, pois são úteis para uma avaliação sistêmica dos processos de RH. Veja no Quadro 2 e na Figura 1 um modelo de relatório de uma entrevista de desligamento realizada por uma organização. Os dados dos empregados foram ocultados para preservar suas identidades. É importante verificar que dos cinco entrevistados, três manifestaram insatisfação com a evolução de suas carreiras. Quadro 2 – Modelo de indicador de entrevistas de desligamento 016 Figura 1 – Motivos – pedidos de demissão O grau de atratividade da organização pode ser medido pela quantidade de profissionais que se candidatam espontaneamente e, portanto, no número de currículos recebidos, nas indicações internas de candidatos e no número de candidatos que desistem do processo seletivo. É possível melhorar apenas o que se pode medir. Os indicadores aportam informações importantes sobre os programas internos e sobre as mudanças necessárias a serem implementadas para atingir os objetivos estratégicos da organização. TEMA 5 – INVESTIMENTO E GESTÃO Para a implantação de um programa de carreira, remuneração e benefícios é fundamental contar com uma equipe especializada de profissionais multidisciplinares, ou seja, um grupo de indivíduos de diversas áreas e conhecimentos que se complementem com seus conhecimentos na execução do projeto. É fundamental o trabalho de profissionais de recursos humanos (RH) que sejam responsáveis pela elaboração do plano, pela efetivação do diagnóstico, pela investigação das expectativas de empregados e gestores e pela intermediação com os demais setores. As equipes de consultorias externas aportam conhecimentos do mercado e de sua especialidade. Os profissionais da área jurídica aportam informações legais trabalhistas, informando sobre possíveis riscos e orientando sobre possibilidades legais. Especialistas da área financeira auxiliam com informações sobre orçamento, impactos financeiros, encargos e também alternativas fiscais e tributárias. O setor de TI responde pelas viabilidades de implantação de softwares, interligação de novos sistemas 017 com aqueles já existentes, utilização de ferramentas e desenvolvimento de novos módulos dos sistemas existentes na organização. Enfim, um grupo multidisciplinar agrega mais valor ao projeto à medida que cada participante detentor de conhecimentos distintos pode ter visões novas para ampliar as possibilidades e os ganhos. Os investimentos possíveis estão ligados ao tempo dos profissionais envolvidos e também aos custos com recursos, como: Aquisição de um novo sistema de gestão. Um software facilita o processo, mas a sua não aquisição não o inviabiliza, podendo ser feita uma administração manual; Adaptação do sistema interno para administração de dados; Contratação de consultorias especializadas para desenvolvimento de programas de carreira, remuneração e benefícios; Compra de pesquisa salarial; Treinamento da equipe de RH interna e/ou de gestores; Contratação de consultorias para a realização de assessment; Pagamento de testes de tendência comportamental para definições de gestão de carreira; Contratação de consultorias de gestão de benefícios; Implantação de novos benefícios, gerando novos investimentos; Aluguel de salas e equipamentos para a realização de reuniões, palestras ou manutenção de equipe de consultoria especializada. Terceirizar os programas com consultorias externas é uma oportunidade de fazer com que os profissionais internos de RH aprendam com os consultores e que o projeto tenha mais credibilidade aos olhos dos empregados, devido à imparcialidade e ao conhecimento técnico. As consultorias externas apresentam diversos portes, estruturas e preços. O importante é buscar referências de empresas que já utilizaram os seus serviços e obtiveram resultados de qualidade. Caso a organização não tenha um orçamento adequado para investir no projeto, é possível contar com os profissionais de dentro da empresa, atentando para que eles tenham a experiência e a competência necessárias para realizar o trabalho. Outra forma de reduzir os custos envolvidos é construir e implementar o projeto ao longo de um período de tempo maior, dividido em etapas, e, portanto, parcelando valores. 018 A administração dos programas precisa ser diária e o monitoramento constante, assim como a sua atualização e sua modernização, para atender as demandas de todos, dos empregados e da organização. Independentemente de o projeto ser realizado internamente ou contar com uma equipe externa de consultoria, os profissionais que atuam devem ter muita competência, pois a tarefa é complexa e uma implantação errada pode gerar grandes transtornos, quiçá até prejuízos para a organização. FINALIZANDO Analisamos diversas informações que permeiam o tema de implantação de um programa de gestão de carreira, remuneração e benefícios. Ao longo desta aula, discutimos carreira e remuneração, avaliamos as possibilidades de compor um plano de remuneração e seus impactos, vantagens, desvantagens,responsabilidades, aspectos legais, investimentos, entre outros. Retornemos agora à situação problema apresentada no início da aula. Então, após analisar as alternativas de recompensa não monetária, o que você sugere para a empresa corretora de seguros? O trabalho deve ser iniciado com um diagnóstico organizacional para que se compreenda detalhes do estilo da empresa, de seu planejamento estratégico, objetivos, serviços, cultura, valores compartilhados, formas de gestão, praticas já realizadas e os motivos pelos quais algumas delas se perpetuam e outras já foram finalizadas. É preciso realizar reuniões com os gestores para descobrir quais são as suas expectativas, e entrevistar empregados para identificar perspectivas. É importante estudar dados estatísticos dos empregados (idade, estado civil e escolaridade) e obter informações sobre o orçamento disponível. O próximo passo é construir a proposta, que pode englobar práticas mais modernas, como comemorações internas por resultados alcançados; premiações por conquista de metas; comunicados à família, agradecendo pelo engajamento do empregado; premiação aos empregados que se destacaram com aparelhos de celular etc. As sugestões devem atender a realidade da organização e estar alinhadas com o planejamento estratégico. A etapa seguinte é apresentar a proposta ao proprietário, validá-la e ajustá-la se for necessário, dando início ao processo de implantação. Note que este material não tem a pretensão de esgotar o estudo sobre a implantação do sistema de gestão de carreira, remuneração e benefícios. Nossa 019 meta aqui é demonstrar pontos referenciais para que você aprofunde seu estudo e possa aplicar os conhecimentos adquiridos em sua vida pessoal e profissional. 020 REFERÊNCIAS CHIAVENATO, I. Remuneração, benefícios e relações do trabalho: como reter talentos na organização. Barueri: Manole, 2015. CORTELLA, M. S. Por que fazemos o que fazemos? Aflições vitais sobre trabalho, carreira e realizações. São Paulo: Planeta, 2016. MARRAS, J. P. Administração de remuneração. São Paulo: Pearson, 2012. MORENO, A. I. Administração de cargos e salários [livro eletrônico]. Curitiba: InterSaberes, 2014. ORSI, A. Remuneração de pessoas nas organizações [livro eletrônico]. Curitiba: InterSaberes, 2015. PASCHOAL, L. Administração de cargos e salários: manual prático e novas metodologias. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2007. PONTES, B. R. Administração de cargos e salários: carreira e remuneração. São Paulo: LTR, 2011. SALICIO, C. F. Sistema de remuneração, incentivo e carreira [livro eletrônico]. 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