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Atenção Primária à Saúde – Amanda Longo Louzada 1 DOR INTRODUÇÃO: Dor é uma experiência fundamental à sobrevivência e à funcionalidade. “Experiência sensitiva e emocional desagradável associada ou semelhante àquela associada a uma lesão tecidual real ou potencial Componentes da dor: sensitivos, motores, neurovegetativos e psicossociais A dor mal controlada é uma das mais importantes fontes de sofrimento e limitação, impactando nas atividades profissionais, relacionais, de lazer e autocuidado COMPONENTES DA DOR: Motores: pontos gatilho Disfunções de sono, fadiga e motivação Modulação da dor e a regulação do estado sono- vigília compartilham vias neurais e endócrinas que incluem o sistema nervoso autonômico SENSITIVOS: Dor nociceptiva: estimulação dos receptores da dor quando ocorrem lesões nociceptores (pele ou órgãos internos) - ferida, fratura, contusão, queimadura, pós procedimento cirúrgico… é intensa, aguda ou latejante ou pode ser leve. A nocicepção - percepção da dor - é um contribuinte para a sensação física Informação codificada e transmitida é complexamente modulada (amplificada ou reduzida) pela medula e por centros supramedulares a caminho do cérebro e do próprio cérebro, podendo sequer se tornar consciente A experiência da dor é construída a partir dos estímulos, do contexto, memória, fatores genéticos, tornando a resposta absolutamente pessoal Dor neuropática: lesão ou disfunção nervosa, da medula espinhal ou do cérebro - compressão nervosa, zoster, síndrome túnel do carpo… *Dor em queimação, agulhadas, choque ou formigamento Dor nociplástica: responsividade aumentada de neurônios nociceptivos a estímulos usuais (hiperalgesia) ou recrutamento de uma resposta a estímulos usualmente não dolorosos (alodínia) AVALIAÇÃO CLÍNICA: Quadros inespecíficos e crônicos são regra, categorizar queixas dolorosas com base em doenças pré-definidas costuma ser pouco útil, nos leva a solicitação de exames desnecessários, além de uma abordagem centrada no médico Explorar a história da dor: qualificar (circunstâncias e ritmo, qualidade/descrição, região acometida), quantificar (severidade, tempo duração e recorrência, questionários), prognósticos (fatores perpetuantes, excluir sinais de alarme) Exame físico: deve ser orientado pela história, conciso e orientar abordagem. PQRST: provoca/palia, qualidade, região, severidade e tempo, preconizado pela IASP (International Association for the Study of Pain) Ritmos: Mecânica: piora com o movimento Ventilatório dependente: dor mecânica relacionada a inspiração e/ou expiração Inflamatória: piora a noite ou com imobilização prolongada (poucas horas), melhorando gradualmente com atividade Aos esforços/claudicante: ocorre ao mesmo nível de esforço Em crescendo: dor progressiva ou de início súbito em intensidade máxima Em cólica: aumenta e reduz ciclicamente Pós prandial precoce: minutos após refeição Pós prandial tardia: horas após refeição Perimenstrual: relacionada ao período do ciclo menstrual Qualidade: questionário DN4 (Douleur Neuropathique 4 Questions) - investiga dor neuropática. Ponto de corte 4 ou mais positivos Características da dor: Queimação Sensação de frio doloroso Choque elétrico Sintomas não dolorosos na área de dor: Formigamento Alfinetada e agulhada Adormecimento Coceira Exame Físico na área de dor: Hipoestesia ao toque Hipoestesia ao estímulo da agulha Alodínea à escovação Questionários multidimensionais de dor conjugam severidade, evolução temporal, doses de medicamentos e intensidade/frequência de outras intervenções - escala graduada de dor crônica, questionário de McGill, inventário breve de dor Diferenciar dor aguda x crônica x crônica agudizada Bandeiras vermelhas ou red flags são sintomas ou sinais que sugerem condição de urgência, gravidade ou reconhecida vantagem da Atenção Primária à Saúde – Amanda Longo Louzada 2 DOR instituição precoce de tratamento específico = pronta suspeita, poucos parâmetros são suficientes AVALIAÇÃO COMPLEMENTAR: Indicação de exames complementares será de acordo com avaliação clínica Doenças infecciosas Suspeita de neoplasia Suspeita de fraturas Sinais de alerta ABORDAGEM: Orientada pela história e exame clínico Individualizada - incluir comorbidades, preferências e contexto familiar e social Medicação, procedimentos ambulatoriais, técnicas manuais, neuromodulação (acupuntura, TENS - estimulação elétrica nervosa transcutânea), órteses (palmilhas, bengalas) Exercícios e adaptações de atividades diárias, grupos terapêuticos Multidisciplinar - educação física, fisioterapia, psicologia, assistente social, terapia ocupacional, ortopedia, neurocirurgia MEDICAMENTOSA: Analgésicos não opióides (dipirona e paracetamol) - estimulam o sistema inibitório descendente AINEs - inibidores preferenciais de COX1 (ibuprofeno), inibidores preferenciais COX 2 (diclofenaco), inibidores seletivos COX 2 (nimesulida e celocoxibe). Miorrelaxantes - ciclobenzaprina com benefício em fibromialgia mesmo em doses baixas Os opióides podem ser prejudiciais em casos de dor crônica por interferir no processo interno de busca e satisfação por contato social e atividade física. Tramadol opióide atípico, menos efeitos colaterais e ação serotoninérgica Antidepressivos - tricíclicos e inibidores seletivos da recaptação da serotonina e noradrepinefrina (duais) facilitam a inibição descendente Anticonvulsivantes - gabapentina e pregabalina, efetivos na dor neuropática e na fibromialgia Proposta medicamentosa em associação a outras intervenções: Dipirona/paracetamol em dose plena Associação de analgésicos não opióides a AINE menor dose e menor tempo Associação de analgésicos não opióides a ciclobenzaprina (exceto em idosos por risco de quedas; glaucoma, arritmia, doses altas de tramadol, tricíclicos) Associação de analgésicos não opióides a tramadol ou codeína NÃO MEDICAMENTOSA: Intervenção psicológica - terapia cognitivo comportamental, aceitação-compromisso, mindfulness, relaxamento, etc Atividade física - planejadas, estruturadas e repetitivas para melhorar ou manter um ou mais componentes de aptidão física. Aborda o componente motor da dor, psicossocial (medo do movimento, distúrbios de humor), promove analgesia endógena mediada por exercício físico (nociplástico). Progressão deve ser gradual e permitir tempo para recuperação adequado. Neuroestimulação - TENS, acupuntura e eletroacupuntura SINAIS DE ALERTA: NÃO RELACIONADOS AO RITMO DA DOR: Febre, uso crônico de corticóide, imunodeficiências - osteomielite Declínio funcional em paciente alto risco cardiovascular, sintomas ou sinais de doença vascular periférica - angina ou IAM Trauma agudo, idoso frágil, uso crônico de corticóides, osteoporose conhecida - fratura – Diagnóstico prévio de câncer, perda de peso, fadiga importante, sintomas relacionados ao órgão primário do câncer – metástase Dor no membro superior associada a síndrome de Horner (miose, ptose e anidrose ipsilateral) e síndrome da veia cava superior (cianose e edema do membro ipsilateral) - tumor de ápice de pulmão (Pancoast) Lombalgia, diarreia, uveíte, uretrite asséptica, psoríase ou outras lesões pele compatíveis - espondiloartrite Déficits neurológicos importantes e progressivos - causas neurológicas graves CEFALEIA: Início súbito da cefaleia Maior frequência e/ou intensidade da cefaleia Início da cefaleia após os 50 anos Início recente de cefaleia em paciente com HIV ou neoplasia Cefaleia com sinais infecciosos (febre e rigidezde nuca) Sinais ou sintomas focais neurológicos Papiledema Cefaleia devida a trauma
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