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PARASITOLOGIA ESTRONGILOIDÍASE É uma infecção pelo verme Strongyloides stercoralis, da classe nematoda. Morfologia Durante a evolução, esse verme passa por várias formas morfológicas – ovo, larva rabditóide, larva filarióde, machos e fêmeas de vida livre (fêmea partenogenética). A única forma parasita desse verme é a fêmea partenogenética, a qual é capaz de realizar a partenogênese, que é o desenvolvimento de um ser vivo a partir de um óvulo não fecundado. Essa fêmea possui aproximadamente 2 mm de comprimento, fica dentro da mucosa do intestino delgado do hospedeiro e realiza a postura de 30 a 40 ovos/dia. Além dessa forma, os estrongiloides passam pela forma de vida livre, verme machos e fêmeas. O macho mede em torno de 0,7 mm e a fêmea mede em torno de 1 mm de comprimento. Os nematoides, antes de atingir o estado adulto, geralmente, passam por cinco estágios larvais – L1, L2, L3, L4 e L5. Comumente, os dois primeiros estágios larvais (L1 e L2) são caracterizados com rabditoides, já os outros três estágios (L3, L4 e L5) são conhecidos como filarioides. Esses conceitos, rabditoides e filarioides, estão associadas as características do esôfago da larva. O esôfago rabditoide é um esôfago curto, que começa retilíneo, sofre um estreitamento e, posteriormente, sofre uma dilatação. Já o esôfago filariode é de maior tamanho e é só retilíneo, sendo essa larva, geralmente, a infectante, como é o caso do Strongyloides stercoralis, cuja larva infectante é a L3. Os ovos são elipsoides e com uma casca fina e transparente. Esses ovos raramente serão encontrados nas fezes, pois a larva fêmea fica dentro da mucosa, local onde deposita os ovos, que eclodem e liberam a larva L1, a qual atravessará a mucosa, cairá na luz intestinal, seguindo para o meio exterior junto com as fezes do paciente. Habitat O habitat é o intestino delgado, principalmente o duodeno e o jejuno. Entretanto, em formas graves, as larvas podem estar presentes desde a porção pilórica do estômago até o intestino grosso, ocupando, assim, todo o intestino. Ciclo evolutivo Durante a sua evolução, realiza dois tipos de ciclo biológico, um ciclo direto/partenogenético e um ciclo indireto – sexuado ou de vida livre. O indivíduo parasitado pelo Strongyloides stercoralis, possui a fêmea partenogenética dentro do intestino delgado (única forma parasita). Essa fêmea põem ovos, os quais eclodem ainda dentro da mucosa intestinal, liberando a larva de primeiro estágio L1 (rabditoide). Essa larva atravessa a mucosa, cai na luz intestinal e segue para o meio exterior junto com as fezes. No meio exterior, ela pode sofrer dois tipos de evolução: Ciclo direto/partenogenético: pode passar diretamente para a larva filarioide infectante, a qual penetra pela pele do indivíduo, cai na circulação e é levada passivamente pelo sangue para o lado direito do coração, para a circulação pulmonar, onde a larva perfura os capilares pulmonares, caindo nos alvéolos e sobe na árvore respiratória. Ao chegar na faringe, são deglutidas, seguindo para o intestino, onde penetra na mucosa e evolui até se tornar uma fêmea partenogenética. Ciclo indireto: a larva que foi para o solo evolui e passa por diversos estágios larvais, até chegar em macho e fêmea de vida livre. Ambos permanecem no solo, copulam e a fêmea posta ovos, os quais formam larvas e eclodem, liberando a larva rabditoide de primeiro estágio. Essa larva evolui até chegar a larva filarioide infectante que realiza o mesmo trajeto da larva do ciclo partenogenético. Sendo assim, esse verme é um geoelminto, pois as larvas devem amadurecer no solo. Obs: essa larva realiza o ciclo de Loss, independente do ciclo que ela faz, seja ele direto ou indireto. Fêmea partenogenética O Strongyloides stercoralis pode realizar os dois tipos de ciclo, pois a fêmea partenogenética é triploide (3n) e, ao depositar os ovos, dá origem a larvas que podem ser de 3 tipos: haploide (n), diploide (2n) e triploide (3n). As larvas triploides realizam o ciclo direto, passando diretamente de larva rabditoide para larva filarioide infectante, que dá origem a fêmea partenogenética. As larvas diploides dão origem às fêmeas de vida livre, já as haploides, aos machos de vida livre. Juntas realizam o ciclo indireto, sendo a fêmea fecundada pelo macho. Dessa forma, haverá a postagem de larvas triploides, que se transformarão na fêmea partenogenética (3n). Transmissão O indivíduo pode se infectar de três formas: 1. Heteroinfecção: penetração de larvas através da pele, quando o indivíduo entra em contato com o solo contaminado com larvas. 2. Autoinfecção externa: quando resíduos de fezes ficam retidos na região perianal e as larvas rabditoides se transformam em larvas infectantes filarioides, penetram pela pele e realizam a autoinfecção externa. 3. Autoinfecção interna: quando larvas rabditoides passam a larvas infectantes filarioides ainda dentro do intestino, o que pode levar a quadros graves da infecção, transformando-se em uma hiperinfecção ou em uma infecção disseminada. Essas formas graves ocorrem principalmente em pacientes imunodeprimidos – seja por desnutrição, por HIV, por HTLV-1, por uso de drogas imunossupressoras (corticosteroides – aceleram a transformação das larvas rabditoides em larvas filarioides contaminantes ainda dentro do intestino, podendo levar a um quadro de hiperinfecção ou uma infecção disseminada, quando as larvas migram para outros órgãos). Nas infecções disseminadas, também podem ocorrer infecções bacterianas secundárias, pois, quando as larvas migram do intestino, podem transportar bactérias intestinais mecanicamente, causando infecções bacterianas secundárias graves. Nos casos de hiperinfecção, podem ocorrer ulcerações em extensas áreas da mucosa intestinal, o que pode permitir a passagem direta de bactérias intestinais para a corrente circulatória. Patogenia No ponto de penetração das larvas, ocorre um infiltrado inflamatório, com a destruição de larvas naquele local, e, como consequência podem ocorrer edemas, eritemas, pruridos e pápulas hemorrágicas. Durante a migração pulmonar das larvas, elas passam do sistema circulatório para o respiratório, levando ao aparecimento de pontos hemorrágicos nos pontos de passagem das larvas, o que atrai um infiltrado inflamatório – formado, principalmente, por linfócitos e eosinófilos. Como consequência, o paciente pode apresentar tosse – com ou sem expectoração –, febre, dispneia e crises asmatiformes. Na fase intestinal da infecção, ocorre, principalmente, um quadro de enterite catarral – aumento da secreção de muco pelas células mucíparas. Pode evoluir para uma enterite edematosa, com edema de submucosa, desaparecimento do relevo mucoso e síndrome da má absorção intestinal – levando a um quadro de esteatorreia. Em uma fase mais adiantada, quando ocorre um volume muit grande de formas parasitárias, pode ocorrer enterite ucerosa, com eosinofilia intensa, ulcerações, invasão bacteriana e fibrose. Nessa fase de fibrose na enterite ulcerosa, o processo é irreversível. Sintomas Os principais sintomas são: Dor epigástrica. Diarreia. Náuseas e vômitos. Esteatorreia – eliminação de gordura nas fezes. Desidratação. Emagrecimento. Anemia. Diagnóstico laboratorial É realizada a pesquisa de larvas nas fezes e, em casos de infecção disseminada, também se pesquisa em secreções e outros líquidos orgânicos. Profilaxia É importante fazer diagnóstico e tratamento das pessoas infectadas, a fim de melhorar o prognóstico do paciente e de eliminar o elo de transmissão. Instruir a utilização de calçados, para evitar o contato do pé com o solo contaminado. Instruir o destino adequado dos dejetos humanos (saneamento básico). Realizar triagem deindivíduos que estão iniciando o tratamento de imunossupressores. Instruir sobre medidas de higiene pessoal e melhorias na alimentação.
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