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Genética Médica e Malformações congênitas Prof. Itairan da Silva Terres Faculdade de Medicina da Unidavi Conferências Unidade Curricular de Concepção e Formação do Ser Humano T7 – 2020/2 O gene DNA, a molécula da vida Trilhões de células Cada célula contém: 46 cromossomos humanos, organizados em 23 pares 2 m de DNA Aproximadamente 3 bilhões de pares de DNA por conjunto de cromossomos, contendo as bases Adenina (A), Timina (T), Citosina (C) e Guanina (G) Aproximadamente 20.000 a 25.000 genes codificam proteínas que realizam a maior parte das funções vitais Cariótipo humano normal Conceitos em Genética Gene: sequência de nucleotídeos que configura a unidade básica funcional da hereditariedade Expressão do Gene: cópia de RNA - formação de proteína - execução de suas funções Genótipo - sequência genética responsável por alguma característica ou traço Fenótipo - expressão física da sequência genética Conceitos em Genética - Mutação Genes de um cromossomo humano que estão associados a doenças quando mutados Malformações congênitas “... todo defeito na constituição de algum órgão ou conjunto de órgãos que determine uma anomalia morfológica estrutural presente no nascimento devido a causa genética, ambiental ou mista" (OPAS, 1984) Malformações congênitas Estima-se que 303.000 neonatos morram até 4 semanas após o parto devido a anomalias congênitas Podem contribuir para a incapacidade a longo prazo, com impactos significativos em indivíduos, famílias, sistemas de saúde e sociedades As anomalias congênitas graves mais comuns são: defeitos cardíacos defeitos do tubo neural síndrome de Down Malformações congênitas Podem ser o resultado de um ou mais fatores genéticos, infecciosos, nutricionais ou ambientais, geralmente é difícil identificar as causas exatas Algumas anomalias congênitas podem ser evitadas. A vacinação, ingestão adequada de ácido fólico ou iodo através da fortificação de alimentos básicos ou suplementação e cuidados pré-natais adequados são apenas três exemplos de métodos de prevenção. Malformações congênitas - causas Anormalidades genéticas Fatores ambientais Multifatorial (fatores genéticos + ambientais) 50 a 60% causa desconhecida Defeitos congênitos causados por fatores genéticos Genes mutantes – 1/3 dos defeitos Aberrações cromossômicas em 6 a 7% dos zigotos A maioria dos embriões com defeitos maiores sofre aborto espontâneo até a 6ª semana de gestação Anormalidades cromossômicas são encontradas em 50 a 60% dos embriões abortados espontaneamente Doenças monogênicas 1 gene afetado (genótipo) causa a alteração na síntese de determinada proteína, levando às alterações patológicas (fenótipo) Exemplos: Anemia falciforme (ou depranocitose) Fibrose cística Doença de Batten Doença de Huntington (cromossoma 4) Síndrome de Marfan Hemocromatose Deficiência de alfa-1 antitripsina Distrofia muscular de Duchenne Síndrome do X Frágil Hemofilia A Fenilcetonúria MODY (Maturity Onset Diabetes of the Young) Anemia falciforme Gene HBB – lócus 11p15.5 Anemia falciforme começo da sequência Sequência de DNA Anemia falciforme começo da sequência Sequência de DNA Sequência de aa Anemia falciforme começo da sequência Hemácias normais Sequência de DNA Sequência de aa Anemia falciforme começo da sequência Hemácias normais Sequência de DNA Sequência de aa Sequência de DNA Anemia falciforme começo da sequência Hemácias normais Sequência de DNA Sequência de aa Sequência de DNA Anemia falciforme começo da sequência Hemácias normais Hemácias falcizadas e A mudança na sequência de aminoácidos faz que as moléculas de hemoglobina cristalizem quando os níveis de oxigênio sanguíneo estão baixos. Como resultado as hemácias ficam em forma de foice e ficam presas nos pequenos vasos sanguíneos Sequência de DNA Sequência de aa Sequência de DNA Sequência de aa Anemia falciforme Balanço gênico Aspecto quantitativo da expressão gênica desequilíbrio pode provocar doença mutação gênica que tem aspecto qualitativo na patogênese Maioria dos genes do genoma são presentes em pares Exceção os do cromossomo X, em que apenas 1 gene se expressa (os genes do outro X são inativados) A dosagem relativa dos genes é crítica ao desenvolvimento normal. 1 ou 3 genes leva a disfunção para os genes que habitualmente são expressos em 2 0 ou 2 genes leva a disfunção para os genes que habitualmente são expressos em 1 (cromossomo X) Gametogênese Não disjunção na meiose I ou na meiose II Aberrações cromossômicas numéricas Heteroploidia (qualquer número de cromossomos 46 no humano) Euploidia – um múltiplo exato do número de cromossomos haplóide (no humano = 23) Diploidia – número normal de cromossomos = 46 no humano Triploidia = 69 cromossomos no humano Tetraploidia = 92 cromossomos no humano Aneuploidia - qualquer número de cromossomos não múltiplo do número haplóide Monossomia (1 cromossomo em lugar de 1 par) – são mais graves que as trissomias, só monossomia do X (45, X) é viável Trissomia (3 cromossomos em lugar de 1 par) - são viáveis para os cromossomos 13, 18, 21, X e Y Alterações cromossômicas estruturais Resultam da quebra, recombinação ou troca de posição de porções do cromossomo, seguidos por reconstituição em uma combinação anormal Presentes em ± 1/375 neonatos Balanceadas – se o material cromossômico compõe o genoma normal Imbalanceadas – se há excesso ou falta de material (± 1/1600 neonatos) fenótipo anormal por deleção ou duplicação (ou ambos) de múltiplos genes trissomias ou monossomias parciais Mosaicismo Aneuploidias Gislaine, 15 anos Vem a consulta com a mãe, relato de amenorréia primária. Ao exame físico você não percebe fácies característico, mas apresenta mamas e pelos pubianos em estágio 2 de Tanner A paciente tem baixa estatura importante, 140 cm Qual a sua hipótese diagnóstica? Como pode confirmar esta hipótese? Monossomia do X, 45, X/Síndrome de Turner 1/2500 meninas nascidas vivas. 99% das gestações 45, X leva a aborto espontâneo Ao nascer podem apresentar linfedema das mãos e pés, pregas ou pele redundante na nuca Pescoço alado, mamilos invertidos, hipertelorismo mamário, 4º metacarpo e metatarso curtos Baixa estatura Anomalias cardíacas coarctação da aorta Disgenesia gonadal amenorréia primária, ausência de desenvolvimento de caracteres sexuais secundáarios Isaías, 27 anos Vem paciente com a esposa, encaminhados por ginecologista, história de casal infértil. Não tem queixas sexuais, relata puberdade de evolução normal Ao exame alta estatura, poucos pelos faciais, distribuição triangular dos pelos pubianos, ginecomastia bilateral Volume testicular ± 1 ml bilateral Qual o diagnóstico provável? Como você espera encontrar os níveis de testosterona, LH e FSH? X adicional, 47, XXY/Síndrome de Klinefelter 1/500 meninos nascidos vivos Aumento da estatura e da envergadura Testículos pequenos e firmes, azoospermia, hipogonadismo Puberdade no tempo normal, redução dos pelos faciais Intelecto normal ou variados graus de deficiência Apresentações com 3, 4 ou 5 cromossomos X, maiores déficits de QI Sara, 3 anos Mãe traz relatando que a criança está com desenvolvimento atrasado, demorou para caminhar e fala muito poucas palavras. Ao exame você percebe um fácies característico, e baixa estatura, também algumas alterações nas mãos e pés da criança Qual a sua hipótese diagnóstica? Que exame poderia confirmá-la? Haveria uma possibilidade de fazer este diagnóstico pré-natal? Como? Trissomia do 21/Síndrome de Down Trissomia do 21, (47,XX,+21 ou 47,XY, +21) /Síndrome de Down 1/700 nascidos vivos, risco aumenta com aumento da idade materna (1/25 em mães >45 anos) 5% translocação do braço longo do cromossomo 21 para o 14 t(14;21) ou 22 t(22;21) Deficiência cognitiva, retardos motor e de linguagem 50% tem malformações cardíacas (defeito do septo ventricular, canal atrioventricular) Aumento da frequênciade hipotireoidismo e diabetes Envelhecimento acelerado expectativa de vida 55 anos Trissomia do 21, (47,XX,+21 ou 47,XY, +21) /Síndrome de Down Occipício achatado, microcefalia e pescoço curto com pele redundante na nuca Boca geralmente permanece aberta com a língua saliente e enrugada que não tem a fissura central. Mãos curtas e largas com uma única prega palmar transversa. Os dedos costumam ser curtos, com clinodactilia (curvatura) do 5º dedo, quase sempre com apenas 2 falanges. Pés podem ter um amplo espaço entre o 1º e o 2º pododáctilos (pododáctilos da sandália), com um sulco plantar que frequentemente estende-se dorsalmente. Trissomia do 21 (47,XX,+21 ou 47,XY, +21) /Síndrome de Down Translucência nucal – Ultrassonografia 11s a 13s6d Trissomia do 13 (47,XX,+13 ou 47,XY, +13) Síndrome de Patau 1/10000 nascidos vivos, risco aumenta com aumento da idade materna Neonato PIG Anomalias da linha média Holoprosencefalia Lábio leporino/fenda palatina Microftalmia, colobomas (fissuras) da íris e displasia da retina Orelhas malformadas e de implantação baixa Prega palmar transversal única, polidactilia e unhas das mãos estreitas hiperconvexas Dextrocardia frequente, 80% malformações cardíacas Criptorquidia/anormalidades escrotais Útero bicorno Retardo mental grave Alta taxa de mortalidade neonatal/infantil, menos de 10% sobrevive 1 ano, trissomias parciais e mosaicismos tem melhor prognóstico Trissomia do 18 (47,XX,+18 ou 47,XY, +18) Síndrome de Edwards 1/6000 nascidos vivos, risco aumenta com aumento da idade materna História pré-natal de baixa movimentação fetal e polidrâmnio, placenta pequena e artéria umbilical única PIG, hipotonia, hipoplasia da musc. esquelética e da gordura Choro fraco e pouca resposta aos sons Fissuras palpebrais curtas e boca e mandíbula pequenas Microcefalia, occipício proeminente, orelhas malformadas com implantação baixa Punhos cerrados com o dedo indicador geralmente sobrepondo-se ao 3º e ao 4º dedos Pé torto Cardiopatias congênitas graves Anomalias diafragmáticas, pulmonares e do trato GI Mortalidade>50% na 1ª semana, <10% sobrevive 1º ano Retardo mental grave Epigenética “Acima da genética” Genoma - fixo, rígido, mudanças pela evolução e mutações Epigenoma - dinâmico, fluido, influenciável pelo meio Marcadores epigenéticos São fundamentais para definir a especialização celular Células com o mesmo genoma tem funções diferentes e sintetizam diferentes proteínas Histonas Octâmeros de proteínas envolvidos em DNA. Consistem em duplicatas de quatro histonas principais (H2A, H2B, H3 e H4). nucleossomo Histonas O principal mecanismo envolvido são a metilação, desmetilação, acetilação e desacetilação nas caudas das histonas H3 e H4 Histonas Estas reações fazem a função de uma “etiqueta” que ordena a interrupção da translação do gene, suprimindo a sua função, ou, inversamente, liberando a translação. Fatores ambientais Estas reações podem ser influenciadas por fatores ambientais, modificando a função celular Isto está envolvido na patogenia de formas de câncer, doenças endócrinas e metabólicas Fatores ambientais Na exposição a estes fatores ambientais, estas sinalizações epigenéticas podem ser transferidas ao feto Fatores ambientais Estes estímulos ambientais podem ainda causar mudanças epigenéticas nas células reprodutivas da filha não nascida, podendo transmiti-las, desta forma para 2 gerações Marcadores epigenéticos podem ser reversíveis • Estilo de vida • Alimentação correta • Evitar cigarro, álcool, drogas… • Cuidados na gestação e antes de engravidar… Modificam marcadores epigenéticos! Teratogenicidade Malformações induzidas pela talidomida Teratogenicidade Teratógenos: qualquer agente capaz de produzir ou aumentar a incidência de uma anomalia congênita na população. Princípios da teratogenicidade: Períodos críticos do desenvolvimento Dose do medicamento, do composto químico ou da radiação Genótipo (constituição genética do embrião) Como os primórdios de todas as estruturas internas e externas essenciais são formados durante o período embrionário, a fase compreendida entre a quarta e a oitava semanas constitui o período mais crítico do desenvolvimento. Distúrbios do desenvolvimento neste período podem originar grandes malformações congênitas do embrião. Risco de defeitos congênitos durante a organogênese Períodos críticos no desenvolvimento pré-natal humano Durante as 2 primeiras semanas de desenvolvimento o embrião geralmente não é suscetível a teratógenos, ele lesa todas ou a maior parte das células, resultando na morte do embrião, ou lesa poucas células e permite a recuperação do concepto. Nos períodos altamente sensíveis podem ser produzidos os defeitos congênitos maiores. Nos estágios menos sensíveis podem ser induzidos os defeitos menores. Síndrome da hidantoína (fenitoína) fetal Síndrome alcoólica fetal Vírus da rubéola determinando catarata congênita Sífilis congênita Zikavirus Microcefalia Síndrome da banda amniótica – causa mecânica de anomalia congênita Obrigado!
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