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Prof. Dr. Alexandre Dias UNIDADE II Genética e Citogenética Humana Estudo dos cromossomos, a sua estrutura, as suas anormalidades e o seu comportamento, baseado em uma suspeita clínica. Introdução à Citogenética Humana Estrutura dos cromossomos: Centrômero; Cromátide-irmãs; Telômeros. Introdução à Citogenética Humana Fonte: adaptado de: livro-texto. Telômeros Cromátides-irmãs Centrômero Braço curto p Braço longo q Tipos de cromossomos humanos: Metacêntricos; Submetacêntricos; Acrocêntricos. Introdução à Citogenética Humana Fonte: adaptado de: livro-texto. Telômeros Cromátides Centrômero Braço curto p Braço longo q Satélite Constrição secundária Metacêntrico Submetacêntrico Acrocêntrico Numéricas; Estruturais; Intracromossômicas. Alterações citogenéticas Alterações numéricas: Aneuploidias e euploidias. Alterações estruturais: Anormalidades na arquitetura dos cromossomos com/sem a perda de regiões genômicas. Introdução à Citogenética Humana Cariótipo é o conjunto cromossômico de cada espécie. Representa o número total de uma célula somática (2n). Espécie humana: Células somáticas = 2n (diploide) – 46 cromossomos. Como avaliar essas anormalidades cromossômicas? Células somáticas = 2n (diploide) – 46 cromossomos. 23 pares de cromossomos. 22 autossomos. 1 par sexual. XX – Mulheres. XY – Homens. Como avaliar essas anormalidades cromossômicas? Fonte: Montenegro e Dias (2011). Cariotipagem – o processo... Fonte: livro-texto. Coloração convencional – coloração única. Bandeamento G – padrões claros (CG – “genes ativos”) e escuros (AT). Bandeamento C – heterocromatina constitutiva. Bandeamento NOR – RON – constrições secundárias dos cromossomos com os satélites. Bandeamento Q – quinacrina mostarda (fluorescente) – bandas brilhantes (AT) e opacas (CG) – Y. Bandeamento R – salina e calor (inverso da G). Técnicas de coloração das lâminas Cariotipagem: 1. Cultivo de células; 2. Baixo custo; 3. Análise: profissionais qualificados; 4. Tempo para a liberação de laudos diferenciados. Atenção! Pontos de atenção para o teste de cariotipagem: Processo de cultura de células – depende de diversos fatores para o sucesso: Crescimento celular; Contaminações; Células em metáfase para a análise do cariótipo; Bandamento cromossômico; Limitação técnica – resolução 5 Mb. Concluindo Paciente do sexo feminino, 5 anos de idade, com atraso de fala, malformações congênitas múltiplas e atraso no desenvolvimento motor, apresentou uma suspeita de doença genética. Realizou o cariótipo com bandeamento G e resultado normal. Responda à questão proposta: a) Explique o porquê o resultado do cariótipo, mesmo sendo o indicativo de uma anormalidade genética, apresentou um resultado normal. Interatividade O cariótipo com bandeamento G apresenta limitações inerentes à técnica (não identifica variantes menores que 5 MB – 10 MB). Essa paciente pode apresentar outras variantes que o teste de cariotipagem não foi capaz de identificar, como as doenças gênicas e as variantes de ponto. Resposta Aneuploidias: Trissomias 21, 18, 13, 8, 16, 22; Monossomia X, Duplo Y, Tipo X, Klinefelter. Euploidias: 69/92 cromossomos. Doenças cromossômicas numéricas Trissomia do cromossomo 21 – Síndrome de Down: 1:650 RNs vivos: 65 a 85% resultam em aborto espontâneo. Diagnóstico clínico. Achados: Perfil facial achatado 90% Hipotonia muscular 80% Hiperextensibilidade articular 80% Pele redundante na nuca 80% Fendas palpebrais oblíquas para cima 80% Doenças cromossômicas numéricas Pavilhões auriculares anormais 60% Clinodactilia do 5º dedo 60% Prega palmar única 45% ________________________________________ 100% apresentam pelo - 4 e 89% pelo - 6 *Tópicos em defeitos congênitos. LEITE, J. C. L.; CAMUNELLO, L. N.; GIUGLIANI, R. (2002). Doenças cromossômicas numéricas Outros achados: Hipotonia muscular; Atraso de crescimento e do esqueleto; SNC; Craniofaciais; SCV/SGI/SGU/SH/SI; Mais raras: convulsões, estrabismo; Criptorquidia, sindactilia, distúrbios de tireoide. Doenças cromossômicas numéricas Fonte: Labgen (2009). Doenças cromossômicas numéricas Fonte: Smiths (2013). http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Trisomy21_graph.jpg Trissomia do cromossomo 18 – Síndrome de Edwards: 3/1000 nascidos vivos; 3M:1H. Diagnóstico clínico: Deficiência de crescimento, ADNPM, orelhas malformadas e de implantação baixa, micrognatia, defeitos cardíacos congênitos, dígitos fletidos e sobrepostos. Doenças cromossômicas numéricas Expectativa de vida: 5 dias – 1 hora a 18 meses: Sem anomalias cardíacas severas e gastrointestinais: média de 40 dias de sobrevida; Todas atingem algum grau de DNPM – muito variável; Algumas conseguem sorrir e interagir com os familiares. Doenças cromossômicas numéricas Trissomia 18: Doenças cromossômicas numéricas Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=12355860 Doenças cromossômicas numéricas Fonte: Smiths (2013). Trissomia do cromossomo 13 – Síndrome de Patau: 1/5.000 nascidos vivos; Ocorrência de abortos espontâneos é 100 X maior do que a incidência de nascimentos; M>H, discretamente; Diagnóstico clínico; Microcefalia, defeitos do couro cabeludo, fendas orofaciais, defeitos cardíacos congênitos, polidactilia, grave retardo do desenvolvimento e morte precoce. Doenças cromossômicas numéricas Expectativa de vida: 2,5 dias. ~80% morrem durante o 1º mês. 5% sobrevivem até o 6º mês. Doenças cromossômicas numéricas Fonte: Smiths (2013). Trissomia 13: Doenças cromossômicas numéricas Fonte: https://upload.wikimedia .org/wikipedia/commons /c/c2/Trisomy13.jpg Monossomia X – Síndrome de Turner: Geralmente, é identificado ao nascimento ou antes da puberdade; 1:5.000 nascidos vivos; 25% dos abortos no 1º trimestre da gestação. Diagnóstico clínico: Baixa estatura (geralmente, menor do que 144 cm); Disgenesia gonadal (hipoplasia ou ausência) – sexualmente infantil, amenorreia 1ª, esterilidade, desenvolvimento mamário retardado, genitália externa infantil e pelos pubianos escassos. Doenças cromossômicas numéricas Linfedema congênito – edema do dorso do pé. Higroma cístico – pescoço alado. Tórax largo com o espassamento dos mamilos. Palato estreito e mandíbula pequena. Baixa implantação dos cabelos na nuca. Unhas hipoplásicas. Anomalias renais (ferradura). Problemas auditivos. Doenças cromossômicas numéricas Doenças cromossômicas numéricas Fonte: Smiths (2013). 1. Baja estatura (100%). 2. Malformaciones craneales. Micrognatia (60%). Paladar ojival (38%). 3. Cuello corto (40%). Hipoplasia de las vértebras cervicales. 4. Orejas de baja implantación y rotadas. 5. Cuello alado (25%). Baja implantación del cabello (42%). 6. Multiples nevus (26%). 7. Mamilas hipopásticas o invertidas. 8. Acortamiento del cuarto metacarpiano (37%). 9. Cuvitus valgus (47%). 10. Obstrucciones linfáticas: edemas congénitos. 11. Edema em manos y pies (22%). 12. Uñas hiperconvexas y frágiles (13%). 13. Alteraciones renales (40%). 14. Gónadas em cintillas (96%). Monossomia X: Doenças cromossômicas numéricas Fonte: Labgen (2009). Síndrome de Klinefelter – cromossomo X extra em homens: 1ª anomalia humana a ser relatada com relação aos cromossomos sexuais. 1/1000 – 47,XXY; 1/25000 – 48,XXXY; 1/10000 – outros. 15% são mosaicos. Diagnóstico clínico. Aparentemente normais até a puberdade; hipogonadismo e hipogenitalismo; características sexuais secundárias subdesenvolvidas; inférteis (azoospermia); ginecomastia; obesidade centrípeta; QI abaixo do normal com alta variabilidade: compreensão verbal e habilidade – dificuldades de aprendizado. Doenças cromossômicas numéricas Fenótipo: Doenças cromossômicas numéricas Fonte: Smiths (2013). Síndromede Klinefelter: Doenças cromossômicas numéricas Fonte: http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0 Síndrome do duplo Y: 1/1000 NVM; Características físicas e comportamentais iguais aos homens normais; Não disjunção paterna na meiose II. Sinais fenotípicos e sociais: Alto risco de problemas comportamentais ou educacionais (podem apresentar QI abaixo do normal); Inteligência normal sem dismorfismo; Geralmente, férteis. Doenças cromossômicas numéricas Duplo Y: Doenças cromossômicas numéricas Fonte: https://commons.wikimedia.org/ w/index.php?curid=1296466 Síndrome do triplo X: 1/1000 NVF. Achados fenotípicos: Não são fenotipicamente anormais; Desenvolvem caracteres sexuais em idade adequada e, geralmente, são férteis; ~70% apresentam problemas de aprendizado; Adolescência para a idade adulta: desvio comportamental. Doenças cromossômicas numéricas Achados citogenéticos: 48,XXXX – retardo físico- mental grave; 49,XXXXX – grave retardo de desenvolvimento com muitos defeitos físicos. Doenças cromossômicas numéricas Fonte: Labgen (2009). Outras trissomias: Trissomia 8; Trissomia 16; Trissomia 22. Mosaicismo; Etiologia das aneuploidias… Doenças cromossômicas numéricas Etiologia das aneuploidias Fonte: adaptado de: DIAS, A. T. Tese de doutorado – 2015. FMUSP. Zigoto Alteração genética Célula inviável Mosaico 47/46 Cromossomos Mosaicismo Non-Disjunction NormalNormalNormalNon-Disjunction Normal Separation M e io s is I M e io s is II Non-Disjunction during Meiosis Number of Chromosomes in Gametes As não disjunções cromossômicas são as principais causas de aneuploidias. Explique: a) Qual é o impacto das não disjunções cromossômicas pré-zigóticas? b) Qual é o impacto das não disjunções cromossômicas pós-zigóticas? Interatividade a) As não disjunções pré-zigóticas, geralmente, provocam a prole aneuploide, em todas as linhagens celulares. b) As não disjunções pós-zigóticas, geralmente, provocam a prole aneuploide, em mosaico. Resposta Anomalias estruturais: Inversões, translocações, inserções, deleções, duplicações. Outras anormalidades estruturais. Doenças cromossômicas estruturais São determinadas por quebra cromossômica com o posterior rearranjo em uma combinação anormal. Presentes em 1 para cada 375 neonatos. Espontaneamente, têm uma frequência baixa. Induzidas por agentes quebradores (clastogênicos) – radiações ionizantes, infecções virais e substâncias químicas. Doenças cromossômicas estruturais Rearranjos equilibrados. Rearranjos não equilibrados. Estáveis. Instáveis. Doenças cromossômicas estruturais Fenótipo, provavelmente, anormal: Deleção – monossomia parcial; Duplicação – trissomia parcial. Deficiência intelectual idiopática – alterações nas regiões subteloméricas – FISH. Qualquer alteração que desregule a função dos genes pode resultar em um desenvolvimento anormal. Doenças cromossômicas estruturais Translocações – equilibradas e não equilibradas. Translocação robertsoniana. Deleções. Duplicações. Inversões – paracêntrica e pericêntrica. Isocromossomos. Cromossomos em anel. Doenças cromossômicas estruturais Doenças onco-hematológicas: Doenças cromossômicas estruturais Fonte: Labgen (2009). Doenças onco-hematológicas: Doenças cromossômicas estruturais Fonte: Labgen (2009). Síndrome do X-frágil: Deficiência intelectual ligada ao X: Presença de sítio frágil no cromossomo X (Xq27.3) – região com altos índices de repetições CGG (6-54 repetições: normal); Indivíduos com pré-mutação: 54-200 repetições – geralmente, sem os sinais fenotípicos, porém, com maior risco para a prole; Afetados: mais de 200 repetições. Doenças cromossômicas estruturais Síndrome da deleção 3p: Achados clínicos: Deficiência de crescimento intrauterino; Hipotonia muscular; Severo-profundo retardo mental; Microcefalia; Filtro longo; Micrognatia; Hérnia umbilical. Doenças cromossômicas estruturais Síndrome da deleção 5p – Síndrome de Cri-du-Chat: Deleção parcial do braço curto (5p15.3) do cromossomo 5; 85% – casos novos (esporádico); 15% – segregação desigual de pais com a translocação envolvendo essa região. Achados clínicos: Choro característico; Deficiência no crescimento; Atraso na dentição; Deficiência intelectual; Microcefalia; Fissura labiopalatina. Doenças cromossômicas estruturais Síndrome de microdeleções e microduplicações: Quadros clínicos. Doenças cromossômicas estruturais Síndrome Localização no cromossomo Locus/Gene Sonda Di George 22q11.2 D22S75 Smith-Magenis Miller Dieker 17p11.2 D17S379 Prader-Willi/Angelman 15q11.2 SNRPN Williams-Beuren 7q11.23 ELASTINA Wolf-Hirschhorn 4p16.3 D4S166 Cri-Du-Chat 5p15.3 e 5p15.2 D5S18 Mecanismos da Síndrome de PW/A – Doença de imprinting: Microdeleção; Metilação; UPD. Doenças cromossômicas estruturais Explique a sentença: “O cariótipo não é a melhor ferramenta para diagnosticar as microdeleções!” Interatividade O cariótipo detecta as anormalidades entre 5 e 10 Mb. As microdeleções acometem as regiões de cerca de 1 – 3 Mb, não sendo ideal essa metodologia para “enxergar” essas pequenas perdas. Resposta Como detectar as alterações pequenas – microdeleções? FISH: Técnica citogenômica que viabiliza que uma cópia de material genético fabricado em escala industrial (probe – sonda) hibridize (“anele e fixe”), com a sequência homóloga no genoma de uma célula de determinado paciente, que, ao ser estimulada por uma fonte luminosa emite um sinal fluorescente visível sob a microscopia de fluorescência. Doenças cromossômicas estruturais Cultura celular, preparação direta, corte histológico. FISH Fonte: acervo pessoal. Detecta as alterações gênicas no nível cromossômico. Grande número de sondas para as diversas regiões no mercado comercial, sendo específicas. Rapidez e confiabilidade do resultado. Conforto na análise. Vantagens da FISH Custos: Sondas; Microscopia de fluorescência; Estrutura física própria para a análise e a realização da técnica – sala escura; Necessidade de um sistema de fotodocumentação; Durabilidade: sondas com tempo de vida útil curto. Especificidade – limitação técnica! Desvantagens da FISH Selar e desnaturar Lavar Preaquecer Pipetar sonda Colocar a lamínula Hibridizar DAPI Tratamento da lâmina parafinada para a realização da técnica de FISH A FISH... Fonte: Citogem Bitecnologia Equipamentos Fonte: acervo pessoal. Centrômero de 15 “Cromossomo marcador” Fonte: Christofolini et al. (2014). Sondas centroméricas Painting de 16 “Cromossomo marcador” São sondas específicas de várias regiões do mesmo cromossomo – utilizadas, principalmente, para determinar as translocações e as deleções. Sondas Painting Fonte: Christofolini et al. (2014). Sonda LPU – Genes TWIST e ELN: FISH Fonte: Dias et al. (2013). TWIST1 TWIST1 TWIST1 ELN ELN Chr. 7 Chr. 7 Chr. 15 Red signal: TWIST1 – at 7p ~181 Kb. Green signal: ELN – at 7q ~450 Kb. Como detectar as alterações pequenas – microdeleções? MLPA: A MLPA é a técnica citogenômica que permite, na mesma reação, avaliar cerca de 50 regiões do material genético de estudo (DNA ou RNA). É muito utilizada como teste de screening genômico para os portadores de malformações congênitas e na elucidação de quadros clínicos complexos de pacientes sem diagnóstico definitivo; A triagem quantitativa de alterações de regiões importantes do genoma humano, como os subtelômeros, ou de microdeleções por MLPA revela uma taxa de 5-10% de anomalias em pacientes com cariótipo convencional normal, e malformações congênitas, sendo, portanto, considerada como uma técnica auxiliar valiosa para a análise citogenética de rotina. Doenças cromossômicas estruturais Fonte: autoriaprópria. P e a k R a ti o 2,5 2 1,5 1 0,5 0 100 200 300 400 500 Size (ops) Como detectar as alterações pequenas – microdeleções? Arrays: Os testes baseados na técnica de array são ferramentas de alta resolução que possibilitam a identificação de ganhos e perdas de microrregiões genômicas em um único experimento. O experimento consiste na hibridação do material do paciente nas lâminas ou chips de array, e, por intensidade do sinal fluorescente, pode-se determinar tais alterações quantitativamente. Doenças cromossômicas estruturais Fonte: DIAS, A. T. Tese de doutorado – 2015. FMUSP. A citogenética é a área da genética que estuda os cromossomos, as suas estruturas, funcionalidades e anormalidades relacionadas às suas consequências clínicas. O teste de cariótipo é o exame que avalia a constituição cromossômica das espécies. Os humanos apresentam 46 cromossomos nas suas células diploides que podem sofrer alterações numéricas e estruturais. Essas variantes podem causar quadros sindrômicos, como a síndrome de Down e, se acometer a linhagem celular da medula óssea, pode provocar o desenvolvimento de leucemias. As grandes variantes são passíveis de serem detectadas com o cariótipo. Entretanto, as pequenas anormalidades passarão despercebidas devido à limitação da técnica. Para estas, devemos lançar mão de técnicas de citogenética molecular (FISH) e citogenômicas (MLPA e array). Assim, as doenças cromossômicas numéricas (aneuploidias), estruturais (deleções, duplicações, inversões, entre outras), e de imprinting e UPD podem ser identificadas por diferentes testes laboratoriais. Concluindo… Convido a todos para realizarmos a atividade no chat e interagirmos sobre a genética. Convite para o chat ATÉ A PRÓXIMA!