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Livro: Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade, Análise Fragmentária de uma Histeria ("O Caso Dora") e Outros Textos (1901-1905) - Freud NEGLIGÊNCIA DO FATOR INFANTIL → Freud postula que popularmente a concepção do instinto sexual estava ausente na infância, só despertando no período púbere. Normalmente era um tema omitido sobre o desenvolvimento da criança, ainda que houvesse notícias ocasionais sobre a atividade sexual precoce em crianças → ereções, masturbação, condutas análogas ao coito → eram apresentadas como → eventos excepcionais, curiosidades ou uma depravação precipitada. Uma das razões para tal negligência aos estudos da sexualidade infantil se deve aos escrúpulos convencionais e em parte ao fenômeno da AMNÉSIA INFANTIL. AMNÉSIA INFANTIL → esconde a maioria das pessoas (não a todas) os primeiros anos da infância, até os seis/oito anos de idade. Conservamos sobre esse período apenas fragmentos de lembranças → entretanto sabíamos expressar sentimentos e impressões de forma bem humana; apenas a memória fica aquém em relação as atividades psíquicas. Ainda que não haja lembrança → essas impressões deixam profundos traços em nossa vida psíquica → não ocorre um desaparecimento destas. AMNÉSIA INFANTIL SEMELHANTE À DOS NEURÓTICOS → afastamento da consciência (por meio da repressão). A sexualidade dos psiconeuróticos mantém sua situação infantil ou é conduzida de volta a ela. Amnésia histérica → repressão. O indivíduo possui um acervo de traços mnemônicos que disponíveis ao consciente, e por vinculo associativo se apoderam sobre o que atuam. Sem amnésia infantil não haveria amnésia histérica. A amnésia infantil esconde os primórdios da vida sexual. PERÍODO DE LATÊNCIA SEXUAL DA INFÂNCIA E SUAS INTERRUPÇÕES → recém-nascido traz germens de impulsos sexuais, que se desenvolvem e depois sucumbem a uma supressão progressiva, que pode ser a sexualidade infantil Livro: Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade, Análise Fragmentária de uma Histeria ("O Caso Dora") e Outros Textos (1901-1905) - Freud interrompida por acessos de desenvolvimento sexual ou particularidades individuais → no entanto, parece que a vida sexual das crianças se manifesta por volta dos 3-4 anos (de forma observável). AS INIBIÇÕES SEXUAIS → durante o período de latência são formados os poderes psíquicos que serão como obstáculos no caminho do instinto sexual e minarão seu curso → como o nojo, sentimento de vergonha, ideias morais. A educação moral constrói essas represas. Mas, esse desenvolvimento é organicamente condicionado e fixado hereditariamente. SUBLIMAÇÃO → as construções dessas “inibições” importante a cultura e a normalidade do indivíduo é construída a partir dos próprios impulsos sexuais infantis → não cessam no período de latência, mas sua energia foi desviada (integral ou parcialmente) do emprego sexual, para outros fins → desvia-se das metas sexuais para novas metas → assim, adquirem- se fortes integrantes das realizações culturais e no desenvolvimento do indivíduo. Ou seja, o início ocorre no período de latência sexual da infância. FORMAÇÃO REATIVA → os impulsos sexuais no período da infância são inutilizáveis: funções reprodutivas adiadas (característica principal do período de latência). Os impulsos sexuais, também são, perversos → partindo de zonas erógenas e são carregados por instintos, dada a orientação individual, provocam sensações desprazerosas → despertam forças psíquicas contrárias, os IMPULSOS REATIVOS, que para supressão desse desprazer constroem as represas psíquicas, o nojo, a vergonha, a moral. É como os sentimentos e impulsos inaceitáveis fossem modificados para torná-los aceitáveis. INTERRUPÇÕES NO PERÍODO DE LATÊNCIA → às vezes manifestações sexuais escapam à sublimação, ou alguma atividade sexual persiste através do período de latência, até o irromper do instinto sexual na puberdade. Educadores, quando observam algo da sexualidade infantil, como se também considerassem as forças defensivas morais e como se soubessem que a atividade sexual torna a criança ineducável. Perseguem essas manifestações como vícios, como se nada pudessem fazer contra elas. Manifestaçoes da sexualidade infantil O ATO DE CHUPAR → manifestação sexual infantil. O chupar/sugar, aparece nos bebês e pode prosseguir até o fim do desenvolvimento e até se conservar por toda a vida → a sucção, repetidamente e ritmicamente, com a boca (lábios), sem finalidade de alimentação. Objetos da sucção → parte do lábio, língua, ou qualquer outro local da pele (ex: bebês chupando o dedo do pé) → culmina o instinto de agarrar, que pode se manifestar no ato de puxar, de forma rítmica, a orelha, por exemplo, podendo ser inclusive de outra pessoa, para o mesmo fim. A sucção é deleitosa, absorve a atenção, conduz ao adormecimento, ou, mesmo, a uma reação motora da natureza de um orgasmo – relaxamento. Não raramente é combinada com a fricção de partes Livro: Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade, Análise Fragmentária de uma Histeria ("O Caso Dora") e Outros Textos (1901-1905) - Freud sensíveis, como peito ou genitais, por isso muitas crianças passam da sucção à masturbação. AUTOEROTISMO → o instinto sexual infantil não está destinado a outras pessoas, a criança se satisfaz no próprio corpo. É autoerótico. O ato da criança chupar é determinado pela busca de prazer – já vivido e agora lembrado. Encontra satisfação sugando parte da pele ou mucosa. As primeiras experiências desse prazer referem-se ao ato de mamar → lábios = zona erógena; estímulo do afluxo do leite = causa da sensação de prazer. A satisfação da zona erógena, no começo, está ligada à satisfação da necessidade de alimento → a atividade sexual se apoia, primeiramente, numa das funções de conservação da vida, só depois se torna independente. A imagem de um bebê satisfeito após se alimentar no seio da mãe → semelhante a expressão de satisfação sexual na vida posterior. A necessidade de repetir a satisfação sexual se separa da necessidade de nutrição quando os dentes surgem e a alimentação não é mais sugada, e sim mastigada → a criança não usa um objeto exterior para sugar, mas sim área da própria pele, porque é mais cômodo, se torna “independente” do mundo externo que ainda não domina, porque assim cria praticamente uma segunda zona erógena, de valor menor → a inferioridade dessa segunda área é um dos motivos que a levarão a buscar parte semelhante – lábios – de outra pessoa. Nem todas as crianças chupam → somente o fazem aquelas em que a significação erótica dos lábios é constitucionalmente forte. Se isso se mantém, quando adultos serão apreciadores de beijos, ou preferirão beijos perversos, ou, quando homens, um motivo para beber e fumar. Com a repressão sentirão nojo do alimento e produzirão vômitos histéricos → zona labial = dupla destinação (erógena/alimentação): repressão se estende ao instinto de nutrição. Freud exemplifica que muitas de suas pacientes com distúrbios de alimentação foram enérgicas “chupadoras” na infância. Três características essenciais de uma manifestação sexual infantil: I. Surge apoiando-se numa das funções vitais do corpo. II. Ainda não tem objeto sexual → é autoerótica. III. Sua meta sexual é dominada por uma zona erógena. CARACTERÍSTICAS DAS ZONAS ERÓGENAS → é uma parte da pele ou mucosa em que estímulos de determinada espécie provocam sensação de prazer. Há zonas erógenas predestinadas como mostra o ato de chupar, mas qualquer outra parte da pele/mucosa pode servir como uma se possuir aptidão para isso. A produção da sensação de prazer depende mais da qualidade do estímulo do que da natureza do corpo. A criança que chupa procura em seu corpo e escolhe umponto para sugar com deleite, e se torna, pelo hábito, o ponto preferido, caso depare-se casualmente com um dos locais predestinados (seio, genitais) é este o local da preferência. Livro: Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade, Análise Fragmentária de uma Histeria ("O Caso Dora") e Outros Textos (1901-1905) - Freud Uma capacidade de deslocamento análoga → na sintomatologia histérica, onde a repressão atinge as zonas genitais e, então, conferem excitabilidade às outras zonas erógenas, normalmente preteridas na vida adulta, que não se comportam como genitais → zonas erógenas e histerógenas exibem as mesmas características. META SEXUAL INFANTIL → consiste em gerar satisfação por meio da estimulação apropriada da zona erógena escolhida. A satisfação deve ter sido vivenciada anteriormente, só deixando a necessidade de ser repetida. A necessidade de repetição da satisfação se revela de duas formas: I. Por uma peculiar sensação de tensão, que possui antes o caráter de desprazer. II. Por uma sensação de comichão, ou estímulo centralmente condicionada, que é projetada na zona erógena periférica. Ou seja, a meta sexual pode ser formulada como a questão de substituir a sensação de estímulo projetada na zona erógena (sensação de tensão ou de comichão), pelo estimulo externo que anula a sensação de estímulo (sensação de tensão ou de comichão) ao gerar a sensação de satisfação. O estimulo externo consistirá geralmente numa manifestação análoga ao sugar. A necessidade pode ser despertada perifericamente, por uma modificação da zona erógena, isso gera estranheza, pois para ser anulado, um estímulo requer outro, produzido no mesmo local. “O lugar que dói é o mesmo que causa arrepios” (Carla Madeira)
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